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M. J.

Alves

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS FUNCIONAIS


SINGULARES DE SEGUNDA ORDEM

Perm State University Press

Perm 2000
..

2000
22.161.6 (=4 .)
A 45

Alves Manuel Joaquim

A 45 Equações Diferenciais Funcionais Singulares de Segunda Ordem. – Perm: Editora “Perm


State University Press”, 2000.- 180 p.

ISBN 5–8241–0217–1

Estudam-se problemas de fronteira para equações diferenciais funcionais (EDF) singulares de segunda ordem. Obtêm-
se condições efectivas de solubilidade e conservação do sinal das funções de Green dos problemas de fronteira para uma
certa classe de EDF lineares singulares de segunda ordem. Fazendo uso da noção de função superior e inferior de Nagumo
e do esquema de quasilinearização de N. V. Azbelev, demonstram-se teoremas sobre condições suficientes de existência e
unicidade de solução para EDF quasilineares singulares de segunda ordem. O trabalho tem, na sua essência, um carácter
teórico. Os resultados obtidos podem ser usados na investigação da solubilidade de certas classes de problemas singulares,
que ocorrem, por exemplo, na teoria de reacções quı́micas.
O presente trabalho destina-se à investigadores, doutorandos e estudantes cujos interesses estão ligados com EDO e
EDF.
Referências bibliográficas: 89 tı́tulos.

Revisão: Prof. L.D. Berezanskiı̆, D.Sc., Ph.D., M.Sc. in Math. (Professor Catedrático do Departamento de Matemática
da Ben Gurion University of Negev, Israel);
Doutor S.M. Labovskiı̆, Ph.D., M.Sc. in Math. (Professor Associado do Departamento de Matemática da Universidade
Eduardo Mondlane, Mozambique);
Prof. V.P. Maksimov, D.Sc., Ph.D., M.Sc. in Math. (Chefe do International Laboratory in Dynamical Models da Perm
State University).
ISBN 5–8241–0217–1

c M.J. Alves, 2000


°

Este trabalho foi realizado com o apoio financeiro do Capacity Building Project (Credit 2436, Eduardo Mondlane
University — Mozambique)

Typeset by LATE X
22.161.6 (=4 .)
A 45
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ISBN 5–8241–0217–1
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A 45 Functional Differential Equations of Second Order. – Perm: Perm State University Press,
2000.- 180 p.
ISBN 5–8241–0217–1
We consider boundary value problems for second order singular functional differential equations (FDE). Effective
conditions of solvability and sign conservation of Green functions for boundary value problems for certain class of second
order linear singular FDE were obtained. Exploring the notion of upper and lower Nagumo’s function and the Azbelev’s
quasilinearization scheme, we proved the theorems of sufficient conditions of existence and unique solvability of solution
for second order quasilinear singular FDEs. This work has essentially a theoretical character. The obtained results
can be used on the investigation of solvability of certain classes of singular boundary value problems, which occur, for
example, in the theory of chemical reactor.
This work is destined to researchers and students which interests are related with ordinary differential equations
(ODE) and FDEs.
References: 89 titles.
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ISBN 5–8241–0217–1

c .. , 2000
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CONTEÚDO

Simbologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10

CAPITULO I. MONOTONICIDADE DO OPERADOR DE GREEN DE PRO-

BLEMAS DE FRONTEIRA PARA EQUAÇÕES DIFERENCIAIS FUNCIONAIS

SINGULARES 17
§1.0. Definições básicas e afirmações preliminares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
§1.1. O espaço Dπ,bp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
§1.2. Condições de conservação do sinal da função de Green de problemas singulares de
fronteira com operadores isótonos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
§1.3. A condição “A” na investigação da monotonia do operador de Green de problemas
singulares de fronteira . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
§1.4. Operadores de Green para alguns problemas modelos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
k
b
§1.5. O espaço D p . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65

CAPITULO II. PROBLEMAS DE FRONTEIRA PARA EQUAÇÕES DIFERENCI-

AIS FUNCIONAIS LINEARES COM SINGULARIDADE NÃO SOMÁVEL 69


§2.1. Problema singular no espaço De p . Teoremas tipo teorema de Valée Poussin . . . . . . . 71
v
§2.2. O espaço Bp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
§2.3. Critérios de compacticidade no espaço Bγp . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
t,t∗
§2.4. Problema singular no espaço D̄p . Teoremas tipo teorema de Valleé Poussin . . . . . 102
§2.5. Sobre o espectro do operador de Cesàro no espaço Btp . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108

CAPITULO III. PROBLEMAS DE FRONTEIRA PARA EQUAÇÕES DIFEREN-

5
6

CIAIS FUNCIONAIS SINGULARES QUASILINEARES 112


§3.1. Teorema tipo Nagumo para um problema quasilinear singular de fronteira no espaço Dπ,b
p 113
k
b . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
§3.2. Problema quasilinear singular de fronteira no espaço Dp
§3.3. Sobre um problema que modela processos que ocorrem num reactor∗ quı́mico . . . . . . 130
t,t
§3.4. Problema não linear com singularidade não somável no espaço D̄p . . . . . . . . . . 138

CAPITULO IV. SOBRE A ESTABILIDADE DE SOLUÇÕES DE SISTEMAS DE

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS NÃO ESTACIONÁRIAS 141


§4.1. Escolha e construção da equação modelo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
§4.2. Critérios de C estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
§4.3. Sobre algumas condições de estabilidade de equações escalares . . . . . . . . . . . . . . 154
Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
Bibliografia citada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
Indice . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
SIMBOLOGIA

Rn é o espaço de vectores n-dimensionais, com a norma | · |

N é o conjunto de números naturais

k · kX denota a norma no espaço X; se estiver claro sobre o espaço X a que nos referimos, então

escreveremos simplesmente k · k

dim M denota a dimensão da multivariedade linear M

kAkX→Y denota a norma do operador linear limitado A : X 7→ Y

A∗ é o operador conjugado em relação ao operador linear A

R(A) é o contradomı́nio do operador A

D(A) é o domı́nio do operador A

ρ(A) é o raio espectral do operador A

≡ significa “identicamente igual”


def
= significa “igual por definição”

C[0, 1] ≡ C é o espaço de funções contı́nuas x : [0, 1] 7→ R1 , cuja norma é

def
kxkC = max |x(t)|
0≤t≤1

e a relação de semiordenamento ≤: x ≤ y se x(t) ≤ y(t), para todo t ∈ [0, 1]

7
8 Simbologia

t
def 2 Z
erf(t) = √ exp(−s2 ) ds é o integral de probabilidades
π
0
f (t) é negativa (positiva) em [a, b] se f (·) < 0 (f (·) > 0); f (t) é não negativa (não positiva)

em [a, b] se f (·) ≥ 0 (f (·) ≤ 0)

p0 é o expoente conjugado em relação ao expoente p: 1/p + 1/p0 = 1 (p0 = ∞, se p = 1 e

p0 = 1, se p = ∞)

Lp [0, 1] ≡ Lp (1 ≤ p < ∞) é o espaço de classes equivalentes de funções x : [0, 1] 7→ R1

somáveis em p grau, cuja norma é


 1 1/p
Z
def
kxkLp =  |x(t)|p dt
0

e a relação de semiordenamento ≤: x ≤ y , se x(t) ≤ y(t) para quase todo t ∈ [0, 1]

L∞ [0, 1] ≡ L∞ é o espaço de funções x : [0, 1] 7→ R1 (classes equivalentes) mensuráveis e

limitadas na essência, cuja norma é

def
kxkL∞ = vrai sup |x(t)|
0≤t≤1

e a relação de semiordenamento está definida como em L1

Wnp [0, 1] ≡ Wnp é o espaço de funções n − 1 vezes diferenciáveis x : [0, 1] 7→ R1 com derivada

x(n−1) absolutamente contı́nua tal, que x(n) ∈ Lp ,


n−1
X
def
kxkWnp = kx(n) kLp + |x(i) (0)|
i=0

X × Y é o produto directo dos espaços lineares X e Y

Ker A é o núcleo do operador A

ind A é o ı́ndice do operador A


Simbologia 9

IX é o operador identidade IX : X 7→ X; se estiver claro sobre o espaço X a que se refere, então

escreveremos simplesmente I

O é o operador nulo

E é a matriz unitária

f (t, ·) significa que t está fixo e f considera-se como uma função sómente do segundo argumento

f (·, s) significa que s está fixo e f considera-se como uma função sómente do primeiro argu-

mento

2 denota o fim da demonstração ou observação


INTRODUÇÃO

As questões relacionadas com equações diferenciais singulares há muito tempo que atraem a

atenção dos matemáticos. No seu livro [54] I.T. Kiguradze deu inı́cio ao estudo de equações sin-

gulares. Ele investigou, de modo sistemático, a existência e unicidade de solução e a dependência

da solução em relação aos dados iniciais e parâmetros, para o problema de Cauchy-Nicoletti,

para o problema de Vallée Poussin e para o problema periódico no caso singular.

Existem publicações dedicadas à teoria de problemas singulares, para equações diferenciais

ordinárias (EDO) e equações diferenciais funcionais (EDF). De realçar os trabalhos de G.A.

Bessmertnykh [37], N.I. Vasil’ev, Yu.A. Klokov [87], R.G. Grabovskaia [47], I.T. Kiguradze

[54], I.T. Kiguradze, B.L. Schechter [57], A.I. Shindiapin [79], [80], S.M. Labovskiı̆ [67], [68],

N.V. Azbelev, L.F. Rakhmatullina [32], E.I. Bravyı̆ [38], [39], [40]. Nos trabalhos do Seminário

de Perm, sob a orientação do Prof. N.V. Azbelev, concluiu-se mais um novo capı́tulo da

Análise, que chama-se “Teoria Abstracta de Equações Diferenciais Funcionais”. A maioria dos

resultados destas investigações encontram-se sistematizados na monografia [32] e nos artigos

[16], [17], [18], [27], [30]. Na base desta teoria abriram-se novas perspectivas no estudo de uma

larga classe de equações singulares ordinárias e diferenciais funcionais.

No âmbito da teoria de EDF é possı́vel aplicar, para estes problemas, uma única técnica,

10
Introdução 11

baseada na construção dum espaço especial de soluções D, onde dado problema singular torna-

se regular (vide [32]) e, deste modo, podem-se usar os métodos de investigação para EDF. Tais

possibilidades foram, pela primeira vez, usadas nos trabalhos de S.M. Labovskiı̆ [67], [68], A.I.

Shindiapin [79], [80] e E.I. Bravyı̆ [38], [39].

Antes de passarmos para a descrição dos principais resultados retratados neste trabalho,

formularemos algumas ideias fulcrais concernentes à teoria abstracta de EDF, nas quais se baseia

o nosso trabalho. A noção central da teoria abstracta de EDF consiste no espaço de Banach D

de funções x : [0, 1] 7→ R1 isomorfo ao produto directo B × Rn , onde B é espaço de Banach


def
de funções z : [0, 1] 7→ R1 . Se B ≡ Lp , n = 2 e o isomorfismo J = {Λ, Y } : Lp × R2 7→ D

definirmos como
Zt
def def
(Λz)(t) = (t − s)z(s) ds, (Y β)(t) = β1 + β2 (1 − t),
0
então o elemento x ∈ D tem a representação
Zt
x(t) = (t − s)z(s) ds + β1 + β2 (1 − t)
0

e deparamo-nos com o espaço de Sobolev D ≡ W2p , tradicionalmente usado no estudo de EDO

de segunda ordem.

O esquema geral de regularização de problemas singulares para equações diferenciais fun-

cionais Lx = f consiste no seguinte: escolhemos um espaço de Banach B de funções tais, que

para quaisquer z ∈ B e α ∈ RN o problema de fronteira L0 x = z, `x = α, para a equação

linear “modelo” L0 x = z, tem solução única x, que escreve-se na forma da fórmula de Green

(vide [28], [29], [32])

x = Wz + Uα.
12 Introdução

O espaço D define-se pela igualdade D = WB ⊕ URN . Se o operador L actua do espaço D no

espaço B e o operador LW : B 7→ B é invertı́vel ou, pelo menos, é um operador de Fredholm,

então a equação Lx = f deixa de ser singular. Note-se que a propriedade de fredholmidade

da “parte principal” (pg. 19) caracteriza importantes particularidades e propriedades internas

da equação. As condições que garantem o cumprimento da alternativa de Fredholm para um

problema de fronteira de dois pontos com pontos singulares nos extremos do intervalo foram

formuladas, para o caso de EDO, nos trabalhos de I.T. Kiguradze [54], I.T. Kiguradze e B.L.

Schechter [57], A.G. Lomtatidze [71] e, para EDF lineares, no artigo de I.T. Kiguradze e B.

Pŭja [56]. A fredholmidade de vários tipos de operadores diferenciais funcionais lineares, com

singularidades nos extremos do intervalo, estabeleceu-se nos trabalhos de S.M. Labovskiı̆ [67],

[68] e A.I. Shindiapin [79], [80].

A.I. Shindiapin no seu trabalho [79] estudou a equação

def
Lx = ẋ − S ẋ − K ẋ − Ax(a) = f,

com o operador de sobreposição não limitado S : L1 7→ L1 (pg. 54) e o operador integral

não limitado K : L1 7→ L1 . No espaço de funções absolutamente contı́nuas esta equação é

singular. A.I. Shindiapin construiu o espaço B, mais restricto do que L1 , de tal modo que

ambos operadores S e K neste espaço são limitados. S.M. Labovskiı̆ nos trabalhos [67], [68]

estudou a equação

def
(Lx)(t) = t(1 − t)ẍ(t) + p(t)(Sh x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],

onde h é mensurável e as funções p, f são somáveis. Se investigarmos esta equação no espaço

W21 , então a parte principal do operador L não é um operador de Noether. S.M. Labovskiı̆
Introdução 13

construiu um espaço especial D ' L1 × R2 . Perante tal escolha do espaço D o operador

L : D 7→ L1 torna-se noetheriano.

Na teoria de EDO é bem conhecido o teorema de Sturm, sobre a separação de raı́zes das

soluções da equação linear homogénea (vide, por exemplo, [78, pg.167-169], [84, pg.135]) e o

teorema de Vallée Poussin sobre desigualdades diferenciais (vide, por exemplo, [85]). Uma

parte do trabalho dedica-se à investigação de condições de unicidade de solução e conservação

do sinal da função de Green do problema de Sturm-Liouville, para EDF singulares de segunda

ordem. Estas questões foram investigadas e publicadas em revistas e monografias, para o caso

do problema de Vallée Poussin com certo tipo de equações com argumento desviado, e também

para EDF mais gerais (vide, por exemplo, [23], [68]).

O presente trabalho consiste na sua introdução, quatro capı́tulos, conclusão e bibliografia.

No primeiro capı́tulo obtiveram-se as condições de conservação do sinal da função de Green,

para a EDF singular


Z1
def
Lx = π(ẍ + bẋ) − x(s) ds r = f, (A)
0

onde π(t) = t, π(t) = 1 − t ou π(t) = t(1 − t). Estas questões, para o caso de EDF sem

singularidades, i.e. quando π(t) ≡ 1, foram investigadas, por exemplo, nos trabalhos [24],

[25]. Com base na teoria abstracta de EDF, descrita na monografia [32], a equação singu-

lar regulariza-se, depois fazem-se investigações sobre a distribuição das raı́zes das soluções da

equação homogénea. Estas investigações generalizam o teorema clássico de Sturm, numa nova

classe de equações (teorema 1.3.3, pg. 51). Estes resultados são usados na demonstração de

critérios de antitonicidade do operador de Green, para o problema de Cauchy, no caso quando


14 Introdução

a função r(t, ·) não é decrescente, para cada t ∈ [0, 1]. Demonstram-se, também, critérios su-

ficientes de antitonicidade do operador de Green do problema de fronteira de Sturm-Liouville,

para o caso geral da função r(·, ·).

No parágrafo §1.0 faz-se uma breve introdução à teoria de EDF e da Análise Funcional.

No parágrafo §1.1 constrói-se o espaço Dπ,b


p , onde o problema de fronteira, para a equação

singular (A), torna-se regular. Também demonstra-se que, para p > 1, este espaço está contido,

de modo completamente contı́nuo, no espaço C.

No parágrafo §1.2 estabelecem-se as condições de conservação do sinal da função de Green

do problema de fronteira, para a equação singular (A), quando a função r(t, ·) não decresce

para cada t ∈ [0, 1].

No parágrafo §1.3 investigam-se as questões sobre a monotonicidade dos operadores de

Green dos problemas de fronteira, para a equação singular (A), sem a suposição da monotonia,

para cada t ∈ [0, 1], da função r(t, ·). O núcleo r(t, s) representa-se como diferença de duas

funções não decrescentes, para cada t ∈ [0, 1], i.e. r(t, ·) = r+ (t, ·) − r− (t, ·). Com base na

teoria abstracta de EDF (vide [28], [29], [32]) e no método de estimação do raio espectral (vide,

por exemplo, [31], [51], [76]), estabelecem-se as condições de unicidade de solução e conservação

do sinal da função de Green do problema de fronteira para a equação singular (A), quando a

equação
Z1
π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − x(s) ds r+ (t, s) = f (t), t ∈ [0, 1]
0

usufrui a propriedade A (pg. 42).

No parágrafo §1.4 investigam-se as propriedades dos operadores de Green, para certos prob-
Introdução 15

lemas de fronteira “modelo”. Mostra-se que, para p > 1, o operador de Green, da equação

singular (A), actua de Lp em C de modo completamente contı́nuo.

No parágrafo §1.5 fazem-se investigações análogas sobre a solubilidade e conservação do

sinal da função de Green, para o problema linear de fronteira de Sturm-Liouville



 Z1



 tẍ(t) + k ẋ(t) − x(s) ds r(t, s) = f (t), t ∈ [0, 1],
0 (B)




 x(0) = α1 , x(1) + γ ẋ(1) = α2 .

No capı́tulo II investigam-se certas equações lineares com singularidade não somável.

No parágrafo §2.1, com base no esquema descrito na monografia [32], constrói-se o espaço
e ' L × R1 no qual o problema
D p p


 k
 ẍ(t) + ẋ(t) − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
t (C)


 ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = α

torna-se regular. Também demonstra-se o teorema do tipo de Vallée Poussin, sobre as condições

de conservação do sinal da função de Green do problema de fronteira de Vallée Poussin (C).

No parágrafo §2.2 introduz-se o espaço Bvp , que generaliza o espaço de A.I. Shindiapin (vide

[79]). Demonstra-se a completeza deste espaço.

No parágrafo §2.3 demonstram-se critérios de compacticidade no espaço Bvp , no caso quando

v(t) = tγ , 0 < γ ≤ 1, 1 < p < ∞.

No parágrafo §2.4 fazem-se investigações, análogas às do parágrafo §2.1, para o problema

de fronteira 

 ẋ(t) x(t)
 ẍ(t) + − 2 − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
t t


 x(0) = 0, x(1) + ν ẋ(1) = α
16 Introdução

∗ t2 ,t
no espaço D̄t,t
p , 1 < p ≤ ∞, e no espaço D̄1 (pg. 102).

No terceiro capı́tulo demonstram-se afirmações sobre a existência e unicidade de soluções

de problemas de fronteira quasilineares para EDF singulares. Estas afirmações baseiam-se nos

resultados dos primeiro e segundo capı́tulos, que garantem a conservação do sinal das função

de Green do respectivo problema linear. Se as condições “L1 L2 ” de N.V. Azbelev cumprem-

se, então o problema quasilinear reduz-se à equação com operador isótono ou antı́tono. A

redução do problema de fronteira para uma equação com operador isótono dá-nos a possibilidade

de demonstrar o teorema de existência. Se, para além disso, é possı́vel reduzir o problema

quasilinear para uma equação com operador antı́tono, então é possı́vel demonstrar a unicidade

da solução.

O quarto capı́tulo é dedicado à investigação de questões sobre condições efectivas de es-

tabilidade de soluções para sistemas lineares de equações diferenciais ordinárias (EDO) não

estacionárias. Propõe-se um nova ideia para o problema sobre a construção da equação mod-

elo usando o W método. Com base nesta ideia obtêm-se novos critérios de estabilidade para

sistemas de EDO.
CAPITULO I

MONOTONICIDADE DO OPERADOR DE GREEN DE PROBLEMAS DE

FRONTEIRA PARA EQUAÇÕES DIFERENCIAIS FUNCIONAIS

SINGULARES

Este capı́tulo é dedicado à investigação das condições que garantem a monotonia do operador

de Green (conservação do sinal da função de Green) de alguns problemas de fronteira, para a

EDF singular (A).

O espaço tradicional W2p , usado no estudo de EDF de segunda ordem, não é aplicável

para este caso. Por exemplo, a equação πẍ = 1 não tem soluções neste espaço, e o operador

L : Wp2 7→ Lp não é noetheriano. Nós investigaremos a equação (A) começando por construir o
2
espaço Dπ,b
p , isomorfo ao produto directo Lp × R , que iremos considerar como sendo o espaço

de todas as soluções da equação (A). O operador L : Dπ,b


p 7→ Lp é noetheriano e, deste modo,

podemos aplicar os teoremas da teoria abstracta de EDF (vide [28], [29], [32]).

17
18 Capı́tulo I

§1.0. Definições básicas e afirmações preliminares

Neste parágrafo enunciaremos alguns conceitos básicos da análise funcional (para mais de-

talhes vide, por exemplo, [36], [42], [52], [62]) e da teoria abstracta de EDF (vide [28], [29],

[32]), que faremos uso durante o nosso trabalho.

Sejam X e Y dois espaços de Banach, A : X 7→ Y é um operador linear limitado, A∗ é um

operador conjugado em relação ao operador A.

Diremos que o operador A (a equação Ax = y ) é normalmente solúvel, se o seu con-

tradomı́nio R(A) é fechado, i.. R(A) = R(A). Se o operador A (a equação Ax = y ) é

normalmente solúvel e dim Ker A < ∞, dim Ker A∗ < ∞, então diremos que ele (ela) é

noetheriano(a). Se o operador A (a equação Ax = y ) é noetheriano(a) e o seu ı́ndice, i.e.

def
ind A = dim Ker A − dim Ker A∗

é igual à zero, então ele (ela) chama-se operador (equação) de Fredholm.

O operador linear C , que actua do produto directo X1 × X2 de espaços lineares X1 e X2

no espaço linear Y, define-se pelo par de operadores C1 : X1 7→ Y e C2 : X2 7→ Y tal, que

C{x1 , x2 } = C1 x1 + C2 x2 , x1 ∈ X1 , x2 ∈ X2 , onde C1 x1 = C{x1 , 0}, C2 x2 = C{0, x2 }. Tal


def
operador denotaremos por C = {C1 , C2 }.

O operador linear F , que actua do espaço linear X no produto directo Y1 × Y2 dos espaços

lineares Y1 e Y2 , define-se pelo par de operadores F1 : X 7→ Y1 , F2 : X 7→ Y2 tal, que


def
Fx = {F1 x, F2 x}, x ∈ X. Este operador denotaremos por F = [F1 , F2 ].

Segundo [28, pg.103], [29], [32, pg.10], a equação Lx = f chama-se equação linear diferencial

funcional abstracta, onde L : D 7→ B é operador linear limitado, D e B são espaços de Banach,


Monotonicidade do Operador de Green 19

sendo o espaço D isomorfo ao espaço de Banach B × Rn .


def def
Seja J = {Λ, Y } : B × Rn 7→ D um isomorfismo algébrico e J −1 = [δ, r] : D 7→ B × Rn .

As normas nos espaços B × Rn e D definiremos do seguinte modo:

def def
k{z, β}kB×Rn = kzkB + |β|, kxkD = kδxkB + |rx|.

Neste caso os espaços B × Rn e D são isométricos.

Tendo em consideração que os operadores limitados J e J −1 são mútuamente invertı́veis,

então

x = Λδx + Y rx, x ∈ D, (1.0.1)

δ(Λz + Y β) = z, r(Λz + Y β) = β, {z, β} ∈ B × Rn .

Destas igualdades conclui-se que

Λδ + Y r = I, δΛ = I, δY = O, rΛ = O, rY = I.

Vamos identificar o operador Y : Rn 7→ D com o vector (y1 , . . . , yn ), yi ∈ D, i = 1, . . . , n tal,

que
n
X
def
Yβ = yi βi , β = col{β1 , . . . , βn }.
i=1

Aplicando o operador L à ambas as partes da igualdade (1.0.1) obtemos a decomposição

Lx = Qδx + Arx. (1.0.2)

def def
Aqui Q = LΛ : B 7→ B é a “parte principal”, A = LY : Rn 7→ B é a “parte finita” do operador

L. O operador Q : B 7→ B é de Fredholm (vide, por exemplo, [52, pg.507]) só e sómente só,
³ ´
quando ele admite a representação Q = P −1 + V Q = P1−1 + V1 , onde P −1 : B 7→ B é
20 Capı́tulo I

operador inverso em relação ao operador limitado P : B 7→ B, V : B 7→ B é um operador finito

(P1−1 : B 7→ B é operador inverso em relação ao operador limitado P1 : B 7→ B, V1 : B 7→ B

é operador completamente contı́nuo). O operador Q = I + V é também um operador de

Fredholm se uma certa potência do operador V é completamente contı́nuo (vide, por exemplo,

[52, pg.511]). Segundo [28, pg.28], [63, pg.110], o operador Q = I + V chamaremos de operador

canónico de Fredholm, se o operador V : B 7→ B fôr completamente contı́nuo.

Teorema 1.0.1[32, pg.12]. O operador L : D 7→ B é noetheriano só e sómente só, quando a sua

parte principal Q : B 7→ B é noetheriana. Neste caso tem lugar a igualdade ind L = ind Q + n.

Teorema 1.0.2[32, pg.12]. Seja L : D 7→ B um operador de Noether, ind L = n. A dimensão

do núcleo do operador L não é menor do que n, sendo igual a n só e sómente só, quando a

equação Lx = f é solúvel no espaço D, qualquer que seja f ∈ B.

Seja ` = [`1 , . . . , `m ] : D 7→ Rm um vector-funcional linear limitado, α = col{α1 , . . . , αm },

α ∈ Rm . Ao sistema de equações

Lx = f, `x = α (1.0.3)

chamaremos problema linear de fronteira. Este problema podemos escrever numa forma mais

compacta:

[L, `]x = {f, α}.

O caso especı́fico do problema (1.0.3) quando ` ≡ r , chamaremos problema principal de fron-

teira.

Se R(L) = B dim Ker L = n, então a questão sobre a resolubilidade do problema (1.0.3)

resume-se à resolubilidade do sistema linear de equações algébricas com matriz `X = (`i xj ),


Monotonicidade do Operador de Green 21

i = 1, . . . , m, j = 1, . . . , n, onde X = (x1 , . . . , xn ) é o vector fundamental da equação Lx =

0. Realmente, a solução geral da equação Lx = f é

n
X
x=v+ cj xj , (1.0.4)
j=1

onde v é a solução particular desta equação, c1 , . . . , cn são constantes arbitrárias. Aplicando o

vector funcional ` à ambas as partes de (1.0.4) obtemos


 
n
X n
X
αi = `i x = `i v + cj xj  = `i v + cj `i xj , i = 1, . . . , m.
j=1 j=1

O problema (1.0.3) é únicamente solúvel, para quaisquer f ∈ B e α ∈ Rm , só e sómente só,

quando o sistema
n
X
cj `i xj = βi , i = 1, . . . , m
j=1

def
é únicamente solúvel, qualquer que seja βi = αi − `i v ∈ R1 , i = 1, . . . , m. As condições

necessárias e suficientes para tal solubilidade são: m = n e det `X 6= 0. A expressão det `X

chama-se determinante do problema (1.0.3).

Suponhamos que o problema (1.0.3) é únicamente solúvel, qualquer que seja f ∈ B e


def
α ∈ Rn . Denotemos {G, X } = [L, `]−1 . Então, a solução x ∈ D do problema (1.0.3) tem a

representação

x = Gf + X α,

onde G é operador de Green para o problema de fronteira (1.0.3), X = (x1 , . . . , xn ) é o vector

fundamental da equação Lx = 0, que satisfaz a condição lX = E , E é matriz unitária de

dimensão n × n.
22 Capı́tulo I

Aplicando o vector funcional ` à ambas as partes da igualdade (1.0.1) obtemos a de-


def
composição `x = Φδx + Ψrx, onde Φ = `Λ : B 7→ Rn é um vector funcional limitado,
def
Ψ = `Y : Rn 7→ Rn é um operador finito.

Teorema 1.0.3[28, pg.104]. O problema principal de fronteira Lx = f, rx = α possui solução

única s´ e sómente só, quando a parte principal Q : B 7→ B do operador L : D 7→ B possui

um operador invertı́vel limitado Q−1 : B 7→ B. A solução do problema principal de fronteira é

dada pela igualdade

x = ΛQ−1 f + (Y − ΛQ−1 A)α. (1.0.5)

Teorema 1.0.4[42, pg.520]. Seja T : B 7→ B1 um operador linear limitado, B e B1 são dois

espaços de Banach. Se um dos espaços B ou B1 fôr reflexivo, então o operador T é fraca

completamente contı́nuo.

Vejamos a função f : [0, 1] × R1 7→ R1 . Diremos (vide, por exemplo, [89, pg.375]), que a

função f (·, ·) satisfaz as condições de Carathéodory se, para quase todo t ∈ [0, 1], a função

f (t, ·) é contı́nua e, para todo u ∈ R1 , a função f (·, u) é mensurável. O operador de Nemytskiı̆


def
(Nf u)(·) = f (·, u(·)), gerado pela função f , que satisfaz as condições de Carathéodory, actua

de Lp em Lq só e sómente só (vide [89, pg.375]), quando a função f (·, ·) satisfaz a desigualdade

|f (·, u)| ≤ a(·) + ω0 |u|p/q , p < ∞,

onde a(·) ∈ Lq , ω0 é constante, ou a desigualdade

|f (·, u)| ≤ aψ (·) se |u| ≤ ψ, p = ∞,

para qualquer ψ > 0, onde aψ (·) ∈ Lq .


Monotonicidade do Operador de Green 23

Diremos (vide [87, pg.15]) que a função f (·, ·) satisfaz, em relação ao segundo argumento, a

condição generalizada de Lipschitz, se existe uma função mensurável λ : [0, 1] 7→ R1 , λ(·) > 0,

tal, que |f (t, u) − f (t, v)| ≤ λ(t)|u − v| para quase todo t ∈ [0, 1] e para quaisquer u, v ∈ R1 .

Vejamos a equação homogénea


def
(Lx)(t) = ẍ(t) + q(t)ẋ(t) + p(t)x(t) = 0. (1.0.6)

Diremos que o intervalo [a, b] é intervalo de não oscilação se qualquer solução não trivial da

equação (1.0.6) possui em [a, b] não mais do que uma raı́z. Segundo o teorema de Sturm, sobre

a separação de raı́zes das soluções da equação (1.0.6), temos que [a, b] é um intervalo de não

oscilação só e sómente só, quando existe solução positiva da equação (1.0.6) em [a, b].

Teorema 1.0.5(de la Vallée Poussin). As seguintes afirmações são equivalentes:

1) [a, b] é um intervalo de não oscilação para a equação (1.0.6);

2) existe uma função v : [a, b] 7→ R1 , com derivada absolutamente contı́nua v̇ , tal que
Zb
v(t) ≥ 0, (Lv)(t) ≤ 0, t ∈ [a, b], v(a) + v(b) − (Lv)(s) ds > 0;
a

3) a função de Cauchy C(t, s), da equação Lx = f , é positiva em a ≤ s < t ≤ b;

4) o problema de fronteira

Lx = f, x(a) = 0, x(b) = 0

tem solução única para cada f , sendo a sua função de Green negativa em [a, b] × [a, b].

Definição 1.0.1[28, pg.9]. Diremos que o operador F é um operador de Volterra, se para

qualquer τ ∈ [a, b] e quaisquer x1 , x2 do seu domı́nio tal, que x1 (t) = x2 (t) em [a, τ ], cumpre-

se em [a, τ ] a igualdade (Fx1 )(t) = (Fx2 )(t).


24 Capı́tulo I

§1.1. O espaço Dπ,b


p

def
Seja dada a função b : [0, 1] 7→ R1 , onde b ∈ L∞ , % = kbkL∞ . Denote-se por Jπ o intervalo

(0, 1), se π(t) = t(1 − t), o intervalo (0, 1], se π(t) = t ou o intervalo [0, 1), se π(t) = 1 − t.

Fixemos o ponto τ ∈ Jπ e definimos, no quadrado [0, 1] × [0, 1], a função



 Rζ

 Zt − b(θ) dθ





e s dζ



 s
, se τ ≤ s < t ≤ 1;

 π(s)










 Rζ
def Zs − b(θ) dθ
Λτ (t, s) =



 e s dζ



 t

 , se 0 ≤ t < s ≤ τ ;


 π(s)











 0 – nos restantes pontos.

De notar que π(s)Λτ (t, s), (t, s) ∈ [0, 1] × [0, 1], é a função de Green do problema de Cauchy

ẍ + bẋ = z, x(τ ) = ẋ(τ ) = 0.

Cálculos imediatos dão-nos a estimação para a função Λτ (t, s):


 Ã !

 e%(1−τ ) e%τ


 max , , se π(s) = s(1 − s);



τ 1−τ







 Ã !
 %(1−τ )
0 ≤ Λτ (t, s) ≤  max (1 − τ )e , e%τ , se π(s) = s;


 τ









 µ ¶

 τ e%τ
 max e%(1−τ ) , , se π(s) = 1 − s,
1−τ
Monotonicidade do Operador de Green 25

para (t, s) ∈ [0, 1] × [0, 1]. Deste modo, para cada t ∈ [0, 1], o produto Λτ (t, ·)z(·) pertence ao

espaço Lp , qualquer que seja z ∈ Lp .

Seja

Z1 Zt − b(θ) dθ
def def
(Λτ z) (t) = Λτ (t, s)z(s) ds, (Yτ β)(t) = β1 + β2 e τ dζ,
0 τ
 

 Rζ 

 Zt − b(θ) dθ 
def
Yτ (t) = col 1, e τ dζ .

 

 τ 

Afirmação 1.1.1. A igualdade

x = Λ τ z + Yτ β

define, para cada par {z, β} ∈ Lp ×R2 , β = {β1 , β2 }, um elemento do espaço Dπ,b
p (1 ≤ p ≤ ∞),

cuja função x : [0, 1] 7→ R1 usufrui as seguintes propriedades:

1) x é absolutamente contı́nua no segmento [0, 1];

2) ẋ é local absolutamente contı́nua no intervalo Jπ ;

3) a função π(ẍ + bẋ) pertence ao espaço Lp .

Por outras palavras, o espaço D de todas as soluções da equação π(ẍ + bẋ) = z , para todo

z ∈ Lp , coincide com o espaço Dπ,b


p .

Demonstração. Vamos primeiro mostrar que, para qualquer z ∈ Lp , a função



Zt − b(θ) dθ
Z1 Zt
e s dζ
s
u(t) = Λτ (t, s)z(s) ds ≡ z(s) ds
τ
π(s)
0
26 Capı́tulo I

pertence ao espaço Dπ,b π,b


p . Isto significará a inclusão D ⊂ Dp . Considerando que, para qualquer

ponto t ∈ Jπ , tem lugar a igualdade


Rt
− b(θ) dθ
Zt
e s
u̇(t) = z(s) ds,
τ
π(s)

então a derivada u̇ é local absolutamente contı́nua em Jπ . Mostremos que u̇ é somável em

[0, 1]. Para simplicidade dos cálculos, e sem perder a sua essência, vamos limitar-nos ao caso

quando π(t) = t, os outros casos demonstram-se de modo análogo. Para tal basta estabelecer

que, para um certo ε, o integral |u̇(t)| dt é finito. Assim, para ε = τ , obtemos:
0

Rt
− b(θ) dθ
Zτ Zτ Zt
e s
|u̇(t)| dt = | z(s) ds| dt ≤
τ
s
0 0

Rt Rt
− b(θ) dθ − b(θ) dθ
Zτ Zτ Zτ Zs
e s e s
≤ |z(s)| ds dt = |z(s)| dt ds ≤
s s
0 t 0 0
Zτ Zs Z τ
% |z(s)| %
≤e dt ds = e |z(s)| ds.
s
0 0 0

Continuando, para qualquer t ∈ [0, 1] temos:



Zt − b(θ) dθ
Zt
e s dζ R
Zt Zt − b(θ) dθ
ζ

s z(s)
u(t) = z(s) ds = e s dζ ds =
τ
π(s) τ s
π(s)


− b(θ) dθ
Zt Zζ Zt
e s
= dζ z(s) ds = u̇(ζ) dζ.
τ τ
π(s) τ
Monotonicidade do Operador de Green 27

Deste modo, a função u(·) é absolutamente contı́nua no segmento [0, 1]. A função π(ü + bu̇)

pertence ao espaço Lp porque, para quase todo t ∈ [0, 1], cumpre-se:


Rt
− b(θ) dθ
Zt
b(t)e s z(t)
ü(t) = − z(s) ds + =
τ
π(s) π(t)
z(t)
= −b(t)u̇(t) + =⇒ π(ü + bu̇) = z ∈ Lp .
π(t)
Demonstramos, deste modo, que o espaço D de todas as soluções da equação π(ẍ+bẋ) = z ,

qualquer que seja z ∈ Lp , está contido no espaço Dπ,b π,b


p . Como para cada elemento x ∈ Dp

corresponde o par z = π(ẍ + bẋ) ∈ Lp , β = {x(τ ), ẋ(τ )} ∈ R2 , então o espaço Dπ,b


p está

contido no espaço D. Demonstramos, deste modo, a coincidência dos espaços D e Dπ,b


p , sendo

Dπ,b
p algébricamente isomorfo ao espaço Lp × R2 . Os isomorfismos Jτ : Lp × R2 7→ Dπ,b
p e
def def
Jτ−1 : Dπ,b
p 7→ Lp × R2 definiremos segundo as igualdades Jτ = {Λτ , Yτ }, Jτ−1 = [δ, rτ ]
def def
respectivamente, onde δx = π(ẍ + bẋ), rτ x = {x(τ ), ẋ(τ )}.2

Observação 1.1.1. De notar, que no estudo de problemas de fronteira e problemas variacionais

singulares nos artigos [65], [68] a solução fora definida como uma função, que satisfaz a equação

e as condições: a) a função x é contı́nua em [0, 1], b) ẋ é local absolutamente contı́nua no

intervalo (0, 1) e c) a função t(1 − t)ẍ(t) é somável em [0, 1].2

A norma nos espaços Dπ,b


p e Lp × R2 definiremos do seguinte modo:

def def
kxkDπ,b
p
= kπ(ẍ + bẋ)kLp + |x(τ )| + |ẋ(τ )|, k{z, β}kLp ×R2 = kzkLp + |β|.

Lema 1.1.1. Dπ,b


p é um espaço de Banach.

Demonstração. É evidente, que Dπ,b


p é um espaço linear normado. A sua completeza advém

do facto, que ele é isométrico e algébricamente isomorfo ao espaço de Banach Lp × R2 .2


28 Capı́tulo I

Análogamente à afirmação 1.1.1 pode-se mostrar que os isomorfismos J e J −1 dos espaços


def def
Dπ,b
p e Lp × R2 definem-se pelas igualdades J = {H0 , Y } e J −1 = [δ, r], onde

def def
δx = π(ẍ + bẋ), rx = {x(0), x(1)},
Z1
def
(H0 z)(t) = H0 (t, s)z(s) ds,
0

 Rζ  Rζ
Zt − b(θ) dθ Zt − b(θ) dθ
 


e 0 dζ 

e 0 dζ
def  0 
(Y β)(t) = β1   + β2 0
1 −  ,
 ∆0  ∆0
 
 


 Rζ Rζ

 Z1 − b(θ) dθ Zs − b(θ) dθ





e s dζ e 0 dζ





 −t 0
, se 0 < s ≤ t < 1;

 π(s)∆ 0

def
H0 (t, s) = 
 

 Rζ Rζ

 Z1 − b(θ) dθ Zt − b(θ) dθ



 e s dζ e 0 dζ





 − s 0
, se 0 < t ≤ s < 1,
π(s)∆0
H0 (0, 0) = H0 (1, 1) = −1, H0 (1, 0) = H0 (0, 1) = 0, se π(s) = s(1 − s), H0 (0, 0) = −1,

H0 (0, 1) = 0, se π(s) = s, H0 (1, 1) = −1, H0 (1, 0) = 0, se π(s) = 1 − s. É fácil ver, que

H0 (t, s) é a função de Green do problema

π(ẍ + bẋ) = z, x(0) = x(1) = 0, (1.1.1)



Z1 − b(θ) dθ
def
onde ∆0 = e 0 dζ é o determinante deste problema. Vamos obter a estimação superior
0
Monotonicidade do Operador de Green 29

do núcleo H0 (t, s), quando π(t) = t(1 − t). Para 0 ≤ s ≤ t < 1, temos:
Rζ Rζ
Z1 − b(θ) dθ Zs − b(θ) dθ
e s dζ e 0 dζ
t 0
|H0 (t, s)| = ≤
s(1 − s)∆0

Z1 Zs

−%s
e e d(%ζ) e%ζ d(%ζ)
t 0 e%(t−s) (e%(1−t) − 1)(e%s − 1)
≤ = ≤
%2 s(1 − s)∆0 %2 s(1 − s)∆0

e−%s (e% − e%t )(e%s − 1) e% − 1


≤ ≤ = e% .
%2 s(1 − s)∆0 1 − e−%
Análogamente, para 0 < t ≤ s ≤ 1, temos |H0 (t, s)| ≤ e% .

No caso quando b ≡ 0, em vez de Dπ,0


p escreveremos simplesmente Dπp .

Afirmação 1.1.2. Para 1 ≤ p ≤ ∞ e qualquer que seja b ∈ L∞ os espaços Dπ,b π


p e Dp coincidem

como conjuntos, sendo as suas normas k · kDπp e k · kDπ,b


p
no espaço Dπ,b π
p (Dp ) equivalentes.

Demonstração. Vamos primeiro estabelecer que, para 1 < p ≤ ∞ e qualquer τ ∈ Jπ , o

operador integral K,
Zt
def π(t)
(Kz)(t) = z(s) ds
τ
π(s)
actua de Lp em Lp e é limitado. Realmente, para 1 < p < ∞, π(t) = 1 − t, τ = 0 e qualquer

que seja z ∈ Lp temos:


¯ t ¯p
Z1 ¯Z ¯
¯ z(s) ¯
kKzkpLp = (1 − t)p ¯¯ ds¯¯ dt ≤
¯ 1−s ¯
0 0
 t  t p/p0
Z1 Z Z
0
≤ (1 − t)p  |z(s)|p ds  (1 − s)−p ds dt ≤
0 0 0
30 Capı́tulo I

Z1
−p/p0 0 0
0
≤ (p − 1) (1 − t)p [(1 − t)1−p − 1]p/p dtkzkpLp =
0

Z1
−p/p0 0 0
= (p − 1) 0
[1 − t − (1 − t)p ]p/p dtkzkpLp ≤
0

Z1
−p/p0 0 0 p0
0
≤ (p − 1) (1 − t)p/p dtkzkpLp = (p0 − 1)−p/p 0
kzkpLp .
p+p
0
à !1/p
p
0 −1/p0
Deste modo kKkLp →Lp ≤ (p − 1) .
p + p0
De modo análogo, para p = ∞, π(t) = 1 − t, τ = 0, qualquer que seja z ∈ L∞ , temos:
¯ t ¯
¯Z ¯
¯
¯
z(s) ¯
kKzkL∞ = vrai sup(1 − t) ¯ ds¯¯ ≤
0≤t≤1 ¯ 1−s ¯
0

Zt
ds
≤ sup (1 − t) kzkL∞ = sup (t − 1) ln(1 − t)kzkL∞ = e−1 kzkL∞ .
0≤t≤1 1−s 0≤t≤1
0

Em particular, kK1kL∞ = e−1 . Daqui obtemos, que kKkL∞ →L∞ = e−1 . De modo análogo

demonstra-se para o operador K : Lp 7→ Lp , no caso quando π(t) = t, π(t) = t(1 − t),

1 ≤ p ≤ ∞.

Mostremos que é justa a inclusão contı́nua Dπ,b π π,b


p ⊂ Dp , para cada 1 ≤ p ≤ ∞. Seja x ∈ Dp .

Estimemos a expressão kπẍkLp :

kπẍkLp = kπẍ + πbẋ − πbẋkLp ≤ kπ(ẍ + bẋ)kLp + kπbẋkLp .

É válida a igualdade
Rt Rt
Zt − b(θ) dθ − b(θ) dθ
z(s)
ẋ(t) = e s ds + e τ ẋ(τ ),
τ
π(s)
Monotonicidade do Operador de Green 31

onde z = π(ẍ + bẋ). Consequentemente, obtemos:


 ¯ ¯p 1/p
¯Z t Rt ¯
Z1 ¯ − b(θ) dθ z(s) ¯
 p p ¯ ¯ 
kπbẋkLp ≤ 
 π (t)|b(t)| ¯
¯
e s ds ¯ dt
¯  +
¯τ π(s) ¯
0

 Rt 1/p
Z1 −p b(θ) dθ
+
 π p (t)|b(t)|p e τ dt
 |ẋ(τ )| ≤
0

≤ %e% kKkLp →Lp kzkLp + %e% kπkLp |ẋ(τ )|.

Deste modo,

kπbẋkLp ≤ %e% kKkLp →Lp kπ(ẍ + bẋ)kLp + %e% kπkLp |ẋ(τ )|.

Assim demonstramos que se x ∈ Dπ,b π


p , então x ∈ Dp , kxkDπ
p
≤ M1 kxkDπ,b
p
, onde
n o
def
M1 = max 1 + %e% kKkLp →Lp , 1 + %e% kπkLp .

Finalmente vamos mostrar que é justa a inclusão contı́nua Dπp ⊂ Dπ,b


p , para cada 1 ≤ p ≤ ∞.

Seja x ∈ Dπp . Estimemos a expressão kπ(ẍ + bẋ)kLp :

kπ(ẍ + bẋ)kLp ≤ kπẍkLp + kπbẋkLp .

É justa a igualdade
Zt
z(s)
ẋ(t) = ds + ẋ(τ ),
τ
π(s)
onde z = πẍ. Daqui concluimos que
 1 ¯ t ¯p 1/p
Z ¯Z ¯
 p
¯
p¯ z(s) ¯¯
kπbẋk ≤ π (t)|b(t)| ¯ ds¯ dt + %kπkLp |ẋ(τ )| ≤
¯ π(s) ¯
0 τ

≤ %kKkLp →Lp kzkLp + %kπkLp |ẋ(τ )|.


32 Capı́tulo I

Deste modo,

kπbẋkLp ≤ %kKkLp →Lp kπẍkLp + %kπkLp |ẋ(τ )|.

Mostramos que se x ∈ Dπp , então x ∈ Dπ,b


p , kxkDπ,b
p
≤ M2 kxkDπp , onde

n o
def
M2 = max 1 + %kKkLp →Lp , 1 + %kπkLp .2

O espaço Dπ,b
p , para 1 ≤ p ≤ ∞, está contı́nuamente incluido no espaço C e, para 1 < p ≤

∞, esta inclusão é completamente contı́nua. Realmente, da definição do espaço Dπ,b


p advém,

que Dπ,b 1
p ⊂ W1 ⊂ C.

Para demonstrarmos as afirmações sobre a inclusão contı́nua e completamente contı́nua,

podemos usar as condições necessárias e suficientes para que o operador integral H0 : Lp 7→ C

seja completamente contı́nuo (vide, por exemplo, [89, pg.100–101]).

Lema 1.1.2. O operador H0 : Lp 7→ C é contı́nuo, para 1 ≤ p ≤ ∞.

Demonstração. Demonstramos sómente um caso, por exemplo, quando π(s) = s(1 − s). Os

outros casos demonstram-se de modo análogo. Comecemos por demonstrar que H0 : L1 7→ C

é contı́nuo. Verificamos o cumprimento das condições:

1) vrai sup |H0 (t, s)| ≤ ϑ < ∞, para qualquer t ∈ [0, 1];
0≤s≤1

2) para qualquer subconjunto mensurável Ω ⊂ [0, 1] e qualquer t0 ∈ [0, 1] é justa a igualdade

Z Z
lim H0 (t, s)ds = H0 (t0 , s) ds. (1.1.2)
t→t0
Ω Ω
Monotonicidade do Operador de Green 33

Realmente, se b 6≡ 0 temos:

vrai sup |H0 (t, s)| ≤


( 0≤s≤1 )
≤ max vrai sup |H0 (t, s)|, vrai sup |H0 (t, s)|, 1 ≤
0≤s≤t t≤s≤1

≤ max {e% , e% , 1} = max {e% , 1} = e% ≡ ϑ.

Se b ≡ 0, então

vrai sup |H0 (t, s)| ≤ max{1, 1} = 1.


0≤s≤1

Mostremos que a condição 2) cumpre-se. A função H0 (t, s) é contı́nua em todos os pontos

do quadrado [0, 1] × [0, 1], excepto os pontos (0, 0) e (1, 1). Assim, é suficiente verificar a

igualdade (1.1.2) sómente para os valores t0 = 0 e t0 = 1. Para o núcleo H0 (t, s) é válida a

estimação superior:


 s(1 − t)e−%



− , se 0 ≤ s ≤ t < 1;

 π(s)∆0

H0 (t, s) ≤







t(1 − s)e−%
 − , se 0 < t ≤ s ≤ 1.
π(s)∆0

Seja t0 = 0 e Ω = [0, ε], onde ε > 0. Neste caso H0 (0, s) ds = 0 e, para 0 < t < ε,
0
obtemos
Zε Zt Zε
H0 (t, s) ds = H0 (t, s) ds + H0 (t, s) ds ≤
0 0 t

 t 
−% Z Zε
e t−1 t 
≤  ds − ds → 0, t → 0+ .
∆0 1−s s
0 t
34 Capı́tulo I

Z1
Análogamente, seja t0 = 1 e Ω = [1 − ε, 1], onde ε > 0. Neste caso H0 (1, s) ds = 0 e,
1−ε
para 1 − ε < t < 1, obtemos
Z1 Zt Z1
H0 (t, s) ds = H0 (t, s) ds + H0 (t, s) ds ≤
1−ε 1−ε t

 t 1

e−%  Z t − 1 Z
t 
≤ ds − ds → 0, t → 1− .
∆0 1−s s
1−ε t

Segundo o teorema 1.1 de [89, pg.100], o operador H0 actua de L1 em C e pelo teorema 1.2

de [89, pg.100] ele é contı́nuo. Assim, e tendo em consideração o facto que Lp ⊂ L1 , sendo esta

inclusão contı́nua, o operador H0 : Lp 7→ C é contı́nuo, para p ≥ 1.2

Lema 1.1.3. O operador integral H0 : Lp 7→ C é completamente contı́nuo, para 1 < p ≤ ∞.

Demonstração. Para verificar a compacticidade do operador H0 é suficiente (vide, por exem-

plo, [89, pg.101]) mostrar que, qualquer que seja t0 ∈ [0, 1], é justa a igualdade
Z1
0
lim |H0 (t, s) − H0 (t0 , s)|p ds = 0,
t→t0
0

1 1
onde + 0 = 1 se 1 < p < ∞ e p0 = 1 se p = ∞.
p p
Se p0 > 1, 0 < t0 < t ≤ 1, b 6≡ 0 teremos:
Z1 Zt0
p0 0
|H0 (t, s) − H0 (t0 , s)| ds = |H0 (t, s) − H0 (t0 , s)|p ds +
0 0

Zt Z1
p0 0
+ |H0 (t, s) − H0 (t0 , s)| ds + |H0 (t, s) − H0 (t0 , s)|p ds =
t0 t
Monotonicidade do Operador de Green 35

¯  ¯p0
¯ Rζ Rζ Rζ Rζ ¯
Zt0 ¯ Z1 − b(θ) dθ Zs − b(θ) dθ Z1 − b(θ) dθ Zs − b(θ) dθ ¯
1 ¯
¯




1 ¯¯
= p0 ¯− e s dζ e 0 dζ + e s dζ e 0 dζ  ds +
∆0 0 ¯¯ π(s) ¯¯
t 0 t0 0 ¯

¯  ¯p0
¯ Rζ Rζ Rζ Rζ ¯
Zt ¯ Z1 − b(θ) dθ Zs − b(θ) dθ Z1 − b(θ) dθ Zt0 − b(θ) dθ ¯
1 ¯  1 ¯
+ p0 ¯¯  − e s dζ e 0 dζ + e s dζ e 0 dζ  ¯
 π(s) ¯ ds +
∆0 t ¯¯ t 0 s 0
¯
¯
0

¯  ¯p0
¯ Rζ Rζ Rζ Rζ ¯
Z1 ¯ 1
Z − b(θ) dθ t
Z − b(θ) dθ 1
Z − b(θ) dθ t
Z − b(θ) dθ
0 ¯
1 ¯
¯ − e s
 1 ¯
 ¯ ds ≤
+ 0 ¯ dζ e 0 dζ + e s dζ e 0 dζ  ¯
∆p0 t ¯
¯
s 0 s 0
π(s) ¯
¯
¯  ¯p0
¯ Rζ Rζ ¯
Zt0 ¯ Zt − b(θ) dθ Zs − b(θ) dθ ¯ −% Zt ¯¯ ¯p0
1 ¯
¯ e s
 1 ¯ e t − 1 t0 ¯
≤ p0 ¯ dζ e 0 dζ  ¯
 π(s) ¯ ds + p0
¯
¯ + ¯¯ ds +
∆0 0 ¯¯ t 0
¯
¯
∆0 t 1 − s s
0 0

¯  ¯p0
¯ Rζ Rζ ¯
Z1 ¯ Z1 − b(θ) dθ Zt − b(θ) dθ ¯
1 ¯  1 ¯
+ p0 ¯¯  e s dζ e 0 dζ  ¯
 π(s) ¯ ds ≤
∆0 t ¯¯ s t0
¯
¯
à !p0 t 
Z0 Z1
e% − 1 %t %t0 p0  −p0 −p0
≤ (e − e ) (1 − s) ds + s ds + O(t − t0 ) ≤
%2 ∆0
0 t
à !p0
e% − 1 0
h 0 0
i
≤ (e%t − e%t0 )p 2 − (1 − t0 )1−p − t1−p + O(t − t0 ) → 0, t → t0 .
%2 ∆0
Se b ≡ 0, então
Z1
0
|H0 (t, s) − H0 (t0 , s)|p ds ≤
0
p0 0 0
≤ (t − t0 ) [2 − (1 − t0 )1−p − t1−p ] + O(t − t0 ) → 0, t → t0 .

De modo análogo demonstram-se as respectivas afirmações, para o caso quando 0 = t0 <

t ≤ 1 e 0 ≤ t < t0 ≤ 1, e também se p0 = 1. Assim, para cada 1 ≤ p0 < ∞ e para todo


36 Capı́tulo I

t0 ∈ [0, 1], cumpre-se a igualdade


Z1
0
lim |H0 (t, s) − H0 (t0 , s)|p ds = 0.
t→t0
0

Consequentemente, segundo o teorema 1.4 de [89, pg.101], o operador H0 : Lp 7→ C é comple-

tamente contı́nuo, para qualquer 1 < p ≤ ∞.2

Observação 1.1.2. O operador integral H0 : L1 7→ C não é completamente contı́nuo.

Realmente, é suficiente mostrar que, para um certo t0 ∈ [0, 1], cumpre-se

lim vrai sup |H0 (t, s) − H0 (t0 , s)| 6= 0.


t→t0 0≤s≤1

Seja t0 = 0. Então, para cada t ∈ (0, 1) temos

vrai sup |H0 (t, s) − H0 (0, s)| =


0≤s≤1
( )
%e−%
= max vrai sup |H0 (t, s)| , vrai sup |H0 (t, s)| ≥ % > 0.
0≤s≤t t≤s≤1 e −1
Daqui, e segundo o teorema 1.4 de [89, pg.101], implica que o operador H0 : L1 7→ C não é

compacto.2

Lema 1.1.2-bis. O operador Λτ : Lp 7→ C é contı́nuo, para 1 ≤ p ≤ ∞.

Demonstração. Demonstra-se de modo análogo à demonstração do lema 1.1.2.2

Lema 1.1.3-bis. O operador integral Λτ : Lp 7→ C é completamente contı́nuo, para p > 1.

Demonstração. Demonstra-se de modo análogo à demonstração do lema 1.1.3.2

Observação 1.1.2-bis. O operador integral Λτ : L1 7→ C não é completamente contı́nuo.2


Monotonicidade do Operador de Green 37

§1.2. Condições de conservação do sinal da função de Green de


problemas singulares de fronteira com operadores isótonos

Definição 1.2.1(vide, por exemplo, [32, pg.62], [53]). Sejam X e Y dois espaços lineares

semiordenados, com a relação de ordenamento ≥. Diremos que o operador N : X 7→ Y é

isótono (antı́tono), se N x ≥ N y (N y ≥ N x), quaisquer que sejam os elementos x, y ∈ X,

x ≥ y.

Qualquer operador linear isótono T : C 7→ Lp admite a representação

Z1
def
(T x)(t) = x(s) ds r(t, s), t ∈ [0, 1],
0

onde, para qualquer s ∈ [0, 1], a função r(·, s) pertence ao espaço Lp , para cada t ∈ [0, 1] a

função r(t, ·) é não decrescente (vide [53, pg.317]).

Vejamos a EDF

def
(Lx)(t) = π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1], (1.2.1)

onde π(t) = t(1 − t) ou π(t) = t ou π(t) = 1 − t, b(·) é uma função mensurável e limitada na

sua essência no intervalo [0, 1], T : C 7→ Lp é um operador linear limitado, a função f pertence

ao espaço Lp . Esta equação, no caso quando (T x)(t) ≡ p(t)x(t) e a função b(·) é localmente

somável, foi estudada nos trabalhos de I.T. Kiguradze [54], I.T. Kiguradze e B.L. Schechter [57]

e para o caso b ≡ 0 com operador antı́tono T foi estudada no trabalho de S.M. Labovskiı̆ [68].

Se investigarmos a equação (1.2.1) no espaço W2p podemos mostrar que a parte principal do

operador L não é noetheriana. Realmente, o espaço W2p é isomorfo ao espaço Lp × R2 e este


38 Capı́tulo I

def
isomorfismo define-se, por exemplo, segundo a igualdade J = {Λ, Y } : Lp × R2 7→ W2p , onde


Zt Zt − b(θ) dθ
def
(Λz)(t) = e s z(s) dζ ds
0 s

def def
é um operador completamente contı́nuo. Então Q = LΛ = P − V , onde (P z)(t) = π(t)z(t),
def
(V z)(t) = (T Λz)(t). O operador V : Lp 7→ Lp é completamente contı́nuo, mas o contradomı́nio

R(P ) do operador P : Lp 7→ Lp não é fechado. Realmente, seja π(t) = t e





 t−α/p , se t ∈ (0, 1/n];
def
xn (t) = 
  1/t , se t ∈ (1/n, 1],

onde α < 1. É evidente que xn ∈ Lp . A sucessão P xn = πxn ∈ Lp converge (segundo a

norma em Lp ) para o elemento y ≡ 1 6∈ R(P ). Deste modo, a parte principal Q : Lp 7→ Lp

do operador L : W2p 7→ Lp , por exemplo para o caso quando V ≡ O , não é noetheriana. Por

isso mesmo, e baseando-nos no esquema descrito na monografia [32, pg.70], investigamos a

equação (1.2.1) no espaço Dπ,b π,b


p , onde o operador L : Dp 7→ Lp é noetheriano com ı́ndice 2.

Então, a equação (1.2.1) deixa de ser singular e podemos aplicar imediatamente os teoremas

da teoria abstracta de EDF, descrita em [28], [29], [32]. Realmente, para 1 < p ≤ ∞, o

espaço Dπ,b
p está incluido de modo completamente contı́nuo no espaço C (pg. 32), o operador
def
T Λτ : Lp 7→ Lp é completamente contı́nuo, por isso o operador Qτ = LΛτ : Lp 7→ Lp é

operador canónico de Fredholm : Qτ z = z − T Λτ z . Para p = 1 o operador T Λτ : L1 7→ L1 é

fraca completamente contı́nuo, pois resulta do produto do operador limitado Λτ : L1 7→ C e o

operador fraca completamente contı́nuo T : C 7→ L1 (vide, por exemplo, [42, pg.315, pg.532]).
Monotonicidade do Operador de Green 39

Assim, o operador Qτ : L1 7→ L1 é de Fredholm. Consequentemente, o problema de fronteira

Lx = f, `1 x = α1 , `2 x = α2

com funcionais lineares `1 , `2 limitados no espaço Dπ,b


p é de Fredholm e podemos aplicar a

teoria geral de problemas de fronteira (vide [28], [29], [32]). É evidente que o funcional linear

`x = x(c), qualquer que seja c ∈ [0, 1], e o funcional linear `x = ẋ(c), qualquer que seja c ∈ Jπ ,

são limitados no espaço Dπ,b


p .

O problema de fronteira

Lx = f, x(τ ) = α1 , ẋ(τ ) = α2 , τ ∈ Jπ (1.2.2)

no espaço Dπ,b
p é equivalente à equação

x = Aτ x + g (1.2.3)

no espaço Dπ,b
p , onde
Z1
def
(Aτ x)(t) = Λτ (t, s)(T x)(s) ds,
0

Zt − b(θ) dθ
def
g(t) = α1 + α2 e τ dζ + (Λτ f )(t).
τ

Cada solução contı́nua x da equação (1.2.3), para g ∈ Dπ,b π,b


p , pertence ao espaço Dp , pois de

acordo com as propriedades da função de Green a imagem do operador Aτ , quando actua sobre

uma função contı́nua, é um elemento do espaço Dπ,b


p , daı́ que as questões de solubilidade do

problema (1.2.2) podemos investigar analisando a equação (1.2.3) no espaço C. Por outras

palavras, da solubilidade da equação (1.2.3) no espaço C, qualquer que seja g ∈ C, implica a


40 Capı́tulo I

solubilidade desta equação no espaço Dπ,b π,b


p , qualquer que seja g ∈ Dp . Além disso, o facto da

equação (1.2.3) ser única e correctamente solúvel no espaço C, para qualquer g ∈ C, implica

que esta equação é única e correctamente solúvel no espaço Dπ,b π,b


p , para qualquer g ∈ Dp .

De notar, que o operador Aτ : C 7→ C é isótono, se o operador T fôr isótono. Com base na

definição do operador Aτ temos (Aτ x)(τ ) = 0, para cada x ∈ C.

Adiante faremos uso dos resultados dos trabalhos [31], [76] sobre a estimação do raio es-

pectral ρ(H) do operador isótono H : C 7→ C. Para nossa comodidade formularemos estes

resultados na forma seguinte.

Lema 1.2.1. A estimação ρ(H) < 1 do raio espectral do operador linear isótono H : C 7→ C é

justa só e sómente só, quando existe uma função v ∈ C tal, que

v(t) > 0, v(t) − (Hv)(t) > 0

para todo t ∈ [0, 1], com excepção, talvez, de um número finito de pontos ti ∈ [0, 1] tais, que

(Hx)(ti ) = 0, para cada x ∈ C.

A estimação ρ(Aτ ) < 1 garante a convergência das aproximações sucessivas para a equação

(1.2.3) e a solubilidade única do problema (1.2.2), quaisquer que sejam f ∈ Lp , α1 , α2 ∈ R1 .

Lema 1.2.2. Seja τ ∈ Jπ e seja T um operador isótono. As seguintes afirmações são equiva-

lentes:

1) existe um elemento v ∈ Dπ,b


p tal, que

def
v(t) ≥ 0, φ(t) = (Lv)(t) ≥ 0, t ∈ [0, 1], v̇(τ ) = 0,

v(τ ) + (Λτ φ)(t) > 0 no intervalo [0, 1], com excepção, talvez, do ponto t = τ ;
Monotonicidade do Operador de Green 41

2) ρ(Aτ ) < 1;

3) o problema de fronteira (1.2.2) é únicamente solúvel, para cada par {f, α} ∈ Lp × R2 ,

sendo o seu operador de Green Gτ isótono.

Demonstração. A função v satisfaz o problema

Lx = φ, x(τ ) = v(τ ), ẋ(τ ) = 0,

consequentemente satisfaz as desigualdades


Z1
v(t) − (Aτ v)(t) = v(τ ) + Λτ (t, s)φ(s) ds > 0, v(t) > 0,
0

para t ∈ [0, 1], excepto, talvez, o ponto t = τ . Portanto ρ(Aτ ) < 1, devido ao lema 1.2.1. Está

demonstrada a implicação 1) =⇒ 2).

Se ρ(Aτ ) < 1, então a equação (1.2.3) é únicamente solúvel qualquer que seja g ∈ C, logo

o problema (1.2.2) é também únicamente solúvel e o seu operador de Green define-se pela série

de Neumann
³ ´
Gτ ≡ I + Aτ + A2τ + · · · Λτ .

Consequentemente Gτ é isótono, como produto de operadores isótonos. Está demonstrada a

implicação 2) =⇒ 3).

Para demonstrarmos a implicação 3) =⇒ 1) basta escolher, na qualidade de v , a solução

do problema

Lx = 0, x(τ ) = 1, ẋ(τ ) = 0.

Realmente, a função y = v − 1 satisfaz o problema semihomogéneo

(Ly)(t) = [T (1)](t) ≥ 0, t ∈ [0, 1], y(τ ) = ẏ(τ ) = 0,


42 Capı́tulo I

portanto y(·) = [Gτ T (1)](·) ≥ 0. Deste modo, a função v satisfaz as condições da afirmação 1)
Z1
: v(t) = y(t) + 1 > 0, (Lv)(t) = 0 e, consequentemente, v(τ ) + Λτ (t, s)φ(s) ds = v(τ ) > 0
0
no intervalo [0, 1], pois φ(·) ≡ 0.2

Definição 1.2.2. Diremos, que a equação (1.2.1) (o operador L) usufrui a propriedade A, se

para cada τ ∈ Jπ o problema de fronteira (1.2.2) é únicamente solúvel, qualquer que seja o par

{f, α} ∈ Lp × R2 , sendo o seu operador de Green Gτ isótono.

Se a equação (1.2.1), com operador isótono T , usufrui a propriedade A, então é justo o

seguinte lema.

Lema 1.2.3. Se a solução u ∈ Dπ,b


p da desigualdade (Lx)(t) ≥ 0 possui um ponto estacionário

τ ∈ Jπ , i.e. u̇(τ ) = 0, sendo u(τ ) ≥ 0, então u(t) ≥ u(τ ), qualquer que seja t ∈ [0, 1].

Demonstração. Para u(τ ) > 0 a função y = u − u(τ ) satisfaz o problema Ly = φ, y(τ ) =


def
ẏ(τ ) = 0, onde φ = Lu + T u(τ ) ≥ 0. Assim, y(t) = (Gτ φ)(t) ≥ 0, u(t) = u(τ ) + y(t) ≥

u(τ ), t ∈ [0, 1]. Para o caso quando u(τ ) = 0, da condição A advém, que u(t) ≥ 0 no intervalo

[0, 1].2

Teorema 1.2.1. Suponhamos que a equação Lx = f , com operador isótono T , usufrui a

propriedade A. Então o problema de fronteira

Lx = f, x(0) = 0, x(1) = 0 (1.2.4)

tem uma só solução x ∈ Dπ,b


p , para cada f ∈ Lp , sendo o seu operador de Green antı́tono.

Demonstração. Se o problema (1.2.4) não é únicamente solúvel, então o problema homogéneo

possui solução não trivial x, positiva em pelo menos um ponto de (0, 1). Seja m = max x(t) >
0≤t≤1

0. Então x(t) ≤ m, t ∈ [0, 1], o que contradiz o lema 1.2.3.


Monotonicidade do Operador de Green 43

Se o operador G do problema (1.2.4) nao é antı́tono, então para um certo f ≥ 0 existe um

máximo positivo da solução x = Gf , o que contradiz o lema 1.2.3.2

Do teorema 1.2.1 e do lema 1.2.3 advém o seguinte corolário.

Corolário 1.2.1. Suponhamos que a equação Lx = f , com operador isótono T , usufrui a

propriedade A. Então a solução x do problema semihomogéneo

Lx = 0, x(0) = α1 ≥ 0, x(1) = α2 ≥ 0, α1 + α2 > 0 (1.2.5)

não é negativa no intervalo (0, 1).

Demonstração. A solução u0 existe, devido ao teorema 1.2.1. Se u0 (·) muda de sinal, então

possui um mı́nimo negativo num certo ponto τ ∈ (0, 1). A função u(t) = −u0 (t) é solução do

problema Lx = 0, x(0) = −α1 , x(1) = −α2 e possui um máximo positivo no ponto τ ∈ (0, 1).

Isto contradiz o lema 1.2.3.2

Tem lugar a seguinte generalização do teorema 1.2.1.

Teorema 1.2.2. Suponhamos que a equação Lx = f , com operador isótono T , usufrui a

propriedade A. Então o problema de fronteira

Lx = f, x(a) = 0, x(b) = 0, 0 ≤ a < b ≤ 1

é únicamente solúvel. Se, além disso, f (t) ≥ 0 para t ∈ [0, 1] e f 6≡ 0 em (a, b), então a

solução x do problema satisfaz as desigualdades x(t) < 0, para t ∈ (a, b), e x(t) > 0, para

t ∈ [0, 1] \ [a, b].

Demonstração. O problema homogéneo Lx = 0, x(a) = x(b) = 0 possui sómente solução

trivial, pois caso contrário a sua solução atingiria o seu valor máximo no intervalo (0, 1), o
44 Capı́tulo I

que contradiz o lema 1.2.3. Deste modo, e com base na fredholmidade da parte principal, o

problema semihomogéneo Lx = f , x(a) = 0, x(b) = 0 tem única solução, qualquer que seja

f ∈ Lp . Se a solução x deste problema, para f ≥ 0, f 6≡ 0, atingir o seu maior valor positivo

num certo ponto τ ∈ (a, b) então, com base no lema 1.2.3, x(t) > 0 para todo t ∈ [a, b], o que

contradiz as condições x(a) = x(b) = 0. Assim, fica demonstrado que x(t) ≤ 0 para t ∈ [a, b].

Mostremos agora, que x(t) < 0 para t ∈ (a, b). Realmente, se x(τ ) = 0 para um certo

τ ∈ (a, b) e x(t) 6≡ 0 em [a, b], então x(τ ) ≥ x(t) para todo t ∈ [a, b]. Isto significa, que x(τ )

é o valor máximo da função x no intervalo [a, b], daı́ que ẋ(τ ) = 0. Assim, e devido ao lema

1.2.3, obtemos que x(t) ≥ 0 em [a, b]. Demonstramos, deste modo, que x(t) < 0 no intervalo

[a, b], quando x(t) 6≡ 0 em [a, b].

Suponha-se que x(t) ≡ 0 em [a, b], então x(t) ≥ 0 devido ao lema 1.2.3. Devido à equação

(1.2.1), obtemos que f (t) = (Lx)(t) = −(T x)(t) ≤ 0 para t ∈ [a, b], donde f (t) ≡ 0 em [a, b].

Isto contradiz o facto de que f (t) 6≡ 0 em [a, b].

Vamos agora estabelecer o facto de que x(t) > 0 para t ∈ [0, a) ∪ (b, 1]. Seja, por exemplo,

x(t) ≤ 0 em [0, a) ∪ (b, 1]. Devido ao lema 1.2.3 obtemos, que x(t) ≥ 0 em todo intervalo [0, 1].

De modo análogo conclui-se, que não pode cumprir-se a desigualdade x(t) ≤ 0 em alguns

intervalos do tipo [a − ε1 , a], [b, b + ε2 ], onde ε1 , ε2 são números positivos.

Suponhamos agora, que x(t) ≥ 0 num certo intervalo [a − ε, a] e x(c) < 0, para um certo

ponto c ∈ [0, a − ε). Então, a função x terá, pelo menos, um ponto positivo estacionário

τ ∈ [0, a), i.e. ẋ(τ ) = 0, x(τ ) > 0. Daqui, e devido ao lema 1.2.3, obtemos x(t) > 0 em

[0, 1]. A contradição obtida permite concluir, que x(t) > 0 para t ∈ [0, a). De modo análogo

demonstra-se, que x(t) > 0 para t ∈ (b, 1].2


Monotonicidade do Operador de Green 45

Teorema 1.2.3. Suponhamos que a equação Lx = f , com operador isótono T , usufrui a

propriedade A. Então, o problema de fronteira





 t[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
(1.2.6)


 x(0) = α1 , κ1 x(1) + ẋ(1) = α2 ,

1
onde κ1 ≥ 0, é únicamente solúvel no espaço Dt,b
p , para todo f ∈ Lp , α1 , α2 ∈ R , (1 < p ≤

∞), e o seu operador de Green é antı́tono. Além disso, para f ≥ 0, f 6≡ 0 e α1 = α2 = 0

temos, que x(t) < 0 para todo t ∈ (0, 1).

Demonstração. O problema homogéneo (1.2.6) (f ≡ 0, α1 = 0, α2 = 0) possui sómente

solução trivial, porque caso contrário a sua solução não trivial atingiria o seu valor máximo

positivo no intervalo (0, 1), o que contradiz o lema 1.2.3. Assim, e devido a fredholmidade

da parte principal, o problema não homogéneo (1.2.6) tem solução única, qualquer que seja

f ∈ Lp . Se a solução x do problema não homogéneo (1.2.6), para f ≥ 0, f 6≡ 0 e α1 = α2 = 0,

atingir o seu maior valor positivo num certo ponto τ ∈ (0, 1), então, devido ao lema 1.2.3, temos

x(t) > 0 para todo t ∈ [0, 1], o que contradiz a condição x(0) = 0. Mostremos agora, que

x(t) < 0 para t ∈ (0, 1). Realmente, se x(τ ) = 0 para um certo τ ∈ (0, 1), então x(τ ) ≥ x(t)

para todo t ∈ [0, 1]. Isto significa, que x(τ ) é o valor máximo da função x no intervalo [0, 1],

donde concluimos que ẋ(τ ) = 0. Por isso, e devido ao lema 1.2.3, obtemos que x(t) ≥ 0 em

[0, 1]. Se agora supôrmos que x(t) ≡ 0 em [0, 1] então, devido à equação (1.2.6), obtemos

que f (t) ≡ 0 no segmento [0, 1]. Deste modo, das contradições obtidas, podemos afirmar que

x(t) < 0 em (0, 1).2

Teorema 1.2.3-bis. Suponhamos que a equação Lx = f , com operador isótono T , usufrui a


46 Capı́tulo I

propriedade A. Então o problema de fronteira





 (1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
(1.2.7)


 γ1 x(0) + ẋ(0) = α1 , x(1) = α2 ,

onde γ1 ≤ 0, tem solução única no espaço D1−t,b


p , quaisquer que sejam f ∈ Lp , α1 , α2 ∈ R1 ,

(1 < p ≤ ∞), e o seu operador de Green é antı́tono. Além disso, para f ≥ 0, f 6≡ 0 e

α1 = α2 = 0 temos, que x(t) < 0 para todo t ∈ (0, 1).

Demonstração. Demonstra-se de modo análogo ao teorema anterior.2


Monotonicidade do Operador de Green 47

§1.3. A condição “A” na investigação da monotonia do operador de


Green de problemas singulares de fronteira

Vejamos a equação (1.2.1) e suponhamos que o operador T : C 7→ Lp é regular, i.e. admite

a representação T = T + − T − , onde T − , T + : C 7→ Lp são operadores lineares isótonos. Seja

pois
def
L+ x = π(ẍ + bẋ) − T + x.

A equação (1.2.1) reescrevemos na forma

Lx ≡ L+ x + T − x = f.

def
Denotemos A+ = −G + T − : C 7→ C, onde G + é o operador de Green do problema

L+ x = f, x(0) = x(1) = 0.

O problema Lx = f, x(0) = α1 , x(1) = α2 no espaço Dπ,b +


p é equivalente à equação x = A x+g
Z1
def
no espaço Dπ,b
p , onde g(t) = G+ (t, s)f (s) ds + u(t), t ∈ [0, 1], u é a solução do problema
0
semihomogéneo

L+ x = 0, x(0) = α1 , x(1) = α2 .

Se a equação L+ x = f usufrui a propriedade A então, devido ao teorema 1.2.2, o operador

G + : Lp −→ C é antı́tono, por isso mesmo o operador A+ : C 7→ C é isótono.

Teorema 1.3.1. Suponhamos que a equação L+ x = f usufrui a propriedade A. As seguintes

afirmações são equivalentes:


48 Capı́tulo I

1) existe um elemento v ∈ Dπ,b


p tal, que

def
v(t) > 0, φ(t) = (Lv)(t) ≤ 0, t ∈ (0, 1),

Z1
além disso v(0) + v(1) − φ(s) ds > 0;
0

2) o raio espectral ρ(A+ ) do operador A+ : C 7→ C é menor que 1;

3) o problema de fronteira (1.2.4) tem solução única x ∈ Dπ,b


p , para cada par {f, α} ∈

Lp × R2 , sendo o seu operador de Green G antı́tono;

4) existe, no intervalo [0, 1], solução positiva da equação homogénea Lx = 0.

Demonstração. Do teorema 1.2.2 advém, que a função v satisfaz a desigualdade

v(t) − (A+ v)(t) = (G + φ)(t) + u(t) > 0, t ∈ (0, 1),

onde u é a solução do problema semihomogéneo

L+ x = 0, x(0) = v(0) ≥ 0, x(1) = v(1) ≥ 0.

Como v(t) > 0 e v(t) − (A+ v)(t) > 0 para t ∈ (0, 1), então ρ(A+ ) < 1, de acordo com o lema

1.2.1. A implicação 1) =⇒ 2) está demonstrada.

A implicação 2) =⇒ 3) deriva do facto de que o operador de Green G do problema (1.2.4)

tem a forma

G = (I + A+ + (A+ )2 + · · ·)G + ,

se ρ(A+ ) < 1.
Monotonicidade do Operador de Green 49

A implicação 3) =⇒ 1) obtem-se colocando v = −G(1). Realmente, v(t) ≥ 0, t ∈ [0, 1],

pois o operador G é antı́tono. Além disso, v satisfaz a equação x = A+ x − G + (1). Assim, e de

acordo com os teoremas 1.2.1 e 1.2.2, v(t) ≥ −[G + (1)](t) > 0, φ(t) = (Lv)(t) = −1 < 0 para

todo t ∈ (0, 1), sendo v(0) = v(1) = 0.

A implicação 2) =⇒ 4) deriva do facto de que a solução z do problema semihomogéneo

Lx = 0, x(0) = α1 > 0, x(1) = α2 > 0

satisfaz a equação x = A+ x + z 0 , onde z 0 é solução positiva, devido ao corolário 1.2.1, do

problema

L+ x = 0, x(0) = α1 , x(1) = α2 .

Deste modo,

z(t) = z 0 (t) + (A+ z 0 )(t) + ((A+ )2 z 0 )(t) + · · · ≥ z 0 (t), t ∈ [0, 1].

A implicação 4) =⇒ 1) deriva do lema 1.2.1, pois a solução positiva z da equação Lx = 0

satisfaz as desigualdades

z(t) > 0, z(t) − (A+ z)(t) = z 0 (t) > 0, t ∈ [0, 1],

onde z 0 é a solução do problema L+ x = 0, x(0) = z(0) > 0, x(1) = z(1) > 0.2
def
Vamos agora investigar os problemas (1.2.6) e (1.2.7). Denotemos A+ + − +
i = −Gi T , Ai :

C 7→ C, i = 1, 2, onde G1+ é o operador de Green do problema





 t[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T + x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],


 x(0) = κ1 x(1) + ẋ(1) = 0, κ1 ≥ 0
50 Capı́tulo I

e G2+ é o operador de Green do problema





 (1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T + x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],


 γ1 x(0) + ẋ(0) = x(1) = 0, γ1 ≤ 0.

De modo análogo ao teorema 1.3.1 demonstram-se afirmações para os problemas de Sturm-

Liouville (1.2.6) e (1.2.7).

Teorema 1.3.2. Seja π(t) = t e suponhamos que a equação L+ x = f usufrui a propriedade

A. As seguintes afirmações são equivalentes:

1) existe v ∈ Dt,b
p tal, que

def
v(t) > 0, φ(t) = (Lv)(t) ≤ 0, t ∈ (0, 1], v̇(1) ≥ 0,
Z1
v(0) + κ1 v(1) + v̇(1) − φ(s) ds > 0;
0

2) o raio espectral ρ(A+


1) do operador A+
1 : C 7→ C é menor que 1;

2
3) o problema de fronteira (1.2.6) tem solução única x ∈ Dt,b
p , para cada par {f, α} ∈ Lp ×R ,

sendo o seu operador de Green G antı́tono;

4) existe, no segmento [0, 1], solução positiva z do problema homogéneo da equação Lx = 0

e κ1 z(1) + ż(1) > 0.

Teorema 1.3.2-bis. Seja π(t) = 1 − t e suponhamos que a equação L+ x = f usufrui a

propriedade A. As seguintes afirmações são equivalentes:

1) existe v ∈ D1−t,b
p tal, que

def
v(t) > 0, φ(t) = (Lv)(t) ≤ 0, t ∈ [0, 1), v̇(0) ≤ 0,
Monotonicidade do Operador de Green 51

Z1
v(1) − γ1 v(0) − v̇(0) − φ(s) ds > 0;
0

2) o raio espectral ρ(A+ +


2 ) do operador A2 : C 7→ C é menor do que 1;

3) o problema de fronteira (1.2.7) tem solução única x ∈ D1−t,b


p , para cada par {f, α} ∈

Lp × R2 , sendo o seu operador de Green G antı́tono;

4) existe, no segmento [0, 1], solução positiva z da equação Lx = 0 e γ1 z(0) + ż(0) < 0.

Definição 1.3.1. Diremos que Jπ é intervalo de não oscilação da equação Lx = 0, se qual-

quer solução não trivial desta equação possui no intervalo [0, 1] não mais do que uma raı́z,

considerando a raı́z dupla em Jπ duas vezes.

Teorema 1.3.3. Suponhamos que b(t) ≥ 0 em quase todo [0, 1], se π(t) = t, b(t) ≤ 0 em

quase todo [0, 1], se π(t) = 1 − t e b(t) tem qualquer sinal, se π(t) = t(1 − t). As seguintes

afirmações são equivalentes:

1) a equação L+ x = f usufrui a propriedade A;

2) qualquer solução não trivial da equação homogénea L+ x = 0, que tem uma raı́z no seg-

mento [0, 1], a sua derivada não possui raı́zes no intervalo Jπ ;

3) o sistema fundamental de soluções da equação L+ x = 0 é não oscilatório;

4) existe um par de funções v1 , v2 ∈ Dπ,b


p tal, que

v1 (0) = 0, v1 (1) > 0, v2 (0) > 0, v2 (1) = 0,

def
vi (t) > 0, φi (t) = (L+ vi )(t) ≥ 0, i = 1, 2, t ∈ (0, 1),
52 Capı́tulo I

sendo φi (t) > 0, para quase todo t ∈ (0, 1), se π(t) = t, π(t) = 1 − t.

Demonstração. A implicação 1) =⇒ 2) é quase evidente. Seja u a solução da equação

L+ x = 0 tal, que u̇(τ ) = 0, u(τ ) > 0, τ ∈ Jπ . Em virtude do lema 1.2.3 (pg. 42) implica, que

a função u não tem raı́zes no segmento [0, 1].

Se a afirmação 2) cumpre-se, então no intervalo Jπ a solução não trivial da equação L+ x = 0

não possui raı́zes múltiplas. Também não existem duas raı́zes diferentes no segmento [0, 1], uma

vez que no intervalo entre elas a derivada da solução deverá ser igual à zero. Assim, a implicação

2) =⇒ 3) está demonstrada.

Vamos mostrar a implicação 3) =⇒ 4). Construimos as soluções u1 , u2 dos problemas

semihomogéneos

L+ x = 0, x(0) = 0, x(1) = 1,

L+ x = 0, x(0) = 1, x(1) = 0

respectivamente. A não oscilação garante a ausência de solução não trivial do problema ho-

mogéneo

L+ x = 0, x(0) = 0, x(1) = 0,

por isso, devido à fredholmidade da parte principal, as soluções u1 , u2 existem. Estas soluções já

possuem uma raı́z cada e por isso mesmo elas são positivas no intervalo (0, 1). Se π(t) = t(1−t),

então as funções v1 ≡ u1 e v2 ≡ u2 satisfazem a condição 4).

Se π(t) = 1 − t, então o problema

L+ x = 0, x(0) = 0, ẋ(0) = k > 0


Monotonicidade do Operador de Green 53

tem solução zk . Realmente, o problema homogéneo, de acordo com a definição de não oscilação,

possui só solução trivial. Uma vez que a parte principal do problema é de Fredholm, então o

problema não homogéneo será únicamente solúvel. A solução zk é positiva no intervalo (0, 1],

pois ela não pode ter uma segunda raı́z. Fixemos, para quase todo t ∈ [0, 1], a função φ(t).

Seja zφ a solução do problema L+ x = φ, x(0) = 0, x(1) = 0. A não oscilação e fredholmidade


def
da parte principal deste problema garante a sua solubilidade única. A soma z = zφ + zk , para

valores de k suficientemente grandes, é positiva no intervalo (0, 1], pois o valor żφ (0) é finito.

As funções v1 ≡ z e v2 ≡ u2 satisfazem a afirmação 4).

Para o caso quando π(t) = t demonstra-se de modo análogo .

Demonstremos agora a implicação 4) =⇒ 1). Vamos mostrar que a afirmação 4) do teorema

permite construir, para cada ponto τ ∈ Jπ , uma função v que satisfaz a condição 1) do lema

1.2.2 (pg. 40).

Seja π(t) = t(1 − t). Da condição 4) advém, que v̇1 (t) > 0, v̇2 (t) < 0 para t ∈ (0, 1).

Consequentemente, para cada ponto τ ∈ Jπ , existe uma constante positiva C tal, que a soma

v = Cv1 +v2 usufrui a propriedade: v̇(τ ) = 0, v(t) > 0 para t ∈ [0, 1], (L+ v)(t) = Cφ1 +φ2 ≥ 0

para quase todo t ∈ [0, 1].


def
Suponhamos, que τ = 0, π(t) = 1 − t. Então a função v(t) = v1 (t) − v̇1 (0)t usufrui a

propriedade: v̇(0) = 0, v(0) = 0, v(t) > 0 para t ∈ (0, 1], (L+ v)(t) ≥ φ1 (t) > 0 para quase

todo t ∈ [0, 1]. Realmente, se v̇1 (0) = 0, temos v = v1 , L+ v = φ1 . Se v̇1 (0) 6= 0, então

v̇1 (0) > 0 e L+ v = L+ v1 − πbv̇1 (0) + T + [v̇1 (0)t] ≥ φ1 e como

T + v1 + φ1 − πbv̇1 (0) def


v̈ + bv̇ = = η > 0,
π
54 Capı́tulo I

então

Zt Zt − b(θ) dθ
v(t) = e s η(s) dζ ds =
0 s

Rζ Rζ
Zt − b(θ) dθ Zζ b(θ) dθ
= e 0 e 0 η(s) ds dζ > 0, t ∈ (0, 1].
0 0

O caso π(t) = t investiga-se segundo o mesmo esquema. A função v(t) = v2 (t) + v̇2 (1)(1 − t)

satisfaz a condição 1) do lema 1.2.2, para τ = 1.2

Deste modo demonstramos que a propriedade A da equação L+ x = f é equivalente à não

existência para qualquer solução não trivial da equação homogénea L+ x = 0, de duas raı́zes,

tendo em conta a sua multiplicidade, no segmento [0, 1], sendo a raı́z múltipla no ponto t = 0

considerada duas vezes no caso π(t) = 1 − t, e a raı́z múltipla no ponto t = 1 considerada duas

vezes no caso π(t) = t.

De realçar o facto de que, nas condições do ponto 2) do teorema, EDF sem singularidade

foram estudadas, por exemplo, no trabalho [44].

Vejamos no espaço Dπ,b


p a equação

π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q(t)xh (t) = f (t), t ∈ [0, 1], (1.3.1)

onde o operador linear de sobreposição xh define-se pela igualdade





 x(h(t)) , se h(t) ∈ [0, 1];
def
xh (t) =


 0 , se h(t) 6∈ [0, 1],

h : [0, 1] 7→ R1 é uma função mensurável, q(·) ≥ 0, q ∈ Lp , f ∈ Lp , 1 ≤ p ≤ ∞.


Monotonicidade do Operador de Green 55

Denote-se 


 1 , se h(t) ∈ [0, 1];
def
σh (t) =


 0 , se h(t) 6∈ [0, 1].
Lema 1.3.1. Seja π(t) = t(1 − t) e suponhamos que, para quase todo t ∈ [0, 1], cumprem-se

as desigualdades
h(t) Rζ Rt
Z − b(θ) dθ − b(θ) dθ
−q(t)σh (t) e 0 ln(1 − s) ds ≤ te 0 (1.3.2)
0
e
Rζ Rt
Z1 − b(θ) dθ − b(θ) dθ
−q(t)σh (t) e 0 ln s ds ≤ (1 − t)e 0 . (1.3.3)
h(t)

Então a equação (1.3.1) usufrui a propriedade A.

Demonstração. Seja
Rs Rs
Zt − b(θ) dθ Z1 − b(θ) dθ
def def
v1 (t) = − e 0 ln(1 − s) ds, v2 (t) = − e 0 ln s ds.
0 t

Temos, que v1 (0) = 0, v1 (1) > 0, v2 (0) > 0, v2 (1) = 0 e


Rt
− b(θ) dθ
t(1 − t)[v̈1 (t) + b(t)v̇1 (t)] − q(t)(v1 )h (t) = te 0 − q(t)(v1 )h (t) ≥ 0,
Rt
− b(θ) dθ
t(1 − t)[v̈2 (t) + b(t)v̇2 (t)] − q(t)(v2 )h (t) = (1 − t)e 0 − q(t)(v2 )h (t) ≥ 0,

se as desigualdades (1.3.2) e (1.3.3), respectivamente, cumprem-se. Isto significa, que as funções

v1 (·) e v2 (·) satisfazem a condição 4) do teorema 1.3.3, consequentemente, a equação 1.3.1

usufrui a propriedade A.2

Suponhamos, que b ≡ 0. Vejamos, no espaço Dπp , a equação

π(t)ẍ(t) − q(t)xh (t) = f (t), t ∈ [0, 1], (1.3.4)


56 Capı́tulo I

onde h : [0, 1] 7→ R1 é uma função mensurável, q(·) ≥ 0, q ∈ Lp , f ∈ Lp , 1 ≤ p ≤ ∞. Se, no

caso quando π(t) = t(1 − t), colocarmos





 (1 − t) ln(1 − t) + t , se t ∈ [0, 1);
def
v1 (t) = 
  1 , se t = 1,




 1 − t + t ln t , se t ∈ (0, 1];
def
v2 (t) =


 1 , se t = 0,
então temos, que

t(1 − t)v̈1 (t) = t, t(1 − t)v̈2 (t) = 1 − t,


v1 (t) 1+t v2 (t) t
2
≤ ≤ 1, 2
≤ 1 − ≤ 1, t ∈ [0, 1].
t 2 (1 − t) 2
Aplicando o lema 1.3.1, obtemos as seguintes afirmações.

Critério 1.3.1. Seja π(t) = t(1 − t). A equação (1.3.4) usufrui a propriedade A se, para quase

todo t ∈ [0, 1], cumprem-se as desigualdades

[1 + h(t)]h2 (t)σh (t)q(t) ≤ 2t, [2 − h(t)][1 − h(t)]2 σh (t)q(t) ≤ 2(1 − t).

Corolário 1.3.1. Seja π(t) = t(1 − t). A equação (1.3.4) usufrui a propriedade A se, para

quase todo t ∈ [0, 1], cumprem-se as desigualdades

h2 (t)σh (t)q(t) ≤ t, [1 − h(t)]2 σh (t)q(t) ≤ 1 − t.

De notar que as desigualdades não se podem cumprir, se ε ≤ h(t) ≤ 1 − ε, ε > 0, t ∈ [0, 1].

Corolário 1.3.2. Seja π(t) = t(1 − t), M = vrai sup σh (t)q(t) > 0 e
0≤t≤1
s s
1−t t
1− ≤ h(t) ≤
M M
Monotonicidade do Operador de Green 57

para quase todo t ∈ [0, 1] tal, que h(t) ∈ [0, 1]. Então a equação (1.3.4) usufrui a propriedade

A.

A importância das condições retratadas nestes critérios e o papel da estructura da função

h mostra-nos a seguinte afirmação.

Teorema 1.3.4. Seja π(t) = t(1 − t). Se q(t) ≥ q0 > 0, h(t) ∈ [ε, 1] ou h(t) ∈ [0, 1 − ε], para

todo t ∈ [0, 1] e certo ε > 0, então a equação (1.3.4) não usufrui a propriedade A.

Demonstração. Suponhamos, por exemplo, que h(t) ∈ [ε, 1] para todo t ∈ [0, 1]. Se a equação

(1.3.4) usufrui a propriedade A, então, segundo o teorema 1.3.3, existe uma função v1 ∈ Dπp

tal, que v1 (t) > 0 para t ∈ (0, 1], v1 (0) = 0 e

def
t(1 − t)v̈1 (t) ≥ q(t)(v1 )h (t) ≥ q0 min v1 (t) = δ > 0, t ∈ [0, 1].
ε≤t≤1

Seja u a solução do problema, únicamente solúvel,

t(1 − t)ü(t) = δ, u(0) = 0, u(1) = v1 (1) > 0.

def
Então, a função z = v1 − u não é positiva, pois é solução do problema semihomogéneo, com

operador de Green antı́tono,

t(1 − t)z̈(t) = ψ(t) ≥ 0, z(0) = 0, z(1) = 0,

def
onde ψ(t) = t(1 − t)v̈1 (t) − δ , t ∈ [0, 1].

Deste modo, 0 ≤ v1 (t) = z(t) + u(t) ≤ u(t) quase sempre no segmento [0, 1], consequente-

mente a função u não é negativa. A função u tem a forma

u(t) = δ[(1 − t) ln(1 − t) + t ln t] + v1 (1)t, t ∈ (0, 1), u(0) = 0, u(1) = v1 (1).


58 Capı́tulo I

Chegamos à contradição, pois numa certa vizinhança de zero a função u é negativa.2

Critério 1.3.2. Seja π(t) = t(1 − t), então a equação (1.3.4) usufrui a propriedade A se, para

quase todo t ∈ [0, 1], cumprem-se as desigualdades

h2 (t)σh (t)q(t) ≤ 2t(1 − t), [1 − h(t)]2 σh (t)q(t) ≤ 2t(1 − t).

def def
Demonstração. Escolhemos as funções v1 (t) = t2 , v2 (t) = (1 − t)2 , t ∈ [0, 1], e aplicamos o

teorema 1.3.3.2

Corolário 1.3.3. Seja π(t) = t(1 − t), então a equação (1.3.4) usufrui a propriedade A se,

para quase todo t ∈ [0, 1], cumpre-se a desigualdade

σh (t)q(t) ≤ 2t(1 − t).

Para π(t) = t escolhemos





t2  1 − t + t ln t , se t ∈ (0, 1];
def def
v1 (t) = , v2 (t) =
2 

 1 , se t = 0.

Então

tv̈1 = t, tv̈2 (t) = 1,

v1 (t) 1 v2 (t) t
2
= , 2
≤ 1 − ≤ 1, t ∈ [0, 1].
t 2 (1 − t) 2
Critério 1.3.3. Seja π(t) = t, então a equação (1.3.4) usufrui a propriedade A se, para quase

todo t ∈ [0, 1], cumprem-se as desigualdades

h2 (t)σh (t)q(t) ≤ 2t, [2 − h(t)][1 − h(t)]2 σh (t)q(t) ≤ 2.


Monotonicidade do Operador de Green 59

Corolário 1.3.4. Seja π(t) = t, então a equação (1.3.4) usufrui a propriedade A se, para

quase todo t ∈ [0, 1], cumprem-se as desigualdades

h2 (t)σh (t)q(t) ≤ 2t, [1 − h(t)]2 σh (t)q(t) ≤ 1.

q(t)σh (t)
Observação 1.3.1. Se é somável, então os elementos da solução fundamental da
π(t)
equação πẍ − qxh = 0 pertencem ao espaço W21 . Se a desigualdade
Z1
q(s)σh (s)
ds ≤ 1
π(s)
0

cumpre-se, então a equação (1.3.4) neste caso usufrui a propriedade A. Esta desigualdade

garante que o wronskiano do sistema fundamental u1 , u2 seja sempre diferente de zero.2


60 Capı́tulo I

§1.4. Operadores de Green para alguns problemas modelos

Na investigação de problemas de fronteira, para EDF, usa-se a ideia de comparação com

problemas “modelos” mais simples, que usufruem as necessárias propriedades. Neste parágrafo

estudaremos as propriedades do operador de Green para certos problemas de fronteira modelos,

que terão, adiante, um papel importante.

Vejamos os problemas de fronteira modelo

π(ẍ + bẋ) = z, `x = 0, (1.4.1)

ẍ + bẋ = f, `x = 0, (1.4.2)

onde ` é um funcional linear limitado no espaço Dπ,b


p .

Teorema 1.4.1[68]. Se G0 é a função de Green do problema (1.4.2), então a função definida,


G (t, s)
para cada s ∈ Jπ , pela igualdade G(t, s) = 0 , t ∈ [0, 1], é a função de Green do problema
π(s)
(1.4.1) no espaço Dπ,b
p .

Quando se estudam os problemas de fronteira um lugar importante é ocupado pelo W

método (para mais detalhes vide [28], [32], [33]), que se baseia numa escolha adequada da

equação auxiliar L0 x = z . Este método fundamenta-se na seguinte afirmação.

Teorema 1.4.2[26], [32, pg.19]. Suponhamos que o problema de fronteira modelo

L0 x = z, `x = 0

é únicamente solúvel para todo z ∈ B e W : B 7→ D é o operador de Green deste problema.

O problema (1.0.3) é únicamente solúvel só e sómente só, quando o operador LW : B 7→ B é

invertı́vel. Neste caso o operador de Green G do problema (1.0.3) tem a forma G = W(LW)−1 .
Monotonicidade do Operador de Green 61

Z1
def
Vejamos os operadores integrais (Hi x)(t) = Hi (t, s)x(s) ds, i = 0, 1, 2, onde H0 foi
0
anteriormente definido no §1.1 (pg. 28), os núcleos H1 e H2 definimos do seguinte modo:
  

 Rζ Rζ R1
 Zs − b(θ) dθ Z1 − b(θ)dθ − b(θ)dθ

  

 e 0 dζ  κ1 e s dζ + e s 

  



 0 t

 − , se 0 ≤ s ≤ t < 1;

 s∆1


def
H1 (t, s) = 
   

 Rζ Rζ R1

 Zt − b(θ) dθ Z1 − b(θ)dθ − b(θ)dθ

  

 e 0 dζ κ1 e s dζ + e s 

  



 0 s

 − , se 0 < t ≤ s ≤ 1,
s∆1

  
 1 Rζ s Rζ

 Z − b(θ) dθ Z − b(θ)dθ

  


 e s dζ 
 γ1 e 0 dζ − 1




 t 0



 − , se 0 ≤ s ≤ t < 1;

 (1 − s)∆2

def
H2 (t, s) =

  

 Rζ Rζ

 Z 1 Z t

 − b(θ) dθ  − b(θ)dθ 

  γ1 e 0 



e s dζ  dζ − 1



 s 0

 − , se 0 < t ≤ s ≤ 1,
(1 − s)∆2

H1 (0, 0) = H2 (1, 1) = −1,

Rζ R1
Z1 − b(θ) dθ − b(θ) dθ
def
∆ 1 = κ1 e 0 dζ + e 0 6= 0,
0


Z1 − b(θ) dθ
def
∆ 2 = γ1 e 0 dζ − 1 6= 0.
0
62 Capı́tulo I

Os operadores integrais H0 , H1 e H2 são operadores de Green para os problemas modelos





 π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] = z(t), t ∈ [0, 1],


 x(0) = 0, x(1) = 0,




 t[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] = z(t), t ∈ [0, 1],


 x(0) = 0, κ1 x(1) + ẋ(1) = 0, κ1 ≥ 0,




 (1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] = z(t), t ∈ [0, 1],


 γ1 x(0) + ẋ(0) = 0, x(1) = 0, γ1 ≤ 0,

nos espaços Dπ,b t,b 1−t,b


p , Dp e Dp respectivamente.

Lema 1.4.1. O operador Hi : Lp 7→ C é contı́nuo, para 1 ≤ p ≤ ∞, i = 1, 2.

Demonstração. De modo análogo à demonstração do lema 1.1.2 (pg. 32).2

Lema 1.4.2. O operador integral Hi : Lp 7→ C é completamente contı́nuo, para 1 < p ≤ ∞,

i = 1, 2.

Demonstração. De modo análogo à demonstração do lema 1.1.3 (pg. 34).2

Observação 1.4.1. Análogamente à observação 1.1.2 (pg. 36) temos, que o operador integral

Hi : L1 7→ C, i = 1, 2 não é completamente contı́nuo.2

Lema 1.4.3. Suponhamos que, para um certo 1 ≤ p ≤ ∞, o problema de fronteira

π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T x)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1], x(0) = 0, x(1) = 0,

onde T : C 7→ Lp é um operador linear limitado, é únicamente solúvel no espaço Dπ,b


p , qualquer

que seja φ ∈ Lp . Então, se 1 < p ≤ ∞, o operador de Green G : Lp 7→ C deste problema é


Monotonicidade do Operador de Green 63

completamente contı́nuo; se p = 1, então este operador é continuo, mas não é completamente

contı́nuo.

Demonstração. Devido ao teorema 1.4.2 o operador de Green G tem a forma G = H0 Γ0 ,

onde H0 é o operador de Green do problema modelo (1.1.1), Γ0 = (LH0 )−1 : Lp 7→ Lp é um

homeomorfismo linear. Por isso mesmo, e devido ao lema 1.1.3 (pg. 34), o operador G = H0 Γ0 é

completamente contı́nuo. Para o caso quando p = 1 o operador G é contı́nuo, como produto de

operadores contı́nuos. Devido ao facto de que o operador H0 não é compacto e tendo em conta

que Γ0 é um homeomorfismo linear, obtemos que o operador G também não é compacto.2

De modo análogo demonstram-se os dois lemas seguintes.

Lema 1.4.3-bis. Suponhamos que, para um certo 1 ≤ p ≤ ∞, o problema de fronteira





 t[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T x)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1],


 x(0) = 0, κ1 x(1) + ẋ(1) = 0,

onde T : C 7→ Lp é um operador linear limitado, é únicamente solúvel no espaço Dt,b


p , qualquer

que seja φ ∈ Lp . Então, se 1 < p ≤ ∞, o operador de Green G : Lp 7→ C deste problema é

completamente contı́nuo; se p = 1, então este operador é contı́nuo, mas não é completamente

contı́nuo.

Lema 1.4.3-bis-bis. Suponhamos que, para 1 ≤ p ≤ ∞, o problema de fronteira





 (1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − (T x)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1],


 γ1 x(0) + ẋ(0) = 0, x(1) = 0,

onde T : C 7→ Lp é um operador linear limitado, é únicamente solúvel no espaço D1−t,b


p ,

qualquer que seja φ ∈ Lp . Então, se 1 < p ≤ ∞, o operador de Greem G : Lp 7→ C deste


64 Capı́tulo I

problema é completamente contı́nuo; se p = 1, então este operador é contı́nuo, mas não é

completamente contı́nuo.
Monotonicidade do Operador de Green 65

c k
§1.5. O espaço D p

Vejamos o problema linear de fronteira





 (L̂x)(t) def
= tẍ(t) + k ẋ(t) − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
(1.5.1)


 x(0) = α1 , x(1) + γ ẋ(1) = α2 ,

onde T : C 7→ Lp (1 ≤ p ≤ ∞) é um operador linear limitado, k < 1, f ∈ Lp , γ ≥ 0.

Fácilmente constata-se, que as funções x1 (t) ≡ 1 e x2 (t) = t1−k formam o sistema funda-

mental de soluções da equação tẍ + k ẋ = 0.

Fixemos o ponto τ ∈ (0, 1] e definimos, no quadrado [0, 1] × [0, 1], a função


 k−1 1−k

 s (t − s1−k )

 , se τ ≤ s ≤ t < 1;

 1−k










Λ̂τ (t, s) =
def sk−1 (s1−k − t1−k )
 , se 0 < t ≤ s ≤ τ ;

 1−k












 0 – nos restantes pontos.

Λ̂τ (·, ·) é a função de Green do problema

tẍ(t) + k ẋ(t) = z(t), t ∈ [0, 1], x(τ ) = ẋ(τ ) = 0,


à !
τ k−1 1 τ k−1
0 ≤ Λ̂τ (t, s) ≤ max , = , para todo (t, s) ∈ [0, 1] × [0, 1].
1−k 1−k 1−k
Denote-se por
¯ ¯
¯ ¯
¯ x1 (0) x2 (0) ¯
def ¯¯ ¯
¯ = 1 + γ(1 − k) 6= 0
∆=¯ ¯
¯ ¯
¯ x1 (1) + γ ẋ1 (1) x2 (1) + γ ẋ2 (1) ¯
66 Capı́tulo I

o determinante do problema

tẍ(t) + k ẋ(t) = f (t), t ∈ [0, 1], x(0) = α1 , x(1) + γ ẋ(1) = α2 .

Seja
Z1 Ã !
def def t1−k t1−k
(Ĥ1 z)(t) = Ĥ1 (t, s)z(s) ds, (Ŷ β)(t) = β1 1− + β2 ,
∆ ∆
0

 1−k


 −∆ − t , se 0 ≤ s ≤ t ≤ 1;


 ∆(1 − k)









Ĥ1 (t, s) =
def t1−k (sk−1 ∆ − 1)
− , se 0 ≤ t < s ≤ 1;


 ∆(1 − k)











 1
 − , se t = s = 0,
1−k
Ĥ1 (·, ·) é a função de Green do problema

tẍ(t) + k ẋ(t) = z(t), t ∈ [0, 1], x(0) = 0, x(1) + γ ẋ(1) = 0.

A igualdade x = Ĥ1 z + Ŷ β , para cada par {z, β} ∈ Lp × R2 e β = {β1 , β2 }, define o


b k , cujas funções x : [0, 1] 7→ R1 usufruem as seguintes propriedades: 1)
elemento do espaço D p

x é contı́nua no segmento [0, 1], 2) ẋ é local absolutamente contı́nua no intervalo (0, 1], 3)

tẍ + k ẋ pertence ao espaço Lp .


b k é isomorfo ao espaço L × R2 . Os isomorfismos Jˆ : L × R2 7→ D
O espaço D bk e
p p p p

bk →
Jˆ−1 : D Lp × R2 podem definir-se pelas igualdades Jˆ = {Ĥ1 , Ŷ }, Jˆ−1 = [δ̂, r̂γ ], onde
p 7

δ̂x = tẍ + k ẋ, r̂γ x = {x(0), x(1) + γ ẋ(1)}.


b k definirmos como sendo
Se a norma no espaço D p

def
kxkD
b k = ktẍ + k ẋkLp + |x(0)| + |x(1) + γ ẋ(1)|,
p
Monotonicidade do Operador de Green 67

então este espaço é de Banach.

Lema 1.5.1. O operador Ĥ1 actua de Lp em C e é contı́nuo, para 1 ≤ p ≤ ∞.

Demonstração. Demonstremos que Ĥ1 : Lp 7→ C actua e é contı́nuo para p = 1. Para tal é

suficiente verificar o cumprimento das condições (vide, por exemplo, [89, pg.101]):

1) vrai sup |Ĥ1 (t, s)| ≤ µ < ∞, t ∈ [0, 1];


0≤s≤1
Z
2) lim [Ĥ1 (t, s) − Ĥ1 (t0 , s)] ds = 0, qualquer que seja o conjunto mensurável Ω ⊂ [0, 1] e
t→t0

qualquer t0 ∈ [0, 1].

Realmente
( )
vrai sup |Ĥ1 (t, s)| ≤ max vrai sup |Ĥ1 (t, s)|, vrai sup |Ĥ1 (t, s)| =
0≤s≤1 0≤s≤t t≤s≤1
( ¯ ¯ ¯ ¯)
¯ ∆ − t1−k ¯ ¯ 1−k k−1 ¯
¯ t (s ∆ − 1) ¯
= max vrai sup ¯¯ ¯ , vrai sup ¯ ¯ =
0≤s≤t ∆(k − 1) ¯ t≤s≤1¯ ∆(k − 1) ¯

½ ¾
γ 1 1
= max , = ≡ µ < ∞.
∆ 1−k 1−k
A condição 1) cumpre-se.

Verifiquemos o cumprimento da condição 2). A função Ĥ1 (·, ·) é contı́nua em todos os pontos

do quadrado [0, 1] × [0, 1], exceptuando o ponto (0, 0). Se t0 6= 0 então, devido à continuidade

Ĥ1 (·, ·), vemos que a condição 2) cumpre-se. Mostremos que esta condição cumpre-se e para o

caso quando t0 = 0. Seja ε > 0, Ω = [0, ε] ⊂ [0, 1]. Então

Zε Zt Zε
lim Ĥ1 (t, s) ds = lim Ĥ1 (t, s) ds + lim Ĥ1 (t, s) ds =
t→0 t→0 t→0
0 0 t
68 Capı́tulo I

Zt Z 1−k k−1 ε
∆ − t1−k t (s ∆ − 1)
= lim ds + lim ds = 0.
t→0 ∆(k − 1) t→0 ∆(k − 1)
0 t

Assim, o operador Ĥ1 : L1 7→ C é contı́nuo e, devido a inclusão contı́nua Lp ⊂ L1 , o

operador Ĥ1 actua de modo contı́nuo de Lp em C e para o caso quando p > 1.2

Lema 1.5.2. O operador integral Ĥ1 : Lp 7→ C é completamente contı́nuo, para todo p > 1.

Demonstração. Para verificarmos a compacticidade do operador Ĥ1 é suficiente (vide, por

exemplo, [89, pg.101]) mostrar que, para qualquer t0 ∈ [0, 1], é justa a igualdade
Z1
0
lim |Ĥ1 (t, s) − Ĥ1 (t0 , s)|p ds = 0.
t→t0
0

Para 1 ≤ p0 < ∞, 0 < t0 < t ≤ 1 temos:


Z1 ¯ ¯p0 Zt0 ¯¯ ¯p 0
¯ ¯
1−k
¯ ∆ − t0 ∆ − t1−k ¯¯
¯Ĥ1 (t, s) − Ĥ1 (t0 , s)¯ ds = ¯ − ¯ ds +
¯ ∆(1 − k) ∆(1 − k) ¯
0 0

Zt ¯¯ 1−k k−1 ¯p0


¯
¯t (s ∆ − 1) ∆ − t1−k
0 ¯
+ ¯¯ − ¯ ds +
∆(1 − k) ∆(1 − k) ¯
t0

Z1 ¯¯ 1−k k−1 ¯p0


¯ t0 (s ∆ − 1) t1−k (sk−1 ∆ − 1) ¯¯
+ ¯ − ¯ ds ≤
¯ ∆(1 − k) ∆(1 − k) ¯
t

0 0
(t1−k − t1−k
0 )
p
(t1−k − t1−k
0 )
p
p0
≤ t0 p0 + (t − t0 ) p0 + O(t1−k − t1−k
0 ) → 0, t → t0 .
[∆(1 − k)] [∆(1 − k)]
De modo análogo demonstra-se a respectiva afirmação, para o caso 0 = t0 < t ≤ 1 e

0 ≤ t < t0 ≤ 1.2

Observação 1.5.1. Para o problema (1.5.1) são válidas todas as afirmações análogas do

parágrafo §1.2, e parte das afirmações do parágrafo §1.3 (teorema 1.3.2, teorema 1.3.3).2
CAPITULO II

PROBLEMAS DE FRONTEIRA PARA EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

FUNCIONAIS LINEARES COM SINGULARIDADE NÃO SOMÁVEL

Neste capı́tulo investiga-se a equação linear singular, que descreve processos que ocorrem num

e ' L ×R1 e no espaço D̄t,t ' Bt,t∗ ×R1 .
reactor quı́mico. Esta equação é estudada no espaço D p p p p

Demonstra-se o teorema do tipo de Valée Poussin, sobre as condições de conservação do sinal

da função de Green, para certos problemas de fronteira.


Nos trabalhos [79] e [80] A.I. Shindiapin propôs um espaço especial Λp , mais restricto do que

o espaço de Lebesgue Lp , para o estudo de equações diferenciais funcionais singulares, tendo-se

introduzido a condição que garante que o operador K : Λp 7→ Λp seja completamente contı́nuo.

De notar que critérios de compacticidade de subconjuntos do espaço Lp eram desconhecidos.

Diferentes classes de funções de várias variáveis, cujos elementos possuem propriedades análogas

às propriedades das funções do espaço Λp , foram estudadas nos trabalhos de G.H. Hardy, A.

Zygmund, A.P. Calderón, Ch.B. Morrey, F. John e L. Nirenberg, C.N. Meyers, S. Campanato,

69
70 Capı́tulo II

S. Spanne, G. Stampacchia, V.P. Il’in, L. Piccinini, Yu.A. Brudnoy, R.A. Devor e R.S. Sharpley.

Neste capı́tulo concretizam-se e generalizam-se os resultados de [79] e [80] relativamente

às propriedades do espaço Λp . Em particular, o espaço Bvp , que aqui se introduz, pode ser

mais largo do que o espaço Lp . Análogamente ao teorema de Riesz–Fisher, para o espaço

Lp , demonstra-se a completeza do espaço Bvp . Os lemas 2.3.5 – 2.3.6 e 2.3.7 – 2.3.8 são uma

generalização dos critérios de compacticidade de Kolmogorov e Riesz respectivamente, num

espaço de Banach qualquer. Na qualidade de corolários obtêm-se os teoremas 2.3.1 e 2.3.2.

Estuda-se o espectro do operador de Cesàro no espaço Bγp .


Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 71

f
§2.1. Problema singular no espaço D p . Teoremas tipo teorema de

Valée Poussin

Vejamos o problema linear de fronteira




 def k
 (L̃0 x)(t) = ẍ(t) + ẋ(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
t (2.1.1)


 ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = α,

1
onde k > − , γ2 ≥ 0, f ∈ Lp , p > 1.
p0
A imagem do operador L̃0 , quando actua em funções cuja derivada no ponto t = 0 é

diferente de zero (por exemplo x(t) = t), não pertence ao espaço de funções somáveis. Sendo

assim, é natural que a equação L̃0 x = f seja investigada num espaço de funções x tais, que
e ⊂ W2 de funções x : [0, 1] 7→ R1
ẋ(0) = 0. O problema (2.1.1) vamos investigar no espaço Dp p

tais, que ẋ(0) = 0. A igualdade

Zt
x(t) = (t − s)z(s) ds + β (2.1.2)
0

e , que é isomorfo ao produto


define, para cada par {z, β} ∈ Lp × R1 , o elemento do espaço D p

directo dos espaços Lp e R1 . Os isomorfismos J˜ : Lp × R1 7→ D


e e J˜−1 : D
p
e →
p 7 L p × R1

podemos definir segundo as igualdades J˜ = {Λ̃, Ỹ } e J˜−1 = [δ̃, r̃] respectivamente, onde Λ̃,

Ỹ , δ̃ , r̃ definem-se do modo seguinte:



 Zt

 def def

 (Λ̃z)(t) = (t − s)z(s) ds, (Ỹ β)(t) = β,
 0 (2.1.3)



 δ̃x def def
= ẍ, r̃x = x(0).
72 Capı́tulo II

e definirmos a norma segundo a igualdade


Lema 2.1.1. Se no espaço D p

def
kxkD
e p = kẍkLp + |x(0)|,

e é um espaço de Banach.
então D p

Observação 2.1.1. Como é sobejamente conhecido, qualquer operador linear limitado F̃ :

Lp 7→ C (1 ≤ p < ∞) é um operador integral (vide, por exemplo, [63, pg.157]), i.e.

Z1
def
(F̃z)(t) = F̃ (t, s)z(s) ds.
0

Sem limitação da sua essência, a função F̃ (·, ·) podemos considerar mensurável em relação aos

seus argumentos.2
e 7→ L tem a forma
A parte principal do operador L̃0 : D p p

def
(Q̃0 z)(t) = (L̃0 Λ̃z)(t) = z(t) + k(Pz)(t),
t
1Z
def
onde (Pz)(t) = z(s) ds é operador de Cesàro no espaço Lp . O sistema fundamental da
t
0
e , é unidimensional e é u(t) ≡ 1. Dos resultados do trabalho
equação L̃0 x = 0, no espaço Dp
1
[73] temos que, para k > − 0 , o operador Q̃0 = (I + kP) : Lp 7→ Lp admite operador inverso
p
limitado
h i Zt
(Q̃−1
0 z)(t)
−1
= (I + kP) z (t) = z(t) − kt −(1+k)
sk z(s) ds.
0

De acordo com o teorema 1.0.3, o problema principal de fronteira

L̃0 x = f, x(0) = α
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 73

e . Fazendo uso da fórmula (1.0.5), obtemos a sua solução


é únicamente solúvel no espaço Dp

geral:
 
Zt Zs
x(t) = (Λ̃Q̃−1
0 f )(t) + α = (t − s) f (s) − ks−(1+k) τ k f (τ ) dτ  ds + α =
0 0
 
Zt Zt
= t − s − ksk (t − τ )τ −(1+k) dτ  f (s) ds + α =
0 s

Zt
= C̃0 (t, s)f (s) ds + α = (C˜0 f )(t) + α,
0

onde a função C̃0 (t, s) é definida pela igualdade


Zt
k
C̃0 (t, s) = t − s − ks (t − τ )τ −(1+k) dτ, 0 ≤ s ≤ t ≤ 1.
0

Deste modo, se k = 1, temos

t
C̃0 (t, s) = s ln , se 0 < s ≤ t ≤ 1, C̃0 (0, 0) = 0
s

e
" µ ¶k−1 #
s s
C̃0 (t, s) = 1− , se 0 < s ≤ t ≤ 1, C̃0 (0, 0) = 0,
k−1 t
se k 6= 1.

De notar que, para 1 < p ≤ ∞, o operador C˜0 : Lp 7→ C é completamente contı́nuo como

produto do operador completamente contı́nuo Λ̃ : Lp 7→ C e o operador limitado Q̃−1


0 : Lp 7→

Lp .
e , tal que `[1] 6= 0, o problema de fronteira
Para qualquer funcional `, no espaço D p

L̃0 x = f, `x = α
74 Capı́tulo II

f (t, s)
é únicamente solúvel e, segundo o teorema 3.3 de [32, pg.17], a sua função de Green W `

pode-se construir de uma forma concreta, com base na igualdade

f (t, s) = C̃ (t, s) − 1
W ` 0 `[C̃0 (·, s)], (2.1.4)
`[1]

onde é necessário colocar C̃0 (t, s) = 0, se 0 ≤ t < s ≤ 1.


e tem a forma
A solução do problema (2.1.1) no espaço D p

f + α,
x = Wf

onde
Z1
f )(t) def
(Wf = f (t, s)f (s) ds.
W
0

Mostremos isto. Cálculos imediatos dão:


 
Zt Zt
x(t) = t − s − ksk (t − τ )τ −(1+k) dτ  f (s) ds + x(0).
0 s

Da condição x(1) + γ2 ẋ(1) = 0 obtemos


 
Z1 Z1
x(0) = − 1 + γ2 − s − ksk (1 + γ2 − τ )τ −(1+k) dτ  f (s) ds.
0 s

Consequentemente,
  1 
 Z Zt




 t − 1 + ksk  (1 − τ )τ −(1+k) dτ − (t − τ )τ −(1+k) dτ  − γ2 sk , 0 ≤ s ≤ t ≤ 1;



 s s

f (t, s) =
W 




 Z1


 s − 1 + ks


k
(1 − τ )τ −(1+k) dτ − γ2 sk , 0 ≤ t < s ≤ 1.
s
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 75

Calculando estes integrais temos




 sk (t1−k − 1)


 − γ2 sk , se 0 ≤ s ≤ t ≤ 1;

 1−k

f (t, s) = def
W






 sk (s1−k − 1)
 − γ2 s k , se 0 ≤ t < s ≤ 1,
1−k
1
se k > − 0 , k 6= 1, ou
p



 s ln t − γ2 s , se 0 ≤ s ≤ t ≤ 1;
f def
W (t, s) =


 s ln s − γ2 s , se 0 ≤ t < s ≤ 1,

se k = 1.
f : L 7→ C é completamente contı́nuo , para 1 < p ≤ ∞.
Lema 2.1.2. O operador integral W p

f admite a representação
Demonstração. Pelo teorema 3.3 de [32, pg.17], o operador W

f = C˜ − 1 `C˜ ,
W 0 0
`[1]

f é completamente contı́nuo, como


onde `x = x(1) + γ2 ẋ(1). Consequentemente, o operador W

diferença de dois operadores completamente contı́nuos.2

Vejamos o problema



 (L̃x)(t) def
= (L̃0 x)(t) − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],

(2.1.5)

 ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = α,

onde T : C 7→ Lp é um operador linear limitado, f ∈ Lp , α ∈ R1 . Suponhamos, que


f
kT kC→Lp kWk f
Lp →C < 1. Cálculos imediatos da norma kWkLp →C , para γ2 = 0 e diferentes k, p
76 Capı́tulo II

dão: 





2(1 + k) , p = +∞, k > −1;









 Ã ! 0

 0 p0 +1 1/p



(p + 1)

 , 1 < p < ∞, k = 1;

 Γ(p0 + 1)

kT k < 





 0 1


 (1 − k)(p0 k + 1)1/p , 1 < p < ∞, − < k < 1;


 p0











 (k − 1)w
0 , 1 < p < ∞, k > 1,
 Ã ! 1/p0
kp0 + k − p0
 (k − 1)Γ 
 k−1 
onde w0 =   µ ¶ 
 , Γ(·) é função gamma. Então, a solução do prob-
 Γ 1
Γ(p + 1) 
0
k−1
lema (2.1.5) tem a representação

x = G̃f + ũ,

e é operador de Green do problema de fronteira (2.1.5), G̃ = (I + WT


onde G̃ : Lp 7→ D f +· · ·)W
f,
p

ũ é solução do problema semihomogéneo L̃x = 0, ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = α.


def f
Seja à = WT : C 7→ C. Por I2 denotaremos o intervalo [0, 1), se γ2 ≡ 0 ou o segmento

[0, 1], se γ2 6= 0.

Lema 2.1.3. Seja T : C 7→ Lp um operador linear antı́tono, 1 < p ≤ ∞. As seguintes

afirmações são equivalentes:

e tal, que
1) existe um elemento y ∈ D p

def
y(t) > 0, φ(t) = (L̃0 y)(t) − (T y)(t) ≤ 0,
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 77

Z1
sendo y(1) + γ2 ẏ(1) + f (t, s)φ(s) ds > 0 em I ;
W 2
0

2) o raio espectral ρ(Ã) do operador à : C 7→ C é menor do que 1;

e , para cada f ∈ L , α ∈ R1 ,
3) o problema de fronteira (2.1.5) tem solução única x ∈ D p p

sendo o seu operador de Green G̃ antı́tono;

4) existe, no segmento [0, 1], solução positiva u da equação homogénea L̃0 x − T x = 0 tal,

que u(1) + γ2 u̇(1) > 0.

Demonstração. 1) =⇒ 2) A função y é solução do problema

L̃0 x − T x = φ, ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = y(1) + γ2 ẏ(1)

e, consequentemente, satisfaz a equação

f + y(1) + γ ẏ(1) > 0


y − Ãy = Wφ 2

no espaço C. Do lema 1.2.1 (pg. 40) implica, que ρ(Ã) < 1.

2) =⇒ 3) Seja α = 0. A solubilidade única do problema (2.1.5), no espaço Dπ,b


p , advém da

solubilidade única da equação

x = Ãx + g
Z1
def f (·, s)f (s) ds. Uma vez que ρ(Ã) < 1, então
no espaço C. Aqui g(·) = W
0

Z1
x(t) = G̃(t, s)f (s) ds = g(t) + (Ãg)(t) + (Ã2 g)(t) + · · · ≥ 0,
0
78 Capı́tulo II

se f (t) ≤ 0 para t ∈ [0, 1], donde G̃(·, ·) ≤ 0.

3) =⇒ 4) Vejamos o problema

L̃0 x − T x = 0, ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = α > 0. (2.1.6)

Este problema é equivalente à equação x = Ãx + α, onde, evidentemente, x(t) ≥ α > 0, t ∈

[0, 1].

A implicação 4) =⇒ 1) obtem-se, se na qualidade da função y escolhermos a solução u do

problema L̃x = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = u(1) + γ2 u̇(1).2


def
Seja (T x)(t) = p̃(t)x(t), t ∈ [0, 1]. Vejamos o problema de fronteira


 def k
 (L̃x)(t) = ẍ(t) + ẋ(t) − p̃(t)x(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
t (2.1.7)


 ẋ(0) = 0, x(1) = α,

sendo p̃ ∈ Lp .

Lema 2.1.4. As seguintes afirmações são equivalentes:

e , o problema (2.1.7) é únicamente solúvel e o seu operador de Green é


1) no espaço D p

antı́tono;

e tal, que
2) existe um elemento y ∈ D p

y(t) > 0, (L̃y)(t) ≤ 0, t ∈ [0, 1),

sendo
Z1
y(1) − (L̃y)(s) ds > 0;
0

3) existe solução positiva, no segmento [0, 1], da equação homogénea L̃x = 0.


Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 79

Demonstremos dois lemas auxiliares e, para tal, introduzimos as denotações p̃ = p+ − p− ,

p+ , p− ∈ Lp , p+ (·), p− (·) ≥ 0,

def k
(L̃+ x)(t) = ẍ(t) + ẋ(t) − p+ (t)x(t), t ∈ [0, 1].
t
e , o problema de Cauchy
Lema 2.1.5. No espaço D p

L̃+ x = f, x(0) = α (2.1.8)

é únicamente solúvel, o operador de Cauchy C˜+ da equação L̃+ x = f é isótono e a solução do

problema semihomogéneo L̃+ x = 0, x(0) = 1 é positiva no segmento [0, 1].

Demonstração. O problema (2.1.8) é equivalente à equação x = H̃x + g̃ , onde


Zt Zt
+
(H̃x)(t) = C̃0 (t, s)p (s)x(s) ds, g̃(t) = C̃0 (t, s)f (s) ds + α.
0 0

O operador H̃ : C 7→ C é um operador de Volterra completamente contı́nuo e isótono,

consequentemente o seu raio espectral é igual à zero (vide [89, pg.153]). Deste modo o problema

(2.1.8) é únicamente solúvel e o seu operador de Cauchy

C˜+ = (I + H̃ + H̃2 + · · ·)C˜0 (2.1.9)

é também isótono. Para u0 , como solução da equação x = H̃x + 1, temos a representação

u0 = 1 + H̃(1) + H̃2 (1) + · · · ,

por isso u0 (t) ≥ 1, t ∈ [0, 1].2


e o problema
Lema 2.1.6. No espaço D p

L̃+ x = f, x(1) = 0 (2.1.10)


80 Capı́tulo II

f + é antı́tono.
é únicamente solúvel e o seu operador de Green W

Demonstração. O problema homogéneo L̃+ x = 0, x(1) = 0 é equivalente à equação x = Bx,

com operador antı́tono


Z1
(Bx)(t) = f (t, s)p+ (s)x(s) ds,
W
0
f (·, ·) é a função de Green do problema (2.1.1) no caso, quando γ = 0.
onde W 2

Suponhamos que o problema não é únicamente solúvel. Então, existe uma solução não

trivial y para o problema homogéneo. Esta solução, devido à antitonicidade do operador B ,

muda de sinal no segmento [0, 1]. Deste modo y tem pelo menos duas raı́zes t = 1 e t = τ

e entre estas raı́zes não existem outras. O caso τ = 0 não é possı́vel uma vez que, devido ao

lema 2.1.5, terı́amos y(t) ≡ 0.

Vejamos a equação
k
ẍ(t) + ẋ(t) − p+ (t)x(t) = 0, t ∈ [τ, 1].
t
Para esta equação o segmento [τ, 1] é intervalo de não oscilação, y(τ ) 6= 0. A contradição

obtida mostra que o problema (2.1.10) é únicamente solúvel.


f + do problema (2.1.10) não é antı́tono e a função
Suponhamos que o operador de Green W
f + f do problema toma valores positivos num certo conjunto
f ≥ 0 é tal, que a solução x = W

de pontos do segmento [0, 1]. Se x(0) = γ ≥ 0, então x como solução do problema

L̃+ x = f, x(0) = γ

não pode satisfazer a condição x(1) = 0. Realmente, se f ≥ 0 então


Z1
x(1) = C̃ + (1, s)f (s) ds + γ > 0,
0
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 81

já que devido à (2.1.9) temos C̃ + (1, s) ≥ C̃0 (1, s) > 0, s ∈ (0, 1). Se x(0) < 0 então a solução
f + f possui um par de raı́zes τ , τ ∈ (0, 1] tais, que x(t) > 0 em (τ , τ ). No segmento
x=W 1 2 1 2

[τ1 , τ2 ] esta solução satisfaz o problema

def
(L̃+ x)(t) = (L̃0 x)(t) − p+ (t)x(t) = f (t), t ∈ [τ1 , τ2 ], x(τ1 ) = x(τ2 ) = 0.

Já que

(L̃+ [1])(t) = −p+ (t) ≤ 0, t ∈ [0, 1],

então, devido ao teorema de Valée Poussin (teorema 1.0.5), a solução deste problema não pode

tomar valores positivos em [τ1 , τ2 ]. A contradição obtida completa a demonstração.2

Demonstração do lema 2.1.4. Advém dos lemas 2.1.5 e 2.1.6.2

Observação 2.1.2. A escolha adequada da função y , que figura na condição do lema 2.1.4,

dá-nos um critério efectivo da conservação do sinal da função de Green. Assim, escolhendo


Z1
2 def 2
y(t) = 1 − t , obtemos: se ψ(t) = 2(1 + k) + p̃(t)(1 − t ) ≥ 0 e ψ(s) ds 6= 0, então para a
0
equação
k
ẍ(t) + ẋ(t) − p̃(t)x(t) = f (t), t ∈ [0, 1]
t
têm lugar todas as afirmações do lema 2.1.4.2
82 Capı́tulo II

§2.2. O espaço Bvp

Seja v : [0, 1] 7→ [0, +∞] uma função positiva e não decrescente no intervalo (0, 1], v é

limitada em cada segmento [0, a], a < 1.

Definição 2.2.1. Bvp [0, 1] ≡ Bvp (1 ≤ p < ∞) é o espaço de funções mensuráveis equivalentes

x : [0, 1] 7→ R1 tais, que para cada função x ∈ Bvp , existe uma constante Mx ≥ 0, para a qual

em [0, 1) cumpre-se a desigualdade

Zt
|x(s)|p ds ≤ Mxp v(t).
0

De notar que o espaço Bvp generaliza o espaço de A. I. Shindiapin descrito em [79]. A norma
def
kxkBvp do elemento x ∈ Bvp definimos, por exemplo, do seguinte modo: kxkBvp = inf Mx . É fácil

ver, que a norma kxkBvp do elemento x ∈ Bvp é


 t
1/p
def 1 Z
kxkBvp = sup  |x(s)|p ds .
0<t<1 v(t)
0

Se p = ∞, então Bv∞ [0, 1] ≡ Bv∞ define o espaço de funções mensuráveis equivalentes

x : [0, 1] 7→ R1 tais que, para cada função x ∈ Bvp , existe uma constante Mx ≥ 0, para a qual

em todo (0, 1) cumpre-se a desigualdade

vrai sup |x(s)| ≤ Mx v(t).


0≤s≤t

A norma kxkBv∞ do elemento x ∈ Bv∞ define-se como


à !
def 1
kxkBv∞ = sup vrai sup |x(s)| .
0<t<1 v(t) 0≤s≤t
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 83

Lema 2.2.1. Sejam Bvp1 e Bvp2 dois espaços gerados pelas funções v1 e v2 respectivamente, e

suponhamos que tem lugar a desigualdade

p def v1 (t)
M12 = sup < ∞.
0<t<1 v2 (t)

Então o espaço Bvp1 está contı́nuamente incluido no espaço Bvp2 e, para qualquer x ∈ Bvp1 ,

temos

kxkBvp2 ≤ M12 kxkBvp1 . (2.2.1)

Demonstração. Seja x ∈ Bvp1 . Mostremos que x ∈ Bvp2 e cumpre-se a desigualdade (2.2.1).

Realmente,
 t
1/p
1 Z
kxkBvp2 = sup  |x(s)|p ds =
0<t<1 v2 (t)
0

 t
1/p
v1 (t) 1 Z
= sup  |x(s)|p ds ≤
0<t<1 v2 (t) v1 (t)
0
à !1/p  t
1/p
v1 (t) 1 Z
≤ sup sup  |x(s)|p ds ≤ M12 kxkBvp1 .
0<t<1 v2 (t) 0<t<1 v1 (t)
0

De modo análogo demonstra-se a desigualdade (2.2.1), no caso quando p = ∞.2

Corolário 2.2.1. Se nas condições do lema 2.2.1 cumpre-se a desigualdade

p def v2 (t)
M21 = sup < ∞,
0<t<1 v1 (t)

então os espaços Bvp1 e Bvp2 coincidem, i.e. eles coincidem como conjuntos e as suas normas

são equivalentes:
1
kxkBvp1 ≤ kxkBvp2 ≤ M12 kxkBvp1 ,
M21
84 Capı́tulo II

para qualquer x ∈ Bvp2 .

Corolário 2.2.2. Suponhamos que cumprem-se as desigualdades:

def
M p = sup v(t) < ∞, (2.2.2)
0<t<1

def
N p = inf v(t) > 0. (2.2.3)
0<t<1

Então o espaço Bvp coincide com o espaço Lp , e as suas normas são equivalentes:

N kxkBvp ≤ kxkLp ≤ M kxkBvp ,

qualquer que seja x ∈ Lp .

Corolário 2.2.3. Se a desigualdade (2.2.2) cumpre-se, então o espaço Bvp está contı́nuamente

incluido no espaço Lp e

kxkLp ≤ M kxkBvp ,

qualquer que seja x ∈ Bvp .

Se a desigualdade (2.2.3) cumpre-se, então o espaço Lp está contı́nuamente incluido no

espaço Bvp e
1
kxkBvp ≤ kxkLp ,
N
qualquer que seja x ∈ Lp .

Lema 2.2.2. Bvp é um espaço de Banach.

Demonstração. Vejamos o caso 1 ≤ p < ∞. Seja {xi } uma sucessão fundamental no espaço

Bvp , i.e.

lim kxi − xj kBvp = 0.


i, j→∞
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 85

Mostremos que esta sucessão converge para um certo elemento x ∈ Bvp . Existe um número

nk ∈ N tal, que kxi − xj kBvp < 1/2k , i, j ≥ nk . Então kxnk − xnk+1 kBvp < 1/2k .

Seja

X
def
y(t) = |xnk+1 (t) − xnk (t)|,
k=1

m
X
def
ym (t) = |xnk+1 (t) − xnk (t)|.
k=1

De realçar que a sucessão ym não é negativa, cresce monótonamente e converge pontualmente

para y . Pela desigualdade triangular, para normas no espaço Bvp , temos kym kBvp < 1, e pelo

teorema de B. Levi, sobre a convergência monótona (vide, por exemplo, [50, pg.62]) para

qualquer t ∈ (0, 1) temos

Zt Zt
p p
y (s) ds = m→∞
lim ym (s) ds ≤ v(t). (2.2.4)
0 0

Consequentemente, y(s) < ∞ para quase todo o segmento [0, 1] (se y(s) = ∞ no conjunto de

medida positiva, então os integrais em (2.2.4) seriam iguais à infinito). Por isso mesmo a série

∞ h
X i
xn1 (t) + xnk+1 (t) − xnk (t)
k=1

converge de modo absoluto para quase todo t ∈ [0, 1], i.e. a sucessão {xnk } converge quase

sempre para uma certa função mensurável (vamos denota-la por x), definida quase sempre.

Nos pontos onde não converge vamos definir esta função de modo arbitrário.

Mostremos, que x ∈ Bvp e kxi − xkBvp → 0, quando i → ∞. Seja dado um ε > 0 qualquer.

Como {xi } é uma sucessão de Cauchy, então existe n0 ∈ N tal, que para quaisquer i, j ≥ n0
86 Capı́tulo II

temos  
t
1 Z
kxi − xj kpBvp = sup  |xi (s) − xj (s)|p ds < ε.
0<t<1 v(t)
0

Pegamos j = nk ≥ n0 e aplicamos o lema de Fatou (vide, por exemplo, [50, pg.63]). Obtemos

que, para i > n0 e para todo t ∈ (0, 1)


t t
1 Z 1 Z
|xi (s) − x(s)|p ds ≤ lim |xi (s) − xnk (s)|p ds ≤
v(t) v(t) k→∞
0 0

Z t t
1 1 Z
≤ lim inf |xi (s) − xnk (s)|p ds = lim inf |xi (s) − xnk (s)|p ds ≤
v(t) k→∞ k→∞ v(t)
0 0

≤ lim inf kxi − xnk kpBvp ≤ ε.


k→∞

Consequentemente, xi − x ∈ Bvp e por isso mesmo x ∈ Bvp , lim kxi − xkBvp = 0. O caso p = ∞
i→∞

demonstra-se de modo análogo (vide, por exemplo, [36, pg.188–189], [69, pg.34–35]).2
³ ´∗
Observação 2.2.1. É evidente que, para 1 ≤ p < ∞, o espaço Bvp é isomorfo ao espaço
0
Bup0 , onde u = v 1−p .

Mostremos isto. Vamos estabelecer que se y ∈ Bup0 , então a expressão


Z1
def
fy (x) = x(s)y(s) ds
0

define um funcional linear limitado no espaço Bvp .

Realmente, seja x ∈ Bvp . Então para quase todo t ∈ (0, 1] temos


¯ t ¯  t 1/p  t 1/p0
¯Z ¯ Zt Z Z
¯ ¯ 0
¯ x(s)y(s) ds¯ ≤
¯ ¯ |x(s)y(s)| ds ≤  |x(s)|p ds  |y(s)|p ds =
¯ ¯
0 0 0 0
 t
1/p  1/p0
Zt
1 Z 1 0
= |x(s)|p ds  |y(s)|p ds ≤ kxkBvp kykBup0 .
v(t) v 1−p0
0 0
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 87

Deste modo

|fy (x)| ≤ kykBup0 kxkBvp , kfy k ≤ kykBup0 .2

Para uma certa função mensurável u : [0, 1] 7→ [0, +∞) vamos introduzir o espaço “com

peso” Lup de funções mensuráveis x : [0, 1] 7→ R1 . Vamos escrever, que x ∈ Lup se xu ∈ Lp .


def
Colocamos kxkLup = kxukLp . Vamos supôr, também, que vrai sup u(t) < ∞ e vrai inf u(t) > 0
a≤t≤b a≤t≤b

para qualquer segmento [a, b] ⊂ (0, 1).

Têm lugar os lemas seguintes.

Lema 2.2.1-bis. Sejam Lup 1 e Lup 2 dois espaços gerados pelas funções u1 e u2 respectivamente

e suponhamos que tem lugar a desigualdade

def u2 (t)
N21 = vrai sup < ∞.
0≤t≤1 u1 (t)

Então o espaço Lup 1 está contı́nuamente incluido no espaço Lup 2 e

kxkLup 2 ≤ N21 kxkLup 1 ,

para qualquer x ∈ Lup 1 .

Corolário 2.2.1-bis. Se nas condições do lema 2.2.1-bis cumpre-se a desigualdade

def u1 (t)
N12 = vrai sup < ∞,
0≤t≤1 u2 (t)

então os espaços Lup 1 Lup 2 coincidem, i.e. eles coincidem como conjuntos, e as suas normas

são equivalentes, i.e.


1
kxkLup 1 ≤ kxkLup 2 ≤ N21 kxkLup 1 ,
N12
qualquer que seja x ∈ Lup 2 .
88 Capı́tulo II

Corolário 2.2.2-bis. Suponhamos que cumprem-se as desigualdades:

def def
M = vrai sup u(t) < ∞, N = vrai inf u(t) > 0.
0≤t≤1 0≤t≤1

Então, o espaço Lup coincide com o espaço Lp e as suas normas são equivalentes:

N kxkLup ≤ kxkLp ≤ M kxkLup .

Lema 2.2.2-bis. O espaço Lup é Banach.


1
Vamos introduzir o espaço com peso Bv,u
p , de funções mensuráveis x : [0, 1] 7→ R , tal que
def
xu ∈ Bvp . Colocamos kxkBv,u
p
= kxukBvp .

Dos lemas 2.2.1, 2.2.2, 2.2.1-bis, 2.2.2-bis e dos corolários 2.2.1–2.2.3, 2.2.1-bis–2.2.3-bis

obtemos afirmações sobre a inclusão dos espaços Bvp1 ,u1 , Bvp2 ,u2 e sobre a completeza destes

espaços.

Observação 2.2.2. É conhecido o lema 4.2 de [64, pg.33]. Sejam G, H, E, F espaços de

Banach tais, que E e F estão contı́nuamente incluidos em G e H respectivamente. Se o

operador linear limitado U de G em H aplica E em F, então a restrição U em E é um

operador limitado de E em F.2

No caso do operador de Volterra Q e E = F = Bvp2 , G = H = Bvp1 esta afirmação podemos

inverter. Tem lugar o seguinte lema.

Lema 2.2.3. Suponhamos que o espaço Bvp1 está contı́nuamente incluido em Bvp2 e existe uma

constante κ > 0 tal, que para qualquer t ∈ (0, 1) e qualquer função x ∈ Bvp2 existe uma função

yxt ∈ Bvp1 , para o qual yxt (s) = x(s) para quase todo s ∈ [0, t] e

k yxt kBvp1 ≤ κ k x kBvp2 .


Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 89

Suponhamos que o operador de Volterra Q : Bvp1 7→ Bvp1 é limitado. Então existe um único

alargamento de Volterra Q2 : Bvp2 7→ Bvp2 , i.e. Q2 x = Qx para qualquer x ∈ Bvp1 , sendo

k Q2 kBvp2 →Bvp2 ≤ κM12 k Q kBvp1 →Bvp1 . 2.2.5

Demonstração. Fixemos t ∈ (0, 1). Seja x ∈ Bvp2 e a função yxt escolhe-se de acordo com as

propriedades dos espaços Bvp1 e Bvp2 . Calculamos


 s
1/p
1 Z
k Q2 x kBp2 [0,t] = sup
v  |(Qx)(τ )|p dτ  ≤
0<s≤t v2 (s)
0

 s
1/p
v1 (s) 1 Z
≤ sup  |(Qyxt )(τ )|p dτ  ≤
0<s≤t v2 (s) v1 (s)
0

≤ M12 k Qyxt kBvp1 [0,t] ≤ M12 k Qyxt kBvp1 ≤

≤ M12 k Q kBvp1 →Bvp1 k yxt kBvp1 ≤ κM12 k Q kBvp1 →Bvp1 k x kBvp2 .

Daqui vimos, que a desigualdade (2.2.5) cumpre-se.2


90 Capı́tulo II

§2.3. Critérios de compacticidade no espaço Bγp

def
Neste parágrafo denotaremos Bγp = Bvp , onde v(t) = tγ . Se 1 ≤ p < ∞, a norma no espaço

Bγp define-se pela igualdade


 1/p 
Zt
def 1 p
kxkBγp = sup  γ |x(s)| ds .
0<t≤1 t
0

Se p = ∞, a norma define-se pela igualdade


à !
def 1
kxkBγ∞ = sup vrai sup |x(s)| .
0<t≤1 tγ 0≤s≤t

De notar que, devido ao corolário 2.2.3, para γ > 0 o espaço Bγp está contı́nuamente incluido

no espaço Lp e

kxkLp ≤ kxkBγp ,

qualquer que seja x ∈ Bγp . É claro que para γ = 0 temos Bγp ≡ Lp e as suas normas coincidem.

Neste parágrafo iremos considerar o caso γ > 0. Qualquer que seja a função x ∈ Lp vamos

defini-la, fora do segmento [0, 1], como sendo igual à zero. A função
t
1 Z
def
xρ (t) = x(s) ds,
ρ
t−ρ

onde ρ > 0, é análoga à função de Steklov (vide, por exemplo, [69, pg.244], [70, pg.76]). O

integral na parte direita existe, qualquer que seja a função x ∈ L1 . A cada elemento x ∈ L1

fazemos corresponder a “função média” xρ , obtendo deste modo um operador linear definido
def
no espaço L1 , que denotaremos por Aρ x = xρ .
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 91

Lema 2.3.1. Seja 0 < γ ≤ 1. Para 1 < p < ∞, o operador Aρ é completamente contı́nuo e

actua do espaço Bγp no espaço C, sendo kAρ kBγp →C ≤ ρ−1/p . Para 1 ≤ p < ∞, o operador Aρ

é limitado no espaço Bγp , sendo kAρ kBγp →Bγp ≤ 1.

Demonstração. Seja x ∈ Bγp . Mostremos que a função xρ é limitada. Aplicando a desigual-

dade de Hölder obtemos


¯ ¯ p
¯ Zt ¯ t t
p
¯
1 ¯
¯
¯ 1 p−1 Z p 1 Z
|xρ (t)| =  ¯¯ x(s) ds¯¯ ≤ p ρ |x(s)| ds = |x(s)|p ds ≤
ρ¯ ¯ ρ ρ
t−ρ t−ρ t−ρ

   
Zt Zt
1 1 1 1 1
≤ 


|x(s)|p ds ≤  γ |x(s)|p ds ≤ kxkpBγp . (2.3.1)
ρ tγ ρ t ρ
t−ρ 0

Para valores 1 < p < ∞, vamos mostrar que xρ é uma função contı́nua. Definindo x(t) ≡ 0,

se t ∈
/ [0, 1], temos, para 0 < t < t1 < 1, t − ρ ≥ 0, 0 < ρ < 1:
¯ ¯
¯ Zt1 Zt ¯
1¯¯ ¯
¯
|xρ (t1 ) − xρ (t)| = ¯¯ x(τ ) dτ − x(τ ) dτ ¯¯ =
ρ¯ ¯
t1 −ρ t−ρ

¯ ¯ ¯ ¯ ¯¯ t −ρ ¯
¯Zt1 tZ
1 −ρ ¯ ¯Zt1 ¯ ¯ Z1 ¯
1¯¯ ¯ 1 ¯¯ ¯ ¯ ¯
¯ ¯
= ¯¯ x(τ ) dτ − x(τ ) dτ ¯¯ ≤ ¯ x(τ ) dτ ¯¯ + ¯¯ x(τ ) dτ ¯¯ ≤
ρ¯ ¯ ρ ¯ ¯ ¯ ¯
t t−ρ t t−ρ

t 1/p0  t 1/p  1/p0  1/p


Z1 Z1 tZ
1 −ρ tZ
1 −ρ
1 1
≤  dτ   |x(τ )|p dτ  +   dτ 


 |x(τ )|p dτ 
 =
ρ ρ
t t t−ρ t−ρ
 1/p 
t 1/p  t1 −ρ
Z1 Z
1 0    
= (t1 − t)1/p 
 |x(τ )|p dτ  + |x(τ )|p dτ   ≤
ρ
t t−ρ

t 1/p t 1/p
Z1 Z1
2 0 2 0
≤ (t1 − t)1/p  |x(τ )|p dτ  ≤ (t1 − t)1/p  |x(τ )|p dτ  ≤
ρ ρ
t 0
92 Capı́tulo II

t 1/p
Z 1
2 0 1 2 0
≤ (t1 − t)1/p γ/p  |x(τ )|p dτ  ≤ (t1 − t)1/p kxkBγp . (2.3.2)
ρ t1 ρ
0
Para 1 < p < ∞, 0 < t < t1 < 1, t1 − ρ < 0, 0 < ρ < 1 temos:
t 1/p
Z 1
1 1/p0  1 0
|xρ (t1 ) − xρ (t)| ≤ (t1 − t) |x(τ )|p dτ  ≤ (t1 − t)1/p kxkBγp . (2.3.3)
ρ ρ
t

De modo análogo, para 0 < t < t1 < 1, t1 − ρ ≥ 0, t − ρ < 0 temos

2 0
|xρ (t1 ) − xρ (t)| ≤ (t1 − t)1/p kxkBγp . (2.3.4)
ρ

Daqui concluimos que a função xρ é contı́nua, para valores fixos de ρ > 0.

As desigualdades (2.3.1)–(2.3.4) permitem afirmar que, para 1 < p < ∞, o operador Aρ :

Bγp 7→ C é limitado, sendo kAρ kBγp →C ≤ ρ−1/p . Além disso, este operador é compacto porque,

devido às desigualdades (2.3.1)–(2.3.4), a imagem Aρ M de qualquer conjunto limitado M ⊂ Bγp

é relativamente compacto em C (vide, por exemplo, [69, pg.236], [70, pg.71]).

Mostremos que, para 1 ≤ p < ∞ e qualquer x ∈ Bγp , xρ = Aρ x ∈ Bγp . Da desigualdade

(2.3.1), para valores fixos de t ∈ (0, 1], temos:


 
Zt Zt Zs
1 
|xρ (s)|p ds ≤  |x(τ )|p dτ 
 ds =
ρ
0 0 s−ρ
   
t 0 0 t
1 Z Z p  1 Z Z
=  |x(s + σ)| dσ  ds = |x(s + σ)|p ds dσ =
ρ ρ
0 −ρ −ρ 0
0
 σ+t   
Z0 Zt
1 Z Z 1
= |x(τ1 )|p dτ1  dσ ≤  |x(τ1 )|p dτ1  dσ ≤
ρ σ
ρ
−ρ −ρ 0

Zt
≤ |x(τ1 )|p dτ1 . (2.3.5)
0
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 93

Deste modo, de (2.3.5) implica que xρ ∈ Bγp e kxρ kBγp ≤ kxkBγp . Isto significa que o operador

Aρ : Bγp 7→ Bγp é limitado, sendo kAρ kBγp →Bγp ≤ 1.2

De notar que, para 0 < γ ≤ 1, o espaço C está densamente incluido em Bγp .

Lema 2.3.2. Seja 1 ≤ p < ∞ e 0 < γ ≤ 1. A famı́lia de operadores {Aρ }(ρ > 0), quando

ρ → 0, converge pontualmente em C e em Bγp para os operadores identidade em C e Bγp

respectivamente, i.e. kAρ x − xkC → 0 qualquer que seja x ∈ C e kAρ x − xkBγp → 0 qualquer

que seja x ∈ Bγp , quando ρ → 0.

Demonstração. Se x é uma função contı́nua, então


t
1 Z
xρ (t) = x(s) ds = x(t − θρ) → x(t),
ρ
t−ρ

quando ρ → 0, uniformemente em relacao à t no segmento [0, 1], 0 < θ(t, ρ) < 1. Isto advém

do teorema de Lagrange, e do teorema de Cantor sobre continuidade uniforme. Deste modo,

kAρ x − xkC → 0, quando ρ → 0. Mostremos que kxρ − xkBγp → 0, quando ρ → 0, para x ∈ C.

Realmente, para qualquer t ∈ (0, 1] temos


  1/p  1/p 
Zt Zt
1 1
 |xρ (s) − x(s)|p ds ≤  γ max |xρ (s) − x(s)|p ds ≤
tγ t 0≤s≤t
0 0

1−γ
≤ t p max |xρ (s) − x(s)|,
0≤s≤t

1−γ
kxρ − xkBγp ≤ max t p max |xρ (s) − x(s)| = kxρ − xkC .
0≤t≤1 0≤s≤1

Consequentemente, kAρ x − xkBγp → 0, quando ρ → 0, para qualquer x ∈ C. Já que o espaço

C é denso em Bγp então, devido ao facto das normas dos operadores Aρ serem uniformemente

limitadas, é aplicável o teorema de Banach-Steinhaus (vide, por exemplo, [52, pg.266-267]),


94 Capı́tulo II

por isso a sucessão de operadores {Aρ }, quando ρ → 0, converge pontualmente em Bγp para o

operador identidade.2

Para h > 0 denotemos por x̃h a função





 x(t − h) , se t − h ∈ [0, 1];
def
x̃h (t) =


 0 , se t − h ∈
/ [0, 1].

def
Definimos, no espaço L1 , o operador afino (operador de sobreposição) Sh : (Sh x)(t) = x̃h (t).

É claro que, para 1 ≤ p ≤ ∞, Sh é um operador linear no espaço Lp e kSh kLp →Lp ≤ 1.

Lema 2.3.3. Seja 1 ≤ p < ∞ e 0 < γ < 1. Para cada h > 0 o operador Sh : Bγp 7→ Bγp

é limitado, sendo kSh kBγp →Bγp ≤ 1. A famı́lia de operadores {Sh }(h > 0), quando h → 0,

converge pontualmente em Bγp para o operador identidade, i.e. kSh x − xkBγp → 0, quando

h → 0, qualquer que seja x ∈ Bγp .

Demonstração. Seja x ∈ Bγp . Então, se 0 < h < 1, t − h > 0 temos:


t t
1 Z 1 Z
|x(s − h)| ds = γ |x(s − h)|p ds ≤
p
tγ t
0 h

t−h t−h
1 Z p 1 Z
≤ γ |x(s)| ds ≤ |x(s)|p ds,
t (t − h)γ
0 0

e se 0 < h < 1, 0 < t ≤ h, tendo em conta que x é igual à zero fora do segmento [0, 1] temos:
t
1 Z
γ
|x(s − h)|p ds = 0.
t
0

Mostramos, deste modo, que

kxh kBγp ≤ kxkBγp , donde kSh kBγp →Bγp ≤ 1.


Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 95

Mostremos a segunda afirmação. Seja x uma função contı́nua. Esta função é uniformemente

contı́nua daı́ que, para qualquer ε > 0 existe δ1 ∈ (0, 1) tal, que |x(t − h) − x(t)| < ε qualquer

que seja t ∈ [0, 1] se 0 < h < δ1 , t − h ∈ [0, 1]. Daqui obtemos:


t t
1 Z 1 Z
γ
|x(s − h) − x(s)| ds ≤ γ max |x(s − h) − x(s)|p ds =
p
t t 0≤s≤t
0 0

= t1−γ max |x(s − h) − x(s)|p < t1−γ εp ≤ εp .


0≤s≤t

Se 0 < h < δ1 , 0 < t ≤ h então x(s − h) = 0, para s ∈ [0, h),


t t
1 Z 1 Z
γ
|x(s − h) − x(s)| ds = γ |x(s)|p ds ≤ t1−γ kxkpC ≤ h1−γ kxkpC .
p
t t
0 0
 Ã !p/(1−γ) 
 ε 
def
Seja δ = min δ1 , . Então, se 0 < h < δ , 0 < t ≤ h, temos t1−γ kxkpC ≤
 kxkC 
h1−γ kxkpC < δ 1−γ kxkpC ≤ εp . Assim, são justas as relações:
 1/p
Zt
1 p
kxh − xkBγp = sup  γ |x(s − h) − x(s)| ds < ε.
0<t≤1 t
0

Uma vez que o espaço de funções contı́nuas é denso em Bγp então, devido ao facto das normas

dos operadores Sh serem uniformemente limitadas, é aplicável o teorema de Banach-Steinhaus

(vide, por exemplo, [52, pg.266-267]), e o conjunto de operadores {Sh }(h > 0), quando h → 0,

converge pontualmente em Bγp para o operador identidade.

Lema 2.3.4. Seja 1 ≤ p < ∞ e 0 < γ ≤ 1. Para quaisquer ρ, h ∈ (0, 1) e x ∈ Bγp são justas

as desigualdades:

kSh Aρ x − Aρ xkC ≤ ρ−1/p kSh x − xkBγp ,


ρ
1Z
kx − Aρ xkpBγp ≤ kx − Sh xkpBγp dh ≤ sup kx − Sh xkpBγp .
ρ 0<h≤ρ
0
96 Capı́tulo II

Demonstração. Para quaisquer 0 < ρ, h < 1, h < t ≤ 1 e x ∈ Bγp deduzimos


¯ ¯
¯ t−h
Z Zt ¯
1¯¯ ¯
¯
|xρ (t − h) − xρ (t)| = ¯¯ x(τ ) dτ − x(τ ) dτ ¯¯ =
ρ¯ ¯
t−h−ρ t−ρ

¯ ¯
¯ Zt Zt ¯ t
1¯ ¯ ¯
¯ 1 Z
= ¯ x(τ − h) dτ − x(τ ) dτ ¯ ≤ |x(τ − h) − x(τ )| dτ ≤
ρ ¯¯ ¯
¯ ρ
t−ρ t−ρ t−ρ

à !1/p  Zt 1/p
1 1
≤ 
γ
|x(τ − h) − x(τ )|p dτ  ≤
ρ t
0
à !1/p
1
≤ kxh − xkBγp .
ρ
Para quaisquer 0 < ρ, h < 1, h < t ≤ 1 e x ∈ Bγp temos
t
1 Z
|x(t) − xρ (t)| ≤ |x(t) − x(τ )| dτ =
ρ
t−ρ

ρ Ã !1/p  Zρ 1/p
1Z 1  |x(t) − x(t − h)|p dh
= |x(t) − x(t − h)| dh ≤ .
ρ ρ
0 0

Daqui obtemos
 ρ 
Zt Zt Z
1 1
|x(s) − xρ (s)|p ds ≤  |x(s) − x(s − h)|p dh ds =
tγ ρtγ
0 0 0

ρ  
t Zρ
1Z 1 Z 1
= p
|x(s) − x(s − h)| ds dh ≤ kx − xh kpBγp dh ≤
ρ tγ ρ
0 0 0


1
≤ dh sup kx − xh kpBγp ≤ sup kx − xh kpBγp .
ρ 0<h<ρ 0<h<ρ
0
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 97

Lema 2.3.5. Sejam B e B1 dois espaços de Banach tais, que o espaço B1 está contı́nua e

densamente incluido em B. Suponha-se que, para qualquer ρ > 0, o operador linear Aρ : B → B

é limitado, Aρ B ⊂ B1 , o operador Aρ : B1 7→ B1 é limitado, e a famı́lia de operadores

{Aρ }(ρ > 0), quando ρ → 0, converge pontualmente em B1 para o operador identidade, i.e.

para cada x ∈ B1 , para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que, para todo 0 < ρ < δ , é justa a

desigualdade kAρ x − xkB1 < ε.


Se o conjunto M ⊂ B é relativamente compacto em B, então: 1) M é limitado em B; 2)

a famı́lia de operadores {Aρ }(ρ > 0), quando ρ → 0, uniformemente em M converge para o

operador identidade IB , i.e. para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que, para todo 0 < ρ < δ e

x ∈ M, é justa a desigualdade kAρ x − xkB < ε.

Demonstração. A necessidade da primeira condição advém da afirmação do ponto 1 de [70,

pg.48] ou da consequência 3 do teorema 3 de [69, pg.230]. Vejamos a segunda condição. Já que

o conjunto M é compacto então, para qualquer ε > 0, existe uma ε/2–rede finita. Para cada

elemento desta rede existe um elemento do conjunto B1 , que se encontra a uma distância do

elemento desta rede menor do que ε/2. Então o conjunto E ⊂ B1 será uma ε–rede do conjunto

M em B. Isto significa que o conjunto M uniformemente se aproxima através do conjunto

finito de B1 .

Mostremos que Aρ → IB , quando ρ → 0, uniformemente em M segundo a norma B. Seja

k1 uma certa estimação da norma do operador Aρ : B 7→ B. Para qualquer ε > 0 dado,


def
procuramos o conjunto finito E = {x1 , . . . , xn } ⊂ B1 tal, que para cada função x ∈ M existe

xi ∈ E,
ε
kx − xi kB < .
2(k1 + 1)
98 Capı́tulo II

Tal como xi ∈ B1 , então para um ε > 0 dado existe δi > 0,

ε
kAρ xi − xi kB1 <
2k2

para 0 < ρ < δi , onde k2 é uma certa estimação da norma do operador de inclusão B1 em B.
def
Seja δ = min δi . Então, para 0 < ρ < δ e para todo i = 1, 2, . . . , n, é justa a desigualdade
1≤i≤n

ε
kAρ xi − xi kB1 < .
2k2

Para 0 < ρ < δ temos:

kAρ x − xkB ≤ kAρ x − Aρ xi kB + kAρ xi − xi kB + kxi − xkB ≤

≤ kAρ kB→B kx − xi kB + k2 kAρ xi − xi kB1 + kxi − xkB ≤


ε ε
≤ (k1 + 1)kxi − xkB + k2 kAρ xi − xi kB1 < + = ε.
2 2
A segunda condição está demonstrada.2

Lema 2.3.6. Sejam B e B1 dois espaços de Banach tais, que o espaço B1 está contı́nuamente

incluido em B. Suponha-se que, para qualquer ρ > 0, o operador linear Aρ : B 7→ B é

limitado, Aρ B ⊂ B1 , sendo o operador Aρ : B 7→ B1 completamente contı́nuo. Suponhamos,

que o conjunto M ⊂ B satisfaz as condições: 1) M é limitado em B; 2) a famı́lia de operadores

{Aρ }(ρ > 0), quando ρ → 0, uniformemente em M converge para o operador identidade IB .

Então o conjunto M é relativamente compacto em B.

Demonstração. Da condição 1) advém que, para qualquer ρ > 0, o conjunto Aρ M é relativa-

mente compacto em B1 . Devido à inclusão contı́nua B1 ⊂ B, o conjunto Aρ M é relativamente

compacto em B. Da condição 2) advém que, para qualquer ε > 0, existe δ > 0 tal, que para
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 99

todo ρ ∈ (0, δ) o conjunto Aρ M é ε–rede para M, e como qualquer ε–rede desse tipo é relati-

vamente compacta em B e B é completo então, devido ao corolário 1 do teorema de Hausdorff

descrito em [69, pg.230] ou em [70, pg.65], o conjunto M é relativamente compacto.2

Lema 2.3.7. Sejam B e B1 dois espaços de Banach tais, que o espaço B1 está contı́nua e

densamente incluido em B. Suponha-se que, para qualquer h > 0, o operador Sh : B 7→ B é

limitado, kSh kB→B ≤ k1 para um certo k1 > 0, e a famı́lia de operadores {Sh }(h > 0), quando

h → 0, converge pontualmente nos elementos de B1 para o operador identidade IB , i.e. para

cada x ∈ B1 e para qualquer ε > 0 existe tal δ > 0 que, para todo 0 < ρ < δ , é válida a

desigualdade kSh x − xkB < ε.

Se o conjunto M ⊂ B é relativamente compacto em B, então: 1) o conjunto M é limitado

em B; 2) a famı́lia de operadores {Sh }(h > 0), quando h → 0, converge uniformemente no

conjunto M para o operador identidade IB .

Demonstração. O cumprimento da primeira condição advém do corolário 3 do teorema 3

de [69, pg.230]. Vejamos a segunda condição. Análogamente à demonstração do lema 2.3.5

podemos afirmar que, para qualquer ε > 0, existe uma ε–rede finita E ⊂ B1 do conjunto M

em B.

Vamos mostrar que Sh → IB , quando h → 0, uniformemente no conjunto M segundo a

norma de B. Seja k1 uma certa estimação das normas dos operadores Sh : B 7→ B. Para
def
qualquer ε > 0 escolhemos o conjunto finito E = {x1 , . . . , xn } ⊂ B1 tal que, para cada função

x ∈ M existe uma função xi ∈ E tal, que

ε
kx − xi kB < .
2(k1 + 1)
100 Capı́tulo II

Já que xi ∈ B1 então, para qualquer ε > 0, existe δi > 0 tal, que kSh xi − xi kB < ε/2,
def
se 0 < ρ < δi . Seja δ = min δi . Então, se 0 < ρ < δ para todo i = 1, 2, . . . , n é correcta a
1≤i≤n
i i
desigualdade kSh x − x kB < ε/2. Para 0 < ρ < δ temos:

kSh x − xkB ≤ kSh x − Sh xi kB + kSh xi − xi kB + kxi − xkB ≤

≤ kSh kB7→B kx − xi kB + kSh xi − xi kB + kxi − xkB ≤


ε ε
≤ (k1 + 1)kxi − xkB + kSh xi − xi kB < + = ε.
2 2

A necessidade da segunda condição está demonstrada.2

Lema 2.3.8. Sejam B e B1 dois espaços de Banach tais, que o espaço B1 está contı́nuamente

incluido em B. Suponhamos que, para quaisquer h, ρ > 0, os operadores Sh , Aρ : B 7→ B

são limitados, kSh kB→B ≤ k1 e kAρ kB→B ≤ k2 para certos k1 , k2 > 0, sendo Aρ B ⊂ B1 e o

operador Aρ : B 7→ B1 é completamente contı́nuo. Suponhamos que, para quaisquer h, ρ > 0 e

x ∈ B, são justas as desigualdades

kx − Aρ xkB ≤ sup kx − Sh xkB (2.3.6)


0<h<ρ

Suponhamos que o conjunto M ⊂ B satisfaz as condições: 1) o conjunto M é limitado em

B; 2) a famı́lia de operadores {Sh }(h > 0), quando h → 0, uniformemente em M converge

para o operador identidade IB .

Então o conjunto M é relativamente compacto em B.

Demonstração. Da condição 1) advém, que para qualquer ρ > 0 o conjunto Aρ M é relativa-

mente compacto em B1 . Devido à inclusão contı́nua B1 ⊂ B o conjunto Aρ M é relativamente


Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 101

compacto em B. Da desigualdade (2.3.6) e da condição 2) implica que, para qualquer ε > 0

existe δ > 0 tal, que para todo ρ ∈ (0, δ) o conjunto Aρ M é ε–rede para o conjunto M. Já

que tal ε–rede é relativamente compacta em B e B é completo então, devido ao corolário 1 do

teorema de Hausdorff de [70, pg.65], [69, pg.230], o conjunto M é relativamente compacto.2

Teorema 2.3.1. Sejam 1 < p < ∞ e 0 < γ ≤ 1. O conjunto M do espaço Bγp é relativamente

compacto só e sómente só,quando:

1) o conjunto M é limitado pela norma do espaço Bγp ;

2) para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que, para qualquer função x ∈ M, kx − xρ kBpγ < ε,

para 0 < ρ < δ .

Demonstração. A necessidade advém imediatamente dos lemas 2.3.1 e 2.3.5; a suficiência

deriva do lema 2.3.6.2

Teorema 2.3.2. Sejam 1 < p < ∞ e 0 < γ < 1. O conjunto M do espaço Bγp é relativamente

compacto em Bγp só e sómente só, quando:

1) o conjunto M é limitado pela norma do espaço Bγp ;

2) para qualquer ε > 0 existe δ > 0 tal que, para qualquer função x ∈ M, kx − x̃h kBγp < ε,

para 0 < h < δ .

Demonstração. A necessidade advém imediatamente do lema 2.3.7; a suficiência deriva do

lema 2.3.8.2

Observação 2.3.1. O teorema 2.3.1 e o teorema 2.3.2 são análogos ao teorema de Kolmogorov

e ao teorema de Riesz respectivamente (vide, por exemplo, [69, pg.245]).2


102 Capı́tulo II

t,t∗
§2.4. Problema singular no espaço D̄p . Teoremas tipo teorema de
Valleé Poussin
√ t,t∗
Denote-se: t∗ = p
t, se 1 ≤ p < ∞, t∗ = 1, se p = ∞. Seja D̄p , 1 < p ≤ ∞, o espaço de

funções x : [0, 1] 7→ R1 tais, que:

1) x é contı́nua em [0, 1], sendo x(0) = 0;

2) ẋ é absolutamente contı́nua em [0, 1];


3) ẍ pertence ao espaço Bt,t
p (pg. 88).

A igualdade
Zt
x(t) = (t − s)z(s) ds + βt,
0
t,t∗ t,t∗
para cada par {z, β} ∈ Bp × R1 , define o elemento do espaço D̄p , que é isomorfo ao espaço
1∗
Bt,t
p ×R .
t,t ∗
t,t ∗
Os isomorfismos J¯ : Bt,t e J¯−1 : D̄p 7→ Bt,t
∗ 1 ∗ 1
p ×R 7→ D̄p p ×R definimos pelas igualdades

J¯ = {Λ̄, Ȳ }, J¯−1 = [δ̄, r̄], onde



 Zt

 def def

 (Λ̄z) = (t − s)z(s) ds, (Ȳ β) = βt,
 0



 δ̄x def def
= ẍ, r̄x = ẋ(0).
t,t∗
Se no espaço D̄p definirmos a norma segundo a igualdade

def
kxkD̄t,t
p
∗ = kẍk t,t∗ + |ẋ(0)|,
B p

t,t∗
então D̄p é um espaço de Banach.
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 103

Vejamos o problema linear de fronteira




 def ẋ(t) x(t)
 (L̄0 x)(t) = ẍ(t) + − 2 = f (t), t ∈ [0, 1],
t t (2.4.2)


 x(0) = 0, x(1) + ν ẋ(1) = α,

onde ν ≥ 0.
x(t) ẋ(t) x(t)
Note-se que, com a ajuda da transformação u(t) = , a equação ẍ(t)+ − 2 = f (t)
t t t
3
pode-se reduzir à ü(t) + u̇(t) = f0 (t). Só que esta redução, da condição x(0) = 0, não garante
t
que u̇(0) = 0, consequentemente o problema (2.4.2) não se pode reduzir para o problema

(2.1.1). A imagem do operador L̄0 em funções diferentes de zero no ponto t = 0, por exemplo

x(t) ≡ 1, não pertence ao espaço de funções somáveis. Assim, é natural que a equação L̄0 x = f

seja estudada no espaço onde tais funções não existem. Vamos investigar o problema (2.4.2)
t,t∗ ∗
no espaço D̄p ' Bpt,t × R1 (1 < p ≤ ∞). Para simplicidade dos cálculos vamos limitar-nos

ao caso particular quando ν ≡ 0.


t,t∗ ∗
A parte principal do operador L̄0 : D̄p 7→ Bt,t
p é
def
(Q̄0 z)(t) = (L̄0 Λ̄z)(t) = z(t) + (K̄z)(t), t ∈ [0, 1],
t
1Z
def
onde (K̄z)(t) = 2 s z(s) ds é operador com “peso médio” (vide [77]). Se 1 < p ≤ ∞, o
t
0
p0
operador K̄ : Lp 7→ Lp é limitado, sendo kK̄kLp →Lp ≤ .
2
t,t∗ t,t∗
O operador K̄ : Bp 7→ Bp , se 1 ≤ p ≤ ∞, é limitado e
µ ¶1/p0
1
kK̄kBt,t∗
p →Bp
t,t∗ ≤ < 1 se 1 < p ≤ ∞ ou kK̄kBt,t →Bt,t ≤ 1.
2 1 1


Realmente, seja z ∈ Bt,t
p , 1 ≤ p < ∞. Pela desigualdade de Hölder temos
¯ ¯p  s p
¯ Zs ¯ Z
¯ 1 ¯ 1
|(K̄z)(s)|p = ¯¯ 2 τ z(τ ) dτ ¯¯ ≤ 2p  τ |z(τ )| dτ  ≤
¯s ¯ s
0 0
104 Capı́tulo II

s
 p 
Zs
1 Z 1/p0 1/p 1
≤ 2p τ τ |z(τ )| dτ  ≤ p/p0 2 τ |z(τ )|p dτ.
s 2 s
0 0
Daqui concluimos, que
t t s
p 1Z p 1 Z 1 Z
kK̄zk = sup s |(K̄z)(s)| ds ≤ sup p/p0 s 2 τ |z(τ )|p dτ ds ≤
0<t≤1 t 0<t≤1 2 t s
0 0 0

Zt µ ¶p/p0
kzkp 1 1
≤ 0 sup ds = kzkp .
2p/p 0<t≤1 t 2
0
De modo análogo demonstra-se o caso p = ∞.

O operador K̄ : Bt,t t,t


1 7→ B1 é limitado, consequentemente todo seu espectro encontra-se no
∗ ∗
cı́rculo |λ| ≤ 1. O operador Q̄0 : Bt,t
p 7→ Bt,t
p , se 1 < p ≤ ∞, admite um inverso limitado

t
1Z 2
(Q̄−1
0 z)(t) = z(t) − 3 s z(s) ds.
t
0

Deste modo, o problema principal L̄0 x = f, ẋ(0) = α é únicamente solúvel. O sistema



fundamental de soluções da equação homogénea L̄0 x = 0, no espaço D̄t,t
p (1 < p ≤ ∞),

consiste em x1 (t) = t. Assim, o problema principal integra-se e a sua solução geral é


³ ´
x(t) = Λ̄Q̄−1
0 f (t) + ẋ(0)t =
 
Zt s
1 Z 2
= (t − s) f (s) − 3 τ f (τ ) dτ  ds + ẋ(0)t.

s
0 0
Após troca da ordem de integração temos
Zt
x(t) = C̄0 (t, s)f (s) ds + ẋ(0)t = (C¯0 f )(t) + ẋ(0)t,
0

onde a função de Cauchy define-se pela igualdade

t2 − s2
C̄0 (t, s) = , 0 ≤ s ≤ t ≤ 1.
2t
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 105

O operador de Cauchy C¯0 : Bt,t



p 7→ C, 2 < p ≤ ∞, é completamente contı́nuo como produto
t,t ∗ ∗ ∗
do operador limitado Q̄−1
0 : Bp 7→ Bt,t
p e do operador completamente contı́nuo Λ̄ : Bt,t
p 7→ C.
t,t∗
Deste modo, para qualquer funcional ` definido no espaço D̄p e tal, que `[x1 ] 6= 0, o problema

de fronteira L̄0 x = z , `x = α é únicamente solúvel. A solução do problema (2.4.2), no espaço


Z1
t,t∗ def
D̄p , tem a representação x = Wf + αx1 , onde (Wf )(t) = W (t, s)f (s) ds,
0


 s2 (1 − t2 )



− , se 0 ≤ s ≤ t ≤ 1;

 2t
def
W (t, s) =






 −
t(1 − s2 )
, se 0 ≤ t < s ≤ 1.
2

Lema 2.4.1. Para cada 2 < p ≤ ∞, o operador W : Bpt,t 7→ C é completamente contı́nuo.

Demonstração. Análogamente à demonstração do lema 2.1.2 (pg. 75).2

Vejamos o problema



 (L̄x)(t) def
= (L̄0 x)(t) − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],

(2.4.3)

 x(0) = 0, x(1) = α,
∗ ∗ 1
onde T : C 7→ Bt,t
p é um operador linear antı́tono, f ∈ Bt,t
p , 1 < p ≤ ∞, α ∈ R .
def
Seja Ā = WT : C 7→ C. Análogamente ao lema 2.1.3 (pg. 76) demonstra-se o seguinte

lema.

Lema 2.4.2. As seguintes afirmações são equivalentes:



1) existe um elemento y ∈ D̄t,t
p tal, que
def
y(t) > 0, φ(t) = (L̄0 y)(t) − (T y)(t) ≤ 0, t ∈ (0, 1),
Z1
sendo y(1) − φ(s) ds > 0;
0
106 Capı́tulo II

2) o raio espectral ρ(Ā) do operador Ā : C 7→ C é menor do que 1;

∗ 1 ∗
3) o problema de fronteira (2.4.3) tem única solução x ∈ D̄t,t t,t
p , para cada f ∈ Bp , α ∈ R ,

sendo o seu operador de Green Ḡ antı́tono;

4) existe, no segmento [0, 1], solução positiva da equação homogénea L̄0 x − T x = 0.

def
Seja (T x)(t) = p̄(t)x(t), t ∈ [0, 1]. Vejamos o problema


 def ẋ(t) x(t)
 (L̄x)(t) = ẍ(t) + − 2 − p̄(t)x(t) = f (t), t ∈ [0, 1],
t t (2.4.4)


 x(0) = 0, x(1) = α


com coeficiente p̄ ∈ Bt,t
p , 1 < p ≤ ∞.

Lema 2.4.3. As seguintes afirmações são equivalentes:


1) no espaço D̄t,t
p o problema (2.4.4) é únicamente solúvel e o seu operador de Green é

antı́tono;


2) existe um elemento y ∈ D̄t,t
p tal, que

y(t) > 0, (L̄y)(t) ≤ 0, t ∈ (0, 1),

sendo
Z1
y(1) − (L̄y)(s) ds > 0;
0

3) existe solução positiva da equação homogénea L̄x = 0, no segmento [0, 1].

Demonstração. Análogamente à demonstração do lema 2.1.4 (pg. 78).2


Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 107

Z1
2 def 2
Observação 2.4.1. Seja y(t) = t − t . Se ψ(t) = 3 + p̄(t)(t − t ) ≥ 0 e ψ(s) ds 6= 0, então
0
para a equação
ẋ(t) x(t)
ẍ(t) + − 2 − p̄(t)x(t) = f (t), t ∈ [0, 1]
t t
têm lugar todas as afirmações do lema 2.4.3.2
2
Observação 2.4.2. Para p = 1, o problema (2.4.2) investigaremos no espaço D̄t1 ,t de funções

x : [0, 1] 7→ R1 tais, que: 1) x é contı́nua em [0, 1], sendo x(0) = 0, 2) ẋ é absolutamente


2 2 2
contı́nua em [0, 1], 3) ẍ pertence ao espaço Bt1 ,t . O operador K̄ : Bt1 ,t 7→ Bt1 ,t é limitado e

1
kK̄kBt2 ,t →Bt2 ,t ≤ .2
1 1 2
108 Capı́tulo II

§2.5. Sobre o espectro do operador de Cesàro no espaço Btp


t
1Z def
No trabalho [73] mostrou-se que o espectro do operador (Px)(t) = x(s) ds, no espaço
t
0
Lp , é
( ¯ ¯ )
¯ p0 ¯¯ p0
¯
σ(P) = λ ∈ C : ¯λ − ¯ ≤ .
¯ 2¯ 2
Neste parágrafo vamos estudar o espectro do operador P : Btp 7→ Btp , 1 < p < ∞.

Lema 2.5.1. O espectro discreto σp (P), do operador P : Btp 7→ Btp , é definido pela igualdade
½ ¯ ¯ ¾
¯ 1¯ 1
σp (P) = λ ∈ C : ¯¯λ − ¯¯ ≤ \ {0}.
2 2

Demonstração. Seja λ ∈ σp (P). Então, existe uma função x ∈ Btp , x 6≡ 0 tal, que Px = λx,

i.e.
Zt
x(s) ds = λtx(t) (2.5.1)
0
t
1 Z
em quase todo [0, 1]. Da igualdade (2.5.1) implica que a função y(t) = x(s) ds é contı́nua
λt
0
no intervalo (0, 1] e coincide com a função x(t), para quase todo t ∈ [0, 1]. Consequentemente,

x e y pertencem à mesma classe equivalente de Lp . De (2.5.1) temos, que a função y satisfaz

no intervalo (0, 1] a igualdade


Zt
y(s) ds = λty(t). (2.5.2)
0

Consequentemente, y é contı́nuamente diferenciável no intervalo (0, 1]. Diferenciando ambas


1−λ
as partes de (2.5.2) e colocando α = vemos que y satisfaz a equação
λ
α
ẏ(t) = y(t), t ∈ (0, 1].
t
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 109

Resolvendo esta equação obtemos y(t) = Ctα , onde C 6= 0 é uma constante arbitrária. Es-

crevendo α = β + iγ , achamos α para o qual a função y(·) pertence ao espaço Btp . Para tal

calculamos
t ¯t
1Z αp 1 ¯
¯
sup |s | ds = sup sβp+1 ¯¯ ;
0≤t≤1 t 0≤t≤1 t(βp + 1) 0
0

a última expressão é finita, se βp ≥ 0. Resolvemos a desigualdade β ≥ 0 em relação à


à !
1 1−λ
λ= , onde β = < α (parte real de α). Assim, < α ≥ 0, i.e. < ≥ 0. Daqui
1+α λ
µ ¶ µ ¶
1 1 µ − iν 1 µ
obtemos, que < ≥ 1. Seja λ = µ + iν , então = 2
, < = 2 ≥ 1, o que
λ λ |λ| λ µ + ν2
µ ¶
1 2 1
é equivalente à desigualdade µ ≥ µ2 + ν 2 , ou à desigualdade µ − + ν 2 ≤ . Assim, o
2 4
t
espectro pontual σp (P) no espaço Bp define-se segundo a fórmula
½ ¯ ¯ ¾
¯
¯
1 ¯¯ 1
σp (P) = λ ∈ C : ¯λ − ¯ ≤ \ {0}.2
2 2

Denote-se
Zt
def 1−λ
(Eλ z)(t) = t λ τ −1/λ z(τ ) dτ.
0
¯ ¯
¯ p0 ¯¯ p0
¯
Lema 2.5.2. Suponhamos que λ ∈ C, ¯λ − ¯ > ; então, o operador Eλ actua de Btp em
¯ 2¯ 2
Btp e é contı́nuo.

Demonstração. Vamos verificar que Eλ : Btp 7→ Btp . Para o elemento z ∈ Btp , se 1 < p < ∞,

temos ¯ ¯p
t ¯ Zs ¯
1Z ¯ 1−λ 1 ¯
kEλ zkpBtp = sup ¯s λ
¯ τ −λ
z(τ ) dτ ¯ ds =
¯
0≤t≤1 t ¯ ¯
0 0
¯ s ¯p
t ¯Z ¯
1 Z p(1−λ) ¯ 1 ¯
¯ τ − λ z(τ ) dτ ¯ ds ≤
= sup s λ ¯ ¯
0≤t≤1 t ¯ ¯
0 0
110 Capı́tulo II

 s 
Zt Z 0
1 p
−p
p p
−λ  |z(τ )|p dτ  ds
λp/p
≤ sup s λ s p0 ≤
0≤t≤1 t (λ − p0 )p/p0
0 0

0
λp/p
≤ kzkpBtp ,
(λ − p0 )p/p0
à !
0 p0
se λ 6= 0, λ 6= p e < 1 − > 0. Resolvendo a última desigualdade temos:
λ
à !
p0 p0 p0
< 1− > 0 ⇐⇒ 1 − < > 0 ⇐⇒ 1 > < ⇐⇒
λ λ λ

1 1 µ 1 1
⇐⇒ 0
>< = 2 2
⇐⇒ 0 µ2 + 0 ν 2 − µ > 0 ⇐⇒
p λ µ +ν p p
à !2 ¯ ¯
p0 p02 ¯ p0 ¯ p0
⇐⇒ µ − +ν > 2
⇐⇒ ¯¯λ − ¯¯ > .2
2 4 ¯ 2¯ 2

Lema 2.5.3. O espectro contı́nuo do operador P : Btp 7→ Btp consiste sómente dos pontos 0 e

p0 .

Demonstração. Vamos fazer uso da ideia da demonstração do teorema 5.1 do artigo [73].

Quando demonstramos o lema 2.5.2 estabeleceu-se que, para λ = p0 , o operador (P − λI)−1

não actua em Btp . Na demonstração do lema 2.5.1 estabeleceu-se que o ponto λ = p0 não

é autovalor. Por isso o operador P − λI é injectivo, mas não sobrejectivo. Demonstremos

que (P − λI)Btp = Btp . Seja y uma função arbitrária de Btp e ε é um certo valor positivo.
t
1Z
Escolhemos η ∈ (0, 1] tal, que vrai sup |y(s)|p ds < εp e definimos a função yε segundo a
0≤t≤η t
0
igualdade



def
 0 , se 0 ≤ t ≤ η;
yε (t) =


 y(t) , se η ≤ t ≤ 1.
Problemas de Fronteira para EDF Lineares com Singularidade 111

Para λ = p0 define-se a função


0 Z
t
1 1 1−p 0
xε (t) = − 0 yε (t) − 02 t p0
s−1/p yε (s) ds, t ∈ [0, 1],
p p
0

sendo (P − λI)xε = yε . Verifiquemos, que xε ∈ Btp . Para tal é suficiente verificar, que a função
1−p0
Zt
def 0
gε (t) = t p0 s−1/p yε (s) ds pertence ao espaço Btp . É evidente que gε (t) = 0, se 0 ≤ t ≤ η .
0
Deste modo
t t
1Z 1Z
vrai sup |gε (s)|p ds = vrai sup |gε (s)|p ds =
0≤t≤1 t η≤t≤1 t
0 η
¯ ¯p
Zt ¯ 1−p0 Zs ¯
1 ¯ p0
¯ −1/p0
¯
= vrai sup ¯s τ yε (τ ) dτ ¯¯ ds =
η≤t≤1 t ¯ ¯
η 0
¯
t ¯
¯p
s ¯
1 Z ¯¯ 1−p 0 Z
−1/p0 ¯
= vrai sup ¯s
p0
τ y(τ ) dτ ¯¯ ds ≤
η≤t≤1 t ¯ ¯
η η

t
 s p/p0  s 
1 Z pp0 −p Z −p0 /p  Z
≤ vrai sup s τ dτ |y(τ )|p dτ  ds ≤
η≤t≤1 t η η η
t à !p−1
p 1Z 1
≤ ε vrai sup (ln s − ln η)p−1 ds < (1 − η) ln εp .2
η≤t≤1 t η
η
CAPITULO III

PROBLEMAS DE FRONTEIRA PARA EQUAÇÕES

DIFERENCIAIS FUNCIONAIS SINGULARES QUASILINEARES

Neste capı́tulo investiga-se a questão sobre a solubilidade de problemas não lineares sin-

gulares. Fazendo uso do esquema “L1 L2 de quasilinearização” reduzem-se estes problemas

para equações equivalentes com operadores isótonos no espaço de funções contı́nuas. Com base

no teorema de Schäuder, sobre ponto fixo, formulam-se e demonstram-se afirmações sobre a

unicidade de solução destes problemas.

112
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 113

§3.1. Teorema tipo Nagumo para um problema quasilinear singular


de fronteira no espaço Dπ,b
p

Vejamos o problema de fronteira não linear





 π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] = f (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1],

(3.1.1)

 x(0) = α1 , x(1) = α2 ,

onde Θ : C 7→ Lp é um operador linear isótono, 1 < p ≤ ∞, π e b foram definidas anteriormente

em §1.1 (pg. 24), a função f (t, u) (t ∈ [0, 1], u ∈ R1 ) satisfaz as condições de Carathéodory.

Sejam v, z ∈ Dπ,b
p , v(t) ≤ z(t) para todo t ∈ [0, 1]. Denote-se

n o
def
[v, z]Dπ,b
p
= x ∈ Dπ,b
p : v(t) ≤ x(t) ≤ z(t), t ∈ [0, 1]

o intervalo ordenado no espaço Dπ,b


p . Seja v̄ ≡ Θv , z̄ ≡ Θz ; [v̄, z̄]Lp é um intervalo ordenado

no espaço Lp .

Na resolução de equações não lineares, para além do prı́ncipio sobre aplicações de contracção

e do teorema de Schäuder, usa-se o prı́ncipio de Tarskiı̆-Birkoff (vide, por exemplo, [70, pg.266]).

Este prı́ncipio aplica-se na investigação de equações com operadores em espaços parcialmente

ordenados.

Definição 3.1.1[28, pg.218]. Diremos que a função f (·, ·) satisfaz uma das condições Li [v̄, z̄],

i = 1, 2, se para qualquer função mensurável u ∈ [v̄, z̄]Lp é possı́vel a decomposição

f (t, u(t)) = qi (t)u(t) + Mi (t, u(t)),

para quase todo t ∈ [0, 1]. Aqui qi ∈ L∞ , i = 1, 2, Mi : [v̄, z̄]Lp 7→ Lp é o operador de Nemytskiı̆
def
definido pela igualdade (Mi u)(t) = Mi (t, u(t)), sendo o operador M1 isótono (M1 (t, ·) não
114 Capı́tulo III

decresce, para quase todo t ∈ [0, 1]), o operador M2 é antı́tono (M2 (t, ·) não cresce, para quase

todo t ∈ [0, 1]).

Usando o esquema “L1 L2 de quasilinearização” (vide [28, pg.217]) pode-se reduzir o prob-

lema (3.1.1) para a equação equivalente do segundo tipo e aplicar o teorema sobre solubilidade

de equações com operadores isótonos.

Lema 3.1.1. Sejam v, z ∈ Dπ,b


p um par de funções, v(t) < z(t), t ∈ (0, 1), que satisfazem as

desigualdades: z(0) − v(0) + z(1) − v(1) > 0,





 π(t)[z̈(t) + b(t)ż(t)] ≤ f (t, (Θz)(t)),
(3.1.2)


 π(t)[v̈(t) + b(t)v̇(t)] ≥ f (t, (Θv)(t)), t ∈ [0, 1].

Suponhamos que f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ , q2 = q2+ − q2− ,

q2+ ≥ 0, q2− ≥ 0, e suponhamos que o operador linear

def
(L+ +
2 x)(t) = π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q2 (t)(Θx)(t), t ∈ [0, 1],

usufrui a propriedade A.

Então, o problema linear





 π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q2 (t)(Θx)(t) = ξ(t), t ∈ [0, 1],

(3.1.3)

 x(0) = x(1) = 0,

tem solução única, para cada ξ ∈ Lp , sendo a sua função de Green G2 (t, s) ≤ 0 no quadrado

(0, 1) × (0, 1).


def
Demonstração. Seja ν(t) = z(t) − v(t) > 0, t ∈ (0, 1). Então ν(0) 6= 0 ou ν(1) 6= 0,

def
Φ(t) = π(t)[ν̈(t) + b(t)ν̇(t)] − q2 (t)(Θν)(t) ≤ (M2 Θz)(t) − (M2 Θv)(t) ≤ 0,
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 115

Z1
devido ao facto do operador M2 ser antı́tono e ν(0)+ν(1)− Φ(s) ds > 0. Consequentemente,
0
e segundo o teorema 1.3.1 (pg. 47), o problema (3.1.3) tem solução única, sendo o seu operador

de Green antı́tono.2

Teorema 3.1.1. Sejam v, z ∈ Dπ,b


p um par de funções, v(t) < z(t), t ∈ (0, 1), que satisfazem

as desigualdades: z(0) − v(0) + z(1) − v(1) > 0,







 π(t)[z̈(t) + b(t)ż(t)] ≤ f (t, (Θz)(t)),


π(t)[v̈(t) + b(t)v̇(t)] ≥ f (t, (Θv)(t)), t ∈ [0, 1], (3.1.4)






 v(0) ≤ α1 ≤ z(0), v(1) ≤ α2 ≤ z(1).

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ ,

q2 = q2+ − q2− , q1+ ≥ 0, q2+ ≥ 0, q2+ , q2− ∈ L∞ e a equação linear

def
(L+ +
2 x)(t) = π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q2 (t)(Θx)(t) = 0, t ∈ [0, 1], (3.1.5)

usufrui a propriedade A. Então, o problema (3.1.1) tem pelo menos uma solução x ∈ [v, z]Dπ,b
p
.
Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ , sendo o operador

de Green G1 do problema auxiliar





 (L1 x)(t) def
= π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q1 (t)(Θx)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1],
(3.1.6)


 x(0) = x(1) = 0

antı́tono, então a solução do problema (3.1.1) é única.

Demonstração. Vamos escrever o problema (3.1.1) na forma





 (L2 x)(t) = M2 (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1],
(3.1.7)


 x(0) = α1 , x(1) = α2 ,
116 Capı́tulo III

onde
def
(L2 x)(t) = π(t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q2 (t)(Θx)(t).

Tendo em conta que a função f (·, ·) satisfaz as condições de Carathéodory, então o operador

Mi (i = 1, 2) é contı́nuo. Mostremos que o problema (3.1.7) é equivalente à equação do segundo

tipo

x = A2 x (3.1.8),

com operador isótono A2 : [v, z]C 7→ C, definido pela igualdade


Z1
def
(A2 x)(t) = G2 (t, s)M2 (s, (Θx)(s)) ds + u2 (t), t ∈ [0, 1],
0

onde u2 (·) é a solução do problema semihomogéneo

(L2 x)(t) = 0, t ∈ [0, 1], x(0) = α1 , x(1) = α2 ,

G2 (·, ·) é a função de Green do problema auxiliar

L2 x = ξ, x(0) = x(1) = 0. (3.1.9)

Se 1 < p ≤ ∞, então o operador A2 : [v, z]C 7→ [v, z]C é completamente contı́nuo, como

produto do operador contı́nuo Θ : [v, z]C 7→ [v̄, z̄]Lp , do operador contı́nuo M2 : [v̄, z̄]Lp 7→

[M2 z̄, M2 v̄]Lp e, devido ao lema 1.4.3 (pg. 62), do operador completamente contı́nuo G2 :

Lp 7→ C.

Cada solução contı́nua da equação (3.1.8) pertence ao espaço Dπ,b


p , pois o operador A2 está

definido no intervalo ordenado [v, z]C do espaço C e aplica este intervalo no espaço Dπ,b
p . Real-

mente, o operador isótono Θ : C 7→ Lp aplica o intervalo ordenado [v, z]C no intervalo ordenado
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 117

[v̄, z̄]Lp . Devido à condição L2 [v̄, z̄] o operador M2 : [v̄, z̄]Lp 7→ Lp é antı́tono, por isso ele aplica

o intervalo ordenado [v̄, z̄]Lp no intervalo ordenado [M2 z̄, M2 v̄]Lp . Das condições do teorema e

devido ao lema 3.1.1 temos, que o operador de Green G2 : Lp 7→ Dπ,b


p ⊂ C do problema auxiliar

(3.1.9) é antı́tono. Assim, o intervalo ordenado [M2 z̄, M2 v̄]Lp aplica-se, através do operador

G2 , para o intervalo ordenado [G2 M2 v̄, G2 M2 z̄]Dπ,b


p
⊂ [G2 M2 v̄, G2 M2 z̄]C .

Temos, deste modo, a possibilidade de estudar a equação (3.1.8) no intervalo ordenado [v, z]C

do espaço C. Além disso, qualquer solução x ∈ [v, z]C da equação (3.1.8) satisfaz o problema

de fronteira (3.1.7), já que o problema (3.1.7) obtem-se da equação (3.1.8) aplicando o operador

L2 e calculando x(0) e x(1). E vice-versa, qualquer solução x ∈ [v, z]Dπ,b


p
do problema (3.1.7)

satisfaz a equação (3.1.8), pois a equação (3.1.8) obtem-se do problema (3.1.7) aplicando à este

problema a fórmula de Green, sobre a representação da solução do problema (3.1.9).

Além disso, devido às desigualdades (3.1.4) e antitonicidade do operador G2 temos, que

z(t) ≥ (A2 z)(t) e v(t) ≤ (A2 v)(t), para todo t ∈ [0, 1]. Devido à isotonicidade do operador

A2 : [v, z]C 7→ C este facto garante a invariedade do intervalo ordenado [v, z]C relativamente

ao operador A2 , i.e. A2 [v, z]C ⊂ [v, z]C .

Assim, o operador isótono A2 aplica o conjunto fechado e convexo [v, z]C do espaço de

Banach C em si mesmo e é completamente contı́nuo. De acordo com o prı́ncipio de Schäuder,

sobre o ponto fixo (vide, por exemplo, [70, pg.193]), a equação (3.1.8) tem pelo menos uma

solução x ∈ [v, z]C .

Mostremos que o conjunto de soluções x ∈ [v, z]C possui um elemento máximo x̄ ∈ [v, z]C

(solução superior) e elemento mı́nimo x ∈ [v, z]C (solução inferior): v(t) ≤ x(t) ≤ x(t) ≤

x̄(t) ≤ z(t), t ∈ [0, 1]. Seja x ∈ [v, z]C uma certa solução da equação (3.1.8). A sucessão {z i },
118 Capı́tulo III

z i+1 = A2 z i , z 0 = z decresce monótonamente e é limitada inferiormente pelo elemento x ∈

[v, z]C , pois o operador A2 aplica o conjunto [x, z]C em si próprio. De uma sucessão monótona

compacta {z i } implica (vide, por exemplo, [59, pg.38]) a existência do limite x̄ = lim z i .
i→∞

Como este limite é solução, então a desigualdade x̄ ≥ x para qualquer solução x ∈ [v, z]C fica

demonstrada. A existência de solução inferior x demonstra-se de modo análogo.

Mostremos agora, que se a condição L1 [v̄, z̄] cumpre-se, então a solução do problema (3.1.1)

é única, i.e. x = x̄. Usamos a condição L1 [v̄, z̄] e reescrevemos o problema (3.1.1) na forma

(L1 x)(t) = M1 (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1], x(0) = α1 , x(1) = α2 . (3.1.10)

O problema (3.1.10) é equivalente à equação do segundo tipo x = A1 x no intervalo ordenado

[v, z]C do espaço C, com operador antı́tono A1 : [v, z]C 7→ C, definido pela igualdade

Z1
def
(A1 x)(·) = G1 (·, s)M1 (s, (Θx)(s)) ds + u1 (·),
0

onde G1 (·, ·) é a função de Green do problema (3.1.6), u1 é a solução do problema semiho-

mogéneo

(L1 x)(t) = 0, t ∈ [0, 1], x(0) = α1 , x(1) = α2 .

Analisemos a igualdade x̄ − x = A1 x̄ − A1 x. Aqui, a parte esquerda é não negativa e a

parte direita, devido à antitonicidade de A1 , é não positiva, consequentemente x = x̄.2

Observação 3.1.1. O teorema 3.1.1 admite uma outra formulação. Suponhamos que existe um

par de funções v, z ∈ Dπ,b


p , v(t) ≤ z(t), t ∈ [0, 1], 1 < p ≤ ∞, que satisfazem as desigualdades

(3.1.4). Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 119

e o operador de Green do problema auxiliar

(L2 x)(t) = ξ(t), t ∈ [0, 1], x(0) = x(1),

é antı́tono. Então o problema (3.1.1) possui pelo menos uma solução x ∈ [v, z]Dπ,b
p
.

Se, além disso cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ e o operador de Green

G1 do problema auxiliar

(L1 x)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1], x(0) = x(1) = 0

é antı́tono, então a solução do problema (3.1.1) é única.2

Corolário 3.1.1. Seja

v(t) ≡ m ≤ min{α1 , α2 , 0}, z(t) ≡ M ≥ max{α1 , α2 , 0}.

Vejamos o problema (3.1.1) e suponhamos que a função f (t, 0) é igual à zero, para quase todo

t ∈ [0, 1], a função f (t, ·) é crescente e contı́nuamente diferenciável em R1 , e a equação (3.1.9),

com coeficiente
def ∂f (t, u)
q2 (t) = max , t ∈ [0, 1],
u∈[v̄,z̄] ∂u

usufrui a propriedade A.

Então, o problema (3.1.1) possui solução única x ∈ Dπ,b


p : m ≤ x ≤ M.

Demonstração. Para t ∈ [0, 1] temos

π(t)[v̈(t) + b(t)v̇(t)] − f (t, (Θv)(t)) = −f (t, (Θm)(t)) ≥ 0,

π(t)[z̈(t) + b(t)ż(t)] − f (t, (Θz)(t)) = −f (t, (ΘM )(t)) ≤ 0,


120 Capı́tulo III

e a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 (·) > 0. Por outro lado,

a função f (·, ·) satisfaz a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 (·) ≡ 0. Então, e segundo o

teorema anterior, o problema (3.1.1) tem solução única x ∈ Dπ,b


p , que satisfaz as desigualdades

m ≤ x(t) ≤ M , t ∈ [0, 1].2

Exemplo 3.1.1. Vejamos o problema


q
tẍ(t) = k(t) xh (t), t ∈ [0, 1], x(0) = α1 , x(1) = α2 , (3.1.11)

onde 1 ≤ α1 , 2 ≤ α2 , h, k : [0, 1] 7→ R1 , h e k são funções mensuráveis tais, que 0 ≤ k(t) ≤


2t
q , para quase todo t ∈ [0, 1] tais, que h(t) ∈ [0, 1], Θx = xh (pg. 54).
1 + h2 (t)
Na qualidade de funções de comparação escolhemos

def
v(t) = 1 + t2 , z(t) = c = max{α1 , α2 }.

Então

v̄(t) = σh (t)[1 + h2 (t)], z̄(t) = σh (t)c.

Imediatamente verificam-se as condições (3.1.4):

v(t) < z(t), t ∈ (0, 1),


q
tv̈(t) − f (t, vh (t)) = 2t − k(t)σh (t) 1 + h2 (t) ≥ 0,

tz̈(t) − f (t, zh (t)) = 0 − k(t)σh (t) c ≤ 0, t ∈ [0, 1];

v(0) = 1 ≤ α1 ≤ z(0) = c, v(1) = 2 ≤ α2 ≤ z(1) = c.


k(·)
A função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 (·) = 2 . Realmente,
k(t) k(t) ³ √ ´ k(t) √ ³ √ ´
M2 (t, u) = f (t, u) − u= 2 u−u = u 2− u .
2 2 2
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 121

Suponhamos que as funções w̄, ū ∈ Lp satisfazem as desigualdades v̄(t) ≤ w̄(t) ≤ ū(t) ≤ z̄(t).

Estimemos a desigualdade M2 (t, u(t)) − M2 (t, w(t)) para valores de t ∈ [0, 1] tais, que h(t) ∈

[0, 1]:

M2 (t, ū(t)) − M2 (t, w̄(t)) =


hq q i k(t)
= k(t) ū(t) − w̄(t) + [w̄(t) − ū(t)] ≤
·q q ¸ ·q 2 q ¸
k(t)
≤ w̄(t) − ū(t) ū(t) + w̄(t) − 2 ≤ 0,
2
√ √
pois ū ≥ w̄ ≥ 1 para tais t. Para valores de t ∈ [0, 1] tais, que h(t) ∈
/ [0, 1], temos

M2 (t, ū(t)) = M2 (t, w̄(t)).

Mostremos que a equação

def k(t)
(L2 x)(t) = tẍ(t) − xh (t) = ξ(t), t ∈ [0, 1],
2
k(·)
usufrui a propriedade A. Para tal verifiquemos, que o coeficiente q2 (·) = satisfaz as
2
condições do corolário 1.3.4 (pg. 59), i.e. que para quase todo t ∈ [0, 1], cumprem-se as

desigualdades

h2 (t)σh (t)q2 (t) ≤ 2t, [1 − h(t)]2 σh (t)q2 (t) ≤ 1.

Verifiquemos que, para todo t ∈ [0, 1] tal, que h(t) ∈ (0, 1], é justa a desigualdade

2t 4t
q ≤ .
1 + h2 (t) h2 (t)

A última desigualdade é equivalente à

h4 (t) ≤ 4[1 + h2 (t)], t ∈ h−1 (0, 1].


122 Capı́tulo III

def
Denote-se y = h(t). Então, para todo y ∈ (0, 1], é suficiente verificar que y 4 ≤ 4(1 + y 2 ). Esta

desigualdade cumpre-se, pois a parte esquerda é menor ou igual à unidade, e a parte direita é

maior ou igual à quatro.

Vamos verificar que, para todo t ∈ h−1 (0, 1], cumpre-se a desigualdade
2t 2
q ≤ .
1 + h2 (t) [1 − h(t)]2

A última desigualdade é equivalente à

t2 [1 − h(t)]4 ≤ 1 + h2 (t), t ∈ h−1 [0, 1).

def
Denote-se y = h(t). Então, para cada t ∈ (0, 1], é suficiente verificar que t(1−y)4 ≤ 1+y 2 , para

todo y ∈ [0, 1). Para tal basta verificar que para t = 1 tem lugar (1−y)4 ≤ 1+y 2 , y ∈ [0, 1). A

última desigualdade é justa, pois a parte esquerda é menor ou igual à unidade e a parte direita

é maior ou igual à unidade. Deste modo, e devido ao lema 3.1.1, o problema de fronteira

L2 x = ξ, x(0) = x(1) = 0

tem, para cada ξ ∈ Lp , 1 < p ≤ ∞, solução única x ∈ Dtp , sendo a sua função de Green

G2 (t, s) ≤ 0 no quadrado [0, 1] × [0, 1].

A função f (·, ·) satisfaz a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ≡ 0. Então, devido ao

teorema 3.1.1, o problema de fronteira (3.1.11) tem solução única x ∈ Dtp tal, que

1 + t2 ≤ x(t) ≤ = max{α1 , α2 }, t ∈ [0, 1].

Exemplo 3.1.2. Vejamos o problema


xh (t)
tẍ(t) = , t ∈ [0, 1], x(0) = 0, x(1) = 1, (3.1.12)
1 + x2h (t)
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 123

onde h : [0, 1] 7→ R1 é uma função mensurável tal, que

h2 (t)σh (t) ≤ 2, tσh (t)[2 − h(t)][1 − h(t)]2 ≤ 2.

Suponhamos que Θx = xh . Na qualidade de funções de comparação escolhemos





 t ln t , se t ∈ (0, 1];
v(t) = z(t) ≡ 1.


 0 , se t = 0,

Então, 


 h(t) ln h(t) , se h(t) ∈ (0, 1];
v̄(t) =  z̄(t) = σh (t).

 0 , se h(t) 6∈ (0, 1],
Imediatamente verificam-se as desigualdades: v(t) < z(t),

tv̈(t) ≥ f (t, vh (t)), tz̈(t) ≤ f (t, zh (t)),


x
t ∈ [0, 1], onde f (·, x) = . A função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente,
1 + x2
por exemplo, q2 (t) = t. Segundo o critério 1.3.3 (pg. 58) a equação

tẍ(t) − txh (t) = 0, t ∈ [0, 1]

usufrui a propriedade A. Consequentemente, devido ao teorema 1.2.1 (pg. 42), a função de


Green do problema auxiliar

tẍ(t) − txh (t) = ψ(t), t ∈ [0, 1], x(0) = x(1) = 0

é negativa no quadrado [0, 1] × [0, 1]. Então, devido ao teorema 3.1.1, o problema de fronteira
(3.1.12) tem, no mı́nimo, uma solução x ∈ Dtp , 1 < p ≤ ∞, tal que

v(t) ≤ x(t) ≤ z(t), t ∈ [0, 1].


124 Capı́tulo III

De modo análogo ao teorema 3.1.1 demonstram-se os seguintes teoremas.

Teorema 3.1.2. Seja v, z ∈ Dtp um par de funções, v(t) < z(t), t ∈ (0, 1], 1 < p ≤ ∞, que

satisfazem as desigualdades: z(0) − v(0) + κ1 [z(1) − v(1)] + [ż(1) − v̇(1)] > 0,

t[z̈(t) + b(t)ż(t)] ≤ f (t, (Θz)(t)),

t[v̈(t) + b(t)v̇(t)] ≥ f (t, (Θv)(t)), t ∈ [0, 1],

v(0) ≤ α1 ≤ z(0), κ1 v(1) + v̇(1) ≤ α2 ≤ κ1 z(1) + ż(1).

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ ,

q2 = q2+ − q2− e a equação linear

t[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q2+ (t)(Θx)(t) = ξ(t), t ∈ [0, 1]

usufrui a propriedade A. Então, o problema





 t[ẍ(t) + b(t)v̇(t)] = f (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1],
(3.1.13)


 x(0) = α1 , κ1 x(1) + ẋ(1) = α2

possui, pelo menos, uma solução x ∈ [v, z]Dtp .

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ , sendo o operador

de Green G1 do problema auxiliar





 t[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q1 (t)(Θx)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1],


 x(0) = 0, κ1 x(1) + ẋ(1) = 0

antı́tono, então a solução do problema (3.1.13) é única.


Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 125

Teorema 3.1.2-bis. Seja v, z ∈ D1−t


p um par de funções, v(t) < z(t), t ∈ [0, 1), 1 < p ≤ ∞,

que satisfazem as desigualdades: γ1 [z(0) − v(0)] + ż(0) − v̇(0) + z(1) − v(1) > 0,

(1 − t)[z̈(t) + b(t)ż(t)] ≤ f (t, (Θz)(t)),

(1 − t)[v̈(t) + b(t)v̇(t)] ≥ f (t, (Θv)(t)), t ∈ [0, 1],

v(1) ≤ α2 ≤ z(1), γ1 v(0) + v̇(0) ≤ α1 ≤ γ1 z(0) + ż(0).

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ ,

q2 = q2+ − q2− e a equação linear

(1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q2+ (t)(Θx)(t) = ξ(t), t ∈ [0, 1],

usufrui a propriedade A. Então, o problema





 (1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] = f (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1],
(3.1.14)


 γ1 x(0) + ẋ(0) = α1 , x(1) = α2

possui, pelo menos, uma solução x ∈ [v, z]D1−t


p
.

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ , sendo o operador

de Green G1 do problema auxiliar





 (1 − t)[ẍ(t) + b(t)ẋ(t)] − q1 (t)(Θx)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1],


 γ1 x(0) + ẋ(0) = 0, x(1) = 0

antı́tono, então a solução do problema (3.1.14) é única.

Exemplo 3.1.3. Vejamos o problema de fronteira


  ¯ 1 ¯  1 2
 ¯Z ¯ Z

 ¯ ¯

 tẍ(t) = ln 1 + 2t2 ¯¯ sx(s) ds¯¯ + 4ω1 t4  sx(s) ds ,
¯ ¯ (3.1.15)
 0 0



 x(0) = 0, x(1) + κẋ(1) = e,
126 Capı́tulo III

1 9
onde ≤ ω1 ≤ , κ ≥ 0, t ∈ [0, 1]. Seja
3 2(3e − 1)
Z1
2 def
f (t, u) = ln(1 + |u|) + ω1 u , (Θu)(t) = 2 t2 su(s)ds.
0

Na qualidade de funções de comparação escolhemos v(t) ≡ 0, z(t) = t + e − 1. Então v̄(t) ≡ 0,


1
z̄(t) = (e − )t2 . Imediatamente verificam-se as desigualdades:
3

0 = tv̈(t) = f (t, (Θv)(t)), 0 = tz̈(t) < f (t, (Θz)(t)),

v(0) = 0 = x(0) < z(0) = e − 1,

v(1) + κv̇(1) = 0 < e = x(1) + κẋ(1) ≤ z(1) + κż(1) = e + κ.

A função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 (t) = 1 + 2ω1 z̄(t) > 0,

t ∈ [0, 1]. Pelo lema 1.2.2 (pg. 40) temos, que a equação
Z1
2
tẍ(t) − 2q2 (t)t sx(s) ds = ξ(t), t ∈ [0, 1]
0

usufrui a propriedade A. Realmente, existe a função y(t) = (t − τ )2 ≥ 0, τ ∈ (0, 1] tal, que


Z1
2
ẏ(τ ) = 0, tÿ(t) − 2q2 (t)t sy(s) ds ≥ 0
0

9
logo que ω1 ≤ ≈ 0.629.
2(3e − 1)
Por outro lado a função f (·, ·) satisfaz a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ≡ 0.

Então, devido ao teorema 3.1.2, o problema (3.1.15) tem solução única x ∈ Dtp (1 < p ≤ ∞)

tal, que 0 ≤ x(t) ≤ t + e − 1, t ∈ [0, 1].


Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 127

c k
§3.2. Problema quasilinear singular de fronteira no espaço D p

Vejamos o problema de fronteira quasilinear





 (L̂0 x)(t) def
= tẍ(t) + k ẋ(t) = f (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1],
(3.2.1)


 x(0) = α1 , x(1) + γ ẋ(1) = α2 ,

onde k < 1, γ ≥ 0, Θ : C 7→ Lp (1 < p ≤ ∞) é um operador linear isótono, a função f (t, u)

(t ∈ [0, 1], u ∈ R1 ) satisfaz as condições de Carathéodory.

Note-se que, no caso particular (Θx)(t) ≡ x(t), o problema de fronteira (3.2.1) descreve

certos processos reais, por exemplo processos que ocorrem em reactores quı́micos, na presença

de catalizadores (vide [86]). Suponhamos que no problema de fronteira (3.2.1) a função f (·, ·)

satisfaz a condição generalizada de Lipschitz em relação ao segundo argumento, i.e. para todo

x, y ∈ R1 tem lugar a desigualdade

|f (t, x) − f (t, y)| ≤ λ(t)|x − y|, t ∈ [0, 1],

onde λ(·) é uma certa função não negativa, λ ∈ Lp .

O problema (3.2.1) é equivalente à equação de segundo tipo

x = Âx (3.2.2)

no espaço C, onde o operador  : C 7→ C define-se pela igualdade


Z1
def
(Âx)(·) = Ĥ1 (·, s)f (s, (Θx)(s)) ds + u(·),
0

a função Ĥ1 (·, ·) foi definida no parágrafo §1.5 (pg. 66), u(·) é solução do problema semiho-

mogéneo

tẍ(t) + k ẋ(t) = 0, t ∈ [0, 1], x(0) = α1 , x(1) + γ ẋ(1) = α2 .


128 Capı́tulo III

1−k def
Lema 3.2.1. Suponha-se que kΘkC→Lp < , onde λ̄ = kλkLp . Então o problema (3.2.1)
λ̄
bk.
tem solução única x ∈ D p

Demonstração. Qualquer solução contı́nua da equação (3.2.2) é solução do problema (3.2.1),

por isso a questão sobre a solubilidade do problema (3.2.1) reduz-se à solubilidade da equação

(3.2.2) no espaço C. Nas condições do lema constatamos que o operador  é um operador de

contracção:
¯ 1 ¯
¯Z ¯
¯ ¯
kÂx − ÂykC = max ¯ Ĥ1 (t, s) [f (s, (Θx)(s)) − f (s, (Θy)(s))] ds¯¯ ≤
¯
0≤t≤1 ¯ ¯
0

λ̄
≤ kΘkC→Lp kx − ykC .
1−k
Deste modo encontramo-nos nas condições de aplicabilidade do prı́ncipio sobre aplicações de

contracção (vide., por exemplo, [58, pg.88]) e, consequentemente, a equação (3.2.2) tem solução

única, o que significa que o problema (3.2.1) é únicamente solúvel.2

Por I1 denote-se o intervalo (0, 1), se γ = 0 ou o intervalo (0, 1], se γ 6= 0. De modo

análogo ao teorema 3.1.1 demonstra-se o seguinte teorema:


b k , v(t) < z(t), t ∈ I ,
Teorema 3.2.1. Suponha-se que existe um par de funções v, z ∈ D p 1

1 < p ≤ ∞, que satisfazem as desigualdades: z(0) − v(0) + z(1) − v(1) + γ[ż(1) − v̇(1)] > 0,



 tv̈(t) + k v̇(t) ≥ f (t, (Θz)(t)), tz̈(t) + k ż(t) ≤ f (t, (Θv)(t)), t ∈ [0, 1],


 v(0) ≤ α1 ≤ z(0), v(1) + γ v̇(1) ≤ α2 ≤ z(1) + γ ż(1).

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ ,

q2 = q2+ − q2− , q2+ ≥ 0, q2− ≥ 0, e a equação linear auxiliar

tẍ(t) + k ẋ(t) − q2 (t)(Θx)(t) = ξ(t), t ∈ [0, 1]


Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 129

usufrui a propriedade A. Então, o problema (3.2.1) possui, pelo menos, uma solução x ∈

[v, z]D
bk .
p

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ , sendo o operador

de Green Ĝ1 do problema auxiliar





 tẍ(t) + k ẋ(t) − q1 (t)(Θx)(t) = φ(t), t ∈ [0, 1],


 x(0) = x(1) + γ ẋ(1) = 0

antı́tono, então a solução do problema (3.2.1) é única.


130 Capı́tulo III

§3.3. Sobre um problema que modela processos que ocorrem num


reactor quı́mico

Vejamos o problema singular quasilinear




 def k
 (L̃0 x)(t) = ẍ(t) + ẋ(t) = f (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1]
t (3.3.1)


 ẋ(0) = 0, x(1) + γ2 ẋ(1) = α,

onde Θ : C 7→ Lp é um operador linear isótono, 1 < p ≤ ∞, a função f (·, ·) satisfaz as

condições de Carathéodory, γ2 ≥ 0. Denotemos v̄ = Θv, z̄ = Θz .

O uso do método “L1 L2 de quasilinearização”, na investigação deste problema, baseia-se

nas condições de antitonicidade do operador de Green do problema (2.1.5).

Recorde-se que, por I2 (pg. 76) denotou-se o intervalo [0, 1), se γ2 = 0 ou o intervalo [0, 1],

se γ2 6= 0.
e , v(t) < z(t), t ∈ I ,
Teorema 3.3.1. Suponhamos que existe um par de funções v, z ∈ D p 2

z(1) + γ2 ż(1) > v(1) + γ2 v̇(1), que satisfazem as desigualdades:

L̃0 v ≥ f (·, Θv), L̃0 z ≤ f (·, Θz), v(1) + γ2 v̇(1) ≤ α ≤ z(1) + γ2 ż(1). (3.3.2)

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ ,

q2 (·) ≤ 0. Então o problema (3.3.1) possui pelo menos uma solução x ∈ [v, z]D
ep .

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ , sendo o operador

de Green do problema auxiliar

def
L̃1 x = L̃0 x − q1 Θx = φ, ẋ(0) = x(1) + γ2 ẋ(1) = 0, (3.3.3)

antı́tono, então a solução do problema (3.3.1) é única.


Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 131

Demonstração. Pela condição do teorema temos que a função f (·, ·) satisfaz a condição

L2 [v̄, z̄], i.e.


f (t, (Θx)(t)),
f (t, (Θx)(t)) = q2 (t)(Θx)(t) + M t ∈ [0, 1].
2

Reescrevemos o problema (3.3.1) na forma





 (L̃2 x)(t) def f (t, (Θx)(t)),
= (L̃0 x)(t) − q2 (t)(Θx)(t) = M2 t ∈ [0, 1],

(3.3.4)

 x(1) + γ2 ẋ(1) = α

e .
no espaço D p

def
Seja y = z − v . Então y > 0,

def f Θz − M
f Θv ≤ 0
φ = L̃2 y ≤ M2 2

Z1
f e y(1) + γ ẏ(1) +
devido à antitonicidade do operador M f (t, s)φ(s) ds > 0, para valores
W
2 2
0
de t ∈ I2 . Consequentemente, segundo o lema 2.1.3 (pg. 76), temos que o problema auxiliar

L̃2 x = ξ, x(1) + γ2 ẋ(1) = 0 (3.3.5)

e ⊂ C é antı́tono.
é únicamente solúvel e o seu operador de Green G̃2 : Lp 7→ D p

O problema (3.3.4) é equivalente à equação do segundo tipo

x = Ã2 x, (3.3.6)

com operador isótono Ã2 : [v, z]C 7→ C definido pela igualdade

Z1
def f (s, (Θx)(s)) ds + u (t),
(Ã2 x)(t) = G̃2 (t, s)M2 2 t ∈ [0, 1],
0
132 Capı́tulo III

onde u2 é a solução do problema semihomogéneo

(L̃2 x)(t) = 0, t ∈ [0, 1], x(1) + γ2 ẋ(1) = α,

G̃2 (·, ·) é a função de Green do problema auxiliar (3.3.5).


e , pois o operador à está
Cada solução contı́nua da equação (3.3.6) pertence ao espaço D p 2

e . Real-
definido no intervalo ordenado [v, z]C do espaço C e aplica este intervalo no espaço D p

mente, o operador isótono Θ : C 7→ Lp aplica o intervalo ordenado [v, z]C no intervalo orde-
f : [v̄, z̄] 7→ L é antı́tono, e por isso
nado [v̄, z̄]Lp . Devido à condição L2 [v̄, z̄], o operador M 2 Lp p

f z̄, M
aplica o intervalo ordenado [v̄, z̄]Lp no intervalo ordenado [M f v̄] . O intervalo ordenado
2 2 Lp

f z̄, M
[M f v̄]
2 2 Lp aplica-se, através do operador G̃2 , no intervalo ordenado

f v̄, G̃ M
[G̃2 M f z̄] ⊂ [G̃ Mf v̄, G̃ Mf z̄] .
2 2 2 D̃p 2 2 2 2 C

O operador Ã2 : [v, z]C 7→ [v, z]C é completamente contı́nuo como produto do operador
f : [v̄, z̄] 7→ [M
contı́nuo Θ : [v, z]C 7→ [v̄, z̄]Lp , do operador contı́nuo M f z̄, M
f v̄]
2 Lp 2 2 Lp e, devido

def f
ao lema 2.1.2 (pg. 75), do operador completamente contı́nuo G̃2 = W Γ̃ : Lp 7→ C, onde

Γ̃ : Lp 7→ Lp é um homeomorfismo linear.

A continuação da demonstração faz-se de modo análogo à demonstração do teorema 3.1.1

(pg. 115).2

Vejamos o problema (3.3.1) na condição de que Θx ≡ x.


e , v(t) < z(t), t ∈ I ,
Corolário 3.3.1. Suponhamos que existe um par de funções v, z ∈ Dp 2

z(1) + γ2 ż(1) > v(1) + γ2 v̇(1), que satisfazem as desigualdades:

L̃0 v ≥ f (·, v), L̃0 z ≤ f (·, z), v(1) + γ2 v̇(1) ≤ α ≤ z(1) + γ2 ż(1).
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 133

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v, z], com coeficiente q2 ∈ Lp . Então

o problema (3.3.1) tem pelo menos uma solução x ∈ [v, z]D


ep .

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v, z], com coeficiente q1 ∈ Lp , sendo o operador

de Green do problema auxiliar

def
L̃1 x = L̃0 x − q1 x = φ, ẋ(0) = x(1) + γ2 ẋ(1) = 0

antı́tono, então a solução do problema (3.3.1) é única.

Demonstração. De modo análogo à demonstração do teorema 3.3.1 e tendo em consideração

o lema 2.1.4 (pg. 78).2

Exemplo 3.3.1. Seja


 Ã !



1
 exp − , se x(t) 6= 0;
f (t, x(t)) = |x(t)|



 0 , se x(t) = 0.

Na descrição de processos no reactor quı́mico surge o problema singular quasilinear




 1
 ẍ(t) + ẋ(t) = −βf (t, x(t)), t ∈ [0, 1],
t (3.3.7)


 ẋ(0) = 0, x(1) = 1/2,

β ≥ 0. Este problema descreve processos que ocorrem num reactor quı́mico com simetria

cilindrica (para mais detalhes vide [45, pg.326]), segundo a lei de Arrhenius. Este problema e

suas diferentes modificações foram estudados por um grupo de matemáticos americanos (vide

[74], [75], [88]). Nos primeiros trabalhos destes autores usaram-se métodos numéricos (por

exemplo o método de Runge-Kutta) na resolução deste problema. Mais tarde, com base na

ideia e resultados do trabalho [61], demonstraram-se teoremas sobre a existência de várias


134 Capı́tulo III

soluções para este problema. Neste exemplo mostraremos, que para 0 ≤ β ≤ e2 a solução

existe e é única.
e . Na qualidade de funções de comparação
O problema (3.3.7) iremos investigar no espaço D ∞

pegamos
β 1
v(t) ≡ 0, z(t) = (1 − t2 ) + , v(t) < z(t), t ∈ [0, 1].
4 2
Imediatamente verificam-se as desigualdades (3.3.2):
à !
v̇(t) 1
v̈(t) + + β exp − = 0,
t |v(t)|
à !
ż(t) 1
z̈(t) + + β exp − ≤ −β + β = 0, t ∈ [0, 1];
t |z(t)|
1
0 = v(1) < x(1) = z(1) = .
2
à !
1
A função F (t, x) = −β exp − satisfaz a condição L2 [v, z], com coeficiente q2 ≡ 0. O
|x|
problema
1
ẍ(t) + ẋ(t) = ξ(t), t ∈ [0, 1], x(1) = 0
t
e , sendo a sua função de Green W(t,
possui, para cada ξ ∈ L∞ , solucao única x ∈ D f s) ≤ 0 no

quadrado [0, 1] × [0, 1].


à !
1
A função F (t, x) = −β exp − satisfaz a condição L1 [v, z], com coeficiente q1 =
|x|
−2
−4βe .
β
Seja y(t) = (1 − t2 ) > 0. Temos
4
(L̃1 y)(t) = (L̃0 y)(t) + 4βe−2 y(t) = −β + β 2 e−2 (1 − t2 ) < β(−1 + βe−2 ) ≤ 0,
Z1 Z1
2
y(1) − (L̃1 y)(s) ds = − [−β + β 2 e−2 (1 − s2 )] ds = β − β 2 e−2 > 0
3
0 0
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 135

logo que cumpre-se a desigualdade β ≤ e2 .

Consequentemente, segundo o lema 2.1.4 (pg. 78), o operador de Green G̃1 do problema

L̃0 x + 4βe−2 x = ξ, x(1) = 0

e
é antı́tono. Então, devido ao corolário 3.3.1, o problema (3.3.7) possui solução única x ∈ D ∞

tal, que
β 1
0 ≤ x(t) ≤ (1 − t2 ) + , t ∈ [0, 1].
4 2
Exemplo 3.3.2. Vejamos o problema de fronteira quasilinear


 1
 ẍ(t) + ẋ(t) = −βf (t, x(t)), t ∈ [0, 1],
t (3.3.8)


 ẋ(0) = 0, x(1) = 0,

e , 1 < p ≤ ∞, β ≥ 17.98. Mostremos que este problema possui pelo menos duas
no espaço D p

soluções. Seja
β
v1 (t) = 2[erf(1) − erf(t2 )], z1 (t) = (1 − t2 )
4
e .
um par de funções tais, que v1 (t) < z1 (t), t ∈ [0, 1), v1 , z1 ∈ Dp

e . Vamos verificar se v ∈ D
Fácilmente constata-se que z1 pertence ao espaço D e . Real-
p 1 p

mente,

1) a função v1 (t) = 2[erf(1) − erf(t2 )] é contı́nua no segmento [0, 1];

2) a derivada
8t exp(−t4 )
v̇1 (t) = − √
π
é contı́nua no segmento [0, 1], sendo v̇1 (0) = 0;
136 Capı́tulo III

3) a função
32t4 exp(−t4 ) 8 exp(−t4 )
v̈1 (t) = √ − √
π π
pertence ao espaço Lp , pois


 24e−1


 max |v̈ 1 (t)| = √ , se p = ∞;



0≤t≤1 π



 Ã !p

 Z1


 p 24e−1

 |v̈1 (t)| dt ≤ √ , se 1 ≤ p < ∞.
 π
0

Imediatamente verificam-se as desigualdades (3.3.2):


à !
v̇1 (t) 1 32t4 exp(−t4 ) 16 exp(−t4 )
v̈1 (t) + + β exp − = √ − √ +
t |v1 (t)| π π
à !
0.5
+β exp − > 0,
erf(1) − erf(t2 )

à ! à !
ż1 (t) 1 4
z̈1 (t) + + β exp − = −β + β exp − < 0,
t |z1 (t)| β(1 − t2 )
para β ≥ 17.948, t ∈ [0, 1], e

v1 (1) = 0 = x(1) = z1 (1).

A existência de solução para o problema (3.3.8) no cone [v1 , z1 ] advém da consequência 3.3.1.

Então o problema (3.3.8) tem, pelo menos, duas soluções: x0 ≡ 0 e x1 pertencente ao espaço
e , 1 < p ≤ ∞, tal, que v ≤ x ≤ z .
D p 1 1 1

Exemplo 3.3.3. Vejamos a equação de Föppl-Hencky (vide, por exemplo, [83])

3 2
ẍ(t) + ẋ(t) = − 2 , t ∈ [0, 1]
t x (t)
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 137

com as condições de fronteira ẋ(0) = 0, x(1) = α > 0.

Este problema descreve processos que ocorrem na teoria de elasticidade e vamos estuda-lo
e , 1 < p ≤ ∞. Na qualidade de funções de comparação escolhemos
no espaço D p

1
v(t) ≡ α, z(t) = (1 − t2 ) + α, v(t) < z(t), t ∈ [0, 1).
4α2

Imediatamente verificam-se as desigualdades (3.3.2).


2 4
A função f (t, x(t)) = − 2 satisfaz a condição L2 [v, z], com coeficiente q2 = 3 e satisfaz
x (t) α
1
a condição L [v, z], com coeficiente q1 ≡ 0.
1
Seja y(t) = 2 (1 − t2 ), t ∈ [0, 1]. Temos

3 4 2
ÿ(t) + ẏ(t) − 3 y(t) ≤ − 2 < 0,
t α α
Z1 µ ¶
2 16 2 6α3 + 32
y(1) − − − (1 − t ) ds = > 0.
α2 α5 3α5
0

Consequentemente, segundo o lema 2.1.4 (pg. 78), o operador de Green G̃2 do problema

4
L̃0 x − x = ξ, x(1) = 0,
α3

é antı́tono. Sendo assim, e devido ao corolário 3.3.1, o problema de Föppl-Hencky possui solução
e tal, que
única x ∈ Dp
1
α ≤ x(t) ≤ α + (1 − t2 ), t ∈ [0, 1].
4α2
Note-se que o mesmo resultado, no espaço de funções diferenciáveis, usando um método

mais complicado, foi obtido por C. A. Stuart e publicado em [83] (vide, também, [50, pg.237]).
138 Capı́tulo III

§3.4. Problema não linear com singularidade não somável no espaço


t,t∗
D̄p

Vejamos o problema quasilinear




 def ẋ(t) x(t)
 (L̄0 x)(t) = ẍ(t) + − 2 = f (t, (Θx)(t)), t ∈ [0, 1],
t t (3.4.1)


 x(0) = 0, x(1) = α,


onde Θ : C 7→ Bt,t
p é um operador linear isótono, 2 < p ≤ ∞, a função f (·, ·) satisfaz as

condições de Carathéodory.
t,t∗
Denote-se v̄ = Θv, z̄ = Θz . O problema (3.4.1) vamos estudar no espaço D̄p , 2 < p ≤ ∞.

Teorema 3.4.1. Seja v, z ∈ D̄t,t
p , v(t) < z(t), t ∈ (0, 1) um par de funções que satisfazem as

desigualdades:

L̄0 v ≥ f (·, Θv), L̄0 z ≤ f (·, Θz), v(1) ≤ α ≤ z(1). (3.4.2)

Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v̄, z̄], com coeficiente q2 ∈ L∞ ,

q2 (·) ≤ 0. Então o problema (3.4.1) possui pelo menos uma solução x ∈ [v, z]D̄t,t∗ .
p

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v̄, z̄], com coeficiente q1 ∈ L∞ , sendo o operador

de Green do problema auxiliar

def
L̄1 x = L̄0 x − q1 Θx = φ, x(1) = 0

antı́tono, então a solução do problema (3.4.1) é única.

Demonstração. De modo análogo à demonstração do teorema 3.3.1.2

Vejamos o problema (3.4.1), no caso quando Θx ≡ x. Nos trabalhos [81], [82] estudaram-se

problemas de fronteira que podem ser apresentados na forma do problema (3.4.1). No artigo
Problemas de Fronteira para EDF Quasilineares 139

[48] indicam-se as condições de existência e unicidade da solução do problema (3.4.1). Nós

formularemos as condições de existência e unicidade de solução do problema (3.4.1), que não

advêm do trabalho [48].



Corolário 3.4.1. Seja v, z ∈ D̄t,t
p , v(t) < z(t), t ∈ (0, 1) um par de funções que satisfazem

as desigualdades:

L̄0 v ≥ f (·, v), L̄0 z ≤ f (·, z), v(1) ≤ α ≤ z(1). (3.4.3)



Suponhamos que a função f (·, ·) satisfaz a condição L2 [v, z], com coeficiente q2 ∈ Bt,t
p .

Então o problema (3.4.1) possui pelo menos uma solução x ∈ [v, z]D̄t,t∗ .
p

Se, além disso, cumpre-se a condição L1 [v, z], com coeficiente q1 ∈ Bt,t
p , e o operador de

Green do problema auxiliar

def
L̄1 x = L̄0 x − q1 x = φ, x(1) = 0

é antı́tono, então a solução do problema (3.4.1) é única.

Demonstração. De modo análogo à demonstração do teorema 3.3.1.2

Exemplo 3.4.1. Vejamos o problema quasilinear




 ẋ(t) x(t) x2 (t)
 ẍ(t) + − 2 =− , t ∈ [0, 1],
t t t (3.4.4)


 x(0) = 0, x(1) = α < 0

t,t∗
no espaço D̄p , 2 < p < ∞. Na qualidade de funções de comparação escolhemos

v(t) = t2 + (α − 1)t, z(t) ≡ 0.

x2 (t)
A função f (t, x(t)) = − satisfaz a condição L2 [v, z], com coeficiente q2 (t) = −2(t +
t
α − 1) e satisfaz a condição L1 [v, z], com coeficiente q1 ≡ 0.
140 Capı́tulo III

Consequentemente, segundo o corolário 3.4.1, o problema (3.4.4) possui solução única x ∈


t,t∗
D̄p : v(t) ≤ x(t) ≤ z(t), t ∈ [0, 1].

Observação geral. Em todos os problemas quasilineares, estudados neste capı́tulo, as condi-

ções L2 e L1 garantiam a existência e unicidade da solução, respectivamente. Isto deveu-se ao

facto de que o operador de Green do respectivo problema linear era antı́tono. Se o operador de

Green do respectivo problema linear fôr isótono, então a condição L1 garante a existência e a

condição L2 garante a unicidade da solução.2


CAPITULO IV

SOBRE A ESTABILIDADE DE SOLUÇÕES DE SISTEMAS DE

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS NÃO ESTACIONÁRIAS

Este capı́tulo é dedicado à investigação de questões sobre condições efectivas de estabilidade

de soluções para sistemas lineares de equações diferenciais ordinárias (EDO) não estacionárias.

Propõe-se um nova ideia para o problema sobre a construcção da equação modelo usando o W

método. Com base nesta ideia obtêm-se novos critérios de estabilidade para sistemas de EDO.

141
142 Capı́tulo IV

§4.1. Escolha e construção da equação modelo

Vejamos a equação

def
(L̆x)(t) = ẋ(t) + P (t)x(t) = f (t), t ∈ [0, +∞), (4.1.1)

onde f e a matriz P (·), de ordem n × n, são localmente somáveis em [0, +∞).

Nos trabalhos [15], [20], [21], [22], [28, cap. 5; 6; 7] propõe-se um novo método no estudo da

estabilidade de soluções desta equação. Este método e o W método (vide, por exemplo, [15],

[20], [21], [22], [28, cap. 5; 6; 7]) consistem no seguinte. Como é conhecido (vide, por exemplo,

[55, cap. 1]) a solução geral x da equação (4.1.1) define-se segundo a fórmula de Cauchy
Zt
˘ )(t) + X(t)x(0), onde (Cf
x(t) = (Cf ˘ )(t) def
= C̆(t, s)f (s) ds,
0

C˘ é o operador de Cauchy, C̆(t, s) = X(t)X −1 (s) é a matriz de Cauchy da equação (4.1.1),


def

X(·) é a matriz fundamental das soluções da equação homogénea L̆x = 0, sendo X(0) = E ,

onde E é matriz unitária de ordem n × n.


˘ + Xζ define, para cada par f ∈ L∞ , ζ ∈ Rn , o elemento x da multi-
A igualdade x = Cf
def
variedade linear D̆ = D(L̆, L∞ ) de todas as soluções da equação (4.1.1). Esta multivariedade

D̆ torna-se um espaço de Banach se a norma fôr definida segundo a igualdade

def
kxkD̆ = kL̆xkL∞ + |ζ|.

Daqui em diante vamos considerar que as colunas da matriz P (·) e a função f pertencem

ao espaço L∞ . Denote-se por U (·) a matriz fundamental da equação modelo

def
(L̆0 x)(t) = ẋ(t) + P0 (t)x(t) = z(t), t ∈ [0, +∞), (4.1.2)
Estabilidade de Soluções de Sistemas 143

onde z e as colunas da matriz P0 (·) pertencem ao espaço L∞ .

O operador de Cauchy W̆ desta equação define-se pela igualdade


Zt
def
(W̆z)(t) = W̆ (t, s)z(s) ds,
0

def
onde W̆ (t, s) = U (t)U −1 (s) é a matriz de Cauchy da equação (4.1.2). A igualdade x = W̆z+U ζ
def
define, para cada par z ∈ L∞ , ζ ∈ Rn , o elemento x da multivariedade linear D̆0 = D(L̆0 , L∞ )

de todas as soluções da equação (4.1.2). Esta multivariedade D̆0 torna-se em espaço de Banach

se a norma fôr definida segundo a igualdade

def
kxkD̆0 = kL̆0 xkL∞ + |ζ|.

Suponhamos, que o operador W̆ actua de L∞ em C. Como se sabe (vide, por exemplo,

[63, cap. 3, §5]) a condição


Zt
sup |W̆ (t, s)| ds < ∞ (4.1.3)
t≥0
0

é necessária e suficiente para que o operador W̆ actue de L∞ em C.

Se a condição (4.1.3), para qualquer z ∈ L∞ , cumpre-se, cada solução x = W̆z + U x(0) da

equação L̆0 x = z pertence ao espaço C. Neste caso diremos, que a equação (4.1.2) é C estável

(vide [34]). Como está demonstrado em [37, cap. 3, §5], [41, cap. 3], [72], nestas condições

para a matriz de Cauchy W̆ (t, s) da equação (4.1.2), para certos M > 0 e β > 0, cumpre-se a

desigualdade

|W̆ (t, s)| ≤ M e−β(t−s) , 0 ≤ s ≤ t < ∞. (4.1.4)

No trabalho [22] mostrou-se que, no caso da C estabilidade da equação (4.1.1), o espaço

de Banach D̆0 coincide com o espaço de Banach W1∞ , i.e. D̆0 = W1∞ e as normas k · kD̆0 ,
144 Capı́tulo IV

1 1 def
k · k W∞
1 são equivalentes. Aqui W∞ = W∞ [0, +∞) é o espaço de Sobolev de todas as funções

absolutamente contı́nuas x : [0, +∞) 7→ Rn , para o qual x ∈ C e ẋ ∈ L∞ , kxkW∞


1 = kxkC +

kẋkL∞ (vide, por exemplo, [63, cap. 1]).

Nos trabalhos [15], [20], [21], [22], [28, cap. 5], [32], [40] demonstram-se afirmações que nós

reformularemos aqui de forma adequada aos nossos objectivos.

Teorema 4.1.1. Suponhamos que a equação (4.1.2) é C estável. O espaço D̆ de todas as

soluções da equação L̆x = f , para todo f ∈ L∞ , coincide com o espaço D̆0 de todas as

soluções do problema modelo L̆0 x = z , para todo z ∈ L∞ , sendo as normas k · kD̆ e k · kD̆0
def
equivalentes só e sómente só, quando existe o operador invertı́vel Q̆−1 = (L̆W̆)−1 : L∞ 7→ L∞ .

No caso quando os espaços de Banach D̆ e D̆0 coincidem diremos, de acordo com [22], [19],

[34], que a equação (4.1.1) é D0 estável.

Observação 4.1.1. Nas condições do teorema 4.1.1 a D0 estabilidade da equação (4.1.1) é

equivalente à C estabilidade desta equação e equivalente à coincidência dos espacos de Banach


1
D̆, D̆0 e W∞ (vide [34]).2

De notar que se a desigualdade (4.1.3) cumpre-se, então a D0 estabilidade da equação

(4.1.1) garante a estabilidade exponencial e a dependência contı́nua das soluções desta equação

em relação à f . Realmente, dos resultados do trabalho [72] deriva o seguinte teorema.

Teorema 4.1.2. Suponhamos que a equação (4.1.2) é C estável. A D0 estabilidade da equação

(4.1.1) é equivalente ao facto de que a matriz de Cauchy C̆(·, ·) desta equação admite, para

certos N > 0 e ᾰ > 0, a estimação

|C̆(t, s)| ≤ N e−ᾰ(t−s) , 0 ≤ s ≤ t < +∞.2


Estabilidade de Soluções de Sistemas 145

Destas afirmações advém que o sucesso da investigação da estabilidade das soluções da

equação L̆x = f depende da escolha da equação modelo. Nos trabalhos [15], [19], [20], [21],

[28, cap. 5], [34] na qualidade de equação modelo escolheu-se uma equação com matriz diagonal

P0 . Nos trabalhos [40], [46] viram-se exemplos de equações modelos com matriz constante P0 .

Para além destes casos, a equação (4.1.2) integra-se de modo explı́cito se a condição de Lappo-

Danilevskiı̆ cumpre-se (vide [55], [43]).

Na construção da equação modelo nós propomos a seguinte ideia. Suponhamos que a função-

matriz U (·), com componentes absolutamente contı́nuas, é tal, que tem lugar U (0) = E e
def
det U (t) 6= 0 para qualquer t > 0, e para a função-matriz W̆ (t, s) = U (t)U −1 (s) cumpre-se
def
pelo menos uma das condições (4.1.3) ou (4.1.4). Então a expressão P0 (t) = −U̇ (t)U −1 (t)

define a equação modelo da equação (4.1.2), cujo operador de Cauchy W̆ é conhecido.

Para qualquer função-matriz U (·), de ordem n × n, o problema para obtenção da matriz

P0 (·) é insolúvel. Por isso mesmo vamos investigar certos casos especiais da matriz U (·),

análogos à matriz fundamental de equações com matriz constante.

Para a equação (4.1.2), com matriz constante P0 de ordem n × n, a matriz fundamental

U (·) constroe-se segundo n autovalores (tendo em conta a sua multiplicidade) da matriz P0 .

Aos autovalores da matriz P0 correspondem funções do tipo

eαt , tν eαt , eλt cos µt, eλt sin µt, tν eλt cos µt, tν eλt sin µt.

Estas funções são linearmente independentes e não são iguais à zero simultâneamente em nen-

hum dos pontos do semieixo [0, +∞).


146 Capı́tulo IV

Vejamos o caso, quando n = 2. Escolhemos duas funções quaisquer u1 (·), u2 (·) linearmente

independentes e absolutamente contı́nuas, diferentes de zero simultâneamente em nenhum dos

pontos do semieixo [0, +∞). Sem limitação da sua essência consideramos u1 (0) = 1, u2 (0) = 0.

A matriz U (·) vamos escolher sob a forma:


 
 u1 (t) + αu2 (t) δu2 (t) 
 
 
U (t) = 

.

 
 
γu2 (t) u1 (t) + βu2 (t)
def
Suponhamos que ∆(t) = det U (t) 6= 0 para todo t > 0 . Então,
 
 u̇1 u1 + β u̇1 u2 + αu̇2 u1 + cu̇2 u2 δ(u̇2 u1 − u̇1 u2 ) 
 
1  
P0 = −  ,
∆


 
γ(u̇2 u1 − u̇1 u2 ) u̇1 u1 + αu̇1 u2 + β u̇2 u1 + cu̇2 u2
def
onde c = αβ − δγ . Cálculos imediatos permitem estabelecer, que a matriz P0 satisfaz a

condição de Lappo-Danilevskiı̆, i.e. a matriz P0 (·) comuta com o seu integral. Vejamos alguns

exemplos.

Exemplo 4.1.1. Sejam


Z t Z t Z t
λ1 (s) ds λ2 (s) ds λ1 (s) ds
u1 (t) = e 0 , u2 (t) = e 0 −e 0 ,

onde λ1 (·), λ2 (·) são quaisquer funções escalares mensuráveis e limitadas na sua essência no

semieixo [0, +∞). Suponhamos, por definição, que λ1 (t) < λ2 (t) para quase todo t ≥ 0. Para

nossa comodidade façamos as seguintes denotações:


Zt
def def
λ̃i (t, s) = λi (τ ) dτ, λ̃i (t) = λ̃i (t, 0), i = 1, 2.
s
Estabilidade de Soluções de Sistemas 147

A matriz P0 (·), para c = 0 e α + β = 1, toma a forma


 
 λ1 (t) + α(λ2 (t) − λ1 (t)) δ(λ2 (t) − λ1 (t)) 
 
 
P0 (t) = − 

.

 
 
γ(λ2 (t) − λ1 (t)) λ2 (t) + α(λ1 (t) − λ2 (t))

Neste caso obtemos: ∆(t) = eλ̃1 (t)+λ̃2 (t) ,


 
λ̃1 (t,s) λ̃2 (t,s) λ̃1 (t,s) λ̃2 (t,s) λ̃1 (t,s)
 e + α(e −e ) δ(e −e ) 
 
 
W̆ (t, s) = 

.

 
 
γ(eλ̃2 (t,s) − eλ̃1 (t,s) ) eλ̃2 (t,s) − α(eλ̃2 (t,s) − eλ̃1 (t,s) )

Para que tenha lugar a estimação exponencial (4.1.4) da matriz de Cauchy W̆ (t, s) é

necessário e suficiente que se cumpra a desigualdade


t
1 Z
lim λ2 (τ ) dτ < 0.
t − s → +∞ t−s s
s → +∞

Sejam α = β = γ = δ = 1/2. Denote-se:

def 1 def 1
p(t) = (λ1 (t) + λ2 (t)) , q(t) = (λ2 (t) − λ1 (t)) .
2 2

Então

λ1 (t) = p(t) − q(t), λ2 (t) = p(t) + q(t).

Se α = β = 1/2, γ = δ = −1/2 denote-se

def 1 def 1
p(t) = (λ1 (t) + λ2 (t)) , q(t) = (λ1 (t) − λ2 (t)) .
2 2
148 Capı́tulo IV

Então

λ1 (t) = p(t) + q(t), λ2 (t) = p(t) − q(t).

Em ambos os casos temos:  


 p(t) q(t) 
 
 
P0 (t) = − 

,

 
 
q(t) p(t)
 
Zt Zt
 ch q(τ ) dτ sh q(τ ) dτ 
Z t  
 
p(τ ) dτ  
s s
 
W̆ (t, s) = e s  . (4.1.5)
 
 
 Zt Zt 
 
 sh q(τ ) dτ ch q(τ ) dτ 
s s

Exemplo 4.1.2. Sejam


Z t Z t
λ(s) ds Zt λ(s) ds Zt
u1 (t) = e 0 cos θ(s) ds, u2 (t) = e 0 sin θ(s) ds,
0 0

onde λ(·), θ(·) são quaisquer funções escalares mensuráveis e limitadas na sua essência no

semieixo [0, +∞). Para nossa comodidade façamos as seguintes denotações:


Zt Zt
def def def def
λ̃(t, s) = λ(τ ) dτ, θ̃(t, s) = θ(τ ) dτ, λ̃(t) = λ̃(t, 0), θ̃(t) = θ̃(t, 0).
s s

A matriz P0 (·), para c = 1 e α + β = 0, toma a forma


 
 λ(t) − βθ(t) δθ(t) 
 
 
P0 (t) = − 

.

 
 
γθ(t) λ(t) − αθ(t)
Estabilidade de Soluções de Sistemas 149

Neste caso obtemos: ∆(t) = e2λ̃(t) ,


 
 cos θ̃(t, s) + α sin θ̃(t, s) δ sin θ̃(t, s) 
 

λ̃(t,s) 

W̆ (t, s) = e .
 
 
 
γ sin θ̃(t, s) cos θ̃(t, s) + β sin θ̃(t, s)

Para que tenha lugar a estimação exponencial (4.1.4) da matriz de Cauchy W̆ (t, s) é

necessário e suficiente que se cumpra a desigualdade


t
1 Z
lim λ(τ ) dτ < 0.
t − s → +∞ t−s s
s → +∞

Sejam α = β = 0, γ = −δ = −1. Denote-se:

def def
p(t) = λ(t), q(t) = θ(t).

Se α = β = 0, γ = −δ = 1 denote-se

def def
p(t) = λ(t), q(t) = −θ(t).

Em ambos os casos temos:  


 p(t) q(t) 
 
 
P0 (t) = − 

,

 
 
−q(t) p(t)
 
Zt Zt
 cos q(τ ) dτ sin q(τ ) dτ 
Z t  
 
p(τ ) dτ  
s s
 
W̆ (t, s) = e s  . (4.1.6)
 
 
 Zt Zt 
 
 − sin q(τ ) dτ cos q(τ ) dτ 
s s
150 Capı́tulo IV

Exemplo 4.1.3. Sejam


Z t Z t
λ(s) ds λ(s) ds
u1 (t) = e 0 , u2 (t) = te 0 ,

onde λ(·) é uma função escalar mensurável e limitada na sua essência no semieixo [0, +∞).

A matriz P0 (·), para c = 0 e α + β = 0, toma a forma


 
 λ(t) + α δ 
 
 
P0 (t) = − 

.

 
 
γ λ(t) + β
Z t
2 λ(s) ds
Neste caso obtemos: ∆(t) = e 0 ,
 
Z t  1 + α(t − s) δ(t − s) 
λ(τ ) dτ 



W̆ (t, s) = e s  .
 
 
 
γ(t − s) 1 + β(t − s)

Para que tenha lugar a estimação exponencial (4.1.4) da matriz de Cauchy W̆ (t, s) é

necessário e suficiente que se cumpra a desigualdade


t
1 Z
lim λ(τ ) dτ < 0.
t − s → +∞ t−s s
s → +∞
Estabilidade de Soluções de Sistemas 151

§4.2. Critérios de C estabilidade

Vamos neste parágrafo formular três critérios de C estabilidade da equação (4.1.1) com

matriz  
 p(t) q(t) 
 
 
P (t) = − 

,

 
 
r(t) v(t)

onde p(·), q(·), r(·), v(·) são quaisquer funções escalares mensuráveis e limitadas na sua essência

no semieixo [0, +∞).

Critério 4.2.1. Suponhamos que se cumprem as desigualdades: vrai sup ψ(t) < +∞,
t≥0

1
{vrai sup |q(t) − r(t)| + vrai sup |p(t) − v(t)|} × vrai sup ψ(t) < √ ,
t≥0 t≥0 t≥0 2
 t 
Zt Z
def def
onde ψ(t) = exp  ²(τ ) dτ  ds, ²(t) = p(t) + |q(t)|.
0 s
Então a equação (4.1.1) é C estável.

Demonstração. Na qualidade de equação modelo vamos escolher a equação (4.1.2.), com

matriz  
 p(t) q(t) 
 
 
P0 (t) = − 

.

 
 
q(t) p(t)

No exemplo 4.1.1, para α = β = γ = 1/2, obtivemos a matriz de Cauchy para tal equação.

Ela tem a forma (4.1.5). A condição vrai sup ψ(t) < +∞ garante a C estabilidade da equação
t≥0
(4.1.2).
152 Capı́tulo IV

Calculamos a expressão
Zt
def
(K̆z)(t) = K̆(t, s)z(s) ds,
0

def
onde K̆(t, s) = (P0 (t) − P (t))W̆ (t, s). É óbvio, que L̆W̆z = z − K̆z . Segundo a observação

4.1.1, a C estabilidade da equação (4.1.1) é equivalente à D0 estabilidade. A desigualdade

kK̆kL∞ →L∞ < 1 (4.2.1)

é condição suficiente para a invertibilidade do operador L̆W̆ : L∞ 7→ L∞ .

A norma kzk do elemento z ∈ L∞ , z = col{z1 , z2 } definimos segundo a igualdade

def
r
kzkL∞ = (vrai sup |z1 (t)|)2 + (vrai sup |z2 (t)|)2 .
t≥0 t≥0

Nas condições do critério 4.2.1 a desigualdade (4.2.1) cumpre-se.2

Critério 4.2.2. Suponhamos que se cumprem as desigualdades: vrai sup Φ(t) < +∞,
t≥0

{vrai sup |q(t) + r(t)| + vrai sup |p(t) − v(t)|} × vrai sup Φ(t) < 1,
t≥0 t≥0 t≥0

 t 
Zt Z
def
onde Φ(t) = exp  p(τ ) dτ  ds.
0 s
Então a equação (4.1.1) é C estável.

Demonstração. Na qualidade de equação modelo vamos escolher a equação (4.1.2.), com

matriz  
 p(t) q(t) 
 
 
P0 (t) = − 

.

 
 
−q(t) p(t)
Estabilidade de Soluções de Sistemas 153

No exemplo 4.1.2, para α = β = 0, γ = −δ = −1, obtivemos a matriz de Cauchy para tal

equação. Ela tem a forma (4.1.6). Repetindo os passos dados na demonstração do critério 4.2.1

obtemos que, nas condições do critério 4.2.2 a desigualdade (4.2.1) cumpre-se.2

Critério 4.2.3. Suponhamos que se cumprem as desigualdades: vrai sup Φ(t) < +∞,
t≥0

{(vrai sup |p(t) − v(t)|)2 + (vrai sup |q(t)|)2 + (vrai sup |r(t)|)2 } × vrai sup Φ(t) < 1.
t≥0 t≥0 t≥0 t≥0

Então a equação (4.1.1) é C estável.

Demonstração. Na qualidade de equação modelo vamos escolher a equação (4.1.2.), com

matriz  
 p(t) 0 
 
 
P0 (t) = − 

.

 
 
0 p(t)
Se no exemplo 4.1.3 colocarmos α = β = γ = δ = 0, então a matriz de Cauchy para tal

equação tem a forma  


Z t  1 0 
p(τ ) dτ 



W̆ (t, s) = e s  .
 
 
 
0 1
Repetindo os passos dados na demonstração do critério 4.2.1 obtemos que, nas condições do

critério 4.2.3 a desigualdade (4.2.1) cumpre-se.2


154 Capı́tulo IV

§4.3. Sobre algumas condições de estabilidade de equações escalares

Vejamos a equação escalar





 (Ľx)(t) def
= ẋ(t) + x(h(t)) = f (t), t ∈ [0, ∞)
(4.3.1)


 x(ζ) = 0, se ζ < 0.

Aqui h : [0, ∞) 7→ R1 é uma função mensurável, h(t) ≤ t, para todo t ≥ 0, f : [0, ∞) 7→ R1 é

uma função mensurável e essencialmente limitada em [0, ∞). Na qualidade de equação modelo

escolhemos
def
(Ľ0 x)(t) = ẋ(t) + x(t) = z(t), t ∈ [0, ∞). (4.3.2)

Denotemos h+ (t) = max{h(t), 0}. Tem lugar o seguinte critério.

Critério 4.3.1. Suponhamos que para um certo ∆ ∈ (0, 1) se cumpre a desigualdade

∆2
vrai sup |t − h+ (t) − ∆| < 1 − . (4.3.3)
t≥0 2

Então a equação (4.3.1) é D0 estável.

Observação 4.3.1. O autor gostaria de observar que a ideia deste critério pertence ao Doutor

A. V. Chistiakov.2

Observação 4.3.2. A desigualdade (4.3.3) podemos reescrever, para um certo ε > 0, na forma

equivalente
∆2 ∆2
+ ∆ − 1 − ε < t − h+ (t) < − + ∆ + 1 + ε,
2 2
∆2
para quase todo t ≥ 0. Pegamos ∆ tal, que + ∆ − 1 = 0 e ∆ ∈ (0, 1). Então
2
∆2 √
− + ∆ + 1 = 2( 3 − 1).
2
Estabilidade de Soluções de Sistemas 155


Deste modo, se ∆ = 3 − 1, a condição (4.3.3) toma a forma


vrai sup |t − h+ (t)| < 2( 3 − 1).
t≥0

def
Denotemos δ = 1 − ∆. Então

∆2 1 δ ∆2 3 δ2
+ ∆ − 1 − ε = + (4 − δ) − ε, − +∆+1+ε= − + ε.
2 2 2 2 2 2

Podemos escolher δ e ε tais, que

∆2 1 ∆2 3
+∆−1−ε< , − +∆+1+ε> .
2 2 2 2

Então a condição (4.3.3) podemos reescrever na forma

3 1
vrai sup |t − h+ (t)| < , vrai inf |t − h+ (t)| > .2
t≥0 2 t≥0 2

Demonstração do critério 4.3.1. Façamos a transformação

ẋ(t) + xh (t) = ẋ(t) + x(t) − [x(t) − xh (t)] =


 
Zt
 
= ẋ(t) + x(t) −  ẋ(s) ds + χh (t)x(0) .
h+ (t)

Recorde-se, que
 

 

 x(h(t)) , se h(t) ≥ 0;  0 , se h(t) ≥ 0;
def h def
xh (t) = , χ (t) = .

 

 0 , se h(t) < 0  1 , se h(t) < 0

Assim temos
Zt Zt
ẋ(t) + xh (t) = ẋ(t) + x(t) + xh (s) ds − f (s) ds − χh (t)x(0). (4.3.4)
h+ (t) h+ (t)
156 Capı́tulo IV

Para um certo ∆ ∈ (0, 1) reescrevemos:

Zt t−∆
Z Zt
xh (s) ds = xh (s) ds + xh (s) ds.
h+ (t) h+ (t) t−∆

Vamos transformar o integral

Zt Zt
def
J = xh (s) ds = {x(t) − [x(t) − xh (s)]} ds =
t−∆ t−∆

 
Zt Zt
 
= ∆x(t) −  ẋ(τ ) dτ + χh (s)x(0) ds =
t−∆ h+ (s)

Zt Zt Zt Zt Zt
= ∆x(t) + xh (τ ) dτ ds − f (τ ) dτ ds − x(0) χh (s) ds =
t−∆ h+ (s) t−∆ h+ (s) t−∆

Zt Zt Zt t−∆
Z Zt Zt Zt
= ∆x(t) + xh (τ ) dτ ds + xh (τ ) dτ ds − f (τ ) dτ ds − x(0) χh (s) ds.
t−∆ t−∆ t−∆ h+ (s) t−∆ h+ (s) t−∆

Uma vez que


Zt Zt
xh (τ ) dτ ds = ∆J,
t−∆ t−∆

então
Zt t−∆
Z
∆ 1
J= x(t) + xh (τ ) dτ ds−
1−∆ 1−∆
t−∆ h+ (s)

Zt Zt Zt
1 1
− f (τ ) dτ ds − x(0) χh (s) ds.
1−∆ 1−∆
t−∆ h+ (s) t−∆
Estabilidade de Soluções de Sistemas 157

Colocamos a última expressão na fórmula (4.3.4) e obtemos

ẋ(t) + xh (t) =
Zt t−∆
Z
∆ 1
= ẋ(t) + x(t) + x(t) + xh (τ ) dτ ds+
1−∆ 1−∆
t−∆ h+ (s)
 
t−∆
Z Zt
1 (4.3.5)
 
+ xh (s) ds −  χh (s) ds + χh (t) x(0)−
1−∆
h+ (t) t−∆
Zt Zt Zt
1
− f (τ ) dτ ds − f (s) ds = f (t).
1−∆
t−∆ h+ (s) h+ (t)

Na equação obtida vamos considerar a expressão

def ∆ 1
(Ľ1 x)(t) = = ẋ(t) + x(t) + x(t) = ẋ(t) + x(t)
1−∆ 1−∆

como sendo o operador modelo. É evidente que, para ∆ ∈ (0, 1), tem lugar a igualdade

D(Ľ0 , L∞ ) = D(Ľ1 , L∞ ),

e as normas k · kD0 e k · kD1 são equivalentes.

Denotemos por W̌1 o operador de Cauchy da equação modelo Ľ1 x = z . Evidentemente,


Zt · ¸
1
(W̌1 z)(t) = exp − (t − s) z(s) ds,
1−∆
0

Zt · ¸
1
kW̌1 kL∞ →C = vrai sup exp (s − t) ds =
t≥0 1−∆
0
· µ ¶¸
1
= (1 − ∆) vrai sup 1 − exp − = 1 − ∆.
t≥0 1−∆
A equação (4.3.5) é equivalente à equação

x(t) = (W̌1 M x)(t) + g(t),


158 Capı́tulo IV

Zt t−∆
Z t−∆
Z
1
(M x)(t) = − xh (τ ) dτ ds − xh (s) ds,
1−∆
t−∆ h+ (s) h+ (t)
µ ¶
t
g(t) = exp − x(0) + (W̌1 g1 )(t),
1−∆
 
Zt Zt Zt Zt
1 1
g1 (t) = 
 χ (s) ds + χ (t)
h h
 x(0) + f (τ ) dτ ds + f (s) ds + f (t).
1−∆ 1−∆
t−∆ t−∆ h+ (s) h+ (t)

Note-se, que
Zt t−∆
Z Zt t−∆
Z Zt s−∆
Z
1 1 1
xh (τ ) dτ ds = xh (τ ) dτ ds + xh (τ ) dτ ds.
1−∆ 1−∆ 1−∆
t−∆ h+ (s) t−∆ s−∆ t−∆ h+ (s)

Vamos agora estimar a norma do operador M : C 7→ L∞ :


Zt t−∆
Z Zt s−∆
Z t−∆
Z
1 1
kM k ≤ vrai sup dτ ds + vrai sup dτ ds + vrai sup ≤
1 − ∆ t≥0 1 − ∆ t≥0 t≥0
t−∆ s−∆ t−∆ h+ (s) h+ (s)
 

 Zt Zt 

1
≤ vrai sup (t − s) ds + vrai sup [s − ∆ − h+ (s)] ds + vrai sup |t − ∆ − h+ (t)| ≤
1−∆
 t≥0 t≥0 
 t≥0
t−∆ t−∆
" #
1 ∆2
≤ + ∆ vrai sup |s − ∆ − h+ (s)| + vrai sup |t − ∆ − h+ (t)|.
1−∆ 2 s≥0 t≥0

Das desigualdades
" #
1 ∆2
kW̌1 M kC→C ≤ (1 − ∆) + ∆ vrai sup |s − ∆ − h+ (s)| +
1−∆ 2 s≥0

∆2
+(1 − ∆) vrai sup |t − ∆ − h+ (t)| = + ∆ vrai sup |s − ∆ − h+ (s)|+
t≥0 2 s≥0

∆2
+(1 − ∆) vrai sup |t − ∆ − h+ (t)| = + vrai sup |t − ∆ − h+ (t)|
t≥0 2 t≥0

temos, que a desigualdade (4.3.3) garante a estimação kW̌1 M kC→C < 1. Consequentemente, a

equação (4.3.1) é C estável, por isso mesmo ela é D0 estável.2


Estabilidade de Soluções de Sistemas 159

Exemplo 4.3.1. Vamos construir uma equação escalar do tipo





 ẋ(t) + x(h(t)) = f (t), t ∈ [0, ∞),
(4.3.6)


 x(ζ) = 0, se ζ < 0,

cuja solução fundamental X(·) é uma função periódica em [0, ∞) e cumpre-se a igualdade

3
vrai sup[t − h(t)] = .
t≥0 2

Como se sabe, a função X(·) é solução do problema de Cauchy







 ẋ(t) + x(h(t)) = f (t), t ∈ [0, ∞),


 x(ζ) = 0, se ζ < 0, (4.3.7)





 x(0) = 1.

Para qualquer n ∈ N ∪ {0} vamos definir a função h(·) do seguinte modo:




 5n 5n 5n + 3



, se ≤t≤ ;

 2 2 2
h(t) =






 t−
3 5n + 3 5n + 5
, se ≤t≤ .
2 2 2
def
Seja r(t) = t − h(t). Então, para qualquer n ∈ N ∪ {0}, obtemos


 5n 5n 5n + 3



t − , se ≤t≤ ;

 2 2 2
r(t) =







3 5n + 3 5n + 5
, se ≤t≤ .
2 2 2
Vamos resolver o problema (4.3.7) por etapas. No segmento [0, 3/2] temos

ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) + 1 = 0,


160 Capı́tulo IV

daı́ que x(t) = 1 − t. No segmento [3/2, 5/2] temos

5
ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) − t + = 0,
2
µ ¶
1 5 2 5
daı́ que x(t) = t− − 1. Tendo em conta a negatividade da derivada ẋ(t) = t − no
2 2 2
segmento [3/2, 5/2] vemos, que x(·) decresce monótonamente neste segmento. No segmento

[5/2, 4] temos

ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) − 1 = 0,


7
daı́ que x(t) = t − . No segmento [4, 5] temos
2

ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) + t − 5 = 0,

1
daı́ que x(t) = 1 − (t − 5)2 . No segmento [5, 13/2] temos
2

ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) + 1 = 0,

daı́ que x(t) = 6 − t. No segmento [13/2, 15/2] temos


µ ¶
15
ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) − t − = 0,
2
µ ¶2
1 15
daı́ que x(t) = t− − 1. No segmento [15/2, 9] temos
2 2

ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) − 1 = 0,

17
daı́ que x(t) = t − . No segmento [9, 10] temos
2

ẋ(t) + x(h(t)) = ẋ(t) + t − 10 = 0,

1
daı́ que x(t) = 1 − (t − 10)2 .
2
Estabilidade de Soluções de Sistemas 161

De acordo com a construção vemos, que o gráfico da função x(·) nos segmentos [0, 5] e

[5, 10] coincidem. A periodicidade da função r(·) permite concluir, que os gráficos da função

x(·) em todos os segmentos do tipo [5n, 5(n + 1)](n ∈ N ∪ {0}) coincidem. Assim mostramos

que a solução x(·) do problema de Cauchy (4.3.7) é uma função periódica de perı́odo igual à

5: x(t + 5) = x(t), para todo t ≥ 0.

Deste modo, a solução fundamental da equação (4.3.6) é uma função periódica em [0.∞)
µ ¶
5
de perı́odo igual à 5, sendo X 5n + = −1 o seu valor mı́nimo e X(5n) = 1 o seu valor
2
máximo, n ∈ N ∪ {0}. É evidente que X(·) não admite estimação exponencial com expoente

negativo.

Observação 4.3.3 Exemplos semelhantes ao exemplo 4.3.1 foram vistos pela Doutora V. V.

Malygina.
CONCLUSÃO

De acordo com a terminologia usada no trabalho [32] chamaremos EDF linear singular de

segunda ordem à equação do tipo

(L0 x)(t) − (T x)(t) = f (t), t ∈ [0, 1],

onde o operador linear L0 : W2p 7→ Lp não é noetheriano, e o operador linear T : W1p 7→ Lp

(ou o operador T : C 7→ Lp ) é limitado. Na qualidade de equação modelo seria interessante

escolher uma EDO singular do tipo

def
(L0 x)(t) = tα1 (1 − t)α2 ẍ(t) + b(t)ẋ(t) + c(t)x(t) = z(t), t ∈ [0, 1].

Se o expoente de singularidade α1 + α2 fôr superior à unidade, então podemos usar espaços



análogos aos espaços Bvp , Bt,t u
p , e também o espaço Lp .

Na qualidade de equação modelo podemos escolher a EDF do tipo

def
(L0 x)(t) = π(t)ẍ(t) − (S ẍ)(t) = z(t), t ∈ [0, 1],

onde
m
X
def
(Sx)(t) = bk (t)xhk (t),
k=1

162
Conclusão 163

bk , hk : [0, 1] 7→ R1 são funções mensuráveis. Sistemas de EDF de tipo análogo foram estudados

nos trabalhos de A. I. Shindiapin [79], [80]. Seria interessante investigar as propriedades do



operador S no caso quando o espaço é Bt,t
p (ou espaços similares).

Seria também interessante e importante aplicar as ideias e resultados deste trabalho, e

também os resultados de A. I. Shindiapin, S. M. Labovskiı̆, E. I. Bravyı̆ e outros autores para

EDF lineares de ordem superior.

Seria interessante aplicar outros métodos de investigação na resolubilidade de problemas de

fronteira singulares para EDF. Recorde-se, por exemplo, o prı́ncipio de Lere-Schäuder, a técnica

de operadores monótonos segundo Minty-Browder, métodos topológicos.

Nas nossas investigações foram estudados problemas de fronteira no segmento com singu-

laridades no extremos do intervalo. Do ponto de vista de aplicações tem grande importância o

estudo de problemas no semieixo (problemas de fronteira com condições no infinito). Pensamos

que estes problemas possuem as mesmas propriedades que os problemas com singularidade no

ponto e podem resolver-se usando métodos conhecidos de regularização da teoria abstracta de

EDF.
BIBLIOGRAFIA CITADA

[1] M. J. Alves, Resolvability of the two-point boundary value problem for a nonlinear singular

functional differential equation, Rus. Math., Allerton Press, Inc., USA, Vol.43, 2 (1999),

pp. 10–16.

[2] M. J. Alves, On an applied nonlinear singular boundary value problem, Mathematica.

Statistica. Informatica, Eduardo Mondlane University, Maputo, Mozambique, 5 (1999),

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[3] M. J. Alves, About a problem arising in chemical reactor theory, Mem. Differ. Equ. Math.

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[4] M. J. Alves, About a nonlinear boundary value problem with nonsummable singularity, Rus.

Math., Allerton Press, Inc., USA, Vol.44, 4 (2000). (to appear)

[5] M. J. Alves, On the question about the solvability for singular functional differential equa-

tion, Works of congress (in CD), International Congress of Nonlinear Analysis and its

Applications, Moscow, Russia (1998), pp. 510–522.

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INDICE

Alternativa de Fredholm 12 Determinante 21, 28, 66

Azbelev N.V. 10, 16


Equação
Bessmertnykh G.A. 10
diferencial funcional
Bravyı̆ E.I. 10, 163
abstracta 18
Condição(ções) quasilinear 112
Carathéodory 22, 113, 116, 127, 130, 138 de Föppl-Hencky 136
generalizada de Lipschitz 23, 127 modelo 11, 16, 60, 141, 145
Lappo-Danilevskiı̆ 145, 146 do segundo tipo 114, 116, 118, 127
“L1 L2 ” 16, 112, 114, 130, 140 Espaço
Critério Bvp 15, 82
de compacticidade 15, 69, 70, 90 e 15, 71
D p

de C estabilidade 143, 144, 151 k


D̂p 65
Kolmogorov 70, 101 t,t∗
D̄p 16
Riesz 70, 101
Dπ,b
p 14, 17, 24

Desigualdade Lup 87

diferencial 13 “com peso” 87

de Hölder 91, 103 de Sobolev 11, 144

175
176 Indice

Estabilidade Klokov Yu.A. 10

de soluções 16, 141, 142


Labovskiı̆ S.M. 10, 11, 12, 163
C estabilidade 144, 152
Lei de Arrhenius 133
D estabilidade 144
Lema

Fórmula de Fatou 86

de Cauchy 142 Lomtatidze A.G. 12

de Green 11
Matriz
Função
fundamental 142
de comparação 120, 123, 126, 134, 137
Método
erf 8, 135
Runge-Kutta 133
de Green 2, 13, 14, 15
W método 16, 60
Gamma 76
Monotonicidade 14
de Steklov 90
Operador
Grabovskaia R.G. 10
afino 94

Homeomorfismo linear 63 antı́tono 16, 37

de Cauchy 79, 105, 142


Intervalo
completamente contı́nuo 20, 38, 105, 116
ordenado 113, 116
fraca completamente contı́nuo 38
de não oscilação 23
de contracção 128
Isomorfismo 11, 19, 38
de Cesàro 70, 72, 108

Kiguradze I.T. 10, 37 espectro 108


Indice 177

de Fredholm 12, 20 singular de fronteira 71, 102

canónico de Fredholm 38 singular no espaço D̃p 71

de Green 13 modelo 60

de problemas modelos 60, 63 de Sturm-Liouville 13, 14, 15, 50

isótono 16, 40 Propriedade A 42, 54

de Nemytskiı̆ 113 Pŭja B. 12

noetheriano 13, 17
Raio espectral 14, 40, 79
normalmente solúvel 18 Rakhmatullina L.F. 10
parte principal 19
Schechter B.L. 10, 12, 37
de peso médio 103
Série de Neumann 41
de sobreposição 12, 54
Shindiapin A.I. 10, 11, 12, 163
de Volterra 23, 79, 88, 89
Sistema

Prı́ncipio fundamental 51, 59, 72

de Lere-Schäuder 163 Stuart C.A. 137

de Tarskiı̆-Birkoff 113 Teorema


Problema de Banach-Steinhaus 93
auxiliar 115, 116, 117 de Hausdorff 99, 101
de Cauchy 13, 79, 159, 161 de Kolmogorov 101
de fronteira 11, 12, 14 de Levi 85

linear de fronteira 15, 20, 65, 71, 103 tipo Nagumo 113

principal de fronteira 20, 22, 72 de Riesz 101


178 Indice

de Schäuder 112, 113, 117

de Sturm 13

de Vallée Poussin 13

tipo Vallée Poussin 71, 102

Teoria

abstracta de EDF 11

Vasil’ev N.I. 10

Vector

funcional 21, 22

fundamental 21
Edição cientı́fica

Alves Manuel Joaquim

EQUAÇÕES DIFERENCIAIS FUNCIONAIS SINGULARES DE SEGUNDA ORDEM

IB 201

Licença LR 020408 de 19.06.97

Autorizado para reprodução 01.04.2000. Formato 84 × 84/16. Papel offset. Tiragem 100

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Impresso na tipografia electrónica dos sistemas OT NIT da Perm State Technical University,

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201

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