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O PT DA PRÓXIMA ELEIÇÃO

Jim Jones tupiniquim


Por Merval Pereira • 11/04/2020 04:30

O presidente Jair Bolsonaro está cavando um abismo a seus pés lutando


contra a realidade trágica da Covid-19. Não há saída honrosa para ele
diante da perspectiva de recessão econômica - o ministro da Economia
Paulo Guedes já teme um PIB negativo de 4%, há bancos prevendo até 6% -
e de um dramático número de mortes, que já está na casa do milhar antes
de um mês de quarentena.

As demonstrações diárias de irresponsabilidade acintosa vão ganhando


perigosos ares de desequilíbrio comportamental que, em vez de aumentar
suas chances de concorrer à reeleição, vão lhe retirando essa
possibilidade, reduzindo seu apoio a um grupo de fanáticos.

A mais recente pesquisa DataFolha mostra que 17% dos eleitores que
votaram em Bolsonaro no segundo turno estão arrependidos, o que quer
dizer que cerca de 10 milhões de pessoas o abandonaram, fazendo com
que tivesse hoje, teoricamente, menos votos do que obteve no primeiro
turno.

Não quer dizer, porém, que todos os que não se declararam arrependidos
estejam contentes com o governo Bolsonaro. Muitos, certamente, não se
arrependeram porque consideram que o principal papel de seu voto foi
derrotar o PT.

Pesquisas de opinião pública mostram que Bolsonaro mantém um apoio


em torno de 30% da população, o mesmo índice que o PT costumava ter
antes de chegar ao poder, igual ao percentual de votos que o candidato
petista Fernando Haddad obteve no primeiro turno.

Não há indicações de que o PT tenha mantido seu nível de apoio de lá para


cá, e o desgaste de Bolsonaro é nítido. Por isso a polarização contra o PT é
bom, teoricamente, para os dois, mas especialmente para Bolsonaro se ele
já não tivesse provado que não é apenas um antipetista, mas um
desequilibrado, técnica e emocionalmente incapaz de enfrentar crises
como a que atravessamos, e moralmente corrupto.

Não acredito que o PT tenha, nesses anos recentes, recuperado a imagem


de honestidade e credibilidade que conseguiu introjetar no eleitorado, e
acho, portanto, que uma repetição da polarização dificilmente acontecerá.
Os extremos já se mostraram incapazes de dar uma solução para o país.

O desgaste de Bolsonaro só se acentuará nos próximos anos, já que ele é


incapaz de ser outra pessoa. Já era assim antes da campanha, mas era o
que tinham os que queriam alijar o PT. O centro político foi incapaz de
apresentar uma alternativa ao eleitor de centro-direita que demonstrasse
viabilidade eleitoral, diante da radicalização que tomou conta da eleição.

Abre-se um caminho largo até 2022 para candidatos de centro se firmarem


no cenário político nacional, e os governadores, que são protagonistas
dessa guerra contra a Covid-19, podem colher resultados positivos, como já
demonstram as pesquisas de opinião e as redes sociais. Por isso, a cada vez
que surge um político que se destaque, passa a ser potencial candidato a
presidente: é assim com Mandetta, é assim com Moro.
O comportamento do presidente Bolsonaro, ao sair às ruas em Brasília, é
acintoso, atitude que não pode ser vista como normal. Por causa desse
comportamento, nossa política de isolamento social está começando a
afrouxar, a ser rompida por grupos incentivados pelo presidente.

Não é assim que a economia vai melhorar, e esse afrouxamento provocará


mais mortes, mais sofrimento. Não é à toa que a embaixada alemã está
recomendando a seus cidadãos que regressem ao seu país.

Bolsonaro será responsabilizado pessoalmente pelo aumento das mortes.


Não é possível ter um presidente que estimula a população a se arriscar
numa pandemia, como um líder místico levando seus seguidores para o
suicídio coletivo. Bolsonaro, nosso Jim Jones tupiniquim, será o PT da
próxima eleição, aquele a quem será preciso afastar do poder.

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