Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Casos “Tufano” (2005), Gramajo (2006), RMJ (2008) y Arriola (2009) de la Corte “Suprema de la Nación”.
1
mental, com a finalidade de oferecer tutela para a proteção dos direitos dos
pacientes, implicando o começo de processos judiciais para quem não tinha
as condições de autonomia, muitas vezes por meio da designação de cura-
dores (familiares ou de ofício), que têm como objetivo velar para suprir as
suas necessidades básicas.
Foi também durante esse período que se iniciaram as primeiras re-
formas para reverter as aberrantes condições em que se encontravam aqueles
que eram internados (frequentemente de forma brutal) sob a categoria de
“dementes” ou doentes psiquiátricos.
O rótulo ou qualificativo de demente, que ainda subsiste nos códigos
civis, era compatível com o enfoque tutelar que, negando a essas pessoas
toda capacidade, designava curadores que eram os portadores da autêntica
capacidade. É assim que, embora as intenções fossem para dar proteção aos
mais desvalidos, terminaram reforçando uma visão estigmatizante da pessoa
com esse tipo de transtorno, o que, paradoxalmente, os privou de maiores
oportunidades de inclusão social.
Isso vem de um prolongado processo no qual a administração da
justiça foi delegando progressivamente a função de “julgar”:
[...] Ao longo do processo penal e da execução da pena, prolifera toda uma série
de instâncias anexas. Pequenas justiças e juízes paralelos se multiplicaram em torno
do julgamento principal: peritos psiquiátricos ou psicológicos, magistrados da apli-
cação das penas, educadores, funcionários da administração penitenciária fracionam
o poder legal de punir; dir-se-á que nenhum deles partilha realmente do direito de
julgar; que uns, depois das sentenças, só têm o direito de fazer executar uma pena
fixada pelo tribunal, e principalmente que outros – os peritos – não intervêm antes
da sentença para fazer um julgamento, mas para esclarecer a decisão dos juízes [...]
(FOUCAULT, 1994, p. 24).
Porque seu poder vem de outros sistemas de poder. A negociação, da qual o re-
sultado é o destino social do doente, não tem lugar entre o expert e aqueles que
colocam o problema, senão entre o expert e outros experts, ou outros responsáveis
que têm o mandato (e o poder) de resolver o problema. É sempre uma questão
de equilíbrio, de intercâmbios, de competências entre representantes dos aparatos:
da justiça, da administração, da polícia [...] e se tem alguém a quem nunca pediram
opinião é ao doente (CASTEL, 1977, p. 119).
conduz então a uma internação indefinida para uma grande quantidade dos
casos sociais que chegam às instituições monovalentes.
Outro aspecto específico desse tipo de internação diz respeito a outras
especialidades sanitárias: é o caráter intensivo que adquire a mão de obra que
deve se ocupar das tarefas de cuidado e reabilitação e que resulta em uma pro-
porção, talvez desequilibrada, de pessoal dedicado às tarefas de cuidado direto
aos pacientes, quando se compara com as demais especialidades da saúde.
Essa tem sido uma das razões pelas quais as instituições assistenciais tenderam
a hipertrofiar-se descontroladamente, o que faz com que seja tão difícil a ade-
quada gestão dos recursos humanos que ali desempenham sua função.
Uma medida do grau de judicialização do processo de atenção das
instituições monovalentes pode ser claramente observada ao se fazer o le-
vantamento das admissões em um dos mais relevantes estabelecimentos da
Argentina. No caso da Colônia Nacional Montes de Oca, do total dos pa-
cientes internados no final do ano 2008, 529 pacientes ingressaram por ordem
judicial, o que totaliza quase a metade do total de internações (43,0%). Desse
total, 88 pacientes (20%) foram internados por ordem judicial sob intimação
e os 80% restantes, também por ordem judicial sob intimação, na sua maioria,
95%, ordenada, e os 5% restantes, decretada ou solicitada. Do conjunto res-
tante de casos de internação na instituição, 149 casos (12%) ingressaram por
intervenção das forças policiais, ao passo que o restante, 45%, ingressaram
sem ordem judicial, razão pela qual foram denunciados formalmente pelas
autoridades da Colônia.
A respeito da presença judiciária nessa instituição, também cabe as-
sinalar como intervêm predominantemente aqueles funcionários do Poder
Judiciário, que têm por objeto o seguimento cotidiano da condição dos pa-
cientes institucionalizados.
A internação por tempo indefinido tem sido uma das práticas mais
recorrentes que tem sido adotada no contexto de funcionamento das institui-
ções com regime asilar. Porém, essa internação não tem sido problematizada,
pois trata-se de uma prática habitual, confundida com o devir cotidiano das
instituições concebidas como um ambiente de proteção, mas ao preço de
uma profunda exclusão social.
Embora concebida como medida terapêutica, foi acompanhada de
manifestações que refletiam a distorção dos fins sanitários e que se ligou ao
conceito de desinstitucionalização:
[...] o direito cai sob a influência dos preconceitos sociais e a mitologia que rodeia a
doença mental. Esta forma de displicência e insensibilidade de muitos operadores
jurídicos favoreceu reiterada afetação de direitos, e a proliferação de hospitalizações
arbitrárias, com seus danos injustos. A falta de controles jurisdicionais autoriza, ao
mesmo tempo, o frequente abuso por parte dos representantes legais: os responsá-
veis tiram proveito de pessoas sofredoras, as que têm o mandato de proteger. E disso
não se fala (KRAUT, 2005, p. 110).
O problema da institucionalização
From a tutelary model to a focus of rights: tensions and loopholes between legal
institutions and mental health in Argentina
Du modèle tutélaire à l’approche des droits: les tensions et les brèches entre les
institutions juridiques et de santé mentale en Argentine
Del modelo tutelar al enfoque de derechos: tensiones y brechas entre las instituciones
juridicas y de salud mental en Argentina
Referências
Kraut, Alfredo Jorge. Salud mental: tutela jurídica. Buenos Aires: Rubinzal/
Culzoni, 2005.
Recebido: 30/7/2013
Aprovado em 19/11/2013