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Módulo 01 - Professora Mary Del Priore1

Vídeo Aula 12
A Construção da Adolescência
A imagem da adolescência no Brasil será alterada, definitivamente, além
obviamente, da introdução do adolescente no mundo do trabalho, pelas
transformações ocorridas nos meios de comunicação.
Nos anos 20 e 30, o rádio chega ao Brasil e promove uma série de concursos
de cantores e cantoras, que vão colocar em cena a possibilidade de qualquer jovem se
transformar numa figura pública. Começa também a circulação de uma série de
revistas que vão transmitir para a juventude uma imagem do mundo da música, como
sendo um mundo glamoroso.
Porém, mais interessante do que isto, é que logo depois da II Guerra Mundial,
se democratiza o cinema no Brasil, principalmente através das grandes produções
norte-americanas, que vão introduzir na tela o casal de jovens adolescentes.
Sobretudo nos musicais, os famosos musicais da Metro, que colocam sempre em
cena um jovem casalzinho que, exatamente na tradição de Romeu e Julieta, tinha que
lutar contra o mundo para poder realizar o seu amor. Este casal vive numa espécie de
bolha amorosa, afetuosa, de música, de dança, lutando contra as ameaças externas.
É neste contexto que vamos começar a ver aparecer e ser valorizada a figura
do adolescente. Sem contar os grandes “monstros do cinema” que acabaram se
identificando com a juventude, como, por exemplo, o grande ator americano James
Deen, que foi o papa da adolescência nos anos 50. Nesta época, todo mundo queria
sair em alta velocidade numa “baratinha”, que era o nome que os carros conversíveis

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Mary Del Priore é historiadora com doutorado em História Social e pós-doutorado em História
da América e do Brasil.
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Foram feitas apenas as adaptações necessárias à transposição do texto falado para o texto
escrito.
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tinham, ou em motocas. Aparece ainda o uso do jeans, o cigarro caído na ponta dos
lábios, a famosa cuba-libre. Todas estas invenções americanas acabaram sendo
exportadas para o Brasil, inspirando os nossos adolescentes.
Data, também, dos anos 30 e 40, o aumento das universidades e, mais do que
isso, da migração do campo para a cidade, de uma classe média que se queria
instruída e formada. A vida nas universidades e a formação de clubes, graças,
sobretudo, à presença de imigrantes, que souberam muito bem organizar-se através
de suas tradições, ou musicais ou culturais, favoreceu a emergência e, sobretudo, o
fervilhamento de uma vida de jovens que antigamente era vivida dentro de casa. As
meninas recolhidas, encontrando os rapazes apenas quando iam à igreja, em dias de
festas religiosas.
Isso tudo muda com a contemporaneidade e, sobretudo, a partir das
representações do rádio e do cinema e, mais tarde, da novela e de toda a
programação de televisão que, se no início se preocupa um pouco em oferecer algum
tipo de teatro infantil para as crianças, vai incorporar, através das novelas, e à medida
que elas começam a fazer sucesso nos anos 70, toda uma problemática do mundo
dos jovens e das angústias vividas por eles. Também, num país obcecado pela
juventude, a televisão vai começar a trabalhar com artistas cada vez mais jovens
colocando, portanto, a adolescência no cenário de frente de todas as suas produções.
Temos, então, a partir do século XX, e com a chegada de todas estas técnicas
de lazer e de divertimento, o adolescente ganhando uma representação cada vez
maior no nosso universo cultural e social.

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