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Fisiologia Integrada (Bioquímica) – aula 06/04/10

METABOLISMO DE LIPOPROTEÍNAS

Digestão de Lipídeos
Quando comemos, ingerimos fosfolipídeos; e alimentos principalmente de origem animal
contêm colesterol, que pode estar na forma livre ou de éster de colesterol (ligado a AG).
A digestão dos lipídeos envolve os sais biliares e os movimentos peristálticos. Os sais biliares
estão contidos na bile, produzida pelo fígado e concentrada na vesícula biliar. A CCK, liberada
com a ingestão de alimentos, provoca a contração da vesícula biliar para expulsão da bile, que
emulsifica (dissolve) os lipídeos. Isso facilita a ação das enzimas.
O pâncreas produz lípase pancreática (que age sobre triglicerídeos), fosfolipase (que age em
fosfolipídeos) e esterase (que age em ésteres de colesterol).
Obs: sempre que se fala em lipase, esta só quebra triglicerídeos (TGs). Após a quebra se tem
AGs livres, monoglicerídeos e colesterol.

Absorção e Transporte
A absorção dos lipídeos é feita em micelas junto com os sais biliares, chegando às cels
intestinais. Alterações na liberação ou na absorção da bile provocam estatorréia (fezes com
lipídeos).
Digerimos e absorvemos AGs, glicerol e colesterol pelas cels intestinais. Os AGs e colesterol
não podem cair direto na corrente sg; já o glicerol vai para veia porta hepática e tecido
hepático, que tem gde capacidade de metabolizá-lo.
A nível de cels intestinais há uma seleção entre AGs de cadeia longa (mais de 12 carbonos) e
de cadeia média e curta (menos de 12 carbonos). Os de cadeia média e curta caem direto no
sg, sendo transportados ligados à albumina. Quando passam pelos capilares sinusóides do
tecido hepático, este retira boa parte dos AGs (só AGs!) do sg, e o que não foi retirado pelo
tecido hepático é retirado por tecidos que usam AGs, como o músculo cardíaco.

Se o fígado tem falta de energia, fará a β-oxidação (lipólise) destes AGs formando acetil-CoA, e
posteriormente fará o ciclo de Krebs. P. ex. no jejum.
Se não houver falta de energia, o fígado não irá degradar o AG, mas fará o alongamento deste,
transformando-o em AG de cadeia longa. Após isso, o AG é guardado.
Obs: todo o TG do tecido adiposo é formado por AGs de cadeia longa.
Obs 2: o AG também pode ser formado a partir da glicose, e não só por alongamento. Os
tecidos adiposo e hepático podem sintetizar AGs e glicerol para formação de TGs.
Ainda a nível de cels intestinais, os AGs são transformados em TG com a ajuda do glicerol vindo
da dieta.
->Não absorvemos TG porque quando os ingerimos, eles não são “nossos”. Assim, o organismo
precisa montar um novo TG que seja compatível com ele. Por isso degradamos o TG da dieta.
Quem guarda os TGs é o tecido adiposo. Para isso o TG precisa passar primeiro pelo sg, porém
não pode passar direto devido ao risco de se aderir à parede dos vasos. Então as cels
intestinais montam uma massa de TG e inserem fosfolipídeos em volta, formando uma “capa”
ao redor da massa. A parte apolar dos fosfolipídeos interage com a massa, e a polar fica do
lado de fora. As cels intestinais também inserem um pouco de vitaminas lipossolúveis dentro
da massa, uma (só uma!) apoproteína chamada apoB48, e certa quantidade de colesterol (livre
ou éster de colesterol). Esse colesterol pode ser jogado para fora somente pelo tecido
hepático. Assim é formada a lipoproteína quilomícron (QM).
Temos várias lipoproteínas, mas o QM é produzido pelas cels intestinais somente após as
refeições. QM é a lipoproteína que transporta lipídeos exógenos (que vieram da dieta). Existe
um ciclo para transporte de lipoproteínas exógenas e um para lipoproteínas endógenas.
Obs: Vale lembrar que o QM também possui apoC2 que vem do HDL.

Ciclo Exógeno
90% do QM é formado por TGs. O QM não pode ser jogado diretamente no sg, pois se isso
acontecesse, o primeiro órgão em que ele chegaria após sair do intestino seria o fígado; o
fígado ficaria então encharcado de lipídeos. Por isso o QM é jogado no sistema linfático. Como
todo o sistema linfático drenado vai para o ducto torácico e posteriormente cai na veia cava, o
QM chega primeiro nos tecidos extra-hepáticos. Além disso, os capilares nas cels intestinais
têm poros que não permitem a passagem do QM, outro fator que o força a ir para o sistema
linfático primeiro.
Após chegar no sg, o QM passa no tecido adiposo. Ancorada nos capilares do tecido adiposo
fica a enzima lipase lipoproteica. Esta é produzida por tecido adiposo, músculo cardíaco e
MEE. A produção por m. cardíaco e MEE é de km baixo (consegue atuar mesmo com pouco
substrato). Já no tecido adiposo ela tem km alto.
No estado alimentado o pâncreas libera insulina, que estimula a produção da lipase
lipoproteica principalmente no tecido adiposo. A lipase lipoproteica quebra parte dos TGs do
QM, liberando os AGs livres e o glicerol. Os AGs livres vão para o tecido adiposo. O resto do
QM continua no sg, sendo chamado de QM remanescente (QMr). O QMr é formado então por
proteínas, fosfolipideos, colesterol e a parte dos TGs que não foi quebrada. O glicerol e o QMr
são retirados do sg pelo tecido hepático, pois este tem receptor para apoB48.
Obs: A lipase lipoproteica do tecido adiposo tem km maior, então funciona com o máximo de
velocidade se tiver muito QM, como após as refeições. No MEE e cardíaco o km é menor.
Obs 2: pessoas diabéticas tem diminuição na produção de lipase lipoproteica devido à pouca
insulina. Isso provoca aumento de TGs, que ficam circulando no sg.

Ciclo Endógeno
No fígado, o AG alongado pode ser considerado endógeno, pois foi modificado pelo
organismo. O fígado o transforma em TG utilizando AG e glicerol vindos do sg. Se não houver
glicerol, ele pode produzi-lo a partir da glicose.
O tecido hepático não deve guardar TGs pois isto poderia levar a um processo inflamatório e
cirrose; então os TGs precisam ser mandados para o tecido adiposo. (eles passam primeiro
pelo linfático?)Para isso o fígado forma uma lipoproteína chamada VLDL. O VLDL possui 60%
de TG e até 20% de colesterol, enquanto o QM possui 90% de TG e 5% de colesterol. O VLDL
transporta lipídeos endógenos, e possui apoB100 e apoC2.
Obs: o gene para a produção de apoB48 e apoB100 é o mesmo, porém a expressão da apoB48
é de 48%, e a da apoB100 é de 100%.
Depois de cair no sg, a lipase lipoproteica reconhece a apoC2 do VLDL e se ativa, quebrando
parte de seus TGs em AGs e glicerol. O AG vai para o tecido adiposo e o resto do VLDL passa a
se chamar IDL. O IDL fica no sg somente por 2h, e é retirado principalmente por tecido
hepático, pois este também tem receptores para apoB100. Nem todo o IDL é retirado do sg,
sendo transformado em LDL depois de 2h.
Quando o IDL passa pelo tecido hepático, consegue atravessar os capilares e chegar à cel
hepática, onde pode ser retirado pelo receptor apoB100 ou sofrer a ação da enzima HTGL, que
quebra parte dos TGs do IDL. Assim, o IDL é transformado em LDL.
50% do LDL é formado pro colesterol, pois o colesterol no LDL é mais concentrado. O LDL
também pode ser retirado pelo tecido hepático, mas isso dependerá de quanto colesterol o
fígado já tem.
O LDL está sempre circulando no sg, e só é retirado se os tecidos precisarem de colesterol, e se
estes tecidos possuírem receptores apoB100. Assim, o LDL pode ser retirado pelo fígado,
córtex da supra-renal, gônadas, etc.
Os receptores para o LDL são regulados pelo nível de colesterol do fígado. Se o fígado estiver
com muito colesterol, haverá menor expressão de receptores, e vice-versa.
O hepatócito guarda o colesterol na forma de gotículas de éster de colesterol (adicionados
com AG). O recrutamento dos receptores na membrana do hepatócito inibe a produção de
colesterol. (inibe como?)
Obs: para formação de TG, é usado AG e glicerol. O tecido adiposo retira o AG do sg, mas não
consegue retirar o glicerol. Para isso a glicose é transformada em PDHA, e este é transformado
em glicerol.

HDL
Tem como principais componentes as proteínas, por isso tem alta densidade. Possui várias
apoproteínas, o que o faz ser um “bom colesterol”. O HDL é produzido principalmente por
tecido hepático, que o joga no sg e também o retira da circulação.
Está envolvido com diminuição de TG e colesterol do sg. Quando é jogado no sg, é achatado e
rico em proteínas como apoC2, apoE e apoA (a maioria é apoA). Todas estas proteínas são
produzidas pelo fígado.
O HDL é jogado pelo fígado no sg, e transfere a apoC2 e apoE para o QM que está no sg. A
apoC2 ativa a lipase lipoproteica, portanto o TG é degradado graças à apoC2. Pessoas com
baixo HDL não conseguem transferir apoC2 normalmente para QM.
No caso do VLDL, este é produzido pelo tecido hepático e possui apoB100. No sg, o HDL
transfere a apoC2 e apoE para o VLDL, permitindo a degradação dos TGs pela lipase
lipoproteica da mesma forma que no QM.
Obs: deve-se ter níveis altos de HDL. Se o paciente tem níveis de TG aumentados, o QM ou
VLDL (ou os dois) estão aumentados no sg.
O HDL também retira colesterol do sg e adiciona a ele um AG, transformando-o em um éster
de colesterol. Para isso a apoA ativa a enzima LCAT, que possibilita a adição do AG. Quando o
AG é adicionado, o colesterol se torna muito apolar, vai para o centro do HDL e impede sua
saída pela membrana celular.
Obs: a lecitina de soja possui AGs insaturados, e são estes que se adicionam ao colesterol.

Estado alimentado: se tem QM, VLDL, HDL e LDL.


Em jejum: se tem HDL e LDL.

No sg circulam várias lipoproteínas, mas a mais abundante é HDL. O LDL circula até ser
retirado, mas para isso depende da disponibilidade de receptores para ele. Pessoas que
comem muito colesterol mantém o LDL no sg, pois este não pode ser retirado devido à alta
quantidade de colesterol já existente no fígado. Assim, enquanto o LDL circula pelo sg, sua
apoB100 pode sofrer alterações como glicosilação e oxidação pelas RIOs ou acetilação,
formando um LDL oxidado, LDL glicosilado etc. Estes não são vistos como LDLs normais e a
tendência deles é migrar e se depositar nas paredes dos vasos sg. Então, os LDLs atraem
macrófagos que os englobam e se tornam cels espumosas quem morrem no local.
O macrófago se engloba ao LDL alterado pois possui receptor para apoB100; porém não há
controle sobre estes receptores, eles não dependem de quantidade de colesterol para serem
expressos.
Com os macrófagos, aparecem fatores inflamatórios que recrutam fibroblastos, formando
tecido fibroso na parede dos vasos. Com muito tecido fibroso, o vaso começa a se estreitar
provocando turbilhonamento do fluxo sg. Se o tecido fibroso não estiver calcificado (placa
mole), o turbilhonamento pode romper o endotélio fazendo com que o lipídeo caia na
corrente sg, podendo provocar infarto fulminante se isso acontecer nos vasos do coração.
A calcificação com fibroblastos forma a placa dura, que faz com que a pressão sanguínea
aumente.

As estatinas inibem a síntese de colesterol principalmente no tecido hepático. Isso diminui as


reservas de colesterol no fígado, possibilitando a retirada do colesterol do sg pelos receptores.

Substâncias que seqüestram sais biliares:


Fibratos: aumentam a ação da lipase lipoproteica. Aumentam a oxidação de AGs.
Niacina: inibe transporte de AGs para o fígado e diminui a produção de VLDL.
Ômega 3: diminui a síntese de TG hepático e aumenta a oxidação de AGs.

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