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GUARAPUAVA
2019
SILVESTRE FRANCISCO GRANDAL COELHO SAVINO JUNIOR
GUARAPUAVA
2019
Resumo:
O seguinte trabalho, busca uma possível semelhança entre o Nada de Parmênides e o Nada
de Martim Heidegger, analisando-os, e buscando uma possível semelhança. Parmênides,
grande filósofo pré-socrático, trata do problema do nada, tendo como base em seus
fragmentos do seu livro “Da Natureza”. Pesquisaremos a sua concepção de ser e de não-ser,
para sabermos como ele trada da questão. Quando ao Nada em Heidegger, iremos analisar
o que este é, como ele se desvela na angustia, e como a sua força nadificadora nadifica o
ente, e o suspende, revelando-se como um critério de possibilidade de implicar o ser-aí, e
assim superar o mal da modernidade, a crise do Sentido, que acaba por levar o homem ao
niilismo.
1-INTRODUÇÃO...........................................................................................1
2- O NADA DE PARMÊNIDES.....................................................................2
3- O NADA DE HEIDEGGER........................................................................5
4- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................16
5- REFERÊNCIAS.........................................................................................17
1
1. INTRODUÇÃO
opinião, e do mundo das coisas e dos sentidos, é o caminho do não ser, pois o que
não é não existe, não pode ser pensado nem, portanto, dito, sendo este um caminho
ilusório. E quanto ao conhecimento, não pode haver do que não seja, que
consequentemente não seja conhecimento, como exposto abaixo:
Neste fragmento também podemos ver as três grandes regras da lógica, que
Aristóteles irá formular como as fundamentais, que são a de identidade, de não
contradição e do terceiro excluído, como exposto abaixo:
1- Princípio de Identidade: A é A;
2- Princípio de não contradição: é impossível A é A e não-A ao mesmo tempo;
3- Princípio do terceiro excluído: A é x ou não-x, não há terceira possibilidade.
Tais regras, que são o fundamento da lógica até hoje, serão mais tarde base
do silogismo aristotélico, utilizado como uma ferramenta lógica para analisar se os
argumentos, utilizados nas premissas e a coerência de sua conclusão.
Para Parmênides, há identidade entre dizer e pensar, e que este último é quem
nos leva a possibilidade de pensar o ser, porém, pensar no nada leva ao caminho do
que não-ser, porque não pode nem ser pensado e nem dito. O nada, para o autor, tem
identidade com o não-ser, e acaba recebendo toda a carga ontológica negativa deste.
Este nada, assim como o não ser, é inacessível, já que não é, e sendo assim nunca
pode ser nem pensado nem falado, por isso torna-se objeto inexistente e indisponível
para o pensamento. Segundo Samuel Gonçalves Garrido3, o pré-socratico “pode ser
Há também, neste fragmento, a questão das três vias, sendo a via do ser, que
a via da razão, a do não ser que leva ao nada, e a terceira que é a via que os dois
caminhos são tratados como o mesmo, ao qual a deusa pede para que o jovem
também se afaste. Porque, segundo ele, os não sábios encontram-se atordoados por
acreditam que os dois sejam o mesmo, estão confiando no que não é possível, e
segundo o as regras lógicas, já comentadas, não há a possibilidade de um terceiro
caminho em que os dois são o mesmo. Somente quem tem a capacidade de refletir,
com auxílio da razão, sobre os dois, e conhece que o caminho do ser é contrário ao
do não-ser, pode, de forma acertada, saber qual é o caminho confiável a se seguir.
Quanto ao nada, ele tem identidade com o não-ser, e acaba recebendo toda a
carga ontológica negativa deste. Para o autor, há impossibilidade de qualquer forma
de existência dele, porque não se pode falar, logo nem na linguagem deve existir, nem
pensar, pois já que há identidade entre ser e pensar, não se pode pensar sobre o que
não é, pois:
4 Ibidem, p. 8.
5 PARMÊNIDES, 2009. Pag. 21.
5
Já que o não-ser é nada, e deste nada pode ser gerado, é terra inócua,
sem vida.6
7 Conforme Paulo Warschauer (WARSCHAUER, 2011, p.12), “O homem a princípio se lhe apresenta
como Da-sein, ou seja o ser-ai. ‘Sein’ significa ‘ser’ e ‘Da’ significa ‘lá’ como também pode significar
‘aqui’ ou seja, no uso coloquial alemão, traduz a noção de ‘estar aqui, presente, disponível, existente’”
(apud INWOOD, 1999, p. 42), mas por ser um significado coloquial não atinge a profundidade do
termo heideggeriano, sendo assim, o autor enumera oito termos apartir da obra O Conceito de
Tempo, sendo que o último, que achamos mais conveniente para a questão do nada é: “O Dasein
se relaciona consigo mesmo não por meio de um contemplar-se, mas pelo ‘ser algo’ (es sein)” (apud
HEIDEGGER, 1997, p.21). [...] o Dasein não se mostra e não é acessível a seu próprio olhar.
Normalmente se considera a si mesmo naquilo que faz e sem refletir. Mesmo quando se volta a
considerar a si mesmo, o faz por via de reflexão carregada das concepções daquele ‘se’ impessoal
obtido pelo ser-com-os-outros, pelo falar do cotidiano e pelo lidar com o mundo.”
8 HEIDEGGER, 1983, p.35.
7
9 Ibidem, p. 36.
8
“deve ser apenas o ente e mais – nada; somente o ente além dele – nada; unicamente
o ente e além disso – nada.” 10 Portanto, o campo científico, de modo geral, se
apresenta como investigação daquilo que é em contraposição determinada pelo que
não é, ente e nada surgem como elementos distintos e irreconciliáveis
As ciências definem-se a si mesmas ao dirigirem-se ao ente. Porém,
inadvertidamente, para se definir, usa a palavra “nada”. Será que esse nada é
simplesmente um uso de palavra, ou, por trás, há aí uma designação de fato?
A ciência nada quer saber do nada. Mas não é menos certo também
que, justamente, ali, onde ela procura expressar sua própria essência,
ela recorre ao nada. Aquilo que ela rejeita ela leva em consideração.
Que essência ambivalente se revela ali?11
10 Ibidem, p. 36.
11 Ibidem, p. 36.
12 Ibidem, p. 37.
9
13 Ibidem, p. 38.
10
Nessa busca pelo nada do que seja ente, dessa experiência fundamental do
nada, o autor discorre sobre a limitação de compreendermos a totalidade do ente em
si, mesmo que nós estejamos postados em meio ao ente.
O Ser-aí está preso a um domínio de entes determinados. Há uma espécie de
abandono de si, onde o homem, ao empreender uma busca para compreender o ente
14 Ibidem, p. 38.
15 Ibidem, p. 38.
11
3.2. ANGUSTIA
16 Ibidem, p. 38.
17 Ibidem, p. 39.
12
não apenas tem o caráter de indeterminação, com respeito a algo que venha a nos
angustiar, mas a essencial impossibilidade de determinação, porque:
O nada presente nessa angustia não é nem a destruição do ente, nem tem
origem de uma negação. A rejeição, que afasta o ente na angústia é “um remeter (que
faz fugir) ao ente em sua totalidade que desaparece”. Assim, o nada é essencialmente
nadificante, já que a essência do nada é a nadificação, que conduz o ser-aí para o
vazio, o que se dá por meio daquele sentimento da angústia.
O ser-aí, na angustia, se vê desligado, suspenso, de toda a relação com o ente,
na medida em que está no nada do que é ente. E por isso, nessa situação, o ser-aí
tem a revelação do ente enquanto tal para o ser-aí, pois: “se o Ser-aí não estivesse
18 Ibidem, p. 40.
19 Ibidem, p. 40.
20 Ibidem, p. 40.
21 Ibidem, p. 41.
13
suspenso no previamente dentro do nada, ele jamais poderia entrar em relação com
o ente e, portanto, também não consigo mesmo” 22
O autor considera que mesmo quando nos dirigimos e nos ocupamos com o
ente, de fato, é nosso conhecimento prévio do nada que nos faz fugir do nada em
direção ao ente. Por um lado, ao voltamo-nos para o ente nos afastamos ainda mais
do nada. Mas por outro lado, ainda que com ambiguidade, e esse afastar-se em mais
estamos suspensos no nada, pois o nada nunca para de nadificar, sendo assim: “Ele,
o nada em seu nadificar, nos remete justamente para o ente. O nada nadifica
ininterruptamente sem que nós propriamente saibamos algo desta nadificação pelo
conhecimento no qual nos movemos cotidianamente.” 23
Não existe uma oposição entre o ente e o nada, porque este se revela como
pertencente ao ser do ente, porém, para que se manifeste é necessário o critério de
possibilidade do ser-aí suspenso dentro do nada devido à própria relação do ser com
o ente.
Esta “suspensão do ser-aí no nada originário pela angustia escondida
transforma o homem no lugar-tenete do nada,”24 pois nossa finitude não nos deixa
chegar diante do nada por vontade própria, e a “finitização escava as raízes do ser-aí
que a mais genui e profunda finitude escapaà nossa liberdade.”25
Mas será que este nada, ao qual o ser-aí está suspenso, e que só se desvela
na angustia, não seria um sinal de um niilismo, pois, segundo o filósofo Henrique
Cláudio de Lima Vaz26, a modernidade vive uma crise acerca da noção de Sentido, e
a lógica dessa é o reflexo do que vivemos na contemporaneidade, um período de
violência e de morte, o que pode nos parecer angustiante, e ela é fruto de uma
liberdade, que:
22 Ibidem, p. 41.
23 Ibidem, p, 41.
24 Ibidem, p. 42.
25 Ibidem, p. 42.
26 VAZ, 1994.
14
27 Ibidem, p. 13.
28 Ibidem, p. 13.
15
Essa angustia que manifesta o nada nadificante é, na realidade uma forma de superar
o niilismo a que se encontra a sociedade moderna. Warschauer ainda defende que,
segundo Heidegger, seria justamente por esta via, da nidificação:
Mas onde é que reside mesmo e opera o Niilismo? Lá, onde se aferra
e agarra ao ente corriqueiro e se pensa que basta, como se tem feito
até agora, tomar o ente assim como tem sido. Desse modo, porém, se
repele a questão do Ser e se trata o Ser como um Nihil, um Nada, o
que sem dúvida de certo modo, ele também é, enquanto se
essencializa. Ocupar-se e afanar-se tão só do ente, esquecendo o Ser,
eis o Niilismo. É esse Niilismo, que Nietzsche expôs no primeiro livro
da “Vontade de Potência”.
Agora, na questão do Ser chegar expressamente até às raias do Nada
e incluí-lo na investigação do Ser é, ao contrário, o primeiro e único
passo fecundo para uma verdadeira superação do Niilismo. 31
O nada não é nem um objeto nem um ente. O nada não acontece nem
para si mesmo nem ao lado do ente ao qual, por assim dizer, aderiria.
29 WARSCHAUER, 2011, p. 3.
30 Ibidem, p. 22.
31 Ibidem, p. 22, apud. HEIDEGGER, 1966, p. 291.
16
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Após as leituras dos textos, que são a base deste, consideramos que o nada
parmenidiano não se relaciona em nada com o Nada de Heidegger, porque ele possui
identidade com o não-ser, que segundo o filosofo de Eléia não é, e por causa de sua
regra de não contradição, não pode ser relacionado com o. Este nada, ao qual nada
surge, é o reflexo do não-ser, que é o caminho do movimento das coisas, das opiniões,
e que, para o autor, nem deve ser pensado, nem dito, pois ao fazê-lo estaríamos
precisamente na angustia, pois assim está fora de se render aos critérios da lógica,
ao qual a ciência, que dele sempre fala, mas dele não faz questão de saber.
nadificadora para envolver, e suspender o ente, não como a totalidade do ente, mas
o ser-aí, que com essa força natificante, que serve como critério de possibilidade,
4. REFERÊNCIAS
GARRIDO, S. G.. Reflexões sobre o nada e o não ser. 2017. 65 f. Trabalho de Conclusão de
em: <http://bdm.unb.br/bitstream/10483/20539/1/2017_SamuelGoncalvesGarrido_tcc.pdf>
VAZ, H. C. de Lima. Sentido e não sentido na crise da modernidade. In Sístese Nova Fase,
Belo Horizonte, v.21, n°. 64, jan-mar, (1994):p. 5-14. Disponível em:
maio de 2019.
<https://www.academia.edu/36839216/HEIDEGGER_E_O_NADA_A_nadifica%C3%A7%C3
2019.