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Módulo 03 – Professor Renê Dutra1

Vídeo Aula 32
Medidas Específicas de Proteção
Este texto tratará das Medidas de Proteção, constantes no artigo 101 do
Estatuto da Criança e do Adolescente.
No dia a dia da sala de aula, os professores conhecem ou percebem a
realidade de muitas crianças e adolescentes que vivem em situação de risco.
Para estes casos o Estatuto da Criança e do Adolescente prevê a aplicação de
medidas que vão resgatar a criança ou adolescente, visando que saiam da
realidade de violação de direitos.
O Estatuto prevê que toda a sociedade é responsável pelo
enfrentamento das violações aos direitos de crianças e adolescentes. Em sala
de aula, os professores têm a obrigação de conhecer e ajudar a resolver toda
esta problemática. Sempre que percebermos que os direitos são violados ou
negados, uma medida de proteção deve ser aplicada.
As ameaças ou violações de direitos acontecem por ação ou omissão da
sociedade ou do Estado que, muitas vezes, é um grande agente violador.
Quando um município não garante vaga para todas as crianças na escola, por
exemplo, ele está violando um direito. A família tem o dever de garantir que a
criança esteja estudando, ao mesmo tempo, o Estado ou o município tem que
garantir a vaga, inclusive, segundo o próprio Estatuto, próximo da casa da
criança, pois, na maioria das vezes, os pais não têm condições de gastar
dinheiro para levar a criança numa escola distante, tendo que, às vezes, pegar

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Renê Dutra é conselheiro tutelar de Rio das Ostras/RJ, representante da Associação de
Conselheiros Tutelares do Rio de Janeiro e membro do Fórum Colegiado Nacional de
Conselheiros Tutelares (FCNCT).
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto
escrito.
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duas conduções, por exemplo. Nós sabemos que há muitas situações como
esta, sem que o município, sequer, garanta o transporte escolar.
Violações também ocorrem por falta, omissão ou abuso dos pais ou
responsável pela criança ou adolescente. Muitas vezes, por exemplo, a família
não leva a sério a necessidade de matricular a criança e de acompanhá-la nos
seus estudos. O mesmo acontece em relação a atendimentos de saúde, em
que também há negligência por parte da família.
Por último, a violação do direito pode se dar em função da conduta da
própria criança ou adolescente, mesmo quando há a preocupação e o
empenho dos familiares. Nestas situações o Conselho Tutelar também buscará
garantir, por meio da aplicação de medidas de proteção, que a criança ou
adolescente não permaneça em situação de risco.
As medidas de proteção são várias, e podem ser aplicadas isoladamente
ou não, pode ser uma medida, ou três medidas ao mesmo tempo, por exemplo.
Elas também poderão ser substituídas, conforme previsto no artigo 99 do
Estatuto. Muitas vezes, após a aplicação de uma medida, percebe-se, depois
de algum tempo, que a situação foi sanada, neste caso, ela poderá ser
suspensa ou alterada a qualquer tempo.
Outro ponto fundamental é que a medida, quando é pensada, deve
considerar sempre o melhor para a criança e para o seu desenvolvimento
pedagógico, preferindo sempre aquelas que visem a manutenção e o
fortalecimento do vínculo familiar da criança. Por este motivo, a medida de
abrigamento deveria ser sempre a última, porque a criança precisa conviver
com sua família, salvo quando a situação é de extrema violência.

Medidas de Proteção (artigo 101)


I - Encaminhamento aos pais e responsáveis, mediante termo de
responsabilidade. Imaginemos uma criança encontrada na rua, vendendo
balas, por exemplo, ou simplesmente perambulando em locais de risco, ou no
horário em que deveria estar na escola. Nestes casos o Conselho Tutelar,
quando acionado, encaminhará esta criança para os pais, para a sua família,
certificando-se que ela esteja matriculada em escola do ensino fundamental.
Os responsáveis também terão que assegurar a permanência e a ida desta
criança para a escola. Isso é o mínimo que os pais devem fazer. Assim, com o
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Termo de Responsabilidade, estes pais serão advertidos quanto a esta
violação e quanto às suas responsabilidades.
II - Orientação, apoio e acompanhamento temporários. Muitas vezes
nós percebemos que uma família pode ser ajudada simplesmente com alguma
orientação, outras vezes com o apoio psicológico, proveniente da rede
municipal de serviços. Estes apoios poderão ser temporários e, depois de certo
tempo, a violação tendo cessado, cessa também o atendimento oferecido.
Cabe ao Conselho Tutelar encaminhar a família ou a criança e adolescente
para estes serviços.
III - Matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial
de Ensino Fundamental. Além da matrícula, o Conselho também precisa
garantir que esta criança freqüente regularmente a escola, e para isso, o apoio
do professor, da direção da escola, de toda a comunidade escolar, vai ser uma
condição fundamental para a eficácia da medida. Se a escola não comunica
qualquer falta, qualquer infrequência da criança, que às vezes fica uma
semana, quinze dias fora da escola, o conselho não poderá agir. É de
fundamental importância que a escola tenha clareza que precisa notificar os
casos de infrequência, após tentar, ela mesma, contornar a situação.
IV - Inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à
família, à criança e ao adolescente. Como exemplo, podemos citar uma
situação em que a criança ou adolescente não está freqüentando a escola
porque tem que trabalhar, tem que ajudar os pais no sustento da família. O
Conselho poderá encaminhá-lo para um programa da rede de atendimento
existente no município, seja ele governamental ou não, entre eles, os
programas nos quais os pais recebem auxílio financeiro mensal, desde que
mantenham os filhos na escola. Sabemos que muitos municípios ainda não
possuem uma rede articulada ou suficiente para estes atendimentos, o que,
obviamente, dificultará a solução das questões apresentadas.
V - Requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico,
em regime hospitalar ou ambulatorial. Caso a família não esteja
conseguindo o atendimento de saúde necessário à criança ou adolescente, o
Conselho Tutelar tem como sua prerrogativa requisitar este serviço. A família
ou qualquer outro serviço poderá contar com o apoio do Conselho Tutelar
nesse sentido.

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VI - Inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio,
orientação ou tratamento à alcoólatras e toxicômanos. Muitas crianças e
adolescentes estão envolvidos em ambientes de alcoolismo ou drogadição. O
Conselho Tutelar deve ser notificado destas situações, para que possa buscar
os encaminhamentos e serviços necessários ao tratamento da criança ou
adolescente (além de sua família, conforme artigo 129).
VII - Acolhimento Institucional3. Quando o conselho percebe que já
tentou fazer de tudo para fortalecer a família, mas a situação é tão grave que
não é possível a manutenção da convivência familiar, resta o afastamento da
criança ou adolescente visando a sua proteção. Tal medida deve ser de caráter
excepcional e, quando o conselho faz a colocação de uma criança em um
abrigo, deve, imediatamente, buscar formas de fortalecer os vínculos
familiares, encaminhando os pais para tratamento, por exemplo, para que a
criança possa voltar o mais rápido possível para o seio de sua família.
VIII – Inclusão em programa de acolhimento familiar. É fundamental
que fique claro que o Conselho Tutelar não coloca crianças ou adolescentes
em famílias substitutas. Esta é uma atribuição do Poder Judiciário. O Conselho
Tutelar aplica as sete primeiras medidas, inclusive o abrigamento, buscando
garantir a proteção da criança. Porém, o Poder Judiciário é o órgão competente
para definir, em último caso, se uma família perde o poder familiar, sendo a
criança encaminhada para uma família substituta.
Obs: A colocação em família substituta, sinônimo de adoção, é a
oitava medida constante no artigo 101 do ECA.
O Conselho Tutelar sempre deve buscar garantir os vínculos familiares.
Quando a família perde o direito sobre os seus filhos, este é um momento de
muita tristeza para o Conselho, que percebe que a sociedade não conseguiu
dar conta da tarefa do fortalecimento daquela família. A retirada de uma criança
de sua família deve ser a última ação. Tudo deve ser feito para que o Judiciário
tenha que tomar esta medida poucas vezes. É uma situação na qual todo
mundo sofre, e não é bom para ninguém.
Concluindo, é importante reforçar a idéia de que a escola precisa mesmo
conhecer o papel do Conselho Tutelar, assim como o Estatuto da Criança e do
Adolescente. O Conselho Tutelar e a escola só podem ser parceiros se

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Nova nomenclatura para a antiga medida de “abrigamento em entidade”, de acordo com a lei
12.010/09
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conhecerem a função um do outro. A escola deve aprofundar seus
conhecimentos da lei e dos órgãos de atendimento por meio, por exemplo, de
grupos internos de estudo. É preciso empregar tempo na tarefa de estudar o
Estatuto e suas prerrogativas. Muitas vezes os professores criticam o Estatuto
da Criança e do Adolescente afirmando, erroneamente, que esta lei tira a
autoridade do professor. Isso não procede, não é verdade. O Estatuto deve
ajudar a fortalecer o trabalho docente à medida que garante e defende os
direitos de crianças e adolescentes no nosso país. Escola, Conselho Tutelar e
família devem ser parceiros, buscando sempre fazer com que, em nosso país,
nós consigamos dias melhores para as crianças e adolescentes.

IMPORTANTE: A medida de acolhimento familiar foi legalizada por meio da Lei


Federal 12.010 em 03 de agosto de 2009, após a gravação desta vídeo-aula.
Para saber mais sobre esta medida, leia o texto “O Estatuto da Criança e do
Adolescente e o Acolhimento Familiar” (disponível como uma das leituras
obrigatórias deste módulo).

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