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R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

R evis t a
IS S N 16778510

FISIOLOGIA FISIOLOG

B r asi l ei r a
DO EXERCÍC
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DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology

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FISIOLOGIA
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

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• Flexibilidade de mulheres submetidas
a alongamento em grupo FISIOLOGIA
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Acúmulo E lactato I O DO E X E R C Í C I O
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EXERCÍCIO ESPORTE

volum e 0 4 - núm ero 0 1 • Jan/ D ez 2 0 0 5


DO
DO E X E R C Í C I O
FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO • Treinamento de força aplicado
em praticantes de hidroginástica
Volume de exercícios com pesos F I S I O L
DO EXERCÍCIO FISIOLOGIA
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FISIOLOGIA hipotensivos e respostas a programas
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DO EXERCÍCIO DO EXERCÍCIO
www.atlanticaeditora.com.br v o l u m e 0 4 - n ú me ro 01 • J a n/D e z 2005

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R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Sumário
volume 4 número 1 - janeiro/dezembro 2005

Editorial
Carta ao leitor, Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti..................................................................................................... 3

Artigos Originais
Análise do intervalo de recuperação e consistência no teste de 1RM,
José Eduardo Lattari Rayol Prati, Sergio Eduardo de Carvalho Machado, André Pinheiro,
Mauro César Gurgel de Alencar Carvalho, Estélio Henrique Martin Dantas ................................................................. 4
Desempenho funcional de idosos asilados, Rodrigo Barbosa de Albuquerque,
Amandio A. Rihan Geraldes .......................................................................................................................................... 7
Efeito agudo dos alongamentos estático e FNP sobre o desempenho da força
dinâmica máxima, Thiago Matassoli Gomes, Ercole da Cruz Rubini, Homero da SN Junior,
Jefferson da Silva Novaes, Alexandre Trindade ............................................................................................................. 13
Predição do volume de exercícios com pesos para promoção da exaustão em três grupos
musculares de atletas mediante variações de componentes sanguíneos,
Carlos Alexandre Fett, Fábio Lera Orsatti, Roberto Carlos Burini................................................................................ 17
Utilização do teste de 1RM na prescrição de exercícios resistidos: vantagem ou desvantagem?
Alex Souto Maior, Adriana Lemos, Nélson Carvalho, Jéferson Novaes, Roberto Simão ............................................... 22
Correlação entre o acúmulo de lactato e a flexibilidade medida pelo teste de sentar
e alcançar em lutadores de Wushu, Rafael Reimann Baptista, Alexsander dos Anjos Ramos,
Bruno Fraga da Silva, Bruno Ogodai S. D. de Castro .................................................................................................. 27
Efeitos de um treinamento de força aplicado em mulheres praticantes de hidroginástica,
Luiz Fernando Martins Kruel, Roberta Eilert Barella, Fabiane Graef,
Michel Arias Brentano, Paulo Poli de Figueiredo, Ananda Cardoso, Carla Rosana Severo ............................................ 32
Avaliação da flexibilidade em mulheres submetidas a exercícios de alongamento em grupo,
Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea, Thais Renata Conejo,
Silvia Maria de Mendonça, Renata Munari, Maria Cristina Strabelli Titto ................................................................... 39

Revisões
Questionário de Prontidão para Atividade Física (PAR-Q)
Leonardo Gomes de Oliveira Luz, Paulo de Tarso Veras Farinatti ................................................................................ 43
Hipertensão arterial: uma abordagem direcionada aos efeitos do treinamento,
mecanismos hipotensivos e respostas a programas de exercícios,
Kalline Russo, Walace Monteiro .................................................................................................................................. 49

Resumos
Anais do IV Workshop em Fisiologia do Exercício – UFSCar e I Congresso
Paulista da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício ........................................................................................... 58

Normas de Publicação .................................................................................................................................. 68

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2 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

R e v i s t a B r a s i l e i r a d e

FISIOLOGIA
DO EXERCÍCIO
Brazilian Journal of Exercise Physiology
Órgão Oficial da Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício

Editor Chefe
Paulo de Tarso Veras Farinatti

Conselho Editorial
Antonio Carlos Gomes (PR) Patrícia Chakour Brum (SP)
Antonio Cláudio Lucas da Nóbrega (RJ) Paulo Sérgio Gomes (RJ)
Dartagnan Pinto Guedes (PR) Rolando Baccis Ceddia (CAN)
Emerson Silami Garcia (MG) Robert Robergs (USA)
Fernando Pompeu (RJ) Rosane Rosendo (RJ)
Francisco Martins (PB) Sebastião Gobbi (SP)
Jacques Vanfraechem (BEL) Steven Fleck (USA)
Luiz Fernando Kruel (RS) Yagesh N. Bhambhani (CAN)
Martim Bottaro (DF) Vilmar Baldissera (SP)

Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício


Corpo Diretivo: Paulo Sérgio C. Gomes (Presidente), Vilmar Baldissera, Patrícia Brum, Pedro Paulo da Silva Soares,
Paulo Farinatti, Marta Pereira, Fernando Augusto Pompeu

Rio de Janeiro
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 3

Editorial

Carta ao Leitor

Caros(as) Colegas, publicação da revista viu-se interrompida. Além de artigos


A Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício (SBFEx) originais e de revisão, são disponibilizados os Anais do II
foi fundada em 2002 por pesquisadores de diversas regiões do Encontro Regional de Fisiologia do Exercício, realizado em
país, que desejavam criar um fórum de discussão e fomento São Carlos. Em seguida, os números relacionados ao volume
da área que não fosse vinculado a quaisquer categorias pro- de 2007 serão lançados com a periodicidade que a RBFEx
fissionais. Uma das iniciativas em que se investiu foi a criação tinha, qual seja, quadrimestral.
da Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício (RBFEx), Este volume, portanto, marca a retomada de um projeto
doravante órgão oficial da SBFEx. A RBFEx foi publicada caro a muitos profissionais, pesquisadores e docentes, que nele
entre os anos 2002 e 2004 quando, em virtude de falta de investiram tempo e energia. Fica aqui o agradecimento a todos
interesse da editora à qual estava vinculada, teve sua periodi- que vêm colaborando com a RBFEx, seja na sua concepção
cidade interrompida. ou na revisão de artigos. Um obrigado especial aos colegas
Após dois anos de negociações, encontramos na Editora que, mesmo sabendo de todos os problemas pelos quais a
Atlântica as condições estruturais e de profissionalismo com- revista passou, nela continuaram acreditando e enviaram
patíveis com os ideais que estavam na origem da criação da suas colaborações. Sem eles, certamente a RBFEx não mais
RBFEx. Estamos, portanto, diante do desafio de recuperar existiria. Enfim, convidamos todos a participar do sonho
o tempo perdido e fazer da revista um veículo de divulgação de termos no Brasil uma revista especificamente voltada
da produção científica em fisiologia do exercício, respeitado para as questões da fisiologia do exercício, prestigiando-
e procurado pelos pesquisadores que militam nesse campo nos com sua escolha para a divulgação de resultados de
de conhecimento. pesquisas e estudos!
Em um primeiro momento serão lançados dois volumes,
contemplando os anos de 2005 e 2006, período em que a Prof. Dr. Paulo Tarso Veras Farinatti
Editor-Chefe da RBFEx

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4 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Artigo original

Análise do intervalo de recuperação


e consistência no teste de 1RM
Consistency and interval recovery analysis in 1RM test

José Eduardo Lattari Rayol Prati*, Sergio Eduardo de Carvalho Machado**, André Pinheiro***, Mauro César Gurgel de Alen-
car Carvalho****, Estélio Henrique Martin Dantas*****

*Mestrando em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora - IPUB/UFRJ, **Mestrando
em Saúde Mental - Laboratório de Mapeamento Cerebral e Integração Sensório-Motora - IPUB/UFRJ, Bolsista Capes, ***Professor
- Academia West Fitness Club, ****Doutorando em Engenharia Civil - Laboratório de Métodos Computacionais em Engenharia
- COPPE/UFRJ, *****Professor, Laboratório de Biociências da Motricidade Humana - LABIMH - UCB/RJ

Resumo Abstract
O presente estudo verificou se 10 minutos de intervalo no teste The present study verified if 10 minutes of interval in the 1RM
de 1RM foram suficientes para a recuperação total de força e fidedig- test had been enough for recovery the total of strength and reliability
nidade de seu re-teste 10 minutos após sua aplicação. A amostra foi of its re-test 10 minutes after application. Sample was composed by
composta de 20 homens saudáveis e treinados, sem histórico de lesão, 20 health trained male without history of lesion, aging (23.5 ± 3.69),
com média de idade (23,5 ± 3,69), peso (73,1 kg ± 9,93) e estatura weight (73.1 kg ± 9.93) and stature (1.76 m ± 0.05). To analyze
(1,76 m ± 0,05). Para analisar o intervalo de recuperação entre os the recovery interval between 1RM tests a paired t test was used,
testes de 1RM utilizou-se um teste t pareado, já para a análise da and for the reliability analysis the intraclass correlation coefficient
fidedignidade utilizou-se o coeficiente de correlação intra-classe (CCI) (ICC) was used to determine the internal consistence. Only a high
para determinar a consistência interna. Somente foi verificado um alto ICC indices was verified, reaching the reability (p = 0.000). We
índice de CCI, atingindo a fidedignidade (p = 0,000). Conclui-se concluded that 1RM test carried out in a same day and 10 minutes
que o teste de 1RM realizado em um mesmo dia e 10 minutos após after presenting a high ICC index for bench press exercise to male
apresenta um alto índice de CCI para o exercício de supino em homens that are familiar to the test, showed adequate recovery interval to
familiarizados ao teste, mostrando-se suficiente para o intervalo de restore strength.
recuperação para restabelecimento total da força. Palavras-chave: recovery interval, internal consistency, strength,
Palavras-chave: intervalo de recuperação, consistência interna, 1RM.
força, 1RM.

Introdução sendo esse teste (1RM) muito utilizado para se verificar o


nível de força dinâmica máxima do indivíduo [5]. Outro
O teste de 1RM representa por si só um esforço máximo grande questionamento sobre o uso do teste de 1RM é
e, conseqüentemente, um desgaste é gerado. Apesar da ne- sobre as alterações da carga provocadas com diferentes po-
cessidade de familiarização, até o presente momento, o teste pulações [4], diferentes idades [6], grupamento muscular
de uma repetição máxima (1RM) tem sua confiabilidade utilizado [1] e a confiabilidade inter e intra-avaliadores [4].
bem consolidada como corroboram alguns estudos [1-4], O intervalo de recuperação é outra importante variável

Recebido em 12 de outubro de 2005; aceito em 10 de dezembro de 2005.


Endereço de correspondência: Sergio Eduardo de Carvalho Machado, Rua Professor Sabóia Ribeiro, 69/104, Leblon, 22430-130 Rio
de Janeiro RJ, E-mail: secm80@yahoo.com.br

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 5

podendo-se comprometer o desenvolvimento da força [7]. Análise estatística


Em condições de intervalos mais longos permitiram-se volu-
mes de repetições mais elevadas [8]. Corroborando com tal Para análise da diferença de cargas do teste entre teste (1RM)
afirmação estão os estudos de Willardson [9,10], mostrando e re-teste (1RM 10 min) utilizou-se um teste t pareado. Para a
que intervalos de descanso mais longos tendem a acarretar análise da fidedignidade do teste e re-teste, no mesmo dia, para
em maiores aumentos da força, aumentando dessa maneira um mesmo avaliador, utilizou-se o coeficiente de correlação intra-
a consistência das repetições executadas para cada série no classe (CCI) para determinar a consistência interna [13,14].
exercício de supino.
Dessa maneira, o objetivo do seguinte estudo foi verificar Resultados
se 10 minutos de intervalo é suficiente para recuperação da
força total no teste de 1RM e a fidedignidade do teste de 1RM Através da análise dos dados, verificou-se a média e o
através do seu re-teste 10 minutos após a primeira aplicação desvio padrão dos testes de 1 RM em seus dois momentos,
em homens treinados. conforme se pode observar na Tabela I.

Métodos Tabela I - Média e desvio padrão do teste de 1RM em seus dois


momentos.
Amostra Testes Média (kg) Desvio Padrão (kg)

1RM 87.80 18.95


A amostra foi composta por 20 homens saudáveis, com
idade média de 23,5 anos (± 3,69), peso de 73,1 kg (± 9,93) 1RM 10 min 88.00 18.95
e estatura de 1,76 m (± 0,05). Ambos praticantes de treina- RM = repetição máxima; min = minutos; kg = quilos.
mento de força, com um mínimo de 6 meses, com atividade
regular de pelo menos 3 vezes por semana, sem histórico de a) Quanto ao intervalo de recuperação no teste de 1RM
lesão. Os indivíduos, após serem previamente esclarecidos Os resultados encontrados (média = 0,20 kg, desvio pa-
sobre os propósitos da investigação e procedimentos aos quais drão = ± 0,89 kg) mostraram que através do teste t pareado
seriam submetidos, assinaram um termo de consentimento não houve diferença significativa entre o teste e re-teste de
livre e esclarecido. Este estudo está de acordo com as normas 1RM, obtendo-se um p = 0.330.
da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre b) Quanto à fidedignidade no teste de 1RM após 10 minutos
pesquisa envolvendo seres humanos. de intervalo
Os resultados encontrados através do coeficiente de con-
Procedimentos quanto ao teste de 1RM sistência interna (CCI = 0,99) mostram que a fidedignidade
do teste de 1RM foi atingida, obtendo-se um p = 0,000.
Foi realizado um teste de 1RM no supino, sendo este
precedido por uma série de aquecimento (10 repetições). Tal Discussão
procedimento foi repetido no máximo de três tentativas, com
5 minutos de intervalo entre cada tentativa, determinando a O objetivo do seguinte estudo foi verificar se 10 minutos
carga referente a uma única repetição máxima [11]. Após um de intervalo é suficiente para recuperação da força total no
período de descanso de dez minutos foi realizado um re-teste teste de 1RM e a fidedignidade do teste de 1RM através do
de 1RM (1RM 10 min). seu re-teste 10 minutos após a primeira aplicação em homens
Para a redução de erros de execução foram realizados os treinados. De acordo com nossos resultados, verificou-se que
seguintes procedimentos: 10 minutos de intervalo foi suficiente para a recuperação total
a) todos os participantes da pesquisa foram devidamente de força no teste de 1RM, mostrando-se fidedigno após 10
instruídos quanto aos procedimentos dos testes e técnicas minutos de sua aplicação.
de execução no exercício de supino reto, já que diferentes a) Quanto ao intervalo de recuperação no teste de 1RM
técnicas de execução dos exercícios que envolvam angula- Dentre os diversos estudos que investigaram a influência
ções diversas, principalmente nas posições iniciais destes, do intervalo sobre o desempenho de força no supino, talvez
devem ser rigorosamente controladas, pois podem afetar um dos pioneiros seja o estudo de Weir [15]. Este investigou
a carga levantada [12]; o comportamento da força dinâmica máxima no teste de
b) só foram aceitos os testes de 1RM em que a angulação 1RM, em 16 homens treinados no exercício de supino em
entre braço e antebraço ultrapassasse o de 90º, com a barra intervalos de 1, 3, 5 e 10 minutos. Os resultados mostraram
tocando levemente ao peito; que não houve diferença significativa para os diferentes in-
c) todos os testes foram realizados no mesmo horário para o tervalos de recuperação. Porém, houve insucesso de apenas
mesmo indivíduo. 2 sujeitos quando aplicado um intervalo de 5 minutos e 1
sujeito quando aplicado um intervalo de 10 minutos.

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6 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Sabe-se que um longo intervalo de descanso é necessário Referências


para a recuperação do sistema neural e energético. Sustentando
essa hipótese, o estudo de Pincivero [16] mostrou que os mús- 1. Cronin JB, Henderson M. E. Maximal strength and power
culos posteriores de coxa responderam de forma mais eficiente assessment in novice weight trainers. J Strength Cond Res
2004;18(1):48–52.
à um programa de treinamento de força isocinético, quando 2. Dias RM, Cyrino ES, Salvador EP, Caldeira LFS, Nakamura FY,
foram aplicados longos intervalos de descanso intra-sessão. Papst RR, et al. Influência do processo de familiarização para
Quanto ao tempo de recuperação do sistema nervoso avaliação da força muscular em teste de 1-RM. Rev Bras Med
central, a incompleta recuperação desse sistema pode reduzir Esporte 2005;11(1):34-38.
o recrutamento de unidades motoras [17]. Tal fato pode estar 3. Pereira MIR, Gomes PSC. Teste de força e resistência muscular:
atribuído à fadiga de origem neurobiológica ou psicológica confiabilidade e predição de uma repetição máxima. Revisão e
novas evidências. Rev Bras Med Esporte 2003;9(5):325-35.
ligada a mudanças neuroquímicas que afetam o processo de
4. Ploutz-Snyder LL, Giamis EL. Orientation and familiarization
contração muscular. to 1RM strength testing in old and young women. J Strength
Entretanto, todos os estudos citados anteriormente são de Cond Res 2001;15(4):519–23.
efeitos agudos sobre a força. Dessa maneira, pode-se dizer que 5. Baechle TR, Groves BR. Treinamento de força: passos para o
estudos investigando os efeitos do intervalo de recuperação sucesso. 2a ed. Porto Alegre: Artmed; 2000.
sobre a força muscular em estudos longitudinais ainda são 6. Braith RW, Graves JE, Leggett SH, Pollock ML. Effect of
training on the relationship between maximal and submaximal
escassos na literatura [18].
strength. Med Sci Sports Exerc 1993;25(1):132-38.
b) Quanto à fidedginidade no teste de 1RM 7. Kraemer WJ. A series of studies - The physiological basis of
Em relação à fidedignidade do teste de 1RM, Pereira e strength training in american football: fact over philosophy. J
Gomes [3] relatam que esta mostrou-se de moderada a alta, Strength Cond Res 1997;11(3):131-42.
variando entre 0,79 e 0,99 de correlação, de acordo com o 8. Willardson JM, Burkett LN. A comparison of 3 different rest
gênero dos sujeitos e exercícios realizados. intervals on the exercise volume completed during a workout.
Porém, a maioria dos estudos verificaram a estabilização J Strength Cond Res 2005;19(1):23-26.
9. Willardson JM. A brief review: factors affecting the length of the
de cargas com testes sendo realizados em dias diferentes [2], rest interval between resistance exercise sets. J Strength Cond
populações adversas [4,6,19,20] e diferentes grupamentos Res 2006;20(4):978-84.
musculares [1]. Um outro importante ponto a ressaltar, é que 10. Willardson JM, Burkett LN. The effect of rest interval length on
todos os estudos citados realizaram análises estatísticas com bench press performance with heavy vs. light loads. J Strength
coeficiente de correlação de Pearson. Tal coeficiente é utilizado Cond Res 2006a;20(2):396-99.
para verificar a variação entre as médias obtidas entre grupos, 11. Whisenant MJ, Panton LB, East WB, Broeder CE. Validation
of submaximal prediction equations for the 1 repetition maxi-
diferentemente de nosso trabalho que utilizou o coeficiente
mum bench press test on a group of collegiate football players.
de correlação intra-classe (CCI), responsável em verificar essas J Strength Cond Res 2003;17(2):221-27.
possíveis alterações intra-grupo [13,14]. 12. Moura JAR, Borher T, Prestes MT, Zinn JL. Influencia de dife-
A estabilização da carga máxima no exercício de supino neces- rentes ângulos articulares obtidos na posição inicial do exercício
sita de três a quatro sessões, conforme estudo de Dias et al. [2]. Em pressão de pernas e final do exercício puxada frontal sobre os
nosso estudo foram realizados teste e re-teste dentro do mesmo valores de 1RM. Rev Bras Med Esporte 2004;10(4):269-74.
dia, apresentando um alto coeficiente de correlação intra-classe, 13. Vincent WJ. Statistics for kinesiology. 2nd ed. Illinois: Human
Kinetics; 1999.
havendo somente realização de testes dentro do mesmo dia. O 14. Thomas JR, Nelson JK. Métodos de pesquisa em atividade física.
que sugere uma rápida estabilização devido ao uso do exercício 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2002.
de supino cujo estudo de Cronin e Henderson [1] demonstrou 15. Weir JP, Wagner LL, Housh TJ. The effect of rest interval
ser mais rápido para o grupamento muscular do peitoral. length on repeated maximal bench presses. J Strength Cond
Res 1994;8(1):58-60.
16. Pincivero DM, Lephart SM, Karunakara RG. Effects of rest
Conclusão
interval on isokinetic strength and functional performance
after short term high intensity training. Br J Sports Med 1997;
Conclui-se que o teste de uma repetição máxima (1RM) 31(3):229-34.
realizado dentro do mesmo dia apresentou um alto índice de 17. Davis J, Bailey SP. Possible mechanisms of central nervous system
correlação intra-classe em homens bem familiarizados ao teste, fatigue during exercise. Med Sci Sports Exerc 1997;29:45-57.
demonstrando excelente reprodutibilidade. E demonstrou 18. Bird SP, Tarpenning M, Marino FE. Designing resistance
também que o intervalo de recuperação foi suficiente para o training programmes to enhance muscular fitness. Sports Med
restabelecimento total da força. 2005;35(10):841-51.
19. Rikli RE, Jones CJ, Beam WC, Duncan SJ, Lamar B. Testing
Sugere-se que sejam realizadas novas investigações, veri- versus training effects on 1RM strength assessment in older
ficando a confiabilidade de testes com diferentes números adults [Resumo]. Med Sci Sports Exerc 1996;28:S153.
de repetições máximas, levando em consideração os fatores 20. Gurjão ALD, Cyrino ES, Caldeira LFS, Nakamura FY, Oliveira
que podem interferir nessa análise como idade, grupamento AR, Salvador EP, Dias R MR. Variação da força muscular em
muscular utilizado e tempo de familiarização. testes repetitivos de 1-RM em crianças pré-puberes. Rev Bras
Med Esporte 2005;11(6):319-24.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 7

Artigo original

Desempenho funcional de idosos asilados


Functional performance in institutionalized old subjects

Rodrigo Barbosa de Albuquerque*, Amandio A. Rihan Geraldes**

*Graduado em Educação Física, NUPAFIDES-EDF-UFAL , Maceió AL, **Professor Assistente da Universidade Federal de Alago-
as, NUPAFIDES-EDF-UFAL, Departamento de Educação Física, Maceió AL

Resumo Abstract
O objetivo do presente estudo foi identificar o nível de autono- The purpose of this study was to identify the level of functio-
mia funcional de idosos asilados, através da avaliação do desempenho nal autonomy in elderly, through functional skills evaluation. The
em tarefas funcionais selecionadas. Participaram da pesquisa deze- sample was composed by nineteen elderly, twelve men (aged 70.45
nove idosos, sendo 12 homens (média de idade = 70,45 ± 6,02) e ± 6.02) and seven women (79.42 ± 10.65). Outcomes variable in-
7 mulheres (média de idade = 79,42 anos ± 10,65). As medidas do cluded the functional performance measured by minimal time that
desempenho funcional de cada uma das variáveis estudadas foram the individuals have to accomplish the following tasks: 1) the 10
acessadas através do tempo mínimo gasto para realizar as seguintes meter walk test; 2) “Timed Up And Go Test” (TUGT); 3) time to
tarefas: 1) caminhada de 10 metros (C10); 2) “Timed Up And Go remove and to place a key in the lock (KL); 4) time to remove and
Test” (TUGT); 3) tempo para tirar e recolocar uma chave em uma to put a lamp (PL). The results suggest that 84% of the individuals
fechadura (CF); 4) tempo para tirar e recolocar uma lâmpada (RL). have accomplished all tasks. In the 10 meter walk while men spent
De acordo com os resultados, 84% dos indivíduos conseguiram 8.74 ± 2.5 seconds to accomplish this task, women spent 24.41 ±
realizar todas as tarefas propostas. No desempenho da tarefa C10, 14.5 seconds. The duration is not enough for pedestrians to cross
enquanto os homens gastaram 8,74 seg. (± 2,5) para a realização a street in developed countries such as USA (1.22 m/s) or Sweden
desta tarefa, as mulheres levaram um tempo médio de 24,41 seg. (± (1.44 m/s). For the other tasks the average time for the TUGT was
14,50). Este tempo não é suficiente para atravessar uma rua padrão 14.96 ± 3.90 and 28.24 ± 15.1 for man and woman, respectively;
em vários países desenvolvidos, como por exemplo, nos EUA (1,22 10.16 ± 18.90 and 8.93 ± 9.90 for the KL and 13.78 ± 18.90 and
m/s) ou na Suécia (1,4 m/s). Para as outras tarefas o tempo médio, 8.93 ± 9.90 for the PL. These findings suggest the need of public or
gasto por homens e mulheres, respectivamente foi de: 14,96 seg. private interventions aiming at improving functional performance
(± 3,90) e 28,24 seg. (± 15) para TUGT; 10,16 seg. (± 18,90) e of this population and consequently better life quality.
8,93 seg. (± 9,90) para a CF e 13,78 seg. (± 18,90) e 8,93 seg. (± Key-words: elderly, functional autonomy, asylums, sarcopenia.
9,90) para a RL. Esses achados sugerem a premente necessidade de
intervenções, sejam públicas ou privadas, que objetivem a melhora
do desempenho funcional desta população e, conseqüentemente,
aumento da qualidade de vida.
Palavras-chave: idosos, autonomia funcional, asilos, sarcopenia.

Recebido 27 de fevereiro de 2005;aceito 12 de julho de 2005.


Endereço para correspondência: Rodrigo Barbosa de Albuquerque, Rua Tupinambás, 78, Ponta Grossa, 57014820 Maceió AL, E-
mail: albuquerque.1@superig.com.br

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8 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Introdução independente. Estas ocorrências aumentam o tamanho dos


desafios dos serviços públicos de saúde, em gerar um bom
O crescimento populacional e, conseqüentemente, o au- serviço e qualidade de vida para esse segmento da população.
mento da expectativa de vida têm acontecido em quase todos Nobrega et al. [14] estima que, com o envelhecimento da po-
os países do mundo, promovendo alterações relevantes no pulação, por volta de 2020, o número de idosos brasileiros,
estilo de vida de todas as sociedades. No Brasil, o segmento portadores de moderada ou grave incapacidade funcional,
populacional que mais cresce é o de idosos [1]. Em 9 anos (de aumentará entre 84 a 167%. Felizmente, essas constatações
1991 a 2000) o número de idosos (indivíduos com 60 anos não são de todo desanimadoras, desde que, os resultados de
ou mais) aumentou duas vezes e meia, enquanto o restante vários estudos [9,15-21] têm demonstrado que o aumento
da população do país aumentou apenas 14% [2,3]. Ramos dos níveis de atividade física pode desempenhar importante
[4] reporta que nos EUA, em 2020, aproximadamente 20% papel como coadjuvante na prevenção e manutenção da
da população será formada por sujeitos com mais de 65 anos. funcionalidade e autonomia do idoso.
No mesmo país, em 2040, cerca de 1,3 milhão de sujeitos O exposto demonstra a relevância investida no desen-
serão centenários. Levando em consideração esse cresci- volvimento de estudos que visem a verificação dos níveis de
mento, estudos recentes [1,5-9] têm se dedicado a, além de desempenho funcional de populações idosas, especialmente,
dar melhorares condições de saúde para a população idosa, aquelas nas quais o risco de diminuição da funcionalidade
propor estratégias preventivas contra os efeitos deletérios do é incontestavelmente elevado, como a deste estudo. Sendo
envelhecimento. assim, o presente estudo teve como objetivo principal a ve-
Roubenoff [10] observa que uma das principais carac- rificação dos resultados de desempenho funcional de idosos
terísticas do processo de envelhecimento é a sarcopenia. O que vivem em asilos públicos da cidade de Maceió, em tarefas
autor complementa a observação lembrando que este termo motoras selecionadas.
é o nome dado a esperada perda da massa e força muscular, Esta pesquisa se insere na linha de pesquisa: Aptidão física,
principalmente, devido à diminuição do número de fibras Autonomia Funcional e Qualidade de Vida Para Idosos, fazen-
musculares do Tipo II. Segundo Ehrlich & Livtak [11], a do parte da produção do Núcleo de Pesquisa em Atividades
partir dos 60 anos, a perda de força muscular pode atingir Físicas, Desempenho e Saúde do Departamento de Educação
cerca de 10% por década. Física da Universidade Federal de Alagoas (NUPAFIDES-
Embora não possa ser classificada como doença, a EDF-UFAL).
sarcopenia tem sido responsabilizada, juntamente com a
inatividade física, por grande parte, do aumentado risco Métodos
para limitações no desempenho em tarefas motoras, das
mais simples às complexas, como levantar de uma cadeira, Seleção e características dos sujeitos
por exemplo. Lima-Costa, Barreto & Giatti [12] observam
que, em se tratando da funcionalidade de idosos, esta pode Neste estudo, de caráter descritivo, utilizou-se uma
ser dimensionada em termos de desempenho funcional amostra composta por 19 sujeitos (12 homens e 7 mulheres)
em determinadas atividades importantes para a autonomia com idades compreendidas entre 61 e 99 anos (X = 70,45
funcional do dia-a-dia. DP = ± 6,02), selecionados dentre os idosos que residiam, há
Chaimowicz & Greco [5] lembra que, concomitante- mais de três anos, em três das instituições asilares públicas da
mente com o envelhecimento, aumentam a incidência e cidade de Maceió. Foi selecionado como critério de exclusão,
prevalência das doenças crônico-degenerativas. Estas do- ter menos de 60 anos de idade, e apresentar evidências que
enças, associadas a sarcopenia e à inatividade física, além incapacitasse os idosos na realização das tarefas, como, por
de poderem levar à fragilidade e dependência funcional, exemplo: estar sob tratamento com drogas que embotassem
aumenta o risco de necessidade de internamento e institu- a atenção ou impedissem a realização das tarefas e, ou, apre-
cionalização. Cançado [13] observa que quanto mais alta sentassem evidências de doenças neurológicas, cardíacas,
for a idade, menor será a probabilidade do idoso se manter ósteo-mio-articulares, dentre outras.

Tabela I - Características físicas dos sujeitos.


HOMEM (n = 12) (Vm – VM) MULHER (n = 7)
M DP M DP
IDADE (anos) 70,45 6,02 61 99 79,42 10,65
ESTATURA (cm) 159,56 7,78 138,2 172,2 145,94 5,24
PESO (Kg) 64,57 8,92 41,1 78 49,01 10,92
IMC (Kg/m2) 24,53 2,94 19,2 31,01 22,7 4,18
IMC = Índice de Massa Corporal; M = Média; DP = Desvio Padrão; Vm= Valor mínimo; VM = Valor Máximo.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 9

Para a caracterização antropométrica da amostra, utili- Tirar e colocar a chave em uma fechadura
zaram-se as medidas da massa corporal, estatura e Índice de
Massa Corporal (Tabela I). Esse teste foi proposto e utilizado por Lundgren-Lindquist
Após a explicação dos objetivos, procedimentos experi- & Sperling [24] para avaliar a habilidade manual de indivídu-
mentais, importância e relevância do estudo e possíveis riscos, os idosos. O teste consiste em, se partindo-se da posição inicial
derivados do experimento, leu-se para todos os idosos o con- em pé, em frente ao equipamento, colocado a uma altura de
teúdo da carta de consentimento. Ao fim da leitura os idosos 95 a 100 cm do chão, onde está a fechadura foi marcado o
que se propuseram a participar do experimento, assinaram tempo para tirar e recolocar a chave.
ou a puseram as digitais de seus polegares sobre o termo de
consentimento. Além disso, a presente pesquisa respeitou os Tirar e recolocar uma lâmpada em um bocal
preceitos e normas ditadas pelo Conselho Nacional de Saúde
(resolução n° 01/88) (CNS, 1995). Esse teste, também proposto por Lundgren-Lindquist &
Sperling [24], destina-se à avaliação da habilidade manual
Medidas da funcionalidade de idosos.

Na maioria dos asilos estudados, os testes foram realiza- Tratamento estatístico


dos em um único dia. Entretanto, em alguns asilos, houve
a necessidade de se utilizar dois dias consecutivos para as Com o objetivo de organizar e apresentar à análise os
avaliações. dados estudados, utilizaram-se os seguintes recursos da esta-
Para acessar o desempenho funcional dos idosos, mediu-se tística descritiva: média, desvio padrão, freqüência absoluta
o tempo gasto para a realização de quatro das atividades ou e freqüência relativa e delta percentual (Δ%).
tarefas motoras importantes para o cotidiano, utilizadas como
testes em estudos anteriores, descritos a seguir. Resultados
Caminhar 10 metros Apresentação dos resultados no desempenho funcional
Os resultados do desempenho funcional em cada uma das
Este teste, utilizado em estudos anteriores [6,22], desti- tarefas selecionadas podem ser observados na Tabela II.
na-se a medir a velocidade de caminhada para uma distância
equivalente a largura de uma rua padrão. O teste consiste em Resultados do teste: caminhar 10 metros.
caminhar em linha reta, uma distância equivalente a 10 (dez)
metros, o mais rápido possível, sem correr. Neste teste, os homens e mulheres que compuseram a
amostra gastaram, respectivamente, um tempo médio de
“Timed Up & Go Test” 8,74s (± 2,2) e 24,41s (± 14,5) para a realização da tarefa, o
que corresponde a uma velocidade média de 1.31 m/s (DP=
Este teste, dentre outras variáveis, destina-se a medir, ± 0,31) para os homens e 0,54 m/s (DP = ± 0,3) para as
principalmente a coordenação motora e o equilíbrio. Segun- mulheres.
do Podsiadlo & Richardson [23], pode ser utilizado como
preditor para a funcionalidade e morbi-mortalidade. O teste Resultados do teste: “Timed Up & Go Test”
é iniciado com o sujeito sentado em uma cadeira. O avaliado
deve levantar-se da cadeira, sem auxílio dos braços, caminhar Quando analisamos o TUGT, é pertinente lembrar que as
em linha reta, o mais rapidamente possível sem correr, uma autoras do mesmo, Podsiadlo & Richardson [23], reportam
distância de três metros, ao fim dos quais, deve fazer meia que, em termos funcionais, enquanto os indivíduos que con-
volta, percorrer o mesmo percurso e mais uma vez sentar. seguem realizar essa tarefa em tempo inferior a 10 segundos

Tabela II - Desempenho nas habilidades funcionais selecionadas.


HOMENS (n = 12) (Vm – VM) MULHERES (n = 7)
n M DP n M DP
TTRL(seg) (11) 13,78 ± 7,73 6,3 – 50,16 (7) 21,57 ± 15,18
TTEC(seg) (11) 10,16 ± 18,9 1,67 – 66,39 (7) 8,93 ± 9,9
TUAGT(seg) (12) 14,96 ± 3,9 9,64 – 52,74 (6) 28,24 ± 15,1
TC 10m(seg) (12) 8,74 ± 2,5 5,11 – 46,84 (7) 24,41 ± 14,5
TTCL = Tempo para retirar e recolocar uma lâmpada; TTEC = Tempo para retirar e recolocar a chave; TUAGT = “Timed Up And Go Test” ; TC 10 m = Tempo
para realizar a Caminhada de 10 metros, n = número de participantes, M = Média, DP = Desvio Padrão, Vm = Valor Mínimo, VM = Valor Máximo.

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10 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

são classificados como funcionalmente independentes; os internações hospitalares e, quando internados, apresentam
sujeitos que realizam o teste em um período de tempo superior um tempo de ocupação do leito maior que o de outras faixas
a 10 segundos e inferior a 20 segundos são classificados como etárias [12].
parcialmente independentes. Finalmente, os indivíduos que Indivíduos idosos que vivem em instituições asilares têm
realizam o teste em tempo superior a 30, ou não o conseguem demonstrado menores níveis de atividade e aptidão física,
realizar, são classificados como funcionalmente dependentes, quando comparados com os idosos que vivem na comuni-
tendendo a necessitar de assistência de outras pessoas. Dessa dade. Sendo mais frágeis, esses idosos apresentam maiores
forma, pôde-se observar que, todos os sujeitos do sexo mas- riscos para doenças crônico-degenerativas, limitações fun-
culino foram classificados como parcialmente independentes. cionais e quedas [25]. No Distrito Federal, Melo et al. [26]
Entretanto, dentre as mulheres, observou-se a ocorrência das investigando o nível de atividade física em instituições que
três classificações. Ou seja, uma delas foi considerada fun- cuidam de idosos, observou que nenhuma das instituições
cionalmente dependente, desde que não conseguiu realizar estudadas oferecia qualquer programa de atividade física
o mesmo; três foram consideradas parcialmente indepen- orientada. Mais uma vez no Brasil, em um estudo feito na
dentes, uma foi considerada funcionalmente independente região sul do país, Benedetti & Petroski [25] constataram que
e três como dependentes da assistência de outras pessoas para as instituições asilares, devido ao declínio do organismo e a
realizarem esta atividade motora. uma maior fragilidade dos indivíduos, têm dado preferência
às atividades que requeiram menor esforço físico. A autora
Resultados do teste: retirar e recolocar uma lâm- observou a ocorrência de um fenômeno interessante que, se-
pada em um bocal gundo a mesma, termina convertendo-se em um ciclo vicioso:
à medida que há o incremento da idade, o indivíduo tende
Neste teste, embora 100% das mulheres fossem capazes a tornar-se menos ativo, por conseguinte suas capacidades
de desempenhar a tarefa, três delas (43%), demonstraram físicas diminuem, começa a aparecer o sentimento de velhice,
significativas dificuldades na realização da tarefa. Dentre os que pode por sua vez causar estresse, depressão e levar a uma
homens, neste mesmo teste, três sujeitos (25%) apresentaram redução da atividade física e, conseqüentemente, à aparição
dificuldade na realização do teste, enquanto um deles (8,3%) de doenças crônico-degenerativas, que por si só, contribuem
foi incapaz de realizar a tarefa. para o envelhecimento.
Os resultados da presente pesquisa demonstram que,
Resultados do teste: retirar e recolocar a chave em todas as atividades motoras realizadas, as mulheres apre-
em uma fechadura sentaram desempenho médio inferior (tempo maior para a
realização da tarefa) ao dos homens. No teste de caminhada
Nessa tarefa, mais uma vez, 100% das mulheres foram de 10 metros, as mulheres apresentaram o resultado inferior
capazes de terminar a tarefa, entretanto, duas delas (28,5%) (p = 0,000). Esperava-se este resultado, pois segundo [28],
apresentaram dificuldades na realização da mesma. Dentre quando se comparam idosos de mesma idade e características,
os homens, dois sujeitos (16,6%) demonstraram dificuldades os do sexo feminino, tendem a apresentar menor desempenho
para realização da tarefa, enquanto um dos indivíduos (8,3%) funcional em tarefas que exijam esforços físicos moderados
não foi capaz de completar o teste. ou vigorosos, quando comparadas com homens.
Quando comparados com os resultados de estudos
Discussão semelhantes [29,6,30], realizados com idosos não insti-
tucionalizados, de mesmas características e faixa etária, as
Os resultados do presente estudo corroboram com mulheres e homens que compuseram esta pesquisa apresen-
afirmações de publicações anteriores [25] de que o grau do taram uma velocidade de caminhada menor. Entretanto,
declínio na capacidade funcional de idosos asilados é mais quando comparados com outros estudos [31], as mulheres
elevado, quando comparado com idosos não asilados, apesar continuam apresentando menores resultados, enquanto os
das limitações existentes no presente estudo como o limitado homens apresentam resultados semelhantes. Estes resultados
tamanho da amostra e outras. são compatíveis com os apresentados por outros estudos,
Vários estudos longitudinais [27,9] têm demonstrado que como, por exemplo, o de [28], no qual os autores, além de
os efeitos deletérios do envelhecimento, sobre os diferentes confirmarem estes achados, complementam observando que,
sistemas corporais, podem levar o indivíduo à invalidez. Melo dentre os idosos, as mulheres tendem a apresentar maior
et al. [26] lembra que tais constatações demonstram que o fragilidade e necessidade de assistência na realização das ati-
envelhecimento populacional e seus efeitos geram maior vidades motoras do cotidiano. No Teste TUGT é interessante
responsabilidade e maiores gastos, com programas médicos notar que, quando comparados com os resultados do estudo
e sociais, para os serviços de saúde, desde que, os idosos de Podsiadlo & Richardson [23], realizados com sujeitos de
apresentam como características: consumir mais serviços de média de idade superior (79,5 anos), a presente amostra,
saúde, apresentam maior e mais freqüente necessidade de embora apresentando média de idade inferior, apresentou

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 11

um tempo médio para a realização dessa tarefa muito maior. selecionadas em mulheres idosas [dissertação]. Rio de Janeiro:
Segundo as autoras do teste, este fato pode evidenciar que, Universidade Castelo Branco; 2000.
em termos funcionais, os sujeitos asilados, mesmo quando 7. Devito C, Morgan RO, Duque M, Abdel-Moty E, Virnig
comparados, com idosos mais velhos, apresentam maiores BA. Physical performance effects of low-intensity exercise
among clinically defined high-risks elders. Gerontology
déficits funcionais. Os resultados encontrados nas tarefas
2003;49(3):146-54.
de avaliação da habilidade manual (teste da lâmpada e da 8. Cumming RG. Intervention strategies and risk-factor modifica-
chave) foram menores que os observados em outros estudos tion for falls prevention a review of recent intervention studies.
(Barbosa, dados não publicados), realizado com uma amos- Clin Geriatr Med 2002;18:175-89.
tra composta por idosas não institucionalizadas, com média 9. Stessman J, Hammerman-Rozenberg R, Maaravi Y, Cohen
de idade de 67,9 anos. Isso demonstra a maior fragilidade A. Effect of exercise on ease in performing activities of daily
existente entre as idosas asiladas, quando comparadas a não living and instrumental activities of daily living from age 70
institucionalizadas. to 77: the Jerusalem longitudinal study. J Am Geriatr Soc
É importante relatar que, de acordo com os questionários 2002;50(12):1934-38.
10. Roubenoff R. Origins and clinical relevance of sarcopenia. Can
utilizados para acessar e avaliar a independência funcional
J Appl Physiol 2001;26(1):78-89.
nas AMBDD e AMIDD, nenhuma das mulheres poderia
11. Ehrlich SP, Livtak J. El envejecimiento y los países de la Región
ter sido considerada plenamente independente, enquanto de las Américas. Bol Of Sanit Panam 1981;91(6):512-19.
dentre os homens, quatro deles (21%) foram classificados 12. Lima-Costa MF, Veras R. Saúde pública e envelhecimento. Cad
como plenamente independentes e três (25%) demonstraram Saúde Pública 2003;19(3): 700-01.
déficit cognitivo. 13. Cançado FAX. Epidemiologia do envelhecimento. In: Noções
práticas de gerontologia. Belo Horizonte: Health; 1994.
Conclusão 14. Nóbrega ACL, Freitas EV, Oliveira MAB, Leitão MB, Lazzoli
JK, Nahas RM, et al. Posicionamento Oficial da Sociedade
Respeitando-se as possíveis limitações metodológicas, os Brasileira de Medicina do Esporte e da Sociedade Brasileira de
Geriatria e Gerontologia: Atividade Física e Saúde no Idoso.
resultados obtidos no presente estudo, demonstraram que os
Rev Bras Med Esporte 1999;5(6)207-11.
idosos que vivem em instituições asilares na cidade de Ma- 15. Hruda KV, Hickis AL, McCartney N. Training for muscle in
ceió apresentaram baixa autonomia nas tarefas selecionadas, older adults: effects on functional abilities. Can J Appl Physiol
principalmente quando comparados com indivíduos não 2003;28(2):178-89.
institucionalizados. Esses resultados levam a crer que existe 16. Vincent KR, Braith RW, Feldman RA, Magyari PM, Cutler RB,
a necessidade de políticas específicas e dos responsáveis por Persin SA et al. Resistance exercise and physical performance in
essas instituições aplicarem intervenções que venham a me- adults aged 60 to 83. J Am Geriat Soc 2002;50(6): 1100-07.
lhorar, ou em alguns casos manter, o nível de aptidão física 17. Frontera WR, Hughes VA, Krivickas LS, Kim S, Foldvari M,
fornecendo para essas pessoas uma vida mais independente Roubenoff R. Strength training in older women: early and
e melhorando assim a qualidade de vida desses sujeitos, vi- late changes in whole muscle and single cells. Muscle & nerve
2003;27:601-08.
sando desacelerar os efeitos do envelhecimento que, segundo
18. Jette AM, Rooks D, Lachman M., Lin TH, Levenson C, Heislein
Matsudo [30], ocorre por imobilidade e má adaptação e não D, Giorgetti MM, Harris BA. Home-based resistance train-
por doença crônica. ing: predictors of participation and adherence. Gerontologist
1998;38(4):412-21.
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dicamentos da população idosa brasileira: um estudo descritivo Exercise and Physical performance activity for older adults. Med
baseado na pesquisa nacional por amostra de domicílios. Cad Sci Sports Exerc 1998;30:992-1008.
Saúde Pública 2003;19(3):735-43. 21. American College of Sports Medicine-ACSM. Diretrizes do
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12 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

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cular strength and physical function. Med. Sci. Sports Exerc ation of functional capacity in activitiesd of daily living in 70
2000;32(2):412-16. - year - old men and women. Scand J Rehab Med 1980;12:
145-154.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 13

Artigo original

Efeito agudo dos alongamentos estático e FNP sobre


o desempenho da força dinâmica máxima
Acute effect of static and PNF stretching
on maximal dynamic strength performance

Thiago Matassoli Gomes*, Ercole da Cruz Rubini**, Homero da SN Junior**, Jefferson da Silva Novaes***, Alexandre Trindade***

*Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH / UCB-RJ, Laboratório de Biociên-
cias da Motricidade Humana - LABIMH, Universidade Estácio de Sá - RJ, **Universidade Estácio de Sá - RJ, *** Programa de
Pós-graduação Stricto Sensu em Ciência da Motricidade Humana - PROCIMH / UCB-RJ, Laboratório de Biociências da Motrici-
dade Humana - LABIMH, UFRJ / EEFD

Resumo Abstract
O objetivo deste estudo foi verificar o efeito agudo dos alonga- The purpose of this study was to verify the acute effect of static
mentos estático passivo e facilitação neuromuscular proprioceptiva and proprioceptive neuromuscular facilitation stretching on maxi-
sobre o desempenho da força dinâmica máxima. O estudo foi mal dynamic strength performance. The study was comprised by
realizado com 21 voluntários do sexo masculino (24,1 ± 1,7 anos) twenty-one trained male (24.1 ± 1.7 years). To measure the maximal
treinados em força há pelo menos dois anos. Para auferição da dynamic strength it was used the one maximal repetition test (1RM)
força dinâmica máxima foi utilizado o protocolo de teste e re-teste and retest protocols in a horizontal chest press. All subjects were ran-
de uma repetição máxima (1RM) no supino horizontal. Todos os domly assigned to static stretching (EP), PNF stretching (FNP) and
sujeitos participaram de todas as situações experimentais, sendo: a) nonstretching (GC) protocols before strength testing. The ANOVA
alongamento estático + 1RM (EP); b) alongamento FNP + 1RM with repeated measures revealed significantly decreases (p < 0.05) in
(FNP); c) teste de 1RM sem alongamento (GC). A ordem de par- maximal dynamic strength. Static and proprioceptive neuromuscular
ticipação nos protocolos experimentais foi determinada de forma stretching reduced the maximal strength (p = 0.00) when compared
aleatória. O resultado da ANOVA com medidas repetidas mostrou with nonstretching group. The mean in experimental conditions EP
diferenças significativas com relação à situação controle, tanto na (95 ± 12.3 kg) and FNP (92 ± 11.2 kg) was significantly smaller
situação EP (p = 0,00) quanto na situação FNP (p = 0,00). Onde than GC (99.2 ± 11.4 kg). These results indicated that both static
a média nas condições experimentais EP (95 ± 12,3 kg) e FNP (92 and proprioceptive neuromuscular facilitation stretching impairs
± 11,2 kg) foi significativamente menor do que GC (99,2 ± 11,4 maximal dynamic force production.
kg). Conclui-se que uma sessão de alongamento estático ou FNP Key-words: flexibility, 1RM test, performance, concurrently training.
executada imediatamente antes do treinamento de força provocou
uma diminuição do desempenho.
Palavras-chave: flexibilidade, teste de 1 RM, rendimento,
treinamento concorrente.

Recebido 15 de julho de 2005; aceito em 10 de outubro de 2005.


Endereço para correspondência: Thiago Matassoli Gomes, Rua Delfina Enes, 365, Penha, 21011-400 Rio de Janeiro RJ, Tel: (21)
8807-9459, E-mail: thiagogom@gmail.com

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14 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Introdução divididos aleatoriamente nas seguintes situações experimen-


tais: a) alongamento estático + 1RM (EP); b) alongamento
O ACSM [1] coloca a força e a flexibilidade, juntamente FNP + 1RM (FNP); c) teste de 1RM sem alongamento prévio
com a potência aeróbia e a composição corporal como os (GC). Todos foram instruídos a não realizar qualquer tipo de
quatro componentes mais importantes da aptidão física, treinamento de força e de flexibilidade para o grupamento
devendo estes estar embutidos em qualquer programa de muscular envolvido no teste 48 horas antes do início dos
atividade física relacionado à saúde. mesmos.
Exercícios de alongamento são tradicionalmente utilizados
como parte integrante do aquecimento para a atividade prin- Determinação de 1RM
cipal, sob a alegação de promover melhoras no desempenho,
diminuir o risco de lesões e diminuir o aparecimento de dores Para a avaliação da força dinâmica máxima foi realizado
musculares tardias. Porém, parece não existir sustentação o exercício supino horizontal em um pórtico da Technogym®
científica para tais afirmações [2-8]. (Itália), no qual o avaliado deitava-se no banco em posição
Trabalhos recentes mostram uma diminuição no de- supina, posicionando a barra na linha do ponto meso-ester-
sempenho da força isométrica e isotônica [9-15], nos saltos nal. A distância das mãos deveria corresponder à posição em
verticais [16-19] e na força isocinética [20-22] quando estas que o úmero ficasse horizontal em relação ao solo e o ângulo
são precedidas por exercícios de alongamento. Na literatura, formado entre o braço e o antebraço fosse de 900 no final da
a maioria dos trabalhos se apresenta verificando os efeitos da fase excêntrica do movimento, angulação que foi auferida por
flexibilidade sobre a força em membros inferiores [9-14,16- um goniômetro. O exercício supino horizontal foi realizado
19]. Entretanto, dos estudos relacionados acima apenas dois da seguinte maneira: a) Posição inicial – fase excêntrica do
trabalhos [15,21] reportam o comportamento da força nos movimento, sua execução era iniciada com os cotovelos em
membros superiores. Demonstrando uma lacuna a ser preen- extensão; b) Posição intermediária – fase concêntrica do
chida, que é saber se os resultados encontrados em membros movimento, com os cotovelos formando um ângulo de 900
inferiores podem ser reproduzidos nos membros superiores. de flexão com o úmero em paralelo ao solo (limitador de
Portanto, o objetivo deste estudo foi verificar o efeito amplitude), retornando então a posição inicial.
agudo dos métodos de alongamento estático passivo (EP) O protocolo do teste seguiu as instruções do ACSM [23],
e facilitação neuromuscular proprioceptiva (FNP) sobre o podendo ser realizadas até três tentativas, sendo o peso ajusta-
desempenho da força dinâmica máxima de membros supe- do sempre antes de cada tentativa. O tempo de recuperação
riores. entre as tentativas foi padronizado em cinco minutos. Quando
o avaliado não conseguia mais realizar o movimento de forma
Materiais e métodos correta, o teste era interrompido, sendo registrado como peso
máximo, aquele obtido na última execução completa.
Amostra
Protocolo de alongamento
Participaram do estudo 21 voluntários do sexo masculino
(24,1 ± 1,7 anos; 172 ± 2,8 cm; 76,4 ± 3,6 kg) com expe- Para o tratamento com o método estático passivo, utilizou-
riência de, no mínimo, dois anos em treinamento de força. se três séries com 30 segundos de manutenção na posição,
Foi adotado como critério de exclusão a presença de qualquer no qual o movimento era levado até uma posição de ligeiro
lesão osteomioarticular ou cirurgia nas articulações envolvidas desconforto. Para o método FNP foi realizado seis segundos de
no estudo e o uso de suplementos e esteróides anabólicos ou contração seguido de 30 segundos de manutenção na posição,
quaisquer outras drogas que pudessem interferir nos resultados também com três séries. Entre as séries de alongamento foi
dos testes. Todos assinaram termo de consentimento livre e realizado um intervalo de 30 segundos (Figura 1).
esclarecido conforme resolução 196/96 do Conselho Nacional
de Saúde para experimentos com humanos. Figura 1 - Posição de alongamento.

Desenho experimental

Todos os sujeitos realizaram cinco visitas não consecutivas


com intervalo de 48 horas entre as mesmas. Todos fizeram os
testes no mesmo período do dia durante todo o procedimento
experimental. Nas duas primeiras visitas foram realizadas as
mensurações da composição corporal (estatura e massa cor-
poral), aplicado o questionário PAR-Q e o teste e o re-teste
de 1RM. Da terceira a quinta visitas os voluntários foram

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 15

Análise de dados Todos os fatores supracitados (número de exercícios, tem-


po e número de séries diferentes) por muitas vezes geram um
Todos os resultados estão apresentados em média ± desvio tempo total de estímulo que excedem o que normalmente é
padrão. Para determinar os efeitos dos dois tratamentos sobre feito na prática e acabam por diminuir a aplicabilidade dos
a variável dependente (1RM), foi realizada uma ANOVA para estudos. Porém, apesar de no presente trabalho o volume
medidas repetidas com três entradas (GC X EP X FNP). Para total de estímulo ter sido menor e estar sendo obedecido o
determinar as diferenças específicas foi realizado o teste post recomendado [1], também foi verificada a diminuição no
hoc de Bonferoni. As análises estatísticas foram realizadas a desempenho da força quando a mesma foi precedida por
partir do pacote de programas estatísticos SPSS 14.0 (SPSS exercício de alongamento.
Inc., EUA). Para todas as análises foi adotado um nível crítico Marek et al. [22] verificaram diminuições no pico de
de significância de p < 0,05. torque máximo (2,8%) e na potência muscular (3,2%) em
velocidade lenta (600.s-1) e rápida (3000.s-1) para o músculo
Resultados vasto lateral. Assim como no presente estudo, a magnitude
no déficit da força em decorrência dos métodos de alonga-
A ANOVA para medidas repetidas mostrou reduções mento foi a mesma, tanto para o método estático quanto
significativas (p = 0,00) na força tanto na situação EP quan- para o FNP.
to FNP em relação ao grupo controle, no qual a média nas Possíveis explicações são utilizadas para justificar a di-
condições experimentais EP (95 ± 12,3 kg) e FNP (92 ± 11,2 minuição do desempenho da força quando precedida por
kg) foi significativamente menor que a média obtida no grupo exercícios de alongamento. Fowles et al. [10] verificaram uma
controle (99,2 ± 11,4 kg) (Gráfico 1). diminuição de 28% na ativação das unidades motoras e na
atividade eletromiográfica. Além disso, observaram que este
Gráfico 1 efeito perdurou por até 60 minutos. Esta diminuição pode
ser explicada pela inibição gerada pelos órgãos tendinosos de
golgi, que contribui para uma diminuição da excitabilidade
dos motoneurônios alfa.
Avela et al. [24] mostraram uma redução de 23,2% na
contração voluntária máxima da musculatura do tríceps sural.
Tal diminuição possivelmente ocorreu por uma redução na
sensitividade dos fusos musculares, reduzindo a atividade das
fibras aferentes de grande calibre. Uma inibição dos moto-
neurônios alfa gerada pelos receptores articulares tipo III e
tipo IV, também pode justificar a diminuição no desempenho
Discussão da força [25].
Alterações nas propriedades viscoelásticas da unidade mús-
Os resultados do presente estudo estão em concordância culo-tendinosa reduzem a tensão passiva e a rigidez [26,27].
com outros que também verificaram diferença estatisticamente Como uma das funções do tendão é transferir a força produzida
significativa entre os valores do desempenho da força quando pela musculatura esquelética para os ossos e articulações, uma
precedida por exercícios de alongamento [9-22]. Apesar de unidade músculo-tendinosa menos rígida transmitirá de forma
na maioria desses estudos terem sido realizados mais de um menos eficiente as alterações de tensão na musculatura. Tais
tipo de exercício de alongamento e o número de séries, bem alterações viscoelásticas podem colocar o componente contrátil
como o tempo de manutenção na posição de alongamento, em uma posição menos favorável em termos de produção de
nem sempre obedecerem o recomendado [1]. força nas curvas de força-comprimento e força-velocidade, que
Fowles et al. [10] e Behm et al. [11] utilizaram 135 e 45 acarreta conseqüentemente em uma insuficiente transmissão de
segundos de manutenção na posição de alongamento respec- força do músculo para o sistema esquelético[26,27].
tivamente. A variação no número de séries também foi muito É importante enfatizar que a posição de alongamento
grande, enquanto Tricoli e Paulo [14] utilizaram três séries, utilizada, apesar de ser bastante comum nas academias e
Fowles et al. [10] utilizaram apenas uma e Behm et al. [11] clubes de ginástica provavelmente interferiu na resposta da
utilizaram cinco séries. produção de força. Com os cotovelos estendidos não se isola
Alguns trabalhos [17-19] não demonstraram diminuição o alongamento para a musculatura do peitoral. No entanto,
no desempenho dos saltos verticais quando estes foram pre- mesmo com essa limitação foi observada uma diminuição no
cedidos por exercícios de alongamento. Porém, novamente os desempenho da força. A hipótese é que com o exercício de
protocolos de alongamento não respeitavam o recomendado alongamento sendo conduzido com os cotovelos flexionados
[1], sendo utilizado apenas quinze segundos de manutenção (isolando assim o grupamento muscular alongado), a dimi-
na posição de alongamento. nuição no desempenho da força poderá ser ainda maior.

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16 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Conclusões 11. Behm DG, Button DC, Butt JC. Factors affecting force loss with
prolonged stretching. Can J Appl Physiol 2001;26(3):262-72.
Os resultados demonstraram uma diminuição da força 12. Power K, Behm D, Cahill F, Carroll M, Young W. An acute bout
dinâmica máxima quando esta foi precedida por exercício de of static stretching: effects on force and jump performance. Med
alongamento. Tanto para o método estático passivo quanto Sci Sports Exerc 2004;36(8):1389-96.
13. Rubini EC, Pereira M, Gomes PSC. Acute effect of static and
para o método de facilitação neuromuscular proprioceptiva.
PNF stretching on hip adductor isometric strength. Med Sci
Esses resultados somam-se aos dados já existentes na literatura, Sports Exerc 2005;37 (supplement):183-4.
mostrando haver uma diminuição no desempenho da força 14. Tricoli V, Paulo AP. Efeito agudo dos exercícios de alongamento
independentemente do segmento corporal envolvido e do sobre o desempenho de força máxima. Rev Bras Ativ Física e
número de exercícios realizados. Saúde 2002;2(1):6-12.
Atletas e técnicos devem considerar os dados do presente 15. Gomes T, Gonçalves LG, Junior HSN, Trindade A. Efeito agudo
estudo antes de acrescentar em suas rotinas de aquecimento do alongamento estático sobre o desempenho da força dinâmica.
exercícios de alongamento. Ainda mais, nas atividades físico- Rev Bras Med Esporte 2006;12 (suplemento 1):25.
desportivas que dependerem diretamente do desempenho 16. Young WB, Behm DG. Effects of running, static stretching
and practice jumps on explosive force production and jump
da força.
performance. J Sport Med Phys Fitness 2003;43(1):21-27.
Futuros estudos devem procurar investigar os possíveis 17. Young WB, Elliott S. Acute effects of static stretching, proprio-
mecanismos relacionados à diminuição do desempenho da ceptive neuromuscular facilitation stretching and maximum vo-
força. Faz-se necessária a elaboração de outros estudos que luntary contractions on explosive force production and jumping
envolvam diferentes variáveis, entre elas: o número de séries, performance. Res Q Exerc Sport 2001;72(3):273-79.
o tempo de sustentação da posição de alongamento e popu- 18. Church JB, Wiggins MS, Moode FM, Crist R. Effect of warm-
lações com diferentes idades. Sugere-se, ainda, que se observe up and flexibility treatments on vertical jumps performance. J
os efeitos crônicos sobre as variáveis apresentadas. Strength Cond Res 2001;15(3):332-36.
19. Unick J, Kieffer S, Cheesman W, Feeney A. The acute effects
of static and ballistic stretching on vertical jump performance
Referências
in trained women. J Strength Cond Res 2005;19 (1):206-12.
20. Nelson AG, Guillory IK, Cornwell A, Kokkonen J. Inhibition of
1. American College of Sports Medicine. The Recommended quantity
maximal voluntary isokinetic torque production following stre-
and quality of exercise for developing and maintaining cardiorespi-
tching is velocity-specific. J Strength Cond Res 2001;15(2):241-
ratory and muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Position
46.
stand. Med Sci Sports Exerc 1998;30(6):975-91.
21. Evetovich TK, Nauman NJ, Conley DS, Todd JB. Effect of static
2. Herbert R, Gabriel M. Effects of stretching before and after
stretching of the biceps brachii on torque, electromyography
exercising on muscle soreness and risk of injury: systematic
and mechanomyography during concentric isokinetic muscle
review. Br Med J 2002;325:468.
contraction. J Strength Cond Res 2003;17(3):484-48.
3. Young WB, Behm DG. Should static stretching be used during
22. Marek SM, Cramer JT, Fincher AL, Massey LL, Dangelmaier
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literature. Med Sci Sports Exerc 2004;36(3):371-78.
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25. Avela J, Kyröläinen H, Komi PV, Rama D. Reduced reflex sen-
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passive stretch of the human plantarflexors. J Appl Physiol
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 17

Artigo original

Predição do volume de exercícios com pesos para


promoção da exaustão em três grupos musculares de
atletas mediante variações de componentes sanguíneos
Prediction of exercise volume with weight to promote exhaustion in three
major muscular-groups of athletes through variation of blood markers

Carlos Alexandre Fett*, Fábio Lera Orsatti**, Roberto Carlos Burini***

*Faculdade de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, **Professor de Educação Física, Centro de Meta-
bolismo em Exercício e Nutrição (CeMeNutri) – Departamento de Saúde Pública da Faculdade de Medicina Botucatu/SP-UNESP,
Mestrando em Ginecologia, Setor de Climatério e Menopausa – Faculdade de Medicina (UNESP), Botucatu (SP), ***Professor
Titular, Centro de Metabolismo em Exercício e Nutrição – CeMENutri – Depto de Saúde Pública da Faculdade de Medicina da
Unesp – Botucatu (SP)

Resumo Abstract
Com o objetivo de avaliar o impacto do teste de exaustão (TE), The responses of blood markers of fatigue -stress to exhaustive
com exercícios resistidos em três grupamentos musculares distintos, strength training were investigated in three different groups of
sobre a magnitude das alterações sangüíneas de atletas, foram estu- muscles of 12 males (23 + 4 yrs) volunteers, body builders. After 4
dados 12 indivíduos (23 ± 4 anos) do sexo masculino (79 ± 10kg), weeks of training (5d/wk, 3x6-12 rep. 70-85% of RM, 30-60 seg
atletas de musculação e voluntários ao estudo. Após 4 semanas de rest among series) and dietary intake adjusted to 1.5g prot/kg/d
treinamento e dieta ajustada para 1,5g/kg/dia e 30 kcal/g prot., foi and 30kcal/g prot they were submitted to the exhaustion test (ET)
aplicado o TE que iniciava com 80% de 1 RM e redução de 20% até a beginning with 80% of 1RM downgrading 20% up to fatigue. The
fadiga (não execução da repetição). O TE foi realizado para: 1) supino ET was conducted for muscular groups through 1) bench press, 2)
reto; 2) agachamento na máquina Hack®; 3) remada baixa no pulley, squad and 3) seated row, without resting between exercises. Blood
sem descanso entre os exercícios. Foram realizadas coletas de sangue, samples were drawn immediately before and after the ET and
antes e após a realização dos três TE, para dosagens hemogasimétricas processed for hemogasimetric and biochemistry assays. The ET
e bioquímicas. Após o TE, aumentaram as atividades das enzimas resulted in increased activities of enzymes (CK, CK-MB, LDH, AST
(U/L) creatino-quinase (CK), creatino-quinase isoenzima cardíaca and ALT), levels of osmolality (Osm), Na+, Ca++, Ht, glucose and
(CK-MB), lactato desidrogenase (LDH), alanina aminotransferase pO2. The ET reduced the values of pH, HCO3 and pCO2, without
(ALT), aspartato aminotransferase (AST) e os valores de glicose, Ca+, affecting the concentration of uric acid. There was no relationship
Na+ , PO2, hematócrito, osmolalidade. Por outro lado, houve redução between the loading for 1RM (kg) and the number of repetitions
significativa do pH, HCO3 e pCO2 e variação não significativa do to reach the ET. Blood pCO2 and plasma AST showed (negative)
ácido úrico. Não houve correlação do teste de RM com o somatório significant relationship with exercise volume for ET predicting
das repetições no TE. Os indicadores isolados mais sensíveis ao vo- 50% and 40% of the achieved exercise repetitions, respectively. By
lume de exercícios foram a PCO2 e a AST que predizem até 50% e associating both with pO2, CK-MB and HCO3 the predictive value
40% das repetições, respectivamente. A associação da PCO2, pressão increased to 92%. Thus the responses of blood markers predict up
parcial de oxigênio (PO2), hematócrito (Ht), creatina quinase por- to 92% of the volume of exhaustive strength exercise in the three
ção cérebro-músculo (CK-MB) e bicarbonato (HCO3), têm o nível major groups of user muscles during ET in athletes.
preditivo máximo de aproximadamente 92%. O teste exaustivo dos Key-words: biochemistry markers, exhaustion test, muscular-
3 grupamentos musculares leva a alterações sanguíneas indicativas de groups.
estresse metabólico em que variações de pO2, pCO2, HCO3-, Ht, e
CKMB predizem 92% do esforço dispendido no TE.
Palavras-chave: marcadores bioquímicos, teste de exaustão,
grupos musculares.

Recebido em 12 de abril de 2005, aceito em 15 de março de 2005.


Endereço para correspondência: Roberto Carlos Burini, Rua Distrito de Rubião Júnior, s/n-UNESP/FM/BOTUCATU, 18618-970
Botucatu SP, Tel: (014) 3811-6128, E-mail: burini@fmb.unesp.br

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18 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Introdução composição centesimal dos nutrientes, a partir do softwere


de nutrição (NutWin, UNIFESP, 2003, a dieta habitual foi
Os grandes grupamentos musculares estão envolvidos, em ajustada para a oferta de 1,5g de proteína/kg de peso/dia com
geral, nos esportes de alta intensidade, causando exaustão e es- 30 kcal não protéicas por grama de proteína.
tresse, com repercussões sistêmicas. Entretanto, grande parte dos
estudos relativos à fadiga muscular utiliza contrações isométricas Protocolo de exercício
de pequenos grupamentos musculares, bem definidos. Além
disso, para deflagração da fadiga são usados estímulos elétricos, O treinamento foi de 5 dias semanais, sendo 3 dias de treino
sem artefatos externos, ou envolvimento de movimento articular. contínuo, um de descanso e mais 2 dias, carga entre 70-85%
Assim, as cinéticas inerentes ao trabalho muscular são relaciona- do RM, tempo de recuperação entre 30s e 1min, baseado em
das mais aos fatores limitantes periféricos que aos fatores centrais combinações de metodologia para hipertrofia. As sessões en-
ou sistêmicos. Portanto, muito menor atenção tem sido dada ao volviam os grupamentos musculares: 1) – peito, ombro, tríceps
estabelecimento da fadiga em grandes grupamentos musculares e abdome; 2) – costa, bíceps, antebraço; 3) – coxas, glúteos,
no exercício dinâmico e sua influência sistêmica [1]. lombar e panturrilha; 4) – os mesmos grupamentos da sessão
Atividades intensas, especialmente as excêntricas estão associa- 1 e 2; 5) – os mesmos grupamentos da sessão 3 [5].
das à lesão muscular [2] e a lesão associa-se a exaustão do músculo, Após um mês de treinamento, foi aplicado o teste de exaus-
prejudicando a função contrátil pela resposta inflamatória. tão (TE). O teste consistiu de aplicação de carga descendentes
Por outro lado, o treinamento físico leva a adaptações in- a iniciar-se com 80% de 1 repetição máxima (RM) execu-
dividualmente em cada sistema (cardiorespiratório, muscular tando-se o maior número de repetições possível até a fadiga
e neural), promovendo coordenação entre os sistemas para muscular (não execução da repetição); a carga sofria redução
minimizar a quebra da homeostase em resposta ao exercício. de 20% (80/60/40 e 20 do RM) através de auxílio externo
Assim, o treinamento tem relevância direta para o tipo de sem interrupção do exercício e a continuidade deste proces-
observação na resposta especifica ou não especifica ao estresse so repetia-se até permanecer apenas 20% de carga máxima,
submetido [3]. Para tanto, é necessário que o teste físico de que era a força alvo (FA) e a exaustão instalar-se. Exercícios
sobrecarga seja adequado quanto às alterações metabólicas selecionados: 1) – supino reto (peito, ombro e tríceps); 2) -
envolvidas que se deseja observar. agachamento na máquina hack® (quadríceps, isquiopoplíteo e
A capacidade de sustentar ações musculares repetidas é glúteo); 3) – remada baixa no pulley (costas, ombro e bíceps).
chamada de resistência (endurance) muscular. A endurance Não foi permitido descanso entre os exercícios.
muscular aumenta com a força, modificações metabólicas lo- A coleta de sangue venoso foi realizada antes e logo após
cais e função circulatória. Estas alterações melhoram o desem- o TE, mediante punção da veia cubital com agulha e seringa
penho muscular em atividades específicas contra resistência, descartáveis. Após a separação do soro ou plasma, esse mate-
tanto no aumento da força quanto da resistência muscular. rial foi utilizado para a realização das analises de hematócrito
Uma força simples de estimar a endurance muscular é verificar (técnica de microhematócrito) e eletrólitos: sódio, potássio e
quantas repetições se consegue desempenhar em um dado cálcio, osmolaridade, hemogasimetria para pH, bicarbonato
percentual do teste de uma repetição máxima (1RM) [4]. (HCO3-), pressão parcial de oxigênio (PO2) e pressão para-
Portanto, nosso objetivo foi desenvolver um teste de exer- cia de dióxido de carbono (PCO2), glicose (método glicose
cícios resistidos exaustivos, que fosse representativo da maior oxidase), ácido úrico (AU), enzimas: creatina- quinase (CK),
parte do volume muscular total, a fim de observar as alterações isoenzima cardíaca creatina – quinase (CK_MB), lactato desi-
sistêmicas induzidas representadas por indicadores sanguíneos drogenase (LDH), alanina aminotransferase (ALT), aspartato
após indução pelo teste de exaustão muscular. aminotransferase (AST), Os kits foram comercializados pela
Diagnostic Products Corporation (DPC), Los Angeles, CA.
Material e métodos
Analise estatística
Foram estudados doze indivíduos (23 ± 4 anos), praticantes
de exercícios resistidos. Os critérios de exclusão eram fumo, etilis- Os resultados foram expressos como média + desvio
mo, usuários de esteróides anabólicos ou similares e histórico de padrão, com intervalos de confiança (95%) e 5 % de signi-
doenças metabólicas. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética ficância para contraste entre as médias. Foi feito o teste de
em Pesquisa da Faculdade de Medicina da UNESP de Botucatu Kolmogorov e Smirnov para observar se as amostras tinham
e todos assinaram declaração de consentimento esclarecido. distribuição normal. Para a comparação entre os momentos
antes e depois do TE, foi utilizado teste de Wilcoxon para
Protocolo dietético amostras pareadas quando não havia distribuição normal, e
o teste t pareado para quando havia distribuição normal.
Após investigação dos hábitos alimentares, obtidos Foram utilizados procedimentos de regressão múltipla
por meio do registro alimentar de 3 dias e calculando-se a “Stepwise”. O coeficiente de explicação (R2), indica quan-

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 19

to as variáveis de forma associativa conseguem explicar Tabela II - Parâmetros de regressão múltipla entre atividades da
os resultados do desempenho físico (repetições e carga). enzima aspartato amino transferase (AST) e os demais indicadores
Foi utilizado intervalo de confiança em nível de 5% de laboratoriais com número de repetições ocorrida no protocolo de
significância. exaustão.
Variáveis Coeficiente B Correlação R2 Coeficiente B
Resultados preditoras parcial
AST (U/L) -12,094 -0,769 0,40 -1,10*
Somente as concentrações séricas de AU, a PCO2, não apre- CK-MB (U/L) -2,392 -0,616 0,54 -0,59
sentaram modificações significantes após o TE (Tabela I). HCO3- 0,352 0,451 0,63 0,44
(mmol/L)
Tabela I - Resultado das alterações sanguíneas induzidas pelos testes Constante 213,766
de exaustão. Estatística: regressão linear de stepwise; F=2,8761; SEE, erro padrão =
Teste de exaustão 14,9 repetições
Variável/n/unidade Antes Depois *p<0,05
CKψ (10) (U/L) 124.0 ± 32.5 164.5 ± 30.3***
CK-MBψ (10) (U/L) 5.8 ± 3.5 7.1 ± 2.2* AST, aspartato aminotransferase; CK_MB, creatina qui-
LDHψ (11) (U/L) 173.0 ± 25.5 214.4 ± 37.9** nase fração miocárdica, HCO3-, bicarbonato.
TGPψ (11) (U/L) 22.5 ± 6.8 25.8 ± 6.3*
TGOψ (11) (U/L) 20.9 ± 7.4 25.8 ± 7.6*** Tabela III - Parâmetros de regressão múltipla entre pCO2 e os de-
AU♠ (12) (mg/dL) 5.0 ± 0.8 5.2 ± 1.2 mais indicadores laboratoriais com número de repetições ocorrida
Gli♠ (12) (mg/dL) 76.5 ± 25.4 99.6 ± 13.0** no protocolo de exaustão.
PO2♠ (12) (mmHg) 27.0 ± 5.7 57.6 ± 10.5*** Variáveis Coeficiente B Correla- R2 Coeficiente B
PCO2♠ (12) (mmHg) 47.7 ± 6.7 45.4 ± 15.0 preditoras ção parcial
HCO3♠ (12) (mmol/L) 26.3 ± 1.9 11.7 ± 1.7*** pCO2 -1,825 -0,955 0,514 -1,08*
pH♠ (12) 7.3 ± 0.04 7.0 ± 0.1*** (mmHg)
Ht♠ (12) (%) 43.2 ± 6.3 51.3 ± 3.7*** pO2 (mmHg) -0,959 -0,809 0,767 -0,43
Ca+♠ (12) (mg/dL) 3.8 ± 0.6 4.7 ± 0.4* Ht (%) 1,811 0,819 0,831 0,53
Na+♠ (12) (mmol/L) 142.3 ± 6.2 148.1 ± 4.8** CK-MB (U/L) -1,821 -0,743 0,897 -0,45
O2♠ (12) (mOsm) 278.3 ± 11.7 291.0 ± 8.3*** HCO3- 2,899 0,519 0,925 0,20
Os valores são média±desvio padrão. (mmol/L)
CK, creatina quinase; CK-MB, creation quinase porção muscular e Constante 213,766
cerebral; TGP, transaminase glutamato piruvato; TGO, transaminase Estatística: regressão linear de stepwise; F = 7,4079; SEE, erro padrão
glutamato-oxalacetato; AU, ácido úrico; Gli, glicemia de jejum; PO2, = 8,7 repetições. *p < 0,05.
pressão parcial de oxigênio; PCO2, pressão parcial de dióxido de pCO2, pressão parcial de dióxido de carbono; pO2, pressão parcial de
carbono; HCO3, bicarbonato; pH, concentração de H+ em -log10; Ht, oxigênio; Ht, hematócrito; CK_MB, creatina quinase fração miocárdica,
hematócrito; Ca+, cálcio iônico; Na+, sódio; Os, osmolalidade. HCO3; bicarbonato.
*P<0.05, **P<0.005, ***P<0.0005; ψWilcoxon matched-pairs
signed-ranks test; ♠Paired t test; n = número de sujeitos. Discussão

Não houve correlação linear entre as somas das cargas O TE mostrou causar estresse sistêmico, alterando sig-
máximas dos exercícios no teste de 1RM e a soma de número nificativamente as concentrações sangüíneas de variáveis
máximo de repetições realizadas no TE (r = 0,219, r2 = 0,048, enzimáticas, eletrolíticas e áciodo base. O grande volume
p = 0,495). muscular envolvido e as cargas descendentes, a cada etapa de
O indicador isolado com a melhor predição do desem- esforço e continuidade do exercício até a completa exaustão
penho de carga no TE foi o pCO2 (51,4%) seguido da AST muscular, recrutaram os diferentes tipos de fibra muscular
(40%). Quando associada à AST, CK-MB e HCO3 o efeito e conseqüentes vias metabólicas consistindo novos ajustes
preditivo foi elevado para 63% (tabela II). Quando o pCO2 metabólicos para a homeostase sistêmica.
foi associado a outras variáveis (pO2, Ht, HCO3- e CK-MB), Os três exercícios do TE foram escolhidos por serem re-
o valor de predição foi de 92,5% (tabela 3). presentativos da grande maioria dos grupamentos musculares
No geral, considerando-se as limitações do erro padrão e, além dos grupamentos envolvidos diretamente nos exercí-
para as repetições, tem-se apenas as variações de AST (Ta- cios havia ainda contribuição indireta dos grupamentos do
bela II) e pCO2 (Tabela III) refletiram significantemente as antebraço e panturrilha, que se contraiam isometricamente
diferenças das repetições no TE. como sustentadores, o abdome e a coluna lombar, como
estabilizadores dos exercícios. Além disso, os grupamentos

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20 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

solicitados diretamente no exercício foram os que mais alte- As atividades intensas, exaustivas, estão associadas à lesão
rações metabólicas causaram em avaliação do impacto sobre muscular e com isso a liberação dos constituintes intracelu-
o estresse sistêmico [6]. lares como as enzimas. Várias enzimas estão aumentadas no
A fadiga e a exaustão em exercício prolongado têm funda- sangue após atividade muscular exaustiva, podendo servir
mentação fisiológica mais bem estabelecida do que o exercício como marcadores da exaustão [16].
de curta duração e alta intensidade. Naquele tipo de atividade, As enzimas observadas neste estudo aumentaram significa-
atribui-se a incapacidade local do músculo de contrair-se tivamente após o TE. Há significante correlação entre a CK,
(fadiga periférica), principalmente à redução do volume CK-MB e TGO, mas não para TGP, à lesão muscular induzida
plasmático e fluxo sangüíneo [7] , depleção acelerada das pelo exercício [16]. Neste estudo, todavia, a TGP também res-
taxas de glicogênio muscular e acúmulo de lactato muscular pondeu a lesão muscular. Foi relatado pelos atletas dor tardia
[8], diminuição do potencial de repouso da membrana, pela entre 24 e 48 horas após o TE, o que está associado a microlesão
perda de potássio [9] falência da bomba de cálcio do retículo do músculo [16]. A CK é catalisadora da reação reversível de
sarcoplasmático, aumento da concentração de ADP livre, e creatina + ATP, para creatina fosfato + ADP. Ela é altamente
falência da transmissão neuromuscular [10]. concentrada no músculo esquelético e miocárdio, e em menor
Várias destas alterações também foram observadas no TE. proporção no cérebro, intestino e pulmões. Os estresses físicos
O Ht e O2 aumentaram significativamente, sendo relacionados e psíquicos aumentam as concentrações plasmáticas da CK, e
à fadiga muscular pelo aumento da viscosidade sanguínea e é um importante indicador de lesão muscular [17].
conseqüente redução no transporte de O2, remoção do CO2 Não obstante a elevação da concentração de CK-MB
e outros metabólitos[11]. O Ca+ e Na+ plasmático também indicar lesão no miocárdio [17], ela também está associada
aumentaram significativamente após o TE. O deslocamento a lesão no músculo esquelético [18]. A CK-MB encontra-se
destes eletrólitos do citoplasma celular para o sangue, pode mais elevada nas fibras de contração lenta do que nas rápidas,
reduzir a capacidade de contração muscular, devido a falta de não importando o nível ou o tipo de treinamento envolvido
Ca+ para ligar a cabeça da miosina a troponina e do Na+ em [19]. Ela é uma isoenzima associada a contínua regeneração
relação a despolarização da membrana pela bomba de sódio e muscular em indivíduos submetidos a injúria muscular
potássio [12]. A quantidade de Ca+ liberado pelo retículo sar- crônica. Biópsia muscular, realizada em atletas de endurance
coplasmático para ativar a contração muscular é reduzida nas altamente treinados, tem demonstrado que eles contêm uma
fibras musculares fatigadas [13]. Estas alterações também devem concentração mais elevada de CK-MB [20]. Já em nadadores
ter contribuído para a exaustão se instalar nestes sujeitos. desempenhando atividade de longa duração, nem a CK ou a
Estudos têm indicado que é necessária a avaliação in- CK-MB, apresentaram modificações após a atividade (70%
tracelular do Ca+, para demonstrar alterações relativas ao do VO2 máx x 24 min) em relação ao repouso [21]. A CK
metabolismo, com talvez pequena alteração extracelular. parece responder mais ao tipo de estimulo de exercício de
Todavia, observamos aumento significante do Ca+ plasmático força/anaeróbio [22], sendo que a CK-MB, encontra-se mais
neste estudo, sugerindo que, neste tipo de teste, ele pode ser relacionada as atividades de endurance [20]. O aumento ob-
indicador de exaustão [14]. servado da CK e CK-MB são sugestivos que o TE induziu a
Era esperado o aumento da concentração plasmática do lesão das fibras tipo I e tipo IIa,b. A maior significância para a
ácido úrico após o TE, o que não se observou. Atividades in- CK indica a intensidade máxima do TE e grande participação
tensas estimulam o ciclo da purina nucleotídio. Todavia, o IMP do metabolismo anaeróbico. Corrobora com isso o aumento
pode ser defosforilado em adenosina, sendo então degradada a da LDH no TE, justificado pela grande participação do me-
inosina e hipoxantina e como o músculo não possui enzimas tabolismo anaeróbio, onde na falta de O2 converte o piruvato
para converter a hipoxantina em insosina, conseqüentemente em lactato. A lesão muscular deixa extravasar esta enzima para
a hipoxantina é transportada para o fígado, onde é convertida o sangue aumentando sua concentração. Além disso, a grande
em ácido úrico e excretada pelos rins [13]. Foi sugerido que há formação de ácido lático ativa o ciclo de Cori, onde o lactato
perda de adenina nucleotídio, durante a contração muscular oferecido para o fígado é convertido a ácido pirúvico e este a
intensa, numa tentativa de permitir que as reações de adenilato glicose que retorna ao sangue [15].
quinase continuem e, dessa forma, mantenham a carga de tra- Em geral, sujeitos mais bem condicionados têm menor au-
balho elevada. Foi demonstrado que essa perda está coordenada mento dessas enzimas comparado a indivíduos não acostumados
com os aumentos estequiométricos das concentrações de IMP e a determinada atividade física [16]. Estas enzimas podem ser
amônia [13]. O produto final da via de desfosforilação do AMP utilizadas como parâmetros para intensidade do TE e outros
é o ácido úrico, que se manteve com níveis inalterados. Estes testes desta natureza. Todavia, Koutedakis et al. [17] observaram
resultados sugerem que esta via não foi importante no TE, ou, que remadores de nível olímpico, quando comparados com su-
não houve tempo suficiente para o ciclo se completar. jeitos destreinados, tinham a CK e TGO, mas não a TGP, mais
A glicemia aumentou significativamente após o TE, elevadas tanto no basal como 5 minutos após uma atividade
provavelmente pela descarga simpática, desencadeando a exaustiva voluntária. Na tentativa de evitar diferenças no nível de
glicogenólise e neogligogênese hepática [15]. condicionamento físico dos atletas de musculação, foi realizado,

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 21

pré-TE, um mês de treinamento equalizador. activity during compensatory hypertrophy. Int J Sports Med
O TE pode ter causado hipóxia tecidual, uma vez que 2000;21:13-16.
3. Sothmann MS, Buckworth J, Claytor RP, Cox RH, White-We-
as cargas iniciaram-se com o valor de 80% de 1 RM e foi
lkley JE, Dishman RK. Exercise training and the cross-stressor
demonstrado que valores próximos a 50% da capacidade má- adaptation hypothesis. Exerc Sport Sci Rev 1996;24:267-287.
xima de contração muscular isométrica causam oclusão total 4. Wilmore JK, Costil DL. Fisiologia do esporte e do exercício. 2a
dos vasos e que a microcirculação e a oferta de O2 começam ed. São Paulo: Manole; 2001.
a ser comprometidas com valores em torno de 20% de 1RM, 5. Fett CA, Maestá N, Burini RC. Alterações metabólicas, na força e
massa musculares, induzidas por um protocolo de musculação em
que era a carga final do TE. Sabe-se, ainda, que o exercício
atletas sem e com a suplementação de Omega-3 (W-3) ou triglicé-
resistido é dependente em maior grau do metabolismo anae- rides de cadeia média (TCM). Fit & Perform 2002:1:28-35.
róbico do que exercícios cíclicos. De fato, em cicloergômetro, 6. Porto M. Efeito da modulação dietética (protéico/glicídica) sobre
aproximadamente 9%, 12% e 100% da força voluntária a composição corporal de atletas de culturismo em treinamento.
máxima são exercidas no pedal, relativo às intensidades de XIII Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Ex-
perimental, 26-29/08/1998, Caxambu (MG), p.260, nº 04.060.
60%, 80% e 100% do VO2 máx, respectivamente. Em con-
7. Nadel ER, Fortney SM, Wenger CB. Effect of hydrata-
traste, para a extensão dinâmica do joelho, as porcentagens tion of circulatory and thermal regulations. J Appl Physiol
de 10%, 16% e 27% da força muscular máxima do músculo 1980;49(4):715-21.
em repouso eram obtidas 66%, 78% e 100% do VO2 máx. 8. Fink AS, Hefferan PM, Howell RR. Enzimatic and biochemical
de pico relativo à uma perna, respectivamente [1]. Fica, pois, characterization of the avian glycogen body. Comp Biochem
Physiol 1975;50(4):525-530.
aparente que o exercício contra resistência, já com percentuais
9. Sjogaard G. Exercise-induced muscle fatigue the significance of
relativamente baixos do 1RM, depende em grande parte do potassium. Acta Physiol Scand. 1990; 593: 5-63.
metabolismo anaeróbio. O TE oferece boa alternativa para 10. Edwards RHT, Hill DK. Myothermal and intramuscular pres-
teste de capacidade muscular em exercício resistido, envol- sure measurements during isometric contractions of the human
vendo metabolismo especifico a atividade, que não pode ser quadriceps muscle. J Physiol (London) 1972;224:58P-59P.
11. Brun JF, Bouchahda C, Chaze D, Benhaddad AA, Micallef JP,
mensurado (pelas alterações de marcadores bioquímicos) em
Mercier J. The paradox of hematocrit in exercise physiology:
testes convencionais em esteira ou bicicleta. which is the “normal” range from a hemorheologist’s viewpoint?
O Ht foi o único indicador positivamente correlacionado Clin Hemorheol Microcirc 2000; 22(4):287-303.
ao TE e ambas enzimas (CK e AST) tiveram importantes 12. Astrand PO, Rodahl K. Textbook of work physiology - Physio-
contribuições na predição do número de repetições desem- logical bases of exercise. New York: McGraw-Hill; 1977.
13. Maughan R, Gleeson M, Greenhaff PL. Biochemistry of exercise
penhadas e foram negativamente correlacionados ao TE.
and training. New York: Oxford University Press Inc; 2000.
Uma possível explicação para correlação negativa ao TE é 14. Greenhaf PL, Timmons JA. Interaction between aerobic and
que indivíduos mais bem condicionados têm menor aumento anaerobic metabolism during intense muscle contraction. Exerc
dessas enzimas comparados a indivíduos não acostumados a Sport Sci Rev 1998;26:1-30.
determinada atividade física [16]. 15. Powers SK, Howley ET. Fisiologia do Exercício: teoria e apli-
cação ao condicionamento e ao desempenho. 3a ed. São Paulo:
O indicador isolado mais sensível à exaustão foi a PCO2.
Manole; 2000. p.192-209.
Esta, quando associada à PO2, Ht, CK-MB e HCO3 aumen- 16. Margaritis I, Tessier F, Verdera F, Bermon S, Marconnet P. Mus-
tou o nível preditivo máximo para 92%. Ou seja, da média cle enzyme release does not predict muscle function impairment
de 151 repetições (somatória dos 3 exercícios) do teste, o erro after triathlon. J Sports Med Phys Fitness 1999;39:133-9.
padrão é de apenas 8 repetições. Isto sugere que estas variáveis 17. Koutedakis Y, Raafat A, Sharp NCC, Rosmarin MN, Beard
MJ, Robbins SW. Serum enzyme activities in individuals with
podem ser utilizadas, individualmente, ou em conjunto, para
different levels of physical fitness. J Sport Med Phys Fitness
avaliarem a intensidade e o volume de exercícios de levanta- 1993:33:252-57.
mento de peso máximo, ou próximo ao máximo. 18. Schneider CM, Dennehy CA, Rodearmel SJ, Hayward
JR. Effects of physical activity on creatine phosphokinase
Conclusão and the isoenzyme creatine kinase-MB. Ann Emerg Med
1995;25(4):520-4.
19. Apple FS, Tesch PA. CK and LD isozymes in human single muscle
Assim, pela característica de múltiplas cargas decrescentes fibers in trained athletes. J App Physiol 1989;66(6):2717-20.
e grande massa muscular envolvida o TE mostra-se útil para 20. Miller TD, Rogers PJ, Bauer BA, O’brien JF, Squires RW,
avaliar o desempenho do atleta de força e, também, para Bailey KR, Bove AA. Does exercise training alter myocardial
sensibilizar indicadores sanguíneos do estresse sistêmico. creatine kinase MB isoenzyme content? Med Sci Sports Exerc
1989;21(4):437-40.
21. SymanskI JD, Mcmurray RG, Silverman LM, Smith BW, SiegeL
Referências AJ. Serum creatine kinase and CK-MB isoenzyme responses to
acute and prolonged swimming in trained athletes. Clin Chim
1. Lewis SF, Fulco CS. A new approach to study muscle fatigue Acta 1983;129(2):181-7.
and factors affecting performance during dynamic exercise in 22. Horita T, Komi PV, Nicol C, Kyrolainen H. Effect of exhausting
humans. ACSM Exerc Sport Sci Rev 1998;26:91-116. strech-shortening cycle exercise on the time course of mechanical
2. Dangott B, Schultz E, Mozdziak PE. Dietary creatine mo- behavior in the drop jump: Possible role of muscle damage. Eur
nohydrate supplementation increases satellite cell mitotic J Appl Physiol Occup Physiol 1994:79:160-67.

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22 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Artigo original

Utilização do teste de 1RM na prescrição de exercícios


resistidos: vantagem ou desvantagem?
Strength training prescription through 1RM test: the ins and outs

Alex Souto Maior*, Adriana Lemos**, Nélson Carvalho**, Jéferson Novaes***, Roberto Simão****

* Universidade Gama Filho – CEPAC, Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Bioengenharia da Universidade do Vale do
Paraíba (UNIVAP – SP), **Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB
– RJ),***Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em Educação Física da Universidade Castelo Branco (UCB – RJ), Bolsista da
FUNADESP, Professor da UFRJ, **** Universidade Gama Filho – CEPAC, Universidade Católica de Petrópolis, LABSAU (UERJ)

Resumo Abstract
Este estudo teve como objetivo verificar o número de repetições The objective of this study was to verify a strength training
máximas atingidas a partir de 80% de 1RM em homens treinados prescription trough 1RM test in active men, with familiarization in
nos exercícios resistidos. A amostra foi constituída por 11 homens resistance training. 11 healthy men with 22,3 (± 3 years), 79,4 (+
saudáveis com idade média de 22,3 (± 3 anos), peso corporal 79,4 7,8 kg) and 179,7 (± 4,9 cm) did the bench press, leg press, leg curl
(± 7,8 kg) e estatura 179,7 (± 4,9 cm), submetidos ao teste e re-teste and lat pulldown in 1RM test. They performed the same exercises
de 1RM nos exercícios de supino horizontal, puxada pela frente, leg with 80% of 1RM test until exhaustion. The values found were
press inclinado e cadeira flexora sentada. Os valores obtidos foram above the literature preconized, and we obtained in medium10 (±
em média 10 (± 2), 11 (± 1), 20 (± 5) e 16 (± 4) repetições a 80% 2), 20 (± 5), 11 (± 1) and 16 (± 4) maximum repetitions at 80% of
de 1RM nos exercícios supracitados. Tais resultados do estudo indi- 1RM on bench press, leg press extension, lat pull down and leg curl
cam que não é apropriado prescrever um programa de treinamento respectively. These results of the studies show us that to prescribe the
de força com base em percentual de 1RM, ou seja, a predição não strength training to get strength and hypertrophy utilizing the 1RM
pode ser generalizada, sendo mais indicado predizer treinamentos test is not safe, being better to use sub maximum test to prescribe
por testes submáximos. the intensity in strength training.
Palavras-chave: re-teste de 1RM, treinamento de força, prescrição Key-words: 1RM re-test, strength training, exercise prescription.
de exercícios.

Introdução Os ER são utilizados como um meio efetivo de incremento


da força muscular e melhoria do estado funcional em todas
Muitos são os trabalhos que evidenciam a importância as faixas etárias. Isto justifica a necessidade da utilização de
dos exercícios resistidos (ER) na força muscular [1,2]. exercícios com sobrecargas na prescrição do treinamento,
O treinamento de força tem demonstrado ser efetivo na com objetivo de melhorar o desempenho físico associado ao
melhoria de várias capacidades neuromusculares [3], car- aumento da força e potência muscular [3,4]. No entanto,
diovasculares e endócrinas [4]. O American College of Sports exercícios com pesos se referem a uma modalidade de ati-
Medicine [2] (ACSM) preconiza que os ER desenvolvem vidade física sistematizada composta de variáveis (volume,
respostas benéficas tanto para a estética, como para a saúde intensidade, freqüência, duração, recuperação, ordem dos
e a reabilitação. exercícios, equipamentos e tipo de treinamento) que preci-

Recebido em 12 de abril de 2005; aceito em 15 de outubro de 2005.


Endereço para correspondência: Roberto Simão, Rua Tirol, 450/103, Jacarepaguá, 22750-000 Rio de Janeiro, E-mail:
centraldecursosugf@bol.com.br.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 23

sam ser bem controladas para que possam produzir efeitos Fitness). Os implementos de carga obedeceram à sobrecarga
benéficos [2,4]. Estudos demonstram [2] que o total de carga dos equipamentos (placas de 5 e 10kg).
utilizada para um exercício específico é, provavelmente, a va- Para melhor descriminação na realização dos ER, os
riável mais importante. Contudo, os testes que são utilizados mesmos serão descritos em sua posição inicial (PI) e fase
para a avaliação da força e para determinar a intensidade do concêntrica (FC). A descrição detalhada dos exercícios em
programa ainda são contraditórios [5]. cada fase é apresentada a seguir:
O teste de uma repetição máxima (1RM) vem sendo
amplamente utilizado, seja como medida diagnóstica da força Supino horizontal
muscular ou como parâmetro para a prescrição e monitoração
de um determinado exercício[6]. A intensidade de esforço 1. PI – Em decúbito dorsal, com os cotovelos estendidos com
relatada na literatura objetivando ganhos de força e hipertrofia as mãos sustentando a barra, joelhos e quadris semiflexio-
é sempre superior a 60%, sendo geralmente, na maioria dos nados, com os pés sobre o apoio do próprio aparelho;
trabalhos a 80% de 1RM [2,7]. 2. FC - A partir da fase excêntrica (braço e antebraço forman-
À luz destas considerações, este estudo teve como objetivo do um ângulo de 900), realizava-se a extensão completa dos
verificar o número de repetições máximas atingidas a partir cotovelos e flexão horizontal dos ombros.
de 80% de 1RM em homens treinados nos ER.
Leg Press inclinado
Materiais e métodos
1. PI - O indivíduo sentado no banco em um ângulo de 450,
Participaram do estudo 11 homens voluntários saudáveis, pernas paralelas com um pequeno afastamento lateral, com
com idade média de 22,3 (+3 anos), peso corporal 79,4 (+7,8 os joelhos estendidos, braços ao longo do corpo segurando
kg) e estatura 179,7 (+4,9 cm). Os indivíduos avaliados eram a barra de apoio;
treinados nos ER há pelo menos um ano e se exercitavam pelo 2. FC - A partir da fase excêntrica (80o entre a perna e coxa),
menos quatro vezes por semana. Antes da coleta de dados realizava-se a extensão completa dos joelhos e quadris.
todos responderam negativamente aos itens do questionário
Par-Q [8] e assinaram um termo de consentimento, conforme Puxada pela frente
Resolução no 196/96 do Conselho Nacional de Saúde do
Brasil. A coleta constou das seguintes etapas realizadas em seis 1. PI - Sentado no aparelho com os braços elevados e cotovelos
dias com intervalos de 48 a 72 horas: Dia 1 - Medida da massa estendidos com as mãos pronadas segurando na barra;
corporal e estatura. Logo após, aplicou-se o teste de 1RM, 2. FC - A partir da posição inicial realizava-se a adução dos
objetivando determinar a carga máxima nos exercícios supino ombros, com flexão dos cotovelos até a região do manú-
horizontal e leg press. Dia 2 – teste de 1RM na puxada pela brio.
frente (“pegada aberta”) e flexão de pernas. Dia 3 - realização
do re-teste de 1RM nos exercícios testados no primeiro dia. Cadeira flexora sentada
Dia 4 - realização do re-teste de 1RM nos exercícios testados
no segundo dia. Dia 5 – realização a 80% da carga de 1RM 1. PI - Sentado, coluna totalmente apoiada, joelhos coinci-
até a falha concêntrica nos exercícios supino horizontal e leg dindo com o eixo de rotação da máquina, parte posterior
press. Dia 6 – o mesmo procedimento do quinto dia, só que da perna sobre o suporte com os joelhos levemente flexio-
nos exercícios puxada pela frente (“pegada aberta”) e flexão nados.
de pernas. 2. FC - Flexão dos joelhos até 90°.
Com o objetivo de reduzir a margem de erro no teste e re-
teste de 1RM, e na prescrição dos exercícios a 80% de 1RM, Os valores das cargas máximas no teste e re-teste de 1RM
adotaram-se as seguintes estratégias: instruções previas do eram obtidos ao longo de até três tentativas, quando o ava-
protocolo de teste foram oferecidas aos avaliados, de modo que liado não conseguia mais realizar o movimento completo de
o avaliado estivesse ciente de toda a rotina que envolvia a coleta forma correta. Desse modo, validou-se como carga máxima
de dados; o avaliado foi instruído sobre a técnica de execução a que foi obtida na última execução. A cada nova tentativa
do exercício, inclusive realizando-o algumas vezes sem carga, realizava-se adição de incrementos progressivos de 5 Kg,
para reduzir um possível efeito do aprendizado nos escores sendo dado um intervalo de 2 minutos entre cada série [9].
obtidos; o avaliador estava atento quanto à posição adotada O re-teste foi realizado 48 h após a realização do teste para
pela praticante no momento da medida. Pequenas variações melhor fidedignidade das mensurações, assim evitando uma
no posicionamento das articulações envolvidas no movimento possível mascaração dos resultados.
poderiam acionar outros músculos, levando a interpretação Para a obtenção das repetições máximas considerou-se
errônea de escores obtidos; para a padronização dos testes e do o número de vezes que o indivíduo realizava o movimento
treinamento foram utilizados os mesmos equipamentos (Life completo com carga a 80% de 1RM até a falha concêntrica. A

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24 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

condução dos testes foi realizada em seis etapas em intervalos de resistência, respectivamente. No entanto, o comportamento
de 48 a 72 horas com o intuito de minimizar efeitos da fadiga de diferentes grupos musculares, diferentes níveis de condicio-
nas musculaturas solicitadas. namento, número de articulações envolvidas, podem alterar o
A análise estatística utilizou o coeficiente de relação e dife- número de repetições para cada objetivo traçado [10-14].
rença percentual entre o teste e o re-teste de 1RM. A relação Segundo Fleck, Kraemer [7] e Baechle, Earle[9], cargas
mínima, média e máxima do número de repetições atingidas entre 75 - 80% de 1RM eram anteriormente vistas como uma
foi relatada a partir da estatística descritiva. prescrição relacionada primariamente para ganhos de força
para hipertrofia. Conforme os dados obtidos em nosso estudo,
Resultados foi observado que a prescrição de cargas através do teste de
1RM apresenta um número elevado de repetições nos exercí-
A Tabela I destaca o coeficiente de relação e a diferença cios leg press e flexão de joelhos, ocorrendo o predomínio do
percentual entre o teste e o re-teste de 1RM. A tabela II destaca desenvolvimento de resistência sobre o de força para hipertro-
os valores mínimos, médios e máximos, em relação ao número fia. De acordo com os dados encontrados, o treinamento de
de repetições realizadas até a falha concêntrica. força em indivíduos treinados assume que um dado número
de repetições não está sempre associado com o percentual de
Tabela I - Demonstrativo do coeficiente de relação e a diferença 1RM nos exercícios em membros inferiores. Entretanto, nos
percentual entre o teste e o re-teste para 1RM. exercícios para membros superiores, os resultados obtidos
Supino Puxada Leg Flexão de demonstraram semelhança com o relatado na literatura.
horizontal pela press joelhos Hoeger et al. [12] encontraram no exercício leg press
frente inclinado 15,2 (+ 6,5) repetições em mulheres treinadas a
Coeficiente de 0,985* 0,992* 80% de 1RM. Resultados similares foram encontrados em
relação 0,988* 0,986* um estudo proposto por Simão et al. [14], em que os resul-
Diferença per- 7,8 7,4 7,4 5,7 tados tendem a corroborar essas proposições. Este estudo
centual (%) [14] foi conduzido em mulheres treinadas em diferentes
* Correlação significativa (p < 0,05). seqüências de exercícios e foi observado que ao iniciar pelo
exercício leg press, um número alto na média de repetições foi
Tabela II - Em média obteve-se 10 (+ 2), 11 (+ 1), 20 (+ 5) e 16 (+ encontrado (21 ± 8). Mesmo invertendo a ordem dos exer-
4) repetições nos exercícios de supino horizontal, puxada pela frente, cícios, iniciando pela cadeira flexora e, em seguida, a cadeira
leg press inclinado e cadeira flexora sentada, respectivamente. extensora, e somente após o leg press, a média de repetições
N* Média / DP** Minimo Máximo manteve-se alta (17 ± 7). Também Souto Maior, Simão [13]
repeti- repeti- em seu experimento verificaram que para o exercício leg press
ções ções inclinado foram encontradas 21 (+ 7) repetições para homens
Supino horizontal 11 10,27 + 1,49 8 12 treinados, o que corrobora com nosso estudo, onde a média
Puxada pela frente 11 10,5 + 1,37 8 12 alcançada foi de 20 (+ 5), não apresentando praticamente
Leg press 11 19,8 + 5,34 10 30 diferença entre ambos. A diferença encontrada entre nossos
Flexão de joelhos 11 15,5 + 4,2 11 25 resultados comparados aos de Hoeger et al. [12] e Simão et
*Indivíduos (N); **desvio padrão (DP). al. [14], talvez tenha origem em um fator primordial: o sexo
dos participantes. Em nosso estudo foram utilizados homens
treinados, enquanto nos estudos supracitados foram utilizadas
Discussão mulheres treinadas.
Em relação ao supino horizontal, os resultados do nosso
A utilização do teste de 1RM por profissionais engajados estudo foram em média 10 (+ 2). Em contrapartida, compa-
no treinamento bem como por pesquisadores é amplamente ramos nossos resultados com os obtidos por Hoeger et al. [11]
difundida e a utilização de percentuais na prescrição dos ER e Souto Maior, Simão [13]. Estes realizaram testes através do
em relação à hipertrofia, ganhos de força e força de resistên- exercício supino horizontal a 80% de 1RM, e encontraram
cia já vem sendo há muito discutido na literatura [1,2,7,9]. uma média de 12 (± 3) e 10 (± 3) repetições, respectivamente.
Em contra partida, diversos estudos demonstram que o teste Estes achados corroboram com os nossos dados.
de 1RM quando utilizado para controle de intensidade na O exercício de puxada pela frente em nosso estudo apre-
prescrição de exercícios, possui variações no número de re- sentou uma média estatística de 11 (± 1) repetições. Hoeger
petições que podem comprometer as zonas de treinamento et al. [11,12] testaram indivíduos (homens e mulheres) no
estipuladas [10-14]. exercício de puxada por trás, em que apresentaram em média
Na revisão de literatura [4,7,9,12], verifica-se que cargas 10 (± 4) e 12 (± 4) repetições, respectivamente. Assim, os re-
entre 70 a 85%, 85 a 100% e 30 a 60% são importantes para o sultados encontrados por Hoeger et al. [11,12] em relação ao
desenvolvimento da hipertrofia muscular, força máxima e força exercício de puxada por trás assemelha-se ao nosso resultado,

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 25

mesmo apresentando uma pequena diferença na execução do nestes estudos ocorreu a falta do re-teste de 1RM. Outro fator
movimento. importante é a determinação do impacto de um programa
Os resultados obtidos nos testes com o exercício de cadeira de treinamento. A existência de poucos estudos controlados
flexora sentada apresentaram a média de 16 (± 4) repetições. sobre a confiabilidade dos testes de força/resistência muscular
Em contrapartida, Hoeger et al. [11] apresentam a média de 7 em equipamento isotônico sugere que essa qualidade seja
(± 3) repetições. Tal diferença talvez se explique pela diferença verificada antes da realização de estudos que utilizem esses
na posição utilizada nos referidos estudos. Pois em nosso métodos, de forma a garantir a qualidade dos resultados para
estudo utilizamos a posição sentada, enquanto no estudo de os exercícios e a amostra em questão [10]. Pereira, Gomes [5]
Hoeger et al. [11] a execução do exercício ocorreu em decú- recomendam um período de adaptação ao teste além da rea-
bito ventral. Em outras situações de treinamento, podemos lização do re-teste. Assim sendo, com base na necessidade de
observar o comportamento do número de repetições. Como redução do erro da medida e nos poucos estudos disponíveis,
exemplo podemos citar o estudo desenvolvido por Simão et seria recomendado que os sujeitos participassem de algumas
al. [14], no qual foi observada a manipulação na ordem dos sessões de adaptação antes da realização dos testes. Entretanto,
exercícios em mulheres treinadas através da avaliação da carga não parece haver indicação do número adequado de sessões
máxima no teste de 1RM, em diversos exercícios, inclusive necessário para atingir uma adaptação apropriada [10].
na cadeira flexora sentada. Os resultados foram obtidos em
duas situações distintas: na primeira, o exercício referido era Conclusão
realizado no final do programa e em uma segunda situação
o exercício era realizado no início do programa. Em ambas A predição de 1RM a partir do teste propriamente dito
as situações o número médio de repetições foi elevado sendo tem baixo poder de confiabilidade, validade e fidedignidade,
(14 ± 5) quando era realizado ao final da sessão e 17 (± 6) principalmente em indivíduos destreinados. A prescrição do
quando iniciado pela flexora. É interessante observar que treinamento com base em número de repetições, supondo
este estudo proposto por Simão et al. [14] corrobora com que esse número represente um percentual de 1RM, não
nossos resultados, mesmo havendo manipulação na ordem foi apoiada pelos resultados deste estudo corroborando com
dos exercícios. Pereira [10]. De acordo com a afirmação mencionada, Hoeger
Diversos fatores podem influenciar os resultados, dentre os et al. [11,12] definem que o teste de 1RM possui falha na
quais podemos destacar: a velocidade de execução, amplitude prescrição de cargas para o treinamento. As diferenças entre
de movimento, capacidade de ativação neural, estabilização exercícios indicam que um mesmo número de repetições
postural, aprendizagem na coordenação, modulação aferente, pode representar intensidades diferentes para grupamentos
redução da atividade do antagonista, motivação e tipo de fibra musculares diferentes [14].
muscular envolvida [15]. Em nossa pesquisa não houve controle Sendo assim, podemos dizer que são muitas as variáveis
da velocidade na execução dos movimentos, o que parece ter que influenciam a aplicação do teste de 1RM, como prati-
sido importante em certos momentos. Uma velocidade alta era cidade e aplicabilidade das medidas, além da influência da
impressa logo nas primeiras repetições e, com a instauração da individualidade biológica nas respostas aos estímulos de um
fadiga, diminuía consideravelmente até a interrupção do exercí- mesmo programa de treinamento. Podemos então concluir,
cio. Isso pode ser considerado como uma variável interveniente que a predição não pode ser generalizada baseada no per-
em função das diferenças encontradas para o número médio centual de carga executada, sendo, portanto, mais adequado
de repetições e os respectivos desvios padrões. predizer as cargas através dos testes submáximos.
A relação entre o percentual de 1RM e o número de repe-
tições variam de acordo com a quantidade de massa muscular Referências
necessária para executar o exercício. Os exercícios de grupos
musculares maiores parecem precisar percentuais muitos altos 1. American College of Sports Medicine. Position stand: the rec-
de 1RM para conservá-los na zona de força muscular de repe- ommended quantity and quality of exercise for developing and
tições máximas [7]. Todavia, quando abordamos a questão do maintaining cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility
in healthy adults. Med Sci Sports Exer 1998;30:975-91.
volume de treinamento para um mesmo percentual de carga,
2. American College of Sports Medicine. Progression models in
foi encontrado na literatura que os grupamentos musculares resistance training for healthy adults. Med Sci Sports Exerc
maiores suportam um maior número de repetições quando 2002;34:364-80.
comparados a pequenos grupamentos [10-14], em que se 3. Fiatarone MA. Physical activity and functional independence
iguala aos resultados de nosso estudo. aging. Res Quart Exerc Sport 1996;67:70-6.
Outro motivo que nos leva a questionar os dados obtidos 4. Simão R. Fundamentos fisiológicos para o treinamento de força
por Simão et al. [14] e Hoeger et al. [11,12] é a confiabilidade e potência. São Paulo: Phorte; 2003.
dos instrumentos de medida. Isto é fundamental para que um 5. Pereira MIR, Gomes PSC. Testes de força muscular: confiabi-
pesquisador possa garantir a qualidade e o significado dos lidade e predição de uma repetição máxima – Revisão e novas
tendências. Rev Bras Med Esporte 2003;9:325-35.
dados de um estudo. Como exemplo, podemos ressaltar que

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6. Simão R, Giacomin MB, Dornelles TS, Marramon MGF, Vi- maximum: a comparison between untrained and trained males
veiros L. Influência do aquecimento específico e da flexibilidade and females. J Appl Sport Scie Res 1990;4:47-54.
no teste de 1RM. Rev Bras Fisiologia Exerc 2003;2:134-40. 12. Hoeger WWK, Barette SL, Hale DF, Hopkins DR. Relationship
7. Fleck SJ, Kraemer WJ. Fundamentos de treinamento de força between repetitions and selected percentages of one repetition
muscular. Porto Alegre: Artes Médicas; 1999. maximum. J Appl Sport Scie Res 1987;1:11-3.
8. Shepard RJ. Par-Q. Canadian home fitness test and exercise 13. Souto Maior A, Simão R. Prescrição de exercícios através do teste
screening alternatives. Sports Med 1988;5:185-95. de 1RM em homens. Rev Baiana Ed Física 2003. No prelo.
9. Baechle TR, Earle RW. Essentials of strength training and 14. Simão R, Polito MD, Viveiros L, Farinatti PTV. Influência da
conditioning. Champaign: Human Kinetics; 2000. manipulação na ordem dos exercícios de força em mulheres
10. Pereira MIR. Efeitos de duas velocidades de execução do exercício treinadas sobre o número de repetições e percepção de esforço.
isotônico (treinamento contra-resistência) no ganho de força e Rev Bras Ativ Física Saúde 2002;7:53-61.
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between repetitions and selected percentages of one repetition

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 27

Artigo original

Correlação entre o acúmulo de lactato


e a flexibilidade medida pelo teste de sentar e alcançar
em lutadores de Wushu
Relationship between blood lactate accumulation and flexibility
measured by the sit-and-reach test in Wushu athletes

Rafael Reimann Baptista*, Alexsander dos Anjos Ramos**, Bruno Fraga da Silva**, Bruno Ogodai S. D. de Castro***

*Grupo de Pesquisa Educação Física Baseada em Evidências, Universidade Luterana do Brasil, Campus Gravataí, Curso de Educa-
ção Física, Gravataí - RS, Grupo de Pesquisa em Biomecânica e Cinesiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Escola de
Educação Física, Porto Alegre RS, **Grupo de Pesquisa Educação Física Baseada em Evidências, Universidade Luterana do Brasil,
Campus Gravataí, Curso de Educação Física, Gravataí - RS, ***Personal Trainer e Professor de Wushu, Porto Alegre - RS

Resumo Abstract
Poucas evidências estão disponíveis na literatura sobre os as- Few evidences are available in literature about the physiological
pectos biomecânicos e fisiológicos das artes marciais, em especial o and biomechanical aspects of martial arts, especially Wushu, the
Wushu, a arte marcial chinesa. A flexibilidade é um dos componen- Chinese martial art. Flexibility is one of the most prominent physical
tes da aptidão física mais proeminentes em artes marciais como o fitness components in martial arts like Wushu. Controversies do
Wushu. Existem controvérsias nos estudos acerca das relações entre exist in studies about flexibility and metabolic demand interaction
a flexibilidade e a demanda metabólica em atletas. Desta forma, o in athletes. Therefore, the purpose of this study was to analyze the
objetivo deste estudo foi analisar a relação entre a flexibilidade e o relationship between flexibility and blood lactate accumulation
acúmulo de lactato após uma competição de Wushu. Oito atletas after Wushu competition. Eight male athletes, mean age of 26.05
do sexo masculino com idade média de 26,05 ± 5,32 anos e tempo ± 5.32 years and mean training time of martial arts of 8 ± 4 years
médio de treinamento em artes marciais de 8 ± 4 anos forneceram gave written consent to participate in this study. Participants were
consentimento por escrito para participar deste estudo. A amostra pooled into two groups, one participating of the Chinese Boxing
foi composta por dois grupos de atletas, um grupo participante modality (n = 5) and other Taolu modality (n = 3). They performed
da modalidade de Boxe Chinês (n = 5) e outro participante da an evaluation of the trunk and lower limb flexibility by the sit-and-
modalidade de Taolu (n = 3). Os atletas realizaram uma avaliação reach test, as well as the blood lactate sampling before and after a
da flexibilidade de tronco e membros inferiores através do teste de competition to assess its accumulation. Pearson product moment
sentar e alcançar, bem como uma medição do lactato sangüíneo correlation coefficients revealed a significant relationship (r = -0.92;
antes e depois de uma competição para avaliação do seu acúmulo. O p = 0.02) between flexibility and blood lactate accumulation in
coeficiente de correlação produto momento de Pearson revelou uma Chinese Boxers. No significant correlation between these variables
correlação significativa (r = -0,92; p = 0,02) entre a flexibilidade e o was found among the Taolu athletes. These results suggest that the
acúmulo de lactato sangüíneo em lutadores de Boxe Chinês. Não blood lactate accumulation after Chinese Boxing is the reverse of
foi encontrada uma correlação significativa entre estas variáveis nos the flexibility level measured by the sit-and-reach test. Studies with a
atletas que realizaram o Taolu. Os resultados sugerem que o acúmulo large sample size and more elegant biomechanical approaches might
de lactato sangüíneo após uma luta de Boxe Chinês é inversamente bring a better understanding of this phenomenon.
proporcional ao nível de flexibilidade medido pelo teste de sentar Key-words: Wushu, flexibility, sit-and-reach, lactate, metabolic
e alcançar. Estudos com maiores tamanhos amostrais e abordagens demand.
biomecânicas mais elegantes poderão trazer um melhor entendi-
mento sobre este fenômeno.
Palavras-chave: Wushu, flexibilidade, sentar e alcançar, lactato,
demanda metabólica.

Recebido em 10 de janeiro de 2005;aceito em 12 de maio de 2005.


Endereço para correspondência: Rafael Reimann Baptista, Universidade Luterana do Brasil, – Campus Gravataí, Curso de Educação
Física, Av. Itacolomi no. 3600, Bairro São Vicente, 94170-240 Gravataí RS, E-mail: baptistarafael@terra.com.br, Tel: 51-34317677

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Introdução xibilidade teriam um maior retorno da energia elástica dos


tecidos conjuntivos da unidade músculo-tendão durante o
Embora as artes marciais sejam praticadas há milhares ciclo alongamento-encurtamento.
de anos e tenham se tornado especialmente populares no Se de fato músculos menos flexíveis conferem ao atleta tais
ocidente nas últimas décadas, existe uma grande carência de características fisiológicas e biomecânicas, seria de se esperar
evidências científicas na literatura sobre os aspectos fisiológicos que ao realizar um determinado exercício, devido a um menor
e biomecânicos destas modalidades. recrutamento de fibras musculares e a uma maior força passiva
Um melhor entendimento sobre a fisiologia e biomecâ- produzida pelos elementos elásticos do músculo, um menor
nica das artes marciais pode auxiliar na prevenção de lesões acúmulo de lactato sangüíneo fosse observado.
esportivas, as quais em se tratando de um esporte de combate Desta forma, torna-se importante um maior entendimento
são muito prevalentes [1]. Adicionalmente, parâmetros fisio- da associação entre a flexibilidade e o acúmulo de lactato san-
lógicos podem ser utilizados na prescrição de um trabalho güíneo, principalmente em uma modalidade de arte marcial
de condicionamento físico específico para a modalidade, na qual os atletas demonstram grandes índices de amplitude
bem como a análise biomecânica do gesto esportivo pode ser de movimento e a necessidade de movimentos altamente
utilizada na correção da técnica. técnicos como é o caso do Wushu. O objetivo deste estudo
A maioria dos estudos sobre artes marciais tem se concen- foi analisar a relação entre a flexibilidade medida pelo teste
trado em analisar os aspectos relacionados ao risco de lesões de sentar e alcançar e o acúmulo de lactato sangüíneo após
ortopédicas [2] ou a prevalência de lesões em diferentes estilos a prática do Wushu.
de lutas [1]. Esta tendência é compreensível dada à natureza O Wushu é a arte marcial de origem chinesa, que erronea-
de alto contato apresentada pelos esportes de combate. Toda- mente tornou-se popular no ocidente como kung-fu, e que, a
via, outra característica que se destaca nestas modalidades é a partir da década de 50, foi adaptado para finalidades esportivas
flexibilidade necessária para a prática dos movimentos, tanto recebendo o nome mais tarde de Wushu Olímpico e podendo
durante os treinos como em competições. ser praticado em basicamente duas modalidades: o Taolu e o
Diversos estudos têm demonstrado o benefício das artes Sanchou (Boxe Chinês). O Taolu consiste em uma seqüência
marciais no desenvolvimento da flexibilidade tanto em idosos de movimentos individuais simulando uma luta. Neste estudo
[3] quanto em jovens [4], sendo muitas vezes mais efetivos avaliamos os estilos ChangQuan e NanQuan os quais exigem
que as atividades físicas recreativas em crianças [5]. extremo vigor físico, pois envolvem pulos, chutes e acrobacias,
Embora a flexibilidade seja um dos componentes impor- resultando em uma ginástica extremamente plástica e graciosa.
tantes reconhecidos pelo American College of Sports Medicine O Sanchou é o combate entre dois atletas, o qual foi adaptado
no que tange à aptidão física [6], e mesmo com algumas para finalidades esportivas através de regras e equipamentos
evidências apontando para uma associação positiva entre a fle- de proteção semelhante ao Boxe ocidental. Esta adaptação
xibilidade e o desempenho [7,8], outras evidências contrárias tornou corrente na modalidade o uso de estratégias de luta que
têm apontado para uma relação negativa entre a flexibilidade utilizam golpes bem objetivos, como técnicas de boxe e luta
e a economia de movimento [9-11]. Alguns autores sugerem greco-romana, distanciando-se algumas vezes da arte marcial
ainda que estas variáveis não estariam necessariamente rela- chinesa tradicional. Por esta razão, neste artigo, didaticamente
cionadas [12,13]. chamaremos o Sanchou de Boxe Chinês.
Uma melhor economia de movimento, ou seja, um menor
gasto energético durante um determinado esforço, parece estar Materiais e métodos
associado com um melhor desempenho esportivo [14,15] e é
influenciado por aspectos antropométricos, biomecânicos e População do estudo
fisiológicos [16,17]. Mesmo quando dois atletas apresentam
valores semelhantes de consumo de oxigênio (VO2) máximo e Participaram deste estudo oito atletas, do sexo masculino,
limiar de lactato, as evidencias sugerem que aquele que usar uma participantes da I Copa Latino Americana de Wushu, com
menor porção do seu VO2 máximo, apresentará uma vantagem idade média de 26,05 ± 5,32 anos, os quais apresentavam
quando comparados a atletas menos econômicos [18]. um tempo médio de treinamento em artes marciais de 8,25
Correlacionando a flexibilidade com a economia de mo- ± 3,99 anos. Os indivíduos apresentaram uma massa corporal
vimento em corredores, Jones [11] verificou que os atletas média de 70,94 ± 8,00 kg, uma estatura média de 173,36 ±
com maior rigidez nos músculos isquiotibiais e lombares, 6,90 cm e um percentual de gordura de em média 11,20 ±
avaliados através do teste de sentar e alcançar, eram os mais 1,81%. A amostra foi composta por dois grupos de atletas,
econômicos. Os resultados encontrados pelo autor parecem um grupo participante da modalidade Boxe Chinês (n = 5) e
estar fundamentados em dois fenômenos biomecânicos: 1) outro participante da modalidade de Taolu (n = 3).
a maior rigidez muscular contribuiria para uma maior esta- Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa
bilidade articular reduzindo a necessidade de recrutamento da Universidade Luterana do Brasil, tendo sido considerado
de músculos adicionais; e 2) os corredores com menor fle- ética e metodologicamente adequado conforme a Resolução

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 29

196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Aos indivíduos apresentados através de estatística descritiva composta por
que voluntariamente aceitaram participar deste estudo foi média ± desvio padrão.
dada uma explicação verbal sobre os objetivos da pesquisa,
bem como um esclarecimento sobre todos os procedimentos Resultados
realizados. Foi entregue também um termo de consentimen-
to informado em duas vias, o qual foi assinado tanto pelos Não foi encontrada uma correlação significativa entre a
pesquisadores quanto pelos colaboradores, firmando assim o flexibilidade e o acúmulo de lactato sangüíneo quando todos
vínculo ético necessário para a realização desta pesquisa. os atletas foram analisados conjuntamente. Porém, quando
o tratamento estatístico foi repetido analisando os atletas
Procedimentos experimentais separadamente por modalidade, verificou-se uma correlação
negativa (r = -0,92 e p = 0,02) entre a flexibilidade e o acúmulo
A massa corporal foi medida por uma balança antropomé- de lactato sangüíneo em lutadores de Boxe Chinês, como pode
trica (Indústrias Filizola S.A.) com resolução de 100 gramas, ser visualizado graficamente na Figura 1. Não foi encontrada
a estatura foi medida através de um estadiômetro (Cardiomed uma correlação significativa entre estas variáveis nos atletas
Medicina, Sports & Fitness) com resolução de um centímetro que realizaram o Taolu.
e as dobras cutâneas mensuradas através de um adipômetro
com resolução de um milímetro (Cescorf Equipamentos Figura 1 - Correlação entre o acúmulo de lactato sangüíneo e a
Antropométricos Ltda). Em seguida os atletas realizaram uma flexibilidade em lutadores de Boxe Chinês (r = -0,92 e p = 0,02).
medição da flexibilidade através do teste de sentar e alcançar,
o qual consiste em o avaliado sentado com os pés unidos e
joelhos estendidos, pés apoiados no aparato de medição (Banco
de Wells - Cardiomed Medicina, Sports & Fitness), realizar uma
flexão do tronco empurrando o curso de marcação o máximo
possível. Não foi permitido nenhum tipo de aquecimento para
evitar a influência deste no desempenho do avaliado, tendo sido
considerado o melhor desempenho de duas tentativas.
Por fim, mas não menos importante, foi coletada uma
gota de sangue do lóbulo da orelha antes e outra depois da
realização de um Taolu ou de uma luta de Boxe Chinês. No
caso dos lutadores de Boxe Chinês a coleta de sangue foi feita
na ponta do dedo indicador, mantendo o local de coleta pro-
tegido pelas luvas. O sangue coletado foi usado para análise da
concentração de lactato através de um lactímetro (Accutrend
Lactate Roche). O acúmulo de lactato sangüíneo foi calculado
como sendo a subtração do valor de lactato pós-exercício pelo
valor de lactato pré-exercício.

Tratamento estatístico
A Tabela I apresenta a caracterização dos atletas, separa-
O tratamento estatístico foi realizado pelo programa dos por modalidade, no que tange a faixa etária, tempo de
SPSS para Windows versão 12.0, através de uma correlação treinamento, massa corporal total, estatura e percentual de
produto momento de Pearson assumindo-se um nível de gordura. Não foram encontradas diferenças significativas
significância de p < 0,05. Quando necessário, os dados serão nestas variáveis entre os dois grupos.

Tabela I - Caracterização dos atletas.


Modalidade Tempo de treino (anos) Massa (kg) Estatura (cm) Percentual de gordura (%)
Boxe Chinês 8,60 ± 4,04 71,08 ± 9,05 174,64 ± 5,11 11,29 ± 2,29
Taolu 7,67 ± 4,73 70,70 ± 7,75 171,23 ± 10,17 11,04 ±0 ,97

Tabela II - Resultados obtidos no teste de flexibilidade e na medição de lactato sangüíneo.

Modalidade Flexibilidade (cm) Lactato pré (mmol/L) Lactato pós (mmol/L) Acúmulo de lactato (mmol/L)
Boxe Chinês 38,00 ± 5,06 2,60 ± 0,86 10,98 ± 2,55 8,38 ± 2,93
Taolu 29,57 ± 14,60 2,27 ± 0,42 13,93 ± 0,86 11,67 ± 0,45

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30 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

A Tabela II apresenta os resultados obtidos pelos atletas de sangue influenciaria os resultados obtidos, entretanto, ao
no teste de flexibilidade e na medição de lactato sangüíneo, comparar a concentração de lactato coletado a partir de uma
separados por modalidade, no que tange à flexibilidade, o gota de sangue no dedo do pé, dedo da mão ou lóbulo da
valor de lactato antes e depois da realização do exercício, bem orelha em remadores, Forsyth [21] não encontrou diferenças
como os valores de acúmulo de lactato sangüíneo. entre as concentrações observadas nos três pontos.
Utilizando-se as bases de dados Scopus e PubMed através
Discussão das palavras-chave relacionadas ao tema desta pesquisa, como
flexibility, blood lactate, sit and reach, anaerobic exercise entre
O Wushu apresenta como característica movimentos outros termos, não foram encontrados estudos que tenham
rápidos e vigorosos. Mesmo quando praticado sob a forma buscado analisar a relação entre o acúmulo de lactato e a flexi-
de Taolu, altas demandas metabólicas podem ser alcançadas. bilidade de atletas, o que de certa forma concede ao presente
Ribeiro et al. [19] verificaram que a freqüência cardíaca de trabalho uma relativa originalidade.
atletas de Wushu variou de 76 ± 7 bpm em repouso para Por outro lado, tendo em vista que a economia de mo-
176 ± 3 bpm imediatamente após a realização de um Taolu, vimento é a relação entre o VO2 e o trabalho realizado [15],
e que o lactato sangüíneo destes atletas variou de 1,80 ± e que durante um exercício o VO2 aumenta linearmente em
0,24 mmol/L em repouso para 4,38 ± 1,63 mmol/L cinco relação a intensidade até alcançar o seu máximo [22] entre
minutos após a realização do Taolu. Segundo os autores, a outros fatores pelo acúmulo de lactato sangüíneo [23], tor-
freqüência cardíaca dos atletas atingiu 89% da freqüência na-se relevante para um maior entendimento dos fenômenos
cardíaca máxima prevista para a idade e, embora o acúmulo abordados neste artigo, a discussão dos resultados encontrados
de lactato observado tenha sido bem inferior ao encontrado por alguns estudos sobre a relação entre economia de corrida
em nosso estudo, os pesquisadores concluíram que o seu e flexibilidade [9-13].
aumento foi suficiente para que os atletas tenham alcançado Gleim et al. [10] utilizaram um índice de rigidez muscular
o limiar de lactato de 4 mmol/L [20]. Uma das razões para as a partir da avaliação de onze diferentes medições de flexibi-
diferenças encontradas no acúmulo de lactato entre o estudo lidade de tronco e membros inferiores, verificando que uma
de Ribeiro et al. [19] e o presente estudo talvez tenha sido a rigidez músculo esquelética não patológica estava associada a
metodologia empregada em analisar o lactato cinco minutos uma maior economia de corrida em esteira ergométrica. De
após o exercício. Outro aspecto que deve ser levado em conta forma semelhante, Craib et al.[9] verificaram a relação entre
é que estes pesquisadores utilizaram como ambiente de coleta o VO2 em duas velocidades de corrida e nove medições de
de dados a prática do Wushu em um ginásio, simulando uma flexibilidade de tronco e membro inferiores, concluindo que
competição, enquanto que o presente estudo efetivamente teve a amplitude de movimento de dorsiflexão e rotação de tronco
a sua coleta de dados realizada durante um torneio real, no era positivamente correlacionada com a demanda aeróbica,
qual provavelmente os atletas encontravam-se naturalmente de forma que os atletas menos flexíveis nestas medições eram
mais motivados. mais econômicos devido a uma maior estabilidade articular e
Uma das limitações do presente trabalho, que pode ser menor necessidade de recrutamento de músculos estabilizadores
considerado um estudo piloto, é a pequena amostra utilizada. adicionais. Entretanto, os resultados sugeridos por Jones [11]
Embora tenhamos como meta o desenvolvimento de novos parecem ser os mais conclusivos sobre o tema. Avaliando a fle-
estudos com amostras maiores, é preciso ressaltar que a realiza- xibilidade de corredores através do teste de sentar e alcançar, o
ção de investigações que utilizam procedimentos invasivos em autor verificou uma alta correlação entre esta variável e o VO2,
esportes de combate sofre dificuldades de aceitação por parte propondo que os atletas menos flexíveis seriam mais econômi-
dos comitês de ética em pesquisa bem como dos próprios atle- cos devido ao maior armazenamento e retorno da força passiva
tas, tornando difícil a obtenção de grandes amostras. Tendo produzida pelos elementos elásticos do músculo durante a fase
em vista a escassez de estudos na área da fisiologia do Wushu, de encurtamento do ciclo alongamento encurtamento.
esperamos que mesmo com o número reduzido de atletas Nossos resultados contrariam os dados encontrados por
avaliados uma importante contribuição na área das ciências estes autores. Embora a especificidade de treinamento deva
do esporte possa ser feita. Uma das maneiras encontradas no ser levada em conta, partindo de uma abordagem biológica
presente estudo para tornar mais segura a coleta de sangue nos se atletas menos flexíveis devessem ser mais econômicos então
lutadores de Boxe Chinês foi a utilização da ponta do dedo eles também deveriam apresentar menores acúmulos de lactato
como local de coleta, a qual ficava protegida pelas luvas de após um determinado exercício, caso contrário metabolica-
combate. Nos lutadores que realizaram o Taolu este local de mente esta associação estaria comprometida. No presente
coleta não pode ser realizado, pois em suas rotinas, com freqü- estudo verificamos que os lutadores de Boxe Chinês mais
ência, os atletas batiam com as mãos no chão, o que poderia flexíveis possuíam menores acúmulos de lactato sangüíneo
ser doloroso tendo em vista a perfuração feita para a coleta após a luta. Nossos dados são parcialmente amparados pelo
de sangue, podendo também interferir no desempenho do estudo de Beaudoin e Blum [12] os quais não encontraram
atleta. Poderia ser questionado se a diferença no local de coleta associação entre a flexibilidade de corredoras e a sua economia

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 31

de movimento. Adicionalmente, Nelson et al.[13] submete- 7. Wilson GJ, Elliott BC, Wood GA. Stretch shorten cycle per-
ram 32 indivíduos, 16 homens e 16 mulheres, a 10 semanas formance enhancement through flexibility training. Med Sci
de treinamento composto por 15 alongamentos estáticos, Sports Exerc 1992;24:116-123.
8. Worrell TW, Smith TL, Winegardner J. Effect of hamstring
incluindo os principais músculos dos membros inferiores stretching on hamstring muscle performance. J Orthop Sports
avaliados por Gleim et al. [10]. Os autores verificaram que Phys Ther 1994;20:154-159.
embora os indivíduos alongados tenham aumentando o seu 9. Craib MW, Mitchell VA, Fields KB, Cooper TR, Hopewell R,
desempenho no teste de sentar e alcançar, não houve prejuízo Morgan DW. The association between flexibility and running
na economia de corrida [13]. economy in sub-elite male distance runners. Med Sci Sports
Exerc 1996;28:737-743.
10. Gleim GW, Stachenfeld NS, Nicholas JA. The influence of
Conclusão flexibility on the economy of walking and jogging. J Orthop
Res 1990;8:814.
É possível que as relações entre os aspectos neuromuscu- 11. Jones AM. Running economy is negatively related to sit-and-re-
lares como a flexibilidade e as respostas metabólicas como a ach test performance in international-standard distance runners.
economia de movimento e o acúmulo de lactato sangüíneo Inter J Sports Med 2002;23:40-43.
não sejam tão simples quanto poderia se pensar. Existem 12. Beaudoin CM, Blum JW. Flexibility and running economy
in female collegiate track athletes. J Sports Med Phys Fit
evidências de que o aumento na amplitude de movimento 2005;45:295-300.
articular através dos exercícios de alongamento ocorrem por 13. Nelson AG, Kokkonen J, Eldredge C, Cornwell A, Glickman-
uma maior tolerância ao estiramento por parte do sujeito, Weiss E. Chronic stretching and running economy. Sca J Med
e não por mudanças nas propriedades mecânicas ou viscoe- Sci Sports 2001;11:260-265.
lásticas da unidade músculo-tendão [24,25]. Neste sentido, 14. Conley DL, Krahenbuhl GS. Running economy and distance
estudos recentes utilizando a ultra-sonografia para avaliar as running performance of highly trained athletes. Med Sci Sports
Exerc 1980;12:357-60.
propriedades mecânicas do tendão humano in vivo demons- 15. Daniels JT. A physiologist’s view of running economy. Med Sci
traram que o treinamento de flexibilidade afeta a viscosidade Sports Exerc 1985;17:332-8.
do tendão, mas não a sua elasticidade [26]. 16. Bailey SP, Pate RR. Feasibility of improving running economy.
Com base no que foi exposto anteriormente, concluímos Sports Med 1991;12:228-36.
que o acúmulo de lactato sangüíneo, após uma luta de Boxe 17. Williams KR, Cavanagh PR. Relationship between distance
Chinês, é inversamente proporcional ao nível de flexibilidade running mechanics, running economy, and performance. J Appl
Physiol 1987;63:1236-45.
medido pelo teste de sentar e alcançar. O entendimento desta 18. Jones AM, Carter H. The effect of endurance training on para-
curiosa relação parece requisitar novos estudos com amostras meters of aerobic fitness. Sports Med 2000;29:373-86.
maiores e preferencialmente envolvendo a avaliação da arqui- 19. Ribeiro JL, Castro BO, Rosa CS, Baptista RR, Oliveira AR. He-
tetura músculo-tendínea in vivo, a qual sabidamente afeta as art rate and blood lactate responses to Changquan and Daoshu
propriedades mecânicas do músculo esquelético [27] e podem Forms of Modern Wushu. J Sports Sci Med 2006; CSSI:1-4.
explicar, como no caso da relação força-velocidade, muitos 20. Heck H, Mader A, Hess G, Mucke S, Muller R, Hollmann W.
Justification of the 4-mmol/l lactate threshold. Inter J Sports
aspectos relacionados com o custo energético e a eficiência Med 1985;6:117-30.
de um movimento [28]. 21. Forsyth JJ, Farrally MR. A comparison of lactate concentration
in plasma collected from the toe, ear, and fingertip after a simu-
Referências lated rowing exercise. Br J Sports Med 2000;34:35-38.
22. Saltin B, Astrand PO. Maximal oxygen uptake in athletes. J
1. Zetaruk MN, Violan MA, Zurakowski D, Micheli LJ. Injuries Appl Physiol 1967;23:353.
in martial arts: a comparison of five styles. Br J Sports Med 23. Wasserman K, Whipp BJ, Koyal SN, Beaver WL. Anaerobic
2005;39:29-33. threshold and respiratory gas exchange during exercise. J Appl
2. Kochhar T, Back DL, Mann B, Skinner J. Risk of cervical injuries Physiol 1973;35:236.
in mixed martial arts. Br J Sports Med 2005;39:444-447. 24. Magnusson SP, Aagard P, Simonsen E, Bojsen-Møller F. A
3. Brudnak MA, Dundero D, Van Hecke FM. Are the ‘hard’ mar- biomechanical evaluation of cyclic and static stretch in human
tial arts, such as the Korean martial art, TaeKwon-Do, of benefit skeletal muscle. Inter J Sports Med 1998;19:310.
to senior citizens? Medical Hypotheses 2002;59:485-491. 25. Magnusson SP, Simonsen EB, Aagaard P, Soørensen H, Kjær M.
4. Violan MA, Small EW, Zetaruk MN, Micheli LJ. The effect of A mechanism for altered flexibility in human skeletal muscle. J
karate training on flexibility, muscle strength, and balance in Physiol 1996;497:291.
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5. Sekulic D, Krstulovic S, Katic R, Ostojic L. Judo training is on the viscoelastic properties of human tendon structures in
more effective for fitness development than recreational sports vivo. J Appl Physiol 2002;92:595.
for 7-year-old boys. Pediatric Exerc Sci 2006;18:329-338. 27. Lieber RL, Friden J. Clinical significance of skeletal muscle
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Franklin BA, et al. The recommended quantity and quality of 28. Kohler G, Boutellier U. The generalized force - Velocity rela-
exercise for developing and maintaining cardiorespiratory and tionship explains why the preferred pedaling rate of cyclists exce-
muscular fitness, and flexibility in healthy adults. Med Sci Sports eds the most efficient one. Eur J Appl Physiol 2005; 94:188.
Exerc 1998;30:975-991.

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32 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Artigo original

Efeitos de um treinamento de força aplicado em


mulheres praticantes de hidroginástica
Effects of resistance training in women engaged
in hydrogymnastics programs

Luiz Fernando Martins Kruel, Roberta Eilert Barella, Fabiane Graef, Michel Arias Brentano, Paulo Poli de Figueiredo, Ananda
Cardoso, Carla Rosana Severo

Laboratório de Pesquisa do Exercício - LAPEX, Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas - GPAA, Universidade Federal do Rio
Grande do Sul - UFRGS

Resumo Abstract
O estudo verificou os efeitos de um treinamento de força The study observed the effects of strength training in women
aplicado em mulheres praticantes de hidroginástica. A amostra foi aged from 38 to 67 yrs engaged in hydrogymnastics (HG). The
constituída por mulheres saudáveis na faixa etária de 38 a 67 anos, subjects were assigned in 4 groups that trained 4 times/wk during
divididas em quatro grupos. Os grupos realizaram o treinamento 11 weeks. The first group performed HG focusing resistance training
duas vezes por semana, durante onze semanas. O tratamento ex- with specific device for the lower (G1, n = 11) and upper limbs
perimental 1 consistiu na prática de hidroginástica enfatizando o (G2, n = 6). The third group performed strength training without
treinamento específico de força muscular com utilização de equi- specific device for the lower (G3, n = 6) and upper limbs (G4, n
pamento resistivo em membros inferiores (grupo1 / n = 11) ou em = 11). The strength was assessed before and after the experimental
membros superiores (grupo 2 / n = 6). O tratamento experimental period and data was analysed by the Student t-test (p < 0.05). The
2 também constituiu-se na prática de hidroginástica com ênfase no mean increase for the strength of hip adductor muscles was corres-
treinamento específico de força muscular, porém, sem a utilização ponded to 10.73% (2.5kg) for G1 and 12.37% (2.84kg) for G2.
de equipamento resistivo em membros inferiores (grupo 3 / n = The strength of elbow flexor muscles was of 14.21% (1.29kg) for
6) ou em membros superiores (grupo 4 / n = 11). A variável força G3 and 12.16% (1.18kg) for G4. In all cases the strength improved
muscular foi mensurada, em todos os grupos, antes e depois do significantly regardless of using specific device. In conclusion, the
período experimental. Para analisar os dados coletados, utilizou-se HG can be an alternative to improve women’s muscle strength.
estatística descritiva e o teste t de student para amostras dependen- Key-words: hydrogymnastics, muscle strength, resistance training.
tes e independentes (p < 0,05). Os aumentos médios percentuais
e absolutos da força dos músculos adutores de quadril correspon-
deram a 10,73% (2,5 kg) para o grupo 1 e 12,37% (2,84 kg) para
o grupo 2. Para os músculos flexores de cotovelo, os aumentos
foram 14,21% (1,29 kg) para o grupo 3 e 12,16% (1,18 kg) para
o grupo 4. Para os músculos extensores de cotovelo, os aumentos
corresponderam a 20,71% (2,96 kg) para o grupo 3 e 28,76% (4,34
kg) para o grupo 4. Em todos os grupos musculares avaliados, os
resultados mostraram diferenças significativas nas situações de pré e
pós-treinamento, independentemente da utilização do equipamento.
Conclui-se que a hidroginástica com ênfase no treinamento de força
pode constituir uma eficiente modalidade para o desenvolvimento
desta qualidade física.
Palavras-chave: hidroginástica, força muscular, treinamento
contra-resistência.

Recebido 25 de maio de 2005; aceito em 06 de setembro de 2005.


Endereço para correspondência: Fabiane Graef, Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas, Laboratório de Pesquisa do Exercício,
Escola de Educação Física, UFRGS, Rua Felizardo, 750, 90610 Porto Alegre RS, Tel:(51) 3316-5820, E-mail: fgmuller@terra.com.br

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 33

Introdução a prática regular de hidroginástica incrementa o condicio-


namento aeróbio, a resistência muscular, a flexibilidade e a
A força muscular constitui um dos componentes da apti- composição corporal. Além disso, melhora aspectos secun-
dão física relacionada à saúde [1], constituindo também um dários do condicionamento físico, como agilidade, potência,
fator essencial para a função fisiológica perfeita [2]. Níveis velocidade, reflexo, coordenação e equilíbrio [8].
adequados de força tornam as pessoas capazes de desenvolver Em relação aos aumentos dos níveis de força muscular
tarefas diárias com menor esgotamento fisiológico [3] como provocados pela prática de hidroginástica, não há muito
também melhoram o desempenho em atividades esportivas conhecimento disponível na literatura. Em estudo realizado
[4]. Logo, a manutenção de bons níveis de força ao longo da por Müller et al. [12], constatou-se que idosas praticantes
vida é importante para realizar atividades simples do cotidia- de hidroginástica tendem a demonstrar maiores valores de
no, como aquelas que requerem locomoção e sustentação. força do que idosas praticantes de ginástica localizada ou
O desempenho da força mostra-se diferente entre os caminhada. Em outro estudo, Muller [13] também chama
gêneros, visto que as mulheres tendem a exibir níveis in- a atenção para a possibilidade de ocorrer aumento nos ní-
feriores de força quando comparadas aos homens [3]. Em veis de força muscular após treinamento de hidroginástica.
escores absolutos, tal diferença torna-se mais evidente do Entretanto, esses estudos são iniciais, necessitando de novas
que quando se compara a força relativa, expressa em relação investigações para melhor verificar a magnitude dos efeitos
ao peso corporal ou à massa corporal magra. No entanto, as de sessões de hidroginástica no desenvolvimento da força
mulheres em certas circunstâncias podem desempenhar tarefas muscular.
que exigem níveis de força semelhantes aos dos homens. No Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar os efeitos
que diz respeito ao avançar da idade, a tendência é que os de um programa de treinamento de força realizado através
níveis de força diminuam, influenciando desde a velocidade da hidroginástica, com ou sem a utilização de equipamento
de locomoção e a capacidade de subir escadas até alterações resistivo, sobre a força máxima dinâmica dos músculos flexores
no equilíbrio e dificuldades em tarefas simples como levantar de cotovelo, extensores de cotovelo e adutores de quadril, em
da posição sentada [5]. mulheres adultas.
O treinamento de força traz benefícios à saúde orgânica
[6]. Cabe ressaltar que esses benefícios podem ser obtidos por Materiais e métodos
praticamente qualquer pessoa, independentemente do sexo,
idade ou envolvimento atlético [7]. No âmbito psicológico, Amostra
os aumentos da massa muscular e da força podem exercer in-
fluências marcantes na auto-estima e autoconfiança [3]. Dessa A amostra foi composta por 17 mulheres entre 38 e
forma, intervenções que contribuam para a melhora da força 67 anos, participantes do programa de hidroginástica do
são assim importantes no contexto da aptidão física global e, Grupo de Pesquisa em Atividades Aquáticas, da Escola de
apesar de aparentemente dizerem respeito à função muscular, Educação Física, da Universidade Federal do Rio Grande
tem um espectro bem mais amplo de influência [5]. do Sul. As voluntárias foram divididas em quatro grupos, a
Torna-se interessante, portanto, que os indivíduos de- saber: grupo experimental 1 (GE1) - 11 mulheres praticantes
senvolvam atividades que contribuam para a manutenção de treinamento específico de força em membros inferiores
dos níveis de força muscular nas diversas etapas da vida, com utilização do equipamento resistivo; grupo experi-
preferencialmente em ambiente que proporcione segurança mental 2 (GE2) - 6 mulheres praticantes de treinamento
e eficiência. Os exercícios realizados na água constituem uma específico de força em membros inferiores sem utilização
alternativa, visto que devido às propriedades físicas da água do equipamento resistivo; grupo experimental 3 (GE3) - 6
apresentam características como a redução do impacto - que mulheres praticantes de treinamento específico de força em
proporciona menor sobrecarga articular, e o efeito relaxante membros superiores com utilização do equipamento resisti-
- que permite a movimentação do corpo com maior faci- vo; grupo experimental 4 (GE4) - 11 mulheres praticantes
lidade [8]. Embora a forma de treinamento de força mais de treinamento específico de força em membros superiores
preconizada na literatura seja através da “musculação [9,10]” sem utilização do equipamento resistivo. Antes da coleta
pode-se vislumbrar na hidroginástica uma boa opção para os de dados, todas as voluntárias assinaram um termo de con-
programas de treinamento de força. A hidroginástica pode ser sentimento, conforme resolução do Conselho Nacional de
conceituada como uma forma alternativa de condicionamento Saúde (196/96).
físico, constituída de exercícios aquáticos específicos, baseados
no aproveitamento da resistência da água como sobrecarga e Tratamentos experimentais
do empuxo como redutor do impacto [11]. Isto permite aos
indivíduos, principalmente durante a execução de exercícios O tratamento experimental 1 consistiu na prática de
em intensidades mais elevadas, a prática de uma atividade hidroginástica com ênfase no treinamento específico de
física regular com todos os seus benefícios. Neste sentido, força muscular, com utilização de equipamento resistivo

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34 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

em membros inferiores (GE1) ou em membros superiores - Movimento 3: flexão/extensão de cotovelos com ombros
(GE3). O tratamento experimental 2 consistiu na prática abduzidos a 90º (ênfase na força utilizada para flexão e
de hidroginástica com ênfase no treinamento específico de extensão).
força muscular, sem utilização de equipamento resistivo em
membros inferiores (GE2) ou em membros superiores (GE4). • Seqüência 2
Nenhuma outra atividade física que pudesse promover o - Movimento 1: adução/abdução de quadril na posição
aumento dos níveis de força foi praticada pelas integrantes sentada, com flexão de 90º de joelhos e quadril e membros
da amostra. O uso do equipamento resistivo (palmar de superiores apoiados (ênfase na força utilizada para adução
EVA Akuativo, da marca Aktiv) pelos grupos experimentais e abdução).
1 e 3 objetivou aumentar a resistência oferecida pela água, - Movimento 2: flexão/extensão unilateral do cotovelo com
de forma que a sobrecarga fosse suficiente para limitar o membro na posição anatômica (ênfase na força utilizada
número de repetições realizadas numa mesma velocidade. para flexão e extensão).
O treinamento foi realizado durante 11 semanas, com duas - Movimento 3: idem ao anterior, realizando o movimento
sessões semanais de 45 minutos. As 22 sessões de treinamen- com o outro membro superior.
to foram divididas em três fases:
Primeira fase (5 semanas/10 sessões) - realização de dois As sessões de hidroginástica constaram das seguintes
blocos de exercícios: o primeiro com 3 séries de 15 repetições etapas: aquecimento, parte principal e volta à calma.
de cada movimento da seqüência 1, composta por 2 exercícios No aquecimento foram realizados exercícios envolvendo
(3 movimentos, já que um dos exercícios foi realizado primei- mobilização articular, deslocamentos e alongamentos. Na
ro com um dos membros inferiores e após com o outro); o parte principal foram realizados treinamentos aeróbio e de
segundo com 3 séries de 15 repetições de cada movimento da força, conforme descrito a seguir: a) treinamento aeróbio:
seqüência 2, também composta por 2 exercícios (3 movimen- composto por trabalho de baixa intensidade, com duração
tos, já que um dos exercícios foi realizado primeiro com um aproximada de 20 minutos (12 minutos sem utilização
dos membros superiores e após com o outro). Os indivíduos prioritária dos músculos alvo; 8 minutos enfatizando a mo-
dispunham de 30 segundos para realizar as 15 repetições de vimentação, o aumento da temperatura e do fluxo sangüíneo
cada um dos 3 movimentos, realizados consecutivamente dos grupos musculares alvo); b) treinamento específico de
em ambas as seqüências. O intervalo entre as seqüências foi força: com duração aproximada de 15 minutos, foi com-
de 30 segundos, além de 1 minuto de repouso ativo entre posto por dois tipos de seqüências de movimentos básicos
os blocos. (seqüências 1 e 2) enfatizando os grupos musculares alvo.
Segunda fase (3 semanas/6 sessões): realização de dois A volta à calma foi composta por alongamentos e exercícios
blocos de exercícios: o primeiro com 4 séries de 12 repetições de relaxamento.
da cada movimento da seqüência 1 e o segundo com de 4 Para facilitar a compreensão e o controle da intensidade
séries de 12 repetições de cada movimento da seqüência 2. do treinamento específico de força, utilizou-se a Escala de
Os indivíduos dispunham de 25 segundos para a execução Sensação Subjetiva ao Esforço de Borg [14]. Foi solicitado aos
das 12 repetições de cada movimento, intervalos de 25 indivíduos que realizassem o treinamento numa intensidade
segundos entre as seqüências e 1 minuto de repouso ativo correspondente aos índices 15, 16, 17, 18 ou 19 da Escala de
entre os blocos. Borg, pois segundo Tiggemann [15], esta sensação de esforço
Terceira fase (3 semanas/6 sessões): realização de dois blo- percebido corresponde a uma intensidade de 90% da força
cos de exercícios: o primeiro com 5 séries de 10 repetições da máxima, durante o treinamento de força muscular.
cada movimento da seqüência 1 e o segundo com 5 séries de
10 repetições de cada movimento seqüência 2. Os indivíduos Avaliação da força máxima dinâmica
dispunham de 20 segundos para executar as 10 repetições de
cada movimento, intervalos de 20 segundos entre as seqüên- Para avaliar a força máxima dinâmica dos grupos mus-
cias e 1 minuto de repouso ativo entre os blocos. culares flexores/extensores de cotovelo e adutores de quadril,
Em todas as fases do treinamento os movimentos foram utilizou-se o teste de uma repetição máxima (1RM) baseado
realizados com máxima velocidade possível. As seqüências nos procedimentos descritos por Baechle e Groves [16].
de exercícios adotadas durante o treinamento são descritas Os equipamentos de musculação utilizados para os tes-
a seguir: tes de 1RM foram: roldana baixa com banco scott Taurus,
modelo Super Pulley, com resolução de 0,25 kg (flexão de
• Seqüência 1 cotovelo); roldana alta Taurus, modelo Super Pulley, com
- Movimento 1: adução/abdução unilateral do quadril na resolução de 0,25 kg (extensão de cotovelo); cadeira adutora
posição em pé (ênfase na força utilizada para a adução). INBAF, com resolução de 0,25 kg (adução de quadril). Foi
- Movimento 2: idem ao anterior, realizando o movimento utilizado um metrônomo para controlar o tempo de execução
com o outro membro inferior. de cada repetição do movimento nos testes de 1RM.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 35

Tratamento estatístico os grupos experimentais para todos os grupos musculares


avaliados.
Para verificar a normalidade e homogeneidade dos As médias, desvios padrão e coeficientes de variação da
dados, utilizaram-se os testes de Shapiro-Wilk e Levene, FMDpós dos adutores de quadril para o GE1 e o GE2, além
respectivamente. Para verificar as diferenças nos níveis dos resultados do teste t são apresentados na tabela IV. Os
iniciais de força nos diferentes grupos, aplicou-se o teste resultados médios, desvios padrão e coeficientes de variação
t simples. Por fim, para comparar valores de força intra e da FMDpós dos flexores e extensores de cotovelo para o GE3
intergrupos ao final do treinamento, utilizaram-se os testes e o GE4, além dos resultados do teste t são apresentados na
t pareado e simples, respectivamente. O nível de signifi- Tabela V. De acordo com os dados fornecidos pelas tabelas IV
cância adotado foi p ≤ 0,05. e V, no período pós-teste não houve diferença estatisticamente
significativa entre os grupos experimentais para os grupos
Resultados musculares avaliados.
Também foi comparada a força máxima dinâmica obtida
Com a finalidade de caracterizar a amostra, a Tabela I nos períodos pré e pós-treinamento específico de força para
apresenta as médias e os desvios padrão das variáveis idade, cada grupo experimental separadamente. Para os dados
massa corporal, estatura e IMC dos grupos experimentais mensurados, todos os grupos apresentaram diferenças es-
1/4 e 2/3. A mesma tabela também apresenta os resultados tatisticamente significativas quando foram comparados os
do teste t, indicando não haver diferenças significativas entre resultados do pré-teste com os resultados do pós-teste, através
os grupos para as variáveis citadas. do teste t.
Em relação à força máxima dinâmica (FMD), a normali- A diferença entre a FMDpré e FMDpós foi estatisticamen-
dade dos dados foi confirmada por meio do teste de Shapiro- te significativa tanto para GE1 como para GE2, em relação
Wilk, excetuando-se os valores obtidos para a musculatura aos adutores de quadril, havendo um aumento significativo
flexora de cotovelos no pré-teste para os grupos 2/3, que da força muscular em ambos os grupos experimentais (Tabela
mesmo assim ficaram muito próximos da distribuição normal. VI). A diferença entre a FMDpré e FMDpós também foi
A homogeneidade das variâncias para a mesma variável foi estatisticamente significativa em relação aos flexores e exten-
confirmada através do teste de Levene. Os resultados do pré- sores de cotovelo, tanto para GE3 como para GE4, havendo
teste são apresentados nas Tabelas II e III, demonstrando não um aumento significativo da força muscular em ambos os
haver diferença estatisticamente significativa na FMD entre grupos experimentais (Tabela VII).

Tabela I - Médias e desvios padrão das variáveis idade, massa corporal, estatura e IMC dos grupos experimentais e resultados do teste t no
período pré-treinamento.
Grupo GE1 / GE4 (n = 11) GE2 / GE3 (n = 6) Teste t
Variável Média Desvio padrão Média Desvio padrão T Sig.
Idade (anos) 57,90 ± 6,93 52,33 ± 8,40 1,387 0,199
Massa corporal (kg) 71,24 ± 15,34 59,71 ± 12,97 1,639 0,127
Estatura (m) 1,58 ± 0,72 1,57 ± 0,60 0,231 0,822
IMC (kg/m2) 28,39 ± 5,12 24,20 ± 4,62 1,718 0,113
(p ≤ 0,05)

Tabela II - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultado do teste t da FMDpré de adutores de quadril, para o GE1 e o GE2.
GE1 (n = 11) GE2 (n =6) Teste t
Coeficiente de Coeficiente de
Média Desvio padrão Média Desvio Padrão Sig.
variação variação
FMDpré adutores de
23,31 ± 5,37 23,04% 22,95 ± 4,63 20,17% 0,888
quadril (kg)

Tabela III - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultados do teste t da FMDpré de flexores e extensores de cotovelo, para o GE3 e o GE4.
GE3 (n = 6) GE4 (n = 11) Teste t
Coeficiente de Coeficiente de
Média Desvio padrão Média Desvio Padrão Sig.
variação variação
FMDpré flexores de
9,08 ± 1,52 16,74% 9,70 ± 2,43 25,05% 0,529
cotovelo (kg)
FMDpré extensores de
14,29 ± 1,67 11,69% 15,09 ± 3,23 21,40% 0,513
cotovelo (kg)

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36 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Discussão Em relação aos estudos citados acima, dois pontos devem


ser ressaltados. O primeiro é a falta de um treinamento ade-
A literatura exibe poucos estudos a respeito de treinamento quado ao desenvolvimento da força muscular e o segundo é
de força aplicado em sessões de hidroginástica, apontando para a falta de especificidade existente entre o teste utilizado para
a lacuna de conhecimento existente em relação à possibilidade avaliar a força e os movimentos utilizados durante as sessões
de promover aumento nos níveis de força muscular dos pra- de exercícios aquáticos. No que diz respeito à especificidade,
ticantes desta modalidade de exercício aquático. considerando que movimentos diferentes exigem coordenação
Taunton et al. [17] aplicaram um programa geral de trei- intra e intermuscular diferentes, as variações no ângulo e na
namento durante 12 semanas, envolvendo 3 sessões semanais amplitude articular, bem como no tipo de ação muscular,
compostas por uma parte de treinamento aeróbio, uma parte influenciam os resultados da avaliação [6]. Dessa forma, os
de flexibilidade e uma parte de resistência muscular e força. A músculos e movimentos utilizados no teste de preensão manu-
força muscular, avaliada através de teste de preensão manual, al devem ser prioritariamente treinados durante as sessões de
não apresentou aumentos significativos com o treinamento. hidroginástica para que as diferenças na força desempenhada
A partir desses resultados, os autores concluíram que um sejam verificadas.
programa geral de treinamento realizado no meio aquático No estudo conduzido por Di Mais [19], embora tenha
não produz estímulo suficiente para causar aumento na força sido realizado treinamento específico de força muscular,
muscular. Em outro estudo realizado por Madureira e Lima não foi encontrado aumento significativo da força máxima
[18] os autores também relataram não haver aumento signifi- dinâmica após tal treinamento em aulas de hidroginástica.
cativo na força de preensão manual de indivíduos idosos após Contudo, pode-se apontar algumas limitações metodológicas
serem submetidos a sessões de hidroginástica sem treinamento em relação ao referido estudo, como o tamanho reduzido
específico de força durante 4 meses. da amostra e a periodização do treinamento. Além disso, o

Tabela IV - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultado do teste t da FMDpós de adutores de quadril, para o GE1 e o GE2.
GE1 (n = 11) GE2 (n =6) Teste t
Desvio pa- Coeficiente de Coeficiente de
Média Média Desvio Padrão Sig.
drão variação variação
FMDpós adutores de
25,81 ± 5,33 20,65% 25,79 ± 6,08 23,58% 0,993
quadril (kg)

Tabela V - Médias, desvios padrão, coeficientes de variação e resultados do teste t da FMDpós de flexores e extensores de cotovelo, para o GE3
e o GE4.
GE3 (n = 6) GE4 (n = 11) Teste t
Desvio pa- Coeficiente de Coeficiente de
Média Média Desvio Padrão Sig.
drão variação variação
FMDpós flexores de
10,37 ± 2,28 21,99% 10,88 ± 3,05 28,03% 0,702
cotovelo (kg)
FMDpós extensores de
17,25 ± 2,51 14,55% 19,43 ± 3,21 16,52% 0,146
cotovelo (kg)

Tabela VI - Médias da FMDpré e da FMDpós de adutores de quadril, diferença absoluta (Δ) e percentual (Δ %) entre FMDpré e FMDpós
e valores do teste t para a FMD, para o GE1 e o GE2.
GE1 GE2
FMDpré (kg) FMDpós (kg) ∆ (kg) ∆ % Teste t FMDpré (kg) FMDpós (kg) ∆ (kg) ∆% Teste t (sig)
Adutores de
23,31 ±5,37 25,81 ±5,33 2,5 10,73 0,001 22,95 ±4,63 25,79 ±6,08 2,84 12,37 0,011
quadril

Tabela VII - Médias da FMDpré e da FMDpós de flexores e extensores de cotovelo, diferença absoluta (Δ) e percentual (Δ %) entre FMDpré
e FMDpós e valores do teste t para a FMD, para o GE3 e o GE4.
GE3 GE4
FMDpré (kg) FMDpós (kg) ∆ (kg) ∆ (%) Teste t FMDpré (kg) FMDpós (kg) ∆ (kg) ∆ (%) Teste t
Flexores de
9,08 ± 1,52 10,37 ± 2,28 1,29 14,21 0,021 9,70 ± 2,43 10,88 ± 3,05 1,18 12,16 0,010
cotovelo
Extensores de
14,29 ± 1,67 17,25 ± 2,51 2,96 20,71 0,022 15,09 ± 3,23 19,43 ± 3,21 4,34 28,76 0,000
cotovelo

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 37

tipo de equipamento pode ter causado redução acentuada na terem aumentado significativamente os níveis de força. Como
velocidade de execução do movimento, aspecto fundamental o aumento da força foi significativo para ambos os grupos,
para que ocorra a sobrecarga apropriada ao treinamento de acredita-se que o diferencial que levou a este aumento tenha
força na água. sido realmente o tipo de treinamento utilizado, e não a uti-
Dados contrários aos apresentados acima foram consta- lização do equipamento resistivo. Logo, não se pode afirmar
tados por Müller et al. [12]. Esses autores constataram que que o equipamento resistivo foi o principal responsável pelo
idosas praticantes de hidroginástica tendem a demonstrar aumento da intensidade da atividade na água, já que os níveis
maiores valores de força máxima dinâmica desenvolvida de força aumentaram para ambos os grupos de forma signifi-
pela musculatura flexora horizontal de ombros do que idosas cativa, independentemente da utilização do equipamento.
praticantes de caminhada ou ginástica. Neste sentido, outro Uma possibilidade a se considerar é de que a intensidade
estudo de Muller [13] comparou os valores da força máxima tenha sido aumentada de forma mais acentuada pelo au-
dinâmica dos flexores horizontais do ombro para diferentes mento da velocidade de execução dos movimentos, quando
grupos, nos períodos pré e pós-treinamento de força na hi- comparado com o aumento da área de superfície oferecida
droginástica, relatando incrementos na força. Um grupo foi pelo equipamento. Sendo assim, a realização dos movimentos
composto por idosas participantes de programas tradicionais com grande velocidade seria o fator responsável primário pelo
de hidroginástica e o outro foi composto por idosas pratican- aumento dos níveis de força. Contudo, não se pode garantir
tes de hidroginástica com treinamento específico de força. que esse tenha sido o fator preponderante no aumento mais
Quando comparados os valores da FMDpré com os valores expressivo encontrado nos grupos que não utilizaram equi-
da FMDpós do grupo praticante de hidroginástica tradicio- pamento.
nal, os resultados obtidos demonstraram não haver diferença
estatisticamente significativa. No entanto, para o grupo que Conclusão
praticou hidroginástica com treinamento específico de força,
os dados obtidos demonstraram uma diferença estatisticamen- Os resultados deste estudo demonstraram que mulheres
te significativa entre a FMDpré e a FMDpós, com aumento adultas aumentaram significativamente a força máxima dinâ-
médio de 10,89% ou 1,800 kg no teste de 1RM. mica de flexores de cotovelo, extensores de cotovelo e adutores
Comparando com os aumentos absolutos e percentuais de quadril, depois de submetidas a um treinamento específico
obtidos no presente estudo para os grupos musculares adutores de força muscular em sessões de hidroginástica.
de quadril e flexores de cotovelo, os resultados apresentados Embora somente um pequeno grupo de pesquisadores
pelo estudo de Muller [13] podem ser considerados relati- considere a prática de hidroginástica uma atividade apropriada
vamente semelhantes. Os incrementos na força encontrados para promover incrementos na força muscular, através do
por Muller [13] podem ter sido discretamente inferiores de- presente estudo pode-se concluir que a hidroginástica, com
vido à faixa etária da amostra, que abrangeu exclusivamente ênfase no treinamento de força, é eficiente para alcançar tal
indivíduos idosos. objetivo. Isto se deve ao treinamento adequado, ou seja, a
No presente estudo, os dados obtidos para todos os grupos aplicação dos princípios do treinamento de força e a utiliza-
que realizaram treinamento específico de força, independen- ção da resistência da água como sobrecarga. Nesse sentido,
temente da utilização do equipamento resistivo, indicaram exercícios com alta velocidade de execução, compreendendo
aumentos significativos para todos os grupos musculares de 10 a 15 repetições, podem constituir um recurso válido
testados. Em relação aos grupos experimentais 1 e 2, é pos- para desenvolver a força muscular.
sível perceber que o grupo que não utilizou equipamento Devido à importância da força muscular na promoção da
resistivo na realização do treinamento de força em membros saúde, independentemente do sexo ou faixa etária, os progra-
inferiores (GE2) aumentou mais os níveis de força do que o mas de treinamento compostos por sessões de hidroginástica
grupo que utilizou o equipamento (GE1), apesar de ambos os deveriam incluir uma parte específica para o aprimoramento
grupos terem aumentado significativamente os níveis de força. desta qualidade física. Por extensão, a hidroginástica deveria
Uma explicação para o menor aumento da força no grupo ser considerada como um meio efetivo para desenvolver a
que utilizou equipamento pode ser o fato de que o aumento força muscular e não somente para desenvolver aptidão car-
da resistência ao movimento provocado pelo equipamento, diorrespiratória e aumentar o gasto calórico, como geralmente
ao reduzir a velocidade de execução do exercício, diminui a é preconizado.
sobrecarga muscular gerada e torna o estímulo menos apro-
priado ao desenvolvimento da força. Referências
Em relação aos grupos experimentais 3 e 4, também
pode-se perceber que o grupo que não utilizou equipamento 1. American College of Sports Medicine. The recommended
resistivo em membros superiores (GE4) aumentou mais os quantity and quality of exercise for developing and maintaining
níveis de força para os extensores de cotovelo do que o grupo cardiorespiratory and muscular fitness, and flexibility in healthy
que utilizou o equipamento (GE3), apesar de ambos os grupos adults. Med Sci Sports Exerc 1998;6:975-91.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 39

Artigo original

Avaliação da flexibilidade em mulheres submetidas


a exercícios de alongamento em grupo
Evaluation of the flexibility in women submitted
to stretching exercises in group

Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea*, Thais Renata Conejo**, Silvia Maria de Mendonça**, Renata Munari**,
Maria Cristina Strabelli Titto**

*Professora e pesquisadora do curso de Fisioterapia da UNICASTELO, Campus VIII, Descalvado SP, **Fisioterapeutas graduados
pela UNICASTELO, Campus VIII, Descalvado SP

Projeto de Pesquisa desenvolvido pelo Departamento de Fisioterapia, com financiamento da UNICASTELO.

Resumo Abstract
Este trabalho teve por objetivos avaliar a flexibilidade antes e The aim of this work was to evaluate the flexibility before and
após a aplicação de sessões de alongamento em grupo. O grupo de after stretching group sessions in women. The stretching group was
alongamento era composto por 7 mulheres. As sessões de alonga- delineated by 7 womens. The stretching sessions were carried out
mento foram realizadas duas vezes por semana, com duração de 50 twice weekly, with duration 50 minutes. The flexibility was evalua-
minutos. A aplicação dos alongamentos foi para todos os segmentos ted by lineal approach (wells’ chair). It was carried out 3 measures:
corporais. A flexibilidade foi avaliada através do teste de sentar e before of the beginning the stretching program (1st evaluation),
alcançar (Banco de Wells). Foram realizadas 3 medidas: antes do after 10 (2nd evaluation) and 20 (3rd evaluation) sessions. The results
início do programa de alongamento (1ª avaliação), após 10 (2ª were analyzed by test T of Student. Seven women were evaluated
avaliação) e 20 (3ª avaliação) sessões. Os resultados foram analisados and just 3 of them had significant difference from the 1st for the 3rd
através de test T de Student. Os resultados mostraram diferença evaluations. In the other 4 women evatuated, there were a flexibility
significante em apenas 3 sujeitos da 1ª para a 3ª avaliação. Nas increase of 5,35% when compared the 1st and 3rd evaluations. Al-
outras 4 mulheres avaliadas, houve um aumento médio de 5,35% thoug the results found be not significant statistically, the stretching
de flexibilidade quando comparadas a 1ª e a 3ª avaliações. Embora in group was efficient in increase the flexibility.
os resultados encontrados não sejam estatisticamente significantes, Key-words: stretching, flexibility, Wells’ Chair, work in group.
o alongamento em grupo foi eficaz em aumentar o percentual de
flexibilidade dos indivíduos.
Palavras-chave: alongamento, flexibilidade, Banco de Wells,
trabalho em grupo.

Recebido 15 de agosto de 2005; aceito em 20 de outubro de 2005.


Endereço de correspondência: Daniela Cristina Bianchini Nogueira Moreno Perea, Departamento de Fisioterapia da Universidade
Camilo Castelo Branco, Campus VIII, Avenida Hilário da Silva Pastos, 950, Parque Universitário, 13690-970 Descalvado SP, Tel: 19-
35831002, E-mail: daniperea@ig.com.br.

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40 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Introdução atividades diárias e esportivas, este trabalho teve por objetivos


avaliar a flexibilidade antes e após a aplicação de sessões de
A flexibilidade é um dos componentes da aptidão física, alongamento em grupo.
podendo ser definida como a amplitude máxima fisiológica
passiva de um dado movimento articular [1]. Embora um Materiais e método
certo nível de flexibilidade pareça ser relevante para a saúde,
desconhecem-se quais são os níveis ótimos para um dado Foram utilizadas sete voluntárias do sexo feminino, inscri-
indivíduo [2]. tas no PSF (Programa de Saúde da Família) do bairro Morada
Tem sido identificada uma associação positiva entre do Sol na cidade de Descalvado/SP como sujeitos da pesquisa.
ganhos de flexibilidade e melhoria da qualidade de vida, Os indivíduos assinaram o termo de consentimento livre e
relacionadas à saúde [3]. Atualmente, a flexibilidade, uma esclarecido. Foram excluídos os indivíduos que apresentaram
variável cineantropométrica, é um componente da saúde quadro álgico que impossibilitava a execução do protocolo
relativo à forma física, e é altamente treinável. Por exemplo, de exercícios.
para manter uma postura adequada é necessário um mínimo
de flexibilidade, que tem sido uma das qualidades físicas Procedimento
avaliadas [4].
A flexibilidade é conceituada como a extensibilidade dos Antes de iniciar as atividades em grupo, cada indivíduo
tecidos periarticulares para permitir movimento normal ou passou por uma avaliação de flexibilidade (1ª avaliação). Após
fisiológico de uma articulação ou membro [2]. Pode ser enten- 10 (2ª avaliação) e 20 (3ª avaliação) sessões de alongamento
dida também como a habilidade para mover uma articulação foram feitas novas avaliações da flexibilidade. Como método
ou articulações através de uma amplitude de movimento livre de avaliação da flexibilidade foi utilizado o teste de sentar e
de dor e sem restrições. Além disso, é considerada como um alcançar, proposto originalmente por Wells & Dillon (1952),
dos componentes da aptidão física, podendo ser definida apud Araújo [1], classificado como um método linear. Os
como a amplitude máxima fisiológica passiva de um dado materiais utilizados foram o banco de Wells e a fita métrica.
movimento articular [1,5]. Nesse método, o indivíduo é orientado a sentar com as pernas
Com relação à classificação dos tipos de flexibilidade, ela se completamente estendidas e os pés ligeiramente afastados e
divide em três. A flexibilidade estática refere-se à amplitude de completamente apoiados contra um anteparo de madeira de,
movimento em torno de uma articulação sem nenhuma ênfase aproximadamente, 25 cm de altura. Sobre o anteparo, em
na velocidade [2]. A flexibilidade balística está geralmente ângulo reto, coloca-se uma régua graduada em centímetros.
associada com o balançar, pular, ricochetear e movimentar-se Muito embora, não conste da descrição original do método,
ritmicamente. Outro termo um tanto relacionado ao último é optamos por manter os pés descalços, para melhor padroniza-
flexibilidade dinâmica. Esse termo refere-se à habilidade para ção. Pede-se então ao indivíduo, para realizar quatro tentativas
usar a amplitude de movimento articular na realização de uma de flexão do tronco, mantendo os joelhos, cotovelos e punhos
atividade física numa velocidade normal ou rápida [1,2]. em extensão. Na quarta tentativa, o indivíduo deverá manter
Foi apresentado um sistema de classificação dos testes por alguns instantes, a posição máxima alcançada com a ponta
de flexibilidade (testes de mobilidade articular estática), que dos seus quiridáctilos, para que possa ser feita a largura na
podem ser classificados em função das unidades de mensu- régua. Para tal, considera-se como zero o ponto de contato
ração dos resultados, em três categorias principais: lineares, dos pés com o anteparo, sendo então possível obter valores
angulares e adimensionais [3]. No presente trabalho, o negativos e positivos, quando, respectivamente, as pontas
método de avaliação utilizado foi o linear, caracterizado dos dedos não chegam a alcançar ou ultrapassam o anteparo
por utilizar a escala métrica para avaliar indiretamente a (Figura 1).
mobilidade articular, normalmente através de movimentos
compostos, isto é, de movimentos que envolvem mais de Figura 1 - Teste do Banco de Wells.
uma articulação.
O alongamento é uma das técnicas mais utilizadas para se
obter um aumento da amplitude de movimento (ADM) por
meio do aumento da flexibilidade muscular. Também atua
na diminuição do tônus, encurtamento e espasmo muscular,
além de ser utilizado para preparar a musculatura antes dos
exercícios físicos, evitando assim, lesões musculares [6].
Considerando a flexibilidade como um fator importante
para o aumento da qualidade de vida e a quantidade dos mo-
vimentos, diminuição do risco de lesões, melhora da postura
corporal e o favorecimento de uma maior mobilidade nas

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 41

As sessões de alongamento em grupo foram realizadas duas série [10]. O programa de alongamento utilizado neste traba-
vezes por semana, com duração de cinqüenta minutos cada lho teve duração de 10 semanas, ou seja, houve um período
uma e a aplicação dos alongamentos estáticos foi para todos de treinamento relativamente longo. Desta forma, é possível
os segmentos corporais; iniciando-se pela cabeça, membros que o aumento percentual da flexibilidade seja explicado pelo
superiores, tronco e membros inferiores [7]. Cada exercício acréscimo do número de sarcômeros em série.
de alongamento era mantido por 60 segundos. Alguns autores afirmam que os ganhos obtidos com alon-
A cada avaliação, os indivíduos realizavam 3 tentativas, gamentos de curta duração são transitórios e atribuídos a uma
de onde foi retirado uma média. Os resultados obtidos da folga temporária entre as actinas e miosinas nos sarcômeros.
1ª, 2ª e 3ª avaliações foram analisados estaticamente por test Já os alongamentos de 20 segundos ou mais trariam ganhos
T (Student). mais duradouros [5]. Segundo Bandy et al. [11], a duração
do alongamento estático estabelecida entre 30 e 60 segun-
Resultados dos é eficiente em aumentar a flexibilidade. No programa
de alongamento utilizado neste trabalho, cada exercício de
Os resultados encontrados estão expostos na Tabela I: alongamento era sustentado por 60 segundos. Desta forma, o
tempo utilizado foi eficaz para alcançar o objetivo proposto,
Tabela I - Resultados do teste do Banco de Wells na 1ª, 2ª e 3ª ou seja, ganho de flexibilidade.
avaliações. Funções músculo-esqueléticas debilitadas, especial-
Indivíduos 1ª avaliação 2ª avaliação 3ª avaliação mente fraqueza, inflexibilidade e dor, podem causar inca-
1 14,6 16,6 16,3 pacidade progressiva, provocando limitação na mobilidade
2 15,3 16,6 16,8 e conseqüente diminuição na qualidade de vida [4]. Neste
3 1,8 10,0* 9,3* trabalho, a qualidade de vida esteve intimamente relacionada
4 20,6 19,3 19,0 com os ganhos de flexibilidade, pois as integrantes do grupo
5 6,3 13,0* 16,0* relataram que com as sessões de alongamento houve um
6 13,6 15,0 13,0 aumento do bem estar físico e uma maior motivação para
7 7,6 13,3* 16,6*# execução das tarefas diárias (todas as componentes do grupo
Média 11,4±6,4 14,8±3,0 15,3±3,2 eram do lar). Todas relataram que suas atividades diárias se
* - Diferença significante em relação à 1ª avaliação. tornaram mais prazerosas e menos cansativas (dados não
# - Diferença significante em relação à 2ª avaliação. demonstrados neste trabalho).
Levando em conta que o homem contemporâneo utiliza-se
Somente os indivíduos 3, 5 e 7 apresentaram diferenças cada vez menos de suas potencialidades corporais e de que o
estatísticas entre a 1ª e 3ª avaliações quando analisados indivi- baixo nível de atividade física é fator decisivo no desenvolvi-
dualmente. A média do grupo também não foi estatisticamen- mento de doenças degenerativas, existe a necessidade de se
te significante, porém houve um aumento da flexibilidade em promover mudanças no seu estilo de vida, levando-o a incor-
29,8% quando comparadas a 1ª e 2ª avaliações, 34,2% entre porar a prática de atividades físicas ao seu cotidiano, mesmo
a 1ª e 3ª avaliações e 3,3% entre a 2ª e 3ª avaliações. porque a atividade física é um fator preponderante para a ma-
nutenção do tônus muscular e, dessa forma, da manutenção
Discussão de uma boa postura e uma boa flexibilidade [1]. Sendo assim,
a formação de grupos de tratamento deve ser incentivada por
O alongamento estático é um dos mais eficazes, além de profissionais da saúde, assim como a prescrição dos exercícios
constar na literatura como o mais seguro [2]. Caromano & de flexibilidade, necessários para aquisição de hábitos de uma
Kerbany encontraram diferenças significantes de aumento da boa postura e melhora da consciência corporal.
flexibilidade em um programa individual de treinamento físi-
co para quatro idosos [8]. No presente trabalho, os resultados Conclusão
demonstraram um aumento da flexibilidade com a utilização
do alongamento estático. Embora tenha existido um aumento Embora os resultados encontrados não tenham sido esta-
percentual da flexibilidade, não houve diferença estatística tisticamente significantes em todos os indivíduos estudados,
significante entre as médias do grupo. Acreditamos que este o programa de alongamento estático desenvolvido em grupo
resultado se deve ao fato de que o alongamento tenha sido foi eficaz em aumentar o percentual de flexibilidade das
em grupo e não de forma individual. mulheres em questão.
O treino de flexibilidade tem como efeito imediato
aumento na amplitude de movimento pelo decréscimo na Referências
viscoelasticidade muscular [9]. Porém, após um período
de treinamento, o aumento na amplitude de movimento e, 1. Araújo CGS. Flexiteste - uma nova versão dos mapas de avalia-
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Estático após diatermia de ondas curtas versus Alongamento frequency of static stretching on flexibility of the hamstring
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 43

Revisão

Questionário de Prontidão para


Atividade Física (PAR-Q)
Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q)

Leonardo Gomes de Oliveira Luz*, Paulo de Tarso Veras Farinatti**

*Laboratório de Atividades Físicas e Promoção da Saúde (LABSAU) – Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Escola de Educação Física do Centro Universitário da Cidade (UniverCidade), Programa de
Pós-graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho,** Laboratório Atividades Físicas e Promoção da Saúde (LABSAU)
– Instituto de Educação Física e Desportos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

Resumo Abstract
A avaliação do estado de prontidão para realizar exercícios físicos The physical activity readiness assessment is an important step
é um passo importante para a sua prescrição. Na impossibilidade before the exercise prescription. The use of fast screenings, as the
de realizar avaliações clínicas, a utilização de screenings rápidos Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q), can be an
pode ser alternativa para a detecção daqueles que necessitam de alternative for this assessment, especially when it is not possible to
maior atenção antes de se submeterem a um programa regular ou carry out clinical examinations. However, its accuracy was not well
a um aumento da intensidade de trabalho. Para os devidos fins, o established in elderly with different educational status. This study
Physical Activity Readiness Questionnaire (PAR-Q) é comumente aimed to search the available scientific data regarding PAR-Q, mainly
indicado pela literatura. A presente revisão da literatura teve como related to its application in older adults. The literature review showed
objetivo identificar o estado da produção científica existente a that the questionnaire’s accuracy - sensitivity (SE), specificity (SP)
respeito do PAR-Q, principalmente no que diz respeito à sua apli- - has not been enough tested. Since its development in the 70’s,
cação em populações com idade avançada. O estudo evidenciou few studies had aimed to identify the applicability of the PAR-Q
uma fragilidade do instrumento quanto à sua acurácia, devido à in different samples and its SE and SP.
falta de estudos que tenham verificado sua sensibilidade (SE) e Key-words: questionnaire, screening, exercise.
especificidade (ES). Desde o seu desenvolvimento na década de 70,
poucos estudos objetivaram identificar a aplicabilidade do PAR-Q.
Os poucos trabalhos encontrados, que procuraram avaliar tais vari-
áveis, obtiveram resultados de SE e de ES influenciados pela forma
como compreendiam e calcularam seus valores. No caso das pessoas
idosas, as informações disponíveis sobre a acurácia do instrumento
são, francamente, insuficientes.
Palavras-chaves: questionário, screening e exercício físico.

Recebido 12 de abril de 2005; aceito 25 de julho de 2005.


Endereço para correspondência: Leonardo Gomes de Oliveira Luz, Rua Padre Ildefonso Penalba 45/306, Méier, 20775-020, Rio de
Janeiro RJ, E-mail: ltluz@ig.com.br

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44 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Introdução Desenvolvimento e características do PAR-Q


É bem aceita a importância da prática de exercícios físicos O PAR-Q foi desenvolvido na década de 1970 como
regulares para a saúde da população em geral. Porém, ingressar um método econômico de identificar pessoas para quem um
em programas de atividades físicas sem uma avaliação pré- aumento da atividade física poderia ser contra-indicado [10].
via é uma conduta que pode trazer riscos ao praticante. De Na verdade, o PAR-Q é uma versão mais breve do screening
acordo com o American College of Sports Medicine (ACSM) utilizado na bateria de avaliação e prescrição de exercícios
[1], previamente ao início de um programa de exercícios do Canadian Home Fitness. Originalmente, tratava-se de um
físicos, recomenda-se a realização de um exame médico, questionário composto por 19 itens, elaborado pelo Ministé-
principalmente na presença de doenças (cardíaca, pulmonar rio da Saúde da província canadense de British Columbia, que
ou metabólica), quando a intensidade do exercício for maior logo assumiu um formato mais simplificado após comparação
que 60% da capacidade aeróbia máxima e em casos da exis- de suas respostas com um exame médico, que era composto
tência de dois ou mais fatores de risco para acometimentos por mensuração da pressão arterial em repouso, eletrocar-
cardiovasculares ou metabólicos (Quadro 1). Nos casos em diograma de repouso e em esforço físico [10]. Nesse novo
que o esforço não for maior que 60% da capacidade aeróbia formato, o questionário passou a englobar as sete perguntas
máxima, se o praticante não possui nenhum sintoma de do- consideradas mais efetivas na detecção de contra-indicações
ença e também não tem mais do que um fator de risco para médicas ao exercício físico. A partir daí, o PAR-Q foi endos-
doença coronariana, o exame médico pré-exercício poderia sado pelo Fitness Canada e usado em conjunto com o Cana-
ser dispensado. dian Home Fitness Test e o Canadian Standard Test of Fitness.
Sua utilização não se limitou apenas ao Canadá, passando a
Quadro 1 - Indicações do ACSM (2000) para exame médico ser adotado em vários países, incluindo os Estados Unidos,
pré-exercício. como um screening pré-exercício usado não somente como
Variável Indicação para exame médico um teste preliminar para a prática de exercícios, mas também
Existência de Sim, se cardíaca, pulmonar ou metabó- como forma de identificar riscos para ingressar em programas
doença lica. individuais e coletivos de atividades físicas [11].
Sintomas ou sinais Sim, se cardíaca, pulmonar ou sugerindo Cardinal e colaboradores [12] mencionavam que, desde sua
doença metabólica. introdução até aquele momento, o PAR-Q havia sido ministrado
Fator de risco para Sim, se dois ou mais fatores. a mais de um milhão de pessoas, que não apresentaram nenhuma
doença cardíaca complicação cardiovascular com a prática de atividades físicas.
Exercício intenso Sim, se homens > 40 anos ou mulheres Por este motivo, desde 1991, o ACSM [13] recomenda o PAR-Q
> 50 anos. como uma avaliação prévia segura para adultos (homens < 40
e mulheres < 50 anos) que desejariam começar um programa
Nestes casos, a utilização de screenings com base em de exercícios físicos de intensidade baixa a moderada. A versão
questionários pode ser uma ferramenta útil. Um dos testes original do PAR-Q é apresentada no Quadro 2.
mais recomendados para isso é o Physical Activity Readiness
Questionnaire (PAR-Q) e sua versão revisada (rPAR-Q) [2- Quadro 2- Questões usadas no PAR-Q original.
4]. Mas, em que pesem essas indicações favoráveis, algumas 1. O seu médico já lhe disse alguma vez que você apresenta
lacunas persistem no que toca ao potencial de aplicação um problema cardíaco? ( ) Sim ( ) Não
do PAR-Q e do rPAR-Q. Estudos de validação são ainda 2. Você apresenta dores no peito com freqüência?
mais raros, principalmente em populações de características ( ) Sim ( ) Não
diferentes daquelas dos países nos quais o questionário foi 3. Você apresenta episódios freqüentes de tonteira ou sensa-
proposto, como as nações em desenvolvimento. No Brasil, ção de desmaio? ( ) Sim ( ) Não
por exemplo, os poucos estudos existentes apresentam-se na 4. Seu médico alguma vez já lhe disse que sua pressão san-
forma de comunicações livres em congressos [5-9]. guínea era muito alta? ( ) Sim ( ) Não
Desse modo, pode-se dizer que ainda há razoável espaço 5. Seu médico alguma vez já lhe disse que você apresenta
para investimento em pesquisas que levantem a adequação da um problema ósseo ou articular, como uma artrite, que tenha
aplicação do PAR-Q, bem como de sua versão revisada, em sido agravado pela prática de exercícios, ou que possa ser
situações específicas. Esta é a preocupação da presente revisão por eles agravado? ( ) Sim ( ) Não
da literatura. O objetivo a que se propôs o texto foi descrever 6. Existe alguma boa razão física, não mencionada aqui,
com detalhes o processo de desenvolvimento do questionário, para que você não siga um programa de atividade física, se
a forma de aplicá-lo e as possibilidades de interpretação de suas desejar fazê-lo? ( )Sim ( ) Não
informações, assim como discutir as evidências disponíveis 7. Você tem mais de 65 anos e não está acostumado a se
sobre sua validade e limitações de sua utilização. exercitar vigorosamente? ( ) Sim ( ) Não

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 45

Para autores como Pollock e Wilmore [4] ou agências Os estudos nacionais envolvendo a identificação da SE
como a Canadian Society for Exercise Physiology [14], o e ES do PAR-Q em suas diferentes versões adotaram outras
PAR-Q foi elaborado a fim de oferecer uma alternativa para definições para estes conceitos [5-9]. Nestas pesquisas, a SE foi
o indivíduo ajudar-se no processo de avaliação pré-exercício. encarada como o índice de concordância entre os resultados
Assim, as perguntas do questionário devem ser respondidas do teste clínico e do questionário, envolvendo tanto os ques-
pelo próprio sujeito. O indivíduo deve ler as questões com tionários positivos quanto os questionários negativos. Na ver-
atenção e marcar SIM ou NÃO nos parênteses correspon- dade, a SE era obtida dividindo-se o número de questionários
dentes às respostas [14]. No caso de SIM a uma ou mais verdadeiros pelo número total de questionários. Por exemplo,
perguntas, o questionário é considerado positivo e aconselha- uma SE de 90% significa que 90 em cada 100 questionários
se que o avaliado procure um médico antes de intensificar tiveram o resultado similar ao do exame clínico. Para o cálculo
suas atividades físicas e/ou de ingressar em um programa de da ES foram delineados três parâmetros, estipulados em fun-
condicionamento físico. No caso de as respostas serem todas ção das variáveis ‘diagnosticadas’ pelo questionário, aos quais
negativas, o questionário é classificado como negativo e o se convencionou chamar de: a) especificidade cardiovascular;
indivíduo pode acrescentar à sua vida uma atividade física b) especificidade ósteo-mio-articular; c) especificidade para
cuja intensidade não deveria ultrapassar 60% da capacidade outros problemas, na qual estavam inseridas particularidades
aeróbia máxima. não associadas aos itens anteriores. Quando houvesse uma
relação entre o motivo da exclusão do exame clínico e a res-
Acurácia do PAR-Q - sensibilidade e especifici- posta positiva do questionário, o questionário era considerado
dade específico (Quadro 3).

Quando as respostas do PAR-Q são comparadas com Quadro 3 - Especificidade das questões do PAR-Q por Farinatti,
o laudo de exames clínicos, está-se avaliando se o questio- Monteiro, 1996.
nário foi eficiente ou não. Quando há uma concordância O seu médico já lhe disse alguma Especificidade
entre os resultados do questionário e do exame médico, 1 vez que você apresenta um proble- cardiovascular
diz-se que o PAR-Q foi verdadeiro. Ao contrário, se não ma cardíaco?
houver tal relação, diz-se que o PAR-Q foi falso. O PAR-Q Você apresenta dores no peito com Especificidade
2
é composto por sete perguntas que seriam, em princípio, freqüência? cardiovascular
100% sensíveis e aproximadamente 80% específicas para Você apresenta episódios freqüentes Especificidade
detecção de contra-indicações médicas [12]. A sensibilidade 3 de tonteira ou sensação de des- cardiovascular
(SE) do teste pode ser entendida como o número de sujeitos maio?
para os quais o questionário revela-se verdadeiro-positivo Seu médico alguma vez já lhe disse Especificidade
(concordância de contra-indicação médica e do PAR-Q), 4 que sua pressão sanguínea era cardiovascular
dividido pelo número de sujeitos que mostraram uma ca- muito alta?
racterística adversa no teste clínico. Logo, a SE diz respeito Seu médico alguma vez já lhe disse
ao potencial do questionário em apontar, com pertinência, que você apresenta um problema
casos em que haveria contra-indicação real à prática de ósseo ou articular, como uma artrite, Especificidade os-
5
atividades físicas. Já a especificidade (ES) diz respeito ao que tenha sido agravado pela prá- teo-mio-articular
total de questionários verdadeiro-negativos, dividido pelo tica de exercícios, ou que possa ser
número de casos nos quais o exame clínico não encontrou por eles agravado?
nenhuma restrição para praticar atividade física. Em outras Existe alguma boa razão física, não Especificidade
palavras, a ES reflete a capacidade do instrumento em mencionada aqui, para que você para outros pro-
6
identificar corretamente os casos em que o questionário foi não siga um programa de atividade blemas
classificado como negativo. física, se desejar fazê-lo?
Shephard e colaboradores [15] estudaram a SE e a ES do Você tem mais de 65 anos e não Especificidade
PAR-Q em 1130 sujeitos, num estudo que primeiro avaliou 7 está acostumado a se exercitar para outros pro-
clinicamente a amostra e depois a submeteu ao questionário. vigorosamente? blemas
O teste clínico considerou oito sujeitos como inaptos à prá-
tica de exercícios. Após a realização do PAR-Q, constatou-se Farinatti e Monteiro [7] estudaram a SE e a ES do PAR-
que todos os indivíduos rejeitados pelo exame médico foram Q em oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB). Para tanto,
identificados pelo questionário, obtendo-se, neste caso, uma foram distribuídos 109 questionários para indivíduos do sexo
SE de 100%. No entanto, além dos sujeitos que tiveram o masculino, com média de idade de 33,8 anos, que realizavam
questionário verdadeiro-positivo, outros 209 tiveram o ques- cursos na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáu-
tionário classificado como falso-positivo, o que contribuiu tica. Posteriormente, os autores selecionaram 20 questionários
para diminuir a ES do PAR-Q. por randomização simples, sendo 10 positivos e 10 negativos.

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46 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Dos 20 questionários testados, apenas um não se mostrou Quadro 4 - Versão revisada do PAR-Q (rPAR-Q).
sensível, o mesmo ocorrendo para os parâmetros de ES. Em 1. Algum médico já disse que você possui algum pro-
outro estudo publicado por Monteiro e colaboradores [6], blema de coração e que só deveria realizar atividade
também conduzido com oficiais da FAB, após a comparação física supervisionada por profissionais de saúde?
das respostas dos questionários com os laudos dos exames 2. Você sente dores no peito quando pratica atividade
clínicos, a SE relatada foi de 83,3%. A ES também se mostrou física?
elevada, apresentando os seguintes valores: 83,3% (especifici-
3. No ultimo mês, você sentiu dores no peito quando
dade cardiovascular e especificidade para outros problemas)
praticava atividade física?
e 94,4% (especificidade osteo-mio-articular).
Posteriormente, Monteiro e colaboradores [5] realizaram 4. Você apresenta desequilíbrio devido à tontura e/ou
mais uma verificação da SE e da ES do PAR-Q com militares perda de consciência?
da FAB (37 ± 5 anos). Neste estudo, foram distribuídos 255 5. Você possui algum problema ósseo ou articular que
questionários e escolhidos de forma randômica 55 classifica- poderia ser piorado pela atividade física?
dos como negativos e 43 como positivos. Mais uma vez os 6. Você toma atualmente algum medicamento para
resultados foram satisfatórios, sendo 92,9% para SE e um pressão arterial e/ou problema de coração?
total de 89,8% para ES. 7. Sabe de alguma outra razão pela qual você não
Em suma, há evidências de que o PAR-Q se invista de deve realizar atividade física?
SE e ES. No entanto, percebe-se, igualmente, uma certa ca- (Shephard, et al., 1991)
rência de pesquisas que tivessem reproduzido tais indicações
em contextos populacionais diversificados, tanto nos países No ano seguinte, a versão revisada, assim como o paralelo
desenvolvidos, quanto naqueles em desenvolvimento. Isso com a versão original, foi publicada em artigo de Thomas et al.
seria importante, quando se sabe que as disparidades sócio- [17] para cruzamento dos dois formatos (Quadro 5). Naquele
econômicas e educacionais nas populações desses países são estudo, foram analisadas as respostas de 399 indivíduos, de
sensivelmente maiores do que o encontrado nos países desen- ambos os sexos, com uma média de idade de 33 ± 11 anos,
volvidos. Uma outra lacuna existente na literatura diz respeito aos questionários PAR-Q e rPAR-Q. A ordem de preenchi-
ao que se entende por SE e ES, tendo em vista as divergências mento dos questionários foi estabelecida de forma randômica.
ocorridas no cálculo destes índices quando se comparam os Primeiro, uma parte do grupo respondeu às perguntas do
estudos internacionais com os publicados no Brasil, que são PAR-Q e a outra do rPAR-Q. Depois, a ordem das respostas
extremamente raros. invertia-se. Os resultados mostraram que houve uma redução
significativa de 68 para 48 indivíduos excluídos entre PAR-Q
Desenvolvimento do rPAR-Q e rPAR-Q, respectivamente (p < 0,05).
Shephard et al. [15] identificaram que as maiores in-
Como visto, o PAR-Q vem sendo utilizado na avaliação cidências de respostas positivas, no questionário original,
prévia a programas de exercícios físicos, sem que eventos eram nas Questões 4 e 5. Ou seja, uma questão que diz
adversos significativos fossem constatados. No entanto, um respeito ao sistema cardiovascular (4) e uma relacionada ao
aspecto chamava a atenção: de forma geral, aproximadamente componente osteo-mio-articular (5). Já Thomas et al. [17],
20% dos indivíduos adultos pareciam responder positivamen- comparando ambas as versões do PAR-Q, relataram que o
te a uma ou mais questões do questionário, mesmo sem pos- maior erro relacionado às exclusões do instrumento original
suir nenhum comprometimento que os impedisse de começar estava associado à questão que remetia à pressão arterial. Em
a prática de exercícios físicos [15]. Ou seja, a versão original se tratando da população idosa, Shephard et al.[16] mencio-
do PAR-Q estava associada a uma freqüência importante de naram que os sujeitos que foram excluídos pelas questões 2,
resultados falso-positivos. 4 e 5 no questionário original e não o foram no instrumento
Esses resultados mostravam que o questionário positivo revisado, apresentavam faixa etária acima da média da amos-
estava excluindo desnecessariamente pessoas da prática de tra do estudo. Tal resultado confirmou a importância de
atividades físicas ou, quando menos, induzindo-as a um exame se reverem tais perguntas, ainda mais quando se tratava de
médico que poderia ser dispensado. Buscando o aperfeiçoa- indivíduos idosos.
mento do instrumento, Shephard et al. [16] realizaram uma Neste sentido, Cardinal et al. [12] também compararam
primeira revisão das questões do PAR-Q, elaborando-as de o número de exclusões resultantes do PAR-Q e do rPAR-Q.
maneira a elevar a ES do questionário, sem sacrifício de sua Porém, a amostra estudada foi de 193 idosos, com idades
boa SE (Quadro 4). Tentava-se, com isso, diminuir a quan- entre 60 a 69 anos (65 ± 3 anos), voluntários do Community
tidade de falso-positivos, principalmente pela flexibilização Nutrition Center. A ordem de resposta aos questionários
de alguns pontos, como o que dizia respeito à idade dos também foi estipulada de forma randômica, com metade da
respondentes na Questão 7. amostra respondendo a um dos questionários no primeiro dia
e ao outro no segundo, o mesmo acontecendo com a outra

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metade. Os autores identificaram uma redução significativa pode identificar, a partir de então, é uma busca na literatura
de exclusão (p < 0,05) quando comparados os resultados do para reduzir o contingente de questionários falso-positivos
PAR-Q e do rPAR-Q, respectivamente, de 146 para 128 casos [12,15,17]. Isso é ainda mais problemático quando se trata
(75,7% para 66,3%) e sugeriram que, embora haja resultados de grupos oriundos de países em desenvolvimento ou com
que indiquem uma diferença entre o número de questioná- características especiais, como é o caso das pessoas idosas. No
rios falso-positivos do PAR-Q e de sua versão revisada, mais caso particular do Brasil, além de serem poucos, os estudos
estudos seriam fundamentais para se ratificar esta tendência, disponíveis encontram-se principalmente sob a forma de
principalmente em se tratando do público idoso. resumos para congressos científicos. Além disso, SE e ES
são determinadas a partir de premissas diferentes daquelas
Quadro 5 - Paralelo da versão original com a revisada do PAR-Q. adotadas nos estudos publicados em outros países.
1. Algum médico já disse Deduz-se que a disponibilidade de estudos de validação
que você possui algum do questionário (PAR-Q ou rPAR-Q) em diferentes contextos
1. O seu médico já lhe disse
problema de coração e que populacionais é pequena, senão inexistente. Por outro lado,
alguma vez que você apresenta
só deveria realizar atividade sabe-se que vários fatores podem influenciar na precisão das
um problema cardíaco?
física supervisionada por respostas a instrumentos auto-referidos. Quando se trata de
profissionais de saúde? indivíduos com mais idade, essas limitações assumem propor-
2. Você sente dores no peito ções ainda maiores, em virtude de diversos aspectos, dentre
2. Você apresenta dores no pei-
quando pratica atividade os quais alguns podem ser destacados.
to com freqüência?
física? Em primeiro lugar, as condições educacionais e sócio-
3. Você apresenta episódios 4. Você apresenta desequi- econômicas têm sido apontadas como intervenientes nas
freqüentes de tonteira ou sensa- líbrio devido à tontura e/ou respostas, influenciando a qualidade da informação [18,19].
ção de desmaio? perda de consciência? Assim, os questionários deveriam ter seu nível de complexi-
6. Você toma atualmente dade adequado à população que se deseja observar. Indepen-
4. Seu médico alguma vez
algum medicamento para dentemente do nível de escolaridade ou poder aquisitivo, a
já lhe disse que sua pressão
pressão arterial e/ou proble- elaboração dos questionários deveria considerar diferenças
sanguínea era muito alta?
ma de coração? culturais importantes, ligadas ao fato que existe uma sub-
5. Seu médico alguma vez já cultura específica aos idosos, independentemente da região
lhe disse que você apresenta em que vivem.
5. Você possui algum
um problema ósseo ou articu- Outra variável que deveria ser levada em conta é a pos-
problema ósseo ou articular
lar, como uma artrite, que te- sibilidade de os idosos exibirem condições patológicas que
que poderia ser piorado
nha sido agravado pela prática dificultam a compreensão e resposta ao questionário, por
pela atividade física?
de exercícios, ou que possa ser exemplo, senilidade e deficiência visual. As entrevistas, portan-
por eles agravado? to, precisariam ser adaptadas, não necessariamente valendo-se
6. Existe alguma boa razão de questionários auto-referidos. Em muitos casos, além disso,
física, não mencionada aqui, 7. Sabe de alguma outra ra- deve-se notar que questionários auto-respondidos pelos idosos
para que você não siga um zão pela qual você não deve podem ter suas respostas influenciadas por terceiros, como
programa de atividade física, realizar atividade física? os membros da família [20]. Nenhum destes aspectos teve
se desejar fazê-lo? sua influência convenientemente apreciada em estudos de
7. Você tem mais de 65 anos validação do PAR-Q, em quaisquer de suas versões.
e não está acostumado a se Sem questão associada
exercitar vigorosamente? Conclusão
3. No ultimo mês, você sen-
Sem questão associada tiu dores no peito quando O PAR-Q e sua versão revisada são comumente indicados
praticava atividade física? como instrumentos para avaliar pessoas que ingressam em
(Thomas et. al., 1992) programas de exercícios físicos. Em que pesem essas indi-
cações, parece existir uma lacuna na literatura quanto à sua
Validade do instrumento acurácia, devido à falta de estudos que tenham verificado sua
SE e ES. Desde o seu desenvolvimento na década de 1970,
A quantidade de pesquisas envolvendo a verificação da até o presente momento, poucos estudos objetivaram identi-
aplicabilidade das versões do PAR-Q, traduzida pela deter- ficar a aplicabilidade do PAR-Q e do rPAR-Q para diferentes
minação da SE e ES, ainda é pequena, indicando um quadro tipos de população. Os poucos trabalhos encontrados, que
de inconsistência quanto à possibilidade de aplicação univer- procuraram avaliar tais variáveis, obtiveram resultados de
sal do instrumento. De fato, a SE e a ES do PAR-Q foram SE e de ES influenciados pela forma como compreendiam
medidas apenas no texto de Shephard et al.[15] e o que se e calcularam seus índices. No caso das pessoas idosas, as in-

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48 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

formações disponíveis sobre a validade do instrumento são, XX Simpósio Internacional de Ciências do Esporte “ Saúde,
francamente, insuficientes. Nutrição e Performance” 1996;03-06.
Torna-se evidente que o instrumento, apesar de ser fre- 8. Monteiro WD, Soter P, Martins R, Amorim PR, Fatinatti PTV.
qüentemente indicado como screening antes da participação Segundo estudo sobre a sensibilidade e especificidade do PAR-
Q na Força Aérea Brasileira. Anais do XVII Congresso Pan-
de atividades físicas moderadas, pode apresentar falhas que
americano de Medicina do Esporte e XIII Congresso Brasileiro
colocariam em risco seu uso com essa finalidade. Desse de Medicina do Esporte. Gramado, Rio Grande do Sul 1997;
modo, mais estudos que objetivem a verificação da SE e ES p.43.
do PAR-Q e do rPAR-Q deveriam ser realizados, envolvendo 9. Lazzoli JK, Castro CLB, Miranda RF, Stipp CA, Nunes JOM,
diferentes grupos populacionais e contextos sócio-econômi- Araújo CGS. Sensibilidade e especificidade do Par-Q na identi-
cos-culturais. O investimento em pesquisas nessa direção é ficação de indivíduos de maior risco cardiovascular ao exercício.
importante para que se obtenham resultados que permitam Arq Bras Cardiol 1993;61(Supl II):2-95.
pensar na universalização da recomendação do questionário 10. Chisholm DM, Collis ML, Kulak LL, Davenport W, Gruber
como parte da avaliação de indivíduos que desejam iniciar N. Physical activity readiness. Br Col Med J 1975;17:375-78.
11. Shephard RJ. PAR-Q, Canadian Home Fitness Test and scree-
um programa de exercícios físicos.
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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 49

Revisão

Hipertensão arterial: uma abordagem direcionada aos


efeitos do treinamento, mecanismos hipotensivos e
respostas a programas de exercícios
Arterial hypertension: effects of physical training, hypotensive
mechanisms and applicability of exercise programs

Kalline Russo*, Walace Monteiro**

*Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), **Laborató-
rio de Atividade Física e Promoção da Saúde - Universidade do Estado do Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Programa de Pós-gra-
duação em Ciências da Atividade Física - Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO)

Resumo Abstract
A Hipertensão Arterial (HA) é uma condição multifatorial, The arterial hypertension (HA) is a multifactorial condition
associada a uma pressão arterial (PA) maior ou igual a 140/90 associated with blood pressure (BP) equal or higher than 140/90
mmHg ou ao uso de medicamentos anti-hipertensivos. No Brasil, mmHg or with the anti-hypertensive drugs. Epidemiological data
estudos epidemiológicos estimam uma prevalência da HA em estimate that 40% of the Brazilian adult population are older than
torno de 40% da população adulta com mais de 40 anos. Uma das 40 yrs. One of the alternative interventions to prevent and treat
principais formas de prevenção e tratamento da HA consiste nas HA is the regular physical activity. Thus the purposes of the pres-
modificações do estilo de vida. Dentre as modificações, destaca-se ent paper are: a) to review the effects of physical training on the
a prática regular de atividade física. Desta forma, os objetivos do HA; b) to describe the main hypotensive mechanisms associated
presente artigo são: a) revisar os efeitos do treinamento físico na with the exercise; c) to present and discuss the different strategies
PA; b) apresentar os potenciais mecanismos hipotensivos como to prescribe physical activities for hypertensive subjects, especially
resposta ao exercício; c) apresentar e discutir as diferentes estratégias supervised and non-supervised programs. The first objective focuses
de atividades físicas envolvendo programas formais e não formais de the acute and chronic effects of different training programs (aerobic,
prescrição de exercício. O primeiro objetivo aborda os efeitos agudos strength and flexibility), as well the influence of the manipulation
e crônicos das diferentes formas de treinamento (aeróbio, de força of different prescription variables on BP responses. The second
e flexibilidade), assim como a influência das diferentes variáveis de purpose presents the neuro-humoral mechanisms that explain the
prescrição nas respostas da PA. O segundo objetivo apresenta os hypotension as consequence of regular exercise. The third purpose
principais mecanismos neuro-humorais e estruturais que tentam discusses the applicability, advantages and limitations of supervised
explicar a hipotensão como resposta à prática do exercício. Quanto and non-supervised exercise programs.
ao enfoque do terceiro objetivo, são discutidas a aplicabilidade, Key-words: hypertension, exercise, hypotension, cardiovascular
vantagens e desvantagens de programas formais e não-formais de physiology, physical activity.
prescrição de exercícios.
Palavras-chave: hipertensão, exercício, hipotensão, fisiologia
cardiovascular, atividade física.

Recebido 20 de outubro de 2005; aceito 25 de novembro de 2005.


Endereço para correspondência: Walace Monteiro, Laboratório de Atividade Física e Promoção da Saúde, Universidade do Estado do
Rio de Janeiro (LABSAU/UERJ), Rua São Francisco Xavier, 524, 8º andar, sala 8133, Bloco F. Maracanã, 20599-900 Rio de Janeiro RJ,
E-mail: wdm@uerj.br

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Introdução Exercício físico como estratégia de prevenção e


intervenção
A Hipertensão Arterial (HA) é uma condição multifato-
rial, associada a uma pressão arterial (PA) maior ou igual a Para facilitar o encadeamento de idéias, optamos por
140/90 mmHg ou ao uso de medicamentos anti-hipertensivos descrever esta sessão nos seguintes tópicos: exercício físico e
[1,2], apresentando dois estágios em virtude dos níveis de seus efeitos agudos e crônicos na PA e aspectos metodológicos
pressão sistólica e diastólica do indivíduo. Para adultos de da prescrição de exercício.
dezoito anos ou mais, que não estão tomando medicamentos
ou tenham doença aguda, esses estágios são caracterizados da Efeitos agudos e crônicos do exercício na PA
seguinte maneira: o estágio 1, (PA sistólica de 140 mmHg a
159 mmHg e PA diastólica de 90 mmHg a 99 mmHg) e o Como resposta aguda ao exercício aeróbio (EA), uma
estágio 2 (PA sistólica ≥ 160 mmHg e PA diastólica ≥ 100 hipotensão pós-exercício tem sido observada. Essa ocorre
mmhg3. Somado a isso, devido à incidência duas vezes maior em normotensos, hipertensos, adultos jovens e idosos, com
do risco de desenvolver HA em pessoas com PA sistólica de a maior redução nos indivíduos com HÁ [8]. Além disso,
120 mmHg a 139 mmHg e PA diastólica de 80 mmHg a estudos analisando os efeitos agudos do EA sobre a PA veri-
89 mmHg, uma nova categoria foi adotada para pacientes ficaram que as atividades dinâmicas reduzem a PA em pessoas
que apresentam esses valores de PA: a pré-hipertensão. Esta com hipertensão, por uma maior porção de horas durante o
categoria foi introduzida reconhecendo a relação entre a PA dia [10]. Quanto aos efeitos da duração do esforço na PA,
e o risco de doenças cardiovasculares, sinalizando ainda, a alguns estudos têm observado que a duração do exercício
necessidade de crescimento de educação para a saúde. determina a magnitude e a duração da hipotensão pós exer-
No Brasil, estudos epidemiológicos estimam prevalência cício [11]. Esta hipotensão tem reduzido, em média, a PAS
em torno de 40% da população adulta com mais de 40 anos. de 18 a 20 mmHg e a PAD de 7 a 9 mm Hg, em indivíduos
Mas como o diagnóstico clínico requer avaliações sucessivas com hipertensão. Nos normotensos, os efeitos reportados
em diferentes ocasiões, a prevalência estimada da HA pode variam de 8 a 10 mmHg e 3 a 5 mm Hg, nas PAS e PAD,
reduzir-se em 30% [4]. Além disso, a HA é um dos principais respectivamente, podendo persistir até 13 horas após a sessão
agravos à saúde no Brasil, pois eleva o custo médico-social, de treinamento [12].
principalmente pelas suas complicações, como as doenças cé- Em relação às respostas crônicas ao EA, foi destacado que
rebro-vascular, arterial coronariana e vascular de extremidades, sua prática regular pode reduzir a pressão sistólica/diastólica
além das insuficiências cardíaca e renal [5]. em 3/2 mmHg em adultos normotensos [13]. No que diz
Diante desse quadro, as estratégias de prevenção são di- respeito à redução da PA em hipertensos, essa redução pode
recionadas para prevenir o desenvolvimento da hipertensão, chegar a 6/7 mmHg, sendo a queda proporcional a PA inicial
ou a mudança de estágio da doença, como também o agrava- [14]. Como visto, os efeitos agudos na PA tendem a apresentar
mento das condições de saúde do paciente por complicações uma maior magnitude de redução, quando comparados aos
facilitadas pela pressão arterial elevada. Autores como Appel efeitos crônicos ao esforço.
et al. [6] e He, Whelton [7], destacam que as modificações Paffenberger et al. [15] reportaram que exercícios clas-
comportamentais reduzem a morbi-mortalidade e o ônus sificados como vigorosos, independentemente do tipo,
causado pela HA e doenças a ela relacionadas, pois, incidem continuado por anos após a faculdade, protege contra futura
na redução de outros fatores de riscos para doenças cardiovas- hipertensão. Haapanen et al. [16] observaram que o total de
culares. Neste contexto, a adoção de um estilo de vida saudá- atividade física, também independentemente do tipo somada
vel é essencial na prevenção da HA. Dentre as modificações com a intensidade do esforço, é inversamente associado com
preconizadas no estilo de vida, destaca-se a prática sistemática o risco de futura HA em homens de meia idade. Hayashi et
de atividade física [8,9]. Algumas modificações no estilo de al. [17] em estudo com homens japoneses, reportaram que a
vida apresentam custo mínimo, o que viabiliza sua realização duração da caminhada para o trabalho, adicionada à realização
em grande escala. Por essas razões, algumas entidades como de atividade física no tempo livre, foi significativamente asso-
a Organização Mundial da Saúde, a Sociedade Européia de ciada com a redução do risco de hipertensão. Em contraste,
Hipertensão e o Programa Nacional de Educação para Pressão nenhum dos estudos em mulheres observou significativas e
Arterial Elevada, recomendam a atividade física regular para independentes relações entre o nível de atividade física e o
prevenção e tratamento da HA [8]. risco para desenvolver a HÁ [16,18,19]. É importante obser-
Desta forma, os objetivos do presente artigo são: a) re- var, que características diferentes na PA em relação ao gênero
visar os efeitos do treinamento físico na PA; b) apresentar podem ter influenciado nos resultados das pesquisas realizadas
os potenciais mecanismos hipotensivos como resposta ao entre homens e mulheres. Segundo Hayes [20], diferenças em
exercício; c) apresentar e discutir as diferentes estratégias de relação ao gênero vêm sendo notadas na fisiologia, genética e
atividades físicas envolvendo programas formais e não formais benefícios no tratamento de HA em estudos que incluem mu-
de prescrição de exercício. lheres. Legato [21] verificou que mulheres podem tolerar a HA

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melhor do que homens. Outro fator mais bem tolerado pelas reduções da PA [27-29]. Halbert et al. [30] complementam
mulheres é a microalbuminuria, interpretada diferentemente essas informações observando que, aumentando a intensidade
dos homens. A microalbuminuria representa um dos maiores do exercício para 70% VO2máx e aumentando a freqüência
fatores de risco para doenças cardiovasculares, associado com semanal acima de 3 vezes não tem nenhum impacto adicional
maior risco de mortalidade para hipertensos e principalmente na redução da PA.
diabéticos [22]. Por fim, algumas considerações importantes Um dos aspectos que podem ter influenciado nas dife-
que diferenciam o tratamento da mulher hipertensa, como renças entre os estudos, pode estar relacionado às diferentes
o uso de contraceptivo oral, podem precipitar ou acentuar populações que compuseram as amostras dos estudos, envol-
o problema, além das alterações hormonais decorrentes da vendo indivíduos com distintos graus de condicionamento,
menopausa [21]. composição corporal, além das diferenças metodológicas
Em relação aos estudos dos efeitos crônicos do EA em nos treinamentos propostos. Apesar da divergência quanto
populações da raça negra, poucos são os experimentos que à freqüência semanal que provocaria um maior efeito hipo-
investigaram os efeitos do exercício na PA. Parece ser aceito tensivo, parece ser lógico assumir que uma margem mínima
que a atividade física não foi associada com a incidência de situaria em três dias e uma margem ótima de treinamento
HA em estudos envolvendo negros [19]. As respostas da PA deve ser de cinco a sete sessões semanais. Obviamente, os
em população negra também diferem de homens de popu- aspectos clínicos do indivíduo bem como o risco de lesões
lação branca, sendo encontrados valores de PA superiores impostas pela atividade aeróbia praticada devem ser levados
em negros. Além disso, uma maior prevalência de HA e de em conta na escolha da freqüência semanal. Além disso, a
complicações cardiovasculares são encontrados em homens interação duração-intensidade do esforço também deve ser
negros, em comparação com os brancos [23]. considerada.
Quanto à influência do nível de condicionamento e a No que concerne aos afeitos agudos do TF na PA, os
incidência de HA, Blair et al. [24], depois de controlar fatores resultados das pesquisas parecem ser convergentes. Farinatti
como idade, gênero, índice de massa corporal e PA, reporta- e Assis [31] verificaram as respostas cardiovasculares duran-
ram que os indivíduos com baixos graus de condicionamento te exercícios de força e aeróbio em indivíduos saudáveis.
físico têm um maior risco relativo para desenvolver HA, Realizaram-se testes de força com 1RM, 6RM e 20RM na
quando comparado com pessoas bem condicionadas. Assim, cadeira extensora e exercício aeróbio em cicloergômetro na
os estudos até agora reportaram que altos níveis de atividade intensidade de 75 a 80% da FC de reserva. Os dados de PAS
física, associados ao bom condicionamento aeróbio, associam- mostraram uma elevação conforme o número de repetições
se com a redução da incidência de HA em homens brancos. foi aumentando nos testes de força, o mesmo ocorrendo em
Entretanto, são necessárias mais evidências em relação ao relação à PAD. Quanto à comparação das respostas de PA
gênero e as características étnicas, para que se possam tecer obtidas na atividade aeróbia e nos testes de força, com exceção
conclusões mais definitivas sobre o assunto [8]. do trabalho envolvendo 20RM, o trabalho aeróbio exibiu
maiores respostas de PAD. Já a PAS foi superior na atividade
Aspectos metodológicos da prescrição de exercí- aeróbia do que nos testes de força. Esses dados chamam a
cios e respostas na PA atenção para o fato de que as respostas de PA tendem a ser
menores no TF do que no treinamento aeróbio.
Nessa sessão serão discutidas as influências da freqüência Quanto à influência do número de séries sobre as respostas
semanal, duração, intensidade e tipo de treinamento (aeróbio, da PA, Gotshall et al. [32] analisaram os efeitos de 3 séries
força e flexibilidade) na PA. Forjaz et al. [11], analisaram indi- consecutivas de 10 repetições sobre a resposta da PA no exer-
víduos que realizaram duas sessões de exercício (25 e 45 min) cício leg press. Em conclusão, quanto maior o número de séries
no cicloergômetro em 50% VO2máx, onde a PAS diminuiu maiores as respostas obtidas para PA. Mais recentemente,
significativamente no pós-exercício, sendo essa queda maior Polito et al.[33] verificaram o comportamento das respostas
e mais prolongada após 45 min de exercício. Esses autores cardiovasculares durante 4 séries de 8 repetições máximas
concluíram que o exercício com maior duração provoca hipo- (RM) na extensão unilateral do joelho, realizadas com 1 e
tensão pós-exercício maior e mais prolongada. Posteriormente, 2 minutos de recuperação. No que concerne às respostas de
através de uma meta-análise Fagard et al. [25], defenderam PA, verificou-se um efeito somativo do número de séries na
que uma freqüência de três a cinco dias por semana, com PAS e PAD. Quanto à influência dos diferentes intervalos de
duração de 30 a 60 min por sessão e intensidade entre 40% recuperação, ao se adotar o período de 2 minutos, a PAS e
a 50% do VO2máx, parece ser efetivo para a redução da PA. PAD atingiram menores valores ao final de cada série de 8 RM,
Contudo, limitadas evidências também sugerem que sete ses- em relação aos valores obtidos com 1 minuto de intervalo. A
sões por semana podem ser mais efetivas do que 3 sessões por influência do fracionamento das séries através da alternância
semana [26]. Outros autores corroboram com a intensidade de grupamentos musculares requisitados na realização dos
proposta por Fagard, e vão além, destacando que os exercícios exercícios também vem sendo estudada. Veloso et al. [34]
com baixa e moderada intensidade parecem provocar maiores verificaram as respostas cardiovasculares em diferentes situ-

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ações de TF para flexão unilateral do quadril e abdução dos cardiovasculares [8,45]. Em interessante meta-análise sobre
ombros até 90o. Os exercícios foram conduzidos de forma a os efeitos do TF na PA, Kelley e Kelley [45] concluíram que
manter o mesmo volume de treinamento, variando-se o nú- o TF pode ser eficaz na redução da PAS e PAD em adultos.
mero de repetições contínuas. Os valores de PA revelaram-se Mesmo nos estudos que não demonstraram redução da PA
significativamente maiores na forma contínua de execução, em com o TF, verificou-se que essa forma de treinamento não traz
comparação com a fracionada. Os autores concluíram que a como efeito crônico um aumento da PA. Tal fato se mostra
forma contínua associou-se a maior sobrecarga cardiovascular, interessante para o aprimoramento da aptidão física em hi-
principalmente devido às respostas de pressão arterial. pertensos, o que justifica sua prática por indivíduos com HA.
A hipotensão pós-exercício com a prática do treinamento Contudo, os autores supracitados alertaram que as pesquisas
de força também vem sendo estudada. Em estudos realizados necessitam de maior controle envolvendo as amostras, seus
com jovens saudáveis e treinados Polito et al. [35] estudaram estados clínicos, bem como as características que envolvem o
o efeito de duas seqüências de TF realizados sobre intensidades controle farmacológico dos indivíduos. Além disso, pode-se
diferentes, mas com o mesmo volume de treinamento, sobre as acrescentar que as variações das características metodológi-
respostas agudas tardias de PAS e PAD. Os autores chegaram cas que regem a prescrição do exercício, também, merecem
as seguintes conclusões: a) o TF exerceu o efeito hipotensivo futuras investigações para que possam tecer conclusões mais
sobre a PA, principalmente sobre a PAS; b) o declínio absoluto consistentes. Em geral, as considerações metodológicas para a
da PAS não foi influenciado pelas diferentes interações de carga prescrição do TF em hipertensos envolvem 8 a 12 exercícios,
e repetições; c) a magnitude das cargas tendeu a favorecer a realizados com 1 a 2 séries, executadas com 8 a 12 repetições
duração da redução da PAS e d) o número de repetições teve 2 a 3 vezes por semana [8,29,46].
maior repercussão sobre a PAD que sobre a PAS, mas por curto No que diz respeito ao exercício de flexibilidade, não há
período de tempo. Posteriormente, Simão et al. [36] também evidências sobre possíveis influências desse treinamento na
verificaram os efeitos hipotensivos de diferentes formas de PA. Porém, como qualquer outro componente da aptidão
treinamento. Inicialmente os autores compararam os efeitos do física, a flexibilidade deve ser treinada, tendo em vista que é
trabalho conduzido com séries consecutivas para cada exercício um dos fatores que podem afetar a autonomia do indivíduo
realizado com 6RM e 12 repetições com cargas correspondentes para realização de atividades do cotidiano [47]. Este aspecto
a 50% de 6RM. Depois foram comparados os efeitos dos tra- se torna ainda mais importante quando se trata de idosos,
balhos de 6RM realizados em séries consecutivas com aqueles sedentários e obesos. Muitos estudos sugerem métodos espe-
obtidos em 12 repetições com cargas correspondentes a 50% cíficos com essa finalidade. No entanto, podemos afirmar que
de 6RM, desta vez realizada em forma de circuito. Em conclu- ainda há muitas limitações no conhecimento sobre o assunto.
são, não foram verificadas diferenças na magnitude do efeito Ao contrário do treinamento aeróbio, a intensidade, duração
hipotensor nas diferentes formas de treinamento. Contudo, o e freqüência dos estímulos no treinamento da flexibilidade
efeito tendeu a perdurar mais no trabalho de maior intensidade ainda estão longe de serem definidos [48].
(6RM) e circuito, em comparação ao trabalho de 12 repetições.
Outros estudos também verificaram hipotensão pós-exercício Mecanismos potenciais para redução da PA em
[37-39]. Em contrapartida, algumas investigações verificaram resposta a atividade física
apenas discreta hipotensão pós TF. Fisher et al. [40], estuda-
ram mulheres normotensas e hipertensas. Após a realização Existem diferentes mecanismos que tentam explicar a
de 15 repetições em cinco exercícios conduzidos em circuito, hipotensão como resposta à prática do exercício. São eles os
com carga equivalente a 50% de 1RM, verificou-se redução neuro-humorais e os estruturais.
significativa somente na PAS. Outros estudos não puderam Recentes estudos sugerem que a redução na PA depois de
demonstrar efeito hipotensivo significativo após o exercício de treinamento aeróbio é mediada pelo decréscimo do débito
força. Focht e Koltyn [41], por exemplo, observaram redução cardíaco e/ou da resistência periférica total. Porém, somente
apenas na PAD 20 minutos após uma seqüência de exercícios em alguns estudos com idosos, a hipotensão foi relacionada
realizada a 50% de 1RM. Os autores não verificaram alterações tanto por aumento da vasodilatação periférica quanto por
no TF realizado na intensidade de trabalho equivalente a 80% diminuição no débito cardíaco [49]. Talvez, esse fato esteja
de 1RM. relacionado às características da mostra, que tende a possuir
Em relação à resposta crônica do TF na PA de repouso, uma FC mais baixa, devido ao envelhecimento. Todavia, uma
essa é uma questão que merece ser melhor investigada, pois redução no débito cardíaco não ocorre tipicamente depois de
os resultados das pesquisas são conflitantes. Apesar disso, al- exercício crônico. Assim, o decréscimo na resistência periférica
gumas evidências iniciais sugerem que o TF, em certos casos, total aparece como mecanismo primário para reduzir a PA de
pode exercer um efeito hipotensivo na PA de repouso [42-44]. repouso após treinamento [8].
É importante destacar que mesmo que o efeito não seja esta- Forjaz et al. [11] concordam com essa afirmação, e relatam
tisticamente significativo, reduções de 3mmHg na PAS pode que a redução na resistência vascular pode estar relacionada
ser interessante para reduzir o risco de possíveis complicações à vasodilatação provocada pelo exercício físico, tanto na

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musculatura ativa, como inativa. Essa redução da resistência Adaptação neuro-humoral, também é encontrada no sis-
vascular, após esforço, é mediada por adaptações neuro-hu- tema renina-angiotensina. A angiotensina II é um poderoso
morais e estruturais. O ACSM [8] destaca que as adaptações vasoconstrictor e regulador do volume sangüíneo. Reduções
neuro-humorais dizem respeito às adaptações no sistema na renina e angiotensina II com treinamento podem ser con-
nervoso simpático, sistema renina-angiotensina, bem como tribuintes para a redução da PA em normotensos [8]. Níveis
nas respostas vasculares. Já em relação às adaptações estrutu- reduzidos de renina e angiotensina II, após o treinamento,
rais, estudos como o de Laughlin et al. [50] sugerem que o vem sendo reportados [54,66]. Contudo, em sujeitos hiper-
treinamento modifica a estrutura vascular muscular, incluindo tensos, os exercícios não reduzem consistentemente o plasma
o remodelamento vascular como o aumento da flexibilidade, renal [67,68] e os níveis de angiotensina II [69,70]. Assim,
aumento da área de passagem do fluxo sangüíneo e/ou diâ- os estudos sugerem que o sistema renina-angiotensina II não
metro das artérias e veias, e ainda a angiogênesis. contribui consideravelmente para a redução da PA após o
Elevada atividade do sistema nervoso simpático é um treinamento [8].
ponto importante observado na hipertensão essencial [51]. Devido à multifatoriedade dos mecanismos e redundantes
Alguns estudos demonstram que em sujeitos hipertensos a sistemas que contribuem para a redução da PA, conclusões
atividade nervo simpática é mais elevada quando compa- definitivas sobre a hipotensão pós exercício se fazem difíceis.
rada com sujeitos normotensos [18,52,53]. Somado a este Contudo, mesmo sem conclusões definitivas, o fato é que, o
fato, é importante observar que a atividade nervo simpática exercício aeróbio desencadeia uma hipotensão pós-exercício,
e a subseqüente liberação de norepinefrina (NE) media a sendo esta de extrema importância no caso de pessoas com
vasoconstricção e aumenta a resistência vascular, podendo HA.
ser relacionada à maior resistência vascular observada em
hipertensos. Apesar de limitadas evidências, estudos como Tipos de programas de exercício
os de Jennings et al. [54], Meredith et al. [55], e Urata et al.
[56] observaram redução da quantidade de NE no plasma Pode-se dizer que a prescrição de atividades físicas para a
sangüíneo após treinamento aeróbio. Esta constatação foi prevenção e tratamento da hipertensão pode ser estruturada de
relacionada ao decréscimo de sua liberação no plasma e não na acordo com duas vertentes metodológicas distintas: a) progra-
sua remoção, sugerindo menor atividade do sistema nervoso mas de atividades físicas formais ou intra-muros; b) programas
simpático [55]. Sendo assim, menor quantidade de NE para de atividades físicas não formais ou extra-muros [71].
as sinapses pode ser um mecanismo facilitador da redução da Os programas formais são aqueles onde existe um rígido
resistência vascular após treinamento, e ainda, outros efeitos acompanhamento dos aspectos metodológicos que regem a
associados com a inibição da produção simpática renal podem prescrição do exercício, como intensidade e duração do esfor-
ser importantes no decréscimo da PA [8]. ço. Neste tipo de programa, as variáveis clínicas e fisiológicas
As adaptações vasculares também são prováveis contri- são mais controladas. Para que tal controle seja alcançado,
buintes para diminuição da PA após o treinamento. Alguns é necessária a participação de um profissional especializado
estudos vêm observando que o exercício altera as respostas para acompanhar as sessões de treinamento, sendo geralmente
vasculares para NE e para endotélio-1, que representam realizados em clínicas e hospitais. Os programas intramuros
potentes vasoconstrictores. Um estudo realizado com ratos apresentam como vantagem a maior monitorização clínica
hipertensos espontâneos observou que exercícios crônicos e funcional durante as sessões. Em contrapartida, tendem a
desencadeiam um decréscimo da vasoconstricção por recep- provocar uma dependência dos indivíduos que a realizam. Já
tores α-adrenérgicos [57]. Além disso, as respostas vasculares os programas não formais são aqueles onde a prescrição do
para estimulação dos receptores α-adrenérgicos, pela NE, são exercício é organizada para levar o indivíduo a uma maior
atenuadas depois do treinamento [58,59]. Somado a isso, autonomia. Nesse tipo de programa, abre-se mão de um
Maeda et al. [60] reportaram que o treinamento também controle extremamente apurado em prol de uma maior possi-
reduz os níveis de endotélio-1 em indivíduos hipertensos bilidade de realização das atividades por parte dos indivíduos.
espontâneos. Se para agentes vasoconstrictores o exercício Os programas extramuros podem ser realizados em locais e
parece diminuir suas ações, para agentes vasodilatadores como horários que mais se ajustem as características do praticante.
o óxido-nítrico, o exercício tem demonstrado um aumento da A metodologia de prescrição de exercícios é simples, de modo
produção, promovendo a função vasodilatadora em sujeitos que o praticante tenha autonomia para realizar o controle do
saudáveis [61]. treinamento. Os programas não-formais envolvem recursos
Outro fator importante, associado com a HA, é a hipe- humanos e materiais reduzidos, podendo constituir uma
rinsulinimia e insulino resistência que vem sendo associado interessante estratégia de saúde pública.
com a ativação do sistema nervoso simpático [62-64]. Devido Sendo assim, é possível afirmar que os programas formais
ao exercício estimular a sensibilidade à insulina, o esforço de exercícios seriam aqueles que deram origem à quase to-
também pode ser um importante mecanismo mediador da talidade das pesquisas relacionadas à hipertensão e exercício.
redução da atividade simpática e PA [65]. Contudo, apesar da vantagem de possuir maior ênfase no

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controle das atividades, geralmente a prática regular do flexibilidade. Orientações sobre a ficha de controle e variáveis
exercício não é incorporada na vida dos indivíduos quando intervenientes ao treinamento eram dadas a cada reavaliação.
recebem alta. Em contrapartida, programas não formais, Os pacientes foram acompanhados por quatro meses, com
apesar do menor controle das atividades, podem favorecer a reavaliações que se dava a cada dois meses. Em conclusão,
adesão dos indivíduos por períodos prolongados de tempo, programas domiciliares não supervisionados de exercícios,
demonstrando também um grande potencial a ser explorado mesmo em curto prazo, podem exercer efeito positivo sobre
para pesquisas. a pressão arterial e aptidão física de pacientes hipertensos.
Como destacado por Bar-Eli [72], atribuições como liber- Apesar de alguns estudos demonstrarem que é possível
dade, escolha e responsabilidade sobre a atividade aumentam obter efeitos positivos com programas não-formais de exer-
o engajamento dos pacientes em programas de atividade física. cícios, futuras pesquisas necessitam ser desenvolvidas para
Há também, freqüentes relatos que evidenciam ser a falta avaliar os efeitos dessas intervenções nas variáveis de aptidão
de tempo para a realização de exercícios regulares, um dos física e PA de hipertensos. Um desafio para a saúde pública
principais motivos para a não realização dos exercícios [73]. é fazer com que o exercício seja praticado em grande escala.
Programas que permitam certa flexibilidade na escolha do Nesse sentido, programas não-formais por sua fácil aplicação
momento de suas realizações mostram-se eficazes para uma e baixo custo, emergem como uma interessante estratégia de
maior adesão, tendo em vista, que em geral, os indivíduos prevenção e tratamento da HA.
têm uma precária organização do tempo [74].
Smith et al. [75] afirmam que a adesão tem se constituído Conclusão
em motivo de preocupação entre médicos, professores de edu-
cação física e outros profissionais da área de saúde. Cox et al. A prática de exercícios constitui uma importante estratégia
[76], por sua vez, observam que alguns estudos mostram que na prevenção e tratamento da HA. Ela é uma das principais
pacientes têm adesão aumentada quando realizam programas modificações de estilo de vida que contribui para reduzir di-
de atividades físicas de leve a moderada intensidade, ou seja, versos outros fatores de risco associados às doenças cardiovas-
em uma faixa de conforto. Somado a isto, Farinatti [71] relata culares. Além disso, níveis de condicionamento mais elevados
que as evidências de que a intensidade do exercício é um fator estão associados a uma menor incidência de HA.
secundário para os efeitos esperados sobre a pressão arterial, Para que o exercício possa exercer seus efeitos positivos,
em comparação com a duração e a regularidade de sua prática, sua prática deve ser regular. Entre as diferentes formas de
abrem a possibilidade de que se abdique do controle fisiológico exercícios, a atividade aeróbia é aquela que apresenta um
das atividades, em prol de outros objetivos como a adesão. maior efeito hipotensor. As evidências científicas sobre o efeito
Biddle e Mutrie [73] reforçam essa idéia, citando que uma hipotensor da atividade aeróbia são mais consistentes do que
ótima estratégia para uma adesão aumentada dos pacientes aquelas obtidas para o TF. Porém, os resultados das pesqui-
aos programas de treinamento é o automonitoramento. sas indicam que o TF deve ser incorporado como forma de
Um interessante estudo sobre a influência de programas aprimoramento da aptidão física relacionada à saúde, mesmo
não formais na aptidão física, PA e variáveis bioquímicas em que seus efeitos hipotensivos na PA de repouso ainda sejam
pacientes hipertensos foi realizado por Pinto et al. [77] ao questionados. As características metodológicas que regem a
investigar dois programas não-formais de atividade física os prescrição do treinamento aeróbio para indivíduos hipertensos
autores observaram que esses exercem efeitos positivos sobre incluem: a) freqüência semanal: superior a 3 vezes, embora
a condição geral dos pacientes hipertensos. Isso foi observado essa freqüência também se mostre suficiente para exercer
principalmente no que diz respeito à composição corporal, efeitos hipotensivos; b) intensidade: 40 a 70% do VO2máx;
em termos quantitativos e de distribuição regional. No que c) duração: de 30 a 60 minutos. Quanto ao TF, as considera-
diz respeito à aptidão cardiorespiratória e PA, foram pouco ções metodológicas para a prescrição em hipertensos devem
conclusivos, já que houve diferenças significativas no sentido envolver: a) número de exercícios: 8 a 12; b) número de séries
de melhora, porém não houve um padrão de comportamento e repetições: 1 a 2 séries, executadas com 8 a 12 repetições; c)
que desse suporte a esses possíveis efeitos. freqüência: 2 a 3 vezes por semana. Aspectos como número
Posteriormente, Farinatti et al. [48] observaram a influên- de repetições e cargas, intervalos entre séries, bem como a
cia de quatro meses de um programa domiciliar não-supervi- forma de execução dos exercícios (fracionada ou contínua),
sionado (não-formais) de exercícios sobre a PA e aptidão física influenciam nas respostas agudas da PA.
em adultos com hipertensão estágios I e II. Foram observados Os mecanismos hipotensivos ainda não estão bem esta-
dois grupos: experimental e controle, compostos por indiví- belecidos, merecendo estudos adicionais para que se possam
duos de ambos os sexos. O grupo experimental submeteu-se tecer inferências consistentes sobre o assunto. Os principais
a um programa domiciliar de exercícios, com atividades mecanismos de hipotensão como resposta à prática do
fundamentalmente aeróbias (60-80% da freqüência cardíaca exercício podem ser caracterizados como neuro-humorais
máxima estimada para a idade, 30 minutos de caminhadas e estruturais. As adaptações neuro-humorais dizem respeito
no mínimo três vezes por semana), além de exercícios de às adaptações no sistema nervoso simpático, sistema reni-

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 55

na-angiotensina, bem como nas respostas vasculares. As 11. Forjaz CLM, Santaella DF, Rezende LO, Barreto ACP, Negrão
estruturais envolvem a modificação da estrutura vascular CE. Exercise duration determines the magnitude and duration of
muscular, incluindo o remodelamento vascular como o pos-exercise hypotension. Arq Bras Cardiol 1998;70:99-104.
aumento da flexibilidade, aumento da área de passagem do 12. Kenney MJ, Seals DR. Postexercise hypotension: key features,
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fluxo sangüíneo e/ou diâmetro das artérias e veias, e ainda
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a angiogênesis. 13. Mion D, Machado CA, Gomes MAM et al. IV Diretrizes
Por fim, cabe ressaltar que os programas de prescrição Brasileiras de Hipertensão Arterial. Arq Bras Cardiol 2004; 82
de exercícios podem ser caracterizados em formais ou intra- (suplemento IV).
muros e não-formais ou extramuros. Os programas formais 14. Kelley GA, Kelley KS, Tran ZV. Aerobic exercise and resting
apresentam como vantagem o maior controle das atividades blood pressure: a meta-analytic review of randomized, controlled
prescritas e das respostas fisiológicas, o que pode ser interes- trials. Prev Cardiol 2001;4:73-80.
sante de acordo com o risco do indivíduo. Em contrapartida, 15. Paffenbarger Junior RS, Wing AL, Hyde RT, Jung DL. Physical
programas com essas características, não tem se mostrados activity and Incidence of hypertension in college Alumni. Am
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efetivos para manter a adesão dos praticantes após a alta.
16. Haapanen NS, Miilunpalo I, Vuori PO, Pasanen M. Associa-
Nos programas não-formais a prescrição é simples, existindo
tion of leisure time physical activity with the risk of coronary
menor controle das atividades. Não é necessária a presença heart disease, hypertension and diabetes in middle-aged men
de um profissional especializado conduzindo todas as sessões and women. Int J Epidemiol 1997;26:739-747.
de treinamento. Uma das maiores vantagens desse tipo de 17. Hayashi TK, Tsumura C; Suematsu K; Okada S; Fujii, Endo
programa é a autonomia que ele tende a gerar nos praticantes. G. Walking to work and the risk for hypertension in men: the
Cabe ressaltar que não existe a melhor forma de treinamento. Osaka health Survey. Ann Intern Med 1999;130:21-26.
Dependendo de aspectos como as características clínicas e 18. Folsom AR, Prineas RJ, Kaye AS, Munger RG. Incidence of
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a opção deve ser feita. other risk factors in older women. Siroke 1990;21:701-706.
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58 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Resumos

Anais do IV Workshop em Fisiologia do Exercício –


UFSCar
I Congresso Paulista da Sociedade Brasileira
de Fisiologia do Exercício
18-20 de Novembro de 2005
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, São Paulo
Sociedade Brasileira de Fisiologia do Exercício
Comissão Organizadora:
Prof. Dr. Sérgio Perez
Prof. Dr. Vilmar Baldissera

Presidente da Associação Brasileira de Fisiologia do Exercício


Prof. Dr. Paulo Sérgio Chagas Gomes

A influência da idade e do sexo na força 50 a 59 anos (n = 10), G3: 60 a 69 anos (n = 10), G4: 70 a 79 anos
muscular respiratória em indivíduos de (n = 10), e G5: 80 a 89 anos (n = 10). Foram excluídos indivíduos
40 a 89 anos que apresentassem diagnóstico clínico de pneumopatias, cardiopatias,
praticantes de atividade2 física regular, fumantes e/ou ex-fumantes,
Simões RP, Auad MA, Dionísio J, Parizotto APD, Audrey
obesos (IMC ≥ 30kg/m ) e indivíduos com peso abaixo do normal
Borghi-Silva A, Marisa Mazonetto
(IMC ≤ 19kg/m2) segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Unicastelo, Descalvado - SP, Brasil Para a obtenção da PImáx e da PEmáx utilizou-se um manovacuôme-
rodpsimoes@hotmail.com tro (Critical Med, Indústria Brasileira) do tipo anaeróide, escalonado
de ±300cmH2O, os indivíduos permaneciam sentados e com clipe
Introdução: A análise da força dos músculos respiratórios por meio nasal, e eram previamente ensinados quanto a realização dos testes
das pressões inspiratórias máximas (PImáx) e expiratórias máximas (PImáx a partir do volume residual e PEmáx a partir da capacidade
(PEmáx) têm sido muito utilizada devido seu importante papel pulmonar total), sustentando-as em seu máximo por dois segundos, e
diagnóstico e prognóstico de doenças neuromusculares, pulmonares após três repetições (com intervalo de um minuto entre elas) o maior
e cardiovasculares, além de ser um método simples, de baixo custo, valor obtido foi o considerado para análise. A manovacuometria foi
prático, rápido e não invasivo. Há relatos na literatura que uma das realizada em todos indivíduos por um único avaliador e sob comando
principais alterações fisiológicas que ocorrem no sistema respiratório verbal homogêneo. Foi utilizado o teste Mann-Whitney (p < 0,01)
com o avançar da idade é a diminuição do recolhimento elástico dos para comparar G1, G2, G3, G4 e G5 entre o grupo dos homens com
pulmões e da complacência da caixa torácica. Adicionalmente, a caixa o das mulheres, e o teste de Kruskal-Wallis (p < 0,05) para comparar os
torácica sofre progressivo enrijecimento devido à calcificação das cos- subgrupos em cada grupo. Resultados: A partir dos dados observados
telas e das articulações vertebrais. Alguns autores relatam que quando podemos verificar que houve uma redução significativa (p < 0,05) da
comparado as pressões respiratórias máximas entre os sexos, observa-se PImáx e PEmáx com o aumento da idade a cada duas décadas em
que os homens apresentam valores significantemente maiores do que ambos os sexos. Quando comparado as duas variáveis em G1, G2, G3,
as mulheres da mesma faixa etária. Objetivos: Avaliar a força muscular G4 e G5 entre homens e mulheres da mesma faixa etária, verificou-se
respiratória (FMR) de homens e mulheres com idade entre 40 e 89 redução significativa (p<0,01) em todos os subgrupos femininos em
anos, verificando se há influência da idade e do sexo nos valores. relação aos masculinos. Conclusão: Os valores das pressões respiratórias
Materiais e métodos: Foram estudados 100 indivíduos com idade entre máximas sofrem redução com o avançar da idade a cada duas década
40 e 89 anos (média de 65,1 ± 14,4 anos), os quais foram separados a partir dos 40 anos até os 89 anos, indicando decréscimo tanto na
de acordo com o sexo: homens (n = 50) e mulheres (n = 50). Cada força da musculatura inspiratória como da expiratória. Entretanto,
grupo foi subdividido em cinco de acordo com a faixa etária, sendo as mulheres têm FMR significativamente menor que os homens da
o grupo 1 (G1): sujeitos com idade entre 40 a 49 anos (n = 10), G2: mesma faixa etária.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 59

Hipóteses para reidratação antes, É de inteiro conhecimento que, em seres humanos, a atividade
durante e após exercícios do eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA) e suas respostas me-
Martins LA, Silva GA tabólicas são proporcionais à intensidade do exercício. Por razões
óbvias, um grande número de pesquisas envolvendo o exercício tem
Fundação Municipal de Educação e Cultura de Santa Fé do
sido conduzido em animais de laboratórios, especialmente o rato.
Sul - SP
Entre os ergômetros mais usados em pesquisas com animais está
fisiolubr@yahoo.com.br a natação. Entretanto, é pouco conhecido o efeito da intensidade
do exercício de natação na atividade do eixo HHA de ratos. Para
Introdução: Quando se pratica exercícios, deve-se ter cuidados, estudar os efeitos do exercício de natação realizado em diferentes
não só na escolha dos alimentos que se come, mas também nos intensidades no eixo HHA de ratos sedentários, usamos concen-
conteúdos e na quantidade de líquidos que se ingere. Durante trações séricas dos hormônios adrenocorticotrófico (ACTH) e
uma atividade física, a taxa de transpiração é altamente variável, em corticosterona. Dezoito ratos adaptados ao meio líquido foram
média, perde-se um a dois litros de líquido por hora de exercício. submetidos a 3 testes de 25 minutos (natação) suportando cargas
Considerando que há perdas significativas de líquidos e minerais 5,0; 5,5 e 6,0% do peso corporal (PC), para obtenção da máxima
durante o exercício. É de se esperar que os efeitos nocivos da desi- fase estável de lactato (MFEL). Após obtenção da MFEL, os animais
dratação demorem mais para se manifestar, se o indivíduo esteve foram divididos em dois grupos: M (n = 9), sacrificado após 25
bem hidratado antes de exercitar. De acordo com Morimoto et minutos de exercício na intensidade MFEL e S (n = 9), sacrificado
al. (1981): na desidratação progressiva perde-se água de todos os após exercício exaustivo, em intensidade 27% superior a MFEL.
compartimentos corpóreos, incluindo o sangue. Quando se sente Para comparações, um grupo controle C (n = 10) foi sacrificado
sede a pessoa está com hipohidratação. Para Nadel (1996), durante em repouso. Utilizou-se Anova One Way para identificar possíveis
a atividade física uma quantidade significativa de calo é gerada diferenças nos parâmetros de estresse (p < 0,05). As concentrações
como um subproduto do metabolismo energético que mantém os séricas de ACTH e corticosterona foram significativamente (p <
processos de contração e relaxamento dos músculos em atividades. 0,05) superiores após exercício em ambas intensidades quando
Com os músculos em atividades a taxa de calor aumenta em até comparadas ao grupo controle. As concentrações do grupo (S) foram,
100X em relação aos músculos, com isso é ativado um sistema que ainda, maiores do que as do grupo (M) (tabela I). A atividade do
indica reflexos associados à perda de calor. Se isso não acontecesse, eixo hipotálamo-hipófise-adrenal durante exercício agudo de natação
e esse calor fosse armazenado, a temperatura aumentaria 1°C a em ratos parece depender da intensidade do mesmo, respondendo
cada 5 a 8 minutos, resultando em hipertermia e colapso em 15 com maior atividade às intensidades mais elevadas.
a 20 minutos. Evitando-se assim que o indivíduo entre em super
aquecimento, ocasionando a desidratação o que poderia causar uma Tabela I - Corticosterona (ng/mL) e hormônio adrenocorticotrófico
série de complicações. Objetivo: Fazer um levantamento bibliográfico séricos (pg/mL) dos animais ao final do experimento em repouso (C) e
de hipóteses de algumas alternativas para substituição das bebidas após sessão aguda de exercício (natação) em intensidade de MFEL (M)
isotônicas, antes, durante e após a atividade física. Metodologia: e 27% superior a esta (S).
Utilizou-se como método, referências bibliográficas, livros e artigos. Grupos ACTH Corticosterona
Resultados: Do levantamento bibliográfico realizado, encontrou-se
S (n = 09) 1284,44 ± 361,36 a,* 3845,51 ± 788,83 a,*
vários autores que apontaram algumas hipóteses alternativas de solu-
M (n = 09) 963,37 ± 420,47 * 2661,26 ± 627,89 *
ções reidratantes. Maham e Stump (2003) citaram algumas bebidas
energéticas já existentes no mercado como: coca -cola, refrigerante C (n = 10) 179,32 ± 46,31 467,11 ± 262,12
diet e suco de laranja. Porém, Bergeron (1998) apontou outras so-
Resultados expressos como média ± desvio padrão, com o
luções ricas em nutrientes necessários para a reidratação como: suco
número de animais entre parênteses. S = 27% superior a MFEL
de tomate, refrigerantes, suco de laranja, leite de vaca integral, água
(natação), M = MFEL (natação) e C = controle (repouso). * Dife-
de coco e cerveja. No entanto, Oliveira (1996) também coloca que o
rença significativa em relação ao grupo controle e a ≠M (ANOVA
suco de laranja repõe o potássio, cálcio e o magnésio perdido no suor.
One Way, p < 0,05).
Colemam (1997) enfatiza que: as características das bebidas, como
Apoio financeiro: CAPES & FAPESP.
sabor, aroma, acidez, sensação de doçura influenciam a palatabilidade
e o consumo voluntário de líquidos. As bebidas frias, doces, e de
sabor agradável são preferidas pelos sujeitos que praticam esportes. Efeito do uso de analisador de gases
Conclusão: De acordo com as revisões bibliográficas, verificou-se que sobre o desempenho em uma tarefa
existem várias hipóteses de bebidas como alternativas de reidratação, anaeróbia
antes durante e após o exercício físico. Franchini E, Takito MY, Bertuzzi RCM
Grupo de Pesquisas em Fisiologia do Exercício da Faculdade
Atividade do eixo hipotálamo-hipófise- de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie
adrenal durante exercício agudo de - Barueri, SP
natação em ratos wistar emersonfranchini@hotmail.com
Contarteze RVL*, Manchado FB**; Gobatto CA*, Mello MAR*
*Universidade Estadual Paulista - UNESP, Rio Claro - SP, O uso de analisadores de gases em tarefas anaeróbias tem sido
Brasil, ** UNESP e Faculdades Integradas Einstein de realizado com objetivo de estimar a contribuição dos sistemas de
Limeira, Limeira - SP transferência de energia nessas tarefas, especialmente do metabolismo
contarteze@yahoo.com.br aeróbio (Di Prampero e Ferretti, 1999; Gastin, 2001). Contudo, al-

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guns atletas alegam que a execução da atividade é prejudicada quando e de que esta tensão é constante ao longo do comprimento do mús-
esse tipo de equipamento é utilizado. Se essa afirmação for correta, culo e nos sítios de inserção músculo tendinoso no osso. Esse estudo
a análise da situação perde a sua validade ecológica, uma vez que o verificou e comparou a força máxima obtida na flexão e extensão
desempenho que se pretende analisar não é máximo, podendo afetar unilateral de joelhos. A amostra foi composta por 5 indivíduos do
a resposta fisiológica ao exercício. No entanto, não foram encontrados sexo feminino, com idade entre 20 e 31 anos, universitárias das
estudos que analisassem o efeito do uso do analisador de gases sobre Faculdades Integradas de Bauru todas saudáveis. Foi realizado um
o desempenho em tarefas anaeróbias. Nesse sentido, o objetivo do teste isométrico máximo de extensão e flexão do joelho esquerdo e
presente estudo foi analisar o efeito do uso de um analisador de gases direito. A análise da força foi aferida através de dinamômetro digital
portátil (K4b2 da Cosmed, Itália) sobre o desempenho em um teste modelo Force Gauge FG-100KG-RS232, da marca Digital Instru-
de Wingate para membros superiores. Para isso, foram voluntários ments. O teste de extensão do joelho foi realizado em uma mesa,
no estudo, oito homens adultos com treinamento em modalidades onde o avaliado estava sentado com as pernas sem apoio em um
anaeróbias e familiaridade na execução do teste de Wingate para ângulo de 90º, ao sinal do avaliador o avaliado executou sua força
membros superiores. O teste foi conduzido em uma bicicleta Monark máxima em extensão por 6 segundos. E na flexão, o avaliador na
(modelo 668, Suécia) adaptada para membros superiores. Os parti- posição em decúbito ventral, formando um ângulo de 90º executou
cipantes foram submetidos a dois testes de Wingate para membros sua força máxima na flexão. A media de forca da perna direita foi de
superiores com carga equivalente a 6% da massa corporal em duas 15,12 Kg e da perna esquerda foi de 16,84 Kg para a flexão e para
situações: com e sem o uso do analisador de gases. A ordem das situ- extensão a média da força foi de 51,05 Kg para a perna direita e
ações foi contrabalançada. A determinação da potência de pico (PP) para a perna esquerda 48,5 Kg. Os resultados encontrados pelo atual
e da potência média (PM) foi feita com o uso do programa Wingate estudo apresentam maiores níveis de força voluntária máxima dos
test (Cefise, Brasil). A comparação entre as situações foi feita através músculos extensores do joelho quando comparadas com os músculos
de um teste “t” de Student para dados pareados. A reprodutibilidade flexores. Este fato parece estar relacionado tanto com maiores níveis
foi determinada através do coeficiente de correlação intra-classe e por de massa muscular quanto por maior atividade neural. Contudo,
análise gráfica proposta por Bland e Altman (1986) para verificar os vale ressaltar que não foram avaliadas a perimetria.
limites de concordância (limits of agreement) entre as duas situações.
Os valores apresentados são média ±desvio padrão e o nível de signifi- Comparação da força de membros
cância estabelecido foi de 5%. Não foi observada diferença significante superiores de cadetes da academia da
para a PM (p = 0,4385) na situação sem o uso do equipamento (5,20
força aérea em diferentes momentos de
± 0,56 W/kg) e com o uso do equipamento (5,11 ± 0,58 W/kg). Para
a PP, também não houve diferença significante (p = 0,0904) entre
sua formação
as situações sem o uso do equipamento (7,35 ± 1,09 W/kg) e com o Lopes DCF*, Borin JP*; Padovani CRP**, Carlos Roberto
uso do equipamento (6,79 ± 0,97 W/kg). A reprodutibilidade para Padovani***
*
a PM foi elevada (R = 0,9110) e moderada para a PP (R = 0,7343). Curso Mestrado em Educação Física - UNIMEP; Piracicaba,
A análise gráfica indicou distribuição aleatória para a distribuição ** Mestre em Energia na Agricultura - Unesp/Borucatu, ***
das diferenças entre as situações para a PM e para a PP, embora para Departamento Bioestatística - UNESP/Botucatu - Botucatu, SP
essa última nenhum valor de erro negativo tenha sido observado. dcfl@linkway.com.br
Esses resultados indicam que, para uma tarefa que não envolve o
deslocamento da própria massa corporal, o uso do analisador de Introdução: Destaca-se a força de membros superiores como
gases portátil não interfere no desempenho. Adicionalmente, os va- essenciais para ações de combate, pois propicia ao militar autonomia
lores de reprodutibilidade encontrados para a PP e para a PM foram e habilidade para suportar e erguer o peso do próprio corpo em
similares ao relatado na literatura (Inbar, Bar-Or e Skinner, 1996) e situações proporcionadas por exercícios ou tarefas de campanha.
a distribuição do erro foi aleatório, o que confirma a baixa influência Torna-se necessário que o cadete militar apresente uma condição
do equipamento no desempenho. Contudo, análise similar deve ser física adequada durante o período em que estuda na Academia,
conduzida para situações que envolvam o deslocamento da massa para que tenha o suporte necessário para a execução das tarefas re-
corporal, uma vez que nessa situação o uso do analisador de gases lacionadas com a rotina diária referentes às particularidades do seu
pode ter maior influência. curso, durante os quatro anos de sua Formação. Objetivo: Analisar
a resistência força de membros superiores de cadetes da Academia
Análise de força da extensão e flexão do da Força Aérea. Metodologia: -Participaram desse estudo trezentos
joelho e vinte oito cadetes militares, do sexo masculino, pertencentes ao
Slompo VCF*, Santos RJ*, Verissimo RE*, Neves D*, quadro de Formação de Oficiais da Aeronáutica (Aviadores, Inten-
Barbosa CAG** dentes e Infantes), com idades de 18 a 23 anos. Os cadetes foram
*Alunos do 3º ano do curso de bacharelado das Faculdades analisados pelo teste de flexão dos cotovelos com apoio no solo,
seguindo o protocolo de Pollock & Wilmore (1993), em quatro
Integradas de Bauru, **Laboratório de Exercício Resistido
momentos distintos (M1, M2, M3, M4), ou seja, no período em que
(LABER) FIB, Centro de Estudo e Pesquisa em Atividade
estudaram na Academia e foram anualmente submetidos ao Teste
Física (CEPAF) FIB, Grupo de Estudo e Pesquisa em Exercício de Avaliação do Condicionamento Físico (TACF). Posteriormente,
Resistido (GEPER) os valores foram transcritos em planilha específica e armazenados
em banco computacional, produzindo-se informações no plano
descritivo (medidas de centralidade e dispersão) e, no inferencial,
A Força muscular é a habilidade que um músculo ou grupo por meio da análise de dependência através da técnica de Análises
muscular possui de exercer tensão através de um esforço voluntário de Medidas Repetidas (Norman & Streiner, 1994) e apresentados

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 61

sob a forma tabular. Resultados: os principais resultados são apre- análise de variância a dois fatores (grupo e tempo) com medidas
sentados na Tabela I: repetidas no segundo fator. Quando encontrada diferença a partir
da ANOVA, foi realizado o teste de Tukey. O nível de significância
Tabela I - medidas descritivas e resultado do teste estatístico do teste estabelecido foi de 5% em todas as análises. As mulheres foram
de flexão dos cotovelos segundo momentos de avaliação. instruídas a manterem sua dieta habitual durante a realização do
estudo. Não houve efeito da ordem de execução dos exercícios
Medida Momentos De avaliação (p-valor)
sobre o peso corporal (F1,18 = 0,65: p = 0,43). Também não ocorreu
Descritiva M1 M2 M3 M4 efeito de interação entre os fatores (grupo e momento da men-
Valor mínimo 36 36 40 35 suração). Contudo, houve uma tendência ao aumento da massa
1.o quartil 50 50 53 52 corporal quando os grupos foram analisados conjuntamente no
Mediana 55 51 59 57 período proposto (Pré = 66,5 ± 11,6 kg; Pós = 67,1 ± 11,0 kg;
3.o quartil 69 59 64 62
F1,18 = 4,02: p = 0,059). Não houve efeito da ordem de execução
dos exercícios sobre o percentual de gordura (F1,18 = 8,73: p =
Valor máximo 76 72 77 74
0,99) e não ocorreu efeito de interação entre os fatores (grupo e
Média 57.1 b 53.5 a 58.8 c 57.6 b p <0.001 momento da mensuração), mas houve diminuição do percentual
Desvio-padrão 9.2 6.4 7.0 6.8 de gordura quando os grupos foram analisados conjuntamente no
período proposto (Pré = 29,9 ± 5,2%; Pós = 28,7 ± 5,6%; F1,18 =
Conclusão: Os valores médios apontam: i) queda significativa no 13,55: p = 0,0017). Portanto, os resultados encontrados indicam
momento M2 em relação aos demais, revelando os menores índices que a ordem de execução não interfere na composição corporal
de força no período; ii) o momento M3 apresentou situação inversa, de mulheres adultas. Contudo, deve-se considerar que o tempo
mostrando superioridade aos demais momentos e, por fim, tais dados de condicionamento (seis semanas) foi bastante reduzido.
indicam para possíveis aprimoramentos na elaboração e controle dos
programas de treinamento físico que visam o desenvolvimento da Efeito do aquecimento em tarefas
força de membros superiores em cadetes. anaeróbias
Panissa V, Julio UF, Samogin F, Mazzo E, Mola D,
Efeitos dos exercícios de força e aeróbio Franchini E
sobre composição corporal de mulheres: Grupo de Pesquisas em Fisiologia do Exercício da Faculdade
influência da ordem de execução de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie
Batista FR, Julio UF, Becker AM, Sebastião LL, Franchini E - Barueri, SP
Grupo de Pesquisas em Fisiologia do Exercício da Faculdade emersonfranchini@hotmail.com
de Educação Física da Universidade Presbiteriana Mackenzie
- Barueri, SP O aquecimento tem sido proposto para melhoria do desem-
emersonfranchini@hotmail.com penho em diversos tipos de atividade. Contudo, existe dúvida
quanto à sua efetividade, especialmente para tarefas anaeróbias.
O treinamento aeróbio intensifica a perda de gordura, porém Os resultados conflitantes têm sido atribuídos à ausência de
pode não impedir a perda de massa magra. O treinamento de controle de aspectos importantes na elaboração do aquecimen-
força, por outro lado, parece minimizar esta perda, porém não to: intensidade e tempo do aquecimento, tempo de intervalo e
intensifica a perda de gordura. A combinação do trabalho aeróbio metabolismo predominante (alático ou glicolítico) da tarefa a ser
e de força pode garantir uma concomitante perda de gordura executada (Bishop, 2003). Para atividades de curta duração, tem
e manutenção da massa magra. Contudo, a melhor ordem de sido sugerido que o aquecimento seja feito a aproximadamente
execução dos exercícios tem sido discutida. O objetivo deste es- 60% do VO2máx, com duração de cinco minutos e intervalo em
tudo foi verificar se a ordem de execução dos exercícios promove torno de cinco minutos entre o final do aquecimento e o início do
diferenças na composição corporal. Participaram desse estudo 20 exercício. No entanto, nem sempre os profissionais de Educação
mulheres adultas, previamente sedentárias, que concordaram em Física e Esporte dispõem dos valores de VO2máx dos indivíduos
participar voluntariamente após leitura e assinatura de um termo para a estruturação adequada da intensidade do aquecimento.
de consentimento informado. As mulheres foram divididas, de Nesse sentido, o presente estudo teve como objetivo verificar o
forma contrabalançada, em dois grupos: aeróbio + força (n = efeito do aquecimento sobre o desempenho em duas tarefas ana-
10) e força + aeróbio (n = 10). O treino aeróbio consistiu em 30 eróbias de predominância alática (salto vertical e potência de pico
minutos em esteira rolante a 70% da FC de reserva, enquanto o no cicloergômetro de membros superiores). Para os testes de salto
treino de força consistiu de 10 exercícios (cadeira extensora, mesa participaram 24 pessoas, enquanto para o teste de potência de pico
flexora, legpress 45º, gêmeos em pé, puxada costas, supino reto ar- participaram 12 sujeitos. Todos os sujeitos tinham entre 20 e 30
ticulado, elevação lateral, pulley tríceps, rosca direta e abdominais), anos de idade e concordaram em participar voluntariamente do
divididos em 3 séries de 10 repetições máximas com intervalos estudo após leitura e assinatura de um termo de consentimento
de 40s. As sessões foram realizadas três vezes por semana em dias informado. O aquecimento foi estruturado com base na freqüência
alternados. Antes e após seis semanas de condicionamento físico cardíaca, utilizando 60% da freqüência cardíaca de reserva, envol-
os grupos foram comparados quanto às variáveis antropométricas vendo cinco minutos de exercício em cicloergômetro de membros
(peso, altura, e circunferências) e de composição corporal (peso inferiores para o grupo que executou o salto ou exercício em ciclo-
magro e peso gordo), estimada pela equação de Jackson, Pollock ergômetro para membros superiores para o grupo que executou
e Ward (1980). Os grupos foram comparados através de uma a tarefa com membros superiores. O tempo de intervalo adotado

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62 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

entre o aquecimento e o início da tarefa foi de cinco minutos. A taxa de ganho ponderal (%) foi calculada da seguinte forma: (peso
ordem das situações com e sem aquecimento foi aleatória. A altura final x 100 / peso inicial) – 100. A ingestão alimentar representou
de salto foi determinada no Jump Test por meio de três saltos com a quantidade de ração ingerida por cada rata em cada dia de expe-
intervalo de um minuto, sendo considerado apenas o maior valor. riência e foi calculada a partir da fórmula: (ração disponibilizada
A potência de pico no cicloergômetro M4100 (Cefise) era o valor – sobra da ração / n do grupo) / número de dias. A análise estatística
mais elevado atingido durante um tiro de oito segundos com (GraphPad InStat) com o ANOVA indicou diferença significativa
carga de 5% da massa corporal. As situações foram comparadas entre as médias dos grupos nas duas variáveis avaliadas (p = 0.0140
através de um teste “t” de Student para amostras dependentes. Os para a taxa de ganho ponderal e p < 0.0001 para a ração ingerida).
valores apresentados são média ±desvio padrão e o nível de signi- O grupo que teve maior aumento de peso foi o grupo Esteira 1
ficância adotado foi de 5%. O desempenho no salto foi maior (t (aumento em 70% ) e o que apresentou menor aumento ponderal
= -7,01; gl = 23; p < 0,001) na situação após aquecimento (41,4 foi o grupo US (47.76% do peso inicial). Os grupos controles (OVX
± 9,3 cm) em relação à situação sem aquecimento prévio (38,5 e Pseudo-OVX) apresentaram taxas de ganho ponderais mais baixas
± 8,9 cm). Para a potência de pico não foi identificada diferença que todos os grupos de exercício físico, indicando que provavelmente
significante (t = -1,55; gl = 11; p = 0,149) entre as duas situações o ganho muscular tem influência nesta variável e esta não representa
(aquecimento = 4,45 ±1,62 W/kg; sem aquecimento = 4,23 ±1,62 fidedignamente o aumento de peso por conseqüência da ausência de
W/kg). O aumento da altura de salto em 7% é similar ao relatado hormônios isoladamente. Esses mesmos grupos controles foram os
na literatura e parece ser resultado do aumento da temperatura que apresentaram maior consumo alimentar, 2 gramas a mais por
corporal e da atividade enzimática (Bishop, 2003). A ausência rata por dia em comparação aos outros grupos. Para uma melhor
de diferença para o desempenho com membros superiores pode elucidação do assunto propõe-se diferenciar em um próximo estudo,
ser conseqüência de uma elevação insuficiente da temperatura a massa magra da massa gorda.
central em decorrência da pequena massa muscular envolvida no
procedimento de “aquecimento”. Os avanços do treinamento intervalado:
perspectiva histórica
Respostas alimentar e ponderal de Sasa Y, Calvo AP, Matthiesen SQ
ratas ovariectomizadas submetidas ao Universidade Estadual Paulista – UNESP - Rio Claro, SP
exercício físico e ao tratamento ultra- yumisachs@yahoo.com.br
sônico
Haach LCA, Parada S, Camilo CC, Malaman TAB, Bannitz Introdução: o método de treinamento intervalado (TI) origi-
GO, Terukina GA, Oliveira GP, Rollo JMDA, Shiguemoto nou-se na Alemanha em 1939 pelo fisiologista Woldemar Gerschler
GE que aplicou uma forma de trabalho evoluída do método finlandês
Universidade Federal de São Carlos, Laboratório de Fisiologia de treinamento de corridas de fundo na qual a resistência obtida
do Exercício - São Carlos, SP através dos percursos longos era potencializada pela introdução
de corridas de velocidade intercaladas com períodos de descansos
lourdes_fisioterapeuta@hotmail.com,
ativos e moderados. Em 1952, o TI teve sua concepção científica
formulada pelo fisiologista alemão Herbert Reindell em parceria
Estudos em modelos animais para perda óssea são importantes,
com Gerschler e, desde então, sofreu constantes modificações.
pois a osteoporose é um dos maiores problemas de saúde pública
Objetivo e justificativa: os avanços tecnológicos tornaram o TI
atualmente. Além de acarretar em ônus ao portador da doença, ela
diferente quando comparado à sua primeira versão (versão de Gers-
é responsável pelo gasto de milhões dos cofres públicos. Diversos
chler), desta forma, surge o interesse de investigar o modo como
tratamentos são propostos, entre eles os medicamentosos, o exercí-
estas alterações ocorreram ao longo destes anos até a atualidade.
cio físico e mais atualmente, o uso do ultra-som pulsado de baixa
Método: a partir de revisão bibliográfica de aspectos fisiológicos,
intensidade. O objetivo deste estudo é comparar os efeitos de dois
este estudo visou vincular tais dados coletados com as datas e os
tratamentos, o exercício físico e o ultra-som, na taxa de ganho
períodos que acentuaram as respectivas evoluções desse método
ponderal e na ingestão alimentar de ratas ovariectomizadas. Foram
de treinamento desde sua criação. Resultados: o TI foi utilizado,
utilizadas 56 ratas Wistar com idade inicial de 2 meses, subdivididas
inicialmente, como método de treinamento para o desenvolvimen-
em 8 grupos: 1) OVX – ratas ovariectomizadas (OVX), sedentárias
to da resistência anaeróbia lática, os estímulos variavam de 200
e sem tratamento com ultra-som pulsado de baixa intensidade(US),
a 300m. No fim da década de 40, foi utilizado para desenvolver,
2) Pseudo-OVX – ratas submetidas à intervenção cirúrgica mime-
principalmente, a resistência aeróbia. Os estímulos usados eram de
tizando a ovariectomia (sem a retirada dos ovários), sedentárias e
200 e 400m, chegando até 70 repetições por sessão de treinamento
sem tratamento com US; 3) US – ratas OVX submetidas ao US
2 com pausa ativa (caminhas e trotes) de aproximadamente 60”.
(Freqüência: 1,5 MHz e intensidade: 40 mW/cm ) no joelho direito
Já na década de 50, após validação científica, foi utilizado tanto
(6 sessões de 20 minutos semanais por 12 semanas); 4) SHAM – ratas
para o desenvolvimento da resistência aeróbia, como anaeróbia
OVX submetidas a mesma manipulação do grupo US, mas sem a
lática e alática. A freqüência cardíaca deveria variar entre 120 e
emissão de ondas ultrasônicas; 5) Esteira 1 – ratas OVX submetidas
180bpm para a capacidade cárdio-pulmonar obter máximo do
a caminhada em esteira (15 m/min); 6) SALTO – ratas OVX subme-
seu rendimento. Os estímulos eram de 100 a 200m com duração
tidas a treino resistido em água; 7) Esteira 2 – ratas OVX submetidas
máxima de 1min cada, com repetições que podiam chegar a 100
a caminhada (20 m/min) e; 8) Esteira 3 – ratas OVX submetidas a
por sessão. A pausa ativa entre os estímulos variava entre 45” a
treino resistido dinâmico na caminhada (treino intervalado, veloci-
60”. No fim da década de 60, as cargas e intervalos eram dosados
dade crescente, inclinação e sobrecarga). Todos os exercícios tiveram
de acordo com o sistema energético que se desejava desenvolver,
protocolo de 3 sessões semanais de 40 minutos por 12 semanas. A

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 63

as pulsações deveriam obedecer apenas ao limite de 180 bpm, as atletas antes e após uma competição de
pausas, geralmente ativas, variavam de 30” a 60”. Na década de triathlon
70, o TI era visado, principalmente, para o desenvolvimento da Bürger-Mendonça M
resistência anaeróbia juntamente com outros meios de preparação
Unesa - Petrópolis, RJ
física. Nesta época, surge a diferenciação do TI realizado com
marcosburger@gmail.com
intervalos de longa ou curta duração, somente com pausas ativas.
Na década de 80, o TI apresentava-se em mais de 6 variações. Os
estímulos variavam de 100 a 1.500m e as repetições variavam de Nos últimos 20 anos tem se dado muita importância ao ferro, em
10 a 100 por sessão. O intervalo era divido entre pausa passiva relação a sua dinâmica e na performance de atletas tanto amadores
e ativa com total de 120” a 600”. Atualmente, o TI é altamente como profissionais. O ferro é o metal mais abundante de transição
utilizado e indicado para treinar a resistência aeróbia. No entanto, no organismo, e é também o mineraltraço mais abundante no me-
a intensidade e duração dos estímulos devem ser ajustadas aos tabolismo celular. O ferro é um elemento essencial na utilização do
objetivos energéticos específicos e sua aplicação alcançou outros oxigênio pelo organismo, bem como componente na constituição
esportes como ciclismo, natação e ginástica. Discussão e conclu- da hemoglobina, da mioglobina, desidrogenases, citocromos e de
são: os dados obtidos mostram que o TI tornou-se um método algumas enzimas mitocôndriais. Durante a atividade física intensa
altamente avançado devido à especificidade que cada um de seus ocorrem alterações nos eritrócitos que levam à sua ruptura (hemólise).
componentes conquistou e ampliou sua função, visto que, abrange A ocorrência de hemólise intravascular tem sido atribuída às moda-
não somente o desenvolvimento anaeróbio lático. Hoje, não é mais lidades esportivas de impacto como a corrida, porém, sabe-se que
aplicado isoladamente, mas em conjunto com outros métodos de modalidades de baixo impacto como a natação e o ciclismo apresentam
treinamento. Com exceção do intervalo misto (ativo e passivo, também hemólise gerando a liberação dos íons ferro para o sangue.
numa mesma sessão), todos os componentes (distância, tempo Quando livre no organismo o ferro reage com o oxigênio formando
e repetições dos estímulos) começaram a sofrer modificações no radicais livres capazes de danificar as membranas celulares e alterar o
final da década de 60. DNA. O objetivo deste trabalho foi verificar os valores de íons Fe2+
em atletas antes e após uma competição de triathlon. A amostra foi
composta por seis voluntários do sexo masculino, sendo esses atletas
Ausência de hipocalemia em prova de amadores com idade média de 27 ± 6 anos, praticantes de triathlon
triathlon meio-ironman a pelo menos um ano e com experiência previa em provas de longa
Bürger-Mendonça M, Retondaro F duração. Os Integrantes do experimento foram submetidos a duas
Unesa - Petrópolis, RJ coletas de aproximadamente 25 ml de sangue, após jejum de oito
marcosburger@gmail.com horas, no período entre 6 e 7 horas na residência dos voluntários (t=
0) na posição sentada e imediatamente ao termino da prova de cada
O potássio é o cátion de maior concentração nos líquidos intra- atleta, sendo esta coleta realizada na tenda médica do evento. Para
celulares. A deficiência de potássio (hipocalemia/hipopotassemia) análise estatística foi utilizado o software SPSS (Statistical Package for
prejudica a função neuromuscular, tendo como sinais clínicos Social Sciences) versão 11.0 (Chicago, IL, USA, 2001), foi aplicado
fadiga, fraqueza muscular, especialmente nos membros inferiores. o teste T-student para a mesma amostra, tendo como valor para p ≤
Este estudo teve o objetivo de verificar os valores de potássio antes e 0.05 aceito como significante. O tempo médio da prova realizada foi
após uma competição de triathlon. A amostra foi composta por seis de 4:23:24 ± 0:28:04 horas. Os valores individuais do ferro variaram
voluntários do sexo masculino, sendo estes, atletas amadores com de 58,00 a 141,00 mg/dl em T = 0 e de 100 a 201 mg/dl em T = 1 e
idade média de 27 ± 6 anos, praticantes de triathlon pelo menos os valores médios foram de 80,36 ± 30,68 mg/dl em T = 0 e 124,50
há um ano e com experiência prévia em provas de longa duração. ± 38,07 mg/dl em T = 1. Estes resultados apresentaram um aumento
Para análise estatística, foi utilizado o software SPSS (Statistical estatisticamente significante (P = 0,000), revelando um aumento
Package for Social Sciences), versão 11.0 (Chicago, IL, USA, 2001), de 58,25% em relação aos valores do ferro pré e pós-competição.
foi aplicado o teste T-student para a mesma amostra, tendo como Concluímos que ocorreu um aumento significativo na concentração
valor para P ≤ 0.05 aceito como significante. A análise bioquímica plasmática de ferro após a competição. Dados da literatura nos per-
potássio foi realizada por um fotômetro de chama modelo 410 mitem considerar que este aumento provavelmente ocorreu devido
(Sherwood, Cambridge, Reino Unido). Os resultados individuais à hemólise dos eritrócitos.
foram comparados com o repouso, ou seja, os atletas foram os seus
próprios controles para os parâmetros analisados. O tempo médio Determinação do limiar anaeróbio em
da prova realizada foi de 4:23:24 ± 0:28:04 horas. Os valores indi- ratos sedentários
viduais do potássio variaram de 3,81 a 4,56 mmol/L em T = 0 e de Vieira WHB, Stotzer US, Freitas SP, Costa FC, Santos GM,
3,78 a 5,38 mmol/L em T = 1 e os valores médios foram de 4,1783
Góes R, Parizotto NA, Perez SAP, Baldissera V
± 0,2632 mmol/L em T = 0 e de 4,4750 ± 0,5585 mmol/L em T
UFSCAR - São Carlos, SP
= 1. Estes resultados, embora não estatisticamente significantes (P
= 0,285), revelaram um aumento de 7,40% em relação aos valores parizoto@power.ufscar.br
do potássio pré e pós-competição. Concluímos que houve um au-
mento estatisticamente insignificante na concentração de potássio. O limiar anaeróbio (LA) consiste no ponto de inflexão da curva
Nenhum voluntário apresentou quadro de hipocalemia, e todos os de lactato sérico em relação à carga de exercício, quando determinado
valores permaneceram dentro da faixa de normalidade. pela lactacidemia. Esse tem sido utilizado como indicador de capa-
cidade oxidativa, apresentando uma grande aplicabilidade prática
na avaliação e prescrição de um determinado treinamento físico. No
Comparação dos valores de íons fe2+ em

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64 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

entanto, estudos em animais investigando o LA são pouco freqüen- Para comparação das concentrações de uréia e creatinina no soro
tes, bem como, a base fisiológica do LA não se encontra totalmente e na urina nos diferentes períodos de treinamento foi utilizado
esclarecida. O propósito desse estudo foi determinar o LA de ratos o teste Anova-one way. Além disso, utilizamos a correlação de
sedentários (não treinados) em esteira. Foram utilizados na pesquisa Pearson para visualizar as correlações entre as substâncias no soro
12 ratos machos da raça Wistar pesando inicialmente 100g, os quais e na urina. Os dados estão expressos em média ± desvio padrão
foram alojados em gaiolas coletivas a 22-27ºC com fotoperíodo e o nível de significância adotado foi de 5%. A concentração
de 12 horas de claro e 12 de escuro e receberam ração peletizada e sérica de creatinina aumentou significativamente em T3 (1,59 ±
água ad libitum. Os animais permaneceram em repouso durante 0,57 mg/dL) quando comparada a T1 (1,11 ± 0,40 mg/dL) e T2
um período de 5 semanas. No entanto, estes foram submetidos a (1,22 ± 0,30 mg/dL). Já, a concentração de creatinina na urina
um teste de esforço crescente, em degraus descontínuos (Balke), foi significativamente maior em T1 (269,89 ± 109,83 mg/dL)
pré e pós o período de 5 semanas, totalizando duas avaliações, para quando comparada a T2 (163,03 ± 65,73 mg/dL) e T3 (108,33
a obtenção de amostras de sangue visando a determinação do LA. ± 38,26). Houve correlação significativa entre as concentrações
Para a dosagem do lactato sanguíneo utilizou-se um lactímetro YSI de creatinina no soro e urina apenas em T3 (r=0,70). Quanto às
model I500 Sport Lactate Analyzer. A análise estatística foi reali- concentrações de uréia, apenas a urinária apresentou diferença
zada através dos testes de Shapiro Wilks e Test t Student. O nível significativa em T1 (2057,30 ± 729,42 mg/dL) comparadas a T2
de significância foi considerado (p ≤ 0,05). Após o período de 5 (930,13 ± 457,60 mg/dL) e em T2 comparadas a T3 (1859,19 ±
semanas não houve modificação no LA (de 20,11 ± 2,67 m/min 480,12). Houve correlação significativa entre as concentrações de
para 20,55 ± 4,67 m/min – p = 0,7287), na velocidade máxima da uréia no soro e urina apenas em T2 (r=0,64). Podemos concluir
corrida (de 28,56 ± 3,12 m/min para 30,34 ± 2,82 m/min – p = que somente a utilização da creatinina e da uréia não é suficiente
0,103) e na lactacidemia durante o LA (p = 0,3078). Esses dados para estudar as possíveis adaptações ao treinamento. Além disso,
sugerem que alterações na lactacidemia durante o teste de esforço, em devido a complexidade do método de coleta de urina de 24 horas é
ratos sedentários, permitem a determinação do LA, no entanto sem possível concluirmos que esse não é um procedimento aconselhável
modificações das condições de linha de base, diferentemente do que para ser desenvolvido com atletas.
normalmente ocorre em ratos treinados conforme retrata a literatura
científica. Estudos envolvendo o LA tornam-se importantes para o Demanda metabólica e ventilatória,
melhor entendimento de suas bases fisiológicas. oxigenação e dispnéia durante teste do
degrau e teste de caminhada na doença
Resposta das concentrações séricas pulmonar obstrutiva crônica
de creatinina e uréia em futebolistas Marmorato D, Di Lorenzo VP, Marrara K, Regueiro E,
profissionais: relações com as excreções Jamami M, Sampaio L, Negrini F
urinárias Centro Universitário de Araraquara - UNIARA Laboratório de
Silva ASR, Santhiago V, Santos FNC, Gobatto CA Espirometria e Fisioterapia Respiratória - UFSCAR
Departamento de Educação Física, Instituto de Biociências, diego.marmorato@itelefonica.com.br
UNESP - Rio Claro, SP
adelinosanchez@hotmail.com Introdução: O Teste do Degrau de 5 minutos (TD5) e o Teste
de Caminhada de 6 Minutos (TC6) são utilizados para avaliar a
O aumento das concentrações séricas de creatinina e uréia tolerância aos esforços em pacientes com Doença Pulmonar Obs-
tem sido associado com a adaptação negativa ao treinamento trutiva Crônica (DPOC) que apresentam limitação ao exercício
físico. Dessa maneira, o objetivo do presente estudo foi verificar físico (RIBEIRO et al., 1994). Objetivos: Analisar o comportamento
o comportamento das concentrações séricas de creatinina e uréia da demanda metabólica e ventilatória, além de verificar a presença
em resposta a uma periodização desenvolvida em futebolistas pro- de dessaturação (diminuição da Saturação periférica de oxigênio
fissionais. Além disso, procuramos correlacionar as concentrações (SpO2) ≥ 5%) e a sensação de dispnéia no pico do TD5 e TC6, e
de creatinina e uréia no soro com as concentrações das mesmas compará-las com a situação basal em portadores da DPOC. Material
substâncias na urina. Para tanto, participaram 12 futebolistas e métodos: Incluiu-se 20 indivíduos de ambos os sexos, acima de 50
profissionais filiados à Federação Paulista de Futebol (médias de anos de idade, com DPOC (grau de obstrução moderado a grave),
22,5 anos; 181,31 cm; 73,51 kg e 8,22%G). Os futebolistas foram avaliandose consumo de oxigênio (VO2), produção de dióxido de
avaliados no início (semana 0, T1), meio (semana 6, T2) e fim carbono (VCO2), ventilação pulmonar (VE), SpO2 e sensação de
(semana 12, T3) de uma periodização específica. Foram coletados dispnéia durante a realização do TD5 e TC6, com intervalo de 30
5 mL de sangue através de venipuntura utilizando sistema à vácuo minutos entre eles. Resultados: Quanto a VE, VO2, VCO2 e sensação
e materiais descartáveis para determinação das concentrações de de dispnéia observou-se aumento significativo (Wilcoxon, p < 0,05)
creatinina (método de Larsen) e uréia (método de Crocker Modifi- do início para o término do TD5 e TC6, e ao comparar as situações
cado) no soro. Para determinação das concentrações de creatinina basal, TD5 e TC6 verificou-se aumento significativo (Friedman, p <
(método de Lutgarten e Wenk Modificado) e uréia (método de 0,05) durante TD5 e TC6 em relação a situação basal, entretanto,
Crocker Modificado) na urina, os atletas foram instruídos a des- apenas VE e VCO2 mostraram valores significativamente maiores no
prezarem a primeira urina do dia e a partir deste momento até TC6 em relação ao TD5 no pico do teste. A demanda ventilatória em
24 horas depois, toda urina eliminada foi coletada e armazenada relação à VVM obtida (%VVM) apresentou valores elevados durante
em garrafas plásticas de 2 litros com o auxílio de um funil. O TD5 e TC6. Em ambos os testes a SpO2 mostrou diminuição signi-
volume de urina foi mensurado e as garrafas foram mantidas em ficativa do início para o término de cada teste. Conclusão: Conclui-se
geladeira até o momento da análise que ocorreu no mesmo dia. que tanto TD5 quanto TC6 proporcionou elevações dos níveis de

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 65

VE, VO2, e VCO2 acima de 50% da situação basal durante ambos A influência da natação sobre a força
os testes, além de mostrarem-se sensíveis na detecção da dessaturação muscular respiratória em idosos
e sensação de dispnéia em indivíduos portadores de DPOC com Silva GA, Martins LA, Faria VAM
grau de obstrução de moderada a grave, podendo ser aplicados na
Fundação Municipal de Educação e Cultura de Santa Fé do
prática clínica para avaliar a tolerância ao exercício.
Sul, SP
*Estudo realizado com a anuência dos pacientes de acordo com
a resolução 196/96 do CNS. glacr2003@yahoo.com.br

Introdução: O envelhecimento é um fenômeno fisiológico


Comportamento da ventilação pulmonar
observado há vários anos em países desenvolvidos ou em desen-
e consumo de oxigênio durante volvimento. No processo de envelhecimento ocorrem alterações
diferentes atividades de vida diária fisiológicas nos diversos sistemas, que variam de pessoa para pessoa.
Marmorato D, Marrara K, Mendes M, Jamami M, Di O sistema respiratório, entre todos os sistemas orgânicos, é o que
Lorenzo VP sofre as maiores perdas funcionais fisiológicas, condicionadas pela
Universidade Federal de São Carlos-UFSCAR - São Carlos, SP idade. Devido ao processo degenerativo em nível osteoarticulares,
diego.marmorato@itelefonica.com.br a caixa torácica torna-se mais rígida (Geis 2003). A perda de força
muscular com o envelhecimento resulta em um fenômeno deno-
Introdução: As atividades de vida diária (AVD) em indivíduos minado na literatura como sarcopenia, definido por Evans (1993)
com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), envolvendo como o decréscimo da capacidade neuromuscular decorrente do
tanto os membros superiores (MMSS) quanto os inferiores (MMII), avanço da idade. O trabalho mecânico da respiração é feito pelos
têm sido reproduzidas na prática clínica como forma de avaliar as músculos respiratórios, realizando um processo cíclico de entrada
respostas fisiológicas ao esforço físico, subsidiando programas de e saída de ar dos pulmões (Aires 1999), objetivando assim, uma
tratamento fisioterapêutico. Objetivos: Avaliar o comportamento constante renovação de gás alveolar, por isso, esses músculos devem
da ventilação pulmonar (E) e consumo de oxigênio ( O2) durante estar em condições de força e endurance. Para Azeredo (1993), em
AVD envolvendo os membros superiores e inferiores, comparadas a pessoas de ambos os sexos, a partir dos 20 anos de idade ocorre
situação basal (B), em indivíduos com DPOC e saudáveis, bem como um decréscimo de 0,5 cmH2O ao ano. Tendo como resultado a
compará-las entre os mesmos. Material e métodos: Foram avaliados fraqueza, a fadiga e a falência muscular respiratória, que podem
22 indivíduos do sexo masculino: 13 com DPOC (obstrução mo- ser correlacionadas e diagnosticadas com a mensuração criteriosa
derada a grave, Grupo 1 (G1); 72 ± 6,6 anos) (Pereira et al., 2002) e sistemática da Pi máx e Pe máx. Objetivo: Este estudo teve como
e 9 saudáveis (Grupo 2 (G2), 65 ± 6 anos), através de um sistema objetivo, verificar qual é a influência da natação sobre a força
metabólico modelo VO2000 operado via computador pelo software muscular respiratória, através dos valores médios das pressões
Aerograph para análise da E e O2 durante as atividades de apagar respiratórias em indivíduos idosos praticantes de natação idosos.
lousa (L), elevar peso de 5 Kg acima da cabeça (O), subir degrau Materiais e métodos: Participaram do estudo, três pessoas com
(D) e caminhar (C), com duração de 5 minutos cada. Resultados: idade entre 60 e 74 anos do sexo feminino, que apresentaram
Ao realizar a análise intragrupo quanto a E e O2 constatou-se que biótipos diferentes. Após o período introdutório as aulas foram
durante as atividades essas variáveis mostraram-se significativamente desenvolvidas com um volume moderado e intensidade baixa, elas
maiores (Friedman ANOVA, p≤0,05) que os valores basais para G1 aconteceram 2 vezes por semana, com período de 1 hora, durante
e G2, havendo diferença significativa entre as atividades para ambos 2 meses consecutivos. As aulas foram divididas em: aquecimento,
os grupos. A E e O2 para G1 mostrou-se significativamente maior desenvolvimento principal e volta à calma com alongamento. Neste
(Newman-Keuls, p ≤ 0,05) nas atividades D e C vs L e O. Em relação estágio, foi dado ênfase em tiros intervalados de 7,5 metros com
a E para G2 evidenciou-se comportamento semelhante ao G1, mas intervalos variando entre 20 a 60 segundos. A piscina utilizada
o O2, mostrou-se significativamente maior na atividade C vs L, O e era aquecida e media 12 metros de comprimento, 7.5 metros de
D. Na análise intergrupos verificou-se diferença significativa da E em comprimento e com profundidade variando de 1 a 1.80 metros.
B e L (Mann-Whitney, p ≤ 0,05), sendo maiores para G1. Quanto As pressões respiratórias máximas foram mensuradas através do
ao O2, houve diferença significativa em B e durante a atividade C, manuvacuômetro devidamente calibrado, onde, foi selecionada
sendo que G1 mostrouse significativamente maior que G2 na situ- para o trabalho a melhor de 03 manobras reprodutíveis tanto da
ação B, e na C o G2 mostrou-se significativamente maior que G1. Pi máx como da Pe máx. Resultados: A Pimáx apresentou melhora
Conclusão: De acordo com os resultados obtidos conclui-se que as significativa, quando comparamos os resultados da avaliação entre
atividades de MMSS com e sem sobrecarga, ou que envolveram os o pré-treino e pós-treino, em que obtivemos -113,33cmH2O na
membros inferiores acarretaram maior requerimento metabólico e pré-treino e -146,66120cmH2O na pós-treino, com um aumento
ventilatório comparados à situação basal para ambos os grupos. A de 29,41% . Analisando a Pemáx, observou-se que, o grupo apre-
maior demanda metabólica para os indivíduos saudáveis na atividade sentou melhora significativa quando comparamos os resultados da
C foi desencadeada pela maior velocidade tolerada na caminhada. avaliação entre a pré-treino e a pós-treino 28.58% onde, obtivemos
No caso do G1 (DPOC) a maior demanda ventilatória e metabólica 93,33cmh2Ona pré-treino e 120 cmH2O na pós-treino. Conclusão:
já na situação basal e L, sugere recrutamento da musculatura da Com o presente estudo conclui-se que o treinamento de natação
cintura escapular e dessincronia do movimento tóraco-abdominal proposto aumenta significativamente a força da musculatura res-
para executar o trabalho respiratório. piratória em indivíduos idosos.
*Estudo realizado com a anuência dos pacientes de acordo com
a resolução 196/96 do CNS.

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66 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Comportamento agudo da pressão Laboratório de Exercício Resistido (LABER) – FIB, Grupo de


arterial em exercícios resistidos, com Estudos e Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER) -FIB.
sobrecargas para o desenvolvimento da mari_cepaf@hotmail.com
resistência muscular
Silva MM**, Silva GKA**, Silva CL*, Biazon F*, Silva L*, A competitividade das empresas faz com que a busca pelo
Silva LP**, Souza DAP**, Gomes LS*, Barbosa CAG*** aumento da produtividade ocasione ritmos de trabalhos exaustivos
e jornadas prolongadas; associadas a ambientes ergonomicamente
*Alunos do Curso de bacharelado em Educação Física das
inadequados, provocando lesões em seus trabalhadores. A ler/dort
Faculdades Integradas de Bauru, ** Alunos de bacharelado é conceituada como uma síndrome clínica caracterizada por dor
em Educação Física das Faculdades Integradas de Bauru, crônica. Os sintomas surgem de movimentos intensos e repetitivos;
Grupo de Estudos e Pesquisas em Exercício Resistido da necessidade de ficar em determinada posição por longos períodos
(GEPER)-FIB, ***Centro de Estudos e Pesquisa em Atividade e de móveis e equipamentos inadequados. Associa-se a estes fatores
Física (CPAF)-FIB, Laboratório de Exercício Resistido o tempo insuficiente para a recuperação do tecido músculo-esquelé-
(LABER), Grupo de Estudos e Pesquisas em Exercício tico. A proposta de treinamento resistido para ler/dort faz parte do
Resistido (GEPER)-FIB “Projeto Perseverar” do Laboratório de Exercício Resistido (LABER),
mari_cepaf@hotmail.com das Faculdades Integradas de Bauru – FIB, e se destina a oferecer
o tratamento aos voluntários que comprovadamente possuem a
patologia mediante laudo médico ou diagnóstico por especialista da
As modificações no estilo de vida são fundamentais para o trata-
área. Atualmente conta com 10 participantes, sendo sete mulheres e
mento e prevenção primária da hipertensão arterial. Estas mudanças
três homens, com idade média de 42,3 ± 11,74 anos. Para a pesquisa
comportamentais estão indicadas em todos os hipertensos, inclusive
foi feita anamnese de saúde, medidas de circunferência corporal,
os idosos e indivíduos normotensos com alto risco cardiovascular.
dobras cutâneas, aferição da pressão arterial, medidas de peso e
De acordo com pesquisas realizadas, pode-se afirmar que os níveis
altura, e avaliação da força máxima unilateral em punhos, cotovelos
tensionais sobem durante o exercício, porém, sabe-se que o mesmo
e ombros, com a utilização de dinamômetro digital, modelo Force
realizado de forma sistemática contribui para a redução da pressão
Gauge FG-100KG-RS232, da marca Digital Instruments digital.
arterial. Sabemos também que a realização de exercícios físicos
As regiões mais afetadas nos participantes deste projeto são o coto-
desencadeia uma série de respostas fisiológicas nos vários sistemas
velo, ombros, punhos e dedos. Apenas dois voluntários apresentam
corporais e em particular no sistema cardiovascular. Os níveis de
lesões nos membros inferiores. Para a avaliação permanente dos
pressão arterial sobem durante o exercício físico, porém sabe-se que
resultados foi elaborada escala subjetiva de dor, para que seja feita
o mesmo praticado de forma regular e freqüente contribui para que
autoavaliação de manhã, tarde, noite e madrugada. O programa é
haja uma redução da mesma, tanto de forma aguda como crônica.
dividido em exercícios gerais e especiais, com aquecimento prévio
O objetivo do presente estudo foi verificar o comportamento agudo
de 15minutos em ergômetro, e alongamento geral e específico para
da pressão arterial no exercício resistido com sobrecargas para o
membros superiores. As atividades acontecem três vezes por semana
desenvolvimento da resistência muscular em pessoas com ler/dort.
no período vespertino, e a cada 12 treinos são realizados pós-testes.
A amostra foi composta de 5 pessoas de ambos os sexos, com idades
Este projeto está em andamento há seis semanas, e os participantes
entre 22 e 52 anos, normotensos, com ler/dort, cadastrados no pro-
já sentem diminuição da dor e alguns, após nova consulta médica,
jeto perseverar e participantes do programa de “ler/dort”, realizado
reduziram as doses farmacológicas.
no laboratório de exercícios resistidos das Faculdades Integradas de
Bauru, localizado na cidade de Bauru. Por se tratar de um grupo
com patologia específica, os exercícios resistidos foram divididos em Comparação da assimetria de coxas,
tronco e membros inferiores (treino geral) e membros superiores e força máxima e resistência de força na
cintura escapular (treino específico) com uma série de vinte repe- extensão unilateral de joelhos
tições para todos os exercícios. Os resultados revelaram que a PA De Sá VO*, Alves GB*, Euzébio CJ*, Carlos AC*, Silva
Sistólica foi de 120 ± 12,24 e Diastólica 76 ± 15,16 mmHg antes RM**, Barbosa CAG**
da realização do programa de treinamento e ao término 110 ±2 *Alunos do Curso de Bacharelado de Educação Física das
0 para Sistólica e 68 ±8,36 mmHg para Diastólica. Desta forma, Faculdades Integradas de Bauru-FIB,**Centro de Estudos
pôde-se observar efeitos hipotensivos agudos tanto na PA Sistólica
e Pesquisa em Atividade Física (CEPAF)-FIB, Laboratório
quanto Diastólica para sujeitos normotensos. Contudo, mais pes-
de Exercício Resistido (LABER)-FIB, Grupo de Estudos e
quisas devem ser realizadas para verificar situações hipotensivas em
indivíduos hipertensos. Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER)-FIB
virlausp@hotmail.com
Projeto LER/DORT: uma proposta de
treinamento resistido Os esportes necessitam de níveis apropriados de Força Muscular
(FM), devido a sua variabilidade de aplicações. A FM é dependente
Silva MM*, Silva GKA*, Silva LP*, Souza DAP*, Silva KR*,
da área de secção transversa do músculo; densidade, número e
Barbosa CAG diâmetro das fibras que contraem simultaneamente; velocidade de
*Alunos do curso de Bacharelado em Educação Física das condução e excitação das fibras; inibição das fibras musculares que
Faculdades Integradas de Bauru-FIB,Grupo de Estudos e não contribuem para o movimento; comprimento inicial dos mús-
Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER)-FIB, **Centro culos antes da contração, e eficiência da alavanca mecânica através da
de Estudos e Pesquisa em Atividade Física (CEPAF)-FIB, articulação. O objetivo deste estudo foi verificar o comportamento

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 67

da FM e Resistência de Força Muscular (RFM) unilateral em 1RM e Os saltos nos esportes são ações integrantes, com valores im-
15RM na extensão do Joelho Esquerdo (JE) e Direito (JD), compa- portantes em suas execuções. Encontram-se como resultados das
rados com as coxas de maior (CM) e menor (CMN) circunferências. aplicações de forças dinâmicas, contra a ação da gravidade. A força
Fizeram parte da pesquisa vinte adolescentes entre 14 e 16 anos de impulsão é caracterizada pelo movimento explosivo e tem na re-
praticantes de futebol, da Associação Desportiva da Polícia Militar da sistência externa a determinação da aceleração. O ato motor do salto
Cidade de Bauru. Anteriormente aos testes de RM foram realizadas vertical é realizado mediante as capacidades de força e velocidade,
medidas de circunferências das coxas. Os testes de 1RM e 15RM caracterizadas pela necessidade de superação rápida da resistência.
do JE e JD foram executados na Cadeira Extensora. Para o teste de Com avançadas tecnologias, os conhecimentos científicos estão mais
1RM e 15RM os joelhos iniciaram a 90º e considerada tentativa objetivos; possibilitando identificar e analisar variáveis específicas
falha quando não estendessem até 0º. Verificou-se que a assimetria que afetam ou favorecem o rendimento do salto. A força absoluta e
media foi de 2,6% entre a CM e CMN. Para o coeficiente de FM, relativa, tamanho do braço de alavanca, potência muscular, energia
o estudo revelou que a CM apresentou média 4,9% superior em elástica acumulada, peso corporal, coordenação motora, quantidade
relação a CMN. Para RFM a CM apresentou media 3,5% superior a de fibras de contração rápida e recrutamento de fibras musculares são
CMN. Encontrou-se ainda, percentual médio de carga entre 15RM fatores determinantes do salto vertical. O objetivo deste estudo foi
e 1RM de 69,8% para CM e de 67,5% para a CMN. Desta forma, verificar a influência da força isométrica máxima no pórtico, sobre
os dados acima se mostraram relevantes para a CM. Contudo, não os aspectos da potência muscular no salto vertical. A amostra foi
obtiveram proporcionalidade de 1RM para 15RM. Será necessário composta de sete pessoas, ambos os sexos, com idade entre 16-29
número maior de avaliações e novos testes para afirmar que a cir- anos, constituída por 3 atletas do caratê, 2 da natação, 1 do han-
cunferência tem influência sobre a FM e RFM. debol e 1 do jiu-jitsu. As coletas foram realizadas no laboratório de
exercício resistido das Faculdades Integradas de Bauru, localizados
Respostas agudas da sobrecarga em Bauru. Foi utilizada para aquecimento uma bicicleta ergomé-
máxima na potência muscular no salto trica. Após o aquecimento foram realizados 3 saltos verticais com
intervalo de 1,5 minuto. Dois minutos depois, foram realizados 6
vertical
segundos de força máxima isométrica na barra guiada, com ângulo
Sousa PAD*, Santos ZL*, Medrado RR*, Passerini KR*,
de 30º no joelho e novamente realizaram três saltos verticais, com
Amaral AR*, Contesini SRR, Francisco ER*, Silva PL* pausa de 1,5 minuto entre os saltos. Os resultados mostraram que
Barbosa CAG** a média dos 3 primeiros saltos foram inferiores (41,00 cm ± 16,83
*Alunos do Curso de Bacharelado de Educação Física das cm) aos dos 3 segundos saltos verticais (42,28 cm ± 17,89 cm).
Faculdades Integradas de Bauru-FIB, **Centro de Estudos Pode-se dizer que a Contração Isométrica máxima influenciou nos
e Pesquisa em Atividade Física (CEPAF)-FIB, Laboratório resultados do salto vertical, mesmo em atividade física aguda. Porém,
de Exercício Resistido (LABER)-FIB, Grupo de Estudos e mais pesquisas precisam ser realizadas para que os reais efeitos dos
Pesquisas em Exercício Resistido (GEPER)-FIB exercícios isométricos agudos sejam detectados.

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68 Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005

Normas de publicação Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício

A revista Fisiologia do Exercício é uma publicação com periodici- lise, e avaliação de artigos originais já publicados em revistas
dade quadrimestral e está aberta para a publicação e divulgação científicas. Todas as contribuições a esta seção que suscitarem
de artigos científicos das várias áreas relacionadas à Fisiologia interesse editorial serão submetidas à revisão por pares anôni-
do Exercício. mos.
Os artigos publicados em Fisiologia do Exercício poderão tam- Formato: Embora tenham cunho histórico, Revisões não ex-
bém ser publicados na versão eletrônica da revista (Internet) as- põem necessariamente toda a história do seu tema, exceto
sim como em outros meios eletrônicos (CD-ROM) ou outros quando a própria história da área for o objeto do artigo. O
que surjam no futuro. Ao autorizar a publicação de seus artigos texto deve conter um resumo de até 200 palavras em português
na revista, os autores concordam com estas condições. e outro em inglês. O restante do texto tem formato livre, mas
A revista Fisiologia do Exercício emprega o estilo Vancouver deve ser subdividido em tópicos, identificados por subtítulos,
(Uniform requirements for manuscripts submitted to biomedi- para facilitar a leitura.
cal journals, N Engl J Med 1997;336(4):309-15) preconizado Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as
pelo Comitê Internacional de Diretores de Revistas Médicas. legendas das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres, in-
As especificações podem ser encontradas no site do Interna- cluindo espaços.
tional Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), www. Figuras e Tabelas: mesmas limitações dos Artigos originais.
icmje.org. Literatura citada: Máximo de 50 referências.
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ticaeditora.com.br). A publicação dos artigos é uma decisão dos 4. Estudo de caso
editores, baseada em avaliação por revisores anônimos (Artigos São artigos que apresentam dados descritivos de um ou mais
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Contribuições a esta seção que suscitarem interesse editorial se-
1. Editorial rão submetidas à revisão por pares.
O Editorial que abre cada número da Fisiologia do Exercício Formato: O texto dos Estudos de caso deve iniciar com um
comenta acontecimentos recentes, inovações tecnológicas, ou resumo de até 200 palavras em português e outro em inglês. O
destaca artigos importantes publicados na própria revista. Ao restante do texto deve ser subdividido em Introdução, Apresen-
pedido dos Editores, a revista pode publicar uma ou várias Opi- tação do caso, Discussão, Conclusões e Referências.
niões de especialistas sobre temas de atualidade. Texto: A totalidade do texto, incluindo a literatura citada e as
legendas das figuras, não deve ultrapassar 10.000 caracteres, in-
2. Artigos originais cluindo espaços.
São trabalhos resultantes de pesquisa científica apresentando Figuras e Tabelas: máximo de duas tabelas e duas figuras.
dados originais de descobertas com relação a aspectos experi- Literatura citada: Máximo de 20 referências.
mentais ou observacionais. Todas as contribuições a esta seção
que suscitarem interesse editorial serão submetidas à revisão 5. Opinião
por pares anônimos. Esta seção publicará artigos curtos, de no máximo uma página,
Formato: O texto dos Artigos originais é dividido em Resumo, que expressam a opinião pessoal dos autores: avanços recentes,
Introdução, Material e métodos, Resultados, Discussão, Con- política de saúde, novas idéias científicas e hipóteses, críticas à
clusão, Agradecimentos e Referências. interpretação de estudos originais e propostas de interpretações
Texto: A totalidade do texto, incluindo as referências e as legen- alternativas, por exemplo. Por ter cunho pessoal, não será sujei-
das das figuras, não deve ultrapassar 30.000 caracteres (espaços ta a revisão por pares.
incluídos), e não deve ser superior a 12 páginas A4, em espaço Formato: O texto de artigos de Opinião tem formato livre, e
simples, fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as não traz um resumo destacado.
formatações de texto, tais como negrito, itálico, sobre-escrito, Texto: Não deve ultrapassar 5.000 caracteres, incluindo espa-
etc. O Resumo deve ser enviado em português e em inglês, e ços.
cada versão não deve ultrapassar 200 palavras. A distribuição Figuras e Tabelas: Máximo de uma tabela ou figura.
do texto nas demais seções é livre. Literatura citada: Máximo de 20 referências.
Tabelas: Recomenda-se usar no máximo seis tabelas, no forma-
to Excel ou Word. 6. Cartas
Figuras: Máximo de 8 figuras, em formato .tif ou .gif, com Esta seção publicará correspondência recebida, necessariamente
resolução de 300 dpi. relacionada aos artigos publicados na Fisiologia do Exercício
Literatura citada: Máximo de 50 referências. ou à linha editorial da revista. Demais contribuições devem ser
endereçadas à seção Opinião. Os autores de artigos eventual-
3. Revisão mente citados em Cartas serão informados e terão direito de
São trabalhos que expõem criticamente o estado atual do co- resposta, que será publicada simultaneamente. Cartas devem
nhecimento em alguma das áreas relacionadas à Fisiologia do ser breves e, se forem publicadas, poderão ser editadas para
Exercício. Revisões consistem necessariamente em síntese, aná- atender a limites de espaço.

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Revista Brasileira de Fisiologia do Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005 69

PREPARAÇÃO DO ORIGINAL Abaixo do resumo, os autores deverão indicar quatro pala-


vras-chave em português e em inglês para indexação do artigo.
1. Normas gerais Recomenda-se empregar termos utilizados na lista dos DeCS
1.1 Os artigos enviados deverão estar digitados em processador (Descritores em Ciências da Saúde) da Biblioteca Virtual da
de texto (Word), em página A4, formatados da seguinte manei- Saúde, que se encontra em http://decs.bvs.br.
ra: fonte Times New Roman tamanho 12, com todas as forma-
tações de texto, tais como negrito, itálico, sobrescrito, etc. 4. Agradecimentos
1.2 Tabelas devem ser numeradas com algarismos romanos, e Agradecimentos a colaboradores, agências de fomento e técni-
Figuras com algarismos arábicos. cos devem ser inseridos no final do artigo, antes das Referên-
1.3 Legendas para Tabelas e Figuras devem constar à parte, iso- cias, em uma seção à parte.
ladas das ilustrações e do corpo do texto.
1.4 As imagens devem estar em preto e branco ou tons de cin- 5. Referências
za, e com resolução de qualidade gráfica (300 dpi). Fotos e As referências bibliográficas devem seguir o estilo Vancouver.
desenhos devem estar digitalizados e nos formatos .tif ou .gif. As referências bibliográficas devem ser numeradas com algaris-
Imagens coloridas serão aceitas excepcionalmente, quando fo- mos arábicos, mencionadas no texto pelo número entre parên-
rem indispensáveis à compreensão dos resultados (histologia, teses, e relacionadas nas Referências na ordem em que apare-
neuroimagem etc.) cem no texto, seguindo as seguintes normas:
Livros - Sobrenome do autor, letras iniciais de seu nome, pon-
Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para to, título do capítulo, ponto, In: autor do livro (se diferente
(artigos@atlanticaeditora.com.br). O corpo do e-mail deve ser do capítulo), ponto, título do livro (em grifo - itálico), ponto,
uma carta do autor correspondente à editora, e deve conter: local da edição, dois pontos, editora, ponto e vírgula, ano da
(1) resumo de não mais que duas frases do conteúdo da con- impressão, ponto, páginas inicial e final, ponto.
tribuição (diferente do resumo de um Artigo original, por Exemplo:
exemplo); 1. Phillips SJ, Hypertension and stroke. In: Laragh JH, editor.
(2) uma frase garantindo que o conteúdo é original e não foi Hypertension: pathophysiology, diagnosis and management.
publicado em outros meios além de anais de congresso; 2nd ed. New-York: Raven Press; 1995. p.465-78.
(3) uma frase em que o autor correspondente assume a res-
ponsabilidade pelo conteúdo do artigo e garante que todos Artigos – Número de ordem, sobrenome do(s) autor(es), letras
os outros autores estão cientes e de acordo com o envio do iniciais de seus nomes (sem pontos nem espaço), ponto. Título
trabalho; do trabalha, ponto. Título da revista ano de publicação seguido
(4) uma frase garantindo, quando aplicável, que todos os de ponto e vírgula, número do volume seguido de dois pon-
procedimentos e experimentos com humanos ou outros tos, páginas inicial e final, ponto. Não utilizar maiúsculas ou
animais estão de acordo com as normas vigentes na Insti- itálicos. Os títulos das revistas são abreviados de acordo com o
tuição e/ou Comitê de Ética responsável; Index Medicus, na publicação List of Journals Indexed in Index
(5) telefones de contato do autor correspondente. Medicus ou com a lista das revistas nacionais, disponível no
site da Biblioteca Virtual de Saúde (www.bireme.br). Devem
2. Página de apresentação ser citados todos os autores até 6 autores. Quando mais de 6,
A primeira página do artigo traz as seguintes informações: colocar a abreviação latina et al.
Exemplo:
- Título do trabalho em português e inglês; Yamamoto M, Sawaya R, Mohanam S. Expression and loca-
- Nome completo dos autores e titulação principal; lization of urokinase-type plasminogen activator receptor in
- Local de trabalho dos autores; human gliomas. Cancer Res 1994;54:5016-20.
- Autor correspondente, com o respectivo endereço, telefone
e E-mail;
- Título abreviado do artigo, com não mais de 40 toques, para
paginação; Todas as contribuições devem ser enviadas por e-mail para:
Guillermina Arias
3. Resumo e palavras-chave E-mail: artigos@atlanticaeditora.com.br
A segunda página de todas as contribuições, exceto Opiniões, Atlantica Editora
deverá conter resumos do trabalho em português e em inglês. www.atlanticaeditora.com.br
O resumo deve identificar, em texto corrido (sem subtítulos), Rua da Lapa, 180/1103 - Lapa
o tema do trabalho, as questões abordadas, a metodologia em- 20021-180 Rio de Janeiro RJ
pregada (quando aplicável), as descobertas ou argumentações Tel: (21) 2221 4164
principais, e as conclusões do trabalho.

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