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EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 14ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE BELO HORIZONTE/MG.

Autos n°: 6013223-81.2015.8.13.0024

YASSMIN ABDUL MALEK VARELLA, já devidamente qualificada nos presentes autos apresentar
o presente

MEMORIAL

Nos autos em que contende com a REDE RECORD - Jornal R7 NOTICIAS, pelos fatos e
fundamentos jurídicos à seguir expostos:

Atendo-se aos autos em questão, verifica-se que a parte autora instaurou o


presente procedimento visando à retirada de imagem veiculada no site mantido pela Ré sem a
sua anuência, bem como a reparação subjacente ao dano perpetrado em seu desfavor.

Naquela ocasião, a parte autora destacou que tal conteúdo, além de veiculado
sem a sua autorização, foi publicado desassociando a imagem da Autora de sua verdadeira
identidade, considerando que atribui à pessoa identificada na respectiva fotografia o nome de
“Aida”, conforme pormenorizadamente salientado na petição inicial.
Com efeito, denota-se que a parte adversa houve por apresentar a sua
respectiva Contestação, oportunidade na qual trouxe deduziu as matérias de defesa que
reputou cabíveis. Ali, a parte ré arvorou-se no argumento absurdo de que sua conduta não
haveria acarretado qualquer tipo de dano sobre a imagem da parte autora, na medida em
que a Demandada nada mais teria feito senão a reprodução de outros conteúdos de igual
teor que já se encontravam em circulação na internet.

Em outras palavras, a Ré confessa na Contestação que nada mais fez do que


replicar a fotografia que se encontrava disponível em diversas páginas da internet, uma vez
que acabou se tornando pública em diversos sites estrangeiros.

Entretanto, não obstante ao que restou destacado em sede de Contestação,


cumpre salientar que a tese ali defendida acabou por agravar a situação jurídica da parte ré, ao
reverso do que quer fazer crer a Demandada. Isto porque, além de a responsabilização da Ré
independer de configuração da conduta culposa (Responsabilidade Objetiva), tem-se que os
argumentos ali encaminhados não podem se prestar à descaracterização da conduta ilícita
praticada.

Não bastasse todo o noticiado na fase postulatória ocorrida nos presentes


autos, denota-se que a parte adversa houve por bem requerer o depoimento pessoal da
Autora, muito embora todas as provas produzidas nos autos já fossem suficientes para ensejar
o julgamento antecipado do pedido.

Nesta esteira, cumpre verificar que, a despeito das tentativas da parte adversa
de descaracterizar sua responsabilidade pela veiculação das imagens em seu site na internet, o
depoimento prestado pela Autora em sede de Audiência de Instrução e Julgamento acabou
por corroborar toda a tese veiculada pela Demandante.

Com efeito, cumpre frisar que foram questionados elementos tais como a
configuração de privacidade utilizada pela Autora em suas redes sociais, de modo que a parte
adversa visou, com isso, atribuir a terceiros a veiculação das imagens da demandante em
outros locais na internet.

Nesta oportunidade, verifica-se que a parte autora esclareceu que o acesso às


suas informações nas redes sociais estava limitado a amigos e familiares, de modo que fica
difícil presumir que tais fotos tenham sido veiculadas por pessoas que a não a própria Ré. Veja-
se:

“que quem poderia ter acessa a ela era somente familiares e amigos”
(sic).
Igualmente, não haveria que se atribuir à Autora a responsabilidade de difusão
de suas imagens, de modo que isso significaria culpar a própria vítima pelos atos de estrita
responsabilidade da Ré.

Entretato, cumpre sobrelevar que, ainda que restasse constatado algo em


sentido diverso, tem-se que isso não modificaria em nada o fato de que a Ré veiculou em seu
próprio site a imagens da Demandante. Não bastasse isso, verifica-se que tal exposição deu-se
de forma a associá-la a pessoa de nome “Aida”, o que, por si só, já seria capaz de ensejar uma
confusão de identidades sobremaneira prejudicial à sua profissão, vida pessoal, e diversos
trabalhos desenvolvidos como modelo fotográfica pela Autora, conforme comprovado em
sede exordial.

Assim, cumpre relembrar os trechos da matéria objeto da lide:

“IRÃ POSSUI ARMAS E BOMBAS, MAS NÃO TEM CANHOES”.

“Aida é o nome dela: tirou essa foto num piscinão que ela,
prudentemente, não revelou o local. Isso é praticamente atentado ao
pudor no Irã. Que atentado!”

Não obstante, percebe-se que tais dizeres se mostram evidentemente


inapropriados e desrespeitosos, gerando claríssimo constrangimento à Autora, conforme
constata em sede de Audiência de Instrução e Julgamento. Nesta oportunidade, tem-se que a
Autora relatou que terceiros teriam levado a matéria a seu conhecimento, em patente tom
de “deboche”, abalando, de modo inequívoco, sua imagem perante a sociedade.

Com efeito, ao trazer ao conhecimento do público brasileiro a utilização


indevida da imagem da Autora, a Ré acabou por protagonizar a disseminação e publicização de
tais eventos danosos justamente no local aonde isso acabaria por gerar maiores gravames à
reputação da Demandante, qual seja, em território nacional. Tanto isso é verdade que a
divulgação indevida de suas imagens somente veio a seu conhecimento e de terceiros, após
a veiculação pela parte Ré, conforme constante em seu depoimento:

“Que não tinha conhecimento que a imagem estava compartilhada


em outros sites; que não sabe se alguém poderia ter compartilhado a
imagem em outros sites;[...] que naquela época ninguém falou que a
foto poderia ser acessada em outros sites, digitando no google” (sic)

Corroborando que, a despeito da existência de outras veiculações, que a


publicação pela Ré foi preponderante para que fossem ocasionados danos à imagem da
autora:
“que as pessoas informaram a ela que as fotos dela estavam
veiculadas no site da R7” (sic)

Em razão do acima externado, cumpre sopesar que o Direito à Liberdade da


manifestação do pensamento e de comunicação, previsto no art. 220, caput, da Constituição
Federal, deve ser exercitado com responsabilidade, com a consequente punição de eventuais
excessos, a fim de não serem violadas a honra e a imagem de qualquer pessoa, como
aconteceu com a Autora, que teve violada sua dignidade, sua honra e sua imagem. Em razão
disso, deve-se coibir o abuso e eventuais desvios praticados com o intuito não de informar,
mas de ofender e difamar, preservando-se, enfim, os Direitos Fundamentais à honra e à
dignidade da pessoa humana, art. 5º, incisos V e X, da CF/88.

Destarte, há de se concluir pela inequívoca ocorrência de conduta ilegal


praticada por parte da Ré, capaz de gerar a responsabilização pelos danos morais sofridos pela
Autora, consoante amplamente noticiado alhures.

Destarte, ainda que se possa concluir pela patente desnecessidade de


demonstração de conduta praticada sob a égide de negligência, imprudência ou imperícia, por
parte da Contesta, eis que encontramo-nos frente a caso de inequívoca Responsabilidade
Objetiva, tem-se que a conduta culposa incorrida pela parte adversa deverá servir, inclusive,
de elementos para majoração do quantum indenizatório a ser arbitrado nos presentes autos.

Por fim, requer seja julgado procedente o pedido inicial, nos termos do art.
487, inciso I, do Código de Processo Civil.

Por fim, requer que todas as publicações referentes a este feito sejam feitas
em nome de LUCAS DIAS COSTA DRUMMOND e LUZIA CECÍLIA COSTA MIRANDA, sob pena
de nulidade.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Belo Horizonte, 17 de April de 2020.

LUZIA CECÍLIA COSTA MIRANDA


OAB/MG: 38.552

LUCAS DIAS COSTA DRUMMOND


OAB/MG: 135.492

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