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O SERTÃO MÍTICO
Se na obra de Graciliano Ramos o sertanejo ganha aspectos sociais e psicológicos,
outro importante escritor dará ainda novos contornos e nuances para esse personagem.
Guimarães Rosa transforma o sertão no mundo todo. Segundo João Teixeira, “o sertão de
Rosa não é apenas um registro geográfico e social, mas um espaço de confronto entre temas e
forças arquetípicas. Terreno de intensa experimentação linguística na prosa do escritor. É
praticamente um espaço à parte”.
Nesse outro universo, o sertanejo também se torna outro. Além das causas sociais,
das intempéries do sertão, o campo psicológico sobressalta nos enredos. Dentro de um novo
contexto histórico, em que o campo começava a se modernizar e a figura real do sertanejo
perdia espaço, Guimarães criou um dos mais importantes personagens da história da literatura
brasileira. Riobaldo, de Grande Sertão: Veredas, é porta voz desse Brasil que está definhando
– um jagunço sem função, buscando seu espaço, cheio de conflitos internos e universais.
A figura do caipira representado nas artes plásticas por Almeida Júnior
Ilustração criada por Aldemir Martins para o livro Vidas Secas de Graciliano
Ramos
Os dramas apresentados no livro são de Riobaldo, um sertanejo, mas podem ser
comuns a qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo. “Nesse romance o autor faz uma
espécie de resumo da história do romance na literatura, com referências que vão desde os
romances de cavalaria medievais até o mito fáustico. São quase 600 páginas de uma única
longa fala desse personagem, que nos conta pessoalmente a sua história”, relata Teixeira.
A VOZ FEMININA DO SERTÃO
Se durante décadas a voz sertaneja na literatura era masculina, tanto nos personagens
quanto nos escritores, uma grande protagonista surge para reverter esse quadro. E Macabéa, a
heroína em questão, nasceu das mãos de uma das mais importantes escritoras do Brasil. Em A
Hora da Estrela, Clarice Lispector fala da nordestina, que sai de seu local de origem e tenta
uma nova vida na cidade grande, onde é marginalizada por todos que estão à sua volta, até os
mais próximos.
E aqui, fica explícita a violência (física e social) sofrida por esse tipo de personagem,
talvez a mais contundente vivida pelos sertanejos da literatura. E a obra de Clarice apresenta
um dado que dialoga com toda a tradição de personagens sertanejos que vieram antes de
Macabéa: “quem relata a vida de Macabéa é outro personagem, Rodrigo S.M., um autor que
está escrevendo a história, e que nos relata as suas dificuldades, como homem de classe
média, em escrever esse relato. Dessa maneira Clarice problematiza de vez a questão do
intelectual que escreve à distância, e que não tem nenhuma relação nem familiaridade com o
universo nem as condições de vida de um personagem como esse”, relata o pesquisador.
Com esse histórico, o personagem sertanejo na literatura serve de porta voz para um
Brasil distante de muitos, mas muito latente para uma grande parte de nossa população. Ele é
um retrato ficcional, por vezes mítico, mas muito revelador das entranhas do país.
“Mais do que um retrato fiel sobre a vida do homem rural brasileiro, esses
personagens transmitem a visão que os escritores tinham sobre esse homem, assim como a
valoração que a literatura, e de certa maneira o país, tinha sobre a vida no campo”, finaliza
João Teixeira.
Autores renomados que retrataram o sertão em suas obras (Clarice Lispector,
Guimarães Rosa, José de Alencar e Monteiro Lobato)
Artigo publicado no blog da Editora Saraiva.
Disponível em https://blog.saraiva.com.br/a-forca-do-sertanejo-nas-paginas-literarias/. Acesso em 09
de março de 2020.
- Para reduzir informações, há quatro regras básicas que devem ser usadas de acordo como objetivo do autor do
resumo e a composição do texto-fonte.
* supressão de informações;
* generalização;
* identificação dos tópicos (ideias principais);
* combinação de tópicos.
No espaço abaixo, registre tópicos com informações que você usará em sua redação.
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HORA DE PRODUZIR
O desafio é iniciar sua redação com uma ALUSÃO À LITERATURA, ou seja, utilizaremos
uma obra literária para contextualizar a sua introdução. Que seguirá a seguinte ordem:
As informações para usar na Alusão podem ser retiradas do texto abaixo, lembre-se de usar a
estrutura do resumo e não copiá-las:
Disponível em - https://guiadoestudante.abril.com.br/estudo/urupes-resumo-e-
analise-da-obra-de-monteiro-lobato/. Acesso em 01 de abril de 2020.
Tipo indolente, preguiçoso, ignorante, o Jeca Tatu é, ao lado das criações do Sítio do
Picapau Amarelo, uma das personagens mais marcantes da obra do paulista Monteiro Lobato.
O que poucos sabem é que o próprio escritor revisou sua criação, motivado por uma postura
que sempre o marcou: a de aprender mais sobre um assunto a ponto de mudar seu ponto de
vista.
Ao lado dos menos ilustres Manuel Peroba e Chico Marimbondo, o Jeca Tatu veio a
público pela primeira vez em um artigo publicado no jornal O Estado de S.Paulo em 1914.
Nesse texto, intitulado “Uma velha praga”, Lobato relata a rotina do caboclo, “uma espécie de
homem baldio, seminômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra
das zonas fronteiriças”.
O texto fez sucesso. Ainda naquele ano, o escritor voltaria ao tema nas páginas do
jornal com “Urupês”, que, juntamente com “Uma velha praga”, seria incluído e daria nome ao
seu primeiro livro de contos, lançado em 1918. Ambos os artigos fazem uma crítica à inépcia
do trabalhador rural brasileiro, impregnado de costumes antigos e ineficazes, mas, além disso,
evidenciam o ponto de vista de um homem que tem origem no campo.
Nascido em uma fazenda em Taubaté, no interior de São Paulo, em 1882, Monteiro
Lobato observou figuras humanas como ex-escravos, agregados e caboclos que, mais tarde,
figurariam em seu trabalho. Esses tipos seriam fundamentais não apenas na composição de
sua obra mais conhecida, a série de livros do Sítio do Picapau Amarelo, como também em sua
produção adulta.
“O Lobato é um homem de cabeça aberta que, para entender as coisas,
primeiramente olha. Depois, ele vai buscar nos livros, no saber acumulado da humanidade,
elementos para entender aquilo”, explica Carmen Lucia de Azevedo, estudiosa da obra do
escritor e autora, juntamente com Marcia Camargos e Vladimir Sacchetta, da biografia
Monteiro Lobato: furacão na Botocúndia (Editora Senac, 2001).
Quando publicou “Velha Praga”, o que predominava era a visão de um proprietário
rural que herdou do avô a Fazenda São José do Buquira, onde tentou implantar métodos
modernos de produção, mas se viu limitado principalmente por problemas atribuídos por ele à
qualidade da mão de obra. A fazenda ficava no município de Buquira, hoje em sua
homenagem denominado Monteiro Lobato.
A professora Carmen conta que ele conhecia o campo pelo ângulo da classe
proprietária. Ele decide tocar a fazenda e, ao se tornar produtor rural, depara com os
problemas do campo. Mas não era somente a velha praga do caboclo vista pelo viés patronal
de Lobato que aparecia em “Urupês”.
Jeca inocentado
Responsável pela apresentação da edição dos contos completos do autor publicados
pela Globo Livros em 2016, a professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro Beatriz
Resende ressalta a ligação mais ampla do escritor com o homem do campo. “Nos contos, o
Lobato faz uma apresentação do homem do campo, do trabalhador e do ex-escravo como uma
representação da pobreza e o mais representativo é o ex-escravo”, diz, referindo-se ao
contexto então recente do fim da escravidão, que gerou problemas sociais que ainda perduram
no Brasil.
Beatriz conta que, depois do lançamento do livro, o escritor iniciou correspondência
com o colega carioca Lima Barreto. Motivado pela leitura, o autor de Triste fim de Policarpo
Quaresma escreveu também um artigo, “Problema vital”, em que, de certo modo,
“inocentava” o Jeca, citando estudos dos cientistas Artur Neiva e Belizário Pena. Para Lima
Barreto, o grande responsável pelos problemas do campo não era o homem que vivia e
dependia da terra, mas sim a estrutura maior que o englobava, a fazenda. “Monteiro Lobato
era uma pessoa que estava sempre se reinventando, se questionando e mudando. Ele tinha
coragem de rever seus erros e mudar de opinião, então ele entra em contato com as pesquisas
do Artur Neiva e do Belizário Pena sobre saúde pública e chega à conclusão de que o Jeca não
era indolente, ele era vítima da fome, da miséria, da falta de saúde, da falta de infraestrutura
do Brasil daquele tempo, em que o homem do campo vivia no abandono total e absoluto
infestado de vermes e sem qualquer assistência de saúde e sem acesso a nada.”
O escritor percebeu que o Jeca Tatu, antes de ser o responsável pela degradação da
terra e pela estagnação no campo, era uma vítima. O olhar inicial do fazendeiro torna-se então
um olhar de compaixão.
Na apresentação dos contos, Beatriz Resende ressalta que todas as quatro coletâneas
do autor foram escritas e publicadas durante a República Velha e que Lobato cria suas
“provocantes narrativas” longe do “Rio-cartão-postal” e sem se deixar levar pelas “ilusões dos
paulistas da Semana Moderna, da Pauliceia Desvairada”.
Esse Brasil da Primeira República é um país profundamente agrário, onde o povo é
excluído das decisões e onde o “campo servia às oligarquias como fonte de extração de
riqueza distribuída em desigualdade extrema”. É sobre essa sociedade agrária excluída que
Lobato vai lançar seu olhar.
A pobreza, o atraso e a desigualdade do homem do campo serão revelados nas
narrativas. Na quarta edição de Urupês, o autor faz um prefácio em que pede desculpas ao
Jeca.
“Dizia que ele era papudo, feio, molenga e inerte, mas ainda era a melhor coisa desta
terra”, escreve a professora Carmen em sua tese de doutorado. Nesse texto, o escritor critica a
excessiva influência estrangeira, sobretudo francesa, na cultura brasileira e ressitua a
personagem em sua obra. “Os outros, que falam francês, dançam o tango, fumam havanas e,
senhores de tudo, te mantêm nessa geena infernal para que possa a seu salvo viver vida
folgada à custa do teu dolorido trabalho, esses, meu caro Jeca Tatu, esses têm na alma todas
as verminoses que tu tens no corpo.”
Em 1920, o autor publica A menina do narizinho arrebitado, primeiro livro em que
aparecem as personagens do Sítio do Picapau Amarelo. A exemplo de Urupês, a obra, voltada
ao público infantil, faz enorme sucesso.
Nessa época, Lobato trabalhava como editor e teve a ideia de lançar, em um álbum
ilustrado, uma versão do Jeca Tatu para crianças. Assim, em 1924, nasceu o Jeca Tatuzinho,
que, segundo a professora Carmen, “transmitia aos cidadãos do futuro as necessárias noções
de higiene e saneamento”.
No final da década de 1920, o escritor passa a viver nos Estados Unidos, onde atua
como adido comercial e observa a infraestrutura americana. De volta em 1931, “Lobato passa
a enxergar no transporte, ferro e petróleo o tripé de sustentação do crescimento econômico
brasileiro”, escreve Marcia Camargos em um artigo. Foi a partir daí que tentou convencer o
governo a implantar uma indústria siderúrgica, tentativa malograda, e engajou-se numa
campanha pelo petróleo. Captou recursos privados, atraiu pequenos investidores e fundou
companhias exploratórias, mas a força dos trustes internacionais no setor inviabilizou o
esforço.
Durante o Estado Novo, Monteiro Lobato foi preso e seus livros apreendidos por
conterem “doutrinas perigosas e práticas deformadoras do caráter”. Com o fim do regime, o
escritor voltou à cena, recebendo um convite para ingressar no Partido Comunista, do qual
declinou. Quando o partido foi cassado, Lobato solidarizou-se, vendo no ato uma ameaça à
Constituição.
Foi nesse contexto que surgiu sua última personagem dedicada ao homem do campo.
O Zé Brasil aparece em 1947 em um folheto de 24 páginas, fruto de um momento em que o
escritor passou a “ver o trabalhador da cidade e do campo não mais como um ser passivo, e
sim como agente da própria história. Aquele Jeca Tatu modorrento do início, que depois
passara a vítima das endemias crônicas, agora surgia como um trabalhador sem terra, cujo
inimigo maior chamava-se ‘latifúndio’”, diz Marcia Camargos. O escritor morreria no ano
seguinte, com uma obra consagrada. Suas personagens, desde aquelas abordadas em seus
primeiros livros, passando pelo Jeca, até chegar ao Zé Brasil, sua última visão do trabalhador
rural, ainda encontram correspondência na realidade brasileira atual.
“Se você for para o chamado Brasil profundo ou para áreas distantes, você vai ver
figuras escravizadas não só no campo, mas mesmo na cidade, a questão da prostituição
feminina, das mulheres compradas, negociadas, que ainda acontece no norte do país e, mesmo
no campo, o trabalho escravo, que não foi completamente erradicado. Muitas questões que ele
trata perduram”, conclui a professora Beatriz Resende.
Disponível em https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Cultura/noticia/2017/09/duas-faces-de-
jeca-tatu-o-anti-heroi-rural.html. Acesso em 01 de abril de 2020.
ENTENDENDO O TEMA:
Disponível em https://www.dicio.com.br/estereotipo/
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Relate dois motivos que possam ter contribuído para enraizar esses adjetivos à figura
do caipira (lembre-se de que essa informação será usada como Arg1 e Arg2):
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