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CLÍNICA
ENSINO A
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editora@avantis.edu.br
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca do Centro Universitário Avantis - UNIAVAN
Maria Helena Mafioletti Sampaio CRB 14 – 276
Inclui Índice
ISBN: 978-65-5901-003-5
ISBNe: 978-65-5901-002-8
EMENTA
OBJETIVOS DA DISCIPLINA
PROFESSOR
SOBRE O AUTOR
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
estrutura em quatro anéis, com uma cadeia de hidrocarboneto e uma hidroxila junto a
esta estrutura complexa, sendo o principal esteroide encontrado no ser humano. Pode
ser apresentado em duas formas: (I) livre, que compõe membranas celulares, ou como (II)
éster de Colesterila (EC), em que um ácido graxo é adicionado à hidroxila 3 (da estrutura
de 4 anéis), com cuja esterificação se armazena a molécula no interior das células ou no
interior das lipoproteínas, pois se torna ainda mais hidrofóbica.
Compreenderemos, ainda, outro grupo molecular de grande importância
metabólica, ainda mais no chamado jejum prolongado, que são os compostos,
caracterizados como corpos cetônicos: o acetoacetato, o beta-hidroxibutirato e a acetona,
sendo transportados livremente no sangue para os tecidos periféricos, nos quais podem
ser reconvertidos a Acetil CoA e oxidados pelo Ciclo de Krebs, gerando energia aos tecidos
extra-hepáticos.
1.2 COLESTEROL
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 1: COLESTEROL
Fonte: Shutterstock (2020). https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/cholesterol-chemical-
formula-vector-icon-on-1401506966
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 2: SÍNTESE DE HMG-CoA.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
HMG-CoA
Redutase
3-Hidroxi-3-metilglutaril CoA Ácido Mevalônico
(HMG-CoA) CoA
2NADPH 2NADP+
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1.2.2 Regulação da Síntese do Colesterol
A) Inibição Retroativa
O colesterol é um inibidor retroativo da HMG-CoA Redutase e, desta forma, a síntese
é freada, quando este começa a se acumular.
B) Regulação Hormonal
A atividade da enzima é controlada, negativamente, pela presença do glucagon
que ocasiona a fosforilação e consequente inibição da enzima. Já a insulina ocasiona a
desfosforilação da enzima e, consequentemente, a ativação da mesma, exercendo um
controle positivo da síntese de colesterol.
D) Inibição Medicamentosa
As estatinas pertencem à classe medicamentosa dos inibidores reversíveis
competitivos da HMG-CoA Redutase, logo são utilizadas com o objetivo de diminuição
nos níveis de colesterol dos pacientes com hipercolesterolemia.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Vimos, até aqui, como a molécula de colesterol é sintetizada e como será regulada
em sua produção. O próximo passo será entender o reverso, isto é, como esta molécula
será degradada, uma vez que não é tão simples para o nosso organismo trabalhar a
estrutura complexa dos quatro anéis do colesterol.
Uma vez que, nos seres humanos, a estrutura dos quatro anéis da molécula
não é metabolizada, ela será eliminada intacta do corpo por: (I) secreção, na bile,
sendo posteriormente lançado no duodeno e (II) conversão em ácidos biliares, que se
transformarão em sais biliares (BAYNES, 2015).
Estas estruturas são formadas por muitas enzimas hepáticas, presentes em diversos
compartimentos celulares.
Os ácidos biliares mais comuns são o cólico e o deoxicólico, os quais possuem
uma face polar e outra apolar, permitindo-se sua ação como potentes detergentes na
emulsificação lipídica.
Antes dos ácidos biliares deixarem o fígado, serão conjugados com os
aminoácidos glicina e taurina, formando quatro sais biliares: glicocólico, taurocólico,
glicoquenodeoxicólico e tauroquenodeoxicólico, que possuem uma capacidade
detergente ainda maior, quando comparados aos ácidos biliares, embora apenas estes
sejam armazenados na bile. No entanto, ao serem lançados no intestino, algumas
bactérias convertem os sais biliares novamente em ácidos biliares.
B) Circulação Entero-hepática
Prezado(a) aluno, tenha muita atenção neste tópico, uma vez que, mais adiante,
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
um dos tratamentos para diminuição do colesterol plasmático focará no bloqueio desta
circulação entero-hepática!
É o processo contínuo de secreção dos sais biliares (via bile) no duodeno, a reabsorção
de ácidos e sais biliares, com posterior reendereçamento para o fígado. A mistura de
ácidos e sais biliares é absorvida, em sua maioria, no íleo, através de transporte ativo. No
fígado, os ácidos serão novamente convertidos em sais biliares, para estoque na bile.
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de densidade muito baixa (VLDL), lipoproteínas de densidade intermediária (IDL),
lipoproteínas de densidade baixa (LDL) e lipoproteína de alta densidade (HDL).
Elas são estruturas responsáveis por possibilitar o transporte lipídico no plasma
e fornecer um mecanismo eficiente de entrega deste conteúdo lipídico aos tecidos. Nos
seres humanos, pode-se observar uma série de problemas relacionados ao sistema de
entrega, promovendo deposições graduais de lipídios nos tecidos, principalmente
relacionados ao colesterol. Estas deposições representam um grave risco à saúde, já que
ocasionam um estreitamento dos vasos sanguíneos (HARVEY, 2012).
As lipoproteínas são compostas de um centro lipídico neutro e uma parte
periférica com fosfolipídios, apoproteínas e colesterol, bem semelhante a uma estrutura
membranar, porém de camada única (Figura 4).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
entre todas, com maior conteúdo de apoproteína e menor de lipídios.
As apoproteínas são sintetizadas no retículo endoplasmático rugoso (RER) e, à
medida que se transportam do retículo endoplasmático (RE) e Complexo de Golgi (CG),
elas são glicosiladas. Estas apoproteínas que compõem as lipoproteínas plasmáticas
possuem importantes funções: (I) componentes estruturais; (II) sítios de reconhecimento
para receptores membranares das células e (III) ativadores ou coenzimas para enzimas,
as quais estão envolvidas na metabolização das lipoproteínas plasmáticas.
As apoproteínas, bem como os principais lipídios transportados, variam de uma
lipoproteína plasmática para outra, distribuindo-se, conforme observamos na Tabela 1:
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
de quilomícron nascente, e tem como principal apoproteína a ApoB-48. Quando atinge
o plasma, o quilomícron nascente é modificado, recebendo de HDL circulante a Apo-E
e apoproteínas C (destaque para a Apo-CII). Depois, a estrutura é chamada apenas de
quilomícron (HARVEY, 2012).
O QM vai distribuir seu conteúdo de triglicerídeos (TG) aos tecidos, lembrando
que a entrega jamais será da molécula íntegra de TG, ou seja, deverá ocorrer o
desmonte desta estrutura durante a entrega. Desta forma, a Apo-CII do QM vai ativar
uma enzima extracelular, a qual se localiza nas paredes dos capilares da maioria dos
tecidos, principalmente no tecido adiposo, musculatura esquelética e cardíaca, que se
chama Lipase Lipoproteica (LPL) e é responsável pela hidrólise do TG do QM, gerando
monoglicerídeo, ácidos graxos livres e glicerol (Figura 5).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
À medida que os quilomícrons circulam, e cedem seus triglicerídeos, eles diminuem
de tamanho. Assim que boa parte de seu conteúdo tiver sido degradada, devolvem-
se as apoproteínas C para o HDL, sendo chamados, a partir de então, de quilomícrons
remanescentes (Figura 5).
Nos seres humanos, os quilomícrons remanescentes são removidos pelo fígado,
que reconhece o conjunto ApoB-48 e Apo-E, sendo absorvidos por endocitose pelos
hepatócitos, degradados, liberando o conteúdo de aminoácidos (pela degradação das
apoproteínas) e lipídios (colesterol livre e ácidos graxos) nas células do tecido hepático.
Este colesterol livre regulará a síntese hepática de colesterol, pois inibe a transcrição do
gene da HMG-CoA Redutase (como já foi visto anteriormente).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Essa troca foi mencionada anteriormente, mas caso deseje relembrar, bastar
retornar ao subitem 1.2.4).
ATENÇÃO!
Fique atento a este receptor de LDL. Em breve, ele estará associado a uma das
formas de dislipidemia que abordaremos em nossos estudos.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Após a ligação do receptor com a ApoB-100, a partícula é internalizada por
endocitose, formando vesículas de revestimento (alguns autores tratam como endossomo
primário). Os receptores são liberados para voltarem à membrana, e se forma o endossomo
secundário (partícula endocitada fusionada com o lisossomo), permitindo que enzimas
hidrolíticas degradem o LDL, liberando para a célula aminoácidos (degradação das
apoproteínas), colesterol, ácidos graxos e fosfolipídios (Figura 7).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
mudança morfológica no macrófago, já que esta célula não possui via de metabolização do
colesterol. Os macrófagos assumem uma morfologia descrita como “espumosa”, acumulam-
se, liberando fatores de crescimento e estimulando a proliferação da musculatura lisa, com
calcificação de uma placa aterosclerótica que vai se formar (HARVEY, 2012).
A etapa inicial de modificação desta apoproteína se relaciona à peroxidação dos
ácidos graxos poli-insaturados presentes no LDL, podendo ser inibida através de agentes
antioxidantes, como a vitamina E.
SAIBA MAIS
Prezado aluno, o que acha de aprender mais com este recurso visual que
aborda a formação da placa aterosclerótica, aproveitando para rever conceitos já
trabalhados em outras disciplinas!
Acesse o link e confira: https://www.youtube.com/watch?v=r40aYz4ndZI
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 8: AÇÃO DE HDL.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
SUGESTÃO DE LEITURA
BAYNES, John W. (Coord.). Bioquímica Médica.
4. ed. Elsevier, 2015, 664 p. ISBN 9788535279030
O Capítulo 18 trata especificamente de lipoproteínas plas-
máticas e aterogênese, tornando-se importante estudo para se
aprofundar na temática trabalhada nesta Unidade 1.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
1.4 DISLIPIDEMIAS
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Antes de partir para a caracterização das dislipidemias, faz-se necessário expor
os valores de referência, adultos acima de 20 anos, para interpretação de exames
laboratoriais (Tabela 3 e Tabela 4).
Essas tabelas guiarão você, aluno, quando entrarmos nos valores referenciados nas
diversas patologias descritas. Você poderá consultá-las, sempre que necessário.
1.4.1 Tipo I
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Em sua sintomatologia, o mais frequente é a dor abdominal, acompanhada por
hepatomegalia ou esplenomegalia, além de xantoma eruptivo (pápulas amareladas
e elevadas), que aparecem comumente nas nádegas e nas porções proximais das
extremidades, quando os níveis de triglicerídeos excedem 1000 mg/dL.
O tratamento libera o consumo de triglicerídeos de cadeia média que entram no
sistema portal venoso diretamente, sem a formação prévia de quilomícron. Ingestão de
gordura total deve ser em torno de 0,5 mg/kg. Se o caso for de um ataque de manifestação
aguda, é necessário investir em uma dieta desprovida de gorduras, e também deve
haver o fornecimento de um suporte parenteral ao paciente nas primeiras 12-24 horas.
Nas situações citadas, a busca por um profissional que oriente estas questões se torna
fundamental.
Prezado aluno, você pode estar se perguntando o porquê deste foco na dieta dos
pacientes com a dislipidemia. Lembre-se de que, quando abordamos os quilomícrons, foi
enfatizado que eles refletem, principalmente, o conteúdo lipídico da dieta!
Lembra quando chamei atenção sobre os receptores de LDL e sua ligação com processos
patológicos? É exatamente nesta situação que a observação se encaixa! Vamos continuar asso-
ciando conceitos, não perca o foco!
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
colesterol total maior de 240 mg/dL, plasma ou soro de aparência transparente.
Quando se tem um paciente com a forma IIa homozigoto, o tratamento se torna uma
condição praticamente imutável, pois nem mesmo os regimes dietéticos muito rígidos
são suficientes. Passam a ser alternativa de tratamento as abordagens mais severas, até
com casos cirúrgicos: (I) shunt porto-cava (fluxo sanguíneo da veia porta é desviado para
a veia cava inferior, para reduzir a hipertensão portal e melhorar as funções hepáticas);
(II) aférese de lipoproteínas (filtrar excesso de LDL do sangue); (III) o transplante total
do fígado (resulta em significativa redução dos níveis de LDL) e (IV) terapia gênica
(introdução de genes que codificam receptores funcionais de LDL no fígado do paciente
– utilização de vetores virais).
Já o tratamento da forma IIa do paciente heterozigoto pode visar à restrição
dietética, à prática de atividade física e às drogas da classe das estatinas e bloqueadores de
circulação entero-hepática (para forçar o uso de colesterol, formando novos sais biliares),
a fim de se atingirem os níveis adequados de LDL. Entretanto, poucos conseguem atingir
os níveis normais; a forma heterozigótica consegue diminuir os níveis de colesterol em
15%, e a utilização das estatinas reduz o LDL, em torno de 30 a 40%.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
1.4.4 Tipo III
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
1.4.5 Tipo IV
1.4.6 Tipo V
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
e colesterol, atenção com a ingestão de álcool que pode converter um paciente do tipo IV
para o tipo V, bem como facilitar o desenvolvimento de uma pancreatite.
ALUNO, MUITO FOCO NESTA REGRA!! Preste bastante atenção e reflita o quanto
os valores sociais podem influenciar o que vai ser tratado nos itens A e B. Entenda que a
empatia e a conexão com o paciente são fundamentais para se chegar ao objetivo ideal.
Fazer-se entender não é só uma questão técnica, colocar-se no lugar do outro, para
compreender a dinâmica que lhe permita atingir o objetivo, fará toda a diferença na busca
da qualidade de vida do paciente! E esta observação valerá SEMPRE que abordarmos
estas questões, ao longo de todo nosso Caderno de Estudos!
A) Anamnese
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
incluso na investigação durante a anamnese.
Não só a história individual do paciente é importante, mas também a história
familiar se faz necessária, para ajudar a identificar hiperlipidemias genéticas ou
fatores associados à ligação genética. Além disso, a investigação sobre o uso dos mais
diversos medicamentos faz parte do processo, uma vez que o uso de drogas pode levar à
dislipidemia.
Um dos focos mais importantes é a pesquisa de hábitos alimentares, o ponto de
especial atenção no procedimento de anamnese, a qual pode ser realizada, através de
registros alimentares de 24 horas. Na área da saúde, existem inúmeros questionários
elaborados, os quais auxiliam e norteiam o profissional não especializado a conhecer os
possíveis alimentos que contribuem com a manutenção e acentuação da hiperlipidemia.
Os questionários também são importantes para conhecer os hábitos alimentares do
paciente, como alimentos da preferência, com foco nos que são redutores de colesterol,
como aqueles ricos em fibras e antioxidantes, que serão posteriormente reforçados na
dieta do tratamento.
Sem essa investigação, conhecimento e construção dos hábitos alimentares do
paciente, dificilmente o tratamento terá sucesso, já que a adesão à dieta será mais eficaz,
quanto maior a similaridade com os hábitos rotineiros do paciente. É fundamental
entender que a dieta não é prescrita por curto espaço de tempo, devendo ser encarada
mais como uma mudança de hábito alimentar do que como um tratamento, por isso não
se descarta um auxílio adicional de profissional, para trabalhar as questões psicossociais
de cada paciente.
B) Exame Físico
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
• Os xantelasmas são placas amareladas em região periorbital, ou nas palmas
das mãos e dedos, os chamados xantomas palmares, mais comuns nas
dislipidemias dos tipos II e III. Estes xantomas são lesões cutâneas decorrentes
da deposição lipídica na pele. Em analogia, são semelhantes aos ateromas nas
paredes arteriais. Vale ressaltar que não é sempre que os xantomas são sinais
de dislipidemia, podendo aparecer em pacientes com concentração de lipídeos
normais, apenas por alterações cutâneas.
• Os xantomas tendinosos, em geral, relacionam-se com a hipercolesterolemia
familiar. Consistem em nódulos, às vezes de tamanho pequeno, ou espessamento
dos tendões. São mais comuns nas regiões extensoras das mãos, no tendão de
Aquiles, e na região patelar e de cotovelos. É comum serem observados nas
dislipidemias do tipo II.
• Os xantomas tuberosos são nódulos raros, em geral na face de extensão
das articulações, principalmente do cotovelo, e podem estar associados às
dislipidemias do tipo II e III.
• Xantomas eruptivos são pápulas amareladas e elevadas, mais frequentes nos
braços e nádegas. Ocorrem na hipertrigliceridemia severa, sendo observados
nas dislipidemias do tipo I, IV e V.
C) Exame Laboratorial
Esta fórmula não é aplicável a indivíduos com níveis de triglicerídeos maiores que
400 mg/dL, embora o uso da fórmula seja adequado à maioria dos pacientes. Por ter um
custo muito menor, seu uso é considerado como padrão.
As condutas padronizadas para realização dos exames laboratoriais seguem em
(I) jejum de 12 a 14 horas (para colesterol e HDL não é necessário), isto nos indivíduos
com dieta habitual, um estado metabólico e peso corpóreo estáveis por, ao menos,
duas semanas antes da realização do exame; (II) evitar a ingestão de álcool por 72 horas
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
antecedentes, bem como (III) atividade física vigorosa nas 24 horas que antecedem a
coleta; (IV) descontinuar medicações que afetem o metabolismo lipídico, pelo menos três
semanas antes da coleta (se possível) e (V) repetir a coleta 8 a 15 dias depois, caso haja
resultados anormais ou discordantes.
Após os exames, caso se observe nos resultados dos dois exames feitos (conduta V
acima), uma diferença grande, como mais de 5% do colesterol total, 10% do HDL e 20%
dos triglicerídeos, deve-se realizar nova dosagem, a terceira, devendo ser considerada a
média aritmética dos dois valores mais próximos.
Como conduta de monitoramento, a recomendação é a determinação do perfil
lipídico em todos os adultos, acima de 20 anos de idade, e repeti-la a cada cinco ou 6 anos,
caso os níveis se mantenham dentro dos valores de referência, já descritos anteriormente.
Maior atenção vai ser requerida para crianças ou adolescentes, com histórico de familiares
de primeiro grau que apresentem dislipidemias ou doença aterosclerótica prematura,
quando há obesidade, pancreatite aguda, xantomatose ou outros fatores de risco para
doenças cardiovasculares.
A eletroforese de lipoproteínas plasmáticas, atualmente, só se justifica em casos
especiais, como na constatação de ausência de lipoproteínas, sendo importante para o
diagnóstico de dislipidemias do tipo III, pois a fração de IDL não é diferenciada de LDL no
perfil lipídico. Nos demais casos, a eletroforese de lipoproteínas não auxilia na tomada
de decisões clínicas.
Importantes também são as dosagens de apoproteínas. Dosagens de ApoA-I e
ApoB-100 são fundamentais, quando o perfil lipídico deixa dúvidas no diagnóstico. Em
relação às Apos AI e B, o elevado custo e a ausência de informação adicional clinicamente
relevante, na maioria dos indivíduos, limitam a utilização de suas determinações na
prática clínica. Portanto, como rotina, as determinações das Apos B e AI não são indicadas
para avaliação ou estratificação do risco cardiovascular.
PARA REFLETIR
Diante de todas as patologias e desequilíbrios no metabolismo lipídico, a refle-
xão será bem simples: com que frequência você mantém os exames e checkups
em dia? Acha que está monitorando sua saúde como deveria?
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
1.5 CORPOS CETÔNICOS
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
HMG-CoA
O Sintase
O Tiolase
C C C C 3-Hidroxi-3-metilglutaril CoA
C C (HMG-CoA)
CoA
SCoA O CoA
2 CoA
AcetilCoA
Acetil CoA Acetoacetil CoA
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
O fígado produz corpos cetônicos, mas não os pode utilizar para gerar energia, visto
que o tecido hepático não possui a enzima, a qual iniciará a metabolização dos corpos
cetônicos, visando à formação de Acetoacetil CoA, e o mesmo vale para as células sem
mitocôndria.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 11: UTILIZAÇÃO DE CORPOS CETÔNICOS.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020), baseado em HARVEY (2012).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
circula no sangue, diminuindo o pH corporal (BAYNES, 2015).
Isso se torna grave no diabetes descontrolado, uma vez que, ao apresentar algum
pico hiperglicêmico, a glicose será excretada na urina. No entanto, para que a eliminação
aconteça, muita água será carreada junto, o que diminui o volume plasmático, fazendo
com que tenhamos uma potencialização da acidemia, por diminuição de volume.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
EXERCÍCIO FINAL
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
de transporte, síntese e regulação da molécula deste esterol.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
inclusive.
III – O fígado não consegue metabolizar os corpos cetônicos formados, porque este
não possui a enzima tioforase.
IV - O beta-hidroxibutirato é um exemplo de corpos cetônicos.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
REFERÊNCIAS
CANNON, C.P.; BLAZING, M.A.; GIUGLIANO, R.P.; McCAGG. A.; WHITE J.A.; THEROUX
P.; et al; IMPROVE-IT Investigators. Ezetimibe added to statin therapy after acute coronary
syndromes. N. Engl. J. Med. 2015; 372 (25): 2387-97. doi: 10.1056/NEJMoa 1410489.
HARVEY, Richard A., FERRIER, Denise R. Bioquímica Ilustrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2012.
KUMAR, V. V. Robbins Patologia Básica. 10. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
PINTO, W.J. Bioquímica Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
RODWELL, V. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 30. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017.
SILVEIRO, S.P.; SATLER, F. Rotinas em Endocrinologia. 1 ed. Porto Alegre: Artmed, 2015.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
2
UNIDADE
DISTÚRBIO DO
METABOLISMO DE
CARBOIDRATOS 1
2.1 INTRODUÇÃO À UNIDADE
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
2.2 INSULINA
De acordo com Baynes (2015), a insulina é um hormônio sintetizado nas células beta
do pâncreas, fruto de um só RNA mensageiro. Após sua síntese no processo de tradução,
a molécula sofrerá processamento específico até sua forma funcional. Ela é sintetizada
como preproinsulina, contendo 110 aminoácidos, constituída do chamado peptídeo
sinal, com 24 aminoácidos (correspondente ao “pre”), Peptídeo C com 35 aminoácidos
(correspondente ao “pro”) e Cadeias A e B com 51 aminoácidos (correspondente à
insulina).
Depois da síntese no retículo endoplasmático rugoso, a preproinsulina é
encaminhada ao retículo endoplasmático liso, através da chamada sequência sinal, a
qual reside na porção pré, que é o peptídeo sinal. Este, por sua vez, é removido após o
direcionamento, tornando-se proinsulina (Figura 3). Em seguida, os radicais de cisteína
sofrem reações catalisadas pela enzima dissulfeto isomerase, que faz três pontes dissulfeto,
duas unindo a cadeia A com B, e uma interna em A. Na última etapa, a proinsulina sofre
proteólise e, por hidrólise, o peptídeo C é removido com a formação da insulina. Apesar
da separação do peptídeo C, tanto ele quanto a molécula de insulina são estocados dentro
dos grânulos das células beta-pancreáticas. Assim sendo, a insulina é um peptídeo, com
51 aminoácidos e duas cadeias, A e B (Figura 12).
Caro aluno, esta informação, sobre o peptídeo C ser estocado no mesmo grânulo
que a insulina, será muito importante para aferir valores sobre a insulina, mantenha a
atenção!
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 12: PRÓ-INSULINA
Modificado pelo Autor.
Fonte: Shutterstock (2020). https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/human-insulin376391215
A insulina é degradada pela enzima insulinase, presente no fígado e, em menor concentração, nos rins.
Possui meia vida de aproximadamente 6 minutos, o que permite alterações rápidas nos níveis circulantes
do hormônio, por isso se torna um problema para ser quantificada. No entanto, temos a relação de 1
Peptídeo C para cada insulina sintetizada, e este permanece por mais tempo no plasma, sendo possível
sua medição (BAYNES, 2015).
Segundo nos ensina Baynes (2015), após estímulos apropriados, e quando o nível
de glicose aumenta, acima do normal de 5mM, as células beta-pancreáticas respondem,
liberando insulina na circulação. A glicose entra na célula beta, através do transportador
GLUT 2; no citoplasma da célula, a glicose é rapidamente convertida em piruvato
(glicólise), gerando um rápido aumento na concentração citoplasmática de ATP. Este ATP
formado se liga aos canais de K+ sensíveis ao ATP, provocando o fechamento deles, ao
reduzir o efluxo de íons K+ da célula.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Como resultado deste fechamento, temos uma despolarização da membrana
plasmática que desencadeia a abertura dos canais de Ca2+ sensíveis à voltagem e permite o
influxo de íons cálcio para o citoplasma da célula. Este Ca2+ promove a fusão das vesículas
secretoras, as quais contêm insulina (e peptídeo C), com a membrana plasmática, havendo
liberação da insulina e do peptídeo C na circulação (Figura 13).
Notem que, neste parágrafo acima, foi possível relembrarmos conceitos já aprendidos
em outras disciplinas, como transporte passivo, transporte ativo e despolarização!
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
glicêmico, acontece a 2a fase, menos intensa e mais prolongada, constituída de um platô
que pode durar horas, envolvendo insulina pré-formada e a síntese de novas moléculas
de insulina (Figura 14).
AUMENTAM DIMINUEM
Estado Pós-prandial Jejum
Hiperglicemia Hipoglicemia
Agonistas beta-adrenérgico Agonistas α-adrenérgico
Arginina
Hormônio do Crescimento (GH)
Secretina
Cortisol e GABA
Estrogênio/Progesterona
Acetilcolina
Sulfonilureias
TABELA 5: FATORES QUE INFLUENCIAM NA SECREÇÃO DE INSULINA.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
2.2.2 EFEITOS METABÓLICOS DA INSULINA
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
2.3 DIABETES
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Os dados que seguem são muito importantes para você entender a gravidade do
problema relacionado com o diabetes. Os números nos mostram que, atualmente, ou
em um futuro não muito distante, a situação é de maior comprometimento populacional
com uma das doenças crônicas mais observadas no planeta. Uma doença que causa
gastos enormes nos serviços públicos de saúde e que compromete a integridade física
dos pacientes, com todas as suas comorbidades!
No último 14 de novembro (2019), a International Diabetes Federation (IDF) divulgou
novos números que destacam o crescimento alarmante na prevalência de diabetes. Os
dados da 9ª edição do Atlas de Diabetes da IDF mostram que existem 463 milhões de
adultos com diabetes, em todo o mundo. A prevalência alcançou níveis elevados de 9,3%,
e o preocupante é que 50,1% dos adultos, mais da metade, não estão diagnosticados. O
diabetes melito Tipo 2 abrange, em torno de 90% de todas as pessoas com diabetes. Os
dados mostram que o diagnóstico precoce e o acesso a cuidados adequados podem ser
fundamentais para a prevenção, ou para retardar as complicações ligadas a esta doença
crônica.
No mesmo trabalho da IDF, a previsão é o aumento para 578 milhões (em 2030)
e para 700 milhões (em 2045), no número total de pessoas vivendo com diabetes em
nosso planeta. O Atlas (9a Edição) também inclui dados que levam ao aumento de risco
para desenvolver diabetes melito Tipo 2, como 374 milhões de adultos que apresentam
intolerância à glicose. A doença está entre as 10 principais causas de morte, quase a
metade ocorrendo em pessoas com menos de 60 anos. Além disso, a cada seis nascidos
vivos, um é afetado pela hiperglicemia durante a gravidez.
Uma série de fatores combinados, como o baixo desempenho dos sistemas de
saúde, a pouca conscientização na população e mesmo nos profissionais da área da
saúde sobre diabetes, somados ao início quase silencioso dos sintomas ou progressão do
diabetes tipo 2, podendo esta condição permanecer não detectada por vários anos, acaba
oportunizando o desenvolvimento de suas complicações, em um nível que nem sempre
se consegue reverter. Estima-se que cerca de 50% dos casos de diabetes em adultos não
sejam diagnosticados e que 84,3%, de todos os casos de diabetes não diagnosticados,
estejam em países em desenvolvimento (SBD, 2020).
Como consequência do envelhecimento da população, o número de indivíduos
diabéticos tem aumentado, havendo outros fatores a serem considerados: a maior
urbanização, um crescimento muito grande da obesidade mundial, sedentarismo e as
próprias condições da medicina, permitindo uma maior sobrevida dos pacientes que
apresentam diabetes melito (IDF, 2019).
No cenário nacional, no final da década de 80, a estimativa sobre a prevalência
de DM na população foi de 7,6%. Os dados recentes apontam números mais elevados,
57
BIOQUÍMICA CLÍNICA
com algumas cidades apresentando taxas duas vezes maiores que da estimativa. Uma
pesquisa, feita em 2013, estimou que existiriam 11.933.580 pessoas, na faixa etária de 20
até 79 anos, com DM no Brasil, o que hoje representaria 5,7% da população. Este é um
número muito alto, ao se levar em conta as comorbidades e suas consequências, além do
fato de muitos diabéticos sequer saberem o diagnóstico. Os números vêm apresentando
um crescimento, relacionado à faixa etária, com aumento de 2,7%, no grupo de 30 a 59
anos, e 17,4% no de 60 a 69 anos (MS, 2016).
No Brasil, dados de 2011 demonstraram que as taxas de mortalidade (a cada 100
mil habitantes) por diabetes melito se acentuam enormemente, em função da faixa
etária, passando de 0,5 no grupo de 0 a 29 anos e para 223,8 na faixa de 60 para mais, ou
seja, apresenta um aumento de 448 vezes. Quando se trata de uma análise por gênero,
a taxa fica em 27,2, nos homens, e 32,9, nas mulheres, uma leve predominância no sexo
feminino.
Os dados do Vigitel (2016) mostram, ainda, que o Rio de Janeiro (RJ) tem a maior
prevalência, com índice de 10,4, e Boa Vista (RR) o menor, com 5,3 (Figura 16).
58
BIOQUÍMICA CLÍNICA
2.3.1 Diabetes Melito Tipo 1
59
BIOQUÍMICA CLÍNICA
somados, levam à hiperglicemia (Figura 17).
O mesmo panorama hormonal leva à intensa lipólise, com isso temos a chegada
de muitos ácidos graxos no tecido hepático, induzindo o fígado a produzir grandes
quantidades de corpos cetônicos, o que pode levar a uma cetoacidose, como foi descrito
na unidade anterior.
Ainda sobre o metabolismo lipídico, pode ser observado um quadro de
hipertrigliceridemia, uma vez que a atividade e produção da Lipase Lipoproteica sofre
influência da insulina, que está muito baixa ou ausente, levando a um prejuízo na
metabolização dos quilomícrons e do VLDL. Estes, permanecendo no plasma, vão gerar
um quadro de hipertrigliceridemia (Figura 17).
60
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Os sintomas surgem abruptamente e seguem a linha dos chamados 5 Ps: poliúria,
polidipsia, polifagia e perda de peso. A cetoacidose será observada, acompanhada de
algumas ou de todas as manifestações, tais como pele avermelhada, quente e seca,
perda de apetite, dor abdominal, vômitos, hálito cetônico, respiração rápida e profunda
(como resposta à compensação da acidose) e dificuldade para acordar, sendo que o
prolongamento do estado poderá levar o indivíduo ao coma.
SAIBA MAIS
Como estão as coisas até aqui? Este vídeo trará todo um conteúdo sobre a
ação da insulina, a causa e o aparecimento do Diabetes Melito Tipo 1, sendo bem
instrutivo e cheio de informação fundamental, divirta-se!
Acesse o link e confira: https://www.youtube.com/watch?v=T0mnagQecCU
61
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Idade superior aos 45 anos Fumo
Excesso de peso (IMC > 25kg/m2) Filhos, com peso maior que 4 kg
Parentes de 1o Grau dom Diabetes Melito HDL < 35 mg/dL ou TG > 250 mg/dL
Sedentarismo Síndrome dos Ovários Policísticos
História de Diabetes Melito Gestacional ou feto
Hipertensão Arterial Sistêmica (>140/90 mmHg)
macrossômico
Pré-Diabetes, identificado previamente Doença vascular
TABELA 7: FATORES DE RISCO PARA DIABETES MELITO TIPO 2.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
62
BIOQUÍMICA CLÍNICA
importante metabólito que age como regulador positivo da glicólise, promovendo
aumento da velocidade desta via. Ou seja, não temos aceleração da glicólise, fator que
será somado ao fato de a enzima PEP-Carboxiquinase (enzima-chave da gliconeogênese)
não sofrer a regulação negativa típica. Então, não se tem um impedimento da ocorrência
da gliconeogênese (até porque a glicólise não vai acelerar, conforme seria esperado).
Já comentamos que a cetoacidose é rara no paciente com esta forma de diabetes,
em razão de a insulina estar presente em quantidades suficientes, para evitar a
metabolização descontrolada dos triglicerídeos no tecido adiposo, o que geraria grandes
concentrações de ácidos graxos indo para o fígado (BAYNES, 2015). Apesar de rara, pode
ser precipitada por um grande estresse, como observado no infarto do miocárdio. Diante
deste panorama, o fígado recebe o aporte normal de ácidos graxos, permitindo que o
tecido hepático utilize as moléculas para a chamada “síntese de novo”, ou os dirigir para
a formação de triglicerídeos. Nesta situação, pode ser observado um aumento de VLDL,
pela elevação de TGs hepáticos, sem uma hiperquilomicronemia (aumento de QM).
Portanto, a gliconeogênese, combinada com uma lipogênese, não ocorre. Contudo,
nesta forma de diabetes, é o resultado de uma mistura da resistência insulínica, com
as vias de regulação mediadas pelo hormônio que não acontecem, como explicado
anteriormente.
Caso tenha algo muito específico, dentro da fisiopatologia de algum tipo, será
feita a distinção. Porém, no geral, o que será abordado agora é comum à doença crônica
diabetes, independentemente do tipo.
Como descreve Lamounier (2016), o diabetes melito apresenta, com o passar dos
anos, diversas complicações, as quais geram comorbidades que impedem uma vida
saudável e normal aos pacientes acometidos por esta doença crônica.
As alterações evoluem lenta e silenciosamente e levam à microangiopatia (pequenos
vasos) e à macroangiopatia (grandes vasos), as quais fazem parte da chamada síndrome
diabética. Em um panorama a longo prazo, estas alterações ocasionam: insuficiência
renal (nefropatia diabética), cegueira (retinopatia diabética), opacidade nas lentes ópticas
63
BIOQUÍMICA CLÍNICA
que levam à catarata, além de disfunções neurológicas (neuropatia diabética).
Os problemas ligados à macroangiopatia aumentam, de duas a três vezes, a
predisposição do paciente diabético para desenvolver infarto do miocárdio e doença
vascular periférica diabética, que é a causa direta de úlceras nos pés, podendo levar a
amputações dos membros inferiores. Inclusive, no mundo, esta é a maior causa de
remoção de membros inferiores. O diabetes também é a maior causa de cegueira e de
insuficiência renal. A doença cardiovascular é a mais prevalente, sendo a principal causa
de morte entre os pacientes com diabetes.
Os problemas ligados à microangiopatia se caracterizam pela formação de AGE
(Advanced Glycation End-products), que modifica, irreversivelmente, propriedades
funcionais e químicas de muitas estruturas biológicas; o estresse oxidativo e também
o aumento das vias poliol, como o sorbitol (ver em metabolismo da frutose). Alguns
AGEs ocasionam reações cruzadas, levando à rigidez das moléculas de colágeno, o que
contribui com a aterosclerose observada no diabetes. Esta ligação dos AGEs, em geral,
acontece com proteínas corporais de vida longa, e o enrijecimento da matriz extracelular
diminui a elasticidade e capacidade morfológica de várias estruturas, afetando as células
endoteliais, macrófagos, células musculares lisas, o que contribui bastante para o
desenvolvimento das complicações tardias, típicas do diabetes (BAYNES, 2015).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Sedentarismo Parente de 1o grau com Diabetes Melito
IMC > 25kg/m2 Filho macrossômico
Grupos étnicos HDL < 35 mg/dL ou TG > 250 mg/dL
Sedentarismo Hipertensos (>140/90 mmHg)
Doença vascular Glicemia de jejum alterada
Teste Oral de Tolerância à Glicose (TTG ou TOTG) alterado
TABELA 8: FATORES DE RISCO PARA UMA INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
sua presença, de forma alguma, é um diagnóstico de cetoacidose. A presença de corpos
cetônicos pode simplesmente refletir, por exemplo, o resultado de um jejum prolongado
(lembre-se do que foi visto na Unidade 1 sobre corpos cetônicos). A utilização de tiras secas
de dosagem não detecta β-hidroxibutirato, podendo subestimar a condição metabólica
do indivíduo, por isso sua utilização não se torna recomendada nesta situação.
Em condições normais, os corpos cetônicos presentes na urina são insignificantes,
sendo 2% de acetona, 78% de β-hidroxibutirato e 20% de acetoacetato. No entanto, os
corpos cetônicos, presentes em grande quantidade, extravasam para a urina (cetonúria),
e o exame de corpos cetônicos na amostra pode fornecer importantes dados para um
diagnóstico precoce de uma condição de acetoacidose, a qual tem a possibilidade de
evoluir para algo mais grave.
66
BIOQUÍMICA CLÍNICA
igual ou acima de 126 mg/dL, deve ser repetido para atestar diabetes melito.
67
BIOQUÍMICA CLÍNICA
CATEGORIA/GLICOSE JEJUM TOTG CASUAL
Normal < 100 mg/dL < 140 mg/dL -
Diabetes Melito ≥ 126 mg/dL (2x) ≥ 200 mg/dL ≥ 200 mg/dL (com sintomas)
TABELA 9: VALORES DE ANÁLISE PARA GLICEMIA.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
A1C (%) Glicose (mg/dL)
4 65
5 100
6 135 Normal
7 170 Desejável
8 205
9 240
10 275
11 310
12 345 Intervenção
TABELA 10: VALORES DE REFERÊNCIA, HEMOGLOBINA GLICADA.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
HDL, restabelecem a sensibilidade à insulina, reduzem a circunferência abdominal e a
gordura visceral.
70
BIOQUÍMICA CLÍNICA
obtidos em anamnese anterior, vai se definir a quantidade de carboidrato por refeição. Já
para o paciente adulto, com Diabetes Tipo 1, calcula um VET de 2.500 kcal; considerando
60% de carboidratos, o que corresponde a 375 gramas, distribuídos ao longo de todo o
dia. Contando-se com a anamnese, é definida a quantidade de carboidratos por refeição.
B) Tratamento Medicamentoso
= > Insulinoterapia
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Pacientes com diabetes Tipo 1, na maior parte das vezes, precisam de um programa
terapêutico, o qual libere tanto a insulina basal quanto aquela que dispensa maiores
quantidades na circulação. Assim sendo, o tratamento é feito de maneira intensiva, ou
seja, envolve três ou mais aplicações diárias de insulina.
O tratamento voltado ao Diabetes Tipo 2, dependerá do paciente, já que alguns só
precisam da basal, uma vez que o pâncreas ainda fornece a insulina necessária para as
refeições, costumando ser suficiente uma aplicação diária, antes de dormir.
Em algumas situações, a insulinoterapia personalizada pode incluir mais de um
tipo de insulina, utilizada em diferentes momentos do dia, na mesma hora, ou até na
mesma aplicação. Para isso, o mercado disponibiliza algumas opções pré-misturadas de
insulina, as quais possibilitam ao paciente administrar dois tipos de insulina em uma
única aplicação, ou, em outros casos, o próprio indivíduo com diabetes vai preparar a
combinação, ajustando as doses das insulinas de ação ultrarrápida, de acordo com a
alimentação (quantidade de carboidratos), ou com a glicemia medida.
a) Classe: Biguanidas
Agente: Metformina
b) Classe: Sulfanilureias
Agentes: Glibenclamida, Glipizida, Gliclazida, Glimepirida
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Fazem parte dos secretagogos de insulina os agentes que aumentam a secreção
de insulina. O mecanismo de ação é acarretar a despolarização da célula β-pancreática
(promovendo o influxo de cálcio). Requer atenção, porque pode levar à hipoglicemia.
c) Classe: Incretinas
Agentes: Polipeptídeo Inibitório Gástrico (GIP) e Peptídeo 1 Tipo Glucagon (GLP-1)
SUGESTÃO DE LEITURA
LAMOUNIER, Rodrigo N. Manual Prático de
Diabetes: Prevenção, Detecção e Tratamento. 5.
ed. Guanabara Koogan, 2016, 372 p. ISBN 9788527730440.
O Capítulo 3 trata especificamente do gerenciamento de
peso do paciente com Diabetes Melito. É um foco muito impor-
tante para o entendimento de toda fisiopatologia ligada a esta
doença crônica, bem como uma mudança no estilo de vida, que
também se aplica ao paciente com Síndrome Metabólica.
73
BIOQUÍMICA CLÍNICA
2.4 SÍNDROME METABÓLICA
PARA REFLETIR
Aprendemos bastante sobre Diabetes Tipo 2 e Síndrome Metabólica, mas é pre-
ciso contextualizar a questão educacional, no que diz respeito à alimentação. Qual
o seu papel na busca de uma alimentação saudável? E que tal ir além: qual a sua postura, com
todos que o cercam, sobre a importância de se alimentar de forma saudável?
74
BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 18: FATORES LIGADOS À SÍNDROME METABÓLICA.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
c) Organização Mundial da Saúde (OMS)
Obrigatório um dos três: Diabetes, Intolerância à Glicose ou Resistência Insulínica
pelo clamp.
Mais dois dos seguintes critérios:
* 1 – Triglicerídeo elevado: ≥ 150 mg/dL.
* 2 – HDL – colesterol baixo: < 39 mg/dL na mulher; < 35mg/dL no homem.
3 – PAS ≥ 140mmHg ou PAD ≥ 90 mmHg.
4 – Glicemia de jejum: ver critérios obrigatórios.
* O TG e HDL são considerados um único critério para a OMS.
SAIBA MAIS
Uma vez que já sugerimos um vídeo sobre Diabetes Tipo 1, nada melhor que
recomendar fortemente este outro vídeo, no qual o Dr. Amélio Matos, no Canal
Médico, expõe dados e conceitos sobre Síndrome Metabólica, de forma muito didática e esclare-
cedora. Recomendo muito!
Acesso no link: https://www.youtube.com/watch?v=nOVEWF8Kzhw
2.4.1 Tratamento
A) Não Medicamentoso
Este tratamento tem como foco a chamada Mudança do Estilo de Vida, ou MEV,
sendo baseado em quatro pilares: recomendação dietética, prática do exercício físico, fim do
tabagismo e obtenção de peso corporal, o mais próximo do ideal. Para atingir a meta, objetiva-
se a perda de 5 a 10% do peso corporal, com dieta pobre em gorduras, ao menos 150 minutos
de atividade física aeróbica por semana e suspensão imediata do fumo. São pequenas atitudes,
com as quais o paciente é capaz de apresentar uma redução, em torno de 58%, na progressão
para diabetes melito, além de efeitos favoráveis no perfil lipídico e na pressão arterial.
76
BIOQUÍMICA CLÍNICA
B) Medicamentoso
= > Antiobesidade:
- Orlistat é indicado para o tratamento de paciente com obesidade, ou mesmo
sobrepeso, mostrando bons resultados no controle do peso a longo prazo.
- Sibutramina, usado para tratar a obesidade, já que rapidamente amplia a sensação
de saciedade do indivíduo, aumenta a termogênese, o que auxilia a queima calórica.
= > Antilipemiantes:
- Estatinas (ver tratamento da hipercolesterolemia).
- Fibratos: estimulam os receptores nucleares ativados de proliferação dos
peroxissomas-alfa (PPAR-a), acarretando aumento na produção e na atividade da enzima
lipase lipoproteica (ver quilomícrons e VLDL).
- Ácido nicotínico (Niacina, Vitamina B3 ou Vitamina PP): sua ação é diminuir
a esterificação dos triglicerídeos hepáticos, diminuir os níveis séricos de ApoB-100
(principal componente proteico de VLDL e LDL) e aumentar a ação da lipase lipoproteica.
77
BIOQUÍMICA CLÍNICA
NA PRÁTICA - ESTUDO DE CASO
Indivíduo, R.D.M., sexo masculino, 70 anos, com doença crônica Diabetes Tipo
2 e hipertensão leve. Em uma visita ambulatorial de rotina, levou seus exames
para a consulta. Foram observados valores de colesterol total 265 mg/dl, triglicerídeos 173 mg/
dl, com colesterol HDL de 35 mg/dl. Os exames ligados à taxa de glicose chamaram atenção da
equipe, pois a glicose de jejum apresentava valor de 162 mg/dl e a hemoglobina glicada (HbA1c)
de 6%. Quais os riscos desta doença crônica? O que os exames do paciente lhe dizem? Qual
poderia ser a terapêutica e a conduta? O que esperar dela?
78
BIOQUÍMICA CLÍNICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
79
BIOQUÍMICA CLÍNICA
EXERCÍCIO FINAL
80
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Analise as afirmativas abaixo:
I - Sobre o Diabetes Melito Tipo 1, podemos afirmar que se caracteriza por uma
deficiência absoluta de insulina, causada por um grande ataque autoimune nas
células beta-pancreáticas.
II - A fisiopatologia do Diabetes Tipo 1 apresenta a presença de anticorpos:
autoanticorpos para ilhotas (ICA), para insulina (AAI), para descarboxilase do ácido
glutâmico (GAD) e para Tirosina Fosfatase IA-2 e IA-2B;
III - No Diabetes Tipo 1, o panorama de insulina muito baixo ou ausente, e o
glucagon em alta, faz com que tenhamos uma diminuição de glicogenólise. Com a
proteólise tecidual, potencializa-se a gliconeogênese.
IV - No Diabetes Tipo 2, os pacientes mantêm certa capacidade de secreção
de insulina. Contudo, seus níveis insulínicos são baixos, em relação às suas
concentrações de glicose.
V - A análise da urina é um exame importante e conclusivo, para se detectar um
paciente que está acometido pelo diabetes.
VI - O exame de hemoglobina glicada é importante para monitorar o paciente com
Diabetes Melito.
81
BIOQUÍMICA CLÍNICA
metabólico, o qual leva à Síndrome Metabólica que se manifestará nos pacientes.
III - Nos critérios de definição desta síndrome pela OMS, como fator obrigatório
deverá ter obesidade abdominal.
IV - A administração de Orlistat faz parte do tratamento medicamentoso
antidiabético para tratar a Síndrome Metabólica.
82
BIOQUÍMICA CLÍNICA
REFERÊNCIAS
ANDREOLI, T.; CARPENTER, C.C.J.; LOSCALZO, J.; GRIGGS, R.C. Cecil - Medicina Interna
Básica. 6 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.
CHATTERJEE, S.; KHUNTI, K., DAVIES, M.J. Type 2 diabetes. Lancet Lond. Engl. 2017; 389
(10085): 2239–51.
GAW, A.; COWAN, R.A.; O’REILLY, D.J.; STEWART, M.J.; SHEPHERD, J. Bioquímica Clínica.
5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
PINTO, W.J. Bioquímica Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
UNITED NATIONS. World Population Prospects: The 2017 Revision. New York: United
Nations.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
3
UNIDADE
DISTÚRBIO DO
METABOLISMO DE
CARBOIDRATOS 2
E DISTÚRBIO DO
METABOLISMO DE
AMINOÁCIDOS3.1
INTRODUÇÃO À UNIDADE
INTRODUÇÃO A UNIDADE
86
BIOQUÍMICA CLÍNICA
3.2 METABOLISMO DA FRUTOSE
Cerca de 15 a 20% das calorias que o ocidental consome chega na forma de frutose,
sendo a principal fonte deste monossacarídeo a sacarose que, uma vez clivada, fornece
concentrações equimoleculares da frutose e de glicose. A frutose também pode ser
obtida, na forma livre, em frutas, vegetais e no mel, além de produtos industrializados,
como nos cereais tradicionais, barra de cereais, mistura para bolos, suco de caixa etc.
A frutose não depende da insulina para entrar na célula, sendo, inclusive, um
estimulante muito fraco da secreção deste peptídeo hormonal. Sua absorção acontece
nas células da mucosa intestinal e são transportadas pela família de transportadores
GLUT 5.
A maior parte da frutose é metabolizada no fígado (em torno de 78%) e, ao entrar
nas células para a metabolização, seu primeiro passo, comum a muitos glicídios, é ser
fosforilada. Esta fosforilação acontece por ação da enzima frutoquinase, uma vez que
a hexoquinase tem maior afinidade com a glicose e, por isso, acaba não participando
ativamente da fosforilação da frutose (HARVEY, 2012).
Após a fosforilação (onde o ATP é o doador do P), será gerado o composto Frutose
1-Fosfato (F1P), o qual sofrerá ação da enzima Aldolase B, formando Gliceraldeído e
Diidroxiacetona Fosfato (DHAP), como pode ser visto na Figura 19. O gliceraldeído ganhará
um fosfato, produzindo Gliceraldeído 3-Fosfato que, juntamente com a Diidroxiacetona
Fosfato, seguirá na glicólise, conforme já estudado na Bioquímica Básica.
87
BIOQUÍMICA CLÍNICA
3.2.1 Distúrbios do Metabolismo da Frutose
88
BIOQUÍMICA CLÍNICA
cromossomo 9, cromátide inferior, região 22.3 (9q22.3), sendo a doença de herança
autossômica recessiva.
Na intolerância hereditária à frutose, temos o acúmulo de frutose 1-Fosfato,
fazendo com que o fosfato fique “aprisionado” nesta forma do glicídio fosforilado que,
com o tempo, prejudica a formação de ATP, pela diminuição de fosfato livre. O resultado
é um acúmulo de ADP e AMP, que serão posteriormente metabolizados, podendo levar à
hiperuricemia e até ao desenvolvimento da doença gota.
Outro problema é que, pelo fato de muitos pacientes com essa forma da doença
possuírem, também, uma baixa atividade da frutose 1,6 bifosfatase (enzima chave da
gliconeogênese), como consequência, haverá o acúmulo de F 1P e F 1,6 P2, o que leva à
inibição da Glicogênio Fosforilase (enzima chave na degradação do glicogênio), a qual
ocasiona uma condição chamada de “hipoglicemia induzida pela frutose”, uma vez que
prejudica a manutenção da glicemia, vinda da glicogenólise (BAYNES, 2015).
Outras consequências da doença são: presença de vômito, icterícia e hemorragia.
Os problemas se assemelham aos efeitos da Galactosemia Clássica, porém menos severos
e mais restritos ao fígado. Nesta situação, as dietas pobres em frutose, sorbitol e sacarose
são extremamente benéficas.
Tópico muito importante para você, aluno! Ao entender este conceito, faça a
associação com o que foi aprendido na Unidade 2, em Diabetes Melito, sobre os fatores
que levam à hiperglicemia e suas consequências, refletindo sempre as razões de como
é importante fazer o controle constante da glicemia! E, mais ainda, associe o que será
descrito, como um dos fatores contribuintes para as comorbidades do diabetes.
A maioria dos açúcares é rapidamente fosforilada após sua entrada nas células,
no entanto um mecanismo alternativo para a metabolização de um monossacarídeo é a
redução do seu grupo aldeído.
Para Harvey (2012), nesta via, a glicose sofre uma redução por ação da enzima
Aldose Redutase (com a presença de NADPH+H+), produzindo sorbitol. A aldose redutase
é encontrada em muitos tecidos, como fígado, cristalino, retina, células de Schawn
89
BIOQUÍMICA CLÍNICA
dos nervos periféricos, rim, placenta, hemácias e nas células dos ovários, espermas e
vesículas seminais. Nas células do fígado, ovários e vesículas seminais existe, ainda, uma
segunda enzima, a Sorbitol Desidrogenase, que oxida (com a presença de NADPH+H+)
o sorbitol, formando frutose. A etapa de formação de frutose nas vesículas seminais
se deve ao fato de as células espermáticas preferirem frutose para gerar energia. Já no
fígado, é importante por fornecer um mecanismo de metabolização do sorbitol da dieta
(Figura 20).
Como a insulina não é necessária para a entrada de glicose nas células citadas
acima, grandes quantidades de glicose podem entrar nelas, em algum momento de
hiperglicemia, conforme se observa em certos pacientes com diabetes descontrolado.
Muita glicose e uma quantidade de NADPH adequada fazem com que a aldose redutase
produza quantidade significativa de sorbitol que fica dentro da célula, pois não atravessa
eficientemente as membranas celulares, gerando seu armazenamento citoplasmático.
De acordo com Harvey (2012), isso é um grande problema para as células que
não possuem a enzima de metabolização do sorbitol (sorbitol desidrogenase), ou onde
ela esteja em baixa concentração (como se observa no diabético), porque o sorbitol se
acumula e provoca um desbalanceamento osmótico, tornando a célula hiperconcentrada,
em relação ao meio extracelular. Muita água entra na célula, podendo levar à formação
de edemas, os quais contribuem para as comorbidades que observamos no diabetes
(nefropatia, neuropatia periférica, catarata, problemas vasculares etc.).
90
BIOQUÍMICA CLÍNICA
3.3 METABOLISMO DA GALACTOSE E DISTÚRBIOS
91
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Nesta situação, a Gal 1-P se acumula, acarretando uma consequência bem
semelhante à da frutose, porém com muitos tecidos sendo atingidos. Ou seja, o fosfato
“aprisionado” na forma de Gal 1P gera acúmulo de ADP e AMP, que serão posteriormente
metabolizados, podendo levar à hiperuricemia e até ao desenvolvimento da gota. Em
adição, acontece um desvio maior da galactose, para formar o galactitol, normalmente
formado em pequenas concentrações. Esta molécula, semelhante ao sorbitol, ao se
acumular, gera um desbalanceamento osmótico que induzirá a formação de edema, além
de consequências, como a catarata, por exemplo (HARVEY, 2012).
Fazem parte das manifestações patológicas: a deficiência do crescimento (um sinal
clássico da doença), lesão hepática grave, icterícia, letargia e atraso no desenvolvimento
psicomotor, entre outras. Os sintomas surgem nos primeiros dias e semana de vida,
sendo a taxa de óbito neonatal alta, em função da septicemia, causada pela E.coli, que
inibe a atividade bactericida dos leucócitos. O atraso psicomotor, se não tratado, pode
levar ao retardo mental (BAYNES, 2015).
De acordo com Pinto (2017), diagnóstico laboratorial é feito através de teste
enzimático da GALT, sendo que sua ausência ou redução de atividade caracterizam a
doença. O diagnóstico pré-natal pode ser feito através de aminiocentese.
O tratamento consiste na remoção de alimentos, contendo galactose e também
lactose. O fato de a galactose fazer parte de importantes estruturas celulares, como
glicoproteínas, glicolipídios e aminoglicanos não será comprometida, pois a célula pode
obter esta galactose via glicose, em vias metabólicas alternativas.
Existem outras formas de galactosemia, dependendo de quais enzimas, envolvidas
no metabolismo da galactose, serão afetadas.
92
BIOQUÍMICA CLÍNICA
proteínas: A e B. A proteína A é uma β-D-Galactosil Transferase, encontrada em uma
série de tecidos corporais (que não a glândula mamária em lactação). A enzima transfere
a galactose da molécula de UDP-Gal para o composto N-Acetil-D Glicosamina, formando
um componente importante de glicoproteínas, que é o N-Acetil Lactosamina (Figura 22a).
Já a proteína B, ao contrário da A, só é encontrada nas glândulas mamárias, em
fase de lactação. A proteína B é uma α-Lactoalbumina, detectada em grande quantidade
no leite. Durante a gestação, e fora dela, o hormônio esteroide progesterona inibe a
transcrição correspondente da proteína B, porém, ao final da gestação, os níveis de
progesterona caem significativamente, estimulando a síntese do hormônio prolactina,
o qual estimula a transcrição e síntese da proteína B. Com as proteínas A e B presentes
nas células das glândulas mamárias, elas formam um dímero (AB), e a proteína B muda
a especificidade da proteína A (que é uma transferase), fazendo com que a galactose
da UDP-Gal seja transferida para uma glicose (ao invés da N-Acetil-D Glicosamina),
formando lactose (Figura 22b).
93
BIOQUÍMICA CLÍNICA
SUGESTÃO DE LEITURA
HARVEY, Richard A., FERRIER, Denise R. Bio-
química Ilustrada. 7ª ed. Porto Alegre: Artmed,
2019, 576 p. ISBN 9788582714850.
Ótima oportunidade para se situar nas patologias ligadas
ao metabolismo de carboidratos e fazer um estudo sobre
metabolismo de galactose, lactose e frutose. Para isso, o Ca-
pítulo 12 do livro traz complementações a este conteúdo, por
meio de uma leitura técnica e de fácil entendimento.
A doença de Von Gierke está enquadrada como Glicogenose Tipo I, sendo uma das
doenças mais comuns ligadas ao glicogênio. Ela é causada pela deficiência parcial ou total
da enzima Glicose 6 Fosfatase, enzima típica do fígado. Com esta deficiência, o fígado
fica impossibilitado de manter a glicemia, pela quebra completa do glicogênio hepático.
94
BIOQUÍMICA CLÍNICA
O corte histológico mostra hepatócitos, com citoplasma claro e vacuolado, aspecto em
célula vegetal, pelo acúmulo de glicogênio.
Manifesta-se em xantomas cutâneos, afetando gravemente o fígado (hipertrofia)
e também o rim, por impossibilitar este último a completar a gliconeogênese. Leva ao
aumento de triglicerídeos, o que é refletido na alta de VLDL (e posteriormente de LDL).
O tratamento consiste em alimentações frequentes, a fim de se evitar o jejum,
principalmente com alimentos que contenham carboidratos, assim mantendo a glicemia
constante. Inclusive, não se descarta a alimentação intragástrica. Depois de um tempo,
se toda a terapêutica não der o resultado esperado, a solução pode ser um transplante
hepático.
95
BIOQUÍMICA CLÍNICA
SAIBA MAIS
Para entender melhor uma das doenças que tratamos
aqui nesta unidade, vou sugerir um excelente filme: De-
cisões Extremas, o qual é baseado em fatos reais, focando na Doença
de Pompe. Você vai ter oportunidade de entender mais sobre a doença,
além de questões éticas, pesquisa em biologia molecular, diagnóstico,
testes laboratoriais e muito mais!
96
BIOQUÍMICA CLÍNICA
3.6. BIOSSÍNTESE DOS AMINOÁCIDOS
97
BIOQUÍMICA CLÍNICA
3.7 DISTÚRBIOS DO METABOLISMO DOS AMINOÁCIDOS
98
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Conforme descrito em Baynes (2015), no fígado, esta enzima converte a fenilalanina
em tirosina. Na ausência da enzima, a fenilalanina acumula no sangue e é degradada por
via secundária, em que compostos ácidos serão formados – como os ácidos fenilpirúvico,
fenilático e fenilacético – que podem ser tóxicos ao se acumularem. Tal bloqueio
enzimático também tem como consequência a deficiência de tirosina e a redução na
formação de melanina, motivo que pode levar alguns dos indivíduos a terem olhos,
cabelos e pele claros.
As crianças fenilcetonúricas parecem normais ao nascerem, mas se tornam
progressivamente retardadas, hiperativas, irritáveis e espásticas (com movimentos
involuntários). Algumas são violentas, apresentando distúrbios de comportamento em
nível psicótico. Elas podem ter convulsões, e sua urina possui forte odor de mofo, devido
à excreção urinária de fenilcetonas.
O mecanismo fisiológico, responsável pelo retardo mental, seria uma intervenção:
a) no crescimento cerebral; b) no processo de mielinização e c) na síntese de
neurotransmissores. O excesso de fenilalanina inibe competitivamente o transporte e
captação neuronal de outros aminoácidos cerebrais, através da barreira hematoencefálica
e da placenta. Com isso, há a diminuição da concentração cerebral intracelular de
tirosina e de 5-hidroxitriptofano, diante da qual fica limitada a produção de serotonina,
catecolaminas (dopamina, noradrenalina e adrenalina) e melatonina (hormônio indutor
do sono).
O tratamento deve ser iniciado o mais cedo possível, antes de ocorrerem danos
cerebrais irreversíveis, de preferência até o décimo dia de vida. Uma dieta restrita no
aminoácido é eficaz em reduzir os níveis sanguíneos de fenilalanina, melhorando o
prognóstico neurológico. Já que não se pode cortar completamente este aminoácido da
dieta, por sua importância, deve-se limitar a ingestão, exclusivamente para a síntese
proteica, sem o risco de sobrar fenilalanina que precise ser metabolizada. No entanto,
como uma parte da tirosina é obtida pela conversão da fenilalanina, esta dieta tem que
ser suplementada com tirosina, a fim de evitar a maior parte dos casos de retardo mental.
Alguns alimentos são inteiramente proibidos: carnes em geral, farináceos, legumes,
leite, queijo e ovos, mas existem alimentos sintéticos que auxiliam pessoas portadoras
da fenilcetonúria. É interessante perceber que o adoçante artificial aspartame é o
N-aspartilfenilalanina metil éster que, quando ingerido, é metabolizado, produzindo
fenilalanina como produto.
É preciso muita atenção com mulheres fenilcetonúricas, quando engravidam,
porque elevados níveis de fenilalanina no sangue materno podem prejudicar
enormemente o feto (pelas razões explicadas acima). Os níveis elevados no sangue
materno acabam acarretando aumento ainda maior de fenilalanina no sangue fetal
99
BIOQUÍMICA CLÍNICA
(por conta do gradiente positivo placentário). Como o sistema hepático fetal não tem
capacidade plena de metabolizar a fenilalanina, esta hiperfenilalaninemia fetal causa
danos irreparáveis ao embrião (PINTO, 2017).
A doença deve ser diagnosticada por teste laboratorial, uma vez que as
manifestações clínicas são bem amplas, mas inespecíficas (lembre que a detecção está
inclusa no teste do pezinho). Em geral, é feita cromatografia líquida/espectrometria e o
valor de referência para fenilalanina pode variar de um laboratório para outro, embora
siga uma proximidade com: Fenilcetonúria Clássica Superior a 20 mg/dL; Fenilcetonúria
Leve entre 10-20 mg/dL; Hiperfenilalaninemia transitória ou permanente entre 4-9,9
mg/dL. Indivíduos normais apresentam valores entre 2,2 e 3,0 mg/dL.
SAIBA MAIS
Aprendemos sempre sobre doenças, suas formas de se manifestar, exames,
sintomatologia e uma série dos mais variados conceitos, assim como está ocor-
rendo, ao longo das nossas quatro unidade de estudo. Uma destas doenças é a fenilcetonúria,
com todas as suas particularidades, e os cuidados que precisam ser tomados.
Mas você já se perguntou: “Como vive uma pessoa com fenilcetonúria?”. Proponho que faça
isso, assistindo ao vídeo, que também traz os conceitos técnicos pertinentes. Aproveite!
Acesse o link e confira: https://www.youtube.com/watch?v=D6NKk8wyH0c
3.7.2 Alcaptonúria
100
BIOQUÍMICA CLÍNICA
apresenta predominância étnica nem sexual. A enzima participa da metabolização tanto
da fenilalanina quanto da tirosina, e a ausência enzimática gerará o acúmulo de ácido
homogentísico (pigmento ocronótico) em vários tecidos e órgãos.
A urina do indivíduo se torna bem escura, em consequência do contato do ácido
com o oxigênio dissolvido na urina. Além disso, temos a deposição do ácido em tecidos
conjuntivos, como olhos, orelhas, pele, tendões, cartilagens intervertebrais, válvulas
cardíacas e ossos. De fato, os portadores da doença podem apresentar endurecimento e
coloração ocre do tecido cartilaginoso, bem como depósitos escuros em regiões oculares
e no palato (PINTO, 2017).
As manifestações iniciam precocemente, na infância, com formação de ocronose,
pigmento polimérico de cor azulada, ocasionado pelo contato do ácido com o ar, ou com
o oxigênio presente nos tecidos. Podem desenvolver artrite aguda e invalidez entre os 50
e os 70 anos de idade.
A evolução clínica da alcaptonúria é menos grave que a da fenilcetonúria, sendo
o tratamento focado em minimizar os sintomas artríticos, conseguido pela diminuição
(ou isenção) na ingestão de fenilalanina e tirosina, que se demonstra eficaz em crianças,
mas sem efetividade em adultos. Têm sido utilizadas altas doses de ácido ascórbico
(vitamina C) em alguns pacientes, para retardar o depósito de pigmentos no colágeno,
mas o progresso da doença não é afetado significativamente por esta estratégia.
O diagnóstico laboratorial é feito, colocando-se cloreto férrico em contato com a
urina. Caso a amostra se torne escura, coloração negra, será positivo para alcaptonúria.
101
BIOQUÍMICA CLÍNICA
uma porção do complexo citado e associado à membrana interna da mitocôndria.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
PARA REFLETIR
Muitas das doenças que estamos vendo nesta unidade requerem cuidados
especiais. Logo, seria perfeito refletirmos acerca do papel do Estado no auxílio
de famílias que possuem algum indivíduo portador de tais patologias. Analisar estas questões é
exercer a cidadania.
O Ciclo da ureia apresenta uma série de reações que resultam na liberação da ureia,
estando várias enzimas envolvidas neste processo, tais como: Carbamil-fosfato Sintetase
(CPS), Ornitina-transcarbamilase (OTC), Arginino-succinato Sintetase (AS), Arginino-
succinato Liase (AL), e Arginase. Pode-se constatar que quanto mais o defeito se localiza
no início do ciclo, maior será a gravidade da forma patológica.
103
BIOQUÍMICA CLÍNICA
c) Pós-renal: é consequência de obstruções do trato urinário, com a reabsorção da
ureia pela circulação.
104
BIOQUÍMICA CLÍNICA
importante de eliminação da amônia, na qual a ureia se desloca pelo sangue, do
fígado até os rins, onde sofre filtração glomerular.
b) Glutamina – esta amida do ácido glutâmico fornece uma forma de armazenamento
e transporte de amônia. A consequente formação de glutamina acontece no fígado e
músculo, mas tem grande importância também no sistema nervoso, onde se torna
o principal mecanismo de remoção de amônia do cérebro. A glutamina é captada
pelos rins e desaminada, de acordo com a descrição anterior.
Os sintomas clínicos comuns a todos os distúrbios do ciclo da ureia incluem:
a) Vômitos, na infância;
b) Repulsa aos alimentos ricos em proteínas;
c) Ataxia intermitente (falta de coordenação dos movimentos);
d) Irritabilidade;
e) Letargia (perda temporária e completa da sensibilidade e do movimento);
f) Retardo mental.
105
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Os aspectos clínicos e o tratamento de todos os distúrbios que afetam o Ciclo da
Ureia são similares. A melhora significativa é obtida em uma dieta hipoproteica, o que
evitará, em grande parte, a lesão cerebral, devendo a ingestão diária de alimento ser
subdividida em pequenas refeições, para evitar aumentos súbitos da amônia sanguínea.
As patologias que seguem podem ser localizadas e interpretadas, com o auxílio da
Figura 25.
106
BIOQUÍMICA CLÍNICA
transforma ornitina em citrulina), produz esta anomalia, ligada a uma deficiência
do cromossomo X.
c) Citrulinemia: neste distúrbio, extremamente raro, grandes quantidades (1-2 g/dia)
de citrulina são diariamente excretadas na urina, estando tanto o nível plasmático
quanto o fluido cérebro espinhal muito elevados.
d) Acidúria argininossuccínica: este distúrbio raro é caracterizado por níveis
elevados de ácido argininossuccínico no sangue, fluido cérebro-espinhal e urina.
Está frequentemente associado à ocorrência de cabelo friável e em tufos (tricorrexis
nodosa). São conhecidos um tipo precoce e outro tardio da doença. O defeito
metabólico é a ausência da argininosuccinase (que transforma arginonosuccinato
em arginina, com liberação de fumarato). O diagnóstico de confirmação é feito pela
medida, nas hemácias, dos níveis da enzima, cujo teste pode ser feito no sangue do
cordão umbilical ou células do líquido aminiótico.
e) Hiperargininemia: este defeito é caracterizado por níveis elevados no sangue
e fluido cérebro-espinhal de arginina, níveis reduzidos de arginase nas hemácias
(que transforma arginina em ornitina, com formação de ureia).
107
BIOQUÍMICA CLÍNICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
108
BIOQUÍMICA CLÍNICA
EXERCÍCIO FINAL
109
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Leia as afirmações abaixo:
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
I - Uma parte do tratamento da fenilcetonúria consiste em uma dieta restrita do
aminoácido fenilalanina, eficaz em reduzir os seus níveis sanguíneos, melhorando
o prognóstico neurológico, mas não se pode cortar este aminoácido da dieta, devido
à sua importância, por isso a recomendação é limitar sua ingestão exclusivamente
para a síntese proteica.
II - Na alcaptonúria, a enzima HAO participa da metabolização tanto da fenilalanina
quanto da tirosina, e a sua ausência vai gerar o acúmulo de ácido homogentísico
(pigmento ocronótico) em vários tecidos e órgãos.
III - A doença Urina em Xarope de Bordo afeta os aminoácidos hidrofóbicos e sua
metabolização.
IV - Todos os distúrbios da síntese da amônia causam intoxicação pela ureia.
V - A Hiperamonemia do Tipo I se caracteriza pela deficiência de ornitina-
transcarbamoilase (que transforma ornitina em citrulina), produzindo esta
anomalia, ligada a uma deficiência do cromossomo X.
VI - Os aspectos clínicos e o tratamento de todos os distúrbios que afetam o Ciclo
da Ureia são similares: melhora significativa é obtida em uma dieta hipoproteica.
111
BIOQUÍMICA CLÍNICA
REFERÊNCIAS
GAW, A.; COWAN, R.A.; O’REILLY, D.J.; STEWART, M.J.; SHEPHERD, J. Bioquímica Clínica.
5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2015.
HARVEY, Richard A., FERRIER, Denise R. Bioquímica Ilustrada. 5. ed. Porto Alegre:
Artmed, 2012.
MURPHY, M.; SRIVASTAVA, R.; DEANS, K. Bioquímica Clínica 6. Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.
RODWELL, V. et al. Bioquímica Ilustrada de Harper. 30. ed. Porto Alegre: AMGH, 2017.
112
BIOQUÍMICA CLÍNICA
4
UNIDADE
EQUILÍBRIO
ÁCIDO-BASE E SEUS
DESEQUILÍBRIOS
4.1. INTRODUÇÃO À UNIDADE
114
BIOQUÍMICA CLÍNICA
daqueles aminoácidos que contêm enxofre (metionina e cisteína), provindos da proteína
ingerida como alimento.
A quantidade total de íon hidrogênio produzido diariamente é de aproximadamente
60 mmoles. Se diluíssemos este valor em cerca de 14 litros, que é a quantidade de líquido
extracelular, a concentração de H+ atingiria 4 mmol/l, ou seja, cem mil vezes (100.000)
mais ácida que o corpo suportaria (ver valores citados). Como todos os íons hidrogênio
produzidos são excretados eficientemente na urina, esta concentração não vai acontecer
(GAW, 2015).
Em destaque, também há a produção de dióxido de carbono pelo metabolismo
aeróbico, sendo que, em solução, este gás forma um ácido fraco. Quantidades elevadas de
CO2 são produzidas diariamente pela atividade celular, cuja produção possui o potencial
de desequilibrar o balanço acidobásico, porém, sob circunstâncias fisiológicas, todo o CO2
é excretado via pulmões, após ser transportado pelo sangue. Deste modo, os problemas
surgirão, caso a função respiratória esteja prejudicada.
4.3 TAMPONAMENTO
115
BIOQUÍMICA CLÍNICA
4.3.1 Tampão
116
BIOQUÍMICA CLÍNICA
4.4 EXCREÇÃO RENAL DO ÍON HIDROGÊNIO E PAPEL DO BICARBONATO
A) Tampão fosfato
No lúmen tubular, temos a presença do HPO42- filtrado, o qual se combinará com
o H+ livre, formando H2PO41-. Em geral, no lúmen tubular, 80% está na forma capacitada
para tamponamento (HPO42-), o restante (20%) já está na forma diprótica (H2PO41-).
117
BIOQUÍMICA CLÍNICA
renal, através de um cotransporte sódio dependente, sendo depois excretados.
De acordo com o exposto por Pinto (2017), o sistema renal participa ativamente da
filtração de bicarbonato, sendo 85% reabsorvido no túbulo renal proximal, e uma parte
menor, em torno de 10%, na porção espessa da Alça de Henle. O bicarbonato (HCO3-),
filtrado e presente no lúmen tubular, encontra e se liga ao H+ que foi secretado e lançado
no mesmo compartimento, formando o ácido carbônico (H2CO3). Em seguida, o ácido
sofre ação da enzima anidrase carbônica, presente nas células renais, na borda em escova
das porções onde o bicarbonato é reabsorvido, túbulo renal proximal e Alça de Henle,
convertendo o H2CO3 em CO2 e água.
O dióxido de carbono formado no lúmen vai se difundir para dentro da célula, onde
também encontramos a anidrase carbônica. Pela ação desta enzima, o CO2 é reidratado
(CO2 + H2O), formando ácido carbônico que se dissocia em bicarbonato e H+. O HCO3-
deixa a célula, através da membrana basolateral, por meio de um cotransporte com o
sódio no túbulo proximal.
Caso seja na Alça de Henle, há uma troca por íons cloreto, uma forma em que o
bicarbonato é reabsorvido e volta para a circulação, mantendo o nível de bicarbonato
constante, processo conhecido como “Recuperação do Bicarbonato”. Ou seja, a secreção
de íons hidrogênio pelas células tubulares serve, inicialmente, para recuperar o
bicarbonato do filtrado glomerular, de tal forma que este não seja perdido pelo corpo
(Figura 26).
118
BIOQUÍMICA CLÍNICA
PARA REFLETIR
Conforme vimos, a participação dos rins é fundamental para manutenção do
equilíbrio ácido-base. Então, como você cuida dos seus rins? Usa muito sal? Muita
verdura, legume e alimentos saudáveis? E a água, como está este consumo? Pelo menos 2 litros
de água por dia? Tem feito isso, não é?!
PARÂMETROS VALORES
pH 7,35 a 7,45
pCO2 (pressão parcial de gás carbônico) 35 a 45 mmHg
HCO3 (bicarbonato)
-
21 a 28 mEq/L
B.E. (excesso de base) -3,0 a +3,0 mmol/L
pO2 (pressão parcial de oxigênio) 80 a 100 mmHg
%SO2 (saturação de oxigênio) 95 a 99%
AG (Ânion gap) 8 a 16 mEq/L
TABELA 13: VALORES DE REFERÊNCIA DA GASOMETRIA.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
119
BIOQUÍMICA CLÍNICA
juntamente com ele, indicará um distúrbio metabólico.
pO2 - A pO2 dentro do seu valor 80 – 100 mmHg determina uma boa eficácia das
trocas de oxigênio entre alvéolos e capilares pulmonares.
%SO2 - A saturação de oxigênio (SatO2) representa a quantidade de oxigênio que se
liga com a hemoglobina.
AG - Explicado mais adiante.
120
BIOQUÍMICA CLÍNICA
PREZADO ALUNO, AGORA FAÇA UM
RACIOCÍNIO MATEMÁTICO PARA
COMPREENDER AS RELAÇÕES!
Esta relação mostra que a concentração de íon hidrogênio na circulação vai variar,
de acordo com a concentração de bicarbonato e com a mudança da pCO2.
Assim sendo, uma vez que todos os demais elementos permanecem constantes,
concluímos que (raciocínio matemático!):
1) Remover bicarbonato, ou aumentar a pCO2 tem exatamente o mesmo efeito, isto
é, aumentar a concentração do íon hidrogênio [H+] ⇒ DIMINUIÇÃO DO pH CORPÓREO.
- Acompanhando: se o bicarbonato diminui por alguma perda, o tamponamento
do H+ será deficiente, por exemplo, fazendo com que esteja em concentração relativa
elevada; e se a [H+] aumenta, o pH corpóreo diminui.
- Caso a pCO2 aumente, significa aumento de ácido carbônico e, consequentemente,
aumento da [H+], com isso diminuindo o pH corpóreo.
121
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Já os chamados distúrbios acidobásicos RESPIRATÓRIOS provocarão mudanças
diretas na pCO2. Toda vez que acontecer algum evento que prejudique a função
respiratória, haverá um acúmulo de CO2 no sangue, enquanto que, como efeito contrário,
de forma menos comum, a hiperventilação acarretará a maior expulsão do CO2 e,
consequentemente, uma diminuição da pCO2.
Segundo Gaw (2015), toda vez que acontecer algo que perturbe o equilíbrio ácido-
base, nosso organismo vai lançar mão de mecanismos fisiológicos, para fazer com que o
pH corpóreo retorne aos valores de normalidade, ou seja, tentar retornar ao normal uma
[H+] desequilibrada. Estas relações envolvem uma atuação do sistema renal e do sistema
respiratório.
Assim sendo, quando temos o comprometimento das funções pulmonares, nosso
organismo tenta aumentar a excreção de íons hidrogênio, através do sistema renal. A esta
resposta se dá o nome de compensação renal para um distúrbio respiratório primário. É
preciso frisar que a compensação renal ocorre lentamente.
De maneira oposta, logo que acontecem os distúrbios metabólicos, é possível
se obter uma compensação, através do sistema pulmonar, nomeada de compensação
respiratória para um distúrbio metabólico primário, a qual ocorre rapidamente.
Quando a compensação estiver completa, a concentração do íon hidrogênio
retornará aos valores normais, embora se possa observar que a pCO2 e a concentração
de bicarbonato continuam explicitamente anormais. Nestas situações, define-se que o
distúrbio acidobásico está plenamente compensado. A compensação também pode ser
parcial, na qual os valores da concentração de íon hidrogênio não voltam aos valores
de normalidade, e a verdadeira [H+] plasmática, com um distúrbio acidobásico, terá
uma relação direta com a gravidade dos chamados distúrbios primários e, também, da
intensidade de compensação que foi feita.
Assim sendo, como descrito em Gaw (2015), temos que:
1) Distúrbios METABÓLICOS envolvem alterações na concentração de
BICARBONATO:
Se for acidose metabólica, o distúrbio primário é a diminuição da concentração de
122
BIOQUÍMICA CLÍNICA
bicarbonato.
Se for alcalose metabólica, o distúrbio primário é o aumento da concentração de
bicarbonato.
A) Intervalo Aniônico
123
BIOQUÍMICA CLÍNICA
B) Gasometria
124
BIOQUÍMICA CLÍNICA
4.6.3 Acidose Metabólica
Muitas são as situações que podem levar às causas observadas e citadas, por
exemplo:
1) Doença renal
Esta doença ocorre, quando a taxa de filtração glomerular atinge menos de 20%
dos valores fisiológicos e, progressivamente, os íons hidrogênio serão retidos, junto com
outros ânions, principalmente o sulfato e o fosfato.
2) Cetoacidose Diabética
3) Acidose Láctica
Esta situação pode ocorrer por várias causas, principalmente a anóxia (estado
125
BIOQUÍMICA CLÍNICA
severo de privação de oxigênio, é mais grave que uma hipóxia) dos tecidos.
Nos estados agudos, como se observa na insuficiência respiratória, ou na parada
cardíaca, a acidose láctica se desenvolve em minutos, representando um grave risco à
vida.
Adicionalmente, a acidose láctica também pode ser causada por uma doença
hepática, devido ao fato de ser o tecido hepático o responsável pela captação e
metabolização deste composto, usando o metabólito na gliconeogênese e devolvendo
para a circulação glicose (rever conceito na disciplina de Bioquímica Básica).
Pacientes hospitalizados também podem apresentar aumento de lactato na
circulação; se necessário for, a presença de acidose láctica pode ser confirmada pela
dosagem da concentração de lactato no plasma.
O mecanismo comum para todos esses casos é uma alta produção de metabólitos
ácidos. Como exemplo clássico, pode ser citada a dose excessiva da classe medicamentosa
dos salicilato. Depois de absorvido, o ácido acetilsalicílico será hidrolisado em ácido
salicílico (salicilato) e distribuído para os tecidos corpóreos; o composto, em níveis
terapêuticos, apresenta 90% dos saliciltatos ligados às proteínas séricas. Conforme as
concentrações de salicilato aumentam, e se tornam saturadas, os locais de ligação às
proteínas, as concentrações livres (não ligadas às proteínas) de salicilato, aumentam. O
salicilato sofre metabolismo hepático, em uma reação de glicinação que transforma a
medicação em ácido salicilúrico.
Além disso, a alta dose pode levar à inibição da gliconeogênese hepática, o que
impede a utilização do lactato que é gerado, ocasionando o problema citado anteriormente.
Acontece, também, o envenenamento com metanol e com etilenoglicol, os quais
são dois compostos de grande utilização na indústria química, encontrados em altas
concentrações em soluções automotivas de refrigeração, nos solventes, produtos de
limpeza, combustíveis e outros produtos industriais. Caso sejam metabolizados pelo
nosso organismo, causam grande toxicidade.
O Metanol, ao ser metabolizado, acaba se transformando em formaldeído, já
o etilenoglicol, em glicolato, glioxilato e oxalato. Todos estes compostos, quando se
apresentam em níveis plasmáticos elevados, podem causar danos aos tecidos-alvo.
Com isso, desenvolve-se uma grave acidose metabólica, o que aumenta ainda mais a
penetração dos metabólitos tóxicos nas células do sistema nervoso central, causando
elevação concomitante dos seus subprodutos. A ingestão oral ocasiona o envenenamento
126
BIOQUÍMICA CLÍNICA
mais grave. A produção dos compostos tóxicos terá início pela ação da enzima álcool
desidrogenase (ADH), sendo uma das abordagens terapêuticas usar inibidores desta
enzima-chave.
A acidemia mais grave, com um valor de pH menor que 7,1 pode levar a náuseas,
vômitos e mal-estar. O sinal mais característico é a hiperpnéia, padrão respiratório
profundo, rápido e entrecortado, conhecido como respiração de Kussmaul.
A [H+] aumentada ocasiona uma elevação da irritabilidade neuromuscular, e existe
o perigo de arritmias progredirem para uma parada cardíaca, o que se torna mais provável
acompanhado de hipercalemia (aumento de potássio), em geral, uma consequência
que acompanha a acidose. Quando o quadro é de acidemia aguda e grave, favorece
a predisposição para esta disfunção cardíaca, com hipotensão e choque, arritmias
ventriculares e coma. Esta diminuição da consciência pode progredir para óbito, se não
for revertida.
Outro problema grave é que uma acidemia crônica pode causar as doenças
relacionadas à desmineralização óssea, como raquitismo, osteomalácia, osteopenia.
Como já discutido, quando possível, ocorrerá uma resposta compensatória, na
tentativa de trazer o valor de pH para os níveis de referência. Neste caso em particular,
a resposta compensadora para a acidose metabólica é a hiperventilação, uma vez que o
aumento na [H+] age como um potente estimulante do centro respiratório, e ela aumenta
a eliminação do CO2 (relembrar a equação demonstrada).
127
BIOQUÍMICA CLÍNICA
A maioria dos laboratórios pode quantificar as concentrações de salicilatos, mas no
caso do metanol e do etilenoglicol, geralmente não. Sua presença acaba sendo sugerida,
através de uma diferença osmolar (que é calculada). Após este cálculo, osmolaridade
plasmática calculada, subtraída da osmolaridade medida, resultando a diferença maior
que 10, significa a presença de compostos osmoticamente ativos que, na acidose, são
metanol ou etilenoglicol.
A avaliação de glicose se apresenta pela possibilidade de ligação do desequilíbrio
acidobásico, com casos de diabetes Tipo 1, e o lactato tem relação com a anoxia. A
dosagem de creatinina é um parâmetro fundamental de avaliação da função renal.
Na continuidade de análise, os eletrólitos urinários são quantificados, e o intervalo
aniônico será calculado, utilizando-se a fórmula [sódio] + [potássio] - [cloreto]. Na urina,
o intervalo aniônico varia de 30-50 mEq/L, cujo aumento pode indicar a perda renal de
[HCO3-] (MANUAL MSD, 2020).
Outro parâmetro importante de análise, para avaliação da resposta compensatória,
é o cálculo da pCO2, através da “Fórmula de Winter” (ver explicação anterior). Se a pCO2
estiver dentro dos valores de referência, significa que a compensação está ocorrendo, e o
indivíduo apresenta uma acidose metabólica compensada.
Em contrapartida, se o valor estiver abaixo do valor mínimo esperado, indica que
está acontecendo uma hiperventilação, que é maior do que deveria ser, apontando para
um problema misto, com uma alcalose respiratória associada (ver distúrbios mistos mais
adiante). Por fim, se o valor observado estiver acima da faixa do esperado, o paciente não
está hiperventilando como deveria e, assim, temos um distúrbio misto com uma acidose
respiratória.
Quando se tem um quadro de insuficiência renal, é necessária a hemodiálise, a qual
também se faz necessária, em alguns casos, como intoxicação por etilenoglicol, metanol
e no envenenamento por salicilato.
Utilizar bicarbonato de sódio (NaHCO3) para tratamento da acidemia só está
claramente indicado em algumas situações, podendo mesmo ser deletério em outras.
Caso a acidose metabólica resulte de uma perda do bicarbonato, ou no caso do acúmulo de
ácidos inorgânicos (ou seja, acidose com intervalo aniônico normal), o tratamento com o
bicarbonato, em geral, é seguro e indicado. Entretanto, resultando a acidose do acúmulo
de ácidos orgânicos (o que leva a uma acidose com intervalo aniônico aumentado), o
tratamento com bicarbonato é muito questionado, por não diminuir claramente a
mortalidade, e por existirem vários riscos possíveis (MANUAL MSD, 2020).
Com o tratamento das condições subjacentes, o lactato e os cetoácidos serão
metabolizados, voltando a HCO3-, podendo a carga exógena de bicarbonato ocasionar
uma situação de alcalose metabólica “rebote”.
128
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Se utilizado, o bicarbonato de cálcio também pode causar, no caso de qualquer
doença, sobrecarga de sódio e de volume, uma hipocalemia e, inibindo o estímulo
respiratório, levar a uma hipercapnia (aumento excessivo de CO2).
Apesar de todas as ponderações e questionamentos no meio médico, a maioria
dos especialistas ainda recomenda a administração de bicarbonato venoso na acidose
metabólica grave (pH < 7,10).
A alcalose metabólica pode acontecer por várias razões, tendo como principais
causas:
2) Deficiência de potássio
129
BIOQUÍMICA CLÍNICA
ao máximo os níveis de potássio no organismo, o que acaba gerando a ocorrência do
chamado “ácido urinário paradoxal”, porque nas outras causas de alcalose metabólica a
[H+] cairá.
As causas que levam à alcalose metabólica, via de regra, podem ser identificadas e
caracterizadas pela história e pelo exame físico. Desta forma, geralmente é evidenciado
por um histórico de vômitos ou pela prescrição de terapia diurética, conforme já citamos.
Em algumas situações, a alcalose metabólica não tem nenhuma causa evidente e,
neste contexto, o diagnóstico mais provável é chamado vômito sub-reptício, que pode ser
provocado por distúrbio alimentar, ou uma das causas de excesso de mineralocorticoides,
como no aldosteronismo primário. O primeiro fator induz uma depleção de volume
efetiva, já o hiperaldosteronismo primário, em geral, está associado a uma discreta
expansão de volume, resultante do efeito estimulador da aldosterona sobre a reabsorção
renal de sódio (MANUAL MSD, 2020).
A alcalose metabólica é sugerida, quando se quantifica o bicarbonato maior que
28 mEq/L. A pCO2 vai fazer a compensação, elevando em torno de 0,6 a 0,75 mmHg para
cada aumento de 1 mEq/L, no bicarbonato (até cerca de 55 mmHg). Aumentos maiores
implicam acidose respiratória concomitante; e aumentos menores, alcalose respiratória
(MANUAL MSD, 2020).
Caso a história do indivíduo com a respectiva anamnese não revelar a causa, e a
130
BIOQUÍMICA CLÍNICA
função renal estiver normal, deve-se partir para aferição das concentrações urinárias de
cloro (Cl-) e potássio (K+).
Requerem atenção especial os tratamentos para correção da hipovolemia e
hipocalemia. Os pacientes com alcalose metabólica, que apresentam resposta ao cloro,
receberão soro fisiológico a 0,9% intravenoso, com uma velocidade de infusão típica
de 50 a 100 mL/h, acima de quaisquer causas de perda de líquido, urinárias, bem como
sensíveis ou insensíveis, até que se obtenha um valor de cloro urinário > 25 mEq/L, e o pH
urinário se normalize, após o aumento inicial do bicarbonato urinário (bicarbonatúria).
Já os pacientes com alcalose metabólica grave, com pH > 7,6, necessitarão de correção
mais urgente do pH plasmático. Então, nesta situação, a hemofiltração e hemodiálise
são opções viáveis, em particular se houver sobrecarga de volume e disfunção renal. A
acetazolamida, na dose de 250 a 375 mg via oral ou intravenosa, uma vez/dia ou de 12/12
h, aumenta a excreção do bicarbonato, porém pode também acelerar as perdas urinárias
de K+ e fosfato (PO4−).
Os pacientes com sobrecarga de volume e alcalose metabólica induzida por
diuréticos, além daqueles com alcalose metabólica pós-hipercapnia (excesso de CO2
no plasma) podem se beneficiar especialmente dessa conduta. Em contrapartida, os
pacientes que também apresentam alcalose metabólica grave e insuficiência renal
não podem, ou não devem, ser submetidos à dialise, sendo a administração de ácido
hidroclorídrico, em solução a 0,1 a 0,2 normal intravenoso, segura e eficaz, com dose de
0,1 a 0,2 mmol/kg/h. Monitoramento frequente da gasometria e eletrólitos é necessário
(MANUAL MSD, 2020).
A acidose respiratória pode ser aguda ou crônica. Como toda condição aguda,
que ocorre dentro de minutos ou horas, não é compensada. A compensação renal não
possui tempo adequado para promover esta compensação, já que os mecanismos, os
quais ajustarão a reabsorção de bicarbonato, levam de 48 a 72 horas para se tornarem
plenamente eficazes (Gaw, 2015).
O problema primário na acidose respiratória aguda é uma hipoventilação alveolar.
Se o fluxo de ar estiver reduzido, completa ou parcialmente, a pCO2 do sangue aumentará
131
BIOQUÍMICA CLÍNICA
de imediato, e a [H+] aumentará rapidamente. O quadro de uma pO2 baixa e a pCO2 alta
pode levar o indivíduo ao coma. Desta forma, não ocorrendo rápida correção, o resultado
será o óbito do indivíduo.
Como exemplos de um evento agudo, o qual leva à acidose, temos a diminuição
da função da musculatura respiratória, ocasionando o enfraquecimento muscular ou
paralisia, observados: na miastenia grave, em uma paralisia periódica, na síndrome de
Guillain-Barré, no botulismo, na hipocalemia severa e em uma hipofosfatemia severa.
Também nos distúrbios que afetam as trocas gasosas pulmonares, como na Síndrome
do sofrimento respiratório agudo, no edema pulmonar agudo, na asma ou pneumonia
severa e no pneumotórax ou hemotórax.
Já nos processos crônicos, como descrito em Gaw (2015), a acidose respiratória
tem relação com uma condição, há muito tempo já instalada no indivíduo, estando
acompanhada de compensação renal máxima. Da mesma forma, em uma acidose
respiratória crônica, o problema primário é geralmente uma ventilação alveolar
prejudicada, mas a compensação renal contribui notavelmente para o cenário ácido-
base. Nestas situações, a compensação pode ser parcial ou completa.
Exemplos de distúrbios respiratórios crônicos:
- Diminuição da função da musculatura respiratória, levando ao enfraquecimento
muscular, como na poliomielite, esclerose lateral amiotrófica e mixedema.
- Nos distúrbios que afetam as trocas gasosas pulmonares, como nas doenças
pulmonares obstrutivas, por exemplo, o enfisema pulmonar.
Outros exemplos que levam a uma acidose respiratória:
- Supressão do centro respiratório medular, que ocorre nas medicações sedativas,
administração de oxigênio na doença pulmonar crônica, apneia do sono (também
causada pela obesidade extrema) e na parada cardiopulmonar.
- Obstrução das vias aéreas superiores, observada na aspiração de corpo estranho
ou vômito, obstrução na apneia do sono e laringoespasmo.
132
BIOQUÍMICA CLÍNICA
estupor (narcose por CO2). Caso ela seja severa, poderá produzir uma grande variedade
de anormalidades neurológicas.
Naquela acidose respiratória, com quadro de desenvolvimento lento e estável
(como na Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica, DPOC), apesar de mostrar que pode ser
bem tolerada, os pacientes apresentam quadro de perda de memória, distúrbios do sono,
sonolência excessiva durante o dia e, até mesmo, alterações de personalidade. Os sinais
incluem distúrbios da marcha, tremores, diminuição dos reflexos tendinosos profundos,
abalos mioclônicos, asteríxis (lapsos irregulares de postura em várias partes do corpo) e
papiledema.
133
BIOQUÍMICA CLÍNICA
por intubação endotraqueal ou ventilação com pressão positiva não invasiva. O foco
na ventilação adequada é o mais importante para corrigir a acidose respiratória, ainda
que a hipercapnia crônica (aumento excessivo de CO2), em geral, necessite ser corrigida
lentamente, pois existe risco (se a redução for demasiadamente rápida) de a pCO2 causar
uma alcalose por hipercapnia de “rebote. Da mesma forma, a consequente elevação
abrupta do pH no sistema nervoso central (SNC) pode causar convulsão e morte.
Quaisquer déficits de potássio e cloreto deverão ser corrigidos (MANUAL MSD, 2020).
Nessas situações, a administração de bicarbonato é quase sempre contraindicado,
já que pode causar um potencial de acidose paradoxal no SNC. Uma exceção ocorre nos
casos de broncoespasmo grave, nos quais o bicabornato pode melhorar a resposta da
musculatura lisa dos brônquios aos agonistas beta.
134
BIOQUÍMICA CLÍNICA
* Encefalopatia hepática;
* Sepse ou febre;
* Subsequente à correção rápida da acidose metabólica;
* Distúrbios neurológicos (acidente vascular cerebral, tumores da ponte).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
4.6.7 Distúrbios Mistos
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
FIGURA 31: RESUMINDO.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020), a partir de GAW (2015).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
NA PRÁTICA - ESTUDO DE CASO
Uma mulher, R.S.N, 30 anos, deu entrada no hospital da capital com crise
asmática. O pico da taxa de fluxo expiratório foi medido em 75%. Foi encaminhada
para a gasometria e, após a liberação do laudo, a equipe passou a analisar o exame, que apre-
sentava pO2 de 9,3 kPa (72 mmHg) e pCO2 de 4,0 kPa (31 mmHg), com pH de 7,51 (concentração
de íon hidrogênio de 44 mmol/L). A paciente foi nebulizada com salbutamol, um estimulante
β-adrenérgico que é um medicamento broncodilatador, apresentando boa recuperação. Comen-
te sobre o resultado da gasometria e diga qual o problema da paciente. Analise o procedimento
que foi feito e alguns afeitos do problema que você identificou.
SUGESTÃO DE LEITURA
PINTO, W.J. Bioquímica Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2017, 624 p. ISBN 9788527730921
O Capítulo 33 trata dos principais exames básicos de Bioquímica
Clínica. Seria ótico reforçar o entendimento dos exames lipídicos, o
lipidograma.
138
BIOQUÍMICA CLÍNICA
4.7.1 Hemograma (Tabela 14)
Este é um dos exames mais solicitados na prática clínica, devido ao alto poder
informativo que um hemograma tem como valor agregado, envolvendo parâmetros
qualitativos e quantitativos, que são obtidos dos tipos celulares presentes no sangue,
ao fornecer informações bioquímicas e morfológicas, a fim de haver maior precisão do
diagnóstico e prognóstico de uma variedade de condições clínicas (PINTO, 2017).
O termo hemograma engloba:
a) Contagem de eritrócitos;
b) Dosagem de hemoglobina;
c) Determinação do hematócrito;
d) Cálculo dos índices hematimétricos;
e) Contagem global de leucócitos e o seu diferencial;
f) Contagem de plaquetas.
No entanto, para cerca de 90% dos clínicos, na rotina laboratorial, apenas quatro
parâmetros são verdadeiramente úteis em um hemograma: (I) dosagem de hemoglobina;
(II) hematócrito; (III) contagem de plaquetas e (IV) contagem de leucócitos.
A) Eritrograma
B) Hematócrito
139
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Níveis baixos de hematócrito e hemoglobina, normalmente indicam a diminuição
da eritropoiese ou aumento do seu catabolismo.
O hematócrito pode se encontrar aumentado em patologias que causam elevação
dos eritrócitos, como na policitemia vera, sendo acompanhada por aumento da
hemoglobina. Esta situação pode ser decorrente de aumento de aritropoetina no plasma,
ou de processos tumorais medulares, conforme se observa nas leucemias. Como a
policitemia vera é rara, o aumento do hematócrito, que se verifica na rotina laboratorial,
deve-se à policitemia secundária (aumento das hemácias circulantes). As causas mais
comuns de policitemia secundária são:
1) Hipóxia, tabagismo, doença pulmonar obstrutiva crônica e altas atitudes -
condições que se caracterizam pelo déficit de oxigênio nos tecidos, levando à
hipóxia, com consequente estímulo para a produção de eritropenia (deficiência no
número de eritrócitos).
2) Desidratação, diarreias e queimaduras - todas causam perda de água do
organismo, o que leva à hemoconcentração, que acaba refletindo como falso
aumento do hematócrito, já que não houve um aumento de eritrócitos, mas sim
diminuição da volemia.
3) Anemias - as anemias (falciformes, ferropriva, talassêmica etc.) causam a maior
taxa de hemólise, paralelamente à maior atividade de hemocaterese (sequestro
eritrocitário pela baço), e, consequentemente, redução no hematócrito.
4) Distúrbios de medula óssea - a disfunção da medula óssea resulta na formação
de eritrócitos com formas anormais.
5) Hipofunção tireoidiana - os hormônios tireoidianos modulam as taxas
metabólicas e a hipofunção glandular conduz a queda na taxa metabólica, que se
reflete na redução da atividade de renovação eritrocitária, levando ao aumento do
hematócrito.
140
BIOQUÍMICA CLÍNICA
D) Hemoglobina Corpuscular Médio (HCM)
141
BIOQUÍMICA CLÍNICA
4.7.2 Enzimologia Clínica
142
BIOQUÍMICA CLÍNICA
- Métodos que analisam o consumo de substrato.
- Métodos que analisam o produto formado.
* Métodos em que o produto formado precisa ser transformado em composto
corado.
- Métodos que analisam a variação de absorção de coenzima que participa da reação
enzimática.
- Métodos otimizados.
Deve-se considerar, ainda, o equipamento utilizado e a técnica de revelação
dos resultados. Desta forma, sempre que houver variação considerável nos valores, os
mesmos não serão mencionados; caso sejam, podem apresentar variações de laboratório
para laboratório.
SAIBA MAIS
A importância da dosagem de enzimas, para aferir patologias em curso, ou
eventos agudos que se manifestam é inquestionável. Veja o exemplo em alguns
vídeos que abrem o conhecimento do uso combinado de enzimas com exames adicionais. Vale
toda a sua atenção!
Acesse o link e confira: https://www.youtube.com/watch?v=xSylDYKYDww
143
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Em condições fisiológicas, a enzima também pode ser observada aumentada,
como no terceiro trimestre de gestação (pela produção placentária), na adolescência
(aumento do metabolismo ósseo) e na menopausa. Os recém-nascidos também tendem
a apresentar valores mais altos de ALP, em razão do crescimento ósseo.
Nas hepatopatias, principalmente as que envolvem obstrução do trato biliar (litíase),
carcinoma da cabeça do pâncreas, atrapalhando o fluxo biliar, refletirão no aumento dos
níveis plasmáticos de ALP. As morbidades envolvendo o tecido ósseo também podem ser
rastreadas por meio do exame de fosfatase alcalina plasmática.
Dependendo da patologia, os níveis podem aumentar de 10 até 25 vezes além
do normal, como na doença de Paget; já níveis moderadamente elevados podem ser
encontrados na osteomalacia, bem como nos tumores ósseos e nos hiperparatireoidismos
primários e secundários. As fraturas levam a um aumento transitório e, na osteoporose,
os valores são normais.
Nas neoplasias, os níveis são úteis para avaliar a presença de metástases,
envolvendo o fígado e ossos, valores muito elevados são vistos em pacientes com lesões
osteoblásticas, como as encontradas no carcinoma de próstata com metástase óssea.
Já níveis reduzidos podem ser observados no hipotireoidismo, na anemia
perniciosa, na desnutrição, na doença celíaca e na hipofosfatemia.
B) Fosfatase Ácida (FAC) e Antígeno Prostático Específico (PSA) (Tabela 16 e Tabela 17)
144
BIOQUÍMICA CLÍNICA
Outro valor analisado nas funções prostáticas é do antígeno prostático específico
(PSA). Esta dosagem tem grande importância por ser um marcador específico ligado às
funções prostáticas, já que é produzido apenas nas células epiteliais da glândula.
Quando está em curso um processo tumoral, os valores de PSA podem aumentar em
10 vezes ou mais, comparando-se ao tecido normal. A dosagem de PSA no plasma e o toque
retal constituem um método bastante sensível e com alta especificidade para a detecção
de tumores de próstata. Vale destacar que, caso haja uma hiperplasia benigna prostática,
o processo conduz ao aumento do PSA. Então, os valores observados nos exames de PSA
devem vir acompanhados de exames complementares, para a determinação da alteração
de próstata (PINTO, 2017).
145
BIOQUÍMICA CLÍNICA
atividade física.
A determinação da atividade enzimática é de extrema utilidade na avaliação de
processos agudos e crônicos de hepatopatias, com atividade elevada nos quadros de
colestase, tanto intra quanto extra-hepáticas. Também se apresenta com valores elevados
nas hepatopatias alcoólicas (tanto aguda quanto crônica), nas neoplasias primárias ou
metastáticas, na cirrose e na pancreatite.
É preciso atenção, visto que, mesmo sendo um marcador sensível para doença
hepática biliar, apresenta baixa especificidade, podendo estar aumentada em outras
patologias, como diabetes melito e na insuficiência renal.
A gama-GT pode estar aumentada, de 5 a 10 dias após o infarto agudo do miocárdio,
como reflexo dos efeitos da insuficiência cardíaca no tecido hepático. Já que a gama-GT
não está aumentada, quando a ALT se encontra elevada, emprega-se para um diagnóstico
diferencial de doenças hepáticas e não hepáticas.
Existem três principais formas da enzima, estando a de alto peso molecular
presente na obstrução biliar e nos casos de neoplasia hepática. A segunda forma, de peso
molecular intermediário, apresenta-se em hepatopatias e, também, na obstrução das
vias biliares (mas esta diferenciação pelo peso molecular ainda não está definida como
rotina laboratorial).
146
BIOQUÍMICA CLÍNICA
obstrutiva, hepatotoxicidade etc. Na hepatite de origem viral, os valores séricos de ALT
e de AST são bem semelhantes, já nos casos de cirrose em indivíduo alcoolista, tumor
metastático hepático, os níveis de ALT são menores que os apresentados para AST.
Algumas vezes, utiliza-se o índice DeRitis (relação AST/ALT), para auxiliar no diagnóstico
diferencial de hepatopatias (PINTO, 2017).
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
GÊNERO VALOR DE REFERÊNCIA (U/L)
Homens Até 37
Mulheres Até 31
TABELA 20: VALOR DE REFERÊNCIA – AST.
Fonte: Elaborado pelo autor (2020).
CK-BB (CK1)
Presente, principalmente nos pulmões e no cérebro, apresentando seus níveis
elevados apenas em situações particulares, como na pós-embolia pulmonar e em alguns
pacientes com carcinoma pulmonar.
CK-MB (CK2)
Forma que apresenta as duas cadeias, M e B, com predominância na musculatura
cardíaca. As lesões do miocárdio, observadas na isquemia cardíaca e na miocardite,
apresentam uma alta nos níveis de CK-MB, tornando esta dosagem bem específica para
as condições citadas. Inclusive, seus níveis podem estar aumentados no plasma em 60 a
100% dos indivíduos que sofrem infarto. O aumento vai acontecer entre 3 a 6 horas após
o evento, com seu pico máximo, no intervalo de 12 a 24 horas, retornando aos valores de
referência dentro de 24 a 48 horas. Não se associa a extensão do infarto com o grau de
elevação plasmática da enzima.
CK-MM (CK3)
Encontra-se em alta concentração na musculatura esquelética e também no
coração.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Quando se apresentam aumentadas, levam à indicação de lesão muscular
esquelética, uma vez que a massa deste tipo muscular é muito maior que a da musculatura
cardíaca. Também é um indicativo de lesão dos miofilamentos, sarcolema e toda a
estrutura celular muscular.
Outras condições que podem levar ao seu aumento, além da lesão, são: a hipóxia,
durante exercício físico intenso; as convulsões; os traumatismos musculares; as
inflamações, nas distrofias musculares, como na de Duchene.
A separação pode ser feita por eletroforese ou pelo teste de desnaturação por calor
e, dependendo do teste, obtêm-se as frações das isoformas. Vários cuidados precisam ser
observados após a separação.
A utilização das isoformas pode auxiliar na detecção de infarto agudo do miocárdio,
uma vez que nesta condição acontece a elevação de LDH1 e aumento discreto de LDH2,
nas primeiras horas após o evento patológico, atingindo seu ápice, no intervalo de 42 a 72
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
horas, e retornando ao valor de referência em torno de 10 a 14 dias.
Outro panorama é um aumento discreto na fração LDH4 e pronunciado na fração
LDH5 nas doenças hepáticas, tais como a cirrose, hepatites agudas e icterícias.
Quando se estabelece uma patologia relacionada ao sistema nervoso, como
meningites e tumores malignos, o perfil é de aumento das isoformas LDH2 e LDH3.
Já na anemia megaloblástica, acontece um aumento exclusivo das isoformas LDH1,
diferentemente da anemia aplástica onde todas as isoformas se apresentam aumentadas
no plasma, por se localizarem nos eritrócitos e nos leucócitos.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
VALOR DE REFERÊNCIA (ng/ml)
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Na etiologia da uremia pré-renal, a hiperuremia será detectada, através do aumento
plasmático da ureia, sem a elevação da creatinina no sangue. Na doença renal aguda ou
crônica, acontece o aumento da ureia plasmática, como consequência da menor excreção
glomerular devido à insuficiência renal.
Na etiologia da hiperuremia pós-renal, acontece a obstrução do trato urinário,
com a reabsorção da ureia pela circulação. Outra situação que pode levar à hiperuremia é
quando o paciente apresenta hepatopatia grave, uma vez que o fígado se torna incapaz de
sintetizar ureia a partir da amônia, resultando no quadro de aumento da ureia plasmática,
que, caso persista, poderá desencadear a encefalopatia grave.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
congestiva, depleção de sais e água associada ao vômito, diarreia, diabetes não controlado
etc.
b) Nas causas renais, observam-se lesões glomerulares, nos túbulos, nos vasos
sanguíneos ou no tecido intersticial renal.
c) Nas causas pós-renais, são frequentes na hipertrofia prostática, nas compressões
extrínsecas dos ureteres, nos cálculos renais etc.
Outra importante função do monitoramento de creatinina sérica é relacionada ao
transplante renal, já que um aumento da mesma, ainda que pequeno, pode ser indicativo
de rejeição do órgão.
Para sua dosagem, evita-se a prática de exercício físico, em um período de 8 horas
antes da dosagem, e também a ingestão de carne vermelha em excesso, 24 horas antes.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
EXERCÍCIO FINAL
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
Leia as afirmativas abaixo:
I - A reação catalisada pela anidrase carbônica consiste na hidratação do CO2,
originando o ácido carbônico.
II – Enquanto os tampões simples rapidamente se tornam ineficazes, à medida que
a associação do íon hidrogênio e o ânion do ácido fraco atingem o equilíbrio, o
sistema bicarbonato continua funcionando, porque o ácido carbônico é removido
sob a forma de ácido carbônico.
III - O sistema renal participa ativamente da filtração de bicarbonato, sendo 85%
reabsorvido no túbulo renal proximal e, uma parte menor, em torno de 10%, no
túbulo renal distal.
IV - Na acidose metabólica, o distúrbio primário é o aumento da concentração
bicarbonato.
V - A gasometria é a medida de gases sanguíneos para uma investigação fundamental,
realizada sempre que ocorrer a suspeita de alguma insuficiência respiratória e/ou
de distúrbios acidobásicos, que acabam se tornando uma diretriz importante para
o tratamento destes distúrbios.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
V - A creatinina é um indicador da função renal.
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BIOQUÍMICA CLÍNICA
REFERÊNCIAS
MURPHY, M.; SRIVASTAVA, R.; DEANS, K. Bioquímica Clínica 6. Ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2019.
PINTO, W.J. Bioquímica Clínica. 1. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
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uniavan.edu.br
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XXXX
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