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DIREITO INTERNACIONAL DO MAR

Definição

‘E o ramo do DIP que engloba no seu seio o conjunto de normas e precipícios internacionais que
definem o estatuto jurídico dos mares e oceanos e regulam o relações entre sujeitos do DI no que
respeita a uso, para diversos fins, dos mares e oceanos, tanto na superfície como nas
profundidades.

O princípio da liberdade dos mares, formou-se, consolidou-se e desenvolveu-se entre os Sec. XV


e XVII depois de renhidas guerras entre a Espanha e Portugal e os Estados que na altura
conheciam um franco desenvolvimento industrial e necessitavam de matérias primas Inglaterra,
França e depois a Holanda.

Foi Gugo Groz que no seu trabalho ( Maré Liberum) escreveu que os mares não deviam ser
propriedade de nenhum Estado ou indivíduo, mas sim devia ser usado por Estados para o
benefício de cada um.

Este pensamento veio a ganhar consistência com a revolução industrial do Sec. XVII e XVIII
que originou uma concorrência de mercados, matéria prima cada vez maior tornando
inconsistente qualquer tentativa de privar os outros do livre uso dos mares.

Mas apenas nos meados do Sec. XX é que os Estados sob a égide da ONU se começaram a
preocupar em regular as suas actividades nos mares e oceanos, tendo para esse efeito sido
realizada a 1ª conferência da ONU sobre o Direito do Mar. Do qual resultou a aprovação de 4
convenções: ( Conferência de Genebra de 1958)

a) Sobre o mar alto


b) Sobre as aguas territoriais
c) Sobre a plataforma continental
d) Sobre as pescarias e a conservação da biodiversidade dos oceanos

Importância desta conferência

Foi a 1º etapa da codificação do DMI, onde debatidas importantes questões relativas a vida
dos mares e oceanos.
Esta conferência foi realizada nos moldes dum DI progressivo e moderno.

No prosseguimento da codificação do DMI, foram realizadas várias conferências das quais


importa destacar:

A I ,II e III conferências da ONU sobre do Direito do Mar ( Genebra, 1958,1960 e 1982)
Convenção de Londres sobre a segurança de navegação e protecção de vida nos oceanos.
Convenção sobre a protecção da vida Homem nos mares e oceanos de 1978.
Convenção da ONU sobre os mares 1982
Convenção de Londres sobre a prevenção de acidentes entre navios no alto mar

Fontes do DMI

As principais fontes do DMI, são:

Tratados internacionais

Costume internacional

Nos termos do previsto no art. 38º do TIJ este Tribunal julgará os casos que lhe forem
submetidos com base em:

as convenções internacionais gerais e especiais relativas ao Direito do Mar.

O costume internacional, como prova da aceitação e prática internacional comum.

Princípios do DMI

Tal como no Dint. E no DI no DMI são reconhecidos princípios gerais do Direito. No


entanto, existem os princípios específicos do DMI que são:

princípio da liberdade dos mares ( que significa que os mares serão usados por todos Estados
sem discriminação; que dois ou mais Estados não podem celebrar acordos que resultem na
violação deste princípio ( art. 53 daCV sobre tratados internacionais)

princípio do uso livre e pacífico dos oceanos. ( que consiste na proibição do uso ou ameaça
do uso da força nos oceanos)

Princípio da prevalência do D interno da bandeira do navio no alto mar.( que consiste na


soberania e igualdade dos Estados nas RI).

Princípio da soberania dum Estado sobre as suas aguas territoriais

Princípio do respeito pela preservação dos recursos marinhos (que consiste na obrigação de
Estados em proteger a fauna marinha e o seu meio ambiente, em especial as espécies
protegidas e em perigo de extinção, na obrigação do uso consciente dos recursos marinhos e
usar de meios que possam prejudicar os recursos doutros Estados)
Aguas internas

Nos termos do previsto no art. 5 da Convenção da ONU, sobre as aguas territoriais e zonas
confinantes 1958 conjugado com o art. 8 da Convenção da ONU sobre os mares de 1982, são
consideradas águas internas dum Estado, todos os cursos de águas, lagos, lagoas, fontes e
outros da mesma natureza que se encontrem dentro da linha territorial dum Estado.

Aguas Territoriais

Nas duas conferências da ONU sobre o Direito do Mar de 1958 e 1960, ficou estabelecido
que consideram-se como águas territoriais o espaço do mar contado em linha confinante
com o território dum Estado até 12 milhas. Quer dizer, todas as águas que estiverem por
dentro da linha confinante do território dum Estado a pesar de ser parte do mar são águas
internas dum estado ( Baias).

Zona contígua

Depois de muita controvérsia, finalmente ficou acordado na conferência da ONU sobre do


Direito do mar de 1958 ( art. 24) que a zona contígua é o espaço marítimo contado a partir
do limite das águas territoriais até mais 12 milhas, sobre as quais um Estado exerce o seu
controlo, em termos de:

2 fiscalização da navegação e aproximação de navios


3 controle e se necessário tomar medidas para proteger acções em curso naquele espaço
que ponham em perigo as suas águas territoriais
4 exercício todo o tipo de actividade económica, sanitário e de protecção do meio
ambiente.

Zona Económica Exclusiva ( ZEE)

É a que está situada além do mar territorial e a este adjacente sujeita ao regime jurídico
específico estabelecido.

A ZEE não se estenderá para além das 200 milhas marítimas das linhas de base a partir
da qual se mede o mar territorial.

Direitos dum Estado na ZEE

direito de soberania para fins de exploração e aproveitamento, conservação e gestão de


recursos naturais, vivos e não vivos das águas sobrejacentes ao leito do mar, do leito do mar
e seu subsolo.
Colocação e utilização de ilhas artificiais e instalação de estruturas
Investigação científica marinha
Protecção e preservação do meio marinho
Na ZEE todos os Estados quer costeiros quer sem litoral, gozam das liberdades de navegação
e sobrevoo e de colocação de cabos e ductos submarinos.

Direitos de Estados geograficamente desfavorecidos

Os Estados geograficamente desfavorecidos terão direito de participar, numa base


equitativa, no aproveitamento de uma parte apropriada dos excedentes dos recursos vivos
das ZEE’s dos Estados costeiros da mesma região ou sub-região com base em acordos a
serem estabelecidos pelas partes interessadas a luz das convenções da ONU sobre o
Direito do Mar.

Excepções à esta regra:

O exposto na b) não se aplica em relação àqueles Estados costeiros cuja economia dependa
preponderantemente do aproveitamento dos recursos vivos da sua ZEE.

Leis e regulamentos dos Estados costeiros sobre as ZEE’s

O Estado costeiro pode no exercício dos seus Direitos de soberania do uso económico da
ZEE, tomar as medidas mais adequadas, incluindo visitas , inspecções e ainda medidas
judiciais para garantir o cumprimento das Leis e regulamentos por ele adoptados e que
estejam em conformidade com as convenções da ONU sobre o Direito do Mar.

Delimitação de ZEE’s entre Estados costeiros

A delimitação da ZEE entre Estados com costas adjacentes ou situadas frente-a-frente deve
ser feita e acordo com as normas do DI previstas no art. 38 do TIJ a fim de se chegar a uma
solução equitativa

Águas arquipelágicas

Um arquipélago é um grupo de ilhas, águas circunjacentes e outros elementos naturais


Distinguem-se:

# Estado arquipélago ( constituído totalmente por um ou vários arquipélagos; Indonésia,


Filipinas e Seychelles)
# Estado insular ( quando o seu território é formado por uma única ilha; Austrália, Islândia,
Madagáscar, Malta, etc.)

A particularidade dos Estados arquipelágico deve-se a consagração de normas específicas


sobre as linhas de base que servem para determinar a extensão do mar territorial e da ZEE.

Assim e tal como todos os Estados com acesso ao mar, a delimitação das aguas territoriais
segue o princípio das 12 milhas contadas da linha base a partir do ilha mãe e a zona
contígua outras 12 milhas a partir das águas territoriais sendo que a ZEE a partir da linha
base do arquipélago não deve ultrapassar as 100 milhas.
São consideradas águas arquipelágicas todo o mar encerrado dentro das linhas bases
arquipelágicas e será dentro destas que os Estados arquipélagos podem delimitar as suas
águas interiores.

De acordo com o art. 49 da Convenção do Mar de 1982, nas águas arquipelágicas o Estado
goza de poderes de soberania, tanto no plano de água, como seu leito e subsolo e ainda
quanto ao espaço aéreo.

O navios de todos Estados gozam do direito de passagem inofensiva nas águas


arquipelágicas, através de rotas marítimas e aéreas apropriadas definidas pelos Estados
arquipélago com base nas normas de passagem por estreitos e canais, mas com a necessárias
adaptações

Alto Mar

a) Conceito

Alto mar é o conjunto formado pelos mares que se encontram fora da soberania de qualquer
Estado.

Em outras palavras é o conjunto dos mares que estejam para além das ZEE’s dos Estados
( 2000 milhas marítimas)

b) Doutrinas

Desde que Hugo Grottis escreveu a obra Mare liberum apareceram várias doutrinas:

Res Nullius ( posição que defende o Alto mar não pode ser objecto de qualquer apropriação
ou direito por parte dum Estado. Esta posição imperou até meados dos anos 70 ( crítica:
limita-se a constatar um regime anárquico).

Res Communis (posição que defende o alto mar é uma res communis, pois a sua utilização é
comum para todos, daí que deveria ser submetido a uma legislação internacional e uma
fiscalização internacional e ainda a justiça internacional ( crítica: favoreceria às grandes
potencias).

Teoria da juricidade ( defendida pelo Jurista Francês Gidel que se opôs a tese de res nullius
e baseando-se na escola Kelsiana que distingue a eficácia e validade do Direito, isto porque
nesta espaço marítimo coexistem várias ordens jurídicas com idêntica validade, mas apenas
uma é adoptada com eficácia que se resume no princípio da preferência pelo direito da
nacionalidade do navio.( crítica: não teve seguidores porque não reflecte a natureza jurídica,
o que poderia conduzir ao esbatimento conceito do Alto mar enquanto que espaço livre.)

Res communis ommium- posição adoptada ( O Alto mar é zona de ninguém e a sua
utilização é concebida nesta perspectiva. O alto mar é património comum da humanidade
mas cuja utilização se encontra condicionada ou afecta ao interesse da comunidade de
Estados, daí res communis ommiun. Esta tese é argumentada pelas convenções da ONU sobre
o direito do mar e nas resoluções da NU sobre o alto mar).

c) Regime jurídico do alto mar

Definição

O Alto mar será o somatório residual dos espaços marítimos situados fora das jurisdições
nacionais. Em outras palavras, depois de deduzidas as águas interiores, os mares territoriais,
as ZEE’s e ainda as águas arquipelágicas a área que resta é o alto mar.

Característica

O que caracteriza fundamentalmente o alto mar é que sobre ele não pode ser exercido
qualquer direito de soberania, por parte de nenhum Estado com ou sem litoral, por ser uma
zona aberta a todos os Estados.

d) Liberdades do alto mar

 de navegação
 de sobrevoo
 de pesca
 de colocar cabos e ductos submarinos
 de investigação científica e de construir ilhas artificiais e outras instalações
permitidas pelo DI

e) A tese dos Estatutos dos navios

O art. 92 da convenção do Direito do Mar estabelece que os navios devem navegar sob a
bandeira de um só Estado e devem submeter-se, no alto mar, a jurisdição exclusiva desse
Estado e que durante uma viagem ou porto de escala, o navio não pode mudar de bandeira a
não ser em casos de transferência efectiva de propriedade ou mudança de registo.

Nos casos que um navio navegue sob a bandeira de dois Estados utilizando-a segundo as sua
conveniências, não reivindicar qualquer dessas nacionalidades perante terceiro Estado e pode
ser considerado como navio sem nacionalidade

Os navios públicos gozam de completa imunidade de jurisdição relativamente a qualquer


outro Estado que não seja o da sua bandeira.

Assim, os navios podem ser privados ( todos os restantes)


Ou públicos ( militares ou civis usados normalmente para fiscalização aduaneira e policial).

f) A Tese da territorialidade
Que considera o navio como uma porção de território físico do Estado, ou seja uma porção
destacada ou móvel do território estatal, daí que só a soberania desse Estado possa
prevalecer.( crítica: em termos de DI é postulado que o navio privado perde a exclusividade
da lei do pavilhão, quando navegue nas águas interiores ou no mar territorial doutro Estado
ficando assim sujeito à jurisdição desse mesmo Estado.)

O Direito penal moçambicano partilha a tese da territorialidade dos navios que


estabelece que todas as infracções cometidas em território moçambicano qualquer que seja a
nacionalidade do infractor, é aplicável a lei penal moçambicana.

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