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FACULDADE FRASSINETTI DO RECIFE

ESPECIALIZAÇÃO EM LITERATURA BRASILIERA


DISCISPLINA: TEORIAS DA LEITURA
DOCENTE: MARIA LÚCIA RIBEIRO DE OLIVEIRA
DISCENTE: CLEIDE ALVES QUEIROZ FREIRES

RESENHA CRÍTICA
GERALDI, J.W. Prática de Leitura na escola. (1984). In O texto na Sala de Aula.
Leitura e Produção. São Paulo: Ática, 1997.

O artigo Prática de Leitura na escola de João Wanderley Geraldi compõe o livro


O texto na sala de aula: leitura e produção, essa obra reúne textos teóricos de diversos
autores preocupados com o ensino da língua materna. No artigo em questão, publicado
pela primeira vez na revista Leitura: teoria e prática no ano de 1984, Geraldi apresenta
a linguagem como forma de interação, além de propor uma reflexão sobre as relações
entre identidade linguística e tradição cultural, variedade linguística e variedade
“padrão” de uma língua, modalidade escrita e modalidade falada, tradição
gramatical em contraste com a língua em uso, indicando possibilidades concretas para o
ensino-aprendizagem de língua materna.
O artigo é dividido em seis partes, na Introdução o autor, reafirmando trabalhos
anteriores, inicia a discussão sobre o ensino da língua portuguesa. Ele defende que o
ensino de língua deve estar atrelado à práticas de leitura de texto, produção textual e
análise linguística de modo que consiga transpor a artificialidade dos limites impostos
na sala de aula referente à utilização da linguagem, possibilitando o domínio da língua
padrão nas modalidades oral e escrita.
Na segunda parte, A prática da leitura, Geraldi conceitua a leitura como a
interlocução entre leitor e autor sendo mediado pelo texto, uma vez que o leitor
reconstrói o texto com sua leitura, dando a ele um significado a partir de leituras e
experiências anteriores. Ao colocar o leitor como produtor do saber, Geraldi defende o
texto como obra aberta e menciona que esse pode ter leituras possíveis, que para ele
estão associadas a maturidade do leitor.
Nesse sentido, Geraldi vê a leitura como uma complexa atividade sociocognitiva
de produção de sentidos, que se realiza mediante textos, assim como Marcuschi no livro
Produção textual, análise de gêneros e compreensão (2008) e com Irandé Antunes no
livro Aula de português: encontro e interação (2003) para quem a leitura é como “uma
atividade de interação entre sujeitos e supõe muito mais que a simples decodificação de
sinais gráficos. O leitor, como um dos sujeitos da interação, atua participativamente,
buscando recuperar, buscando interpretar...” (p. 67, grifos da autora). Assume-se, nesta
postura, a importância do papel do leitor no processo de leitura, que é, também, sujeito
da interação e da produção de sentidos; uma espécie de coautor.

Em A leitura – busca de informações, terceira parte do artigo, autor apresente os


o níveis de profundidade que podem ser perseguidos na busca por informações de um
texto, para ele existem basicamente dois níveis: superficial e profundo. Ainda afirma
que essa busca de informações não precisa ser exatamente aquela retirada de jornais,
revistas ou livros, mas também de um texto literário, pois através dele, pode-se fazer
uma relação de tempo, ambiente e de como as pessoas eram e agiam em outras
épocas.

Também salienta em A leitura – estudo do texto, quarta parte do artigo, que a


leitura como estudo do texto, em geral, é mais praticada em outras disciplinas do que
em Língua Portuguesa. Para ele o estudo de um texto deve contemplar informações
básicas como a tese defendida no texto, os argumentos apresentados em favor da tese
defendida, os contra-argumentos levantados em teses contrárias e a coerência entre tese
e argumento. Esses elementos, para Geraldi, são essenciais para o estudo de um texto,
apesar de não esgotarem todas as informações e conhecimentos que esse texto pode
fornecer.
Em A leitura do texto-pretexto, quinta parte do artigo, o autor menciona que
muitas vez a leitura de um texto nas aula de língua serve apenas como um pretexto para
a produção de outros textos . Para ilustrar seu pensamento de que essas leituras tornam-
se pretextos que definem a interlocução entre o leitor, o autor cita exemplos de ações
que julga corriqueiras como a dramatização de narrativas, transformação de poemas em
coro falado e a ilustração de histórias são.
Na sexta e última parte do artigo, Leitura-fruição de texto, Geraldi mostra-se
favorável a ideia do ato ler por ler, que não tenha interesse pelo controle de resultado, o
que, segundo ele, muitas vezes não acontece na escola, visto que os professores
vinculam o “ler” a uma ficha de leitura, realização de uma avaliação com objetivo de
interpretação. Geraldi ainda afirma que esse prazer deve ser devolvido à escola e, além
disso, é necessário que o leitor resgate os princípios básicos de leitura: seu percurso
como leitor, a escolha do livro que irá ler e a quantidade de livros lidos. Essa quantidade
pode transformar-se em qualidade e o aprofundamento do leitor em seu livro dependerá
dos conhecimentos anteriores.
O texto de Geraldi, é bastante atual e se insere nos trabalhos que apresentaram
grandes contribuições para o ensino de língua materna. Apesar de ter sido escrito a mais
de 30 anos, nos põe em confronto com situações que ainda vivenciamos e identificamos
em observações de aula de professores de Português em que o estudante não é visto
como sujeito construtor do saber, logo construtor de conhecimentos do texto. Mesmo
textos como o de Geraldi circularem no meio acadêmico desde os anos 80 do século
passado, verificamos que na prática de sala de aula ainda é preciso caminharmos muito.

Esse “atraso” que vivenciamos hoje nas escolas no que tange ao ensino de língua,
deve-se muito a compreensão de leitura, por muito tempo foi rondou as salas de aula: a
leitura compreendida como atividade de decodificação de sentidos. Segundo esta
concepção, cabe ao leitor, na posição de decodificador, extrair do texto os significados
que nele estão entranhados. Este pensamento é norteado pela noção instrumentista de
língua, advinda da teoria da comunicação, que pensa o sistema de comunicação entre
sujeitos da seguinte maneira: emissor mensagem  receptor. Quer dizer: o produtor do
texto é, na verdade, o emissor de um significado, que se encontra codificado na
mensagem, sendo o receptor, consequentemente, aquele que irá extrair este significado.
Não há espaço, aqui, para a atividade do sujeito-leitor na construção de sentidos; o
sentido é visto como uma propriedade estritamente textual.
Assim, concordamos com Geraldi que é preciso que o trabalho com a leitura, em
sala de aula, dê voz ao aluno; ceda espaço para que se posicione, na construção de
sentidos,colocando-os em debate. Não queremos dizer, com isso, que o trabalho com a
leitura deve permitir todo tipo de interpretação: este trabalho deve ouvir o aluno, seu
posicionamento com relação ao texto e, com isso, construir e reconstruir as caminhadas
interpretativas desse aluno. Em outras palavras: não significa corrigir sua leitura, mas
disso partir para se discutir os sentidos que o texto permite orientar,oferecendo “às
contra-palavras do aluno, em sua atividade responsiva, a atenção que a palavra [do
texto] merece.” Como menciona Geraldi no seu famoso livro Portos de passagem
(2003, p. 113).

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