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No entanto, dizem que ter medo é uma componente essencial à vida, afasta-nos
dos perigos (há outras coisas que nos avisam dos perigos de não existir, duvido que um
ser desenvolvido, adulto, necessite do medo para o proteger, fica a dúvida), torna-nos
seres precavidos, que assim conseguem viver até aos cem anos (é o que vai no
catálogo); mas isto é viver ou evitar, e esperar para, morrer? Voltando ao que nos trouxe
aqui, a doença: o medo não é condição à doença, mas a doença é parte integrante do
medo, isto é, ter receio de estar doente.
E quem dá mais valor à vida que um suicida; o seu amor é tão profundo que por
esta executa o derradeiro sacrifício. Só algo extremamente querido, agora, me pode ferir
(justine de sade, depois de passar todos os infortúnios). Pois, se a vida lhe fosse
indiferente, sem valor, este nunca atentaria contra ela; orbitamos, então, novamente o
valor da vida, e no suicida a vida toma mais valor do que o seu próprio ser, ou seja, ele
acha que a vida é maior, mais forte, mais rápida, mais importante, mais ser que o seu
próprio ser. Contudo, o ser humano, tem inevitavelmente mais valor em si do que
empresta à vida, pois é ele que o dá, ele é criador e cria, ele é a História.
Vivo não é um valor a priori; mas, ser vivo sim. Um humano em estado
vegetativo está efetivamente vivo, mas não consegue ser, ele é um para-os-outros, mas
está impossibilitado de ser um para-si; como uma estátua, ele representa algo, mas não é
esse algo.
A morte ganha um falso valor, que lhe é erroneamente atribuída pela vida,
proporção de sabor pela vida faz crescer o fel da morte; mas, este sabor, evocado pelo
apego à vida leva o ser a desprezar e apagar a morte do real, tornando-a desconhecida; é
o medo do desconhecido que preenche a vida e a ocupa; o espaço entre a vida e a morte
é ocupado pelo medo; a existência, o viver do ser é a tentativa de recuperar esse mesmo
espaço perdido para o medo.
Dasein (Hegel); o ser que é com a cultura que tem. É interessante destacar que
em ambos os casos, das culturas apresentados acima, Viking e Judia, - um quer morrer e
o outro viver bem – ocupam grande parte da sua existência com o medo, permitindo que
a sua essência preceda a sua essência (uma inversão da frase de sartre: “a existência
precede a essência”).
Existir fora do seu próprio dasein; colocar tudo em parênteses, tudo o que nos
foi carregado; “o inferno são os outros”, como pegar na representação que o outro
gravou em mim das coisas e suspendê-la; retornámos à Doença, à representação do
outro das coisas. Portanto, tudo são representações, o que não torna menos reais as
coisas, mas que me torna menos real a mim.