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DEONTOLOGIA

E ÉTICA
PROFISSIONAL

Débora Czarnabay
Habilitações biomédicas
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explorar as habilitações da Biomedicina.


 Identificar os campos de atuação do biomédico.
 Reconhecer a legislação aplicada às habilitações biomédicas.

Introdução
Em 1950, ao surgir a ideia da criação do curso de Ciências Biomédicas
no Brasil, o objetivo era a formação de profissionais para atuarem como
docentes especializados nas disciplinas básicas das escolas de Medicina
e Odontologia, além de formar profissionais para atuarem como pesqui-
sadores científicos em áreas das ciências básicas e das ciências aplicadas.
Diferentes necessidades foram surgindo no mercado de trabalho com
o passar dos anos, o que causou modificações na base curricular desse
curso de graduação.
Neste capítulo, você vai conhecer as diferentes habilitações do pro-
fissional biomédico. Além disso, vai conhecer quais as áreas de atuação
do graduado em Biomedicina e a legislação aplicada.

Habilitações na Biomedicina
Primeiramente, o surgimento do curso de Biomedicina tinha como objetivo
formar docentes para atuarem nas escolas de Medicina e Odontologia. Naquela
época, também havia a necessidade de formar biomédicos para atuarem como
pesquisadores qualificados em áreas de ciências básicas e aplicadas. Os avanços
tecnológicos e a mudança no mercado de trabalho forçaram uma alteração na
base curricular do curso de graduação em Ciências Biomédicas, permitindo
que o graduando escolhesse entre diferentes habilitações ao final do curso.
A Biomedicina foi regulamentada como profissão pela Lei Federal nº.
6.684, de 1979, desmembrada pela lei nº. 7.017, de 1982 e regulamentada pelo
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decreto nº. 88.439, de 1983, deliberando sobre o exercício da profissão apenas


para indivíduo portador de carteira de identidade profissional do Biomédico
devidamente expedida e registrada pelo Conselho Regional de Biomedicina
da respectiva jurisdição.
Segundo a Resolução CNE/CES nº. 2, de 18 de fevereiro de 2003, amparada
no Parecer CNE/CES nº. 104, de março de 2002, o Ministério da Educação e
Cultura (MEC) instituiu as diretrizes curriculares do curso de Biomedicina,
delineando o perfil técnico-profissional e gerencial desejado para os egressos
do curso de graduação. Segundo a definição do MEC, o biomédico é o egresso
com formação capaz de atuar em todos os níveis de atenção à saúde, com base
no rigor científico e intelectual, dentro dos mais altos padrões de qualidade e
dos princípios da ética e da bioética. A partir desses documentos, o Conselho
Federal de Biomedicina (CFBM) sistematizou e nomeou as habilitações (ou
especialidades) do biomédico. Você deve estar se perguntando qual o mo-
tivo das habilitações e o que deve fazer para obtê-las. O termo habilitação
significa especialidade, ou melhor, significa que você está apto para exercer
determinada função. Se você quiser atuar na área de estética, você precisa
obter uma habilitação em biomedicina estética, e o mesmo raciocínio pode
ser empregado para as outras habilitações.
Como obter uma habilitação? O aluno de Biomedicina deve cumprir obriga-
toriamente um estágio supervisionado com duração mínima de 500 horas em
uma das especialidades para obter a habilitação no final da graduação. O local
do estágio deve estar credenciado junto à instituição de ensino e estar dentro
das normas do MEC e do CFBM. Determinadas instituições de ensino superior
permitem ao aluno escolher duas ou três habilitações ao final do curso, desde
que o período mínimo de estágio seja cumprido. Outra maneira de conseguir
uma habilitação é através de cursos de pós-graduação, seja especialização,
mestrado ou doutorado, já que ao profissional é permitido acumular habilita-
ções. Conforme o CFBM, trinta e cinco (35) habilitações são reconhecidas por
legislação específica para os profissionais biomédicos, sendo elas: Acupuntura,
Análise Ambiental, Análises Bromatológicas, Auditoria, Banco de Sangue,
Biofísica, Biologia Molecular, Biomedicina Estética, Bioquímica, Citologia
Oncótica, Embriologia, Farmacologia, Fisiologia, Fisiologia Geral, Fisiolo-
gia Humana, Genética, Hematologia, Histologia Humana, Histotecnologia
Clínica, Imaginologia (ou Imagenologia), Imunologia, Informática de Saúde,
Microbiologia, Microbiologia de Alimentos, Parasitologia, Patologia, Patologia
Clínica (Análises Clínicas), Perfusão, Psicobiologia, Radiologia, Reprodução
Humana, Sanitarista, Saúde Pública, Toxicologia e Virologia.
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Cada uma das habilitações confere determinadas competências ao biomé-


dico, permitindo que ele exerça suas atividades. Veremos abaixo as compe-
tências de cada uma das habilitações.
Acupuntura: atuar clinicamente em consultório e otimizar os tratamentos
convencionais de saúde, através do equilíbrio energético e do reestabelecimento
da integração dos sistemas orgânicos.
Análise Ambiental: realizar análises físico-químicas e microbiológicas
para o saneamento do meio ambiente; realizar análise de água, ar e esgoto.
Análises Bromatológicas e Microbiologia de Alimentos: realizar análises
físico-químicas e microbiológicas para aferição da qualidade e da contami-
nação de alimentos, desde o processo de produção, coleta e transporte até o
armazenamento.
Auditoria: participar da auditoria dos serviços de toda a área da saúde
em nível federal, estadual e municipal, atuando na esfera pública ou privada.
Realizar procedimentos técnicos, científicos, contábeis, financeiros e patri-
moniais, praticados tanto por pessoas físicas como jurídicas no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS), dentre outras atividades direcionadas aos
ministérios do governo.
Banco de Sangue: assumir chefias técnicas, assessoramento e execução
de trabalhos relacionados ao processamento do sangue e seus correlatos, além
de realizar todos os procedimentos técnicos do banco de sangue, tais como
transfusão.
Biofísica, Radiologia ou Imaginologia: permite ao biomédico exercer
atividades em diagnóstico por imagem e terapia, tais como operações com
equipamentos e sistemas de diagnóstico por imagem, tomografias computa-
dorizadas e ressonância magnética. Também pode executar procedimentos
de rádio farmácia.
Biologia Molecular: coletar, analisar, interpretar, emitir e assinar laudos e
pareceres técnicos; analisar, assumir responsabilidade técnica e firmar laudos
de exames laboratoriais; investigação de paternidade por DNA.
Biomedicina Estética: atuar na prevenção do envelhecimento cutâneo
natural; orientar a população com disfunção dermato-fisiológica, identificando
formas de correção; realizar procedimentos invasivos não cirúrgicos, como a
aplicação de toxina botulínica tipo A.
Bioquímica: realizar exames laboratoriais relacionados à área e emitir
laudos.
Citologia Oncótica: realizar análises citológicas de material esfoliativo,
dos raspados e aspirados de lesões e cavidades corpóreas, através da metodo-
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logia de Papanicolau para diagnóstico citológico; realizar coleta de material


cérvico-vaginal e leitura da respectiva lâmina (Figura 1).

Figura 1. Exemplo de exame citológico por microscopia – células epiteliais normais da


região cérvico-vaginal.
Fonte: Komsan Loonprom/Shutterstock.com.

Embriologia e Reprodução Humana: realizar manipulação de gametas


(oócitos e espermatozoides), identificação e classificação oocitária, espermo-
grama, criopreservação seminal, criopreservação oocitária e criopreservação
embrionária, além de biópsia embrionária e hatching para subsidiar processos
de fertilização in vitro e reprodução assistida.
Farmacologia: realizar estudos sobre os efeitos dos fármacos e suas intera-
ções com outras substâncias no organismo humano, analisando as propriedades
físicas e químicas; desenvolvimento de novos medicamentos.
Fisiologia, Fisiologia Geral e Fisiologia Humana: estudar o funciona-
mento e o mecanismo do corpo humano; atuar em equipe multidisciplinar no
esporte de alto rendimento, planejamento de treinamento e suplementação de
atletas; assessoria e consultoria; pesquisa e docência.
Genética: realizar e analisar exames cromossômicos e de DNA para o
diagnóstico citogenético e molecular; coordenar e atender a pacientes e fami-
liares em programas de aconselhamento genético; realizar e analisar testes de
paternidade e identificação de perfil molecular na perícia criminal.
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Hematologia: a hematologia estuda os elementos figurados do sangue,


como hemácias, plaquetas, leucócitos, entre outros. Ao biomédico compete
realizar os exames laboratoriais relacionados à área e emitir os laudos.
Histologia Humana: realizar estudos e desenvolver pesquisas sobre os
tecidos do corpo humano.
Histotecnologia Clínica: realizar processamento de amostras histológicas
para análise macroscópica, imunohistoquímica, citoquímica e molecular,
firmando os laudos.
Imunologia: realizar exames laboratoriais na área e emitir laudos; atuar
em laboratórios e centros de pesquisa.
Informática de Saúde: atuar no armazenamento, recuperação e uso da
informação, dos dados e dos conhecimentos biomédicos para a resolução de
problemas e a tomada de decisões.
Microbiologia: identificar microrganismos (fungos, vírus, bactérias) para
o diagnóstico clínico e desenvolvimento de pesquisas.
Parasitologia: identificar parasitas para o diagnóstico clínico e o desenvol-
vimento de pesquisas, além de auxílio a programas de saneamento do governo
para erradicação de doenças e para a educação e conscientização sanitária.
Patologia: realizar estudo de patologias (doenças), realizar exames mi-
croscópicos e macroscópicos de órgãos, tecidos e células e emitir laudos para
diagnóstico.
Patologia Clínica (ou Análises Clínicas): assumir e executar o proces-
samento de sangue, sorologias e exames pré-transfusionais; assumir chefias
técnicas, assessorias e direção dessas atividades.
Perfusão: operar equipamentos de circulação extracorpórea em cirurgias,
principalmente durante cirurgias cardíacas e torácicas.
Psicobiologia: realizar pesquisas experimentais sobre a influência das
bases biológicas dos processos mentais sobre as estruturas fisiológicas do
corpo humano.
Sanitarista: aplicar conhecimentos médicos, ou não, objetivando organizar
os sistemas e serviços de saúde; atuar em fatores condicionantes e determi-
nantes do processo saúde-doença a fim de controlar a incidência de doenças
na população por meio de ações de vigilância e intervenções governamentais.
Saúde Pública: compete ao biomédico desenvolver e implementar projetos
governamentais para controle de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs),
doenças crônicas, infectocontagiosas, zoonoses, assim como projetos para
saúde do trabalhador, atendimento domiciliar (cuidadores), atendimento à
população indígena e carcerária.
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Toxicologia: analisar os efeitos adversos de substâncias tóxicas ou possi-


velmente tóxicas, tais como medicamentos, cosméticos, venenos, agrotóxicos,
fitoterápicos; realizar o diagnóstico laboratorial de intoxicações em seres
humanos e animais.
Virologia: realizar exames laboratoriais na área e emitir laudos; atuar na
identificação e classificação de vírus.

O decreto nº. 88.439, de 28 de junho de 1983, no artigo 1º cita que o exercício da


profissão de biomédico somente será permitido ao portador de carteira de identidade
profissional, expedida pelo devido Conselho Regional de Biomedicina da respectiva
jurisdição. Logo, praticar a Biomedicina sem estar inscrito no sistema do Conselho
Federal de Biomedicina ou sem possuir habilitação na área em que estiver atuando é
ilícito do ponto de vista ético e penal, podendo sofrer processo administrativo, penal
e sanções previstas no código de ética do biomédico e no código penal.
Fonte: Código de Ética do Biomédico (BRASIL, 1984).

Áreas de atuação do biomédico


Um dos destaques dos egressos do curso de biomedicina é a multidisciplinari-
dade, o que se reflete no número de habilitações/especialidades da carreira. O
profissional biomédico trabalha de forma integrada com os demais profissio-
nais da área da saúde, assim como em várias instâncias do sistema de saúde
do governo. O biomédico legalmente habilitado é absorvido por segmentos
do mercado de trabalho que geralmente são relacionados ao diagnóstico, à
pesquisa e ao ensino.
As diversas habilitações podem ser agrupadas em grandes áreas de atuação,
onde se concentram os profissionais biomédicos no mercado de trabalho. Se-
gundo o CFBM (2017), os procedimentos técnico-operacionais executados pelos
biomédicos podem ser agrupados em três grandes áreas, também chamadas
de macrocampos de atuação: Diagnóstico; Coordenação, Direção, Chefia,
Perícia, Auditoria, Supervisão e Ensino; e Pesquisa e Investigação. Porém,
esse agrupamento parece não contemplar todas as habilitações, generalizando
as competências dos profissionais biomédicos.
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Há uma outra forma de agrupar as habilitações, abrangendo todas as es-


pecialidades em quatro áreas:

 Análises (microscopia óptica ou eletrônica): de alimentos (Análises


Bromatológicas e Microbiologia de Alimentos); de água; do meio am-
biente (Análise Ambiental); de microrganismos em geral (Microbio-
logia); de parasitas (Parasitologia); de vírus (Virologia); do sangue e
seus correlatos (Hematologia e Banco de Sangue); do sistema de defesa
(Imunologia); de cortes de tecido humano (Histologia Humana); de
raspados de cavidades corpóreas (Citologia Oncótica); da duplicação do
material genético e da síntese proteica (Biologia Molecular); do material
genético (Genética); de embriões e gametas (Embriologia e Reprodução
Humana); da relação entre as propriedades químicas e biológicas de
seres vivos (Bioquímica); dos medicamentos (Farmacologia); da toxici-
dade de substâncias (Toxicologia); do estudo das múltiplas funções do
corpo humano (Fisiologia, Fisiologia Geral e Fisiologia Humana); da
influência da base biológicas dos processos mentais sobre o organismo
(Psicobiologia).
 Operação/manuseio de equipamentos e sistemas biomédicos: Bio-
física, Radiologia, Imaginologia, Perfusão e Informática de Saúde.
 Tratamento: Acupuntura e Biomedicina Estética.
 Ações em programas de promoção, manutenção, prevenção e pro-
teção da saúde: Saúde Pública; Biomédico Sanitarista; Auditoria.

A divisão aqui apresentada acaba sobrepondo determinadas habilitações,


devido às similaridades de suas competências. Um exemplo é a habilitação
em Análises Clínicas (Patologia Clínica), que permite ao profissional realizar
análises e emitir laudos em Banco de Sangue, Biologia Molecular, Bioquí-
mica, Genética, Hematologia, Imunologia, Microbiologia, Microbiologia
de Alimentos, Parasitologia, Saúde Pública e Virologia. De forma geral, o
biomédico habilitado em Patologia Clínica também pode realizar coleta,
armazenamento e transporte de materiais biológicos para a realização de
exames laboratoriais.
Fique atento às diferenças entre as atividades de cada uma das especiali-
dades! Por exemplo, Hematologia e Banco de Sangue são áreas que se con-
fundem: a hematologia é o estudo da morfologia e fisiologia dos elementos do
sangue, envolvendo análise de hemácias, leucócitos, linfócitos, plaquetas, vasos
sanguíneos, medula óssea, linfonodos e baço, além das proteínas envolvidas
no processo de coagulação e hemorragia. O biomédico com essa habilitação
8 Habilitações biomédicas

pode realizar as análises hematológicas pré e pós-transfusionais e orientar o


tratamento dos pacientes (a responsabilidade técnica é exclusiva do médico
especialista em hematologia ou hemoterapia). Já a habilitação em Banco de
Sangue permite ao biomédico assessorar e executar trabalhos específicos
relacionados ao processamento de sangue e correlatos (semi-industrial e indus-
trial); executar procedimentos técnicos de banco de sangue, como transfusão
e infusão de sangue, hemocomponentes e hemoderivados, bem como assumir
chefia técnica e assessoria dessas atividades. É importante salientar que, apesar
de certas atividades se sobreporem, o profissional não deve ultrapassar os
limites do que é permitido por lei para cada uma das habilitações.

A Informática de Saúde, também chamada de Bioinformática ou biologia compu-


tacional, é uma área relativamente nova e que está em crescimento. Os biomédicos
bioinformatas atuam em diversos campos da ciência médica, desenvolvendo métodos
para analisar dados biológicos, criando bases de dados, ou ainda realizando modelagem
de dados biológicos. Podem desenvolver algoritmos e utilizar métodos estatísticos para
auxiliar na interpretação de dados biológicos advindos de pesquisas clínicas e científicas.
Fonte: Conselho Regional de Biomedicina – 5ª Região (2018).

Legislação aplicada às habilitações


A profissão de biomédico foi regulamentada pela Lei nº. 6.684, de 3 de Se-
tembro de 1979, sancionada pelo PRESIDENTE DA REPÚBLICA, constando
no Capítulo II:

Art. 3º - O exercício da profissão de Biomédico é privativo dos portadores


de diploma:
I – devidamente registrado, de bacharel em curso oficialmente reconhecido
de Ciências Biológicas, Modalidade Médica;
II – emitido por instituições estrangeiras de ensino superior, devidamente
revalidado e registrado como equivalente ao diploma mencionado no Inciso
anterior.
Art. 4º - Ao Biomédico compete atuar em equipes de saúde, a nível tecnológico,
nas atividades complementares de diagnósticos.
Habilitações biomédicas 9

Art. 5º - Sem prejuízo do exercício das mesmas atividades por outros profis-
sionais igualmente habilitados na forma da legislação específica, o Biomédico
poderá:
I – realizar análises físico-químicas e microbiológicas de interesse para o
saneamento do meio ambiente;
II – realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação;
III – atuar, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiag-
nóstico e de outros para os quais esteja legalmente habilitado;
IV – planejar e executar pesquisas científicas em instituições públicas e
privadas, na área de sua especialidade profissional.
Parágrafo único – O exercício das atividades referidas nos incisos I a IV deste
artigo fica condicionado ao currículo efetivamente realizado que definirá a
especialidade profissional.

Ao longo da história da criação do curso de Biomedicina e da regulamen-


tação da profissão, as áreas de atuação foram crescendo e novas habilitações
surgindo, conforme a necessidade do mercado de trabalho. Dessa maneira,
para que o profissional biomédico pudesse atuar em uma área de forma le-
gítima deveria haver legislação específica permitindo tal atividade. Assim,
foi surgindo o conjunto de normas relativas a cada uma das habilitações. O
Decreto nº. 88.439, de 28 de Junho de 1983, de acordo com a Lei nº. 6.684,
de 3 de setembro de 1979, e em conformidade com a alteração estabelecida
pela Lei nº. 7.017, de 30 de agosto de 1982, determina no Capítulo II – Da
profissão do Biomédico:

Art. 4º - Sem prejuízo do exercício das mesmas atividades por outros profis-
sionais igualmente habilitados na forma de legislação específica, o Biomédico
poderá:
I – realizar análises físico-químicas e microbiológicas de interesse para o
saneamento do meio ambiente;
II – realizar serviços de radiografia, excluída a interpretação;
III – atuar, sob supervisão médica, em serviços de hemoterapia, de radiodiag-
nóstico e de outros para os quais esteja legalmente habilitado;
IV – planejar e executar pesquisas científicas em instituições públicas e
privadas, na área de sua especialidade profissional.
Parágrafo único – O exercício das atividades referidas nos incisos I a IV deste
artigo fica condicionado ao currículo efetivamente realizado que definirá a
especialidade profissional.

Esse mesmo Decreto regulamenta a criação do Conselho Federal de Bio-


medicina e dos Conselhos Regionais. Em 1986, o Conselho Federal de Bio-
medicina publica a RESOLUÇÃO C.F.B.M. nº. 0004/86, fixando as áreas de
atuação do biomédico:
10 Habilitações biomédicas

Art. 1º - A Resolução nº. 0001/86 passa a vigorar com a seguinte redação:


I – fixar a competência do Biomédico nas áreas de:
a – Análises Clínicas (realizar análises, assumir a responsabilidade técnica
e firmar os respectivos laudos).
b – Banco de Sangue (realizar todas as tarefas, com exclusão, apenas, de
transfusão).
c – Análise Ambiental (realizar análises físico-químicas e microbiológicas
para o saneamento do meio ambiente).
d – Indústrias (indústria químicas e biológicas – soros, vacinas, reagentes, etc.).
e – Comércio (assumir a responsabilidade técnica para as Empresas que
comercializam produtos, excluídos os farmacêuticos, para laboratório de
análises clínicas, tais como: produtos de diagnóstico químico, reagentes,
bacteriológicos, instrumentos científicos, etc.).
f – Citologia oncótica (citologia esfoliativa).
g – Análises Bromatológicas (realizar análises para aferição de alimentos).
II – No exercício das atribuições acima indicadas, poderá o Biomédico assumir
a responsabilidade técnica, quer de Laboratórios, quer de Indústrias, quer de
Comércio, firmando os respectivos laudos ou pareceres.
III – Para o reconhecimento dessas habilitações, além da comprovação em
currículo, deverá o profissional comprovar realização de estágio mínimo de
seis (6) meses, em instituições oficiais ou particulares, reconhecidas pela
CFE, ou em laboratórios conveniados com Universidades ou Faculdades.
IV – Para o exercício de quaisquer das atividades referidas, torna-se indis-
pensável a prévia inscrição do Biomédico neste Conselho.

Considerando que a atividade profissional dos biomédicos abrange, além


das atribuições definidas na Resolução 004/86 – CFBM, as atividades afins
que se situam no domínio de sua capacitação técnico-científica, foi incluído
pelo Conselho Federal de Biomedicina na Resolução nº. 45, de 4 de dezembro
de 1992:

Art. 1º - Caracteriza-se como atividade profissional do biomédico, em relação


ao Magistério:
§ 1º - Em relação ao Ensino Superior:
O profissional que exerça o magistério tendo como campo de matérias especí-
ficas ou não, constante do currículo próprio do Curso de Ciências Biológicas
Modalidade Médica;
Nas matérias específicas do Curso de Ciências Biológicas Modalidade Médica,
para as quais o profissional esteja habilitado obedecida a legislação de ensino.
§ 2º - Nos cursos profissionalizantes a nível de 1º e 2º grau das disciplinas
constantes do currículo de Biomedicina, obedecida a legislação de ensino.
Art. 2 – Para o exercício das atividades elencadas no Art. 1º, ficam os bio-
médicos obrigados a registrarem-se nos Conselho Regionais de Biomedicina
de sua Região.
Habilitações biomédicas 11

As demais normas foram escritas conforme as lacunas no mercado de tra-


balho surgiam e eram preenchidas pelos biomédicos capacitados. A Resolução
nº. 2, de março de 1995, regulamenta a habilitação em Acupuntura, a Resolu-
ção nº. 4, de 9 de junho de 1995 dispõe sobre a competência do profissional
biomédico em exames laboratoriais de DNA. A Resolução nº. 2, de 7 de junho
de 1996, e a Resolução nº. 14, de dezembro de 1996, determinam a alteração
nas atribuições das habilitações em Análises Clínicas e Banco de Sangue.

Conheça melhor a habilitação em Citologia Oncótica aces-


sando o link ou código a seguir.

https://goo.gl/DyrZQL

A Resolução nº. 78, de 29 de abril de 2002, dispõe sobre o Ato Profissional


Biomédico, fixa o campo de atividade do Biomédico e cria normas de Respon-
sabilidade Técnica. Nessa resolução constam todas as atividades permitidas
para cada uma das habilitações. A Resolução nº. 135, de 03 de abril de 2007,
dispõe sobre a atribuição do Profissional Biomédico na área de perfusão e
toxicologia. O Ato Resolução nº. 140, de 4 de abril de 2007, dispõe sobre a
atribuição do profissional biomédico sanitarista; já a Resolução nº. 197, de 21
de fevereiro de 2011, regulamenta a habilitação e atribuições dos profissionais
biomédicos em Biomedicina Estética (BRASIL, [201-?]).
12 Habilitações biomédicas

A rotina de um biomédico com habilitação em Biofísica, Radiologia ou Imaginologia


inclui atividades no segmento de diagnóstico por imagem e terapia, tais como:
 realizar atividades em serviços de radiodiagnóstico (operações com equipamentos
e sistemas de diagnóstico por imagem, como tomografias computadorizadas,
ressonância magnética, ultrassonografia, radiologia vascular e intervencionista,
radiologia pediátrica, mamografia, densitometria óssea, neuroradiologia e medi-
cina nuclear) e radioterapia (operações com equipamentos de diferentes fontes
de energia, para tratamento, que utilizam radiações ionizantes);
 gerenciar os serviços de radiodiagnóstico;
 gerenciar o sistema PACS/RIS (do inglês, Picture Archiving and Communication
System/ Radiology Information System);
 realizar radiografia convencional e contrastada;
 atuar em sistemas de informação em saúde, prontuário eletrônico do paciente,
telemedicina, sistemas de apoio à decisão, processamento de sinais biológicos,
internet em saúde, padronização da informação em saúde, processamento de
imagens médicas, bioinformática, tomografia computadorizada (TC), ressonância
magnética (RM), medicina nuclear (MN), radioterapia (RT) e radiologia médica.
Fonte: Brasil (1984).

BRASIL. Lei nº. 6.684, de 3 de setembro de 1979. Regulamenta as profissões de biólogo


e de biomédico, cria o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Biologia e
Biomedicina, e dá outras providências. Brasília, DF, 1979. Disponível em: <http://www.
camara.gov.br/sileg/integras/132127.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.
BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Resolução CNE/CES 2, de 18 de fevereiro de
2003. Institui Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Biome-
dicina. Brasília, DF, 2003. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/
ces022003.pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.
BRASIL. Conselho Federal de Biomedicina. Código de ética da profissão de biomédico.
1984. Disponível em: <http://www.cfbiomedicina.org.br/documentos/codigodeetica.
pdf>. Acesso em: 22 fev. 2018.
BRASIL. Conselho Federal de Biomedicina. Resoluções. [201-?]. Disponível em: <http://
www.cfbiomedicina.org.br/resolucoes.php>. Acesso em: 22 fev. 2018.
Habilitações biomédicas 13

CONSELHO FEDERAL DE BIOMEDICINA (CFBm-Brasil). Manual do Biomédico. 2017.


Disponível em: https://crbm1.gov.br/site/wp-content/uploads/2016/04/Manual-do-
Biomedico-Edicao-digital-2017.pdf. Acesso em: 22 fev. 2018.
CONSELHO REGIONAL DE BIOMEDICINA – 5ª REGIÃO. Áreas de atuação. 2018. Dis-
ponível em: <http://crbm5.gov.br/site/areas-de-atuacao/>. Acesso em: 22 fev. 2018.

Leituras recomendadas
CAPARBO, M. Direitos e responsabilidades do biomédico. Jornal da Imagem, São
Paulo, p. 4-ago. 2012. Disponível em: <http://crbm1.gov.br/JI_%2004.pdf>. Acesso
em: 22 fev. 2018.
LIMA-OLIVEIRA, G. et al. Pre-analytical phase management: a review of the procedures
from patient preparation to laboratory analysis. Scandinavian Journal of Clinical and
Laboratory Investigation. Oxford, v. 77, n. 3, p. 153-163, 2017.
SILVA, J. S. P. et al. Procedimentos minimamente invasivos utilizados pelo biomédico
esteta no tratamento do fotoenvelhecimento. Anais do XI EVINCI, Curitiba, v. 2, n. 2,
p. 1-11, 2016.

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