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Lucimar Mutarreli.

1- Você acredita que o escritor é uma necessidade social?


Difícil dizer. Depende de que forma ele vai atingir as pessoas. Não importa o tipo
de escrita, se ele conseguir tocar um gesto pode se dizer que ele é necessário
socialmente.

2- Ao escrever você sente algo como: ‘’Ali todo ser deseja transformar-se em palavra,
e toda mudança pede para aprender de mim a falar.’’, ou a escrita vêm de uma
maneira natural?
Eu realmente me viro em palavras. Escrevo como se estivesse vomitando algo que me
faz mal. Falo sempre de mim, até de um eu que não existe mas sou eu.

3- A literatura deve refletir ou modificar a realidade?

As duas coisas. Refletir porque o escritor é quase um moderador daquilo que


se passa ao seu redor ou dentro dele que foi construído através de suas
observações e vivências e modificar por, quase sempre, botar o dedo na
ferida daquele que o lê, provocar um movimento além do texto.

4- Em tempos de uma pandemia que ameaça a totalidade, qual é a resposta que pode
ser apresentada pela literatura?

No meu caso é o conforto e a companhia nos livros que leio, a literatura me faz bem,
mesmo que me faça sofrer. No caso da literatura que produzo nada porque não
estou conseguindo escrever no meio desse deserto, o que é uma resposta também.
Vazia, nula, mas uma resposta.

5- Em uma das suas crônicas você escreve: ‘’Eu me perco com liberdade demais.’’
Nosso desejo, na maioria das vezes, é precisamente liberdade num sentido
libertário, estar perdida com isso não seria confuso? Comente.
Eu preciso ter regras, preciso ter alguma medida. Não me basto tão solta. Preciso
de alguém que me amarre na cadeira e solte as minhas mãos. Aí, eu escrevo.

5- Qual das suas obras poderia ser uma síntese do que você melhor produziu?
Meu primeiro romance: Entre o trem e a plataforma que conta a história de
uma mulher infantilizada em busca de amor e presa na moldura, feito aquelas
borboletas de coleção.

6- A sua literatura deve muito a alguma escritora?


A Clarice Lispector por sua crueldade e secura e a Cecília Meireles pela
suavidade e alguma frieza.

7- O que é capaz de te fazer chorar de emoção positiva?


Ver seu filho nascer e seu marido chorar ao seu lado, é muito provável que o
seu choro venha do dele e receber alguém muito amado no aeroporto.

8- Você estaria disposta a viver sua vida inteira novamente?


9- Completamente, com todas as pernas e direito a edição.

10-Como você gostaria que fosse seu último poema, caso ele fosse ser escrito
na sua lápide?

É quase um haikai: Vai ser bom. Não foi?

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