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Vitória Rossi 2021 1

ELIMINAÇÃO DE FÁRMACOS

Eliminação: envolve tanto o metabolismo quando a


eliminação de fármacos.

→ Para um fármaco ser eliminado do organismo ele


não precisa necessariamente ser excretado.
Quando ocorre o metabolismo as moléculas do
fármaco são transformadas em outros metabólitos,
Esse processo de metabolização ocorre
a partir de disso, o fármaco deixa de existir e é
através enzimas convertem as moléculas do fármaco
considerado como eliminado do corpo.
em outros metabólitos ativos ou inativos. Metabólitos
METABOLISMO OU BIOTRANSFORMAÇÃO ativos produzem efeitos farmacológicos que podem ser
de maior, menor ou igual intensidade que o fármaco
Processo no qual o fármaco é submetido a reações original, e metabólitos inativos não produzem efeitos
químicas mediadas por enzimas que o convertem em farmacológicos no organismo.
composto diferente do originalmente administrado.
FINALIDADE DO METABOLISMO DE
FÁRMACOS
O metabolismo de fármacos modifica a
estrutura química de suas moléculas, transformando-as
em metabólitos mais solúveis em água para facilitar sua
eliminação do organismo. - esses metabólitos gerados
frequentemente, mas nem sempre, são inativos.

- Se um fármaco é lipossolúvel, ele sofre metabolismo


→ Fármaco é administrado, sofre absorção, penetra para ser transformado em hidrossolúvel. Caso esse
na corrente sanguínea, distribui-se pelo organismo metabólito produzido não seja muito hidrossolúvel, ele
sofre mais uma reação de metabolização gerando
através de artérias, e chega até o fígado onde
ocorre o metabolismo desse fármaco. então um metabólito hidrossolúvel o suficiente para ser
excretado do organismo.

MOLÉCULAS DO FÁRMACO → Os órgãos de excreção fígado (produz bile), rins


(produz urina), glândulas exócrinas (salivares,
lacrimas, sudoríparas) produzem secreções
aquosas, portando para o as moléculas do fármaco
Enzimas serem excretadas do organismo elas precisam ser
hepáticas hidrossolúveis

As enzimas metabolizadoras podem facilitar a


eliminação de substâncias químicas do organismo, mas
podem converter alguns compostos químicos em
METABÓLITOS metabólitos tóxicos e carcinogênicos
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- Exemplo: Paracetamol (analgésico antitérmico) LOCAIS DE METABOLIZAMO DE FÁRMACOS

Quando se faz uso de paracetamol em doses Órgãos ou tecidos que contêm enzimas
terapêuticas, suas moléculas são metabolizadas por metabolizadoras de fármacos:
enzimas hepáticas. Uma dessas enzimas (CYP2E1)
transforma as moléculas em metabólitos tóxicos (N-
acetil-p-benzoquinona imina NAPQI), que são
neutralizados nos hepatócitos pela glutationa.

→ FÍGADO
→ Rins
→ Cérebro
→ Pele
→ Sangue
→ Placenta
→ Pulmões
→ Intestino

O fígado é o principal órgão metabolizador de


fármacos, contém enzimas microssomias localizadas no
reticulo endoplasmático liso e citoplasma dos
hepatócitos

TIPOS DE REAÇÕES DE METABOLIZAÇÃO

REAÇÕES DE FUNCIONALIZAÇÃO DA FASE I

→ Geram metabólitos ativos ou inativos


Reações não-sintéticas ou catabólicas que mudam
a estrutura molecular do fármaco, gerando metabólitos
ativos ou inativos. Envolvem os processos de: oxidação,
redução, hidrólise, hidroxilação, desaminação, ciclização,
→ Em casos de uso de paracetamol em excesso desciclização, etc.
(overdose): as moléculas são transformadas em
metabólitos tóxicos, porém não há glutationa em Alguns medicamentos contêm moléculas que só
tornam-se fármacos ativos após serem metabolizadas
quantidades suficientes para ocorrer a
no fígado = Pró-fármacos
neutralização, causando lesões hepáticas. Nesses
Ex: Enalapril PRESSOTEC ® → enalaprilato diácido
casos se faz uso do antídoto N-acetilcisteína (NAC)
que neutraliza NAPQI e impede o agravamento da - Moléculas do medicamento com pró-fármaco são
lesão hepática. metabolizadas no fígado gerando o metabólito ativo
(fármaco)
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REAÇÕES DE OXIDAÇÃO

São catalisadas por diversos tipos de enzimas,


algumas se localizam no reticulo endoplasmático liso das
células (monoxigenases que contém flavina, enzimas do
citocromo P-450) e outras que localizam-se no
citoplasma da célula (desidrogenases) que catalisam
reações de oxidação.
→ Enzimas envolvidas:
- Citocromo P-450 (P450 ou CYP)
REAÇÕES DE BIOSSÍNTESE DA FASE II - Monoxigenases que contém flavina (FMO)
- Desidrogenases
→ Podem originar metabólitos ativos ou inativos
Reações sintéticas, anabólicas ou fase de CITOCROMO P-450(P450 OU CYP)
conjugação onde uma molécula endógena de
característica hidrossolúvel é conjulgada à molécula do São enzimas expressas no fígado e o restante
fármaco, formando um metabólito maior (grande peso do trato gastrointestinal (intestino) e em quantidades
molecular). menores nos pulmões, rins e SNC. Catalizam reações
São mais rápidas, e geralmente no fígado muito lentas
Ex: morfina → morfina-6-glicuronidio
- Quando a morfina sofre uma reação de fase 2, ela
gera o metabólito morfina-6-glicuronidio que também
tem efeito analgésico

Molécula do fármaco recebe O2 e consome


uma molécula de H na formação de H2O. Um átomo
de O2 é associado a molécula do fármaco e o outro a
de H para formar H2O. Sempre uma molécula de O2
é consumida para cada molécula de substrato que é
oxidada pela enzima CYP450.
- CYP450 oxida fármaco e sintetiza hormônios
esteroides e ácidos biliares
REAÇÕES DE FUNCIONALIZAÇÃO DA FASE 1

Introduzem um grupo funcional do composto


original (polar), ou fazem com que a molécula do
fármaco se torça expondo um grupamento funcional,
que torna-se mais polar e hidrossolúvel.
Os grupos funcionais são –OH, -COOH, -SH, -O- ou NH2
Tipos:
- Oxidação: ganha e reage com O2
- Redução: perde O2
- Hidrólise: H2O quebra a molécula do fármaco
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→ Tipos de enzimas CYP em humano: ISOFORMAS


- CYP1A1 - CYP2C8 - CYP2E1
- CYP1A2 - CYP2C9 - CYP3A4
- CYP 1B1 - CYP2C19 - CYP3A5
- CYP2A6 - CYP2D6 - CYP4A11
- CYP2B6
Família do gene que codifica Tipo de enzima CYP - Paracetamol/acetaminofeno - hidroxilação aromática
a enzima
- Clorpromazina (antipsicótico) – sulfoxidação
P-450 CYP2D6
Subfamília do gene que
codifica a enzima

→ Mais de uma isoforma pode estar envolvida no


metabolismo de determinado fármaco.
- Ex: Se um fármaco A é metabolizado por uma
isoforma, e é feito o uso de outro fármaco B que inibe
a isoforma que metaboliza o A, pode haver: acúmulo
do fármaco A no sangue, aumento da sua meia vida,
efeito mais intenso e/ou prolongado.
→ Um mesmo fármaco pode ser metabolizado por
mais de uma isoforma de CYP-450

INIBIÇÃO DAS ENZIMAS CYP450

→ Alguns fármacos, não substratos das enzimas


CYP, também podem inibir isoformas das enzimas.
→ Componentes da dieta podem as enzimas CYP:
Ex: suco de toranja contém furanocumarinas
Furanocumarinas → inibem as enzimas CYP3A4
(intestiniais) que metabolizam Diazepam - maior nível
sanguíneo e maior efeito.
Se um fármaco inibe uma isoforma que metaboliza
outro fármaco, ocorre um desvio da rota metabólica - As furanocumarinas também inibem enzimas que
(outra enzima que também metaboliza esse outro metabolizam o Verapamil (antipertensivo) aumentando
fármaco irá predominar na metabolização) seus níveis sanguíneos.

- Reconhecer fármacos que sofreram oxidação: no INDUÇÃO DAS ENZIMAS CYP450


metabólito do fármaco terá 1 O a mais
→ Alguns fármacos podem promovem indução das
→ Hidroxilação aromática: molécula do fármaco enzimas CYP, aumentam o próprio metabolismo ou
recebe OH no seu anel aromático de outros fármacos
→ Hidroxilação alifática: molécula do fármaco recebe → Um fármaco pode aumentar a quantidade (Indutor)
OH na sua cadeia de carbonos aberta, no radical de enzimas CYP450 que metaboliza outro fármaco
alifático. ou ele próprio.
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→ Indução enzimática pode levar dias ou meses para → São expressas no fígado, compondo 6 famílias,
porém a mais importante é a FMO3.
→ Contribuem pouco para o metabolismo dos
fármacos e quase sempre produzem metabólitos
benignos
→ Não são inibidas ou induzidas
→ Metabolizam a trimetilamina (uma substância
No caso de um fármaco induz enzimas que
presente em alguns alimentos como peixes,
metabolizam ele próprio, seus níveis sanguíneos
mariscos, fígado, ervilha, gema de ovo)
diminuem e seu efeito pode também diminuir mesmo
com uso de mesma dose = tolerância. – Indivíduos portadores de deficiência genética da
enzima FMO3 sofrem da síndrome odor do peixe (não
Ex:
metabolizam trimetilamina e alguns fármacos).
- Fenobarbital (Gardenal) é um indutor enzimático:
pacientes podem convulsionar com passar de tempo → Fármacos metabolizados por estas enzimas:
de uso constante - descontrole da doença pela - Nicotina (fumo)
diminuição dos níveis sanguíneos devido a indução de - Cimetidina (tratar úlcera)
enzimas que metabolizam o fármaco. - Ranitidina (tratar úlcera)
- Clozapina (antipsicótico)
→ EX. DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS:
- Rifampicina (antibiótico) induz nas enzimas hepáticas e
REAÇÕES DE REDUÇÃO
pode diminuir a eficácia do Vafarin (anticoagulante).
Reações em que a molécula de fármaco perde
- Hiperforina (fitoterápico feito de hiperico/erva de são
ua molécula de O
joão, usado para tratar depressão): gera a indução de
enzimas CYP3A4, que metabolizam diversos fármacos. Ex: Cloranfenicol (antibiótico): sofre reação de redução
e perde um grupamento amino (perde O2)

REAÇÕES DE HIDRÓLISE
MONOXIGENASES QUE CONTÉM FLAVINA
(FMO) OU OXIDASES DE FUNÇÃO MISTA As Reações de hidrólise são catalisadas por
enzimas que localizam-se nos reticulo endoplasmático
Enzimas microssomiais ou seja, localizam-se no
liso e no citosol, presentes nem diversos tecidos, como
reticulo endoplasmático liso das células hepáticas, que
o fígado e hemácias.
oxidam fármacos.
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Essas enzimas quebram a molécula do fármaco


em fragmentos, em um desses fragmentos é
introduzido OH (de H2O) e em outro fragmento é
introduzido H (de H2O).

HIDROLASES DO EPÓXIDO (EH)


Enzimas que rompem as moléculas de
fármacos ou metabólitos de fármacos que possuem o
grupamento epóxido

Epóxido

→ Tipos de enzimas:
- Hidrolase solúvel do epóxido (sEH): citosol
- Hidrolase microssômica do epóxido: REL - As vezes o fármaco é conjugado a aminoácidos
(glicina, glutamina, mitina)
→ Enzimas envolvidas nas reações de funcionalização
da Fase II:
- UDP-glicuronotransferases/UDP-glicuroniltransferases
(UGT) – reticulo endoplasmático liso das células
Ex: Metabólito do anticonvulsivante Carbamazepina é
- Sulfotransferases (SULT) - citoplasma
um epóxido que sofre hidrólise.
- Glutationa-S-transferases (GST) - citoplasma
- N-acetiltransferases (NAT) - citoplasma
ENZIMAS CARBOXILESTERASES
- Metiltransferases (MT) – citoplasma
Enzimas que catalisam reações de hidrólise de
substâncias que contenham éster ou amida.
REAÇÕES DE GLICURONIDAÇÃO

Catalisadas pelas UDP glicuronotransferases


(UGT), encontradas no retículo endoplasmático das
células do fígado e restante do trato gastrointestinal

REAÇÕES DE FUNCIONALIZAÇÃO DA FASE 2

São reações nas quais é fixada uma molécula


mais polar à molécula do fármaco ou ao seu metabólito,
para aumentar a hidrossolubilidade, permitindo assim
uma excreção – metabólito grande ao final da reação.
→ Fármaco ou metabólito é conjugado por uma
ligação covalente a outra molécula.
- molécula de sulfato = Sulfatação
- molécula de ác. glicurônico = Glicuronidação → Co-fator (doa o ácido glicurônico pro fármaco) =
- molécula de glutationa = Glutationização UDP-GA UDP-ácido glicurônico (UDP-GA)
- molécula de acetila = Acetilação → Forma de enzima importante para metabolismo de
- molécula de metila = Metilação fármacos: UGT1A1
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- Síndrome de Gilbert = redução da expressão de


UGTA1: dificuldade de conjugar certos fármacos e
consequente aumento da sensibilidade - pode gerar
acúmulo dos desses fármacos no organismo
→ A conjugação ocorre por meio de um grupo
carboxila, resultando em uma ligação tipo éster
→ Fármacos substratos:
- Nitrofenol, meprobamato diazapam, sulfatiazol,
N-hidroxidapsona, paracetamol, digitoxina, digoxina
- Ex: Formação de éter glicurônico do ácido salicílico

REAÇÕES DE GLUTATIONIZAÇÃO

Catalisadas por enzimas citosólicas glutationa-S


transferases (GST) que transferem da glutationa aos
fármacos ou metabólitos que contém heteroátomos
(-O, -N e –S)
REAÇÕES DE SULFATAÇÃO

São catalisadas pelas enzimas sulfotransferases


9SULT) presentes no citoplasma de células da: pele,
cérebro, fígado, suprarenais, testículos, mamas e
placenta.

→ Existem 11 isoformas de SULT encontradas em


seres humanos, e são divididas em 3 famílias:
SULT1, SULT2 e SULT4, importantes para a
homeostase do organismo.
→ A glutationa pode estar presente sob a forma
- SULTIA1: metabolismo de fármacos
reduzida (GSH) e oxidada (GSSG):
- SULT1A3: metabolismo de catecolaminas
(adrenalina, noroadrenalina,) → Existem mais de 20 GST humanas, que foram
- SULT1E1: metabolismo de estrogênios divididas em:
- Citosólicas: Responsáveis por metabolizar
→ Co-fator (doa sulfato para o fármaco) =
fármacos e xenobióticos (exógenos);
3’-fosfoadenosina-5’-fosfossulfato (PAPS)
- Microssômicas: Responsáveis por metabolizar
→ Sulfato associa-se a um grupamento OH de
leucotrienos e prostaglandinas (endógenos).
fármacos ou metabólicos aromáticos e alifáticos
→ Fármacos: paracetamol, ácido etacrínico,
- Ex: Paracetamol sofrem conjugação com sulfato: bromobenzeno
paracetamol é oxidado pelas enzimas CYP e seu
- Ex: metabólito tóxico do paracetamol é conjugado
metabólito sofre conjugação com sulfato.
com a glutationa pelas GST no fígado.
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REAÇÕES DE N-ACETILAÇÃO

Catalisadas por enzimas N-acetiltransferases


(NAT) localizadas no fígado e trato gastrointestinal.

→ Originam metabólitos N-hidroxiacetilados


→ Co-fator (doa acetila para os fármacos) = acetil-
coenzima A
→ Polimorfismo das enzimas NAT:
- NAT1: maioria dos tecidos humanos
- NAT2: no fígado e trato gastrointestinal

Quantidades de NAT no organismo determina a Excreção dos metabólitos:


velocidade de metabolização: acetiladores rápidos e
acetiladores lentos – acetiladores lentos tem maior risco Os fármacos e metabólitos de fármacos que
de acumular isoniazida e ter efeitos adversos. foram conjugados podem ser excretados pela bile ou
pelos rins e eliminados junto da urina.

A bile é produzida no fígado, armazenada na


vesícula biliar, e lançada no intestino. Caso o fármaco ou
metabólito seja excretado pela bile, as moléculas
conjugadas podem sofrer ação de enzimas da flora
intestinal (β-glicuronidases), que desfazem a ação do
fígado rompendo a conjugação e possibilitando a
reabsorção do fármaco pelo organismo = CICLO
→ Fármacos: sulfonamidas, isoniazida, clonazepam, ÊNTERO HEPÁTICO
dapsona, mescalina

REAÇÕES DE METILAÇÃO

→ Enzimas envolvidas:
- N-metiltransferases
- Catecol-O-metiltransferase (COMT)
- Fenol-O-metiltransferase (POMT)
- Tiopurina-S-metiltransferase (TPMT)
- Tiometiltransferase (TMT)
→ Envolvem a O, N e S-metilação
→ Co-fator (doa metil para os fármacos) = S-adenosil-
metionina
→ Fármaco: dopamina, epinefrina, histamina, tiouracila

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