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Direito Administrativo I – Patrícia Sampaio

Serviços Pú blicos

Duguit

Serviço pú blico “é toda atividade cujo cumprimento deve ser regulado, assegurado e fiscalizado pelos
governantes, por ser indispensá vel à realizaçã o e ao desenvolvimento da interdependência social, e de tal
natureza que só possa ser assegurado plenamente pela intervençã o da força governante”.
“Dizer que um serviço é um serviço pú blico quer dizer que esse serviço é organizado pelos governantes,
funcionando sob a sua intervençã o e devendo ter por eles assegurado o seu funcionamento sem
interrupçã o.” (Las trasformaciones generales del derecho, 2001, p. 36 e ss)

 Serviço pú blico = toda atividade prestacional do Estado


 Inclui atividade legislativa e jurisdicional
 Estado se confunde com a prestaçã o de serviços pú blicos
 Crítica: extrema abrangência do instituto retiraria sua utilidade prá tica

Gaston Jèze

 Serviços pú blicos = atividade prestada sob regime de direito pú blico


 Aproximaçã o à ideia de monopó lio estatal
 Conceito restrito e tautoló gico => atividade é submetida a um regime de direito pú blico porque é
serviço pú blico (e nã o o inverso)

Serviços públicos no direito brasileiro

 Celso Antô nio Bandeira de Mello


“Serviço pú blico é toda atividade de oferecimento de utilidade ou comodidade material destinada à
satisfação da coletividade em geral, mas fruível singularmente pelos administrados, que o Estado
assume como pertinente a seus deveres e presta por si mesmo ou por quem lhe faça as vezes, sob um
regime de Direito Público – portanto, consagrador de prerrogativas de supremacias e restriçõ es especiais
-, instituído pelo Estado em favor dos interesses definidos como públicos no sistema normativo”.
(BANDEIRA DE MELLO, Celso Antô nio. Curso de direito administrativo. 21ª ed. Sã o Paulo: Malheiros, 2006, p.
642)

 José dos Santos Carvalho Filho


“Serviço pú blico [é] toda atividade prestada pelo Estado ou por seus delegados, basicamente sob regime
de direito público, com vistas à satisfação de necessidades essenciais e secundárias da coletividade.”
(CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 15a ed. Rio de Janeiro: Lumen Iuris,
2006).

 Marçal Justen Filho


“Serviço pú blico é uma atividade pú blica administrativa de satisfação concreta de necessidades
individuais ou transindividuais, materiais ou imateriais, vinculadas diretamente a um direito
fundamental, destinada a pessoas indeterminadas e executada sob regime de direito público.” (JUSTEN
FILHO, Marçal. Curso de direito administrativo. Sã o Paulo: Malheiros, 2005, p. 478).

Elementos utilizados na conceituação dos serviços públicos

 Critério subjetivo (titularidade)


 Critério material / objetivo (visa à satisfaçã o de interesses coletivos)
 Critério formal (regime de direito pú blico – publicatio -lei)

Competência para disciplina

 Competências privativas ou comuns, nos termos da Constituiçã o


 É competente para regular quem é competente para prestar o serviço

Princípios

 Princípio da generalidade
 Princípio da continuidade
 Princípio da regularidade
 Princípio da eficiência
 Princípio da atualidade
 Princípio da modicidade

Serviços Públicos na CF/88

 Art. 9º - As atividades essenciais


“Art. 9º. É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de
exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§1º. A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades
inadiá veis da comunidade.”

 Art. 25. (…)


§ 2º - Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessã o, os serviços locais de gá s canalizado, na
forma da lei, vedada a ediçã o de medida provisó ria para a sua regulamentaçã o
(Ver art. 175, CF/88)
 Art. 30
“Compete aos Municípios:
(...)
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessã o ou permissã o, os serviços pú blicos de
interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem cará ter essencial;
VI - manter, com a cooperaçã o técnica e financeira da Uniã o e do Estado, programas de educaçã o infantil e de
ensino fundamental
VII - prestar, com a cooperaçã o técnica e financeira da Uniã o e do Estado, serviços de atendimento à saú de
da populaçã o;
Serviços pú blicos na CF/88

 Art. 34, VII, “e”


Art. 34. A Uniã o nã o intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
(...)
e) aplicaçã o do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de
transferências, na manutençã o e desenvolvimento do ensino e nas açõ es e serviços pú blicos de saú de.
(Redaçã o dada pela Emenda Constitucional nº 29, de 2000)

 Art. 205. A educaçã o, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada
com a colaboraçã o da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificaçã o para o trabalho.

 Art. 209. O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as seguintes condiçõ es:
I - cumprimento das normas gerais da educaçã o nacional;
II - autorizaçã o e avaliaçã o de qualidade pelo Poder Pú blico.

 Saú de
Art. 197. Sã o de relevância pública as açõ es e serviços de saú de, cabendo ao Poder Pú blico dispor, nos
termos da lei, sobre sua regulamentaçã o, fiscalizaçã o e controle, devendo sua execuçã o ser feita diretamente
ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica de direito privado.

Art. 199. A assistência à saú de é livre à iniciativa privada. (...)

 Serviços pú blicos (econô micos)


Art. 175. Incumbe ao poder pú blico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessã o ou permissã o,
sempre através de licitaçã o, a prestaçã o de serviços públicos.
Pará grafo ú nico. A lei disporá sobre:
I - o regime das empresas concessioná rias e permissioná rias de serviços pú blicos, o cará ter especial de seu
contrato e de sua prorrogaçã o, bem como as condiçõ es de caducidade, fiscalizaçã o e rescisã o da concessã o
ou permissã o;
II -  os direitos dos usuá rios;
III -  política tarifá ria;
IV -  a obrigaçã o de manter serviço adequado.”

 O caso do setor postal (ADPF 46)


o Cabe à UF manter
o Lei 6.538/78 alude à monopó lio

Serviço postal

 Constituiçã o Federal
Art. 21 – Compete à Uniã o:
(...)
X – manter o serviço postal e o correio aéreo nacional

 Lei 6538/78
Art. 2º - O serviço postal e o serviço de telegrama sã o explorados pela Uniã o, através de empresa pú blica
vinculada ao Ministério das Comunicaçõ es.

Art. 9º - Sã o exploradas pela Uniã o, em regime de monopólio, as seguintes atividades postais:


I - recebimento, transporte e entrega, no territó rio nacional, e a expediçã o, para o exterior, de carta e cartã o-
postal;
II - recebimento, transporte e entrega, no territó rio nacional, e a expediçã o, para o exterior, de
correspondência agrupada:
III - fabricaçã o, emissã o de selos e de outras fó rmulas de franqueamento postal.

Atividade econômica e participação do Estado

 Art. 170, CF
“A ordem econô mica, fundada na valorizaçã o do trabalho humano e na livre iniciativa...”.

 Art. 173, caput, CF


“Ressalvados os casos previstos nesta Constituiçã o, a exploraçã o direta da atividade econô mica pelo Estado
só será permitida quando necessá ria aos imperativos da segurança nacional ou a relevante interesse
coletivo, conforme definidos em lei

 Art. 175, CF
“Incumbe ao Poder Pú blico, na forma da lei, diretamente ou sob regime de concessã o ou permissã o, sempre
através de licitaçã o, a prestaçã o de serviços pú blicos”.

 ADPF 46
ARGUIÇÃ O DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. EMPRESA PÚ BLICA DE CORREIOS E
TELEGRÁ FOS. PRIVILÉ GIO DE ENTREGA DE CORRESPONDÊ NCIAS. SERVIÇO POSTAL. CONTROVÉ RSIA
REFERENTE À LEI FEDERAL 6.538, DE 22 DE JUNHO DE 1978. ATO NORMATIVO QUE REGULA DIREITOS E
OBRIGAÇÕ ES CONCERNENTES AO SERVIÇO POSTAL. PREVISÃ O DE SANÇÕ ES NAS HIPÓ TESES DE
VIOLAÇÃ O DO PRIVILÉ GIO POSTAL. COMPATIBILIDADE COM O SISTEMA CONSTITUCIONAL VIGENTE.
ALEGAÇÃ O DE AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 1º, INCISO IV; 5º, INCISO XIII, 170, CAPUT, INCISO IV
E PARÁ GRAFO Ú NICO, E 173 DA CONSTITUIÇÃ O DO BRASIL. VIOLAÇÃ O DOS PRINCÍPIOS DA LIVRE
CONCORRÊ NCIA E LIVRE INICIATIVA. NÃ O-CARACTERIZAÇÃ O. ARGUIÇÃ O JULGADA IMPROCEDENTE.
INTERPRETAÇÃ O CONFORME À CONSTITUIÇÃ O CONFERIDA AO ARTIGO 42 DA LEI N. 6.538, QUE
ESTABELECE SANÇÃ O, SE CONFIGURADA A VIOLAÇÃ O DO PRIVILÉ GIO POSTAL DA UNIÃ O. APLICAÇÃ O À S
ATIVIDADES POSTAIS DESCRITAS NO ARTIGO 9º, DA LEI.
1. O serviço postal --- conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto
postal, de um remetente para endereço final e determinado --- nã o consubstancia atividade econô mica em
sentido estrito. Serviço postal é serviço pú blico.
2. A atividade econô mica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o serviço pú blico e a
atividade econô mica em sentido estrito. Monopó lio é de atividade econô mica em sentido estrito,
empreendida por agentes econô micos privados. A exclusividade da prestaçã o dos serviços pú blicos é
expressã o de uma situaçã o de privilégio. Monopó lio e privilégio sã o distintos entre si; nã o se os deve
confundir no â mbito da linguagem jurídica, qual ocorre no vocabulá rio vulgar.
3. A Constituiçã o do Brasil confere à Uniã o, em cará ter exclusivo, a exploraçã o do serviço postal e o correio
aéreo nacional [artigo 20, inciso X].
4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, empresa pú blica,
entidade da Administraçã o Indireta da Uniã o, criada pelo decreto-lei n. 509, de 10 de março de 1.969.
5. É imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestaçã o dos serviços pú blicos, do
regime de monopó lio sob o qual, algumas vezes, a exploraçã o de atividade econô mica em sentido estrito é
empreendida pelo Estado.
6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na prestaçã o dos
serviços que lhe incumbem em situaçã o de privilégio, o privilégio postal.
7. Os regimes jurídicos sob os quais em regra sã o prestados os serviços pú blicos importam em que essa
atividade seja desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da exclusividade.
8. Arguiçã o de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente por maioria. O Tribunal deu
interpretaçã o conforme à Constituiçã o ao artigo 42 da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicaçã o à s
atividades postais descritas
no artigo 9º desse ato normativo.
 Notícia STF (Quarta-feira, 05 de agosto de 2009):

STF mantém monopólio dos Correios para correspondências pessoais (atualizada)


Por seis votos a quatro, o Plená rio do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que a Lei 6.538/78, que
trata do monopó lio dos Correios, foi recepcionada e está de acordo com a Constituiçã o Federal. Com isso,
cartas pessoais e comerciais, cartõ es-postais, correspondências agrupadas (malotes) só poderã o ser
transportados e entregues pela empresa pú blica. Por outro lado, o Plená rio entendeu que as
transportadoras privadas nã o cometem crime ao entregar outros tipos de correspondências e encomendas.
A decisã o foi tomada no julgamento da Arguiçã o de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 46,
na qual a Associaçã o Brasileira das Empresas de Distribuiçã o reclamava o direito de as transportadoras
privadas fazerem entregas de encomendas, como já acontece na prá tica. O objeto da ADPF era a Lei
6.538/78, principalmente o seu artigo 42, que caracteriza como crime “coletar, transportar, transmitir ou
distribuir, sem observâ ncia das condiçõ es legais, objetos de qualquer natureza sujeitos ao monopó lio da
Uniã o, ainda que pagas as tarifas postais ou de telegramas”. A puniçã o prevista no artigo é de até dois meses
de detençã o ou o pagamento de multa.
No entendimento dos ministros, essa tipificaçã o de crime só deve acontecer caso o objeto transportado seja
de distribuiçã o exclusiva dos Correios, como previsto no artigo 9º da lei impugnada. Esse artigo restringe ao
monopó lio da empresa pú blica o recebimento, transporte e entrega, no territó rio nacional, e a expediçã o,
para o exterior, de carta, cartã o-postal e de correspondência agrupada, além da fabricaçã o, emissã o de selos
e de outras fó rmulas de franqueamento postal.

Conceito de carta
Na definiçã o de carta, estã o incluídas as correspondências, com ou sem envoltó rio, sob a forma de
comunicaçã o escrita, de natureza administrativa, social, comercial, ou qualquer outra, que contenha
informaçã o de interesse específico do destinatá rio (art. 47 da Lei 6.538/78).
A corrente que prevaleceu na votaçã o ocorrida no Plená rio do Supremo foi sustentada pelos ministros Eros
Grau (que redigirá o acó rdã o), Ellen Gracie, Cá rmen Lú cia, Joaquim Barbosa, Cezar Peluso e Carlos Ayres
Britto. Os que haviam votado pela quebra do monopó lio dos Correios em encomendas, mas também em
cartas comerciais, foram os ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Já o relator,
ministro Marco Aurélio, votou pela completa quebra do monopó lio dos Correios.
Um destaque entre a votaçã o iniciada na segunda-feira e a terminada hoje foi o esclarecimento da posiçã o
do ministro Carlos Ayres Britto. Ele reiterou seu voto dizendo que seu conceito de carta “nã o é
reducionista”, pois abrange as correspondências comerciais, por exemplo. Para ele, está excluída do
conceito de serviço postal a entrega de impressos (perió dicos, por exemplo) e de encomendas e, portanto,
esses itens ficariam fora do privilégio dos Correios. Contudo, ele reconheceu estar mais alinhado à corrente
que votou pela improcedência do pedido da ADPF porque acredita “no Estado como carteiro entre o
emissor e o destinatá rio da mensagem”.
Questionado por jornalistas, ao final do julgamento, o ministro Gilmar Mendes, presidente da Corte, disse
que talõ es de cheque, cartõ es de crédito, por exemplo, podem ser considerados encomenda. “A rigor, o
conceito de encomenda é compartilhado. É competência compartilhada”, afirmou o presidente.

Classificação dos serviços públicos

 Uti singuli e uti universi


 Serviços pú blicos econô micos e serviços pú blicos assistenciais (sociais e culturais)
 Serviços pú blicos titularizados e nã o-titularizados exclusivamente pelo Estado

Remuneração

 Taxa: serviços obrigató rios específicos e divisíveis – Art. 145, II, CF/88
 Tarifa: serviços facultativos ou concedidos específicos e divisíveis

Súmulas STF

 Súmula Vinculante n. 19
A TAXA COBRADA EXCLUSIVAMENTE EM RAZÃ O DOS SERVIÇOS PÚ BLICOS DE COLETA, REMOÇÃ O E
TRATAMENTO OU DESTINAÇÃ O DE LIXO OU RESÍDUOS PROVENIENTES DE IMÓ VEIS, NÃ O VIOLA O ARTIGO
145, II, DA CONSTITUIÇÃ O FEDERAL.

 Súmula n. 670
O SERVIÇO DE ILUMINAÇÃ O PÚ BLICA NÃ O PODE SER REMUNERADO MEDIANTE TAXA

Formas de execução

 Direta
 Por outorga legal/descentralizaçã o (a outro ente estatal da mesma unidade federativa)
 Por outorga contratual (concessõ es e permissõ es)
 Por contrato de gestã o, termo de parceria ou outra espécie de acordo, com entidades sem fins
lucrativos (terceiro setor)
 Por convênio de delegaçã o com outro ente federativo – Lei 9277/96
 Por consó rcio pú blico

Concessão de serviço público

 Art. 175, CF
 Disciplina por lei
 Licitaçã o
 Ver Lei 8987/95
 Tarifa
 Equilíbrio econô mico-financeiro
Espécies de concessão

 Comum
o Pode ser precedida da execuçã o de obra pú blica
 PPP
o Patrocinada
o Administrativa (serviços prestados à Administraçã o)

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