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[Aulas Práticas]









Direito Comercial
!

APONTAMENTOS
1.º Semestre

Prof. Doutor Paulo de Tarso


Vera Azevedo
2018/2019





Faculdade de Direito da Universidade do Porto


Aula Prática: 18.10.2018
Dicas: ver exames anteriores. Matérias importantes: atos de comércio, comerciantes

Dúvidas:

As sociedades podem ser sociedades civis (são as sociedades que estão reguladas e previstas
no Código Civil, art.980.º ss.), isto é, (1) tem de preencher os requisitos do art.980.º CC; (2) podem
ser sociedades comerciais que preenchem os requisitos do art.980.º do CC por serem sociedades, mas
que preenchem um requisito substancial, art.1.º/2 Código das Sociedades Comerciais; (3) Sociedades
civis em forma comercial (preenchem o requisito do art.980.º CC + requisito formal art.1.º/2 CSC).

4 tipos previstos de sociedades comerciais: SENC – sociedade em nome coletivo; SQ –


sociedade por quotas; SA – sociedade anónima; SC – sociedade em comandita

O que há mais é sociedade por quotas, que tem sempre de terminar por “Lda.”; e as sociedades
anónimas “S.A.”. 99% das sociedades comerciais são sociedade por quotas e sociedades anónimas e
dessas, 94% do mercado português é preenchido por sociedades por quotas, uma vez que são as
sociedades mais adequadas às micro e médias empresas.

Porque é que agentes económicos escolhem estes dois tipos de sociedades comerciais? Porque
são sociedades de capitais (sociedade em nome coletivo e sociedade comandita, mais sobre pessoas),
nas sociedades por quotas e sociedade anónimas, a verdade é que os sócios ficam limitados -
responsabilidade limitada - o máximo que arriscam é o que está dentro da sociedade.
A devedora principal é a sociedade, mas imaginemos que a sociedade não consegue pagar o
crédito, pode X exigir pagamento de 2.500 euros a cada um dos sócios? X tem crédito de 5.000 euros.
Cada um entregou 1.000 euros como sócio, o máximo que perdemos é o valor que damos na entrada.
Sócio responde perante credores, no máximo, no valor que deu à sociedade na sua entrada.
É diferente se for, por exemplo, sociedade em nome coletivo. Nas sociedades por pessoas, há
uma responsabilidade subsidiária, em que os credores podem cobrar dívidas aos sócios. Só na falta de
insuficiência, é que os sócios irão responder pelas dívidas da sociedade, isto porque o principal devedor
é a sociedade.

Já nas sociedades capitais, os sócios já têm uma responsabilidade limitada. Entrando para uma
sociedade de capitais, o máximo que perdem, o máximo que arriscam, é o valor que entregam à
sociedade (a menos que alguém preste uma garantia, mas isso já será diferente).
Mas isto não será injusto? São os terceiros que financiam a sociedade, que podem ficar sem o
valor de crédito que financiam.

Em termos estatísticos, temos cerca de 7 sociedades de comandita, e 60 e tal sociedades em nome


coletivo em Portugal. Podemos nos questionar – “porque não eliminar então estes tipos de sociedades
comerciais?” Nós não podemos criar, nos já só podemos escolher dentro de 4 possibilidades.
O que excede o valor da sociedade e o valor de entrada dos sócios, são os credores que respondem.

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Os principais beneficiários de uma sociedade são os sócios, então porque não são eles os que
principalmente arriscam no exercício de uma sociedade, há uma dessincronia entre o beneficio e o
risco que correm nessa sociedade.

Princípio da limitação da responsabilidade dos sócios nas sociedades de capitais, foi uma
conquista enorme que se chegou com o Estado civilizacional. A limitação da responsabilidade é que
criou o ambiente de desenvolvimento que hoje temos, porque cria o ambiente para o desenvolvimento
da atividade económica, é um bem inestimável a existência da limitação da responsabilidade.

Voltando aos requisitos necessários para que haja uma sociedade comercial:

A sociedade comercial não tem de praticar atos de comércio. Tem de se propor à prática de
atos comerciais. Propõe-se a exercer atos de comércio, porquê? Exploração de restaurante é um ato
objetivo de comércio porquê? Só podemos dizer que é uma sociedade quando preenche o requisito do
art.980.º CC, adotou a forma de sociedade por quotas, adotou o aditamento e terceiro requisito: se
propôs a praticar atos objetivamente de comércio (ato que não depende da qualidade do sujeito que o
pratica para ser considerado ato objetivo de comércio – art.2.º primeira parte do Código Comercial).

Os atos objetivamente de comércio, não são apenas só previstos no Código Comercial ou CSC;
os que estão previstos em leis avulsas (para saber o que é lei comercial avulsa - critério de Coutinho
de Abreu); e ainda por recurso analogia legis e iuris.

Ora, a exploração do restaurante, o dono do restaurante presta serviços, não oferece serviços
(porque não há preço previamente acordado, com temporizador convencionado), art.230.º/2 Código
Comercial. Se fornecesse serviços, analogia legis com n.º 2 do art.230.º Código Comercial. O que o
restaurante e café (hotelaria) fazem é prestar serviços casuisticamente, aí temos analogia legal de
art.230.º/2 Código Comercial? não! Temos é analogia iuris com o princípio: de que toda a
prestação de serviços (tem de ser feita no âmbito de uma empresa) é comercial. Logo esta
sociedade que se propõe a realizar atos objetivamente comerciais, propõe-se a prestar serviços que
segundo o princípio de direito comercial, por analogia iuris, é considerada uma atividade comercial.
São comerciantes: art.13.º/2 do Código Comercial – chegando a conclusão que é sociedade comercial.

Mas pode haver sociedades civis, estão previstas no código civil e não no regime do código de
sociedades comerciais - tem de preencher o art.980.º do Código Civil. Art.13.º/2 do Código Comercial:
as sociedades civis não são comerciantes! Não se aplica o CSC, não se aplica o regime comercial, mas
inteiramente o regime de direito civil.

Terceiro género: as sociedades civis em forma comercial – são aquelas sociedades, que para
serem sociedades tem de preencher os requisitos do art.980.º do Código Civil, mas apenas preenchem
o requisito formal do art.1.º/2 do Código das Sociedades Comerciais (adota uma das quatro formas
comerciais, mas não preenchem requisito). As sociedades civis, por exemplo, que tem forma de
sociedade por quotas, mas propõe-se a exercer uma atividade civil e não uma atividade comercial.
Exemplo clássico, as sociedades civis que se propõem a exercer a atividade agrícola, art.464.º e
art.230.º/2 do Código Comercial, aliás, é uma atividade excluída como atividade comercial.

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Art.1.º/4 do Código das Sociedades Comerciais: às sociedades civis em forma comercial,
aplica-se o regime do código civil. A questão é: estas sociedades civis em forma comercial são
comerciantes? Deve entender-se elemento literal que resulta do art.13.º/2 do Código Comercial: são
comerciantes, as sociedades comerciais! São apenas comerciantes as sociedades comerciais. Muito
embora, sejam de forma comercial, as sociedades civis de forma comercial, será feita aplicado o
Código das Sociedades Comerciais, mas não o regime comercial!

Aula Prática: 24.10.2018


Ver exames de anos anteriores. Podemos colocar dúvidas sobre exames nas aulas práticas.

CASOS PRÁTICOS
Diga, justificando, se os actos, negócios, obrigações ou actividades a seguir indicados devem ser
considerados como comerciais, e se os respectivos sujeitos devem ser tidos como comerciantes.

1) Artur, estudante da FDUP, comprou uma máquina de café. No primeiro dia do período
de provas orais, instalou uma "banca" num dos pisos do edifício, servindo aos seus colegas café
ao preço de €0,25. Após ter sido proibido pelo Conselho Directivo de exercer essa actividade
revendeu a máquina à Associação de Estudantes, que passou a utilizá-la para vender cafés na
sala de convívio.
Caso que sai nos exames. Qualificar sujeitos e qualificar atos.

Em muitos casos aparece uma empresa. A empresa não é sujeito de direitos. Um café não é
sujeito de direitos, nunca é um sujeito que tem de ser qualificado mas sim um objeto.

Quais os atos e sujeitos que têm de ser qualificados, não tem de ser todos, só alguns é que se
justifica. Neste caso: sujeitos – Artur e Associação de Estudantes e Conselho Pedagógico que
representa estudantes (pode ou não ser qualificado como comerciante?).

Quanto aos atos – “a compra da máquina de café”; “a venda de cafés”; “venda da máquina pelo
Artur”; “compra da máquina pela Associação de Estudantes”; “venda dos cafés pela AE”.

Sujeitos

Artur
Melhor forma de começar a resposta: sim ou não, consoante preenchimento dos requisitos do
art.13.º do Código Comercial.
1) ter capacidade (capacidade comercial – explicar o que é);
2) exercer e praticar reiteradamente e sistematicamente atos objetivos de comércio (exercer
profissionalmente – “fazem deste profissão”);
3) que sejam atos praticados em nome próprio e não em nome de terceiro.

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Em relação ao Artur: tem capacidade comercial? A capacidade comercial segundo o art.7.º do
Código Comercial, é equiparada a capacidade civil. Questão, que capacidade civil? Capacidade de
exercício ou capacidade de gozo? Ferrer Correia diz que é capacidade de gozo e Lobo Xavier defende
a capacidade de exercício (atenção, não devemos perder tempo nisto, comentamos apenas que houve
uma controvérsia/debate sobre a questão, a menos que fosse o foque central da questão, por exemplo,
era menor ou inabilitado) – ele tem capacidade; ele praticou os atos em nome próprio; resta, saber se
pratica sistemática e reiteradamente atos de comércio, se exerce profissionalmente o comércio (prática
reiterada e sistemática de atos objetivos de comércio – com isto, quer se é afastar a prática esporádica
e ocasional; o exercício de comércio até pode ser uma prática interpolada, não tem de ser contínua,
nem tem de ser a sua principal profissão). Os atos que o Artur pratica naquele determinado período,
por exemplo, tal como o dono do bar da praia, pratica reiteradamente e não esporadicamente.

Ele não presta serviço. Fixa casuisticamente, ele presta um serviço, não fornece um serviço.
Fornecimento de serviços é um ato objetivamente de comércio, art.230.º/2 do Código Comercial. Se
fosse fornecimento de géneros que é objetivamente comercial, o que poderia aqui estar em causa era
um fornecimento e de serviços que não cabe no artigo.
Mas por analogia (se eu fornecer serviços, é diferente de prestar serviços). O risco da variação
do preço corre por conta do fornecedor, fornecimento de géneros – que é uma atividade comercial
art.230.º/2. Quando há um preço previamente convencionado durante x tempo, ele está a fornecer um
serviço, que é uma atividade comercial por analogia legis do art.230.º/2, por analogia de uma norma.
O que o Artur está a fazer não é fornecer, o que ele está a fazer é que presta serviços “fixa o
preço em cada caso”. Não há um risco, como quando há fixação prévia de um preço. É asneira dizer
que a prestação de serviços é comercial por analogia legis ao fornecimento de serviços.
A prestação de serviços é comercial por analogia iuris ao princípio de que “toda a
prestação de serviços num âmbito de uma empresa é comercial” (essas empresas são comerciais
e os atos por elas praticados são comerciais por analogia iuris).

Artur presta um serviço, mas não o faz num âmbito de uma empresa, logo, significa que o Artur
não pode ser considerado comerciante.

Associação de Estudantes
É uma pessoa coletiva. Será considerada comerciante? Art.13.º/2 do Código Comercial que
regula a qualificação das pessoas coletivas que devem ser consideradas comerciantes “são
comerciantes as sociedades comerciais”, ora, as associações não são comerciantes. Apesar da lei dizer
que são comerciantes as sociedades comerciais, há outras pessoas coletivas que poderão ser
consideradas comerciantes. Art.230.º/7 do Código Comercial - por exemplo, empresas públicas ou
IPSS. Por analogia, (questão de justiça), há outras pessoas coletivas, por analogia às sociedades
comerciais e atividades por elas exercidas que devem ser consideradas comerciantes.

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Art.14.º/1 Código Comercial é proibida a profissão de comércio a associações que não tenham
por interesse/objeto materiais. Exemplo, tirar fotocópias, não é ato de comércio, mas já será comércio
se for no âmbito de uma empresa, uma vez, que é uma prestação de serviço.

Atividade acessória – prestar cafés. A associação não visa explorar a título principal um bar,
por exemplo. O seu interesse é defender os interesses dos estudantes. Se passar a título principal, os
bares, passar a exercer atividade de cariz económico a prossecução por parte da associação interesses
materiais, atividades comerciais. Não é comerciante, porque as pessoas coletivas estão limitadas pelo
artigo, segundo o princípio da especialidade, e o fim da associação de estudantes é defender os
interesses dos estudantes. São atos nulos porque violam o art.160.º do Código Civil. Art.294.º CC os
atos que violem a lei são nulos. A associação ainda que se desviando do seu fim, nunca seria
comerciante, nunca adquirirá a qualidade de comerciante. Resposta será sempre negativa.

Faculdade/Conselho Pedagógico
Faz parte da administração pública em sentido amplo. Há uma norma que é o art.17.º do Código
Comercial que vem dizer que o estado em sentido amplo, as pessoas coletivas públicas de natureza
territorial (distrito, que já não é assim, Paróquia que são agora freguesias, concelho e município, nunca
poderão ser considerados comerciantes). Como os entes públicos das fundações, hospitais, faculdades,
o setor público está arredado da atividade comercial, por força do art.17.º que deve ser alargado e não
apenas às entidades territoriais.

Atos
“Compra da máquina pelo Artur”:

Art.2.º Código Comercial. (1) pode ser ato subjetivamente comercial? Nunca, porque o autor
do ato não é comerciante, logo, falha o primeiro requisito.
Temos de ver é se serão objetivamente comerciais – sim ou não? Um ato objetivamente
comercial (art.2.º/1/primeira parte) – são atos que estão previstos no Código Comercial, código
oitocentista, não pode ser um elenco petrificado que data no século 19.
São atos previstos no Código Comercial, mas também em leis comerciais avulsas – problema:
critério – quando estamos perante uma lei comercial avulsa? Posição de Coutinho de Abreu, posição
mais certa e segura. Posições: Ferrer Correia – protege e tutela interesses comerciais, mas depois o
problema é que quando é que uma lei proteger interesses comerciais? não havia propriamente solução;
Coutinho Abreu vem dizer que é lei comercial avulsa quando 1) substitui normas do Código
Comercial, por exemplo o Código Sociedades Comerciais que até revogou normas do Código
comercial; 2) quando a lei se auto qualifique como comercial; 3) por analogia legis com uma norma
comercial + são ainda atos objetivamente comerciais (não depende da natureza do sujeito que os
pratica): por analogia iuris possam também ser considerados atos de comércio.
Compra da máquina de café: art.463.º do Código Comercial - quando é que a compra é
comercial? Quando é feita com o intuito de revenda. O Artur não fez com esse intuito, mas sim para
vender cafés. Ora, não é nem objetiva, nem subjetivamente comercial. Trata-se de uma compra civil.
Quem lhe vendeu? Essa venda é comercial? Art.463.º n.º 3 do Código Comercial “a venda de cousas

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móveis, (…) quando a aquisição houvesse sido feita no intuito de as revender” – a venda que faz é
comercial, porque ele está a vender aquilo que antes comprou com o intuito de revenda. É um ato misto
(comercial e civil), é um ato que é unilateralmente comercial só de um dos lados, mas mesmo assim o
regime aplicável a compra do Artur será comercial, por força do art.99.º do Código Comercial.

A venda de cafés pelo Artur:


Quando é que a venda é comercial? 463/3.º Código Comercial: “quando se vende com o intuito
de revenda” ele não revende cafés, ele está é prestar um serviço. A prestação de serviços pode ser
comercial, mas se for feita no âmbito de uma empresa, que não é o caso, logo aquela venda dos cafés
é uma venda civil.

Quanto à venda da máquina à Associação de Estudantes:

Ele, o Artur, comprou para seu uso particular, por exemplo, a venda de um automóvel usado
que foi comprado para uso próprio não é comercial, mas a venda de automóveis usados por stand já é
comercial porque os comprou com intuito de revenda. Logo, a venda não é comercial.

Compra da máquina pela AE:

Não é subjetivamente comercial, já vimos que AE não é comerciante; nem é objetivamente


comerciante.

Venda de cafés pela Associação de Estudantes:


É uma prestação de serviços. Pode ser comercial? Sim, no âmbito de uma empresa. Na
associação temos uma norma que nos ajuda, art.14.º do Código Comercial conjugado com o princípio
da especialidade do art.160.º CC, são atos que devem ser asilados ao interesse da associação que é
defender os interesses dos estudantes.

Dúvida: contrato leasing (após percorremos todo o caminho), será uma lei comercial, por analogia
legis – lei que regula e idêntica a normas do código comercial.

Aula Prática: 31.10.2018

SEGUNDA HIPÓTESE

2) Belmiro é um jovem de 17 anos que organiza atividades "radicais" no rio Minho.


Recentemente adquiriu dois barcos de borracha para o seu negócio, tendo para o efeito contraído
um empréstimo de €2500 junto de Carlos, um amigo da família que explora uma pensão em
Melgaço. Carlos emprestou ainda €3000 ao seu amigo David, serralheiro, para que este pagasse
o sinal de um automóvel que pretendia adquirir.

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Quais os sujeitos? Quais os atos?
- Compra dos barcos
- Belmiro
- Empréstimo
- Carlos
- Exploração da Pensão
- David
- Empréstimo ao David
- Compra do automóvel

Nota: Pensão em Melgaço (a empresa é objeto de direitos, não é sujeito de um negócio jurídico, não
tem personalidade jurídica, não é sujeito de direitos no ordenamento jurídico português. O dono da
empresa é que será comerciante e nunca a própria empresa)
Sempre será um caso que aparecerá no exame, qualificar atos e sujeitos.

Sujeitos
Belmiro:

Depende! Será comerciante se preencher os requisitos do art.13.º Código Comercial.


Quais são os requisitos? Ter capacidade comercial, fazer o comércio profissão e praticar os atos
em nome próprio.

Aqui Belmiro é menor (tem 17 anos), portanto é incapaz. Quando falamos de menor ou incapaz
temos de falar na questão da capacidade. Se na generalidade dos casos a capacidade comercial é igual
a capacidade civil, agora temos de dar relevo ao assunto. A capacidade comercial é igual a capacidade
civil, art.7.º do Código Comercial. Questão, que capacidade civil? A capacidade de gozo ou exercício?
Ele tem capacidade civil de gozo e se for esta a capacidade que se exige está preenchido o requisito
(entendimento do Prof. Ferrer Correia). Dr. Lobo Xavier, a capacidade comercial não pode equiparar-
se à capacidade de gozo, porque estaríamos a exigir algo que a partida toda a gente preencheria/teria.
Sendo a capacidade comercial equiparada a capacidade de exercício, pode ou não Sr. Belmiro
considerado comercial? Depende. Do quê? Da representação. O comercial deve ter capacidade de
exercício, mas a falta de capacidade de exercício pode ser suprida - – art.1889.º/1/ c do Código Civil
e art.2.º/1/b do Decreto-lei n.º 272/2001, 13 de outubro - os atos podem ser supridos ao serem
praticados pelo seu representante legal e tem de haver autorização judicial (que agora pode ser dada
pelo MP, e não só pelo juiz).
Temos de ver os outros requisitos. Se o último requisito não estiver preenchido podemos ficar
pelo caminho. Isto porque os requisitos do art.13.º do Código Comercial são cumulativos. Ora, se os
atos não fossem praticados pelo seu representante legal devidamente autorizado não seria considerado,
nunca comerciante.

Pressupondo que este requisito estaria preenchido: no segundo requisito, o ato teria de ser
praticado pelo seu representante em nome do comerciante. Belmiro exerceu em nome próprio. Ele não
pode ser considerado comerciante.
Contudo, supondo ainda que foi o representante legal quem praticou atos, temos de ver se ele
exerce profissionalmente a atividade: atos objetivamente comerciais. Sim ou não?

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Os atos objetivamente comerciais: (1) são previstos no Código Comercial; (2) previstos em leis
comerciais avulsas – como sabemos quais são? a) as leis que revogaram ou substituem normas do
código comercial; b) as que se auto qualificam; c) as que são qualificadas, como tal, por analogia legis
– entendimento de Coutinho de Abreu – ou iuris para qualificar não a lei, mas para qualificar o ato,
com os tais princípios gerias do direito comercial.
Para sabermos se o que ele faz é praticar atos objetivamente de comércio: se pratica
reiteradamente e sistematicamente atos de comércio – o que é que ele faz? Ele presta serviços! Presta
o serviço de descidas pelo rio. Presta ou fornece? Porque presta? Porque não há a tal fixação prévia de
um preço em que o risco corre pelo fornecedor do serviço (não há, portanto, um fornecimento de
serviços). É um ato objetivamente comercial? Depende. Está no art.230.º/2 do Código Comercial?
A norma do art.230.º/2 determina diretamente como atos objetivamente de comércio (de acordo
com o primeiro critério: estão previstos no Código Comercial), consta fornecer géneros (fornecer
produtos/bens). O que estamos a tratar é prestar serviços?
Pode ser qualificado como ato comercial através do primeiro critério? Não.
É o segundo, previsto em leis avulsas? Não.
Então porque é um ato comercial? Por analogia legis ao fornecimento de serviços – art.230.º/2.
Mas o que ele faz não é fornecer serviços, atenção, é prestar serviços! A prestação de serviços é ou
não comercial? Não está prevista no código, não está prevista em leis avulsas, não há analogia ao
230.º/2. Só poderia ser considerada atividade comercial, objetivamente comercial, por analogia iuris –
princípio de que toda a prestação de serviços exercida dentro de uma empresa é comercial, ato será
objetivamente comercial. Se não tivermos empresa (que não parece ser o caso, porque é Belmiro que
sem estrutura, autonomamente presta aquele serviço), portanto, não será considerado ato
objetivamente comercial.

Não é comerciante porque não resulta do enunciado que ele esteja/ que os atos estejam a ser
praticados pelo representante legal com autorização; não estão a atuar em seu nome; não há o exercício
da atividade dentro de uma empresa.

Carlos:

Será comerciante se preencher requisitos do art.13.º do Código Comercial. 1. Capacidade


comercial – preenche, em princípio o requisito (equiparada à capacidade civil, art.7.º do Código
Comercial -falar na discussão doutrinal); pratica os atos em nome próprio; temos ainda ver se os atos
que pratica são atos objetivamente comerciais (critérios: 1) ato previstos no Código Comercial; 2) leis
avulsas; 3) analogia legis).
Traduz-se a sua atividade essencialmente na prestação de serviços. Será objetivamente
comercial? Pelo art.230.º/2, nunca! Por analogia legis ao art.230.º/2? Nunca. Será por analogia iuris
ao princípio de que a prestação de serviços exercida dentro de uma empresa é uma atividade comercial.
Não serão atos comerciais, se o sujeito/titular dessas empresas exerce diretamente a atividade.
Para Coutinho de Abreu, não é comerciante ainda que exerça diretamente a atividade (explorar
diretamente a pensão), fica excluído da comercialidade.
Segundo o Professor Paulo Tarso, esta não será a melhor solução, mas sim a concentração do
empresalismo. Só não será comerciante quando aquele exercício das atividades do art.230.º parágrafo

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primeiro não empresarial. Desde que aquelas atividades sejam exercidas de foram empresarial,
independentemente de estar lá a exercer diretamente a atividade ou não (temos de fazer uma
interpretação atualista). Ora, o Carlos já será considerado comerciante.

David:

Depende, será comerciante se preencher os requisitos do art.13.º Código Comercial. 1) vamos


partir do pressuposto que tem capacidade comercial; pratica atos em nome próprio; temos é de ver se
existe a tal prática reiterada e sistemática de atos objetivamente comerciais (exercer profissionalmente
a atividade). Serralheiro: é uma atividade comercial prevista no Código Comercial? Ou se está prevista
noutra lei avulsa? Se há analogia legis?
Em princípio, a serralharia será uma prestação de serviços, mas também poderá ser uma
atividade transformadora, atividade industrial de acordo com o art.230.º/1. Se for atividade prestação
de serviços, temos de seguir o caminho referente ao Carlos e Belmiro.
Quanto à atividade transformadora? Depende. Temos de saber se ele exerce essa atividade no
âmbito de uma empresa – o que ele faz? Será objetivamente comercial o ato, porque está previsto no
Código Comercial (pelo primeiro critério). Preencherá esse requisito, porque temos empresa. Ora, para
Coutinho de Abreu isto não chega, ele teria de exercer a atividade diretamente. Do enunciado não
parece que temos empresa, porque parece mais aqueles biscates de casa em casa.
No caso concreto, não se verificam os requisitos do código comercial.

Atos

Compra dos barcos:

Pode ser subjetivamente comercial? Não, porque concluímos que o Belmiro não é comerciante.
Só um comerciante pode praticar atos subjetivamente comerciais. Este ato depende, pois, da qualidade
do sujeito. Não significa que o Belmiro não possa praticar atos de comércio, mas só poderá praticar
atos objetivamente de comércio.
Caminho: ato que ele pratica – uma compra. Art.463.º do Código Comercial - quando é que a
compra praticada embora por um não comercial, pode ser considerada objetivamente comercial?
Quando compra para revenda. Ele comprou os barcos, para prestar serviços, para alugar os barcos.
Esta compra é comercial ou não? Também são compras comerciais, (compras objetivamente
comerciais, por excelência, são os atos objetivamente comerciais, a compra para revenda), contudo a
parte final do art.463.º, também são atos objetivamente comerciais, as compras com o objetivo de
alugar a coisa que comprou. O que significa que a compra de barcos pelo Belmiro não sendo
subjetivamente comercial, é objetivamente comercial pelo art.463.º parte final.

10 | P á g i n a
Direito Comercial - FDUP
Empréstimo que faz:

Não é subjetivamente comercial. É objetivamente comercial? Depende. Do que depende? O


empréstimo / contrato é normalmente bilateral. Ora, temos de ver empréstimo pelo lado de quem
concede empréstimo e pelo lado de quem o recebe.
Quem concede empréstimo, é Carlos – este ato é subjetivamente comercial, ou não? Este
empréstimo é objetivamente comercial ou não, entre o Belmiro e Carlos – para ser objetivamente
comercial tem de estar previsto do Código Comercial, e está mesmo previsto na norma do art.394.º e
ss. Código Comercial. Preenche ou não esse requisito? O empréstimo é comercial, não depende da
qualidade do sujeito que os pratica, se o empréstimo se destinar à prática de atos mercantis. Não é,
porque não há empresa. A atividade que o Belmiro exerce não é uma atividade comercial, se ele
concretizou o empréstimo não foi para o ajudar na sua atividade comercial.
Mas imaginemos que o empréstimo foi para a compra dos barcos? Então, já será um ato
objetivamente comercial, ato acessoriamente comercial (o empréstimo), porque foi para ajudar à
prática de atos comerciais.

Agora, do ponto de vista da subjetividade comercial? Do lado do Belmiro, nunca pode ser
considerado subjetivamente comercial, porque ele não é comerciante. Do lado do Carlos, depende.
Quando qualificamos atos subjetivamente comerciais, já sabemos a norma - art.2.º segunda parte, que
tem de preencher os requisitos, temos de averiguar:
1) Requisito positivo – para que ato seja considerado subjetivamente comercial: que seja
praticado por um comerciante (Carlos é comerciante)
2) Todos os atos que um comerciante pratica são atos que a prática se relacionam com a sua
atividade – contudo, vem excecionar duas situações, dois requisitos negativos da sua
comercialidade subjetiva
a) se for de natureza exclusivamente civil (não percamos tempo com a discussão de quando
foi publicado o código, se for um ato de natureza extrapatrimonial, de natureza familiar ou
sucessória)
b) segundo requisito negativo – se já só vai aplicar a atos praticados por comerciantes de
natureza patrimonial, que atos de natureza patrimoniais praticados por comerciantes, ainda
assim não vão ser considerados atos comercias? Se o contrário do próprio ato não resultar
– quando resultar do ato, do senso, que aquele ato praticado pelo comerciante nada tem
haver com a atividade que ele exerce (o que conta aqui é a teoria da impressão do
destinatário). Para este requisito negativo, art.2.º segunda parte, se o contrário do próprio
ato não resultar – o que resulta do momento da prática do ato!
1. Estar conexionado com a atividade do comerciante – será considerado ato comercial;
2. Não conexa com a atividade do comerciante – ato será civil;
3. Nada resulta desse ato (ficamos na dúvida) – será considerado ato comercial.
Neste caso, homem médio colocado nesta situação, este ato, o empréstimo, será
relacionado com a atividade comercial de Carlos (que explora a pensão)? Dificilmente
poderíamos dizer, através da teoria da impressão do destinatário, não há conexão entre o
ato de comércio e a atividade do comerciante (segundo requisito negativo).

11 | P á g i n a
Direito Comercial - FDUP
Conseguimos até ver do enunciado que se trata até de um amigo de infância. Portanto,
seria, em princípio, um ato civil. A menos que soubéssemos, por exemplo, que esse dinheiro
fosse para ajudar o Belmiro a comprar os barcos, aí já seria um ato comercial acessório.

Pensão:
O que referirmos acima. Sem esquecer que se trata de uma prestação de serviços.

Empréstimo:
Preenche tudo, menos o requisito negativo. Seria excluída a subjetivadade comercial pelo
segundo requisito negativo. É objetivamente comercial? Art.394.º Código Comercial – ato
acessoriamente comercial, não é empréstimo em si comercial, ato acessório/instrumental de comércio.
Para que se destinou o empréstimo, para a compra de um automóvel – para revenda ou para uso
pessoal? Compra é objetivamente comercial quando é feita com objetivo de revenda ou para alugar.
Ora, não é subjetivamente comercial porque David não é comerciante e também não é objetivamente
comercial porque não foi feito nem para revenda, nem para alugar, mas sim para uso pessoal (destinou-
se à prática de um ato civil e não se destinou para a prática de um ato de comércio).

Aula Prática: 07.11.2018


Dúvida colocada na aula: União de Facto é equivalente à Separação de Bens?
A separação de facto significa que as pessoas estão juridicamente casadas.

Houve tempos em que em Portugal não era permitido o divórcio às pessoas catolicamente
casadas (99% das pessoas, em Portugal, eram casadas catolicamente e não civilmente), e como tal não
faziam qualquer vida em comum. Diferentemente, a união de facto em que as pessoas têm vida comum.
Diferentemente, ainda, as pessoas em regime de separação de bens: separação de património de A e
de B – pelas dívidas de cada um respondem os bens de cada um, daquele que contraiu a dívida.
Respondem os bens próprios do cônjuge que contraiu a dívida, mas se este não tiver património,
responde subsidiariamente o outro cônjuge.

Contudo, se estiverem numa situação de separação de facto – depende! Será se se provar que
não há proveito da coisa comum.

A casado com B. A é comerciante – regime que se aplica é o do artigo 1691.º/1/d do Código


Civil, “1. São da responsabilidade de ambos os cônjuges: (…) d) As dívidas contraídas por qualquer
dos cônjuges no exercício do comércio, salvo se vigorar entre eles o regime da separação de bens;”.
Isto é, as dívidas praticadas por um cônjuge comerciante, em princípio (e a regra), responsabilizam
ambos os cônjuges, porque os atos que o A pratica são subjetivamente comerciais, faz com que se
aplique a presunção do art.15.º do Código Comercial (“As dívidas comerciais do cônjuge comerciante
presumem-se contraídas no exercício do seu comércio.”). Só assim não será:

(1) Regime de separação de bens; (2) Não haja proveito comum; (3) Se consiga afastar a
presunção de art.15.º do Código Comercial.

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Só quando se esteja numa circunstância de “não proveito comum” é que se poderá colocar a
questão de estarem separados de facto, mas não basta alegar a separação de facto, é necessária a
separação total de economias. Exemplo, A pode estar separado de facto de B há 15 anos, mas receber
dele uma pensão de alimentos. Outra questão, tem de se ver se o cônjuge beneficia de alguma forma
da atividade comercial do cônjuge que é comerciante, pois, não seria justo ele apenas beneficiar, p.
exemplo, num possível divórcio aquando as partilhas, mas nunca ser responsabilizado pelas dívidas.

QUARTA HIPOTÉSE

4) Necessitado de comprar material de escritório para a empresa de construção civil de que é


proprietário, Horácio dirigiu-se a uma loja da especialidade. Juntamente com esse material
compra uma cadeira que pretende oferecer à sua mulher Idalina, advogada, pagando toda a
despesa com um cheque. No entanto, porque a sua mulher não gostou da cor da cadeira, Horácio
acaba por revendê-la a Jaime, agente comercial.
Nota: Empresa não é sujeito entre nós, não é comerciante, não se tem de cuidar da sua qualificação,
porque ela não é sujeita de direitos.

Neste caso, os atos são, a “compra de material de escritório”, a “compra da cadeira”, a “venda
da cadeira”. Já os sujeitos são, Horácio, a sua mulher e Jaime.

Sujeitos
Horácio
(1) Requisito da capacidade preenchido, em princípio; (2) os atos praticados no âmbito desta
Empresa de construção civil, são atos praticados em nome próprio, em nome do Horácio - estão
preenchidos; (3) Requisito: ‘fazer do comércio profissão” – exercício de comércio – prática reiterada
e sistemática de atos comerciais. A questão é, se o que ele faz é ser dono de uma empresa de construção
civil, se ele pratica esses atos objetivamente comerciais diariamente?

O que é um ato objetivamente comercial? Segundo o art.2.º/primeira parte do Código


Comercial, são atos objetivamente comerciais, os previstos no Código Comercial; além destes, em
Leis Comerciais Avulsas (quais são? Uma de três, Ferrer Correia: as que defendem interesses
comerciais – “mas quais interesses?” (crítica); (1) Coutinho de Abreu: que substituem normas do
Código Comercial; (2) auto qualificam-se; (3) as que são qualificadas, como tal, por analogia legis –
entendimento de Coutinho de Abreu – ou iuris para qualificar não a lei, mas para qualificar o ato, com
os tais princípios gerias do direito comercial.

Os atos que o sujeito (Horácio) pratica subsumem-se a alguma hipótese prevista no código
comercial - no primeiro dos critérios? Há uma norma fundamental para a qualificação que é o artigo
230.º do Código Comercial. O que nos diz este artigo?
No número 1 do artigo 230.º está previsto a indústria (transformadora, a atividade industrial
está neste artigo). Qual o sentido dado pelo artigo 230.º: o que são empresas comerciais.

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Estamos à procura de comerciantes que tem de praticar atos objetivamente comerciais? Estão
previstos no código comercial. Depende do sentido que dermos ao artigo 230.º, o sentido de dar aos
atos das empresas previstas pelo artigo 230.º: são atos comerciais, mas quais os atos praticados por
estas empresas? Todos ou apenas os típicos. Ora, se estão todos previstos no Código Comercial são
todos atos comerciais, logo, o Horácio é um comerciante.

A mulher de Horácio
É comerciante se preencher os requisitos do art.13.º do Código Comercial:
1. Tem a capacidade;
2. Atos que pratica, pratica em nome próprio, exerce atividade enquanto advogada;
3. Exerce profissionalmente o comércio, ou seja, pratica reiteradamente e sistematicamente
atos objetivos de comércio? Ela presta serviços. A prestação de serviços é uma atividade
comercial se for praticado no âmbito de uma empresa. Ora, ninguém diz que um advogado
é uma empresa (isto é, um advogado de prática individual; outra questão será as sociedades
de advogados). Presta serviços, mas não presta serviços no âmbito de uma empresa.
Outro requisito para os profissionais liberais – o silêncio da lei – a lei nunca qualificou a
atividade exercida por profissionais liberais, como atividade comercial. Este silêncio da lei
é também falador, pois não é qualificada como tal, no silêncio da lei, logo, não é comercial.

Jaime
Será comerciante se preencher os requisitos do artigo 13.º do Código Comercial: se tiver
capacidade; se praticar os atos em nome próprio; e se praticar atos reiteradamente e sistematicamente,
atos objetivos comerciais – o enunciado não nos diz se ele tem empresa ou não - se ele tiver empresa,
os atos segundo artigo 230.º do Código Comercial são considerados atos comerciais. Mas e se ele
estiver em casa sozinho no computador e não tiver nenhuma estrutura organizadora? Será na mesma
uma atividade de interposição das trocas – é uma atividade comercial, por força do princípio geral que
Coutinho de Abreu explora, analogia iuris e ainda analogia legis, pelo DL que regula a atividade de
agenciamento.

Atos
Compra de material de escritório
É objetivamente comercial ou subjetivamente comercial?

Este ato é objetivamente comercial – está previsto no Código Comercial? Sim, art.463.º do
Código Comercial. A compra é objetivamente comercial quando é feita para revenda – não é o caso,
fez a compra para utilizar no exercício da atividade. Pode se considerar que está, contudo, previsto no
Código Comercial.
Há uma norma que irradia um princípio energético do regime comercial – artigo 230.º do
Código Comercial, os atos praticados pela empresa são atos comerciais.

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Ora, se seguirmos a posição de Lobo Xavier só os atos típicos de uma empresa serão atos
objetivamente comerciais, mas para Coutinho de Abreu, atos típicos e não típicos de uma empresa são
atos objetivamente comerciais. Será, portanto, este ato de compra, um ato objetivamente comercial por
estar previsto no Código Comercial.
Mesmo que seguindo a posição de Lobo Xavier, o ato viria ser qualificado como comercial,
por se tratar de um ato subjetivamente comercial.
Será um ato subjetivamente comercial atendendo aos requisitos do art.2/segunda parte:

1. Requisito positivo – ser praticado por um comerciante (preenchido)


2. Em princípio, todo o ato praticado por um comercial, será subjetivamente comercial, a
menos que ocorram duas situações (requisitos negativos:)
2.1 O ato seja de natureza extrapatrimonial
2.2 Ato que seja de natureza patrimonial, não será ainda assim considerado subjetivamente
comercial, “se o contrário do ato resultar”. Significa que se resultar o contrário do
próprio ato (o que conta é o próprio ato, no momento da prática do ato – não vale o que
se apura depois); e se resultar o contrário – que aquele ato nada tem a ver com a
atividade comercial exercida pelo comerciante.
Exemplo, comprou o material de escritório para oferecer a filha. É ato
subjetivamente comercial? Sim, porque no momento da compra não se apurou isso. A
menos que ele tivesse dito que estaria de facto a comprar para a filha.

Compra da cadeira
Será subjetivamente comercial - se preencher o artigo 2/2 parte do Código Comercial. Apesar
de o ato não estar relacionado com a atividade que ele se exerce, o ato será na mesma subjetivamente
comercial, porque nada no ato resultou o contrário!
Mas por exemplo, ele poderia ter dito “essa cadeira é para oferecer à minha mulher” – já não
seria ato comercial, mas, sim, ato civil. Contudo, o pagamento com cheque, ainda que se destine a uma
compra civil (por dizer que era para oferecer a mulher), já será um ato formalmente comercial.

Revenda da cadeira ao agente


Não, ele não está a revender. Ele comprou a cadeira para oferecer a mulher, não serviu, vendeu
mais tarde. Quando é que a venda é objetivamente comercial? Quando se vende algo que, a montante,
se comprou com o objetivo de revenda. E pelo art.230.º do Código Comercial? Não se pode considerar
por este artigo que é um ato objetivamente comercial.
Não é o facto de ser emitida uma fatura das coisas em nome da empresa que será um ato
subjetivamente de comércio! É o que resulta para a pessoa que está do outro lado da mesa a contratar
com o comerciante. Por exemplo, comerciante vai almoçar ao domingo com a família, mas pede fatura
em nome da empresa, para o Homem Médio, consegue-se aperceber que este não é nenhum ato
subjetivamente comercial!
Se preencher o art.2.º/2 parte do Código Comercial – requisitos: ser um ato praticado pelo
comerciante; e não haja dos dois requisitos negativos.

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Se ele souber que a atividade da mulher não tem nada a ver com a atividade da empresa, não
seria, pois, ato comercial; se achasse, o homem médio (teoria da impressão do destinatário), seria
considerado até um ato comercial; mas se fosse dúvida seria também ato comercial!

Dívidas
Sendo uma dívida contraída por um comerciante (Horácio é comerciante), em princípio as
dívidas que ele contraia no exercício do comércio, será da responsabilidade de ambos (artigo 1695.º
do Código Civil). Quais os bens que responderam? Em primeiro lugar, responde bens comuns do casal
e se estes não forem suficientes, respondem os bens próprios de cada um dos cônjuges (tanto o Horácio
como o cônjuge do comerciante).
O Horácio é comerciante, só exerce comerciante: quem é comerciante (primeiro requisito preenchido);
alínea d) do número 1 do artigo 1691.º do Código Civil, exige ainda que a dívida seja contraída no
exercício da atividade comercial exercida por aquele comerciante – ele tem de demonstrar isso?
Ele tem de demonstrar que o devedor é comerciante, e demonstrar que a dívida é comercial – porque
resulta de um ato de comércio (isto é o que o credor terá de provar) logo, a seguir, faz funcionar o
art.15.º do Código Comercial, a presunção!
Contudo, dívida é civil. Não faz funcionar a presunção do art.15.º do Código Comercial. “Não
se aplica diretamente o artigo 1691.º/1/d” – alega a esposa. Por outro lado, foi contraída a dívida no
exército de comércio? Não. Ora, mas se a compra foi uma oferta à esposa, ela não responde pelo regime
comercial, pela alínea d), isso não significa que ela não irá responder civilmente.

Para fazer funcionar artigo 15 do Código Comercial, é apenas necessário que seja dívida
comercial, mas a dívida é civil. Mas não podemos esquecer que ele pagou a cadeira com cheque, que
é um ato formal de comércio, logo, será uma dívida comercial, faz acionar de facto o art.15.º.

Pode novamente a mulher vir alegar que é uma dívida civil, não obstante a ter sido pago por cheque.
Ao invocar factos que afastam da responsabilizado de ambos da alínea d), levará à responsabilização
por outra alínea. Ora, muitas das vezes, não há propriamente interesse em afastar devido a isto a
presunção.

Outra hipótese, Horácio compra o material de escritório e cadeira e nada diz. Ora, do ato que
nada resulta – pensa que será para a empresa, subjetivamente comercial. Apesar de o intuito ser de
comprar para oferecer a amiga colorida. Sendo ato subjetivamente comercial, faz funcionar o art.15.º.
Como é que neste caso a esposa poderia afastar a sua responsabilidade?

- Alegar separação de bens (é raro acontecer)


- Ilidir a presunção do artigo 15.º, porque não comprou para fins da empresa, mas sim para fins a que
a esposa está a alheia, porque a compra não foi comercial, mas sim civil. Isto afastaria a
responsabilização provocada pelo art.1691 n.1 da alínea d), normalmente!

Mas isso não significaria que afastaria por completo a responsabilização de ambos os cônjuges.
Ora, a mulher poderia vir a afastar a responsabilidade pelo não proveito comum – foi para oferecer a
amiga colorida.

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Nota: pagamento do cheque, ato de comércio, formalmente comercial, em que a mulher poderia alegar
para afastar a presunção de ser um ato de comércio. Contudo, no presente caso nunca se poderia dizer
que haveria proveito comum, nem afirmando que no todo global a mulher beneficiava da atividade
comercial do marido, uma vez que seria injusto obrigar a mesma a responder pela compra para a tal
“amiga colorida”.

Aula Prática: 21.11.2018


CASO PRÁTICO N.º 1

Américo, dono de uma fábrica de têxteis, e Belmiro, advogado, casados respetivamente com
Carlota e Dionísia pelo regime da comunhão geral de bens, vão passar um fim de semana à Serra
da Estrela na companhia de amigos. Ao visitarem uma exposição de artesanato compram a
Ernesto e Feliciano, dois artesãos locais que exploram em conjunto uma loja, diversos produtos
de artesanato e gastronomia regional (queijos da serra, vinhos e chinelos de pele) no valor de
cerca de €5000, com a intenção de posteriormente os revenderem a conhecidos. Américo
comprou ainda um tapete que, segundo disse, colocaria na sala de reuniões da sua empresa.

1) Qualifique, do ponto de vista jurídico-mercantil, os sujeitos e actos referidos.

2) Uma vez que nem Américo nem Belmiro dispunham de dinheiro e que os vendedores não
queriam perder tão bons clientes, aceitaram a sua palavra em como no dia seguinte viriam saldar
a sua dívida. A quem, e em que termos, podem os vendedores pedir responsabilidades caso a
promessa de pagamento não seja cumprida?

3) Suponha agora a hipótese inversa: Ernesto e Feliciano tinham-se comprometido a enviar aos
compradores os produtos previamente pagos, mas não o fazem. A quem, e em que termos,
poderão os compradores exigir o cumprimento do contrato, ou pedir uma indemnização pelo
respetivo incumprimento?

4) Imagine que Gervásio tinha emprestado €2500 a Américo para que este pagasse as suas
compras, tomando como garantia o seu relógio de ouro. Qualifique estes atos, pronunciando-se
quanto à validade do empréstimo.

Sujeitos
- Américo, Ernesto Belmiro e Feliciano

Américo
– Será comerciante se preencher requisitos do art.13.º do Código Comercial:

1. Capacidade comercial equipara-se à capacidade civil (de gozo) – art.7.º do Código


Comercial.

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2. Praticar atos em nome próprio: sendo dono da fábrica, os empregados exercem na mesma
em seu nome, é implícito.
3. Faz do comércio profissão? Exercício profissional do comércio – pratica reiterada e
sistemática atos objetivamente comerciais – sim ou não? Sim, porque o que Américo faz é
desenvolver uma atividade transformadora prevista no artigo 230.º/1 do Código Comercial
que consagra quais as empresas comerciais - qual o sentido? - que os atos destas empresas
são atos comerciais, trata-se do primeiro critério para a qualificação de atos como
objetivamente comerciais – porque estão previstos no código comercial. Mas que atos
destas empresas? Prof. Lobo Xavier só atos típicos são atos comerciais; Coutinho de Abreu:
são atos comerciais todos os atos típicos e atípicos praticados por esta empresa.

São requisitos cumulativos e estão preenchidos, portanto, Américo é comerciante.

Belmiro
– Será ou não consoante preencha os requisitos do art.13.º do Código Comercial:

1. Tem capacidade
2. Pratica em nome próprio
3. Pratica reiterada e sistemática de atos objetivamente comerciais (exerce “…”): não! Constatar
que exerce uma atividade profissional liberal não seja. Ato típico de profissional liberal: dar
consultas jurídicas, aconselhamento jurídico, elaborar peças processuais, ir a tribunal – são atos
comerciais? Isto traduz-se numa prestação de serviços. Fornecer serviços carácter duradouro.
Prestação de serviços é sempre comercial? Quando pratica sob a forma de empresa - advogado
sobre a prática individual presta serviços sobre uma empresa? Não, presta serviços, mas não o
faz no âmbito de uma empresa. Ele até pode ter um processo produtivo de extroversão, virado
para fora, para satisfazer terceiros, mas falta autonomia técnico funcional, sem aquele agente
produtivo, não há nada. Tem autonomia lucrativa que permite reproduzir o processo. Trata-se
de uma prestação de serviços que não é feita no âmbito de uma empresa, logo, não é comercial.
Se fosse uma prestação de serviços no âmbito de uma empresa: já seria comercial.

Nota: e as sociedades advogados?


Falta a autonomia técnico funcional, aquele processo depende em absoluto do fator de produção
que é o agente. Numa grande sociedade de advogados? Sim ou não? Na maior parte dos casos, apesar
da estrutura, as pessoas procuram o advogado X ainda que depois estejam a espera que a estrutura lhe
dê um back ground. Não é a mesma coisa que num hospital, onde não importa o médico.
Pode ainda dizer-se que quando se procura uma sociedade de advogados, é a estrutura e não x
advogado. Por isso, procura-se o processo produtivo e não o agente – em regra, não é assim. Ainda
que suponhamos e afirmemos uma autonomia técnico funcional, estamos a falar de uma prestação de
serviços efetuada num âmbito de uma empresa, analogia iuris da atividade de prestação de serviços,
etc…
Só que no caso dos advogados, há dados legislativos que atividade da advocacia, em princípio,
o silêncio da lei, vem dizer que estas atividades não são comerciais, que apontam nesse sentido - não
quis colocar essas atividades como comerciais.

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Se for funcionário (advogado), quem pratica os atos é a empresa, não pratica em nome próprio.
Não é comerciante.
Se praticar em nome próprio, é o caso acima.

Ernesto
1. Capacidade
2. Pratica em nome próprio
3. Prática reiterada e sistematicamente atos objetivamente comerciais? Atividade transformadora
será atividade comercial.

Abrange não apenas as atividades do 230.º do Código Comercial no sentido artesanal de forma
rudimentar (+ as situações análogas), mas também abrange o artesanato típico. Nunca será considerado
comerciante.

Cabeleireiro, no sentido rudimentar, o seu exercício de forma artesanal (de forma não empresarial).
Para Coutinho de Abreu de forma não direta não será comerciante, para o professor é mais no sentido
de não ser comerciante, por exercício de forma não empresarial.

Atos

Compra de produtos artesanais para revenda


Será se preencher os requisitos do artigo 2.º do Código Comercial: 1.ª parte - objetivamente
comercial, 2.ª parte - subjetivamente comerciais.

- Atos objetivamente de comércio:


1.º critério: são previstos no Código Comercial;
2.º critério: previstos em leis comerciais avulsas – como sabemos quais são? a) as leis que
revogaram ou substituem normas do código comercial; b) as que se auto qualificam; c) as que
são qualificadas, como tal, por analogia legis – entendimento de Coutinho de Abreu – ou iuris
para qualificar não a lei, mas para qualificar o ato, com os tais princípios gerias do direito
comercial1. Critério: previstos no CC.

A compra para revenda está prevista no Código Comercial, logo se esta previsto no Código
Comercial é um ato objetivamente comercial por força do artigo 463.º Código Comercial.
É comercial para ambos, seja para A, seja para B que não é comercial.
Para B o ato pode ser subjetivamente comercial? Não, porque a compra subjetivamente
comercial é a compra em que o seu autor é comerciante. Mas o A já é.

Esta compra é subjetivamente comercial? Sim. Um comerciante não pode praticar atos civis?
Temos de analisar art.2.º/2 parte - 1.º Requisito positivo: tem de ser praticado por um comerciante; 2.º
Ato praticado por um comerciante é, em principio, sempre subjetivamente comercial, exceto
(requisitos negativos:)

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a) Se o ato for exclusivamente civil, quando é um ato de natureza extrapatrimonial, não avaliado
pecuniariamente, ainda que praticados por um comerciante, não são atos subjetivamente
comerciais.
b) Ainda que o ato seja de natureza patrimonial, pode vir a não ser ato subjetivamente comercial.
Se o contrário do próprio ato não resultar.
i. Tem de resultar do momento da prática do ato
ii. “se o contrário não resultar do ato”, o que é que resulta do ato?
- se está relacionado com a atividade;
- se não esta relacionado com a atividade;
- ou se nada for dito.

Exemplo, “vou comprar estes queijos para oferecer a uns amigos”, não será, em
princípio, um ato relacionado com a sua atividade.

Mas e se nada for dito? Temos de atender à Teoria do Destinatário. O princípio


é que pode estar relacionado com a atividade, porque a lei parte do princípio que
aquilo pode estar relacionado com a atividade. Na dúvida, o ato é subjetivamente
comercial. Só não será quando resultar inequivocamente do Homem Médio que
aquele ato não está relacionado com a sua atividade comercial, logo, não seria
ato subjetivamente comercial, e nessa circunstância, será um ato civil, e não
comercial.
Sem nunca esquecer que na dúvida será um ato subjetivamente comercial.

Compra do tapete
A, que é comerciante, comprou tapete para colocar na empresa. Não é objetivamente comercial,
porque não é comprado com o intuito de revenda, por força do art.463.º do Código Comercial. Mas
pode ser ato subjetivamente comercial? Ele tem uma empresa transformadora, segundo o art.230.º do
Código Comercial, o sentido dado ao art.230, é que os atos praticados no âmbito de uma empresa são
atos comerciais. Mas que atos da empresa? Atos típicos ou atos atípicos? Isto é um ato não típico,
ainda assim será considerado um ato objetivamente comercial segundo Coutinho de Abreu, para Lobo
Xavier seria um ato civil.
Quem tem de pagar preço desta compra?

De um lado da compra temos um comerciante? (estão a vender produtos do seu artesanato,


art.464.º do Código Comercial - está excluído como comercial este tipo de atos), temos um ato misto,
que é comercial relativamente a uma das partes, ou seja, é unilateralmente comercial – apesar disso,
aplica-se a ambas o regime comercial.
Caso das obrigações conjuntas: cada codevedor responde pela sua parte.
Caso das obrigações solidárias: cada codevedor responde pela totalidade da dívida.

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Mas e se, B, viesse dizer, “mas eu não sou comerciante, a mim só me podem exigir metade do
preço porque o regime que a mim se aplica é o da conjugação!”:

Temos regime de obrigações plurais. Aplica-se o regime a todas as partes ainda que a uma das partes
não seja comerciante. Fica em princípio prejudicado, porque os credores vêm dizer que é uma
obrigação sobre a qual se aplica o regime comercial art.99.º do Código Comercial (exceto - art.100.º
do Código Comercial - em que não se aplica o regime da solidariedade, se verificarem dois requisitos).

A regra do art.99.º, o regime comercial irá se aplicar aos dois artesãos, só assim não será, se
cumulativamente de verificarem 2 requisitos (negativos e cumulativos): 1) se estivermos a falar de
quando não haja qualquer conexão comercial com aquele sujeito, ou seja, não é comerciante (não ser
comerciante); 2) e não ser comercial o ato relativamente aquele sujeito.

Regime é solidário ou da conjugação? Não se aplicará ao A, o art.100.º, porque ele é comerciante e o


ato relativamente a ele é comercial. B: não é comerciante, mas o ato relativamente a ele é comercial,
logo, aplica-se o regime comercial vai se aplicar, art.99.º (porque ele comprou para revenda).

Mas e se tivessem comprado para oferecer a amigos? Credores podem exigir a totalidade do preço a
A porque ele é comerciante e o ato relativamente a ele é comercial; mas a B não, porque este não é
comerciante e relativamente a ele o ato não é comercial, ou seja, já só poderia exigir a sua parte.

Problema é que eles eram casados e ainda tínhamos de ver se respondiam apenas os bens do
próprio ou do casal.

Tínhamos de ver qual o regime que se aplica é a responsabilidade civil conjunta ou solidária?
O ato não é diretamente a eles comercial, portanto, ato é puramente civil, e credores apenas poderiam
exigir metade a cada um deles.
Contudo, do outro lado temos um comerciante e sendo um ato unilateralmente comercial, o
regime que se vai aplicar é o regime comercial a ambas as partes (apesar da venda não ser comercial,
também se aplicaria, em princípio o regime comercial também aos vendedores, porque se aplica o
regime comercial a toda a relação contratual, mesmo relativamente a parte que não é comerciante,
segundo o art.99.º do Código Comercial.
Só assim não será se eles não forem comerciantes, e o ato relativamente aos mesmos não fosse
comercial. Só responderiam pela responsabilidade conjunta e nunca pela responsabilidade solidária.

Ato praticado por A que é comerciante e B que não é comerciante. Ambos casados sobre o
regime de comunhão de bens. A responsabilidade sobre eles é solidária. Pode exigir-se sobre eles a
totalidade de preço. Será uma dívida comum? Que responsabiliza ambos os cônjuges, ou apenas um?

Para o comerciante: art.1691.º/1/d CC - se o ato se subsumir a esta alínea, será uma dívida que
responsabiliza ambos os cônjuges, e que vai responsabilizar os dois (apesar de ser uma dívida praticada
por A).

1. Será dívida que responderão em primeiro lugar, os bens comuns


2. E de seguida, como é dívida comum, respondem todos os bens do casal, todo o património do
casal, indistintamente (poderão ser bens de A ou da sua mulher) os bens próprios de cada um
dos cônjuges.

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Agora temos de ver se esta dívida se subsume na alínea d/1/1691.º CC:

1. É necessário primeiro de tudo que o devedor seja comerciante. Não é uma dívida do cônjuge
comerciante, é uma dívida contraída no exercício do comércio – atenção: só há exercício de
comércio, se for comerciante. A é comerciante, está preenchido o primeiro requisito.
2. Dívida foi contraída no exercício do comércio? Estamos a falar da compra dos queijos. Ele
exerce uma empresa têxtil, tece fios, comprar queijos para amigos.
Ex.: se comprasse queijos para clientes, já seria no exercício da sua atividade.

Precisa-se de provar que a dívida foi exercida na atividade comercial? Ora, acontece que como
esta prova é muitas vezes difícil, o legislador faz uma presunção. Art.15.º do Código Comercial
não precisa de se provar que foi contraída no exercício de comércio, porque se presume.
Logo, basta ao credor provar que a dívida é comercial – como sabemos isto? Quando a dívida
é contraída como ato de comércio, e era, por se tratar de compra para revenda.
A presunção pode ser ilidida.

Pode depois afastar a responsabilidade do cônjuge do comerciante, se provar que não houve proveito
comum ou alegar separação de facto.

Nunca poderia responsabilizar o cônjuge do B porque não se aplica o artigo 1691.º/1/d do CC, porque
B não é comerciante.

Aula Prática: 29.11.2018

4) Imagine que Gervásio tinha emprestado €2500 a Américo para que este pagasse as suas
compras, tomando como garantia o seu relógio de ouro. Qualifique estes atos, pronunciando-se
quanto à validade do empréstimo.
Temos um empréstimo e um penhor – são atos, que para ser atos comerciais (não são atos em
si mesmo comerciais, são atos acessórios, são atos instrumentais ligados a um ato de comércio).

Ele empresta para puder pagar as contas que fez, o empréstimo que G faz será comercial, se as
contas que era para pagar fossem comerciais – e eram, portanto, será um ato acessoriamente comercial.

Penhor – a dívida para a qual se presta a garantia, para a qual se presta o penhor tem de ser
comercial. Que ato visa garantir o cumprimento se que obrigação? É a compra ou empréstimo?
Empréstimo, é um ato acessoriamente comercial em cima de um ato acessoriamente comercial que é
o empréstimo. Muito embora o ato que se vise garantir seja acessoriamente comercial, tanto basta para
que o penhor seja um ato acessoriamente comercial, para puder ser ou não comercial.
Nota: resolver casos e exames em casa.

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CASO PRÁTICO N.º 3

Alice, casada com Zeferino em regime de comunhão de adquiridos, é a sócia-gerente da


sociedade “A Chinela, fabrico de calçado, Lda.” Ela e a sua amiga Bernardete (médica de
profissão e separada de facto de Xavier, com quem é casada em regime de comunhão geral há
dez anos) arrendam um imóvel em que pretendem instalar uma loja de malas e carteiras. Após
procederem a obras de remodelação, adquirem uma série de estantes e expositores, contactam
diversos fornecedores e contratam dois funcionários. A abertura da loja acaba, todavia, por ser
adiada por três meses devido a uma inundação que danificou seriamente o pavimento e paredes.

1) Qualifique, do ponto de vista jurídico-mercantil, os actos e sujeitos referidos.

2) Imagine que na data combinada, e dadas as dificuldades de tesouraria provocadas pela não
abertura da loja, não são pagos os €15.000 devidos pela realização das obras. Quem pode ser
responsabilizado pelo pagamento da dívida?
3) Em virtude da absorvente vida profissional de Alice e de Bernardete, o seu funcionário Vasco
assume a gerência do estabelecimento. Qualifique os seguintes actos praticados por Vasco:

- Almoçou com o representante de uma marca de malas de viagem, no mesmo restaurante


onde almoçava frequentemente com os seus amigos;
- Contratou a compra de um lote de 40 malas;
- Comprou 3 expositores para a loja, tendo na mesma loja e ocasião adquirido uma estante
para o quarto do seu filho;
- Contraiu um empréstimo bancário destinado à compra de um automóvel.

1) Qualificação de atos e sujeitos. Sujeitos: Alice, a sociedade e a Bernardete.

Sujeitos
Alice
Será comerciante se preencher os requisitos do art.13.º do Código Comercial:

1. praticar atos de comércio;


2. ter capacidade (equiparação de capacidade civil – ver querela doutrinal);
3. praticar atos em nome próprio enquanto sócia gerente, ela não é comerciante, porque?
Porque os sócios, os atos que praticam, praticam os não em nome próprio, mas em nome
da sociedade que ela é gerente. Nessa qualidade não será comerciante, enquanto sócio-
gerente da sociedade.
Os atos que vai praticar, já serão atos em nome próprio, quando ela e a amiga pretendem abrir um
estabelecimento comercial.

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Exerce profissionalmente comércio – se pratica atos de comerciais reiterada e sistematicamente. Sim,
se os atos que ela pratica, forem atos objetivamente comerciais (1 critério – forem atos previstos no
Código Comercial; 2) atos previstos em lei avulsa por analogia legis; 3) analogia iuris). Se é suficiente
para estarmos presente uma prática sistemática e reiterada de atos objetivamente comerciais.

Atos

Compra de estantes
Quando se compra para revenda – art.463.º do Código Comercial – está a praticar um ato
objetivamente comercial. Foi o que Bernardete e Alice fizeram? Não. Foi comprar expositores para o
estabelecimento que pretendem abrir. Caso, fosse as malas aí já seria um ato com o intuito de revenda.

E a contratação de funcionários? – está prevista no Código de trabalho que não é uma lei
comercial, pelo princípio não é um ato objetivamente comercial.

O mesmo com as pinturas que fizeram nas paredes dos imóveis que vão instalar, não são atos
objetivamente comerciais.

Temos comerciante ou não? Depende. Se elas já estivessem a explorar, com o EC aberto ao


público, já seriam comerciantes – art.463.º do Código Comercial – comércio em sentido estrito, o
comerciante compra com o intuito de revenda. Sim, já seriam comerciantes, porque faziam do
comércio profissão e praticaram atos reiterada e sistematicamente com o intuito de revenda.

Estamos perante casos de fronteira. Entendimento na Alemanha, civil law, o comerciante não
é comerciante apenas no momento em que abre o EC ao público, art.9.º do Código Comercial.
A questão: quando é que se pode dizer que alguém faz uma prática reiterada e sistemática de
atos objetivamente comercial, apenas no momento em que abre ao público? Não, porque até aí só
abriria a porta e não vendeu nada. Não, deve entender-se, que antes desse momento, quando há já
prática de atos tendo em vista a exploração de EC, já a partir desse momento devemos considerar que
estamos perante comerciante – A e B seriam comerciantes quando praticam atos que têm em vista a
abertura de um EC, aberto ao público. Objetivamente comerciais não são, mas seriam atos
subjetivamente comerciais, porque, entretanto, já teriam adquirido a qualidade de comerciante.

Sujeitos

Sociedade

A sociedade é comercial ou não?


As pessoas coletivas serão, em princípio, comerciantes, se preencherem os requisitos do
art.13.º/2 do Código Comercial. São comerciantes, as sociedades comerciais – art.13.º/2. A sociedade
é ou não comercial? Tem de preencher que requisitos?

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Para ser sociedade comercial:

1. Tem de ser sociedade comercial. E antes demais, sociedade para ser sociedade tem que
preencher que requisitos? Art.980.º e ss. do CC - sociedade enquanto género, sócios que têm
de contribuir para a sociedade e com vista à distribuição de lucros, mas atenção que isto poderá
ser uma sociedade civil; mas para ser sociedade comercial?
2. É necessário que se verifiquem os requisitos do art.1.º n.º 2 do Código das Sociedades
Comerciais (requisito formal e requisito substancial).
1) que adote a forma comercial: sociedade em nome coletivo, (…) tem de adotar uma das
4 formas taxativamente previstas na lei! – aqui, no caso, ele afirma que a sociedade
termina como Lda., a firma das sociedades por quotas, termina obrigatoriamente em
Lda., adotou o tipo de sociedades por quotas. Mas não chega,
2) além do requisito formal tem de se verificar o requisito cumulativamente substancial, a
SC não tem se praticar atos comércio, tem de se propor a exercer atos de comércio!
Exemplo, uma SC que morra, continua a ser comercial. A finalidade de praticar atos de
comércio ainda que depois eventualmente não os pratique. Esta sociedade, propõe-se à
prática atos de comércio? Como sabemos qual é o objeto? Pela atividade que se propõe
a exercer – porque a firma “princípio da verdade” – não pode ser errónea, induzida em
erro. É mista, porque combina expressões de fantasia com a ativida de que exerce. É
uma firma de denominação – pelo princípio da verdade tem de dizer o que produz –
atividade transformadora, atividade comercial porque prevista no Código Comercial,
art.230.º, e sendo sociedade comercial, é comerciante.
É comerciante nessa medida, porque preenche o requisito formal e substancial!
Em relação aos atos!

Atos

Quais os atos? O (1) arrendamento do imóvel; (2) compra dos expositores; (3) pinturas nas paredes (4)
contratação dos funcionários; (4) a inundação – que provoca o atraso na abertura do EC porque
provocou a danificação das paredes.

Os primeiros, não comprou para revenda, não se trata de um ato previsto na lei, ou sequer
avulsa. Mas podem ser atos subjetivamente comerciais, visto que não são objetivamente comerciais?

Serão se preencherem os requisitos – qual a norma que regula estes atos? Art.2.º/2 parte do
Código Comercial. Para que ato seja considerado subjetivamente, tem de ser praticado por
comerciante. São sempre subjetivamente comerciais, a menos que estejam verificados requisitos
negativos:
1) Ser um ato exclusivamente de natureza extrapatrimonial.
2) Ora, aqui são atos patrimoniais, ainda assim não serão atos subjetivamente comerciais,
a) se resultar do próprio ato o contrário, quando o ato não tem nada a ver com a atividade
exercida pelo seu autor. São intimamente relacionados com a atividade que se pretende

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exercer, aqueles atos estão relacionados com a atividade que aquelas duas sujeitas
pretenderam exercer, seriam atos subjetivamente comerciais.

E a inundação? Saber se atos colaterais, podem ou não ser considerados atos de comércio. Há
atos ilícitos que podem e devem ser considerados atos comerciais, ex.: o abalo de um navio que é
objetivamente comercial. Ferrer Correia – atos laterais, afirmado como comercial, mas que não
devemos afirmar como ato de comercial, exemplo, tempestade.

Dívidas
Ficaram a dever 15 mil euros pelas obras e não pagaram o preço.

A e B poderão responder. Obrigação plural que tem 2 sujeitos (A e B). É uma dívida comercial?
Dívida comercial – é uma dívida que resulta de atos de comércio e estes atos são atos subjetivamente
comerciais – ora, é uma dívida comercial – regime é da solidariedade art.99.º e 100.º do Código
Comercial. Credor (pintor das paredes) pode exigir o preço a qualquer uma delas.
Só que elas são ambas casadas. Questão é, podendo responsabilizar qualquer uma delas pela
dívida, pode responsabilizar o património dos cônjuges? Trata-se da responsabilidade do património
do casal – art.1691.º/1/d Código Civil que deve ser compreendido com o art.15.º do Código Comercial.

Se esta dívida for uma dívida que responsabilize ambos os cônjuges – se for uma dívida comunicada,
dívida contraída por um dos cônjuges, mas que se comunica ao outro, ou seja, responsabiliza ambos
os cônjuges. Em primeiro lugar, respondem os bens comuns, e na falta ou insuficiência de bens comuns
para saudar a dívida, respondem os bens próprios de qualquer um dos cônjuges. Pelas dívidas
comunicadas responde todo o património do casal, não havendo qualquer tipo de subsidiariedade.

Se for uma dívida própria, exclusiva do cônjuge que praticou o ato, em primeiro lugar respondem os
bens próprios do cônjuge que praticou o ato, e em segundo lugar, a meação dos bens em comum. Já
não responde os bens próprios do cônjuge, nem a meação do outro cônjuge quanto aos bens em comum.

Para sabermos se a dívida responsabiliza ou não ambos os cônjuges, a norma que qualifica a dívida
como dívida comunicável é o art.1691.º do CC. Estas dívidas ainda que contraídas apenas por um dos
cônjuges responsabiliza ambos os cônjuges. Há uma alínea que é jus mercantil! Para certas dívidas
comerciais, ainda que praticadas por um deles, essas obrigações passam a responsabilizar ambos os
cônjuges. Como é uma dívida comercial praticada por um dos cônjuges, responsabiliza ambos os
cônjuges (todo o património do casal)?

1. Dívidas contraídas no exercício do comércio – pode desdobra-se em 2 requisitos:

1.1. Dívida que tem de ser contraída por um comerciante, porque apenas o comerciante exerce o
comércio. O cônjuge devedor tem de ser comerciante, mas isto não basta.

1.2. É preciso que a dívida seja contraída no exercício de comércio, esteja relacionada com a sua
atividade (daquele sujeito). O que poderia ser extremamente difícil de provar, é aí que vem
ajudar o art.15.º do Código Comercial (que isoladamente não faria qualquer sentido), as

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dívidas comerciais presumem-se contraídas no exercício de comércio. O credor já não tem de
demonstrar que a dívida foi contraída no exercício de comércio, o credor só tem de demonstrar
que a dívida é comercial, e a dívida é comercial se emerge de um ato de comércio.
A dívida passa a ser da responsabilidade de ambos os cônjuges.
No caso concreto, temos responsabilidade relativamente ao cônjuge das duas?

Quanto à Alice, é comerciante (devedor comerciante casado), é uma dívida contraída no exercício
do comércio? Sim, está relacionada com a atividade. É uma dívida que vai responsabilizar -
art.1691.º/1/d do CC – ambos os cônjuges, responsabiliza Alice e Artur.

Ora, depois disto, se o cônjuge da Alice quiser afastar a sua responsabilidade? Com o artigo acima
mencionado, estamos a privilegiar o credor comerciante. Justifica-se que haja uma preocupação da lei
em tutelar mais facilmente o credor, mas ao fazer isto, está se a fragilizar a família, todo o património
familiar de ambos os cônjuges. A lei veio permitir ao cônjuge do comerciante, tentar afastar a
responsabilidade do outro cônjuge, dando-lhe outras vias, tentando desta forma proteger o outro
interesse aqui em causa, o familiar.

1) Que não houve proveito comum


2) Estão casados em separados de facto
3) Ilidir a presunção do art.15

No caso, eles estão casados em regime de comunhão de bens. Não estão casados em separação
de facto. Não podem afastar a presunção do art.15.º do Código Comercial, porque resulta que a dívida
da prática de um exercício de um ato de comércio, é uma dívida comercial. Ora, apenas resta a alegação
que não houve proveito comum – é necessário averiguar, se o conjugue tem ou não proveito da
atividade comercial exercida pelo seu cônjuge: apesar de casados em comunhão de bens, “eu, em nada
benefício da atividade exercida pela minha mulher” – para isto não basta a separação de facto, não
pode haver bases comunicantes da economia de ambos os cônjuges.

Bernardete é médica. É comerciante? Será se preencher os requisitos do art.13.º do Código


Comercial. Enquanto médica, ela é comerciante? Não, porquê? Sim, se preencher requisitos do art.13.º
do Código Comercial (“São comerciantes: 1.° As pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos
de comércio, fazem deste profissão;”). Sendo médica, profissional liberal – porque é o exercício da
profissão liberal, não é atividade comercial – ela presta serviços, e a prestação de serviços é
considerada comercial pela analogia iuris, quando a prestação de serviços for exercida numa empresa.
Ela não é comerciante, porque não tem autonomia técnico funcional. Não há uma empresa, ora, não
há uma atividade comercial e também por força, do silêncio da lei (a lei em lado nenhum diz que uma
atividade de profissional liberal é uma atividade comercial). Ela não é comerciante por ser médica.

Bernardete, contudo, está a preparar a abertura de um estabelecimento comercial. Também


Bernardete será considerada comerciante: há trabalhos preparatórios de exploração de um EC, e já são
suficientes para considerá-la comerciante. O exercício de uma atividade comercial não significa que
seja a única atividade exercida profissionalmente pelo sujeito, e nem tem de ser a principal atividade
que este sujeito pratique. Ora, não impede que Bernardete por ser médica, impeça que seja

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comerciante, mesmo que exerça essa atividade a título residual. O importante é a prática reiterada e
sistemática de atos objetivamente comerciais.

Pode também se responsabilizar a dívida ao cônjuge de Bernardete (são separados de facto há


10 anos). Pode ou não o credor exigir o pagamento daquela dívida (que já consideramos com o
comercial, por ser praticada por comerciante num ato comercial) aos dois? Art.1691.º/1/d do CC –
temos de ver se é ou não uma dívida “comunicada” ao cônjuge de Bernardete.

1) Ser praticada por um dos cônjuges, que é comerciante.


2) Ser uma dívida contraída no exercício de atividade comercial (presunção do 15.º
Código Comercial).
3) Conjugue poderá afastar a sua responsabilidade:
1. Estarem casados em regime de separação de bens;
2. Ser de afastada a presunção do art.15.º. A dívida até poderia ser comercial,
mas nada teria a ver com a atividade que esta se propõe a exercer. Não é
verdade, está totalmente relacionada com a atividade;
3. Alegar que não há proveito comum – ele vem dizer que está separado dela a
10 anos. Credor: eles continuam casados, e no momento em que dissolver em
o casamento, ele vai beneficiar da riqueza gerada por ela, aquele património é
um património comum, e ele vai beneficiar da sua riqueza. Aqui, há sempre
proveito comum, que até pode vir acontecer apenas mais à frente (na partilha),
mas ainda assim ele irá beneficiar. Mas isto é irrazoável! O direito tem de
conduzir a soluções razoáveis, bom senso, equivalência de direito à justiça –
Parecer que Dr. Lobo Xavier deu: só se pode afastar proveito comum, quando
haja separação total de economias. Apesar de separados de facto, o cônjuge
pode estar a contribuir para pagar a renda da casa, ou a pagar-lhe uma pensão,
ou ajudá-lo a substituir (aí há proveito comum!), mas se ele está totalmente de
economia separada, aí já se poderá afirmar que não há proveito comum.

Aula Prática: 06.12.2018

3) Em virtude da absorvente vida profissional de Alice e de Bernardete, o seu funcionário Vasco


assume a gerência do estabelecimento. Qualifique os seguintes actos praticados por Vasco:

- Almoçou com o representante de uma marca de malas de viagem, no mesmo restaurante


onde almoçava frequentemente com os seus amigos;
- Contratou a compra de um lote de 40 malas;
- Comprou 3 expositores para a loja, tendo na mesma loja e ocasião adquirido uma estante
para o quarto do seu filho;
- Contraiu um empréstimo bancário destinado à compra de um automóvel.

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Vasco pratica atos que poderão ser subjetivamente comerciais pelas qualidades que ele tem em si,
mas por conta de Alice e Bernardete. Os colaboradores, não são comerciantes, mas atos podem ser
subjetivamente, por serem atos praticados por ser em nome de A e B.

Ser ato de natureza patrimonial, se resultar daquele ato o contrário, que nada tem haver com a sua
atividade comercial. É um almoço que costuma ir com particulares.
Qual o requisito que afasta a comercialidade? E como se afasta esse requisito?
1. O ato a princípio praticado pelo comercial será comercial.
2. Sendo ainda um ato de natureza patrimonial: que está conexionado com a atividade (logo,
comercial); que não está conexionado com a atividade (não é comercial); nada resultar.
Como vamos chegar a esta conclusão? Teoria da impressão do Homem Médio. O Homem Médio
colocado na posição de Destinatário, chegaria a que conclusão? O facto de ir “ali com amigos”, seria
um amigo, por exemplo, para o dono de restaurante que já o conhecia há alguns anos; mas para o
Homem Médio, talvez, não resultaria nada. Ato é subjetivamente comercial, só não é se resultar
inequivocamente o contrário que não está relacionado com a atividade daquele sujeito!

Ele comprou lote de 40 malas: objetivo de revenda – será sempre objetivamente comercial para o
Homem Médio resultar sempre que este ato está relacionado com o exercício da sua atividade.
Exemplo, ninguém compra 40 malas para a mulher.

Compra dos três expositores: compra é um ato objetivamente comercial quando é feita com intuito
de revenda, logo, não é objetivamente comercial. Subjetivamente comercial: sim, porque esta compra
estaria relacionada com a sua atividade comercial. A questão é que se ele nada disser o Homem Médio
poderá dizer que ou “não sei”, ou é “para uso da empresa”, isto faz com que o ato seja comercial.

O critério é do Homem Médio colocado naquele circunstancialismo, no momento da prática do


ato: ele pode achar que está relacionado; ou não está relacionado; ou nada resultar.

Quando é que empréstimo é comercial? Artigo 394.º do Código Comercial – ato acessoriamente
comercial, quando se destina a prática de um ato mercantil. Este empréstimo destinou-se a compra de
automóvel, poderá ser subjetivamente comercial, para se tornar empréstimo comercial.
Compra de automóvel é comercial ou não? Não compra para revenda, que não está relacionado
com a própria atividade. É ou não, ainda assim comercial? É porque todas as operações bancárias estão
previstas expressamente no Código Comercial (logo, é ato objetivamente comercial).

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CASO PRÁTICO N.º 5

Ambrósio é proprietário da "Roque & Role", uma loja de venda de discos situada no centro do
Porto que funciona num prédio arrendado a Casimiro. Graças aos contactos privilegiados que
Ambrósio mantém com diversos distribuidores discográficos, e que lhe permitem ter em
primeira mão as novidades musicais de pop-rock, o seu negócio vai de vento em popa, de tal
forma que acaba por vendê-lo a Barata por €125.000. No contrato apenas se diz que o
estabelecimento é transmitido "com todo o património, activo e passivo".

1) Dias após a celebração do contrato, Barata telefona a Ambrósio com vista a combinar um dia
para procederem às formalidades relativas à transferência da firma ("Ambrósio Roque, discos
e cassetes"), e para que este o apresente pessoalmente a alguns distribuidores de discos.
Ambrósio recusa-se, dizendo que não queria nem era obrigado a transmitir a firma e que só
apresentava os seus conhecidos a quem quisesse. Quid Juris?

2) Dois meses após Barata ter tomado posse do estabelecimento, recebe uma carta de Casimiro
em que este lhe comunica a intenção de o despejar. Invoca, para o efeito, os seguintes
fundamentos:

- Apesar de ter já por duas vezes aceite o pagamento da renda por Barata, Casimiro não foi
devidamente notificado do trespasse do estabelecimento, o que o impediu de exercer (como
alegadamente pretendia) a preferência legal que a lei lhe atribui;

- O trespasse não acarretou a transferência de todos os bens que compunham o estabelecimento,


tendo Ambrósio ficado para si com um gira-discos, as colunas de som e um disco autografado de
Elvis Presley (que desde sempre decorava a loja e que se tornara mesmo na sua imagem de
marca, aparecendo como imagem de fundo na publicidade incluída em jornais da especialidade);

- Sendo Barata um grande apreciador e especialista de música punk / hardcore (género que
Ambrósio praticamente não vendia) a clientela do estabelecimento alterou-se substancialmente
desde o trespasse, sendo frequentes as queixas dos outros inquilinos do prédio.
Serão estes argumentos procedentes?
3) Cerca de seis meses depois do trespasse, Ambrósio resolve retomar a actividade
profissional e abre uma nova loja de discos em Valongo. Ao saber disso, Barata procura saber
se pode ou não impedir Ambrósio de realizar esse propósito, e quais os meios legais ao seu dispor
para o efeito. Qual é a sua opinião? A resposta seria a mesma no caso de a proprietária do novo
estabelecimento ser Dora, com quem este é casado em regime de separação de bens, ou a sua
filha Ester? E se a nova loja de Ambrósio se dedicasse exclusivamente à venda de discos de jazz
e música clássica?
Haverá uma questão destas no exame.
Contextualizar.

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Transmissão definitiva da empresa ou transmissão da propriedade de empresa – CA. Trespasse,
podem ser várias figuras negociais que podem traduzir-se no trespasse. Neste caso, foi uma compra e
venda. Temos sempre de identificar se se trata de trespasse ou locação temporária.

Âmbito de negociação da empresa e âmbito de entrega de empresa.


Depois, estamos a falar do modo de como os elementos devem ser entregues.

Âmbito
Podemos identificar vários níveis. A Firma faz parte do âmbito convencional ao máximo (DL
129/98) = só se transmite havendo uma cláusula expressa nesse sentido. Para haver transmissão da
firma, só é possível havendo trespasse (havendo transmissão de empresa), mas não chega, é necessário
acordo entre adquirente e transmitente, e mais que isso, a firma passa a ser diferente porque tem de ser
aditado o nome do adquirente.
Tem B razão adquirente da empresa, exigir que A a firma? Não, não houve convenção.

Quanto aos distribuidores? Pode exigir que A o apresente, aos distribuidores, aos clientes?
Pode! Modo de entrega. O trespassante/vendedor tem de entregar a empresa, não apenas os elementos,
mas todos os valores de organização e exploração, valores suis generis que resultam da empresa.
Obrigações de dare, de facere e non facere – assegurar na pessoa do adquirente, os tais valores
específicos. Avisar que agora “o dono desta empresa não sou eu, é B” e ele tem obrigação de fazer
essa apresentação seja a montante, seja a jusante, seja a distribuidores e fornecedores, seja a clientes.
Quid iuris se não o fizer. Regras gerais das obrigações: pode conduzir a resolução do contrato
(com indeminização associada) por B, ou manter o contrato e pedir apenas uma indemnização pelo
incumprimento daqueles pressupostos de obrigação por parte do trespassante.

Senhorio C pretende despejar B, alegando duas coisas: não foi notificado do trespasse e que
não foi permitido exercer a preferência no trespasse, pretendia obter o despejo do contrato arrendado.
Ele não foi notificado para a preferência, e quer agora despejar, proceder à resolução do contrato de
arrendamento. Ele tem de ser notificado, mas não é causa para despejo. Apenas permite exercer a
preferência a partir do momento que tenha conhecimento dos elementos essenciais para o negócio
(para o STJ: 1. Saber nome do inquilino; 2. Preço; 3. Comunicar as condições essenciais, ou seja,
condições de pagamento) tem prazo de 6 meses para interpor esta ação de preferência. Ele tem apenas
um prazo para aceder a essa preferência que não lhe foi prestada. Obviamente que não tem razão.
Não tendo sido notificado do trespasse, quer nesse caso despejar.

Imaginemos que ele foi notificado para exercer trespasse: art.416.º CC, tem oito dias para
preferir ou não. Se nada disser (em regra, o silêncio não tem valor declarativo, a menos que a lei diga
que tem, que é o caso, é uma exceção) equivale a dizer que ele não quer preferir.

Cedência de posição de arrendatário. Ele não tem de ser notificado do trespasse. Passou de ser
x o inquilino. Ao senhorio não tem de ser comunicado o trespasse, tem de ser comunicada a cedência

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da posição do arrendatário, para o qual não é necessário o consentimento dele, caso do art.1112.º CC
– havendo trespasse. A única forma que tem de se opor é exercendo a preferência.
Se ele não exercer, tem de lhe ser comunicada a cedência de posição de arrendatário que resulta
do trespasse (norma excecional, deve ser aplicada ao caso de trespasse – 30 dias – que é a norma do
prazo para a locação temporária art.1109.º CC. Castanheira Neves e Batista Machado – vale tanto
quanto a regra de Justiniano que proibia a interpretação das normas – regra do CC que proíbe a
aplicação analógica das normas excecionais (art.11.º CC). As normas excecionais, podem e devem ser
aplicadas analogicamente no âmbito da sua excecionalidade.
Isto significa que o art.1109.º do CC, que é claramente um caso excecional que é a transmissão
temporário, também se deve aplicar analogicamente à hipótese do art.1112.º CC do trespasse, e não só
à locação. Esta comunicação que tem de ser feita ao senhorio é de 30 dias que é uma norma aplicada
analogicamente.
No art.1038.º/1/g CC – regra geral do CC é de 15 dias.
Como no trespasse não existe norma, deve aplicar-se a norma excecional!

Ele não tem de ser notificado, tem de ser comunicada a cedência da posição do arrendatário,
no prazo de 30 dias, à cautela 15 dias. Se ninguém lhe comunicou, pode ou não despejar? Art.1083.º
CC fundamentos de despejo, alínea e), esta cedência é ineficaz, e sendo ineficaz é causa de despejo.
A comunicação não tempestiva era fundamento de despejo e fundamento de resolução do
contrato de arrendamento. Contudo, agora, por ser um regime muito agressivo, veio-se a aproximar
isto, do regime da manutenção da relação contratual de trabalho ao acrescentar o requisito de tornar
exigível a manutenção da relação.

Já recebeu o pagamento de duas rendas, já reconheceu o inquilino, art.1049.º CC – não é


possível resolução do contrato de arrendamento, se o senhorio tiver reconhecido o seu novo inquilino
com o recebimento da renda.
Nenhum dos argumentos invocados pelo senhorio permitiria, aqui, o despejo.

Elementos porque não foram transmitidos, não houve trespasse, e quererá despejar com
fundamento nisto. O que importa é qualificar o problema e os quadros gerais que permitem resolvê-lo
e só depois descer ao caso concreto. A questão é do âmbito de entrega, saber se foram transmitidos os
elementos absolutamente necessários para haver trespasse (âmbito mínimo de entrega).

Art.1112/1/a CC - não há trespasse, não houve transmissão de empresa (passa a aplicar-se o regime
geral, passa a ser necessário o consentimento para a posição do arrendatário e não se aplica o seu
regime excecional, passa a ser necessário o consentimento não para haver transmissão da empresa,
mas para a transmissão da posição do arrendatário).

Âmbito mínimo: não é pelo facto de se não se transmitir todos os elementos que afeta a
existência de trespasse, exemplo da vassoura. Não há critério geral. Do âmbito mínimo depende
sempre de uma análise casuística: aqueles elementos que eram sempre essenciais para o aparecimento
daquela empresa aos olhos do público.

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Âmbito mínimo tendencialmente de Orlando Carvalho – âmbito reduzido, e é tanto mais
reduzido quanto mais tempo esta “aberto”, exemplo, se não for transmitido funcionário X ou Y não há
problema, mas se não for transmitida a marca, já não há trespasse, exemplo, Mac Donald´s.

Não havendo âmbito mínimo, deixa de se aplicar o art.1112.º CC. É necessário a autorização
para a cedência da posição de arrendatário.

No caso concreto, um gira disco, fará parte ou não do âmbito mínimo? Dificilmente deixará de
ser a mesma empresa, se retirar o gira disco.

Elementos intangíveis, são muitas vezes aqueles fundamentos distintivos. Quase nunca são
elementos tangíveis que pertencem ao âmbito mínimo de transmissão da empresa. Exemplo, marca, o
modo de produção.

Pode ou não senhorio despejar o B? 1112.º/2/b CC - também não há trespasse (era necessário
consentimento do senhorio para a cedência de posição do arrendatário). Se mudar o ramo de atividade
– são meros indícios, meros sinais de que não houve transmissão da empresa, Art.1112.º, segundo
Orlando Carvalho, são índices tendências – índice semiótico. Só por si não basta afirmar para dizer
que não há trespasse. Há apenas indício de que as partes não quiseram trespasse.

Problema: art.1112.º/5 CC - legislador veio consagrar que, se o adquirente mudar de ramo, será
uma causa de despejo. Proíbe, agora, mesmo que lá diga que poderia ser qualquer ramo de atividade.

E no caso, se mudasse? Seria despejado, mas no caso ele apenas se limitou a mudar o tipo de
música que passava.

Modo de entrega de Estabelecimento Comercial: o modo como tem de ser feito para assegurar
que se radica no adquirente da empresa, as características suis generis da empresa transmitida.

Quanto tempo? Violado limite temporal.


Limite espacial: critério âmbito de irradiação da empresa – temos de saber qual o âmbito de irradiação.
Se este fosse o circunstancialismo concreto e abrir em Valongo estaria a desviar clientela. O que pode
o adquirente da empresa fazer? Obrigação acessória do trespasse, atribuir direito do próprio trespasse.

Aula Prática: 12.12.2018


CASO PRÁTICO N.º 9

1) A sociedade comercial “Zénon Transportes, Lda.” deve 1500€ a Xavier, em consequência de


um curso de informática que este deu aos seus funcionários. Para satisfação desta dívida, a
sociedade (representada pelo seu gerente Vasco) sacou uma letra sobre Ulisses, que lhe uma
quantia idêntica. Todavia Vasco equivocou-se no momento em que preencheu a letra, tendo-a
sacado pela quantia de 2500€. Posteriormente, Xavier endossou a letra a Teodoro,
desconhecedor das relações entre os outros sujeitos cambiários e que dois dias antes do
vencimento a apresentou a aceite. Tendo este sido recusado por Ulisses, Teodoro procura-o para
saber de quem, e em que termos, pode exigir o pagamento.

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Direito Comercial - FDUP
U ← Sociedade → X → T

T pode exigir o pagamento da letra se for o legítimo portador (se provar a sua posse por uma série
ininterrupta de endossos). T é o legítimo portador da letra porque justifica a sua posse por uma série
ininterrupta de endossos. Na data do vencimento, T pode exigir o pagamento a U, o sacado. Se U não
pagar terá que fazer o protesto (em quatro dias úteis) e depois pode exigir o pagamento a qualquer
obrigado cambiário, sendo que a responsabilidade é solidária. Acontece que houve um erro no
preenchimento da letra.
Pode o X, a Sociedade ou U opor isso a T?

Não, porque entre T e a Sociedade estamos no âmbito de uma relação mediata, e T é um


portador de boa fé, logo não lhe podem ser oponíveis exceções causais ou extra-cartulares.
X tem que pagar?

Sim. Pagando, deve exigir a entrega do título. X pode exigir o pagamento do título a todos os
que estão atrás dele na cadeia cambiária. Não pode exigir aos que estão à sua frente porque são os seus
credores, mas pode exigir aos que estão atrás, que são seus devedores.
Quanto é que pode exigir a U?

A relação entre U e X é uma relação mediata, não há uma relação direta. U só pode opor a X
as exceções em que, estando no âmbito das relações mediatas, haja a consciência de prejudicar U. Aqui
não parece haver. Mas relativamente à sociedade a questão já é muito diferente. X sabe que só é credor
de 1500 euros. A sociedade só tem que pagar 1500 a X. Estamos no âmbito das relações imediatas,
logo já são oponíveis as exceções causais.

2) Como forma de satisfazer créditos e débitos recíprocos resultantes das suas sessões de poker,
Silva, Rocha e Queirós resolvem emitir uma letra de câmbio no valor de 2000€, sacada pelo
primeiro sobre o segundo (que logo a aceita) à ordem do terceiro. Queirós endossa
posteriormente a letra a Paula, uma jovem de 17 anos com quem mantinha uma relação
extramatrimonial, perante a ameaça formulada por esta de contar o “caso” à sua mulher. Paula,
por sua vez, endossa a letra a Olegário, dono de uma loja de pronto-a-vestir e parceiro ocasional
daquelas sessões de poker. De quem pode Olegário exigir o pagamento?

R←S→Q→P→O

O portador legítimo (O) deve exigir o pagamento, em primeira linha, ao aceitante (R). Se este não
pagar, deve depois fazer protesto, no prazo de 4 dias úteis, podendo responsabilizar solidariamente
qualquer um dos restantes obrigados cambiários.
Estamos no âmbito de relações mediatas, logo em princípio não são oponíveis as relações causais (o
facto de ser uma dívida de jogo, logo uma obrigação natural, não é oponível a O). Mas estas exceções
só não são oponíveis ao portador mediato de boa fé.

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O está de boa fé?

Se ele conhecer a situação, se ele souber que se trata de uma letra para pagar uma dívida de
jogo, ele não está de boa fé. Mas será que é assim? No art. 17º, a boa fé prende-se com a atuação
dolosa, com a atuação consciente em detrimento do devedor. A boa fé intermédia sana a má fé do atual
portador. Uma vez que P está de boa fé, R teria que pagar-lhe a letra, logo não se está a prejudicar o
devedor, uma vez que ele teria que pagar de qualquer das formas. Não podemos dizer que O é um
portador de má fé. Ele até pode conhecer, mas não podemos dizer aqui que está a agir conscientemente
em detrimento de R, porque este teria que pagar de qualquer das formas a P.
E pode O exigir o pagamento a P?

Sim. Se P paga a letra a O deve exigir a devolução da letra, passando a ser o legítimo portador.
Recebendo a letra, P tem que “riscar” os endossos posteriores.
P pode exigir o pagamento a Q?

Estamos no âmbito das relações imediatas, logo já são oponíveis todas as exceções que
poderiam ser oponíveis na relação causal. Q foi vítima de coação moral, logo poderia invocar esta
exceção.

3) Guilherme aceita uma letra de câmbio no valor de 5000€, sacada por Filomena à ordem de
Elizabete, como pagamento de uns tecidos adquiridos à primeira. O aceite é avalizado por Hugo,
um advogado amigo de Guilherme. A letra é posteriormente endossada por Elizabete a Daniel,
um carpinteiro que conhece bem todos os anteriores obrigados cambiários, sabendo bem (ao
contrário daquela) que os tecidos comprados por Guilherme a Filomena nunca tinham sido
entregues. Daniel procura-o(a) hoje, para saber de quem pode exigir o pagamento da letra. O
que lhe responderia, sabendo que a mesma se venceu há precisamente uma semana? E se tivesse
vencido anteontem?

G←F→E→D

Temos aqui a exceção de não cumprimento. Se estivéssemos no âmbito da relação causal, G


não teria que pagar a dívida, poderia excecionar o não cumprimento. Estamos no âmbito das relações
cambiárias, logo as exceções causais não são oponíveis ao portador mediato de boa fé (o portador que
não agiu com dolo).
Pode D exigir o pagamento?

D conhece a exceção, sabe que os tecidos nunca foram entregues. É portador de má fé? A má
fé aqui não é o mero conhecimento, é preciso que haja um comportamento doloso no sentido de
prejudicar conscientemente o devedor. Temos que haver se há boa fé intermédia, porque se assim for
nunca podemos dizer que D está de má fé.

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Vamos supor que há uma boa fé intermédia. Mas já passou uma semana do vencimento. Pode
D exigir o pagamento a todos os obrigados? Tem que fazer o protesto no prazo de 4 dias úteis, mas já
passou uma semana, logo já não pode fazer o protesto – perdeu o direito de ação contra todos exceto
o aceitante e o avalista do aceitante.

Se se tivesse vencido ontem, ele teria que fazer o protesto, e depois poderia exigir o pagamento
de todos os obrigados cambiários.

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