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“FAMÍLIAS DESAVINDAS”, de Mário de

Carvalho
O conto de Mário de Carvalho, “Famílias Desavindas” encontra-se
inserido no seu livro “Contos Vagabundos”, é uma narrativa que nos
fala sobre uma pequena guerrilha entre samaforeiros e médicos, uma
desavinda entre várias gerações de duas famílias.
Este conto encontra-se dividido em três partes, na primeira parte, no
início do texto descreve uma hipotética rua do Porto, os seus
cruzamentos e o local onde se situa um dispositivo único no mundo,
os semáforos movidos a pedal, a história e as circunstâncias da
instalação deste tipo de semáforo. A segunda parte do conto relata a
origem do ofício de samaforeiros e apresenta a família que irá pedalar
naquele cruzamento durante várias gerações. A última parte da
narrativa dá a conhecer a nova família de médicos que se mudou de
Coimbra, e construíram consultório mesmo à esquina,
compreendemos a origem do conflito entre as duas famílias e é
relatado todo este desacordo entre os médicos e os samaforeiros.
Ao longo do texto há um crescente ódio partilhado entre as duas
famílias, que se prolonga entre as quatro gerações de samaforeiros,
Ramom, Ximenez, Asdrúbal e Paco, e as três gerações de médicos,
Dr. João Pedro Bekett, Dr. João e o Dr. Paulo.
Todas as personagens são descritas ao nível pessoal e social. Dr.
Bekett, um médico vindo de Coimbra com a sua família e com espírito
de missão, foi o autor da primeira desavinda entre os samaforeiros,
pois este tinha de atravessar muitas vezes a rua à procura de novos
pacientes e não se quis comprometer às ordens do semáforo,
afirmando ser um cidadão livre e desimpedido, Ramom, o primeiro
samaforeiro entristeceu, pois não gostava que interferissem com o
seu trabalho e, daí adiante, passou a dificultar a passagem ao doutor,
dando início a esta inimizade das famílias. O desentendimento
continuou na geração seguinte, entre Ximenez e o Dr. João, este
último herdou o ódio ao semáforo e passava grande parte do tempo à
janela, a encandear Ximenez com um espelho colorido. Já entre o
jovem médico Paulo e Asdrúbal quase chegaram a se agredir
fisicamente, os insultos e provocações eram muito frequentes, não só
com o neto de Ramom, mas também com o seu bisneto, Paco. Até
que, certo dia, devido ao resultado de um acidente de mota, Paco
ficou estendido no asfalto, o Dr. Paulo largou ódios velhos, esqueceu
todos os conflitos, não quis saber de mais nada e dobrou-se para
o ajudar. E no final foi Paulo cheio de remorsos, que pedalava todos
os dias naquela rua, do nascer ao pôr-do-sol, até à exaustão ser útil,
expressando o seu arrependimento enquanto o Paco não regressa.
“Famílias Desavindas” é um conto genuinamente engraçado e muito
irónico, desde a criação destes semáforos a pedais, a escolha do
primeiro samaforeiro que nunca tinha pedalado na vida, a origem de
toda a discórdia, a personalidade de cada médico e mesmo o final do
conto que nos ilustra um doutor, de bata branca a pedalar todos os
dias no semáforo. Trata-se de uma marrativa mais breve que o
habitual, com uma ação concentrada e linear, é um texto apropriado
a todas as idades, estando muito bem estruturado para a
compreensão de todos. É um conto bastante único e original, com
uma reviravolta e uma mensagem final bem explícita e marcante,
que apesar todas as desavindas, apesar do passado de todas as
gerações, devemos sempre ajudar os outros e fazer aquilo que está
correto.

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