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artigo de revisão
CONHECIMENTO JUDICIAIS:
perspectivas e desafios
A
s transformações ambientais, a Entretanto, a multiplicidade de soluções
complexidade dos processos de em tecnologia, às vezes, com “[...] a glorificação
trabalho e a massificação de tecnologias, do computador, [como] panacéia do nosso tempo
parecem ter criado um modelo baseado no [...]” (NAISBITT, 2007, p. 123) conduz o caráter
encaminhamento de problemas de informação inovativo com maior ênfase a mecanismos
e de conhecimento das áreas de negócio tecnológicos e menos a uma ciência de tratamento
diretamente à área de Tecnologia da Informação da informação e do conhecimento, embora o
(TI) sem uma análise mais cuidadosa quanto ao relacionamento dessas ciências continue sendo
conteúdo e fluxo necessários. inexorável.
Essa rápida transferência do problema Não há, assim, como separar conhecimento
dá-se em razão da urgência em responder ao da tecnologia que a suporta. Dessa forma,
considerável fluxo de conhecimento imposto pela essa “[...] sociedade completa de tecnologia
‘nova’ sociedade. Seus mecanismos tecnológicos, e informação [...]” (TAYLOR, 2012, s.p.)
tais como, a internet, a web, os sítios e os portais, provavelmente demandará do Estado serviços
ao permitir um aumento de estoque e de tráfego e resultados estabelecidos segundo essa nova
antes inimaginável, requereu das organizações cultura e suas especificidades.
uma nova ordem produtiva, gerencial e Nessa nova ambiência e contexto
estratégica, associada a uma imperiosa construídos sob e sobre processos com mistura
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o desenvolvimento de ambientes, onde “[...] por parte dos juízes e suas equipes que pode
ciclos [virtuosos] contínuos de interpretação, possibilitar a verificação, entre outras coisas, de
inovação e ação adaptativa [...]” (CHOO, quantas vezes determinado processo judicial ou
2003, p. 331) possibilitam a ultrapassagem de decisão foi acessada, em quais partes detiveram-
modelos organizacionais tradicionais, como os se (os juízes e suas equipes) e quanto tempo
burocráticos, em direção aos de alta performance. permaneceram nesse acesso.
A transferência a agentes inteligentes
a informação é um elemento dinâmico – softwares capazes de executar tarefas sem
e mutável que ocupa o centro do
a interferência direta de seres humanos – de
palco. Sem informação, a vida não pode
criar nada de novo; a informação é atividades rotineiras até processamentos
absolutamente essencial à emergência complexos, ainda em grande parte executados
da nova ordem. (WHEATLEY, 2006, p. por agentes humanos, é outra possibilidade
112). cada vez mais presente em organizações mais
alinhadas com a atual ambiência. Materializando
Nessa direção, aponta Gómez (2002, p. 35) tal pensamento, vislumbra-se o agente inteligente
para a necessidade de estabelecer-se uma “[...] ‘visitando’ cada computador e substituindo as
governança informacional [...] e a busca de novos leis, os códigos e as normas não mais em vigor,
mecanismos de gestão”. assim como fazem algumas empresas que
frequentemente alertam seus usuários quanto à
4 REFLEXÕES PARA UM NOVO possibilidade de atualizar, via internet, os seus
programas instalados.
JUDICIÁRIO No que diz respeito a espaços geográficos,
a sociedade da informação aponta para a maior
Nos próximos anos e cada vez mais, no conectividade entre pessoas e organizações, pois
cumprimento da missão, na busca dos objetivos ambos guardam a expectativa de reduzirem-
estratégicos e na gestão de seus problemas e se os óbices (e a morosidade) no processo de
soluções, as organizações judiciárias estarão a conhecimento, análise e decisão de um pedido na
buscar diferenciais para a criação de sistemas esfera judicial.
organizacionais inteligentes, efetivos, eficientes e A nova inteligência organizacional
competitivos. “Saber fazer uso da informação é o incitada pela sociedade da informação busca
grande diferencial competitivo das organizações” estudar os fluxos informacionais, buscando aliar
(BERNARDES; MELO, 2008, p. 85). regras do negócio amadurecidas na experiência
Parece que, para a informação útil judicial com modernas plataformas de máxima
fluir com celeridade dos órgãos judiciários à automatização, dentro de um ambiente de
sociedade, novos mecanismos terão que ser geração e de disseminação de conhecimento,
desenvolvidos, com o fim de migrar-se “[...] de pois, melhorar o desempenho da Justiça Federal
uma sociedade industrial fragmentada, linear significa fomentar a troca de experiências entre
e robotizante, [que traz] desvantagem crônica magistrados (BRASIL, 2011b).
para [...] a era da informação, do conhecimento” Parte dessa vivência virtual já se encontra
(WAHBE, 2012, p. 5), ou da “[...] Inteligência [...] em execução, quando os juízes e suas equipes
que poucos se deram conta” (SILVA, 2003, p. vão à praça eletrônica de informações judiciais
116). para obter normas (súmulas, acórdãos), apuram
No caso do Poder Judiciário, pode- as soluções tecnológicas, segundo as regras do
se imaginar um juiz e sua equipe buscando negócio, desenvolvem melhores sistemas de
informações úteis à sua produção em portais busca por jurisprudência, ou, quando percebem
inteligentes. O Judiciário também se situa que há possibilidades computacionais a serem
“[...] num período completamente novo na empregadas, com o fim de aumentar a eficácia
história humana, [dada a] capacidade de coletar dos sistemas:
informações [...] e sintetizar o que já sabemos”
(KISSINGER, 2012, p. 97). O sistema não filtra petições semelhantes
A atual busca por informações traduz um e não compara automaticamente o
comportamento informacional (WILSON, 1999) número dos CPF. Isso possibilita que a
mesma pessoa ingresse pelas mesmas
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razões em diferentes varas, buscando sempre tão ou mais importantes que as fontes
obter a melhor decisão (LARANJEIRA, formais, como bibliotecas ou banco de dados on-
2012, s.p.). line”. (CHOO, 2003, p. 77).
Diretriz 4 – Criar uma Unidade de
No que diz respeito à percepção do que Inteligência Organizacional (UIO)
vem a ser a informação, seu entendimento como
recurso básico, a necessidade de sua organização,
as formas e os meios de recuperação, a sua
5.3 Unidade de Inteligência Organizacional
função modeladora dos processos de trabalho,
Wheatley (2006, p. 111-112) sustenta que
(UIO)
ainda padecemos de uma percepção
equivocada fundamental da informação: do que Unidade de natureza inter, multi e
ela é, da maneira como funciona e do modo como transdisciplinar com competência para conduzir
podemos trabalhar com ela. Nós absolutamente
ações relativas à CI.
não compreendemos o que seja informação.
São possíveis responsabilidades dessa
unidade, entre outras:
5 AS PROPOSTAS • Fomentar a discussão entre entes internos
e externos, com o fim de aprimorar os
Com vistas a atender aos objetivos deste fluxos de decisões judiciais, a partir
trabalho, apresentam-se duas propostas, Política de intercâmbio de informações e
de Informação e Conhecimento e Unidade de conhecimentos.
Inteligência Organizacional (UIO). • Aprimorar a organização da informação,
levando-se em conta ferramentas
5.1 Política de Informação e de informacionais, como, estruturas de
Conhecimento classificação, glossários, tesauros,
taxonomias, ontologias e web semântica,
Política – Criar um ambiente de bem como toda a sorte de tecnologias e
integração, internamente, entre as unidades do metodologias relacionadas.
Tribunal e as Seções e Subseções Judiciárias, • Manter estreita relação com as unidades,
e, externamente, da 1ª Região com os agentes com ênfase nas unidades de negócio
públicos, advogados e a sociedade em geral, por judicial (varas, turmas, sessões),
meio de um intenso intercâmbio de informação biblioteconomia e informática.
e conhecimento judiciais, científico ou não. O
• Estudar as necessidades de usuários
foco desses momentos de vivência é a discussão
internos e externos, propondo e
(preferencialmente onde a hierarquia seja
colocada em segundo plano) de soluções para contribuindo no desenvolvimento de
aprimorar o processo de tomada de decisão serviços, entre eles, portais da internet,
judicial. com o fim de atender tais demandas com
efetividade.
• Atuar como interface entre as ‘áreas de
5.2 Diretrizes Nucleares
negócio’ judiciais e a área de Tecnologia da
Informação, interpretando o valor, utilida-
Diretriz 1 – Conhecer as necessidades
de, disponibilização e acesso à informação,
informacionais dos usuários, internos e externos,
identificando os conhecimentos necessários para bem como discutindo terminologia e no-
a correta captação dessas necessidades. vos mecanismos tecnológicos de apoio ao
Diretriz 2 - Detectar boas práticas que processo decisório judicial.
alavanquem o fluxo de conhecimento. • Propiciar o desenvolvimento de
Diretriz 3 – Aumentar o grau de procedimentos e de mecanismos
interação entre os juízes e suas equipes. “As que tornem fácil e célere o acesso e
fontes [...] colegas [magistrados] [...] são quase a recuperação da informação e do
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ABSTRACT In the era of knowledge, the organizations, especially the publics, recognized the necessity to
better use of the information and knowledge as way to foster their workflows. Pursuant to this new
environment and context built up under and over processes which intermingle information, knowledge
and technology, the organizations arranged themselves, structurally and cognitively, to become
more effective. This paper presents some reflections about a new Judiciary and discusses issues of
relevant interest: social – cooperation for a better assistance related to the needs of information and
knowledge from the Judiciary, judges, citizens and administrators of the law in general and academic
– when Information Science and Public Management are met on the same organizational level. Finally,
proposes a Policy of Information and Knowledge and an Unit of Organizational Intelligence concerning
to Judiciary.
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