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SUMÁRIO
UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO ............................................................................ 2

UNIDADE 2 – PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA LABORATORIAL ............... 4

2.1 DEFINIÇÃO E ESTATÍSTICAS DO SETOR .............................................................. 4


2.2 SUBESPECIALIDADES ....................................................................................... 7
2.3 PROFISSIONAIS ENVOLVIDOS ............................................................................ 8
2.4 O LABORATÓRIO DE ANÁLISES CLÍNICAS NUMA VISÃO EMPRESARIAL ................. 10
2.5 TENDÊNCIAS ATUAIS ...................................................................................... 16
2.6 IDENTIFICAÇÃO E AVALIAÇÃO DE RISCOS E PERIGOS ......................................... 27

UNIDADE 3 - HISTÓRIA E CONCEITO DE MICROBIOLOGIA ...................... 32

3.1 ALGUNS TRABALHOS IMPORTANTES AO LONGO DOS SÉCULOS ........................... 33


3.2 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS ............................ 35
3.3 TAXONOMIA E NOMENCLATURA ....................................................................... 37

UNIDADE 4 – ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE MICRORGANISMOS


......................................................................................................................... 39

4.1 CULTURA PURA – O QUE É E COMO OBTER ....................................................... 39


4.2 MANUTENÇÃO DE CULTURAS .......................................................................... 40
4.3 CONTAGEM E IDENTIFICAÇÃO DE BACTÉRIAS E FUNGOS .................................... 40
4.4 ISOLAMENTO DE AERÓBIOS E ANAERÓBIOS ...................................................... 41
4.5 IDENTIFICAÇÃO E CULTIVO DE PROTOZOÁRIOS, ALGAS E VÍRUS .......................... 42

IDADE 5 – ÉTICA E BIOÉTICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS DA SAÚDE ........ 45

5.1 A FILOSOFIA PRÁTICA .................................................................................... 45


5.2 MANEIRAS DE PERCEBERMOS A MORAL ........................................................... 47
5.3 ÉTICA E SUAS FUNÇÕES ................................................................................. 53
5.4 DISTINÇÃO ENTRE NORMAS ÉTICAS E MORAIS .................................................. 55
5.5 DEFINIÇÃO E EVOLUÇÃO DA BIOÉTICA ............................................................. 57
5.6 BIOÉTICA CLÍNICA .......................................................................................... 60
5.7 MÚLTIPLAS ABORDAGENS .............................................................................. 61

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 64
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UNIDADE 1 – INTRODUÇÃO

Sejam bem-vindos ao curso de especialização em Microbiologia e Análises


Clínicas que visa ampliar os conhecimentos dos profissionais que atuam nessa área
tão importante de apoio ao médico na pesquisa e detecção de patologias e
condições fisiológicas através de exames em materiais biológicos, dentre eles
sangue, urina e fezes.

Segundo Azevedo Neto (2004), o termo “patologia”, a partir da definição


encontrada em dicionários de uso corrente em nosso país, traduz ideias que vão de
“ciência que estuda a origem, os sintomas e a natureza das doenças”, passando por
“especialidade médica que estuda as doenças e as alterações que estas provocam
no organismo”, até mesmo com a conotação de “qualquer desvio anatômico e/ou
fisiológico, em relação à normalidade, que constitua uma doença ou caracterize
determinada doença”, e por extensão de sentido “desvio em relação ao que é
próprio ou adequado ou ao que é considerado como estado normal de uma coisa
inanimada ou imaterial”.

Evidentemente, todas as definições são adequadas, mas não conseguem


dar conta de descrever o “Patologista”, que na verdade é uma denominação para
dois especialistas diferentes da carreira médica: o Anátomo-patologista e o
Patologista Clínico.

Apesar da breve referência à patologia, na realidade, nosso foco ao longo do


curso será a microbiologia de maneira detalhada, os caminhos, técnicas e métodos
para análises clínicas laboratoriais, mas não podemos nos furtar a esclarecer
algumas definições e conceitos e discutir ao final deste módulo a questão da ética e
bioética que devem permear a vida de todos aqueles que lidam com seres humanos.

De maneira geral, a Bioquímica Clínica é responsável por investigar


materiais orgânicos, como sangue e urina. Os resultados apontam alterações
metabólicas responsáveis pelo desenvolvimento de doenças. Nesse campo
encontramos avaliação de proteínas, aminoácidos, enzimas, lipídeos, minerais,
eletrólitos, aspectos bioquímicos da hematologia, como o ferro sérico, hormônios,
marcadores tumorais, líquidos orgânicos, substâncias do sistema hepatobiliar,
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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dentre outros analitos, que podem ser analisados quantitativamente e/ou


qualitativamente, tanto que a identificação das doenças e as terapias apropriadas só
podem ser estabelecidas com o emprego dessas análises. Atualmente, as
investigações bioquímicas estão presentes em todos os ramos da medicina e
fortemente inseridas nas relações médico-paciente. Exames mais conhecidos
inclusos neste ramo são a dosagem de Glicose, Colesterol, Triglicerídios, Ácido
Úrico, Ureia, Ácido Fólico, entre outros.

No campo da microbiologia, a aplicação volta-se para o controle e prevenção


de doenças e está associado às práticas assépticas, antibioticoterapia, quimioterapia
e imunização, bem como com a epidemiologia ou epizootiologia e os métodos de
diagnóstico das doenças infecciosas.

Dentro do Laboratório de Análises Clínicas, algumas das atribuições do setor


de microbiologia envolvem:

• isolamento e identificação de microrganismo envolvido em um processo


infeccioso;
• determinação do perfil de sensibilidade aos antimicrobianos para uso racional
dos antibióticos;
• vigilância de microrganismos resistentes a vários ou até mesmo a todos os
antibióticos;
• fornecimento de dados epidemiológicos dos diferentes agentes etiológicos de
infecção hospitalar e perfil de sensibilidade;
• suporte microbiológico na investigação de surto.
Ressaltamos em primeiro lugar que embora a escrita acadêmica tenha como
premissa ser científica, baseada em normas e padrões da academia, fugiremos um
pouco às regras para nos aproximarmos de vocês e para que os temas abordados
cheguem de maneira clara e objetiva, mas não menos científicos. Em segundo lugar,
deixamos claro que este módulo é uma compilação das ideias de vários autores,
incluindo aqueles que consideramos clássicos, não se tratando, portanto, de uma
redação original e tendo em vista o caráter didático da obra, não serão expressas
opiniões pessoais.

Ao final do módulo, além da lista de referências básicas, encontram-se


outras que foram ora utilizadas, ora somente consultadas, mas que, de todo modo,
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podem servir para sanar lacunas que por ventura venham a surgir ao longo dos
estudos.

UNIDADE 2 – PATOLOGIA CLÍNICA/MEDICINA


LABORATORIAL

2.1 Definição e estatísticas do setor

A Patologia Clínica é uma especialidade médica cada vez mais ampla e


complexa, que conta com a colaboração crescente de diferentes profissionais da
área de laboratório de análises (farmacêuticos e bioquímicos, biomédicos, biólogos,
químicos, entre outros). Também chamada mais recentemente de Medicina
Laboratorial, esta especialidade pode ser definida como a área médica que conduz e
interpreta testes laboratoriais aplicando técnicas químicas, físicas, físico-químicas,
biológicas e morfológicas em pacientes, ou mais frequentemente, em materiais
biológicos retirados de pacientes, tendo como objetivos principais diagnosticar ou
afastar doenças, estabelecer o estágio de uma doença, colaborar para a indicação
de prognóstico, acompanhar as repercussões da terapêutica ou verificar a presença
de fatores de risco para agravos à saúde humana.

No Brasil, a especialidade é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina


(CFM, 2005) com o nome de Patologia clínica ou medicina laboratorial. Deve ser
diferenciada de patologia cirúrgica ou anatomia patológica, especialidade que tem
por objeto de análise os tecidos sólidos do corpo humano, geralmente obtidos por
meio de biópsia.

Através da realização de exames laboratoriais, a Patologia Clínica/Medicina


Laboratorial fornece informações ao médico, de modo a proporcionar-lhe os meios
necessários para atuar na prevenção, diagnóstico, tratamento, prognóstico e
acompanhamento das enfermidades em geral. Para atingir esse propósito, o médico
depende, essencialmente, da rapidez, precisão e exatidão dos valores fornecidos
pelo laboratório de sua confiança.

De acordo com Campana, Oplustil e Faro (2011), a patologia


clínica/medicina laboratorial é uma especialidade direcionada a realização de
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o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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exames complementares no auxílio ao diagnóstico, com impacto nos diferentes


estágios da cadeia de saúde: prevenção, diagnóstico, prognóstico e
acompanhamento terapêutico. Em conjunto, os laboratórios de patologia
clínica/medicina laboratorial e os de anatomia patológica, as clínicas de radiologia e
imagem, os centros de diagnóstico e a indústria de diagnóstico formam o mercado
da medicina diagnóstica.

Os exames mais frequentes são realizados em sangue, urina, fezes e outros


líquidos biológicos. Através desses exames, é possível identificar substâncias e
quantificar muitas delas. As metodologias utilizadas são variadas, os laboratórios
brasileiros dispõem de instrumentos iguais aos utilizados em países mais
desenvolvidos.

Um dos setores que mais evolui na medicina atualmente é o de laboratórios


clínicos, no qual podemos observar a cada dia novas descobertas sobre marcadores
de doenças, o que possibilita o início de tratamento precocemente ou mesmo a
prevenção.

O exercício da Patologia Clínica/Medicina Laboratorial obedece às normas


do Código de Ética Médica em vigor, independente da função ou cargo ocupado
pelo médico. Segue sempre os princípios fundamentais da ética, entre os quais
destaca-se o que diz ser “a Medicina uma profissão a serviço da saúde do ser
humano e da coletividade e devendo ser exercida sem discriminação de qualquer
natureza”.

O Patologista Clínico é o médico especialista em Medicina Laboratorial, que


obteve sua titulação através de atendimento a critérios técnicos estabelecidos pela
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML).

Atualmente, a prática da Patologia Clínica/Medicina Laboratorial está


necessariamente associada à participação em Programas de Controle Externo e
Interno da Qualidade. Desde 1978, a SBPC/ML supervisiona Programas dessa
natureza. Eles permitem detectar erros analíticos antes da liberação de resultados,
além de assegurarem a exatidão dos resultados que serão fornecidos aos clientes.
Isto ocorre graças à análise de controles (sangues-controle), cujos resultados são
conhecidos previamente e devem ser comparados aos encontrados pelos

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laboratórios. Caso isto não ocorra, o laboratório terá que, necessariamente, reavaliar
seu sistema analítico antes de proceder às análises de amostras de seus clientes.

Com o propósito de assegurar a qualidade de todas as etapas ou processos


envolvidos nos serviços oferecidos pelos laboratórios clínicos, a SBPC/ML criou, em
1998, o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), que tem o
objetivo de oferecer maior confiança aos usuários através do Certificado de
Acreditação, entregue aos laboratórios que cumprem os requisitos estabelecidos
pelo Programa.

Com os processos de Acreditação é possível verificar, através de auditorias


externas periódicas, se o laboratório atende a padrões preestabelecidos
relacionados ao ambiente; ao fornecimento de instruções para o preparo adequado
do paciente para a coleta; transporte de material a ser analisado; calibração e
manutenção de equipamentos; pureza da água reagente; cuidados com
manipulação e estocagem de reagentes; procedimentos escritos para realização de
cada exame; e, tratamento de resíduos, entre outros (SBPC, 2010).

Embora haja poucos dados publicados sobre a dinâmica desse mercado,


referente aos prestadores de serviços, o Cadastro Nacional de Estabelecimentos de
Saúde (CNES) estima que seja composto por cerca de 20 mil instituições e que
represente um porte de aproximadamente R$ 10 bilhões anuais. Apesar do início de
um processo de consolidação desse mercado, o consideramos bastante pulverizado
(CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

Em dezembro de 2008, o país possuía 40.910.631 beneficiários de planos


de saúde (excluindo os planos unicamente odontológicos) e estes utilizaram, em
media, 11,15 exames por beneficiário (ANS, 2008). Estima-se, portanto, uma
demanda no país pela assistência privada de cerca de 450 milhões de exames ao
ano. Além desse volume, os exames da rede pública são a maioria. É importante
ressaltarmos que o Sistema Único de Saúde (SUS) financia a maior parte da
população, mas não cobre sua assistência, direcionando parte de seus gastos para
a iniciativa privada.

Diversos elementos indicam maior utilização da medicina diagnóstica no


futuro. Atualmente, ela responde por cerca de 80% das decisões médicas,

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absorvendo apenas 11% dos custos em saúde (ANS, 2008; CAMPANA; OPLUSTIL;
FARO, 2011).

2.2 Subespecialidades

Compõe o quadro de subespecialidades desta área médica os seguintes


campos diagnósticos e de pesquisa, conforme quadro a seguir:

Especialidade Definição
Química clínica Ocupa-se em analisar os componentes químicos do sangue, urina e
fluidos orgânicos.
Hematologia Analisa os componentes celulares do sangue, e eventualmente de outros
fluidos orgânicos.
Imunohematologia - Avalia as reações imunes dentro do sangue,
especializando-se na análise dos antígenos, eritrocitários e suas
interações com os respectivos anticorpos. Reveste-se de importância
particular na Hemoterapia ou medicina transfusional.

Imunologia Avalia o sangue (e eventualmente outros fluidos orgânicos) e


componentes, através de suas interações imunológicas, ou seja, das
reações antígeno – anticorpo.
Microbiologia Estuda a flora microbiológica humana normal e patológica, detectando a
presença de vírus, bactérias e fungos em amostras de procedência
humana. Este estudo pode se estender também à análise dos
microrganismos presentes nos ambientes ocupados pelo ser humano e
objetos por ele utilizados.
Bacteriologia - subespecialidade da microbiologia cujo objeto de estudo
são as bactérias, incluindo sua identificação, caracterização e avaliação
de susceptibilidade a antimicrobianos.
Micologia - subespecialidade da microbiologia que estuda os fungos e
micotoxinas.
Virologia - subespecialidade da microbiologia que se ocupa da análise
dos vírus.

Parasitologia É a subespecialidade da Patologia Clínica que analisa as características


dos parasitas externos (ectoparasitas) e internos (endoparasitas) do
homem. Inclui o estudo dos protozoários parasitas sistêmicos – como os
plasmódios (causadores da malária) –, através de métodos de detecção
direta e indireta, o estudo dos artrópodes parasitas e a coprologia ou
estudo macroscópico, microscópico e químico das fezes com o objetivo
de se determinar o diagnóstico e prognóstico de doenças e parasitoses
do sistema gastrointestinal.
Uroanálise Analisa a urina e, eventualmente, outros fluidos orgânicos.
Biologia molecular Compreende o estudo especializado de biomoléculas, tais como o DNA e
RNA.
Genética médica Ocupa-se do estudo da genética humana, em especial as
cromossomopatias.
Genética bioquímica Estuda, através de análises bioquímicas, as anomalias genéticas
caracterizadas como erros inatos do metabolismo.

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2.3 Profissionais envolvidos

Ao médico especializado em laboratório de patologia clínica dá-se o nome


de patologista clínico ou médico laboratorista. A falta desta titulação não impede que
um médico de outra área da medicina possa atuar em um laboratório clínico com
responsabilidade técnica. Mas àquele que cumprir o período de residência médica
na especialidade de patologia clínica será conferido o título de especialista após
exame de avaliação.

Biomédico, Farmacêutico, Biólogo são alguns dos profissionais graduados,


legalmente habilitados para exercer responsabilidade técnica em laboratórios de
patologia clínica.

No Brasil, o médico patologista clínico passa por uma formação que inclui,
além dos 6 anos regulamentares do curso superior em medicina, mais três anos de
residência médica, sendo 1 ano em clínica médica e 2 anos em laboratório de
análises clínicas.

No seu trabalho, o patologista clínico pode interagir com outros profissionais,


dentre eles:

Nível superior Nível médio

Biólogo Auxiliar técnico de laboratório.


Biomédico Técnico de laboratório de análises clínicas.
Bioquímico Biotécnico.
Cirurgião-dentista
Farmacêutico

As diversas atividades e competências necessárias ao bom desempenho do


ofício devem ser compartilhadas com estes profissionais, respeitando-se o limite de
responsabilidade de cada um. As atribuições de cada profissional, bem como os
limites de sua atuação, podem ser consultadas na CBO – Classificação Brasileira de
Ocupações –, no site do Ministério do Trabalho e Emprego.

Mediante a modernidade tecnológica que significa, hoje em dia, a


automação e a informatização da maioria dos processos de análise, deve também o

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mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
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profissional possuir conhecimentos básicos nas áreas de engenharia e informática,


que viabilizem sua interação frequente com os respectivos profissionais, também
comumente envolvidos como auxiliares valiosos em todos os processos de análise.

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2.4 O Laboratório de Análises Clínicas numa visão empresarial

O laboratório de patologia clínica é uma organização privada ou pública que


produz serviços, os quais não podem ser estocados. Sua função é oferecer seus
serviços dentro de um alto padrão de qualidade, respeitando padrões técnicos e
administrativos normatizados e regulamentados pelos órgãos competentes, como a
Vigilância Sanitária do Estado de São Paulo em sua PORTARIA CVS-01, de 18 de
Janeiro de 2000 (CUNHA, 2004).

Sua atuação dentro da área de saúde é realizar exames e testes


laboratoriais através da coleta de material humano, servindo de contribuição para
médicos na realização de diagnósticos e no estabelecimento de prognósticos. Estão
autorizados a exercer a responsabilidade técnica desta organização, profissionais
como médico, biomédico, farmacêutico e biólogo, conforme título IV item 2.3 da
mesma portaria que diz:

Chama-se laboratório médico o laboratório de responsabilidade técnica


médica e laboratório de análises clínicas aquele cuja responsabilidade é
atribuída ao biomédico, farmacêutico e biólogo, embora o negócio de todos
eles seja a realização de exames laboratoriais. No caso do laboratório
médico, a entidade poderá, além de realizar exames, prestar consultoria
clínica devido à ampla visão sobre a medicina que este especialista tem,
considerando sua formação como médico.

Dentro da perspectiva de realização de exames laboratoriais, os laboratórios


de patologia clínica evoluíram visivelmente, tanto no que diz respeito à tecnologia
como em relação aos avanços profissionais (CUNHA, 2004).

Juntamente com esta evolução, sua estrutura funcional e operacional


modificou-se enormemente, caracterizando sua complexidade e exigindo um grande
esforço no aspecto da gestão laboratorial para que seus processos se realizassem
com eficácia, atendendo aos padrões preestabelecidos de qualidade e da própria
legislação vigente.

A moderna gestão de laboratório de patologia clínica busca, além de


desenvolver os procedimentos administrativos básicos de comprar, pagar, prestar
serviços e receber, realizar outras funções como administrar a qualidade, a
necessidade de recursos humanos especializados, o alto custo de insumos e

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equipamentos, as exigências da legislação e a falta de domínio nos preços de seus


serviços, os quais são estabelecidos por instituições extra laboratoriais.

Segundo Ogushi e Alves (1998), num laboratório clínico, comumente, os


preços dos serviços prestados são limitados por tabelas de instituições extra
laboratoriais ou pela concorrência inter laboratorial. Acrescente-se, além disso, que
a funcionalidade desses estabelecimentos defronta com outros obstáculos de difícil
transposição e com implicações diretas no campo organizacional-financeiro, entre os
quais cabe citar:

exigências da legislação;

alto valor financeiro do investimento tecnológico;

necessidade de recursos humanos especializados;

obrigatoriedade da qualidade total; e,

incertezas do sistema nacional de saúde.

Com isso, independente de sua natureza, seja ela estatal ou particular, intra
ou extra-hospitalar, dever-se-á dar ao laboratório clínico um tratamento empresarial,
dotando-o de objetivos planejados que lhe proporcionem a eficiência máxima,
dando-lhe credibilidade técnica junto à comunidade médica e mantendo ativo o seu
potencial econômico-financeiro.

Por todas essas razões, torna-se imprescindível que os laboratórios de


patologia clínica sejam vistos como organizações prestadoras de serviços, e
ofereçam a esta instituição a relevância necessária a seus processos, valorização e
qualificação no atendimento, qualidade no serviço, estrutura para desenvolvimento
dos recursos humanos e disponibilização de tecnologia. No entanto, para que uma
empresa obtenha êxito em seus processos, ela precisa contar com a participação
efetiva das pessoas, pois são elas que executam as atividades e têm atitudes que
venham agregar ou não valor aos serviços. Portanto, uma política consciente e
eficaz dentro da estrutura organizacional, voltada para o desenvolvimento das
pessoas, é uma ferramenta do processo administrativo.

Para Motta, Corrêa e Motta (2001), o serviço prestado pelo laboratório


clínico é uma atividade complexa, influenciada por vários fatores internos e
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ambientais que podem comprometer seus resultados. A complexidade da prestação


de serviços médico-laboratoriais evidencia a necessidade de os laboratórios clínicos
repensarem suas estruturas, seus processos e também suas relações de trabalho,
pois seus serviços estão profundamente comprometidos com a qualidade dos
resultados.

O que vale a pena salientar é que a razão do negócio de um laboratório


clínico está essencialmente ligada à saúde do ser humano e, assim, a importância
de conscientizar as pessoas sobre a responsabilidade de seu papel individual para a
finalização do serviço prestado é fundamental para o desafio da qualidade (CUNHA,
2004).

Considerando a alta complexidade econômica na operacionalização do


laboratório de patologia clínica, os empresários deste setor vêm se empenhando em
obter um tratamento empresarial que proporcione eficiência suficiente para realizar
seu negócio com credibilidade junto a seus clientes e mantendo uma condição
econômico-financeira que viabilize a competitividade da empresa.

Dentro de vários aspectos de relevância para a finalização do negócio do


laboratório de patologia clínica, podemos eleger no âmbito interno a capacitação
técnica, o controle estatístico do processo (CEP), a funcionalidade, a produtividade,
o desenvolvimento econômico e a ética profissional; e no âmbito externo, a
credibilidade técnico-científica, a captação crescente da clientela, a rentabilidade e a
respeitabilidade empresarial. A busca da excelência no desempenho destas ações
faz com que a imagem da organização obtenha valor perante os vários segmentos
que poderão compor o quadro de cliente do laboratório.

No contexto organizacional, atualmente os laboratórios de Patologia Clínica


estão estruturando-se como organizações do setor de serviços de saúde, que
prestam serviços à comunidade e, para tanto, necessitam desenvolver tarefas
administrativas. Algumas considerações a respeito do setor de serviços na saúde
são relevantes para a estratégia que a empresa pretende adotar, como a
compreensão e análise do mercado existente.

Segundo Cobra (2001, p. 12),

Diante da precariedade do sistema público e do alto custo do atendimento


particular, uma parcela cada vez maior de latino-americanos opta por planos
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e seguros de saúde. No Brasil, 39,8 milhões de pessoas, ou seja, 25% da


população, são conveniadas com algum plano (...).

Essa característica citada por Cobra (2001) mostra uma tendência que
influencia a estratégia administrativa a ser adotada por este tipo de organização.
Este dado indica que, atualmente, existe uma padronização até mesmo na
remuneração dos serviços prestados no setor de saúde e, portanto, estas empresas
precisam ser planejadas para sanar deficiências operacionais, objetivando a
conquista de competitividade.

Também outros aspectos como fatores econômicos e políticos, meio


ambiente, desenvolvimento tecnológico e ambiente interno são ameaças ao negócio,
mas a utilização sistemática de planejamento estratégico contribui para a
organização afastar ou superar as ameaças que afetam sua competitividade.

Para Cobra (2001, p. 34), “Planejar, significa prever e antecipar-se aos fatos.
Alocar recursos físicos, humanos, tecnológicos e materiais, para poder obter
resultados de vendas e lucros, por meio da satisfação de seus clientes”.

A partir do momento em que o laboratório de patologia clínica passa a ser


visto como uma organização, é importante que se façam algumas considerações em
relação a ameaças e oportunidades e isto se faz através da avaliação do ambiente
interno e externo da organização.

Pontuando essas considerações, teríamos:

este tipo de organização opera em um ambiente de alta complexidade por


estar vulnerável a políticas governamentais, por desenvolver suas funções
através de uma equipe de trabalho multidisciplinar, pela falta de informações
específicas sobre o setor em relação ao aspecto administrativo e também
pela presença de grupos de saúde como fontes pagadoras;

a globalização também exerce alguma influência no setor, entre outras, novos


critérios de qualidade baseados em certificações de órgãos internacionais e a
mudança de comportamento do cliente externo, aumentando o grau de
exigência em relação aos serviços. Portanto, desenvolver uma política de alta
eficiência interna passou a ser uma necessidade para melhorar o
desempenho e a competitividade da organização.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
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Diante deste cenário, os laboratórios de patologia clínica que tinham como


premissa o crescimento científico como foco, estão buscando formas de enquadrar
suas atividades dentro de procedimentos administrativos que viabilizem maior
eficiência ao seu negócio, considerando que, para melhorar, é necessário
desenvolver uma visão organizacional e estratégica (CUNHA, 2004).

Ainda percebendo os laboratórios de patologia clínica como uma


organização, eles precisam de setores essenciais!

Identificar os setores essenciais do laboratório de patologia clínica implica


em viabilizar a criação de um layout adequado e racional para a prática das funções
pertinentes aos setores desta empresa. Obviamente, que a influência de alguns
fatores como demanda de pacientes, número de profissionais, quantidade e
diversificação de exames, quantidade e tipos de equipamentos interferem no
dimensionamento do arranjo e planejamento físico do laboratório (CUNHA, 2004).

Embora existam estas variáveis, considera-se que a estrutura básica e


essencial para o funcionamento de um laboratório envolva os seguintes setores:

atendimento (recepção e coleta de material);

apoio (limpeza, lavagem de utensílios, copa e manutenção);

técnico (bioquímica, hematologia, imunologia, microbiologia, parasitologia e


uroanálise);

administrativo (contabilidade, recursos humanos, compras e financeiro).

Concordamos com Maximiano (2000) quando diz que a estratégia de uma


organização é definida pelo tipo de negócio em que atua e por seus objetivos.
Negócios e objetivos específicos criam necessidades e tarefas que exigem tipos
diferentes de estrutura organizacional.

Portanto, o dimensionamento e segmento de mercado influenciam


diretamente na elaboração e construção da estrutura organizacional da empresa,
tanto em relação ao dimensionamento do arranjo físico quanto à constituição da
equipe de colaboradores. O negócio e o objetivo da organização não só interferem
na estrutura organizacional, como também determinam a escolha dos recursos
humanos, pois as pessoas que a organização emprega devem ter afinidade com o
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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negócio, formação e experiência profissional que correspondam às expectativas da


empresa.

Embora o laboratório de patologia clínica seja uma prestação de serviços


que deve ser realizada por profissionais especializados na área, ele necessita de
outros profissionais com formação variada para realizar a totalidade de seus
processos do início ao término da prestação do serviço, como: auxiliar de
enfermagem e de laboratório, digitadores, auxiliar administrativo e pessoal para
executar a limpeza. Não podemos deixar passar despercebida a presença de
pessoas no laboratório, afinal as organizações são feitas de pessoas e para
pessoas.

No laboratório, é preciso, além de identificar os setores, descrever a


combinação da equipe multiprofissional com o arranjo físico apropriado e com
tecnologia atualizada, indicando que a organização reúne as necessidades básicas
para seu funcionamento.

É de interesse do laboratório clínico, enquanto organização empresarial, que


estas pessoas estejam empenhadas num objetivo comum e que tenham um
comportamento compatível ao foco da organização. No entanto, algumas
características individuais e pessoais são relevantes neste comportamento:
personalidade, individualidade, aspirações, valores e atitudes, e objetivos próprios.
Desenvolver as pessoas e as organizações implica em compatibilizar as motivações
individuais e as da organização e, assim, promover o desenvolvimento do indivíduo
e da empresa na qual ele está inserido.

O trabalho em “time”, em parceria ou em equipe, já é o modelo


predominante sobre aquele modelo antigo baseado no desempenho individual, tanto
que essa realidade objetiva levar a organização a aumentar a produtividade, a
competitividade e a eficiência.

Robbins (2001) oferece as seguintes definições:

Grupo de Trabalho – grupo cujos membros interagem basicamente para


partilhar informações e tomar decisões, para mutuamente se ajudarem no
desempenho em sua área de responsabilidade;

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
16

Equipe de Trabalho – grupo cujos esforços individuais resultam em um


desempenho, que é maior que a soma das contribuições de cada um dos
objetivos. Algumas características fazem parte da formação de uma equipe,
entre elas: aptidões dos membros, tamanho, distribuição e papéis,
comprometimento com objetivo comum, estabelecimento de metas
específicas, responsabilidade social e recompensas.

Outro aspecto relevante em relação às pessoas dentro das organizações


são as suas atitudes. Elas podem ser afirmações avaliadoras – favoráveis ou
desfavoráveis – em relação a objetos, pessoas ou eventos e acabam por refletirem
como um indivíduo se sente em relação a alguma coisa. Portanto, avaliar as
pessoas na organização demonstra que, através de suas características individuais,
as pessoas podem agregar vantagens ou desvantagens ao desempenho da
organização. Contudo, a eficácia da gestão em recursos humanos dispõe de
algumas ferramentas que auxiliam na estruturação das equipes organizacionais
como: recrutamento, processo seletivo, orientação das pessoas, modelagem de
cargos, avaliação de desempenho, remuneração, programas de incentivo,
benefícios, treinamento e qualidade de vida no trabalho (ROBBINS, 2002).

2.5 Tendências atuais

No entendimento de Campana, Oplustil e Faro (2011), as principais


tendências que terão forte impacto na medicina laboratorial na atualidade e num
futuro próximo são as ferramentas de gestão, inserção de novos testes no mercado
e rol de procedimentos, qualidade dos serviços em medicina diagnóstica, modelos
de operação, automação, consolidação e integração, tecnologia da informação,
medicina personalizada e genética.

O aumento da população, o aumento da expectativa de vida, as melhorias


nas condições sociais de parcela da população em detrimento de problemas
crônicos de saúde de outro lado apontam para crescimento na utilização dos
exames laboratoriais e também para sua importância na cadeia de saúde. Esse
novo posicionamento, somado as novas expectativas de alta resolubilidade,
pressiona o mercado e as companhias que o compõem a buscar mudanças e novas
estratégias de atuação.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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Vamos falar um pouco das tendências propostas pelos autores citados


anteriormente?

a) Ferramentas de gestão

A gestão em medicina diagnóstica por meio de modernas ferramentas


administrativas é uma realidade do mercado. O número de publicações citando as
mais diversas formas e ferramentas de gestão, modificando o foco das rotinas
técnicas para os fluxos de processos das diferentes áreas das empresas, cresceu
vertiginosamente.

Dentre as principais ferramentas ou modelos de negócios utilizados em


medicina diagnóstica, estão: o Lean Thinking, modelo de gestão com base em
mapas de valor e eliminação de desperdícios, difundido pela Toyota e focado em
velocidade e eficiência, e o Seis Sigma, ferramenta estatística de análise de
variações, introduzida pela Motorola, focada principalmente em precisão e acurácia.

Diversos artigos publicados demonstram os resultados desses modelos,


comprovando seu benefício para as operações técnicas, mediante a diminuição de
erros, para os processos, melhorando a oferta dos serviços, e economicamente,
gerando melhores margens para as empresas (NOVIS; KONSTANTAKOS, 2006
apud CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

A utilização dessas ferramentas de gestão extrapola a medicina laboratorial


e abrange todo o sistema de saúde, sendo discutida como potencial modelo de
melhoria na qualidade em saúde, reduzindo os erros que levam milhares de
pacientes a sequelas ou óbitos por tratamentos e diagnósticos não acurados, muitas
vezes com base até em problemas regulatórios e de mercado (SPEAR, 2005 apud
CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

A ferramenta Seis Sigma passou a ser utilizada a partir dos anos 1990 em
serviços médicos, iniciando suas implementações em hospitais nos EUA. Sua
estratégia é monitorar o processo e mantê-lo sob estabilidade, por meio de
classificação, padronização e comparação dos processos, resultando em
metodologias de busca da melhoria contínua (BERLITZ; HAUSENN, 2005).

Outras ferramentas já foram estudadas e também demonstraram resultados


importantes quando aplicadas em empresas de saúde.
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
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o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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b) Inserção de novos testes no mercado e rol de procedimentos

Devido ao crescimento das pesquisas na área médica, com base cada vez
mais na genética, o uso dos testes laboratoriais será mais frequente e abrangerá
todas as fases da cadeia de saúde: prevenção, diagnóstico, prognóstico e
acompanhamento terapêutico.

Após a II Guerra Mundial, com o advento de imunoensaios, automação,


computação e técnicas moleculares, o número de testes laboratoriais nos EUA
cresceu em 12% ao ano (BURKE, 2000 apud CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

A evolução de testes e metodologias laboratoriais sofre diferentes influências


já reportadas, como regulamentações, remuneração, mudanças na prática médica,
tecnologia diagnóstica, custos e práticas de mercado (LABEAU, 1998 apud
CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

A educação orientada aos médicos referente à solicitação dos exames


também será cada vez mais abrangente. Nos EUA, estudos demonstraram que
apenas dois terços das universidades de medicina lecionavam medicina laboratorial.

O resultado dessa baixa penetração pode ser traduzido pela significativa


quantidade de exames solicitados com impacto pouco significativo no diagnóstico
médico ou, ainda, pelos testes obsoletos que constam no rol das agências
reguladoras e são comumente solicitados aos laboratórios em geral.

Segundo Burke (2000 apud CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011), o


aumento dos novos testes disponíveis ocorrerá de forma acelerada. As técnicas
moleculares dominarão a medicina laboratorial, serão automatizados, com preços
acessivos e orientados à medicina personalizada.

A utilização da avaliação de tecnologias em saúde (ATS) permitirá a


padronização e a inserção no mercado de testes que apresentem custo-efetividade,
definidas por meio de estudos abrangentes de custos, resultados (segurança e
benefícios à saúde) e impactos (ético, social e organizacional). Com a ferramenta
ATS, haverá também um processo definido e padronizado de inclusão de novas
tecnologias no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar
(ANS), órgão de regulamentação da saúde suplementar no Brasil.

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A Figura a seguir demonstra o fluxo de inclusão de novas tecnologias no


mercado (ANVISA, 2008).

Fluxo de inclusão de novas tecnologias no mercado

Fonte: ANVISA (2008).

A Agência Nacional de Saúde (ANS) definiu uma nova versão em 2008 dos
procedimentos que obrigatoriamente devem ser cobertos para todos os
beneficiários. Nesse rol, estão cerca de 2.900 itens. Essa ação é pautada na
cobertura e não na remuneração e, na visão das operadoras, aumentará os custos
assistenciais em até 10%, fato não endossado pela ANS. Essa percepção de

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o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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aumento na sinistralidade tende a intensificar a pressão por custos sobre os


prestadores.

A velocidade da descoberta de novas tecnologias médicas aumenta a cada


ano. Nos EUA, um estudo realizado com número significativo de laboratórios, em
1998, demonstrou que 55% destes haviam descontinuado algum tipo de exame nos
últimos dois anos, sendo 75% dos casos devido a mudanças de tecnologia,
seguidos por fatores de regulamentação. Citou-se, ainda, que 39% das empresas
haviam incluído pelo menos algum teste no menu praticado. As razões do acréscimo
desses exames foram em 22% dos casos para melhorar o gerenciamento dos
pacientes, 19% para atender as necessidades dos clientes e comunidades
atendidas, 13% devido a melhores tecnologias disponíveis no mercado e 11% pelo
teste ser mais apropriado para determinado diagnóstico com base em novos
conhecimentos médicos. O custo e a margem por exame foram citados em 24% dos
casos como causa secundária de decisão.

A medicina com base em evidências é uma das principais ferramentas para


direcionamento dos testes a serem utilizados para determinados diagnósticos, tendo
como base a efetividade dos exames. As principais finalidades das diretrizes são
disseminar as melhores práticas, reduzir a variabilidade, elevar a confiabilidade dos
testes para a decisão médica, aumentar a qualidade da assistência em saúde e a
facilidade de disseminação e desenvolvimento profissional, auxiliar pesquisas
clínicas e, por fim, melhorar a relação custo-efetividade do diagnóstico.

No desenvolvimento de diretrizes diagnósticas, não apenas devem ser


levadas em consideração as publicações científicas de alto padrão, mas também
informações sociais, éticas, financeiras e considerações regionais (CAMPANA;
OPLUSTIL; FARO, 2011).

c) A qualidade dos serviços em medicina diagnóstica

A qualidade em assistência à saúde é percebida como fator qualificador de


posicionamento e permanência no mercado. Hoje, há forte preocupação dos
laboratórios em buscar formas de acreditação ou certificação da qualidade, ação
apoiada e promovida pelas sociedades da classe.

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mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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Em 1999, a Associação Mundial de Sociedades de Patologia e Medicina


Laboratorial (WASPALM) e a Federação Internacional de Química Clínica (IFCC)
publicaram uma declaração sobre a acreditação de laboratórios clínicos referindo
que é do interesse dos pacientes, da Sociedade e do Governo que os laboratórios
clínicos operem dentro de altos padrões de competência profissional e técnica
devida, a saber:

as decisões quanto a diagnóstico, prognóstico e terapêutica têm,


frequentemente, base nos resultados ou na interpretação de exames
laboratoriais e, portanto, danos irreversíveis podem ser causados por
resultados errôneos;

os usuários de serviços de laboratórios, tanto pacientes quanto médicos,


podem não possuir conhecimentos técnicos suficientes para avaliar se um
laboratório está operando em nível satisfatório de qualidade;

os pacientes e, em menor grau, os médicos podem não ter opção quanto a


qual laboratório utilizar;

os exames de laboratório podem ser dispendiosos e pacientes, seguradoras


ou governo, que pagam os exames, têm o direito de esperar que o laboratório
forneça informações válidas;

é do interesse dos laboratórios que sua competência seja atestada por


processo de auditoria, por comparação com padrões apropriados e que isso
se torne público.

Essa mesma declaração afirma que a acreditação é uma auditoria externa


da capacidade do laboratório em oferecer serviços de alta qualidade, relacionando,
assim, a qualidade dos serviços ofertados com a segurança do paciente.

Qualidade, nesse contexto, pode ser definida como um conjunto de


características de uma entidade que se relacionam com sua habilidade em satisfazer
necessidades implícitas ou estabelecidas. É fornecer ao cliente informação
clinicamente efetiva de maneira eficaz, sob o ponto de vista custo-benefício
(SHCOLNIK, 2002).

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Diferentes modelos de programas de acreditação e certificação estão


disponíveis no mercado e devem ser direcionadores dos processos das empresas
de medicina diagnóstica. Como exemplo, podemos citar órgãos nacionais como:

Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC);

Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML);


e,

Organização Nacional de Acreditação (0NA).

E internacionais como os programas do College of American Pathologists


(CAP) e o Joint Comission (JCI).

d) Modelos de operação: consolidação, associações, entre outros

Uma das principais discussões atuais refere-se aos novos movimentos do


mercado de medicina diagnóstica. A pressão por custos e a dificuldade de
acompanhamento nos investimentos em tecnologia realizados pelos líderes de
mercado corroboraram para que as empresas familiares, maioria entre as empresas
de medicina diagnóstica, iniciassem diferentes modelos de operação para sustentar-
se ou garantir sua permanência no mercado.

Campana, Oplustil e Faro (2011) observaram a partir daí uma série de novas
ações realizadas, como abertura de capital para o mercado, associação em clusters
de produção, aquisições de empresas por prestadores (consolidação) e operadoras
de saúde (verticalização), terceirização das áreas técnicas, etc.

Esse mesmo movimento ocorreu por todo o mundo, com instituições


crescendo de forma expressiva tanto organicamente como por aquisições, como
Labcorp Inc. nos EUA, BML Diagnostics no Japão e Unilabs/Capio atuante em
praticamente toda a Europa, e também formando empresas que extrapolam as
dimensões continentais, como Quest Diagnostics Inc., presente nos EUA e na índia
e Sonic Healthcare, atuante nos países da Oceania e recentemente nos EUA.

Os autores acima consideram o mercado de medicina diagnóstica no Brasil


bastante pulverizado, com cerca de 20 mil empresas atuantes, segundo o CNES.
Apesar da maioria do volume de exames disponível para o setor privado ser
absorvida por número reduzido de empresas e estimam que o crescimento dos
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o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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laboratórios de análises clínicas, em média, esteja em torno de 10% ao ano, com


base no crescimento de vendas da indústria de diagnóstico in vitro, segundo dados
da Câmara Brasileira de Diagnóstico (CBDL).

O aumento das classes econômicas C e D é outro fator que levou as


empresas a focar investimentos e atuações nesse ramo, oferecendo exames a
preços acessíveis e abrangendo a população não beneficiária de assistência privada
e que encontra dificuldades no atendimento público.

O processo de consolidação do mercado de medicina diagnóstica, ainda que


incipiente, deverá continuar pelas próximas décadas e possivelmente atrairá novos
grupos interessados nesse modelo de crescimento. Entende-se como principal
benefício da consolidação, a velocidade de crescimento e de geração de escala para
as companhias alcançarem seus objetivos de custos e sinergias.

A associação entre diversas empresas nos denominados clusters de


produção traz como principais benefícios a redução de custos diretos e a troca de
experiências técnicas e de gestão; e deve continuar como uma das tendências
desse mercado e ampliar seu escopo para maior integração de diferentes áreas das
empresas, alcançando sinergias em setores administrativos, por exemplo. Esse
modelo deve ter sua base de crescimento e de atuação de forma regional
(CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

Outra tendência é o aumento das empresas denominadas nicho, isto é,


aquelas que se posicionam de forma específica em seus produtos e serviços,
oferecendo testes diferenciados e tecnologias novas.

e) Automação, consolidação e integração

Tradicionalmente, os laboratórios operam de forma departamentalizada e


orientada por serviços (bioquímica, endocrinologia, hematologia, etc.). Esse modelo
de operação demonstrou ser pouco eficiente e, por outro lado, a consolidação e a
integração entre as áreas geram redução dos custos dos laboratórios e tende a
aumentar com a utilização da automação pré-analítica (MARKIN; WHALEN, 2000
apud CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

Automação laboratorial consiste na integração entre hardware e software


desenhados para o processamento e a análise por completo das amostras e evoluiu
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de uma operação com base em aspectos mecânicos nos anos 1970 para um
sistema orientado por informações complexas na década de 1990.

Os métodos automáticos foram introduzidos na patologia clínica/medicina


laboratorial nos anos 1950 pela Technicon por meio dos conceitos de fluxo contínuo.
Uma das principais evoluções foi a utilização de equipamento multicanal, que
permitiu a realização de dosagens de diversas substâncias em únicas plataformas.

Atualmente, a maioria do volume processado nos laboratórios de análises


clínicas está contemplada pelos equipamentos automatizados. Apesar de
estimarmos mais de 5 mil tipos diferentes de exames disponíveis no mercado, um
número reduzido destes é responsável por mais de 80% das rotinas técnicas em
laboratórios com perfis ambulatoriais e hospitalares. As empresas voltadas para o
mercado de apoio ou referência laboratorial apresentam um mix de exames
diferente, sendo que as técnicas manuais ou “especializadas”, como
radioimunoensaio, biologia molecular, cromatografia, entre outras, absorvem uma
parte significativa do total de exames processados.

A consolidação de um número maior de tipos de ensaio e metodologia em


equipamentos gera resultados importantes aos laboratórios em termos de
produtividade, diluição de custos de insumos acessórios, menor manipulação de
amostras, menor número de tubos por pacientes e, consequentemente, menor
chance de erros.

A automação em análises clínicas pode ser dividida em três principais


modelos de operação, com base na disposição dos hardwares envolvidos: a)
Automação Modular (MA); b) Automação Total (TLA); e, c) Automação Direcionada
por Tarefas (TTA).

Todas essas modalidades integram, de diferentes formas, as fases pré-


analítica, analítica e pós-analítica. A implementação de um tipo ou outro de
automação requer estudo detalhado e avaliação de variáveis diversas, como volume
de exames, mix de exames, atributos estratégicos desejados para a operação,
níveis de serviços acordados com clientes, capacidade instalada e previsão de
crescimento, necessidade de investimento, retorno sobre o capital investido e custo-
benefício (CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

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autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e recuperação de dados – sem
o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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A escolha do modelo de operação deve considerar também o processo de


produção do laboratório, sua relação com a assistência em saúde e o foco da
empresa como negócio, resultando em indicadores financeiros (preferencialmente
retorno sobre investimento (ROI), operacionais e de melhoria dos processos
(ANVISA, 2008).

Aqui os principais pontos-chave para a implementação de automação


laboratorial seriam: envolvimento de todas as partes relacionadas (stakeholders),
com destaque para os funcionários e a equipe, justificativas financeiras e de
investimentos, utilização de ferramentas de gerenciamento de projetos, alinhamento
com o Sistema de Informação Laboratorial (LIS), definição de mix de exames a ser
processado, estudo de logística de materiais, entre outros (YOUNG, 2000 apud
CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

Os autores ressaltam que a evolução da automação laboratorial, em todas


as suas fases, está intimamente relacionada com a evolução em tecnologia da
informação (TI), incluindo os processos automáticos pós-analíticos, por meio de
fluxogramas de interpretação (delta check, lógica fuzzy, etc), protocolos de repetição
e diluição de exames, testes reflexos, etc.

f) Tecnologia da informação

A TI é uma das principais forças de mudança no mercado de medicina


diagnóstica e permitirá uma integração cada vez maior dos diferentes players e
segmentos da cadeia, como fontes pagadoras, prestadores, fornecedores, etc., e um
controle mais eficaz da operação em todos os seus níveis, auxiliando na geração de
valor a todas as partes relacionadas.

A seguir, as principais tendências e modificações estruturais que a TI trará


para o mercado de medicina diagnóstica, isto é, o direcionamento da informação do
laboratório clínico do futuro:

integração técnica e organizacional dos processos laboratoriais e


gerenciamento da informação;

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o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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evolução dos laboratórios para organizações virtuais/digitais desenhadas para


relacionar-se com redes descentralizadas;

evolução das bases de LIS para arquiteturas com base na internet;

evolução dos laudos com base em texto para bases de imagens e internet;

ênfase na necessidade de informação dos clientes (médicos e pacientes);

maior preocupação com segurança, confidencialidade e legislações.

Um importante exemplo de evolução da TI em saúde é o estabelecimento,


por parte da ANS, de um padrão de Troca de Informação em Saúde Suplementar
(TISS), para registro e intercâmbio de dados entre as operadoras e os prestadores
de saúde, prevendo benefícios, como maior velocidade na comunicação, redução do
uso de papel, facilidade na obtenção de dados para estudos epidemiológicos,
realização de análises de custos, benefícios e investimentos, redução de custos
administrativos, comparação de desempenho entre instituições e melhoria na
qualidade da assistência à saúde. Ressalte-se que estes são os objetivos da TISS e
não os resultados alcançados até o momento.

g) Medicina personalizada e genética

A medicina personalizada também é uma das tendências da assistência


médica no mundo. Podemos defini-la como a utilização da genética e das
características individuais como direcionadora dos métodos diagnósticos e
terapêuticos. Os principais exemplos da medicina personalizada referem-se aos
testes genéticos que designam escolhas terapêuticas individuais. Os testes
genéticos já validados devem ser submetidos a estudos de sensibilidade,
especificidade e valores preditivos em relação aos genótipos (validação analítica) e
resultados assistenciais (validação clínica), assim como deve ser definido o custo-
benefício de cada um desses ensaios, direcionando, principalmente para a
população-alvo, implicações sociais, fenotípicas e de resultados financeiros
(CAMPANA; OPLUSTIL; FARO, 2011).

Algumas dificuldades e barreiras existem para a introdução dessa medicina


na prática, como descobertas e definições que doenças de alta prevalência, como
neoplasias, doenças cardíacas e diabetes, têm como base etiológica os

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componentes genéticos complexos e não mendelianos, dificultando a identificação


dessas mutações. Variantes de múltiplos genes contribuem para uma pequena parte
do risco total do paciente.

Diversas dificuldades são encontradas na introdução desses testes nas


rotinas médicas, como o relacionamento com as fontes pagadoras, pois ainda são
testes de alto valor, e a necessidade de estudos clínicos que demonstrem
claramente o benefício da medicina personalizada.

A evolução dos testes moleculares tornará essa metodologia acessível aos


laboratórios clínicos, por meio de screenings de predisposições genéticas às
doenças específicas, detecção de doenças infecciosas e determinação de
expressões gênicas e moleculares. São previstos também a integração dessas
metodologias à automação já existente, introduzindo esses ensaios nas rotinas
laboratoriais.

O advento desses testes genéticos implica em uma compreensão de


qualidade de vida pelos pacientes de forma ambígua, podendo ser positiva pela
possibilidade de prevenir a doença ou negativa pelo conhecimento da probabilidade
de desenvolvê-la. Além disso, completam Campana, Oplustil e Faro (2011), devem
ser considerados estudos de avaliação de tecnologias em saúde.

2.6 Identificação e avaliação de riscos e perigos

Embora tenhamos um módulo específico para estudarmos a questão da


biossegurança, é oportuno relembrar algumas reflexões iniciais sobre os riscos e
perigos decorrentes da atividade relacionada com a medicina laboratorial.

Faria et al. (2011) resumem perigo e riscos da seguinte maneira:

Os perigos no ambiente de trabalho estão relacionados com qualquer tipo de


fonte potencialmente danosa, em termos de lesões, ferimentos ou danos para a
saúde ou uma combinação desses fatores.

Os riscos são consequências dos perigos existentes no laboratório. Os


laboratórios clínicos apresentam múltiplos riscos ocupacionais aos trabalhadores,
categorizados como riscos biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e para
ocorrência de acidentes. É importante o laboratório identificar os riscos, avaliar os
Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
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impactos que podem afetar o negócio e estabelecer critérios de priorização para a


tomada de decisões, implementando estratégias e ações preventivas, a fim de evitar
a instalação de falhas ou danos potenciais.

A norma NBR ISO 31000:2009 – gestão de riscos, princípios e diretrizes, da


Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), orienta e facilita essa
identificação em sua avaliação e na priorização para a tomada de decisões,
propiciando a implantação de estratégias para melhorar a gestão de riscos
laboratoriais.

Perigo no ambiente de trabalho é definido como qualquer fonte, situação ou


ato com potencial para dano em termos de lesões, ferimentos ou danos para a
saúde ou uma combinação destes. Já o risco é consequência do perigo. Portanto, se
os perigos estiverem ausentes, não há riscos no ambiente de trabalho. Como isso é
praticamente impossível, trabalha-se na minimização do risco e dos impactos por
meio de ações de bloqueio, mecanismos de controle e educação dos envolvidos,
buscando-se maiores níveis de conscientização para as questões de saúde e
segurança ocupacionais.

Como o laboratório clínico é um lugar com inúmeras fontes de perigo, torna-


se relevante o levantamento dos perigos para identificá-los adequadamente e avaliar
os riscos a que estão submetidos os trabalhadores e terceiros que prestam serviços
em suas instalações e vizinhança. Em consequência, os riscos no laboratório são
multidimensionais, tanto do ponto de vista da estabilidade como da previsibilidade
dos resultados. A gestão de riscos envolve necessariamente todos os níveis da
empresa.

Por que insistimos nessa questão? Devido a importância de alertá-los para a


questão da sustentabilidade e da continuidade da realização dos serviços, que se
relaciona com a implantação e a manutenção de um ambiente saudável no
laboratório.

A norma Occupational Health and Safety Assessment Series (OHSAS),


18001:2007, contribui para o planejamento no reconhecimento dos perigos, na
identificação dos riscos de exposição e, essencialmente, na promoção de ações,
orientando a introdução de mecanismos de controle operacionais, o monitoramento

Todos os direitos são reservados ao Grupo Prominas, de acordo com a convenção internacional de direitos
autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
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das ações de bloqueio e o estabelecimento de instruções de trabalho associadas ao


assunto.

Considerar todos esses fatores de exposição dos trabalhadores em um


sistema de gestão de saúde e segurança ocupacional é fundamental para o
desenvolvimento de boas práticas e vigilância na saúde do trabalhador, criando-se
um ambiente de trabalho seguro (FARIA et al., 2011).

Os perigos mais comuns no cotidiano podem ser divididos em físicos,


químicos, biológicos, ergonômicos e acidentes. Durante a jornada de trabalho, os
funcionários do laboratório estão continuamente expostos a situações de risco, que
podem gerar danos à sua saúde.

Objetivamente, os agravos à saúde relacionados com o trabalho estão


classificados em dois grupos. No primeiro, correlacionados com aspectos de
segurança no ambiente de trabalho, incluem-se aqueles que demonstram a ruptura
abrupta do equilíbrio entre as condições, o ambiente de trabalho e a saúde do
trabalhador, como os acidentes do trabalho e as intoxicações agudas de origem
profissional. O segundo grupo inclui os agravos de caráter crônico, isto é, a doença
profissional típica, definida como inerente ou peculiar a determinado ramo de
atividade. Essa categoria envolve as doenças relacionadas com o trabalho, que a
Organização Mundial da Saúde (OMS) define como agravos, outros que, em adição
a doenças profissionais legalmente desconhecidas, ocorrem em trabalhadores
quando o ambiente ou condições contribuem significativamente para a ocorrência de
doenças, porém em graus variados de magnitude.

Os riscos físicos no laboratório envolvem a exposição excessiva a ruídos


(por exemplo: centrifugação de materiais biológicos e automação laboratorial),
radiações ionizantes (por meio da manipulação de radioimunoensaios) e variações
de temperatura (ar condicionado, câmaras frias, autoclaves).

Profissionais de saúde têm mais riscos de exposição a certas doenças


infecciosas transmissíveis por via respiratória, devido à exposição a sangue e fluidos
orgânicos, por via fecal-oral e por contato. A exposição ocupacional ao material
biológico representa um risco aos trabalhadores dos laboratórios clínicos, devido à
possibilidade de transmissão de patógenos, como os vírus das hepatites B e C (HBV

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e HCV) e o vírus da imunodeficiência humana (HIV). As consequências dessa


exposição podem afetar diretamente os trabalhadores, atingindo-os nos aspectos
físico, psicológico, familiar e social.

As avaliações de risco e vigilância em saúde para a exposição a agentes


químicos no ambiente de trabalho se justificam pelo crescimento do uso de
substâncias químicas nas atividades de produção, armazenamento e transporte.
Isso também pode ocasionar um impacto marcante no meio ambiente e na saúde do
homem, tanto em razão da exposição ocupacional quanto da contaminação
ambiental decorrente deles. Em nível global, essa exposição também aumenta no
número de trabalhadores expostos a esses riscos. Porém, nem sempre a exposição
a produtos químicos resulta em efeitos prejudiciais à saúde. Ela dependerá de
fatores como tipo de agente químico e sua concentração, frequência e duração da
exposição, práticas e hábitos laborais e suscetibilidade individual.

Acidentes químicos correspondem a eventos agudos, como explosões,


incêndios e emissões, atuando individualmente ou combinados, envolvendo uma ou
mais substâncias perigosas, com potencial de causar simultaneamente múltiplos
danos ao meio ambiente e à saúde dos seres humanos expostos. A ampliação das
consequências desses acidentes não se restringe somente à possibilidade de
causar óbito, mas engloba o potencial da gravidade e a extensão de seus efeitos,
que podem ultrapassar os limites espaciais (laboratório, vizinhança, cidade) e
temporais (teratogênese, carcinogênese, mutagênese e danos a órgãos-alvo
específicos).

No laboratório, há outros fatores de exposição, como os ergonômicos,


mecânicos e de acidentes, que também impactam a integridade da saúde dos
trabalhadores.

Os riscos ergonômicos e psicossociais no laboratório decorrem da


organização e da gestão do trabalho; podem ser apontados os esforços repetitivos,
os turnos diferenciados de trabalho e o controle rígido da produtividade. As medidas
ergonômicas relacionadas com a postura no ambiente de trabalho, assim como as
soluções implementadas preventivamente, são mais positivas, especialmente
quando associadas à utilização de técnicas corretas no processo de trabalho
(BRASIL, 2001; SILVA, 1998).
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Enfim, para cada macroprocesso, é preciso conhecer atividades e situações


presentes em suas operações, regime da atividade, perigos relacionados, danos
potenciais, controles vigentes (equipamentos de proteção coletiva e individual,
procedimentos, sinalizações) e postura em relação à segurança. A identificação de
perigos considera as interações dos processos com funcionários, contratados,
visitantes, clientes e vizinhança. Nela, o comportamento humano precisa ser
considerado, devido à possibilidade de adesão ou não aos programas de Saúde e
Segurança Ocupacional (SSO).

Os perigos devem ser avaliados em todas as situações, corriqueiras/normais


do cotidiano laboratorial ou anormais, e para os potenciais acidentes que podem vir
a acontecer no âmbito laboratorial. Deve-se observar, nessa avaliação, a existência
ou não de legislação específica aplicável ao ambiente de trabalho que está tendo
seus perigos e riscos avaliados. É importante considerar o layout do local de
trabalho, os processos, as instalações, os equipamentos, os procedimentos
operacionais e a organização do trabalho, o qual deve ser revisto periodicamente,
condicionando-se a remodelações nos processos, inovações de área física e/ou
introdução de novas atividades. A responsabilidade pelo levantamento é dos
gestores em conjunto com os responsáveis de cada atividade.

O detalhamento dos danos potenciais é importante porque são essas as


informações que auxiliarão a formação de critérios a serem usados na classificação
dos riscos. Para facilitar essa tarefa, recomenda-se a preparação prévia de uma
tabela com os perigos e danos correspondentes. Nela descrevem-se a natureza, o
tipo do perigo e o dano correspondente com a pontuação para seu nível de
severidade: discretamente prejudicial (1); prejudicial (2); e, extremamente prejudicial
(3).

Os riscos podem ser reduzidos a partir da seguinte hierarquia: eliminação,


substituição, controles de engenharia, sinalizações de riscos e equipamento de
proteção individual.

As mudanças impactam vários aspectos no laboratório, como cultura,


métodos de trabalho, tecnologias e formas como os indivíduos interagem entre si, e
os processos sobre os quais passarão a atuar (FARIA et al., 2011).

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UNIDADE 3 - HISTÓRIA E CONCEITO DE MICROBIOLOGIA

Microbiologia é o ramo da Biologia dedicado ao estudo dos seres vivos


microscópicos, geralmente muito pequenos para serem observados a olho nu. A
palavra “microbiologia” deriva de três palavras gregas: mikros, pequeno; bios, vida;
e, logus, ciência. No campo da Microbiologia estão incluídas as bactérias

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(Bacteriologia), fungos (Micologia), vírus (Virologia), algas microscópicas e


protozoários (Parasitologia ou Protozoologia).

Como microrganismos não podem ser vistos a olho nu, apesar de alguns
tipos de bactérias, algas e fungos terem sido observados por Leeuwenhoek (1675),
foi somente com o desenvolvimento de modernos microscópios ópticos compostos,
do microscópio eletrônico e de técnicas especializadas que os pesquisadores
tomaram conhecimento do grande número e da variedade de microrganismos.

Nosso meio ambiente está repleto de microrganismos, tanto que as


bactérias e os fungos degradam resíduos orgânicos como plantas e animais mortos,
despejos de esgoto e restos de alimentos, representando o grupo de seres vivos
mais amplamente distribuído na Natureza.

Calcula-se que em cada indivíduo existem 100 trilhões de microrganismos,


que estão distribuídos na pele e mucosas, cabelos, superfícies dos dentes e ao
longo do intestino. Cada grama de fezes humanas contém cerca de 10 milhões de
bactérias (JORGE, 2010).

A princípio, os microrganismos foram considerados apenas como objetos de


especulação, com pouco significado. Entretanto, com a contribuição de vários
pesquisadores, a visão e a importância dos microrganismos mudou rapidamente.

3.1 Alguns trabalhos importantes ao longo dos séculos

Antony Van Leewenhoek (1632-1723) foi o primeiro homem a observar


microrganismos. Durante cinquenta anos, em Delft, na Holanda, Leewenhoek
realizou observações com ajuda de um microscópio rudimentar com aumentos
calculados entre cinquenta a trezentas vezes. Com esses instrumentos, o
pesquisador realizou notáveis observações e descrições das formas microscópicas
de vida. Entre suas observações, podem ser encontradas descrições de
protozoários, formas básicas de bactérias, fungos e algas. Em 17 de setembro de
1683, Leewenhoek relatou observações de microrganismos encontrados em sua
cavidade bucal, com precisão de detalhes, descrevendo formas e movimentos, o
que é aceito até os dias atuais. Novas observações de microrganismos bucais
(superfície de dentes e língua) foram relatadas em cartas redigidas entre 1697 e
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1708. Observações de muitas outras descobertas do mundo microbiano foram


relatadas e enviadas à Royal Society of London, considerada principal instituição
científica da época.

O francês Louis Pasteur (1822-1896) foi o primeiro cientista a atribuir uma


função biológica para os microrganismos. As contribuições de Pasteur foram
responsáveis por medidas mais eficazes na prevenção de doenças infecciosas e na
compreensão dos aspectos básicos da vida dos microrganismos.

Pasteur relatou importantes descobertas nas fermentações microbianas,


pasteurização de produtos e alimentos e desenvolvimento de importantes vacinas
efetivas frente a doenças como carbúnculo e raiva. O pesquisador contribuiu para a
queda da teoria da geração espontânea, para o desenvolvimento de métodos de
controle de microrganismos, assim como na relação entre esses microrganismos e
doenças humanas e de animais.

Robert Kock (1843-1910), médico alemão, demonstrou de maneira direta o


significado etiológico das bactérias como agentes de doença infecciosa, o que foi
confirmado posteriormente por Pasteur e outros cientistas.

Kock estabeleceu uma sequência definida de etapas experimentais para


demonstrar e comprovar que determinado microrganismo era, de fato, agente
etiológico de determinada doença. A base teórica dessas etapas foi, na verdade,
proposta por Jacob Henle, em 1840. Entretanto, com os experimentos de Kock
comprovando correlação entre Bacillus anthracis e o carbúnculo, a teoria microbiana
de doenças foi confirmada (JORGE, 2010).

As etapas do Postulado de Koch são as seguintes:

a) O agente etiológico deve ser encontrado em todos os casos da doença.

b) O microrganismo deve ser isolado do hospedeiro e crescer em cultura pura.

c) A cultura pura do microrganismo suspeito deve reproduzir a doença específica


após sua inoculação em animal suscetível.

d) O mesmo microrganismo deve ser novamente isolado do hospedeiro infectado.

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Joseph Lister (1827-1912), médico inglês, impressionado com os trabalhos


de Pasteur sobre microrganismos, concluiu que a infecção cirúrgica, muito comum
na época, deveria ser de origem microbiana.

Lister estabeleceu uma série de procedimentos visando prevenção de


acesso de microrganismos aos ferimentos após atos cirúrgicos, como esterilização
de instrumentais e aplicação de antisépticos nos ferimentos. Os processos de Lister
foram inicialmente recebidos com críticas pela medicina da época, mas
posteriormente provaram ser um meio eficaz para prevenir infecção cirúrgica,
estabelecendo-se, assim, a assepsia em atos cirúrgicos utilizada atualmente.

3.2 Caracterização e classificação dos microrganismos

A unidade fundamental dos seres vivos é a célula. Considerando-se a


estrutura celular, os microrganismos podem ser divididos em procarióticos e
eucarióticos. Células procarióticas não apresentam membrana nuclear separando
citoplasma e núcleo e não apresentam organelas celulares delimitadas por
membranas. As células eucarióticas diferenciam-se por seu tamanho maior,
presença de núcleo definido e organelas celulares envolvidas por membrana. A
tabela a seguir apresenta as principais diferenças entre uma célula bacteriana
(procariótica) e uma célula humana (eucariótica).

Características dos principais grupos de microrganismos estudados em


Microbiologia.

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1. Para comparação, a célula vermelha do sangue tem o diâmetro de 7 mm.


2. As células dos helmintos dividem-se por mitose, entretanto, alguns organismos dividem-se por
ciclos sexuais complexos.
Fonte: Baseado em Levinson & Jawetz (1998, p. 12 apud JORGE, 2010, p. 9).

Os procariotos são representados pelas bactérias, pertencem ao reino


Monera, normalmente obtêm nutrientes somente por absorção e não podem ingerir
alimentos ou realizar fotossíntese. Os microrganismos eucarióticos, incluídos no
reino Protista, compreendem protozoários, algas e fungos (incluídos no reino Fungi).

Os eucariotos e os procariotos são considerados organismos porque contêm


todas as enzimas indispensáveis à sua reprodução, bem como mecanismos
necessários para produção de energia metabólica. Outro grupo de microrganismos,
os vírus, dependem de células hospedeiras para o desempenho de suas funções
vitais.

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3.3 Taxonomia e nomenclatura

Taxonomia de microrganismos é a ciência que tem por objetivo ordenar a


grande diversidade biológica desses seres vivos. Qualquer estudo taxonômico é
sistemático e depende de dados acurados que caracterizam os microrganismos sob
investigação. A taxonomia abrange três áreas inter-relacionadas: a classificação, a
nomenclatura e a identificação.

a) Classificação

A classificação consiste no arranjo ordenado dos microrganismos com


características semelhantes, separando-os daqueles com características
divergentes, em grupos denominados taxa (singular táxon). A classificação dos
microrganismos é feita pela observação de dados morfológicos, bioquímicos,
biológicos, genéticos e ecológicos.

O sistema de classificação biológica está baseado na hierarquia taxonômica,


que permite ordenar grupos de seres vivos em categorias ou posições:

a) Espécie: abrange um grupo de microrganismos afins.

b) Gênero: agrupa as espécies similares.

c) Família: constituída de gêneros relacionados.

d) Ordem: conjunto de famílias com características comuns.

e) Classe: conjunto de ordens relacionadas.

f) Divisão: reunião de classes relacionadas.

g) Reino: reúne todos os organismos em uma determinada hierarquia.

b) Nomenclatura

Designa nomes aos grupos taxonômicos de acordo com preceitos


estabelecidos em normas internacionais. A nomenclatura dos microrganismos, com
exceção dos vírus, utiliza o sistema binomial estabelecido por Linnaeus, comum a
todos os seres vivos.

O nome do microrganismo consiste de duas palavras: a primeira determina o


gênero e a segunda a espécie. O nome do gênero deve ser escrito com a primeira

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o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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letra em maiúsculo e da espécie em minúsculo. As duas palavras devem ser


diferenciadas do texto, em itálico ou grifadas.

Exemplo: Staphylococcus aureus Staphylococcus aureus

(gênero) (espécie) (gênero) (espécie)

Aceita-se que o nome do gênero seja abreviado, com a primeira letra


grafada em maiúsculo, seguido de ponto, espaço e a palavra que designa a espécie.
Na primeira vez que o nome do microrganismo aparecer em um texto deve-se
escrever o nome do gênero por extenso.

Exemplo: S. aureus ou S. aureus

Quando o gênero é seguido pela palavra “species” ou “spp.”, a palavra que


designa o gênero é italizada ou sublinhada. Para a palavra species ou spp. é mais
usual que não seja grifada ou italizada.

Staphylococcus species ou Staphylococcus spp.


Staphylococcus species ou Staphylococcus spp.
O nome de subespécie consiste em uma palavra em itálico ou grifada, após
o nome da espécie seguida da abreviatura ss.

Exemplo: Salmonella enterica ss. enterica

Quando o nome do microrganismo for referido como grupo, não se escreve


com maiúsculo, itálico ou grifado. Palavras que designam grupos sorológicos ou
nomes de grupos também não são italizadas ou grifadas.

Exemplos: Os estafilococos são microrganismos Gram-positivos.

A cepa isolada constituiu-se de Streptococcus pyogenes beta hemolítico do


grupo A.

Bactérias com características similares são agrupadas em famílias. Apesar


de usualmente em taxonomia o nome de família ser italizado, a norma clássica de
nomenclatura recomenda que não deve ser grifada ou italizada.

A primeira letra da palavra que designa família deve ser em letra maiúscula.

Exemplo: A bactéria Escherichia coli pertence à família Enterobacteriaceae.

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UNIDADE 4 – ISOLAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DE


MICRORGANISMOS

Na natureza, os microrganismos existem em culturas mistas. Antes de


identificar espécies individuais de uma população microbiana mista, é necessário
isolar as diferentes espécies em cultura pura.

O isolamento de um microrganismo é a obtenção de sua cultura pura,


separando-o de outros que se encontrem no mesmo material. A seguir, procede-se a
uma série de observações e testes laboratoriais com a finalidade de proceder à
identificação do microrganismo, na tentativa de enquadrá-lo em grupo, gênero e, se
possível, espécie (JORGE, 2010).

4.1 Cultura pura – o que é e como obter

Cultura Pura é a obtenção in vitro de uma população contendo 106 a 109


bactérias idênticas. A obtenção de uma cultura pura de determinado microrganismo
propicia o estudo de características microscópicas, coloniais, bioquímicas e
sorológicas do referido microrganismo.

a) Métodos de Obtenção de Culturas Puras

Quando se deseja isolar uma bactéria que cresce facilmente em meio de


cultura, o material coletado é semeado em meio sólido adequado, de maneira a
obter colônias isoladas. Após o desenvolvimento da cultura, “pescam-se” as colônias
de bactérias que se deseja isolar, transferindo-as para tubos contendo meio
apropriado, onde irão desenvolver culturas puras do microrganismo em questão.

Quando, porém, o material contém poucas bactérias daquelas que se deseja


isolar e a contaminação é abundante, podem-se utilizar, de acordo com
características próprias do microrganismo desejado, os seguintes recursos:

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aquecimento do material; ação de álcalis ou ácidos fortes; meios enriquecidos e


seletivos; e inoculação em animal sensível.

4.2 Manutenção de culturas

Com a finalidade de manter os microrganismos vivos e com suas


características em cultura pura de laboratório, os seguintes recursos podem ser
utiIizados:

repique frequente – transferência de um inóculo da bactéria para novo meio


de cultura. Tem a finalidade de renovar nutrientes e impedir acumulação de
produtos tóxicos decorrentes do metabolismo bacteriano no meio de cultura.
A frequência de repique depende do microrganismo que se deseja manter e
do meio de cultura utilizado;

congelamento – uma suspensão espessa de células jovens é misturada a um


meio “protetor”, como leite desnatado, sangue ou soro, e é rapidamente
congelado em banho de dióxido de carbono sólido (gelo seco), nitrogênio
líquido ou álcool (-78°C), sendo mantida a mesma temperatura numa caixa de
gelo seco ou num refrigerador mecânico;

liofilização – consiste em desidratar a cultura congelada em alto vácuo, para


retirada de água. Há necessidade de equipamento especializado (liofilizador).
Culturas liofilizadas podem ser armazenadas por longo tempo, à temperatura
ambiente, ou preferivelmente em refrigerador comum.

4.3 Contagem e identificação de bactérias e fungos

A contagem e identificação visam o cálculo do número de microrganismo em


determinado local. É frequentemente utilizada quando se deseja inocular em animais
ou em meios de cultura número conhecido de microrganismos. O cálculo pode ser
obtido por:

contagem direta – feita diretamente no microscópio, em câmaras especiais de


contagem (semelhantes às câmaras para contagem de células sanguíneas).

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Contam-se os microrganismos vivos e mortos. Pode-se, nesta técnica, utilizar


corantes vitais (Azul de Toluidina), os quais irão corar as células mortas;

contagem de viáveis – informa somente o número de células capazes de se


multiplicar, para dar origem a uma colônia, quando a suspensão é semeada
na superfície de meio sólido, geralmente em placas de Petri, ou inoculada em
profundidade (pour-plate).

Padronização nos graus de turvação: é calculado o número aproximado de


microrganismos de acordo com a quantidade de turvação que produz em
meio líquido. O cálculo do número de microrganismos é dado por comparação
com uma escala padrão (Escala de McFarlane), ou, mais precisamente,
através do espectrofotômetro.

4.4 Isolamento de aeróbios e anaeróbios

Para microrganismos aeróbios, após a semeadura, as placas ou tubos com


meio de cultura são mantidos em estufa a 37°C em presença de oxigênio do ar
atmosférico. Quando se deseja obter teor de CO2 de aproximadamente 10%, utiliza-
se o método da vela; nesse método, as placas semeadas são colocadas em um
recipiente com tampa (por exemplo, uma lata, onde se acende uma vela). A tampa
é, então, colocada e o recipiente vedado com fita crepe ou parafina. Quando a vela
em seu interior se apagar, obtém-se um teor de CO2 de aproximadamente 10%.

Para o isolamento de anaeróbios, pode-se utilizar os seguinte métodos:

jarras e câmaras de anaerobiose – são recipientes hermeticamente fechados,


onde se consegue anaerobiose com uso de bomba de vácuo e/ou misturas
gasosas (Nitrogênio, CO2 e H). Uma alternativa a esse método é o uso de
misturas químicas que absorvem O2, colocadas dentro da jarra (por exemplo,
o sistema GAS-PAK).

meios redutores – meios de cultura com substâncias capazes de absorver o


oxigênio ou gerar H2 e CO2. Por exemplo, o meio de tioglicolato.

De acordo com a sistemática bacteriana para identificar as bactérias


procura-se observar características importantes para sua comparação e separação

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das demais. Na realidade, há uma observação sequencial com métodos e provas


que possibilitem a identificação do microrganismo em questão.

As características podem ser morfológicas, culturais, fisiológicas,


bioquímicas, antigênicas, experimental, genéticas e de acordo com sua composição
química estrutural.

4.5 Identificação e cultivo de protozoários, algas e vírus

As técnicas de isolamento e identificação dos fungos e algas microscópicos


dependem geralmente da observação de crescimento em meios de cultura ou nos
tecidos pelo exame direto.

O cultivo é frequentemente indispensável tanto para exame de fungos


patogênicos como para diagnóstico das doenças micóticas. As exigências nutritivas
dos fungos patogênicos são relativamente simples em comparação com as de
muitas bactérias patogênicas. Os fungos geralmente não são suscetíveis aos
antibióticos que agem sobre as bactérias. São, portanto, isolados facilmente em
meios seletivos específicos que não permitem o crescimento bacteriano em função
da falta de nutrientes ou da presença de antibióticos.

O exame da sistemática dos fungos patogênicos requer, em geral, que


tecidos e exsudatos das lesões sejam examinados para pesquisa da forma tecidual
dos microrganismos, como também exige o exame das características culturais.
Geralmente, a presença do microrganismo nos tecidos com lesões, com suas formas
características, é relativamente constante para cada espécie, sendo, portanto, um
recurso diagnóstico das doenças causadas por fungos (JORGE, 2010).

Na cultura, a morfologia colonial, a pigmentação e as características


coloniais são importantes. As características biológicas e bioquímicas,
particularmente o metabolismo dos carboidratos, são também de muita relevância.

a) CuItivo de Protozoários

Os protozoários são heterotróficos aeróbios com exigências nutricionais


complexas. Muitos não são cultivados in vitro, e aqueles que o são exigem
variedade de aminoácidos, vitaminas e carboidratos. Requerem pH na faixa de 6 a 8
para crescimento ótimo.

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Algumas amebas podem crescer em caldo peptonado simples; outros


protozoários necessitam, entretanto, de emulsões de tecidos cerebrais, soro fetal ou
infusão de fígado para crescimento.

b) Cultivo de algas

As algas são, geralmente, fotoautotrópicas, requerendo apenas CO2, água e


íons inorgânicos solúveis na presença de luz para seu crescimento. Meios
complexos para algas contêm suplementos como extrato de soja ou outras fontes de
nutrientes. Existem poucos meios padronizados, disponíveis comercialmente para
crescimento de algas. Algas patogênicas, do gênero Prototheca, afetam homens e
animais, produzindo doenças com maior frequência em pele e tecido subcutâneo,
podendo haver disseminação sistêmica. São eucariotas, aclorofiladas e
heterotróficas. São cultivadas em ágar Sabouraud dextrose (25 a 37°C/48 horas).

c) Cultivo de Vírus

Os vírus são parasitas intracelulares obrigatórios, que exigem células vivas


para crescimento e replicação. Para seu estudo utilizam-se os seguintes métodos:

microscopia óptica – devido ao seu pequeno tamanho, os vírus não são


visualizados em microscopia óptica. Esse método é utilizado no estudo dos
vírus para observação de corpúsculos elementares ou inclusões nas células
que parasitam, ou para observação das alterações histopatológicas típicas
que provocam nos tecidos;

microscopia eletrônica – método de escolha para estudo das características


estruturais dos vírus. É possível determinar, com o uso do microscópio
eletrônico, características morfológicas, tamanho e estrutura dos vírus;

métodos de isolamento – o isolamento e identificação dos vírus, a partir de


espécimes clínicos ou de materiais de pesquisa, podem ser desenvolvidos
por meio de numerosos métodos, não havendo, contudo, uma técnica única
que seja satisfatória para o estudo de todos os vírus. A primeira fase da
identificação laboratorial de um vírus é a coleta e manutenção adequadas dos
espécimes, para posteriormente serem inoculados em animal sensível,
culturas de células ou ovos embrionados;

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inoculação em animal sensível – tem por finalidade reproduzir sintomas da


doença e também a manutenção de alguns tipos de vírus no laboratório. São
utilizados diversos animais como macacos, ratos, camundongos, cobaias,
hamster, de acordo com o tipo de vírus que se deseja estudar. Por exemplo,
para o vírus da raiva utiliza-se o cão, para a caxumba e poliomielite o macaco;

cultivo em ovos embrionados – são utilizados ovos embrionados de galinha


ou pata, de cinco a doze dias, inoculando-se o vírus através de orifício na
casca do ovo. Pode-se inocular, de acordo com o vírus, sobre a membrana
cório-alantóide, na cavidade alantóide, na cavidade amniótica e no saco
vitelino;

cultura de tecidos – fragmentos tissulares são tratados com tripsina,


separados por centrifugação e as células ressuspensas em meio nutritivo
multiplicam-se e formam camadas monocelulares que aderem a frascos
apropriados, propiciando renovação periódica do meio.

- Culturas primárias: obtidas de tecidos normais, geralmente de animais.

Exemplo: células renais de macacos.

- Culturas de células estáveis (linhagem contínua): culturas de células que


sobreviveram a mais de cinquenta passagens in vitro. Exemplos:

a) Células HeLa: linhagem obtida inicialmente de carcinoma uterino humano,


mantida em crescimento in vitro.

b) Células Chang: obtidas de fígado humano.

c) Células BHK: obtidas a partir de rim embrionário de hamster.

d) Células Vero: obtidas de rim de macaco.

métodos antigênicos – são realizadas para pesquisa de características


estruturais dos vírus (antígenos) utilizando-se anticorpos específicos. São
também utilizados para detecção de anticorpos antivírus no soro de
indivíduos ou de animais infectados (JORGE, 2010).

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IDADE 5 – ÉTICA E BIOÉTICA APLICADA ÀS CIÊNCIAS DA


SAÚDE

5.1 A filosofia prática

Produto da cultura humana que vem se desenvolvendo e aprimorando ao


longo dos séculos e, por isso mesmo, diretamente vinculada aos valores (que
consideramos como bons e justos) recebidos dos nossos antepassados, a ética vem
permeando a vida de cada ser humano, passando por momentos de indiferença, de
vivacidade, de aprimoramento, de conscientização, enfim, a ética está sempre
presente em nossas vidas.

Segundo Kazmierczak (2008), sempre que falamos em ética, temos a ideia


de um comportamento ideal, um comportamento conforme o padrão adotado por
uma coletividade.

Historicamente, com o passar do tempo, e com a submissão das civilizações


por outras mais poderosas, tornou-se claro que determinados valores acreditados
como bons e justos para determinada coletividade, apresentavam-se como não tão
certos para outras, justamente pelo fato de não possuirmos uma forma moral exata,
já que o moral e o justo tomam proporções e conceitos diversos nas também
diversas populações, com sua visão totalmente subjetiva e adaptadas ao modo de
viver de cada região do mundo, com diferentes culturas e modos de vida.

A moral e a ética, estão, assim, estreitamente ligadas aos processos de


evolução e de mudança da história. Nos dias de hoje, as palavras ética e moral são
abordadas constantemente nas instituições conhecidas por nós como a igreja,
família e algumas organizações culturais que tem o objetivo de cultivar em cada um
os valores éticos condizentes com a realidade em que vivemos, porém resgatando
ensinamentos básicos como ações humanitárias, igualdade entre todos e respeito às
outras pessoas.

A ética enquanto parte da Filosofia é um tipo de saber que se tenta construir


racionalmente, utilizando para tanto o rigor conceitual e os métodos de análise e
explicação da própria filosofia.
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autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada, seja por meios eletrônicos ou
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Como reflexão sobre as questões morais, a ética pretende desdobrar


conceitos e argumentos que permitam compreender a dimensão moral da pessoa
humana nessa sua condição moral, ou seja, sem reduzi-la a seus componentes
psicológicos, sociológicos, econômicos ou de qualquer outro tipo.

Podemos dizer que a ética, enquanto filosofia moral consegue explicar o


fenômeno moral, ou seja, consegue dar conta racionalmente da dimensão moral
humana e, com isto, conseguimos alcançar um maior grau de conhecimento de nós
mesmos, por conseguinte, um grau maior de liberdade.

Cortina e Martinez (2009, p. 09) dizem que nós filosofamos para encontrar
sentido para o que somos e fazemos e buscamos sentido para atender aos nossos
anseios de liberdade, pois consideramos a falta de sentido um tipo de escravidão.

Etimologicamente falando, ética vem do grego ethos, e tem seu correlato no


latim morale, com o mesmo significado: conduta, ou relativo aos costumes.
Etimologicamente, ética e moral são palavras sinônimas.

Em diferentes épocas, desde a Grécia antiga, vários pensadores


debruçaram-se e versaram sobre a ética: os pré-socráticos, Aristóteles, os Estóicos,
os pensadores Cristãos (Patrísticos, escolásticos e nominalistas), Kant, Espinoza,
Nietzsche, Paul Tillich, e muitos outros.

Esse é o princípio: conhecer e entender a ética enquanto um saber que


oriente nossas ações para sermos justos.

Comparativamente:

1. Ética é princípio moral são aspectos de condutas específicas.

2. Ética é permanente moral é temporal.

3. Ética é universal moral é cultural.

4. Ética é regra moral é conduta da regra.

5. Ética é teoria moral é prática.

Podemos falar também em ética normativa, moral quando se baseia em


princípios e regras morais fixas como, por exemplo, a ética profissional e ética
religiosa, ou seja, estas regras devem ser obedecidas; ética teleológica, imoral a

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qual se baseia na ética dos fins (os fins justificam os meios) e um bom exemplo é a
ética econômica: o que importa é o capital; por fim, temos uma ética situacional,
amoral, que se baseia nas circunstâncias, ou seja, tudo é relativo e temporal como,
por exemplo, a ética política (tudo é possível, pois em política tudo vale).

5.2 Maneiras de percebermos a moral

Como vimos acima, o termo moral é utilizado hoje em dia de maneiras muito
diferentes, dependendo dos contextos. Essa multiplicidade de usos dá lugar a
muitos mal-entendidos. Vamos observar que a palavra moral é algumas vezes
empregada como substantivo, outras vezes como adjetivo, e que ambos os usos
encerram, por sua vez, diferentes significações de acordo com os contextos.

O termo moral emprega-se às vezes como substantivo (“a moral”, com


minúscula e artigo definido), para referir-se a um conjunto de princípios, preceitos,
comandos, proibições, permissões, normas de conduta, valores e ideais de vida boa
que, em seu conjunto, constituem um sistema mais ou menos coerente, próprio de
um grupo humano concreto em uma determinada época histórica.

Nesse uso do termo, a moral é um sistema de conteúdos que reflete


determinada forma de vida. Esse modo de vida não costuma coincidir totalmente
com as convicções e os hábitos de todos e de cada um dos membros da sociedade
tomados isoladamente. Por exemplo, dizer que os romanos da época da República
eram pessoas trabalhadoras, austeras e combativas não significa que não houvesse
entre eles alguns que não merecessem tais qualificativos morais, e ainda assim tem
sentido manter essa descrição geral como síntese de um modo de ser e de viver que
contrasta com o de outros povos e com o que foram os próprios romanos mais tarde,
digamos, no Baixo Império.

A moral é, portanto, nessa acepção do termo, um determinado modelo ideal


de boa conduta socialmente estabelecido e, como tal, pode ser estudado pela
Sociologia, pela História, pela Antropologia Social e pelas outras Ciências Sociais.
No entanto, essas disciplinas adotam um enfoque claramente empírico, e desse
modo estabelecem um tipo de saber que chamamos de teórico, ao passo que a

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Ética pretende orientar a ação humana (ainda que de uma forma indireta), e em
consequência deve ser incluída entre os saberes práticos.

Ainda como substantivo, o termo moral pode ser usado para fazer referência
ao código de conduta pessoal de alguém, como quando dizemos que “Fulano possui
uma moral muito rígida” ou que “Beltrano carece de moral”. Falamos então do
código moral que guia os atos de uma pessoa concreta ao longo de sua vida: trata-
se de um conjunto de convicções e pautas de conduta que costuma constituir um
sistema mais ou menos coerente e serve de base para os juízos morais que cada
um faz dos outros e de si mesmo. Esses juízos, quando são emitidos em condições
ótimas de suficiente informação, serenidade, liberdade, etc., são chamados às vezes
de “juízos ponderados” (CORTINA; MARTINEZ, 2009). Tais conteúdos morais
concretos, pessoalmente assumidos, são uma síntese de dois elementos:

a. o patrimônio moral do grupo social a que alguém pertence; e,

b. a própria elaboração pessoal com base no que alguém herdou do grupo;


essa elaboração pessoal está condicionada por diferentes circunstâncias, tais como
idade, condições socioeconômicas, biografia familiar, temperamento, habilidade para
raciocinar corretamente, etc.

No geral, a maior parte dos conteúdos morais do código moral pessoal


coincide com os do código moral social, entretanto não é obrigatório que seja assim.
De fato, os grandes reformadores morais da humanidade, tais como Confúcio, Buda,
Sócrates ou Jesus Cristo, foram em certa medida rebeldes ao código moral vigente
em seu mundo social.

Outro modo de encontrarmos o termo Moral, mas ainda substantivo, só que


agora com inicial maiúscula, é para referir-se a uma “ciência que trata do bem em
geral, e das ações humanas conforme marcadas pela bondade ou pela malícia”.
Pois bem, essa suposta ciência do bem em geral a rigor não existe. O que existe é
uma variedade de doutrinas morais (moral católica, moral protestante, moral
comunista, moral anarquista, etc.) e uma disciplina filosófica, a Filosofia Moral ou
Ética, que por sua vez contém uma variedade de éticas diferentes, e até
contrapostas entre si (ética socrática, ética aristotélica, ética kantiana, etc.).

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Temos de insistir na distinção entre os dois níveis lógicos que representam


as doutrinas morais e as teorias éticas; enquanto as primeiras tratam de sistematizar
um conjunto concreto de princípios, normas, preceitos e valores, as segundas
constituem uma tentativa de explicar um fato: o fato de que os seres humanos se
orientam por códigos morais, o fato de que existe moral.

Mas a verdade é que no momento de elaborar determinada doutrina moral,


utilizam-se elementos tomados das teorias éticas, e vice-versa. De fato, as doutrinas
morais costumam ser construídas mediante a conjunção de elementos tomados de
diferentes fontes, as mais significativas dentre elas, sendo:

1. As tradições ancestrais acerca do bem e do mal, transmitidas de geração


em geração.

2. As confissões religiosas, com seu correspondente conjunto de crenças e


as interpretações dadas pelos dirigentes religiosos a tais crenças.

3. Os sistemas filosóficos (com sua correspondente Antropologia filosófica,


sua Ética e sua Filosofia social e política) de mais sucesso entre os intelectuais e a
população.

Precisamos não confundir que as doutrinas morais permanecem no plano


das morais concretas (linguagem-objeto), ao passo que as teorias éticas pretendem
remontar a reflexão até o plano filosófico (metalinguagem que considera as morais
concretas uma linguagem-objeto).

Existe um uso da palavra moral como substantivo que ajuda a compreender


a vida moral: são as expressões no masculino do tipo: “ter o moral bem elevado”,
“estar com o moral alto”, e outras semelhantes. Aqui moral é sinônimo de “boa
disposição de espírito”, “ter forças, coragem ou confiança suficiente para fazer frente
– com dignidade humana – aos desafios que a vida nos apresenta”. Essa acepção
tem uma profunda significação filosófica, sendo que a partir dessa perspectiva, a
moral não é apenas um saber, nem um dever, mas, sobretudo, uma atitude e um
caráter, uma disposição da pessoa inteira que abarca o cognitivo e o emocional, as
crenças e os sentimentos, a razão e a paixão, em suma, uma disposição de espírito
(individual ou comunitária) que surge do caráter que se tenha forjado previamente
(CORTINA, MARTINEZ, 2009).
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Por fim, os autores acima colocam uma última possibilidade de empregar o


termo “moral” como substantivo genérico: “a moral”. Desse modo estaremos nos
referindo a uma dimensão da vida humana: a dimensão moral, ou seja, essa faceta
compartilhada por todos que consiste na necessidade inevitável de tomar decisões e
levar a termo ações pelas quais temos que responder diante de nós mesmos e
diante dos outros, necessidade que nos impulsiona a buscar orientações nos
valores, princípios e preceitos que constituem a moral no sentido que expusemos
anteriormente.

Embora não tenhamos esgotado a moral como substantivo, vamos ver um


pouco da moral como adjetivo!

Na maioria das expressões em que aparece como adjetivo, a moral está


relacionada com a Ética, mas nem todas: por exemplo, quando dizemos que temos
“certeza moral” sobre algo, normalmente queremos dizer que acreditamos
firmemente nesse algo, embora não tenhamos provas que possam confirmá-lo ou
desmenti-lo. Esse uso do adjetivo “moral” é, em princípio, alheio à moralidade, e se
situa em um âmbito meramente psicológico, no entanto, em outras expressões como
“virtude moral”, “valores morais”, etc., há uma referência constante a essa dimensão
da vida humana chamada de “a moralidade”.

Em princípio, o adjetivo moral tem sentidos diferentes:

1. Moral como oposto a imoral. Por exemplo, diz-se que este ou aquele
comportamento é imoral, ao passo que aquele outro é um comportamento
realmente moral. Nesse sentido, é usado como termo valorativo, porque
significa que uma determinada conduta é aprovada ou reprovada; aqui utiliza-
se “moral” e “imoral” como sinônimo de moralmente “correto” e “incorreto”.
Esse uso pressupõe a existência de algum código moral que serve de
referência para emitir o correspondente juízo moral. Assim, por exemplo,
pode-se emitir o juízo “a vingança é imoral” e compreender que esse juízo
pressupõe a adoção de algum código moral concreto para o qual essa
afirmação é válida, ao passo que outros códigos morais – digamos, os que
aceitam a Lei de Talião – não aceitariam a validade desse juízo.

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2. Moral como oposto a amoral. Por exemplo, a conduta dos animais é amoral,
isto é, não tem nenhuma relação com a moralidade, pois se supõe que os
animais não são responsáveis por seus atos. Menos ainda os vegetais, os
minerais ou os astros. Em contrapartida, os seres humanos que atingiram um
desenvolvimento completo, e na medida em que possam ser considerados
“senhores de seus atos”, têm uma conduta moral. Os termos “moral” e
“amoral”, assim entendidos, não avaliam, mas descrevem uma situação:
expressam que uma conduta é ou não suscetível de qualificação moral
porque reúne, ou não reúne, os requisitos indispensáveis para ser posta em
relação com as orientações morais (normas, valores, conselhos, etc.).

A Ética tem que esclarecer quais são concretamente esses requisitos ou


critérios que regulam o uso descritivo do termo “moralidade”. Essa é uma de suas
tarefas principais, por ora, esta segunda acepção de “moral” como adjetivo é mais
básica que a primeira, uma vez que só pode ser qualificado de “imoral” ou de “moral”
no primeiro sentido aquilo que possa ser considerado “moral” no segundo sentido.

Embora o termo “moralidade” seja utilizado frequentemente em referência a


algum código moral concreto (por exemplo, quando se usam expressões como
“duvido da moralidade de seus atos” ou “fulano é um defensor da moralidade e dos
bons costumes”), esse termo também é utilizado com outros sentidos diferentes, dos
quais vamos destacar mais dois:

a) Por um lado, distingue-se “moralidade” de outros fenômenos humanos


como “legalidade”, “religiosidade”, etc. Em muitos contextos emprega-se o termo
“moralidade” para denotar essa dimensão da vida humana a que acima nos
referimos como “a moral” (substantivo genérico): trata-se dessa forma comum às
diversas morais concretas que nos permite reconhecê-las como tais, apesar da
heterogeneidade de seus respectivos conteúdos. Nesse sentido, “moralidade” seria
sinônimo de “vida moral” em geral.

Houve muitos tipos de moral ao longo da história, e hoje em dia é evidente a


existência de uma pluralidade de formas de vida e de códigos diferentes coexistindo
– nem sempre convivendo – no seio de nossas complexas sociedades modernas.
No entanto, apesar de sua diversidade de conteúdos, pode perceber-se a moral ou a
moralidade em uma série de características comuns às diferentes propostas morais.
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• Toda moral se cristaliza em juízos morais (“essa conduta é boa”, “aquela é


uma pessoa honrada”, “essa divisão foi justa”, “não se deve agredir o
próximo”, etc.).

• Os juízos morais correspondentes a diferentes tipos de moral apresentam


certas afinidades:

- no aspecto formal, os juízos morais fazem referência a atos livres,


responsáveis e imputáveis, o que permite supor em nós, seres humanos, uma
estrutura biopsicológica que torna possível e necessária a liberdade de escolha e a
subsequente responsabilidade e imputabilidade: uma “moral como estrutura”;

- quanto ao conteúdo, os juízos morais coincidem ao se referir ao que os


seres humanos anseiam, querem, desejam, necessitam, consideram valioso ou
interessante. No entanto, é conveniente distinguir dois tipos de juízos segundo o
conteúdo: os que se referem ao justo e os que tratam sobre o bom. Os primeiros
apresentam um aspecto de exigibilidade, de auto-obrigação, de prescritividade
universal, etc., ao passo que os segundos nos mostram uma modesta
aconselhabilidade em relação ao conjunto da vida humana. Esses dois tipos de
juízos não expressam necessariamente as mesmas coisas em todas as épocas e
sociedades, de modo que cada moral concreta difere das demais quanto ao modo
de entender as noções do justo e do bom e na ordem de prioridades que
estabelecem em cada uma.

Vemos, portanto, que a moralidade é um fenômeno muito complexo, que por


isso admite diversas interpretações: mas não devemos perder de vista o fato de que
essa variedade de concepções morais evidencia a existência de uma estrutura
comum dos juízos em que se expressam, e que essa estrutura moral comum remete
a um âmbito particular da vida humana, um âmbito diferente do jurídico, do religioso
ou do da mera cortesia social: o âmbito da moralidade.

Por fim, podemos conferir ao termo moralidade, um sentido claramente


filosófico que consiste em contrapor “moralidade” a “eticidade”, que veremos mais
adiante.

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5.3 Ética e suas funções

Frequentemente utiliza-se a palavra “ética” como sinônimo do que


anteriormente chamamos de “a moral”, ou seja, esse conjunto de princípios, normas,
preceitos e valores que regem a vida dos povos e dos indivíduos. A palavra “ética”
procede do grego ethos, que significava originariamente “morada”, “lugar em que
vivemos”, mas posteriormente passou a significar “o caráter”, o “modo de ser” que
uma pessoa ou um grupo vai adquirindo ao longo da vida. Por sua vez, o termo
“moral” procede do latim mos, moris, que originariamente significava “costume”, mas
em seguida passou a significar também “caráter” ou “modo de ser”.

Desse modo, “ética” e “moral” confluem etimologicamente em um significado


quase idêntico: tudo aquilo que se refere ao modo de ser ou caráter adquirido como
resultado de pôr em prática alguns costumes ou hábitos considerados bons.

Dadas essas coincidências etimológicas, não é de estranhar que os termos


“moral” e “ética” apareçam como intercambiáveis em muitos contextos cotidianos:
fala-se, por exemplo, de uma “atitude ética” para designar uma atitude “moralmente
correta” segundo determinado código moral; ou diz-se que um comportamento “foi
pouco ético” para significar que não se ajustou aos padrões habituais da moral
vigente. Esse uso dos termos “ética” e “moral” como sinônimos está tão difundido
que não vale a pena tentar impugná-la. Mas convém ter consciência de que esse
uso denota, na maioria dos contextos, o que aqui denominamos “a moral”, ou seja, a
referência a algum código moral concreto.

Para nos referirmos à Filosofia Moral, é preciso distinguir moral de ética.


Chamamos de “moral” esse conjunto de princípios, normas e valores que cada
geração transmite à geração seguinte na confiança de que se trata de um bom
legado de orientações sobre o modo de se comportar para viver uma vida boa e
justa. E chamamos de “Ética” essa disciplina filosófica que constitui uma reflexão de
segunda ordem sobre os problemas morais. A pergunta básica da moral seria então:
“O que devemos fazer?”, ao passo que a questão central da Ética seria antes: “Por
que devemos?”, ou seja, “Que argumentos corroboram e sustentam o código moral
que estamos aceitando como guia de conduta?”.

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A caracterização da Ética como Filosofia moral leva-nos a enfatizar que essa


disciplina não se identifica, em princípio, com nenhum código moral determinado.
Pois bem, isso não significa que permaneça “neutra” diante dos diferentes códigos
morais que existiram ou possam existir. Tal “neutralidade” ou “assepsia axiológica”
não é possível, uma vez que os métodos e objetivos próprios da Ética a
comprometem com certos valores e a obrigam a denunciar alguns códigos morais
como “incorretos”, ou até mesmo como “desumanos”, enquanto outros podem ser
reafirmados por ela na medida em que os considere “razoáveis”, “recomendáveis” ou
até mesmo “excelentes”.

No entanto, concordamos com Cortina e Martinez (2009) de que não é certo


que a investigação ética possa nos levar a recomendar um único código moral como
racionalmente preferível. Dada a complexidade do fenômeno moral e a pluralidade
de modelos de racionalidade e de métodos e enfoques filosóficos, o resultado tem
que ser necessariamente plural e aberto. Mas isso não significa que a Ética fracasse
em seu objetivo de orientar de modo mediato a ação das pessoas.

Em primeiro lugar, porque diferentes teorias éticas podem dar como


resultado algumas orientações morais muito semelhantes (a coincidência em certos
valores básicos que, embora não estejam de todo incorporados à moral vigente, são
justificados como válidos).

Em segundo lugar, porque é muito possível que os progressos da própria


investigação ética cheguem a evidenciar que a missão da Filosofia moral não é a
justificação racional de um único código moral propriamente dito, e sim um quadro
geral de princípios morais básicos dentro do qual, diferentes códigos morais mais ou
menos compatíveis entre si possam legitimar-se como igualmente válidos e
respeitáveis. O quadro moral geral assinalaria as condições que todo código moral
concreto teria que cumprir para ser racionalmente aceitável, mas essas condições
poderiam ser cumpridas por uma pluralidade de modelos de vida moral que
rivalizariam entre si, mantendo-se desse modo um pluralismo moral mais ou menos
amplo.

Em nosso modo de ver, corresponde à Ética uma tripla função:

1) Esclarecer o que é a moral, quais são seus traços específicos.

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2) Fundamentar a moralidade, ou seja, procurar averiguar quais são as


razões que conferem sentido ao esforço dos seres humanos de viver moralmente.

3) Aplicar aos diferentes âmbitos da vida social os resultados obtidos nas


duas primeiras funções, de maneira que se adote nesses âmbitos sociais uma moral
crítica (ou seja, racionalmente fundamentada), em vez de um código moral
dogmaticamente imposto ou da ausência de referências morais.

Ao longo da história da Filosofia ofereceram-se diferentes modelos éticos


que procuram cumprir as três funções anteriores: são as teorias éticas. As éticas
aristotélica, utilitarista, kantiana e discursiva são bons exemplos desse tipo de
teorias. São constructos filosóficos, geralmente dotados de um alto grau de
sistematização, que tentam dar conta do fenômeno da moralidade em geral, e da
preferibilidade de certos códigos morais na medida em que estes se ajustam aos
princípios de racionalidade que regem o modelo filosófico de que se trata.

5.4 Distinção entre normas éticas e morais

Para Boff (2003), o homem está mergulhado na experiência ética ou moral,


vive-a no meio de ambiguidades e conflitos. Assim, a ética, que vem do grego ethos,
consiste na teia das relações sociais em que o homem nasce e se desenvolve. A
ética, portanto, é a reflexão questionadora da realidade que circunda o ser humano,
englobando suas experiências, vivências, dilemas, problemas e as relações sociais
no mundo da vida e do trabalho.

A moral, por sua vez, é o caminho da realização do homem, é uma exigência


de humanização e de crescimento. Segundo Boff, a moral é a vivência prática dos
valores que o grupo social estabelece.

Assim, de acordo com essa última concepção, a moral é aprendida e


comunicada. Para esse mesmo autor, a ética profissional não pode ser concebida
como resultante de um conjunto cristalizado de normas de condutas profissionais,
mas como uma reflexão crítica sobre a realidade social do trabalho, das atividades
profissionais e do agir pautado nos valores do grupo ou categoria profissional.

As normas éticas, assim como as leis, sofrem efeitos das transformações


sociais e históricas. Daí a necessidade de se acompanhar a evolução da reflexão
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ética e moral ao longo dos tempos, pois o modus vivendi, os valores e a própria
cultura vão adquirindo novos enfoques, de acordo com as vivências e os interesses
humanos em diferentes momentos da vida.

Fazendo uma breve relação na seara do direito, Reale (1995) nos lembra
que toda norma ética expressa um juízo de valor, ao qual se liga uma obrigação. Por
exemplo, a Constituição Federal de 1988 assegura direitos aos reconhecidamente
pobres, como é o caso do registro civil de nascimento e certidão de óbito.

Não basta, no entanto, que existam normas assegurando direitos, mesmo


que sejam normas constitucionais. É necessário que o Estado Democrático,
verdadeiramente de Direito, seja o maior incentivador e defensor dos direitos e
garantias fundamentais. A cidadania perpassa pela questão da dignidade da pessoa
humana, por meio da implementação de normas que visem à justiça social. Cada
cidadão precisa ser informado sobre seus direitos e também suas obrigações. O
acesso à informação é fundamental no exercício da cidadania, da participação e das
transformações sociais.

Nesse sentido, convém destacar que o Estado de São Paulo dispõe de uma
legislação sobre os direitos dos usuários dos serviços e das ações de saúde, que é
a Lei nº 10.241/99. Nessa lei são apontados os direitos do cliente às informações
referentes ao diagnóstico, tratamento e ações de saúde. Não se pode negligenciar
que o cliente é cidadão, e como tal pode reivindicar direitos para ser atendido com o
mínimo de dignidade. Em contrapartida, trata-se de um dever dos profissionais de
saúde informar ao cliente as ações pretendidas e as consequências benéficas ou
não de cada ação almejada (FREITAS, 2008).

Não é incomum depararmo-nos com ilhas de excelência no atendimento


médico-hospitalar, porém para alguns poucos. Na verdade, a lei assegura a todos
tratamento igualitário e o direito de ser cuidado ou tratado como ser humano, com
dignidade e respeito.

Para atender de forma humanizada a clientela, o profissional de


enfermagem, o analista de laboratórios clínicos e outros profissionais também
necessitam de condições de trabalho que possibilitem oferecer atendimento com
qualidade e segurança.

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Cabe aos usuários, mas também aos profissionais de saúde, lutar em


parceria para assegurar de fato esses direitos. Quem sabe dessa maneira o Estado
e a iniciativa privada invistam em recursos humanos e materiais necessários para
atender as reais necessidades da população.

5.5 Definição e evolução da Bioética

Acreditamos que ficaram mais questionamentos do que resoluções no


tocante à ética e moral e a intenção é essa mesma! Levá-los a refletir! Vamos partir
para algumas reflexões mais práticas no campo da saúde.

A Bioética é uma ética aplicada, chamada também de “ética prática”


(SINGER, 1994), que visa “dar conta” dos conflitos e controvérsias morais
implicados pelas práticas no âmbito das Ciências da Vida e da Saúde do ponto de
vista de algum sistema de valores (chamado também de “ética”). Como tal, ela se
distingue da mera ética teórica, mais preocupada com a forma e a “cogência”
(cogency) dos conceitos e dos argumentos éticos, pois, embora não possa abrir mão
das questões propriamente formais (tradicionalmente estudadas pela metaética),
está instada a resolver os conflitos éticos concretos.

Tais conflitos surgem das interações humanas em sociedades a princípio


seculares, isto é, que devem encontrar as soluções a seus conflitos de interesses e
de valores sem poder recorrer, consensualmente, a princípios de autoridade
transcendentes (ou externos à dinâmica do próprio imaginário social), mas tão
somente “imanentes” pela negociação entre agentes morais que devem, por
princípio, ser considerados cognitiva e eticamente competentes. Por isso, pode-se
dizer que a bioética tem uma tríplice função, reconhecida acadêmica e socialmente:

(1) Descritiva, consistente em descrever e analisar os conflitos em pauta.

(2) Normativa com relação a tais conflitos, no duplo sentido de proscrever os


comportamentos que podem ser considerados reprováveis e de prescrever aqueles
considerados corretos.

(3) Protetora, no sentido, bastante intuitivo, de amparar, na medida do possível,


todos os envolvidos em alguma disputa de interesses e valores, priorizando, quando
isso for necessário, os mais “fracos” (SCHRAMM, 2002).
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Mas a Bioética, como forma talvez especial da ética, é, antes, um ramo da


Filosofia, podendo ser definida de diversos modos, de acordo com as tradições, os
autores, os contextos e, talvez, os próprios objetos em exame.

Abaixo temos algumas definições reunidas por Goldim (2006):

Eu proponho o termo Bioética como forma de enfatizar os dois


componentes mais importantes para se atingir uma nova sabedoria, que é
tão desesperadamente necessária: conhecimento biológico e valores
humanos (Van Rensselaer Potter, Bioethics. Bridge to the future. 1971).

Bioética é o estudo sistemático das dimensões morais - incluindo visão


moral, decisões, conduta e políticas - das ciências da vida e atenção à
saúde, utilizando uma variedade de metodologias éticas em um cenário
interdisciplinar (Reich, W.T. Encyclopedia of Bioethics. 2nd ed. New York;
MacMillan, 1995: XXI).

A bioética, da maneira como ela se apresenta hoje, não é nem um saber


(mesmo que inclua aspectos cognitivos), nem uma forma particular de
expertise (mesmo que inclua experiência e intervenção), nem uma
deontologia (mesmo incluindo aspectos normativos). Trata-se de uma
prática racional muito específica que põe em movimento, ao mesmo tempo,
um saber, uma experiência e uma competência normativa, em um contexto
particular do agir que é definido pelo prefixo ‘bio’. Poderíamos caracterizá-la
melhor dizendo que é uma instância de juízo, mas precisando que se trata
de um juízo prático, que atua em circunstâncias concretas e ao qual se
atribui uma finalidade prática através de várias formas de
institucionalização. Assim, a bioética constitui uma prática de segunda
ordem, que opera sobre práticas de primeira ordem, em contato direto com
as determinações concretas da ação no âmbito das bases biológicas da
existência humana. (Ladrière, J. 2000. Del sentido de la bioética. Acta
Bioethica VI(2): 199-218, p. 201-202).

A palavra ‘bioética’ designa um conjunto de pesquisas, de discursos e


práticas, via de regra pluridisciplinares, que têm por objeto esclarecer e
resolver questões éticas suscitadas pelos avanços e a aplicação das
tecnociências biomédicas. (...) A rigor, a bioética não é nem uma disciplina,
nem uma ciência, nem uma nova ética, pois sua prática e seu discurso se
situam na interseção entre várias tecnociências (em particular, a medicina e
a biologia, com suas múltiplas especializações); ciências humanas
(sociologia, psicologia, psicanálise...) e disciplinas que não são
propriamente ciências: a ética, para começar; o direito e, de maneira geral,
a filosofia e a teologia. (...) A complexidade da bioética é, de fato, tríplice.
Em primeiro lugar, está na encruzilhada entre um grande número de
disciplinas. Em segundo lugar, o espaço de encontro, mais o menos
conflitivo, de ideologias, morais, religiões, filosofias. Por fim, ela é um lugar
de importantes embates (enjeux) para uma multidão de grupos de
interesses e de poderes constitutivos da sociedade civil: associação de
pacientes; corpo médico; defensores dos animais; associações
paramédicas; grupos ecologistas; agro-business; indústrias farmacêuticas e
de tecnologias médicas; bioindústria em geral (Hottois, G. 2001. Bioéthique.
G. Hottois & J-N. Missa. Nouvelle encyclopédie de bioéthique. Bruxelles: De
Boeck, p. 124-126).

A bioética é o conjunto de conceitos, argumentos e normas que valorizam e


justificam eticamente os atos humanos que podem ter efeitos irreversíveis

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sobre os fenômenos vitais (Kottow, M., H., 1995. Introducción a la Bioética.


Chile: Editorial Universitaria, 1995, p. 53).

A palavra Bioética foi utilizada pela primeira vez pelo Prof. Van Rensselaer
Potter, Doutor em Bioquímica e pesquisador na área de oncologia da Universidade
de Wisconsin/EUA, em 1970, em um artigo científico, que resumia um capítulo de
um livro seu que estava no prelo. A sua caracterização inicial era a seguinte:

Nós temos uma grande necessidade de uma ética da terra, uma ética para
a vida selvagem, uma ética de populações, uma ética do consumo, uma
ética urbana, uma ética internacional, uma ética geriátrica e assim por
diante... Todas elas envolvem a bioética, (...).

Esta definição era extremamente abrangente, incluindo diferentes campos


de conhecimento e ação muito díspares. O Prof. Potter, posteriormente, aplicou esta
mesma caracterização para a Ética Global ou Bioética Global.

Em 1978, o Prof. Warren Reich, do Instituto Kennedy de Ética, da


Universidade Georgetown/EUA, organizou a primeira versão da Enciclopédia de
Bioética. A definição utilizada restringia o significado da Bioética ao “estudo
sistemático da conduta humana na área das ciências da vida e a atenção à saúde,
enquanto que esta conduta é examinada a luz dos princípios e valores morais”.

O Prof. David Roy, do Canadá, em 1979, acrescenta uma nova


característica à Bioética, pois afirmava que ela é o

estudo interdisciplinar do conjunto das condições exigidas para uma


administração responsável da vida humana, ou da pessoa humana, tendo
em vista os progressos rápidos e complexos do saber e das tecnologias
biomédicas.

O reconhecimento da Bioética como um campo interdisciplinar foi fundamental. O


próprio Prof. Potter já havia afirmado que a bioética era uma ética interdisciplinar,
constituindo-se em uma ponte entre a ciência e as humanidades (GOLDIM, 1997).

O Prof. Tristan Engelhardt, médico e bioeticista de Houston/EUA,


acrescentou, em 1986, uma outra característica, propondo que a Bioética “funciona
como uma lógica do pluralismo, como um instrumento para a negociação pacífica
das instituições morais” .

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O Prof. Guy Durant, eticista da Universidade de Montreal/Canadá, em 1995,


caracterizou a Bioética como sendo a “pesquisa de soluções para os conflitos de
valores no mundo da intervenção biomédica”.

Na segunda edição da Enciclopédia de Bioética, de 1995, o Prof. Reich


alterou a sua definição anterior de Bioética, sintetizando as principais ideias
existentes. Caracterizou a Bioética como o

estudo sistemático das dimensões morais – incluindo visão moral, decisões,


conduta e políticas – das ciências da vida e atenção à saúde, utilizando uma
variedade de metodologias éticas em um cenário interdisciplinar (GOLDIM,
2006).

5.6 Bioética clínica

Paccine (2003) adverte que a bioética clínica não deve ser compreendida de
forma separada da bioética em geral, pois se corre o risco de esconder por trás das
particularidades analíticas de um caso clínico, filosofias discutíveis enquanto
referência moral. Por conseguinte, deve-se esclarecer que, em razão de sua
característica pluralista, a bioética (disciplina que dialoga com as demais áreas do
saber, haja vista que nela estão presentes os conhecimentos, métodos e outras
linhas de raciocínio pertencentes a diversas áreas do conhecimento) não deixa de
nutrir-se dos dilemas que surgem no cotidiano da prática clínica.

Sobre a expressão ética clínica, especificamente, Durant (2003) esclarece


que não se refere apenas aos médicos, mas também aos demais profissionais de
saúde. Seu domínio se centra em relações curtas, imediatas, relacionadas às
exigências éticas desses profissionais com seus pacientes. Porém, não se limita a
determinar o que é prescrito, permitido, tolerado, proibido; baseia-se na procura do
ótimo, do que seja preferível, ou melhor, para determinada situação.

No entendimento de Figueiredo (2011) em paralelo, a ética clínica quase


sempre exclui a relação com o público em geral, a reflexão sobre as políticas de
saúde e o campo da pesquisa biomédica. A ética clínica trata das condutas
desejáveis no âmbito da relação que se forma entre profissionais da área da saúde e
seus pacientes, criando-se, com isso, condições para que, por um lado, os valores
pessoais dos seres humanos envolvidos sejam preservados e respeitados; por

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outro, para que a prestação do serviço, que constitui o objeto especial dessa
relação, possa alcançar a máxima eficácia possível.

5.7 Múltiplas abordagens

A Bioética, segundo Durant (2003), é uma abordagem original da realidade


biomédica, sendo, simultaneamente: secular, interdisciplinar, contemporânea, global
e sistemática.

A Bioética tem uma abordagem secular e global, pois dela participam as


diferentes visões de profissionais de saúde, filósofos, advogados, sociólogos,
administradores, economistas, teólogos e leigos.

A perspectiva religiosa, muito associada às questões morais, é apenas uma


das visões possíveis, mas não a única. Da mesma forma, é uma abordagem
global, pois não considera apenas a relação médico-paciente.

A Bioética inclui os processos de tomada de decisão, as relações


interpessoais de todos os segmentos e pessoas envolvidas: o paciente, o seu
médico, os demais profissionais, a sua família, a comunidade e as demais estruturas
sociais e legais.

A interação de diferentes saberes e segmentos profissionais, provocada


pelos novos desafios da atenção à saúde transformaram a ordem, até então
estabelecida na prática médica habitual, em uma situação de caos. Este caos pouco
a pouco foi sendo organizado, de forma pontual, com o auxílio da Bioética, gerando
uma nova ordem local. Esta, por sua vez, é constantemente rompida pelos desafios
dos novos conhecimentos e inquietudes sociais deles decorrentes (GOLDIM, 1997).

As novas práticas de atenção à saúde são cada vez mais exercidas por
equipes de profissionais, pressupondo a integração dos mesmos em um fazer
comum. A Bioética surge, neste contexto, com os dilemas oriundos do exercício
destes profissionais. A Bioética não se utiliza simplesmente dos conhecimentos de
outras ciências, mas cria um espaço de diálogo interdisciplinar, ou seja, de
colaboração e interação de diferentes áreas de conhecimento. A Bioética, como já
foi enfatizado nas definições anteriores, tem uma abordagem interdisciplinar. Edgar
Morin (s.d apud GOLDIM, 1997), falando a respeito da sua postura interdisciplinar,
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afirmava: “Minhas viagens através dos territórios do conhecimento fizeram de mim


um contrabandista do saber, e é por isso que os sentinelas atiram em mim”. A
resistência de alguns setores em compartilhar saberes realmente pode provocar tal
tipo de posicionamento.

A Bioética aborda os novos problemas de forma contemporânea. A simples


repetição das respostas tradicionais pode ser inadequada. Ela estimula novos
patamares de discussão e de reflexão, que podem vir a possibilitar soluções
adequadas. A não repetição de respostas não significa que o passado não tenha
importância. A memória é um dos fundamentos da interdisciplinaridade. A memória
deve ser vista como um processo de contínua reconstrução. A memória não garante
a precisão da objetividade, mas garante a riqueza da subjetividade que lhe dá
fidedignidade. O movimento dialético, inerente a interdisciplinaridade, permite rever
o velho para torná-lo novo. Em todo conhecimento novo sempre existe algo de
antigo. Novo e velho são faces da mesma moeda. O importante é resgatar e revisitar
nossas experiências (GOLDIM, 1997).

Já descobrimos, faz muito tempo, que a parceria é a categoria mestra dos


trabalhos interdisciplinares. A interdisciplinaridade deve ser vista não como uma
categoria de conhecimento, mas sim como uma categoria de ação, que possibilita o
diálogo entre diferentes formas de conhecimento. Permitindo, assim, que os
diferentes pensamentos se complementem um aos outros, consolidando a
intersubjetividade.

Nessa linha de pensamento, a ciência vem se desenvolvendo, baseada na


pesquisa experimental, objetiva, mas é nossa vivência diária, subjetiva que nos
move a novas descobertas e assim caminha a Bioética, ou seja, ela também parte
de uma abordagem sistemática, não se limitando a solucionar problemas isolados.
Baseia-se para tal na análise rigorosa dos fatos, mas coerente ao solucionar
diversos dilemas morais, utilizando como referencial critérios e princípios básicos.

Gracia (2008) propõe que existem dois diferentes processos decisórios em


Bioética: o macro e o micro. O processo decisório macrobioético depende da
vontade geral, entendida através do referencial de Rousseau, é uma decisão
pública, através da via política. O processo decisório microbioético, por sua vez,
depende da vontade individual, é uma decisão privada e solitária.
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Portanto, a decisão não deve ser tomada pelo médico em lugar do paciente,
nem por este independentemente do médico ou da comunidade. A condição
moralmente ótima é aquela na qual as decisões provem solidariamente do médico e
do paciente. O médico deve tomar as decisões com o paciente e no interesse deste
mesmo paciente.

Os fatos se percebem, os valores se estimam, ou apreciamos ou


desprezamos, desse modo, toda a percepção está baseada em valoração. De
acordo com Gracia (2008), não se pode tomar decisões baseando-se apenas em
fatos! A decisão baseada apenas nos fatos é um erro. Os valores são componentes
respeitáveis deste processo. Tomar decisões sem usar os valores é incorreto.

Isto tudo é Bioética, esta grande área interdisciplinar que busca auxiliar na
reflexão dos novos problemas que estão, constantemente, sendo apresentados a
todos nós, individual e coletivamente (GOLDIM, 1997).

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REFERÊNCIAS

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