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GRUPO DE DISCUSSÃO - TOXOPLASMOSE

1. A. L., 22 anos, e F. K. G., 30 anos, são pacientes do Hospital Carlos Chagas da


UFMG, admitidas há um mês, e gestantes às 20 semanas. A.L. apresenta a forma
linfoglandular e F.K.G é assintomática. Qual das duas tem maior probabilidade de
transmitir a infecção para seu feto? Justifique.

A gestante que possui maior chance de transmitir a toxoplasmose para o feto é a


assintomática. A toxoplasmose congênita somente ocorre quando a mãe sofre infecção
primária por ​T.gondii durante a gravidez, e esta infecção primária é inaparente em 80 a 90%
dos casos. Quando ocorre a manifestação, aí sim a doença aparece sob a forma
linfoglandular. Portanto, a futura mãe com a infecção inaparente encontra-se em um estágio
onde será mais provável passar a toxoplasmose para o feto, pois quanto menor é a idade
gestacional e a época da infecção materna durante a gravidez, maiores são as chances de
gravidade da infecção fetal por ​T.gondii​.

2. Que tipo de imunoglobulina anti-toxoplasma deve ser pesquisada no soro de uma


gestante em seu exame de protocolo pré-natal? Por quê?

No teste sorológico para gestantes, é importante prestar atenção na IgG. Gestantes com
teste sorológico negativo para toxoplasmose possuem IgG ausente, e são consideradas
suscetíveis a contrair a infecção. Portanto, devem ser tomadas medidas profiláticas para
evitar a toxoplasmose adquirida.
A capacidade da IgG ligar-se a antígenos de ​T.gondii (avidez) tem sido utilizada para
determinar se a infecção é atual ou recente. Quando o índice de avidez de IgG for maior
que 20%, é muito provável que a infecção tenha ocorrido pelo menos 2o semanas antes.
Quando é igual ou menor que 30%, a infecção ocorreu nos últimos 3 meses. Igual ou menor
que 40%, indica que a infecção ocorreu há mais de 3 meses. Estes dados são importantes
para se pensar a época em que a gestante contraiu a infecção e, quando aliada com os
dados do tempo gestacional, podem oferecer um prognóstico valioso para se pensar os
riscos e sequelas ao feto oferecidos pela toxoplasmose congênita.

3. Discuta as três principais formas de transmissão para o ser humano da


toxoplasmose.
1) Ciclo enteroepitelial assexuado (pelo gato): acarreta na contaminação do solo por
fezes de felinos. Neste caso, é importante estudar a sequência de acontecimentos: o
ciclo de vida do T .gondii.
2) A doença também pode ser transmitida pela ingestão de alimentos contaminados e
carne mal cozida, pois estes alimentos contêm cistos de toxoplasma. O protozoário
consegue resistir a processos de desinfecção e pasteurização, e o
canibalismo/carnivorismo contribuem para manter a toxoplasmose no ambiente.
3) Transmissão vertical: só ocorre acometimento fetal quando a gestação está em curso
e a mãe contrai a infecção. Esse risco é maior pois a ação do parasita encontra
terreno fértil diante da imaturidade dos tecidos fetais.

4. Que fator imune promove a contenção do bradizoíto sequestrado nos tecidos


humanos e impede a reativação da infecção?

As imunidades humoral e celular participam dos mecanismos de defesa específicos contra


T.gondii. A imunidade humoral está envolvida na resistência à infecção aguda. A imunidade
celular exerce papel comprovado na proteção contra as infecções resultantes da reativação
de focos latentes. Tanto os LT CD4+ (por intermédio da produção de Il-2, 4, 12 e
interferon-alfa) quanto os LT CD8+ (citotoxicidade) exercem papéis importantes na
imunidade específica contra o parasita.
É importante descrever estes mecanismos prévios para observar a origem do termo “foco
latente”, visto que a toxoplasmose não é eliminada definitivamente do organismo. O cisto é a
forma de resistência do T. gondii, encontrada nos tecidos do organismo parasitado. Diante
da resposta imunológica do hospedeiro e da influência de outros fatores, o protozoário
defende-se, formando uma membrana própria e espessa, dando origem ao cisto, que
contém centenas de bradizoítos no seu interior. O bradizoíta é metabolicamente inativo,
prolifera lentamente dentro dos cistos, mantendo a infecção latente dentro do tecido
habitado. Este cisto habita vacúolos citoplasmáticos das células infectadas, e podem liberar
bradizoítas em casos de reativação da infecção, geralmente em imunodeprimidos. O
mecanismo de reativação, portanto, é como a história do Cavalo de Tróia, onde o cisto é o
cavalo, e os bradizoítas são os soldados que atacarão Tróia (o hospedeiro).

5. Descreva o ciclo sexuado e assexuado do T. gondi, ressaltando os hospedeiros


definitivo e intermediário.
O gato ingere os cistos de T.gondii. Os cistos se rompem e os bradizoítas penetram nas
células ileais do gato (hospedeiro definitivo, pois é nele que ocorre a reprodução sexuada).
Há multiplicação dos bradizoítas por esquizogonia, originando os merozoítos. Estes,
transformam-se em gametas. Há o início do ciclo enteroepitelial sexuado. Os gametas
femininos e masculinos viram micro e macrogametócitos e ocorre a microgametogênese.
Depois, ocorre a fecundação e o surgimento do zigoto. O zigoto desce nas fezes e
amadurece no ambiente. Já fora do gato, o zigoto é o oocisto. O homem ingere os oocistos
(hospedeiro intermediário, pois aloja o parasita em sua fase assexuada), e no homem, eles
se tornam esporozoítos. Por fim, há invasão dos esporozoítos nas células e processo
infeccioso.

6. A morbidade para um feto infectado com toxoplasmose é tão mais grave quanto
mais recente a gestação. Discuta essa afirmação.

Esta afirmação está relacionada com a sensibilidade dos tecidos fetais imaturos à agressão
do parasita, a existência da barreira placentária, e a imaturidade imunológica própria do feto.
A justificativa do primeiro e terceiro argumentos é devido ao parasita encontrar terreno
desprotegido e propício a invasão. Consequência disto é o tamanho do estrago causado ao
feto, acarretando em risco de morte e lesões graves e irreversíveis. O segundo argumento é
justificado pela placenta agir como uma peneira que separa o feto dos mecanismos de
resposta imune humoral e celular da mãe. Assim, estes mecanismos de defesa não chegam
ao feto.
Não menos importante é a argumentação embriológica: em gestações recentes não há a
conclusão e a formação de sistemas e órgãos essenciais ao feto, como os sistemas
circulatório, nervoso (profundamente afetado pela toxoplasmose), e órgãos como a medula
óssea fetal, o baço e o timo.

7. Descreva a sintomatologia das seguintes formas de toxoplasmose: linfoglandular,


congênita, neurotoxoplasmose em imunossuprimidos e ocular em adultos.

1) Linfoglandular: é a forma clínica mais frequente em imunossuprimidos. Os gânglios


linfáticos da cadeia cervical ficam hipertrofiados. Pode haver linfadenomegalia
generalizada ou local. Os gânglios ficam lisos, firmes ou elásticos, indolores ou
sensíveis a palpação, não coalescentes a planos profundos, não ulceram nem
supuram. Pode ocorrer febre geralmente baixa. Astenia, anorexia, mal-estar e
cefaléia são queixas comuns, além de mialgias, artralgias, odinofagia, sudorese
noturna e erupção cutânea.
2) Congênita: coriorretinite, estrabismo, cegueira, convulsões, retardo mental,
microcefalia, hidrocefalia, abaulamento da fontanela, meningoencefalite,
hepatoesplenomegalia, erupção cutânea, petéquias, icterícia e pneumonia. A tétrade
de Sabin é valiosa para o diagnóstico (hidrocefalia ou microcefalia + coriorretinite +
calcificações intracranianas + retardo mental). Podem também ocorrer alterações
neurológicas, comprometimento das adrenais, pâncreas, rins e tireóide.
3) Neurotoxoplasmose em imunossuprimidos: no paciente imunodeprimido por HIV, o
parasita causa lesões granulomatosas no parênquima cerebral, que determinam as
manifestações neurológicas focais, sinais e sintomas de hipertensão intracraniana,
sinais de irritação meníngea, convulsões, alterações do nível de consciência e coma.
Os sinais e sintomas mais frequentes são: alterações sensoriais, hemiparesia e
outros sinais focais; cefaleia, convulsões, acidentes cerebrovasculares e sinais de
irritação meníngea também são descritos. Febre é uma queixa comum; confusão e
coma podem estar presentes.
4) Toxoplasmose ocular em adultos: visão borrada, escotomas, fotofobia, dor,
lacrimejamento, perda parcial da visão.

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