1) O que é anamnese?
2) A importância de uma anamnese bem feita (relação da prática com diagnóstico e relação
médico-paciente)
3) Possibilidades e objetivos da anamnese
4) Os sete passos (citar exemplos)
5) Exemplo de roteiro
6) Referências bibliográficas
O que é anamnese?
Anamnese (aná =trazer de novo e mnesis =memória) significa trazer de volta à mente todos os fatos
relacionados com a doença e a pessoa doente. Em essência, a anamnese é uma entrevista, e o
instrumento de que nos valemos é a palavra falada.
Em termos simples, poder-se-ia pensar que "fazer anamnese" nada mais é que "conversar com o
paciente"; contudo, entre uma coisa e outra há uma distância enorme, basicamente porque o diálogo
entre o médico e o paciente tem objetivo e finalidade preestabelecidos, ou seja, a reconstituição dos
fatos e dos acontecimentos direta ou indiretamente relacionados com uma situação anormal da vida do
paciente. A anamnese é um instrumento para a triagem de sintomas anormais, problemas de saúde e
preocupações, e registra as maneiras como a pessoa responde a essas situações, abrindo espaço para
a promoção da saúde.
- Deixar que o paciente relate livre e espontaneamente suas queixas sem nenhuma interferência
do médico, que se limita a ouvi-lo.
- De outro modo, que pode denominar-se anamnese dirigida, o médico, tendo em mente um
esquema básico, conduz a entrevista mais objetivamente. O uso dessa técnica exige rigor
técnico e cuidado na sua execução, de modo a não se deixar levar por ideias preconcebidas.
- Outra maneira seria o médico deixar, inicialmente, o paciente relatar de maneira espontânea
suas queixas, para depois conduzir a entrevista de modo mais objetivo.
Qualquer que seja a técnica empregada, os dados coletados devem ser elaborados. Isso significa que
uma boa anamnese é o que fica do relato feito pelo paciente depois de ter passado por uma análise
crítica com o intuito de estabelecer o significado exato das expressões usadas e a coerência das
correlações estabelecidas. Há de se ter cuidado com as interpretações que os pacientes fazem de seus
sintomas e dos tratamentos.
As primeiras tentativas são trabalhosas, longas e cansativas, e o resultado não passa de uma história
complicada, incompleta e eivada de descrições inúteis, ao mesmo tempo em que deixa de ter
informações essenciais. Por tudo isso, pode-se afirmar que a anamnese é a parte mais difícil do método
clínico, mas é também a mais importante.
Seu aprendizado é lento, só conseguido depois de se realizarem dezenas de entrevistas. Muito mais
fácil é aprender a manusear aparelhos, já que eles obedecem a esquemas rígidos, enquanto as
pessoas apresentam individualidade, característica humana que exige do médico flexibilidade na
conduta e capacidade de adaptação.
Para que se faça uma entrevista de boa qualidade, antes de tudo o médico deve estar interessado no
que o paciente tem a dizer. Ao mesmo tempo, é necessário demonstrar compreensão e desejo de ser
útil àquela pessoa, com a qual assume um compromisso tácito que não tem similar em nenhuma outra
relação inter-humana.
A importância de uma anamnese bem feita (relação da prática com diagnóstico e relação
médico-paciente)
De início, deve-se ressaltar que a anamnese é a parte mais importante da medicina: primeiro, porque é
o núcleo em torno do qual se desenvolve a relação médico-paciente, que, por sua vez, é o principal pilar
do trabalho do médico; segundo, porque é cada vez mais evidente que o progresso tecnológico
somente é bem utilizado se o lado humano da medicina é preservado.
Ponto de partida: o paciente não é obrigado a saber como deve relatar suas queixas. O médico é que
precisa saber como obtê-las.
O médico tem de estar imbuído da vontade de ajudar o paciente a relatar seus padecimentos. Para
conseguir tal intento, Bates (2005) sugere que o examinador utilize uma ou mais das seguintes técnicas:
apoio, facilitação, reflexão, esclarecimento, confrontação, interpretação, respostas empáticas e silêncio.
Elementos obrigatórios de identificação podem oferecer pistas sobre a situação clínica atual do
paciente e um possível caminho para o diagnóstico. Por exemplo: existem doenças típicas de
determinado gênero, idade, etnia, profissão, etc.
2) Queixa principal: neste item, registra-se a queixa principal ou o motivo que levou o paciente a
procurar o médico, repetindo, se possível, as expressões por ele utilizadas. É uma afirmação
breve e espontânea, geralmente um sinal ou um sintoma, nas próprias palavras da pessoa, que
é o motivo da consulta.
Não aceitar, tanto quanto possível, "rótulos diagnósticos" referidos à guisa de queixa principal.
Assim, se o paciente disser que seu problema é "pressão alta" ou "menopausa", procurar-se-á
esclarecer o sintoma que ficou subentendido sob uma outra denominação. Nem sempre existe
uma correspondência entre a nomenclatura leiga e o significado exato do termo "científico"
usado pelo paciente.
- Os elementos que compõem o esquema para análise de qualquer sintoma são: início,
características do sintoma, fatores de melhora ou piora, relação com outras queixas, evolução,
situação atual
Permite ao médico levantar possibilidades e reconhecer enfermidades que não guardam relação
com o quadro sintomatológico registrado na HDA. Por exemplo: o relato de um paciente
conduziu ao diagnóstico de úlcera péptica e, no IS, houve referência a edema dos membros
inferiores. Esse sintoma pode despertar uma nova hipótese diagnóstica que vai culminar, por
exemplo, no encontro de uma cirrose. Em outras ocasiões, é no interrogatório sintomatológico
que se origina a suspeita diagnóstica mais importante.
A única maneira de realizar uma boa anamnese especial, particularmente nessa fase de
iniciação clínica, é seguir um esquema rígido, constituído de um conjunto de perguntas que
correspondam a todos os sintomas indicativos de alterações dos vários aparelhos do organismo.
6) Hábitos de vida: este item, muito amplo e heterogêneo, documenta hábitos e estilo de vida do
paciente e está desdobrado nos seguintes tópicos: alimentação, ocupação atual e ocupações
anteriores, atividades físicas (faz?) e hábitos (fuma, bebe, etc).
Este item está desdobrado em: habitação (condições de saneamento, coleta de lixo, e
possibilidade de contato com vetores de doenças), condições socioeconômicas (capacidade
financeira do paciente para pagar por exames e comprar medicamentos), condições culturais,
vida conjugal e relacionamento familiar.
Exemplo de roteiro
Referências bibliográficas
- PORTO, Celmo Celeno; PORTO, Arnaldo Lemos (Ed.). Exame clínico: Porto & Porto. 7. ed. Rio
de Janeiro, RJ: Guanabara Koogan, c2012. 34-55 p.
As faringites e as amigdalites agudas são síndromes clínicas causadas por diversos microrganismos. A
maioria dos casos é de etiologia virótica freqüentemente associada ao resfriado comum, às infecções
pelo vírus influenza e ao vírus Epstein-Barr (agente da mononucleose infecciosa).
- Amigdalite aguda: dor de garganta, febre, disfagia e adenomegalia cervical Ao exame: hiperemia
de amígdalas com ou sem exsudatos purulentos.
- Amigdalite crônica: dor de garganta crônica, halitose, eliminação de caseum, edema
periamigdaliano e adenopatia cervical persistente.
- Hiperplasia amigdaliana: roncos, apnéia obstrutiva do sono, disfagia e voz hipernasal. Na
presença de quadro agudo associado, pode evoluir com insuficiência respiratória aguda.
Amigdalite viral: as amigdalites de origem viral correspondem a 75% das faringoamigdalites agudas,
preponderantes nos primeiros anos de vida (2 e 3) e menos freqüentes na adolescência. Os agentes
etiológicos podem ser os rinovírus, coronavírus, adenovírus, herpes simples, influenza, parainfluenza,
coxsackie e outros. O quadro clínico da amigdalite viral caracteriza-se por dor de garganta, disfagia,
mialgia, febre baixa, tosse, coriza hialina e espirros. No exame físico, há hiperemia e edema da mucosa
faríngea e das amígdalas, com presença de exsudato (raramente). Ausência de adenopatia. O
tratamento é feito com medidas de suporte, analgésicos e antiinflamatórios.
Para fins de diagnóstico diferenciado, a amigdalite é também confundida com: a) Leucemia aguda: a
angina é comumente acompanhada de estomatite, com tendência a sangramento e fenômenos
necróticos. Linfonodomegalia, febre, anorexia, dores ósseas são freqüentemente associadas.
Hemograma e mielograma são necessários para confirmação diagnóstica. b) Agranulocitose: a angina
varia de um simples eritema à ulceração e necrose da mucosa orofaríngea. Hemograma apresenta
acentuada leucocitopenia.
Exames laboratoriais: a cultura de orofaringe é considerada o padrão ouro, mas apresenta como
desvantagem o tempo prolongado (18 a 48 horas) para obtenção do resultado do exame e com isso a
espera para a introdução da medicação adequada. Outros testes para detecção do estreptococo, como
ELISA, imunoensaios ópticos ou sondas de DNA, apresentam a vantagem do diagnóstico rápido, cerca
de 15 minutos. Essas provas se apresentam na forma de kits e podem ser realizadas no consultório.
Quando comparados à cultura de orofaringe, apresentam sensibilidade de 30 a 90% e especificidade de
95%, tendo, portanto, um valor elevado de falsos-negativos. Na prática clínica, a solicitação da dosagem
dos anticorpos antiestreptolisina O, anti-hialuronidase, anti-DNAse e a antiestreptoquinase é de pouca
utilidade, pois seus títulos só se elevam 2 ou 3 semanas após a fase aguda.
Referências bibliográficas
- ABORLCCF. Guidelines IVAS. In Área de acesso restrito. Disponível em
<https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=1&ved=2ahUKEwiy1biQte
TnAhUsCrkGHZ30CXgQFjAAegQIARAB&url=https%3A%2F%2Fwww.aborlccf.org.br%2Fimage
Bank%2Fguidelines_completo_07.pdf&usg=AOvVaw2gBCdVvph9PaWiGnZwc3uL> acesso em
22/02/2020
Doença diarréica causada pelo protozoário Giardia intestinalis (mais conhecido como Giardia lamblia). A
infecção ocorre pela ingestão de cistos em água ou alimentos contaminados. No intestino delgado, os
trofozoítos sofrem divisão binária e chegam à luz do intestino, onde ficam livres ou aderidos à mucosa
intestinal, por mecanismo de sucção. A formação do cisto ocorre quando o parasita transita o cólon, e
neste estágio os cistos são encontrados nas fezes (forma infectante). No ambiente podem sobreviver
meses na água fria, através de sua espessa camada.
Sinais e sintomas
As manifestações podem surgir de forma súbita ou gradual. Na giardíase aguda os sintomas surgem
após um período de incubação, geralmente de uma a três semanas. Na giardíase crônica os sintomas
podem ser contínuos ou episódicos, persistindo por anos, e o paciente não necessariamente
desenvolve manifestações agudas. Menos frequentemente pode ocorrer disseminação extraintestinal,
na qual os trofozoítos migram para os dutos biliares e pancreáticos. A manifestação clínica mais
frequente é a síndrome diarreica, caracterizada por diarreia de evolução crônica, contínua ou com
surtos de duração variável, acompanhada por cólicas abdominais, com alternância de exonerações
normais e constipação intestinal. As evacuações em geral ocorrem duas a quatro vezes ao dia. As fezes
são pastosas, abundantes, fétidas e com predomínio de muco.
Outras apresentações clínicas menos comuns são: síndrome de má absorção, que causa
emagrecimento, anorexia, distensão abdominal, flatulência, desnutrição, raquitismo e esteatorreia, além
de anemia; síndrome dispéptica, com sensação de desconforto epigástrico, plenitude gástrica
pós-prandial, eructações, pirose e náuseas, além de vômitos; e síndrome pseudoulcerosa, constituída
por dor epigástrica ou pirose, que melhora com a ingestão de alimentos e retorna com o jejum.
Diagnóstico
A clínica é inespecífica. O diagnóstico definitivo é realizado a partir do encontro dos trofozoítos, cistos
ou antígenos de G. intestinalis em qualquer amostra de fezes ou fluido duodenal. No entanto, deve-se
ficar atento, pois o diagnóstico de giardíase através da pesquisa de trofozoítos ou cistos apresenta
elevada percentagem de resultados falso-negativos. Como os trofozoítos são destruídos no meio
externo em 15 minutos, é conveniente conservar as fezes com o conservante de Schaudinn ou MIF.
Recomenda-se a aspiração ou a biopsia do duodeno e do jejuno em pacientes que apresentam
manifestações clínicas e exames de fezes para G. intestinalis negativos, como também amostra de
fluido duodenal, e se encaixam em um dos seguintes critérios: 1) achados radiológicos (edema,
segmentação do intestino delgado); 2) resultado anormal no teste de tolerância à lactose, nível ausente
de IgA secretória, hipogamaglobulinemia ou acloridria; 3) Entero-Test; 4) Técnica de imunosseparação
magnética, acoplada à imunofluorescência (IMS-IFA), para detecção de cistos de Giardia lamblia em
fezes humanas; 4) O teste de ELISA (enzyme-linked immunosorbent assay) também se mostrou útil
devido a sua alta sensibilidade, que varia de 85% a 100%. Além disso, esse método pode ajudar no
diagnóstico eliminando os resultados falso-negativos que ocorrem nos exames microscópicos.
Tratamento
Em revisão recente da literatura, Granados et al. (2012) utilizaram dados de estudos obtidos a partir das
fontes the Cochrane Infectious Disease Group Specialized Register, the Cochrane Central Register of
Controlled Trials (CENTRAL), MEDLINE, EMBASE, LILACS e the International Clinical Trials Registry
Platform Search Portal. Estes autores revisaram 19 ensaios clínicos considerando albendazol,
metronidazol, tinidazol e nitazoxanida, envolvendo 1.817 participantes (1.441 crianças). Relataram que
a maioria desses estudos apresentava problemas de número amostral ou outros problemas
metodológicos, inclusive com a confirmação etiológica do parasito.
Prevenção
As medidas mais importantes para a prevenção da giardíase são o acesso a adequadas condições de
saneamento, ingestão de água tratada ou fervida, cuidados com a higiene pessoal e adequada
preparação e conservação dos alimentos. Além disso, são importantes o controle de insetos e o
adequado diagnóstico e tratamento dos doentes, visando interromper a cadeia de transmissão.
Referências bibliográficas
- SANTANA, Luiz Alberto et al. Atualidades sobre giardíase. JBM. janeiro/fevereiro, 2014 vol.
102 No 1. p. 7-10
- SECRETARIA DO ESTADO DE SAÚDE DE SÃO PAULO. Manual das doenças transmitidas
por alimentos. Disponível em
<https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=giard%C3%ADase+manual+de+manejo#>
acesso em 22/02/2020
19) O que é
20) Sinais e sintomas
21) Diagnóstico
22) Tratamento e prevenção
O que é
A síndrome do intestino irritável é denominada pela sigla IBS, e é representada por dores abdominais
itinerantes, sem lesões orgânicas e alteração do comportamento intestinal. É também conhecida por
cólon irritável, colite mucosa, e outras.
A IBS é frequente, e de prevalência elevada em países asiáticos, e é mais típica de mulheres adultas.
Sua etiologia é diversa e pode ser atribuída a causas como erro alimentar, hipolactasia, deficiências
imunológicas, sensibilidade visceral aumentada, secundária ou não a quadros depressivos. A existência
de causa orgânica é que confere à IBS a denominação de doença funcional, pois tumores, cânceres,
parasitoses, infecções, podem aparentar ser IBS.
Sinais e sintomas
Embora sejam de diferentes etiologias, o denominador comum entre elas é a alteração motora no
intestino delgado e nos cólons, com espasticidade, distensões gasosas, diarréia ou constipação. A
mucosa irritada produz mais muco, que pode ser eliminado e visto nas fezes.
São pacientes que se queixam de dor itinerante no abdome, borborigmos e distensão abdominal. Pode
ocorrer flatulência de graus variáveis. É comum que períodos de diarréia alternem-se com os de
constipação seguido de diarréias. A palpação do abdome localiza a dor essencialmente no trajeto cólico,
mas o abdome em geral apresenta a dor difusa à palpação profunda. Por vezes, a dor abdominal
incomoda de tal forma que as próprias vestes causam desconforto. Na variedade dos casos
distinguem-se as formas predominantemente diarréicas e as constipantes.
Nos congressos de gastroenterologia e 1989 e 1998 em Roma foram estabelecidos critérios para a IBS:
Critérios de Roma II: 1) Menos de três evacuações por semana; 2) Mais de três evacuações por dia; 3)
Fezes endurecidas, irregulares ou em cíbalas; 4) Fezes amolecidas, pastosas ou aquosas; 5) Esforço
grande às evacuações, 6) Urgência imperiosa para evacuar; 7) Sensação de evacuação incompleta; 8)
Presença de muco nas fezes; 9) Distensão abdominal.
Diagnóstico
Estabelecido o diagnóstico clínico, o médico deve buscar o diagnóstico pessoal de cada paciente.
Excluir causas orgânicas é fundamental, pelos exames laboratoriais, radiografias, colonoscopia e,
eventualmente, tomografias. Exames de fezes devem ser feitos, além de uma pesquisa sobre tolerância
a lactose, excluir doença celíaca e quantificar as imunoglobulinas séricas IgA, IgG e IgM. Antecedentes
de depressão na família devem chamar a atenção do médico, e seu dia alimentar (verificar se há falta
de ingestão de fibras, ou excesso; abuso de cerveja, por exemplo).
Tratamento e prevenção