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Letícia Aparecida de Paula Muniz

Yanne de Souza Gonçalves

Trabalho de Microbiologia

Prof. Luiz Francisley de Paiva

UNIVERSIDADE DO VALE DO SAPUCAÍ


POUSO ALEGRE
2019
1. Introdução às bactérias lácticas
Bactérias que produzem ácido láctico fazem parte de um grupo de
microrganismos com as características morfológicas de cocos ou bastonetes
Gram-positivos, catalase negativos, não esporulantes, em que o ácido láctico é
o principal produto final durante a fermentação de hidratos de carbono.
As bactérias ácido-láticas, constituem um grupo diverso de
microrganismos associados a plantas, carnes e laticínios. Sendo muitas vezes
empregadas na produção de alimentos, como leites fermentados, iogurtes e
queijos, assim como no processamento de carnes, bebidas alcoólicas e
vegetais. Porem, em alguns casos, estas bactérias podem ser responsáveis
pela produção de sabores e aromas indesejáveis nestes produtos.
Além da importância na produção de alimentos e na deterioração dos
mesmos, algumas bactérias lácticas também são relevantes para a saúde
pública, uma vez que têm sido implicadas como agentes etiológicos de
doenças.

1.
2. Importância para os alimentos

Na produção de alimentos
Bactérias lácticas têm sido usadas como culturas iniciadas ou adjuntas
para fermentação de alimentos e bebidas, devido às suas contribuições para as
características sensórias desde produtos e pela estabilidade microbiológica
conferida. Na fermentação, por exemplo, certas bactérias lácticas são usadas
na produção de coalhada, iogurtes, queijos, picles, chucrute, salame, kimchi
entre outros. Graças a essas fermentações tais alimentos tornam-se menos
atrativos para outros microrganismos, incluindo os patogênicos e deteriorantes
podendo assim ser considerado um método de conservação de alimentos
também.
Na deterioração de alimentos
Bactérias láticas podem causar deterioração em vários alimentos por
tolerarembaixos valores de pH e concentrações relativamentealtas de sal e
açúcar. Enquanto muitas bactérias normalmente não suportam muitas
variações de Ph, as bactérias lácticas são favorecidas pela inibição de
microbiota competidora, sendo assim bactérias melhores adaptadas a
condições de pH baixo.
Bactérias ácido-láticas podem deteriorar vários alimentos por alteração
no odor e sabor, alterações na coloração do alimento, formação de gás e
descarboxilação de proteínas e formação de exopolissacarideos. Como por
exemplo a produção em excesso de gás em chucrute, a formação de limo e
esverdeamento em carnes e a alterações de sabor em vinhos.

(UFLA/DCA/GCA144 – Microbiologia de Alimentos – Deterioração microbiana)


Na transmissão de doenças
algumas bactérias lácticas também são relevantes para a saúde pública, uma
vez que têm sido implicadas como agentes etiológicos de doenças.
3. Principais espécies

Lactobacillus

É um dos principais gêneros de bactérias lácticas, com uma serie de


aplicações interessantes.
São encontrados em derivados do leite, grãos, produtos de carne e
peixe, água, esgoto, cerveja, vinho, frutas e suco de frutas, conservas de
vegetais, silagem, chucrute e massas fermentadas. Além disso fazem também
parte da microbiota normal da boca, trato intestinal e vagina de alguns animais
homotérmicos, incluindo o homem, sendo a patogenicidade rara.
Bactérias do gênero Lactobacillus podem trazer diversos benefícios para
o sistema digestório, imunológico e também para tratamento de candidíase
vaginal.
São gram-positivos, incapazes de formar esporos, desprovidos de
flagelos, apresentam forma bacilar ou cocobacilar e são aerotolerantes ou
anaeróbios.
Fazem fermentação láctica, são heterotróficos, degradam açucares para
sua sobrevivência, gerando ácido láctico como subproduto. A maioria forma
colônias ovóides.

Enterococcus

As bactérias pertencentes a este gênero são cocos Gram-positivos,


podendo apresentar-se isoladamente, aos pares ou em pequenas cadeias, são
catalase negativos e não formam esporos. Embora cresçam em presença de
oxigênio, são incapazes de sintetizar o composto heme e, portanto, não
possuem metabolismo respiratório, são anaeróbios facultativos, e capazes de
crescer em condições bastante variadas de temperatura (10º - 45º C) e de pH
(5,0 - 9,6).
E. faecalis e E. faecium são os mais associados a manifestações
clínicas, uma vez que causam uma variedade de infecções, incluindo
endocardite, infecção do trato urinário (ITU), prostatite, infecção intra-
abdominal, celulite e infecções em feridas, além de bacteremia concomitante.
A transmissão de infecções causadas por essas bactérias pode ser de
origem endógena, alimentar ou através da água.
Além de serem amplamente distribuídos na natureza, fazem parte da
microbiota normal do ser humano, principalmente do trato gastrointestinal.
Podem ser isolados em indivíduos saudáveis em outras localizações como
pele, região peri-anal, via hépato-biliar e em secreções de orofaringe e vaginal.
Algumas espécies desse gênero podem ser utilizadas como probiótico,
que por definição são organismos vivos administrados em quantidade
adequada, que confere um efeito benéfico à saúde do hospedeiro, como
auxiliar no balanço microbiano no intestino e podem ser usados no tratamento
de gastroenterites em humanos e animais.

Streptococcus

São caracterizados como cocos Gram-positivos, anaeróbios facultativos,


não produtores de catalase e de citocromo-oxidase. Os estreptococos com
relevância clínica são homo fermentadores, sendo o ácido lático o produto final
da fermentação da glicose.
Essas bactérias fazem parte da nossa flora bucal, também estão em
nosso intestino, trato respiratório e na pele. Entretanto, são facilmente
extinguidas quando detergentes são utilizados na assepsia, mas resistem muito
bem à desidratação. Algumas poucas espécies causam doenças para os
humanos, a maioria não.
Os estreptococos são classificados de acordo com a sua capacidade de
provocar lise (morte celular) em eritrócitos, em alfa (hemólise incompleta), beta
(hemólise total) ou gama (nenhuma hemolise)-hemolítico.
O patógeno estreptocócico mais significativo é S. pyogenes, que é
beta-hemolítico e no grupo A de Lancefield é, portanto, chamado estreptococo
beta-hemolítico do grupo A (GABHS).

Formas de contaminação estão geralmente ligadas a alimentos


preparados sob precárias condições sanitárias ou por manipuladores doentes.
Alimentos como leite não pasteurizado, sorvetes, ovos, lagosta, presunto,
saladas de batata, pudins e pratos preparados com antecedência e deixados à
temperatura ambiente por muitas horas podem transmitir tanto a bactéria do
Grupo A quanto do Grupo D.

Lactococcus

Lactococcus constitui um dos gêneros de bactérias ácido-láctica homo


fermentador, gram-positivas, microaerofílicas e não esporuladas.
Embora esses microrganismos sejam abundantes no leite cru, eles são
reintroduzidos no leite pasteurizado porque o processo de esterilização do leite
reduz ou erradica significativamente a população de lactococos no leite
cru. Ogênero Lactococcus (L.lactis) é vital na fabricação de queijos,
principalmente na acidificação por fermentação da lactose. Como resultado
dessa acidificação, a adaptação e a replicação de microrganismos patogênicos
são moderadas. Além disso, o gênero Lactococcus é capaz de proteólise, um
processo que converte aminoácidos em complexos de sabor.
A bactéria Lactococcuslactis (L. lactis) é a espécie mais bem
caracterizada do gênero, sendo bastante empregada por ser a primeira
bactéria láctea com genoma completamente sequenciado. Além disso, L. lactis
são bactérias Gram-positivas, mesófilas, não invasivas, que não produzem
endotoxinas ou qualquer outro produto metabólico tóxico, e secretam um
número reduzido de proteínas.
Por possuir uma variedade de ferramentas genéticas já desenvolvidas,
L. lactis é uma das bactérias mais amplamente utilizada na indústria de
laticínios, sendo uma espécie de fácil manipulação e de classificação GRAS.

Leuconostoc

Leuconostoc é um gênero de bactérias Gram-positivas, inseridas na


família das Leuconostocaceae. Eles geralmente são cocos ovóides, que
formam cadeias. Leuconostoc são intrinsecamente resistentes à vancomicina e
são negativas à catalase (que os diferencia dos estafilococos). Todas as
espécies deste gênero são heterofermentativas e são capazes de produzir
dextrano a partir de sacarose.
Responsável por causar o 'fedor' ao criar um fermento , algumas
espécies também são capazes de causar infecção humana. Por serem uma
causa incomum de doença em humanos, os kits de identificação comercial
padrão geralmente não conseguem identificar o organismo.
Leuconostoc spp., Juntamente com outras bactérias do ácido láctico,
como Pediococcus e Lactobacillus , são responsáveis
pela fermentação do repolho , tornando-o chucrute . Nesse processo, o repolho
fresco é fermentado em salmoura leve , onde os açúcares do repolho são
transformados por lacto fermentação em ácido lático, o que confere ao repolho
um sabor amargo e boas qualidades de conservação. Leuconostoc spp. são
igualmente parte das colônias simbióticas de bactérias e leveduras
ou SCOBY envolvidas na fermentação do kefir, uma bebida de leite
fermentada.
1. Clostridium
Clostridium é um gênero de bactérias firmicutes, Gram-positivas. Têm a
forma de bastonetes e o nome do grupo provém da palavra grega kloster, que
significa roca.
As bactérias Clostridium são anaeróbios estritos e aerotolerantes.
Produzem endósporos e são ubiquitárias, vivendo no solo, água, flora do trato
gastrointestinal do Homem e diversos animais. Algumas espécies
de Clostridium são patogênicas, ou seja, agentes causadoras de doenças.
As bactérias do gênero Clostridium também são responsáveis pela
fixação de nitrogênio no solo.

1.1 Clostridium perfringens


É uma bactéria em forma de bastão anaeróbica e formadora de
esporos. Apresenta cinco tipos, de A à E, classificados de acordo com as
exotoxinas produzidas. Os tipos A C e D são patogênicos para humanos,
enquanto que os animais são susceptíveis aos tipos B, C, D e E, e
possivelmente também ao tipo A. Uma das características mais importantes do
C. perfringens é sua capacidade de multiplicação em altas temperaturas,
situando-se a ideal entre 40°C a 45°C.
O C. perfringens está amplamente distribuído na natureza, podendo
estar no solo, água e locais passíveis de contaminação fecal humana ou animal
em função de sua ocorrência frequente no intestino humano e de animais. Os
alimentos frequentemente envolvidos em surtos de C. perfringens são os
produtos cárneos, aves e molhos de carne onde o agente se multiplicou.
Embutidos, conservas de peixes, patês, queijos fermentados e ostras, também
oferecem boas condições para o desenvolvimento do agente.
O período de incubação do C. perfringens varia de 8 a 24 horas, em
média 12 horas. O quadro clínico inicia bruscamente com intensas cólicas
abdominais e diarreia aquosa. A infecção clostridiana está intimamente
associada ao consumo de produtos cárneos cozidos que foram resfriados
lentamente ou armazenados sob temperaturas inadequadas e consumidos,
posteriormente, sem reaquecimento suficiente para destruir as células
vegetativas desenvolvidas.

Métodos de isolamento e detecção


O Cl. perfringens é um anaeróbio estrito, o qual produz endósporos que
podem sobreviver a processos de aquecimento. Assim, um enriquecimento é
necessário para detectar baixos números de células de clostrídios que podem
ser mascaradas por outros organismos (Fig. 5.16). Muitos meios incluem sulfito
e ferro que resultam em um escurecimento característico das colônias de Cl.
Perfringens. Contudo, essa reação de escurecimento não é limitada a essa
bactéria, por isso o termo “sulfito redutor” geralmente é utilizado, em vez de Cl.
perfringens. A atividade da lecitinase (fosfolipase C) do Cl. Perfringens também
é um teste comum em meios de diagnóstico e resulta em um halo opaco em
torno das colônias. A seletividade se dá pela inclusão da ciclo serina ou da
neomicina. Todos os meios são incubados em anaerobiose, cuja condição é
obtida em recipientes de anaerobiose ou em cabines anaeróbias.
Alguns testes para diferenciar Cl. perfringens de outros anaeróbios
sulfito redutores são: microscopia apóscoloração de Gram, sensibilidade ao
metronidazol, reação Nagler e o teste CAMP reverso. O teste Nagler utiliza a
toxina do Cl. perfringens tipo A para neutralizar a atividade lecitinase. O teste
CAMP reverso consiste em semear ágar sangue de carneiro com St. agalactiae
e a cepa a ser testada, em ângulos retos, sem tocar. Após a incubação em
anaerobiose a 37 ºC por 24 horas, um resultado positivo é indicado por áreas
em forma de seta, de aumento sinérgico da hemólise na junção de duas
estrias. A produção de “coágulos em forma de tempestade” em leite de
tornassol e a detecção de ácido fosfatase são testes confirmatóriosúteis.

2. Listeria
Listeria é um género de bactérias de forma bacilares, gram-
positivas, anaeróbios facultativos, flagelados, ubíquas (encontradas no solo, na
água e em animais) e que não produzem esporos.
2.2. Listeriamonocytogenes
Listeria monocytogenes é uma bactéria Gram-positiva pertencente à
família Listeriaceae que cresce em presença ou na ausência de oxigénio
(anaeróbia facultativa). As células têm a forma de pequenos bastonetes ea sua
mobilidade é conferida por flagelos (a 25°C apresenta uma mobilidade do tipo
“cambalhota”, e a 35°C é imóvel). Por observação direta ao microscópio podem
parecer cocos pelo que são muitas vezes confundidas com estreptococos. A
sua atividade hemolítica em agar de sangue é uma das características que,
juntamente com outras características bioquímicas, permite
distinguir L. monocytogenes das outras espécies pertencentes ao
género Listeria.
L. monocytogenes é uma bactéria de distribuição ubiquitária. Pode ser
encontrada no solo, vegetais, carne e peixe. Adicionalmente, os animais e o
Homem podem ser portadores assintomáticos da bactéria. Assim, a
contaminação de matérias-primas e de alimentos não processados é frequente.
Alguns estudos que avaliaram a fonte de contaminação de vários alimentos
com L. monocytogenes sugerem que a contaminação pós-processo na fábrica
é extremamente importante.

Métodos de isolamento e detecção


Diferente dos procedimentos de isolamento para Salmonella, E. coli e
Cronobacter, o pré-enriquecimento não costuma ser utilizado para o isolamento
de Listeria spp. Isso porque outros organismos presentes irão ultrapassar a
multiplicação das células de Listeria. Como alternativa, vários meios de
enriquecimento foram desenvolvidos e possuem aprovações regulatórias. Um
caldo de enriquecimento comum é o Fraser (modificado do caldo UVM), que
emprega a hidrólise da esculina acoplada com ferro como indicador presuntivo
de Listeria spp. Amostras dos enriquecimentos são inoculadas em ágares
como ALOA, Oxford e PALCAM. O ágar Oxford é muitas ve- zes incubado a 30
oC, enquanto o PALCAM é incubado a 37 °C, sob condições microaerófilas
(Lâmina 19). Um grande número de agentes seletivos é utilizado em meios
para Listeria, como acriflavina, cicloeximida, colistina e polimixina B, já que a
flora competidora pode rapidamente ultrapassar a multiplicação da L.
monocytogenes. As colônias típicas de L. monocytogenes são rodeadas por
uma zona negra devido aos compostos fenólicos de ferro. Em ágar PALCAM, a
colônia pode ter seu centro afun- dado após incubação por 48 horas.
As colônias presuntivas de L. monocytogenes são confirmadas utilizando
testes bioquímicos e sorológicos. A maioria dos isolados que não seja Listeria
pode ser eliminada utilizando o teste de motilidade, o teste de catalase e a
coloração de Gram. Listeria spp. são bastonetes curtos, Gram-positivos,
catalase-positivos e imóveis, se incubados acima de 30 oC. A motilidade de
culturas que se multiplicaram em temperatura ambiente tem como
característica o movimento de tombamento. L. monocytogenes é β-hemolítica
em ágar sangue de cavalo. O teste CAMP (nomeadoem homenagem a
Christie, Atkins, Munch e Peterson) é utilizado para diferenciação de espécies
(Lâmina 20). Os isolados de Listeriasão semeados, formando uma estria, em
ágar sangue de ovelha, sendo St. aureus NCTC 1803 e Rhodococcusequi
NCTC 1621 também estriados em paralelo perto das estrias de Listeria (Fig.
5.15). O fenômeno de hemólise com zonas alargadas (na junção das estrias) é
então observado.
O método ISO 11290 para L. monocytogenes possui duas partes:
métodos de detecção e de enumeração.
O método ISO de enumeração possui várias etapas:
• Preparação daamostranaproporção1:9,em água peptonada tamponada ou
caldo half Fraser (sem agentes seletivos).
• Recuperação por 1 hora a 20 oC, antes da inoculação em ágar seletivo como
descrito a seguir. Após a incubação, os agentes seletivos (cloreto de lítio, acri-
flavina e ácidonalidíxico) podem ser adicionados e a amostra incubada como
descrito anteriormente para a detecção.
• Inoculação em ágar PALCAM; geralmente 0,1 mL ou 1 mL se são esperadas
pequenas quantidades de Listeria. Incubar as placas a 35 ou 37 oC por 24
horas ou por mais 24 horas se for obtida apenas uma pequena multiplicação.
•Identificação e numeração por contagem de colônias com morfologia típica de
Listeria.
•Confirmação de Listeria spp. E L.monocytogenes pela seleção de cinco
colônias presuntivas de cada placa. É aplicado o mesmo teste conforme já
descrito no método de detecção.

3. Vibrios

3.1. Vibriocholerae, V. parahaemolyticus e V. vulnificus


As espécies de Vibriosão frequentemente isoladas de águas de
estuários e são, por- tanto, associadas com peixes e vários frutos do mar.
Embora existam 12 espécies de Vibriopatogênicas ao homem, apenas V.
cholerae, V. parahaemolyticus e V. vulnificussão mais preocupantes no que se
refere a infecção humana. O V. cholerae causa cóle- ra, que é a infecção por
Vibrio mais conhecida. Humanos infectados podem ser por- tadores do V.
cholerae, o que é um fator importante na transmissão da doença, uma vez que
água utilizada para beber ou lavar alimentos pode tornar-se contaminada com
material fecal(Quadro 4.11).
No intestino delgado, o V. cholera adere à superfície mucoide devido a
adesinas associadas à célula e produz uma exotoxina, toxina da cólera, que
age nas células mucoides do intestino.
Métodos de isolamento e detecção
Os métodos culturais da Food andDrugAdministration (FDA)e da
American Public Health Association (APHA), para o isolamentoou contagem de
víbrios em alimentos, são baseados, principalmente, na capacidade de
crescerem condições alcalinas e na presença de concentrações
relativamente altas de sais biliares.Geralmente incluem uma etapa de
enriquecimento, o que limita a contagem à técnica do númeromais provável.
No enriquecimento é utilizada a Água Peptonada Alcalina (APA), com pH
entre 8,4 e 8,6,tanto para V. cholerae como para V. parahaemolyticus e
V.vulnificus. Na análise de V. cholerae, operíodo de incubação não deve ser
muito prolongado, sob o risco de ocorrer um predomínio damicrobiota
competidora. O tempo recomendado é de 6-8h, porém, para alimentos
processados,deve ser feito o plaqueamento com 6-8h e também após 18-21h.
Alguns laboratórios optam pelaincubação durante a noite (16-18h), para acomodar
os trabalhos ao horário comercial. Essa prática,entretanto, é menos recomendável
e deve ser evitada sempre que possível.
No plaqueamento diferencial, o meio mais amplamente utilizado é o Ágar
Tiossulfato CitratoBile Sacarose (TCBS), especialmente desenvolvido para o
isolamento de víbrios em geral. Essemeio explora a resistência à bile e a
capacidade de crescer em condições alcalinas (pH 8,6) comoprincipais
características seletivas. A característica de diferenciação entre as
espécies é afermentação ou não da sacarose, cepas positivas produzindo
colônias amarelas e cepas negativasproduzindo colônias verdes. O TCBS é
utilizado para o isolamento de V. cholerae (colônias amarelas)e V. parahaemolyticus/
V.vulnificus (colônias verdes). V. mimicus, que é estreitamente relacionadoao
V. cholerae, pode ser diferenciado no TCBS, pela incapacidade de fermentar a
sacarose.
Para o isolamento preferencial de V. vulnificus são recomendados o
Ágar Celobiose Polimixina Colistina Modificado (m-CPC) ou o Ágar Celobiose
Colistina (CC), que utilizam afermentação da celobiose a 39-40°C como
característica diferencial. Vários outros vibrios e a maioriadas cepas de V.
parahaemolyticus não crescem nesses meios. Em função disso, são
tambémrecomendados como segundo meio de plaqueamento na análise de
V.cholerae, para reduzir a interferência dos outros vibrios. As cepas do biotipo
clássico de V. cholerae, sensíveis à polimixina,não vão crescer no m-CPC, mas
essas cepas são muito raras.
Na seleção inicial das cepas suspeitas, as características usadas
são, primariamente, aprodução de arginina dehidrolase, gás e H2S, no Ágar
Arginina Ferro (AIA). V. cholerae, V.parahaemolyticuse V. vulnificus
apresentam o mesmo perfil negativo nesses testes, mas sãodiferenciados
pela verificação da capacidade de crescer na ausência de NaCl (V. cholerae
cresce, V.parahaemolyticuse V. vulnificus não crescem). A verificação da
mortilidade, forma, coloração de Gram e oxidase são os testes
complementares utilizados nos três casos.
Na caracterização bioquímica é recomendado o uso do “kit”
miniaturizado API 20E daBioMérieux, mas também são apresentadas provas
bioquímicas que podem ser utilizadas em seulugar. Para V. cholerae, teste do fio
e testes de lisina e ornitina descarboxilase. Para V. paeahaemolyticuse V.
vulnificus, teste de β-galactosidase (ONPG), teste de crescimento em diferentes
concentraçõesde NaCl, testes de fermentação da celobiose e lactose, teste de
urease e outros teste, a critério dolaboratório, que sejam capazes de diferenciar
essas espécies dos demais vibrios patogênicos. Ostestes de indol, Voges
Proskauer (VP) e lisina/ornitina descaroboxilase são adequados, mas outrostestes
podem ser selecionados.
Outros testes recomendados, relacionados mais diretamente com a
patogenicidade dosisolados, são a caracterização sorológica das cepas
identificadas como V. cholerae, para verificar sesão dos sorotipos O1 ou O139e
a diferenciação dos subtipos Inaba, Ogawa e Ikojima. Para ascepas
confirmadas como V.parahemolyticus, é a verificação da produção da TDH.
Esse testetradicionalmente é feito através da reação de Kanagawa no Ágar
Wagatsuma, preparado comsangue fresco, humano, de carneiros ou de cães.Em
função da dificuldade de obtenção de sanguefresco, esse teste tem
sidosubstituído por testes moleculares (sondas genéticas ou reação
depolimerase em cadeia) para o gene tdh, da hemolisina termoestável TDH.

4. Campylobacter
Campylobacter (bactéria retorcida) é um gênero de bactérias que foi
inicialmente descrito em 1963 e descreve bactérias gram-negativas, espirais
e microaerofílicas. Movem-se através de flagelos uni ou bipolares, são oxidase-
positivas e possuem aspecto espiral característico. Não utilizam carboidratos
como fonte de energia e necessitam de baixas concentrações de oxigênio e
altas de dióxido de carbono para crescimento.

Métodos de isolamento e detecção


Existe uma variedade considerável de métodos para detecção de
Campylobacter com base no cultivo e na amplificação do DNA. No entanto,
como para a maioria dos outros organismos, não existe um método ideal.
As células de Campylobacter podem tornar-se estressadas durante o
processa- mento de alimentos. Dessa forma, o estágio de pré-enriquecimento é
necessário para recuperar as que estão danificadas, antes da seleção do
organismo. Com frequência, os agentes seletivos são adicionados como
suplementos e utilizadas temperaturas mais baixas de incubação. Para ajudar
a multiplicação do organismo, sulfato ferroso, metabissulfito de sódio e piruvato
de sódio (FBP) são adicionados ao meio de multiplicação para capturar radicais
tóxicos e aumentar a aerotolerância do organismo. Este é microaerófilo, inapto
a multiplicar-se em níveis normais de oxigênio do ar. A atmosfera preferida é
6% de oxigênio e 10% de dióxido de carbono. Isso é atingido em recipientes
próprios, utilizando sachês de gás que geram os gases necessários.
O método de detecção com base na PCR inclui a detecção do gênero
Campylobacter utilizando a sequência do gene altamente conservado 16S-
rRNA como alvo para a reação e a sonda do gene do hipurato para a espécie
específica C. jejuni.
Há uma série de métodos de tipificação para Campylobacter. Métodos
tradicionais com base em diferenças dos antígenos da superfície, como os
lipopolissacarídeos (LPS) e os flagelares, têm sido aplicados para
Campylobacter, porém são problemáticos, pois as estruturas da superfície são
variáveis mesmo em uma mesma cepa. O esquema da biotipificação (perfil da
atividade bioquímica) de Preston é mais extenso do que o Lior. Dois
procedimentos para sorotipificação são utilizados: o esquema Penner e Hen-
nessy, para os antígenos termoestáveis (lipopolissacarídeos) e o esquema Lior,
para os antígenos termolábeis (flagelares). A fagotipificação pode diferenciar
cepas em um sorovar, e é uma técnica simples que pode ser usada em várias
cepas de forma simultânea.
Os genomas do C. jejuni e C. coli foram sequenciados, e foram
utilizados dois métodos de tipificação baseados no DNA: MLST (Seção 5.5.5) e
microarray DNA. Uma vantagem do MLST é que ele é claro e mais confiável do
que a fenotipificação. Entretanto, também tem uma desvantagem, pois clones
comuns vão necessitar de mais diferenciações. Como consequência, o método
MLST usa um núcleo com sete genes conservados. Dois genes envolvidos na
síntese da proteína flagelar também podem ser incluídos por serem mais
variáveis. Diferentes grupos clonais de C. jejuni foram identificados em animais
específicos, no entanto, alguns estão bastante disseminados e podem ser
encontrados em humanos. Foram desenvolvidos ensaios de PCR Taqman em
tempo real para detectar nucleotídeo único com polimorfismo específico para
os seis principais complexos clonais MLST. Isso pode ser aplicado para
detecção rápida do C. jejuni e localização clonal.

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