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Universidade Politécnica de Nampula

A Politécnica
(ESEUNA)

Licenciatura em Psicologia Clínica

A Dor como Problema Central dos Transtornos Psicofisiológicos

Nampula, Março de 2020

1
Discente
:
➢ Dilara Ramos
➢ Faniqueze Come
➢ Zaitina Lovado

A Dor como Problema Central dos Transtornos Psicofisiológicos

Trabalho de
investigação da
cadeira de Psicologia
da Saúde, V semestre.
Leccionado pelo
docente: Celiano
Manuel

2
Nampula,
Março de
2020

3
Índice
Introdução........................................................................................................................................4
Definição de Dor..............................................................................................................................5
Classificação da Dor por seu Mecanismo Fisiopatológico..............................................................5
Padrões e Tipos de Dor................................................................................................................5
Transtornos Psicofisiológicos Associados à Problemas Emocionais..............................................6
Avaliação Psicológica da Pessoa com Dor......................................................................................7
Ausência Congénita de Dor.............................................................................................................8
Conclusão........................................................................................................................................9
Referências bibliográficas ............................................................................................................10
Introdução
O presente trabalho tem como tema “A dor como problema central dos transtornos
psicofisiológicos”.
A dor, ou sensação dolorosa, pode ser percebida em qualquer parte do corpo, em maior ou menor
intensidade. E é reportada nesta fase como algesia, que significa sensibilidade a dor.
As fibras nervosas que estão envolvidas na percepção e transmissão de estímulos dolorosos,
chamam- se nociceptores, elas são terminações nervosas livres, ramificadas e não mielinizadas,
que sinalizam quando o corpo está sendo lesionado ou corre risco de lesão.

O trabalho está organizado em 4 partes (introdução, desenvolvimento, conclusão e


bibliografia). De seguida teremos o desenvolvimento aonde estará o tema acima mencionado.
Após de desenvolvido o tema estará apresentada uma breve conclusão do trabalho e o nosso
ponto de vista. E para terminar terá a bibliografia que conterá os sites e livros aonde a realização
do trabalho foi baseada.
A metodologia de trabalho usada neste breve trabalho foram pesquisas em sites e buscas em
manuais que se podem conferir na bibliografia.
Objectivo específico:
• perceber o impacto da dor nos transtornos psicofisiológicos.

Objectivo geral:
• compreender como é possível fazer o tratamento e prevenção da de
transtornos relacionados com a dor.
Definição de Dor
De acordo com a International Association for the Study of Pain (IASP), dor é uma sensação ou
experiência emocional desagradável, associada com dano tecidual real ou potencial, ou descrito
nos termos de tal dano, sendo assim a dor é sempre subjectiva e pessoal.
A severidade da dor não é directamente proporcional à quantidade de tecido lesado e muitos
factores podem influenciar a percepção deste sintoma: fadiga, depressão, raiva, medo/ ansiedade,
doença, sentimentos de falta de esperança e amparo.
Cecily Saunders introduziu o conceito de “Dor Total”, constituída por vários componentes:
físico, mental, social e espiritual.
Pacientes com doença avançada se deparam com muitas perdas; perda da normalidade, da
saúde, de potencial de futuro. A dor impõe limitações no estilo de vida, particularmente na
mobilidade, paciência, resignação, podendo ser interpretada como um “saldo” da doença que
progride.
Este conceito de Dor Total mostra a importância de todas essas dimensões do sofrimento
humano e o bom alívio da dor não é alcançado, sem dar atenção a essas áreas.
Na experiência dolorosa, os aspectos sensitivos, emocionais e culturais são indissociáveis e
devem ser igualmente investigados.

Classificação da Dor por seu Mecanismo


Fisiopatológico
Segundo o manual de Cuidados paliativos, oncológicos: controle da dor, classifica a dor
em:
• Nociceptiva: Compreende dor somática e visceral e ocorre directamente por
estimulação química ou física de terminações nervosas normais - é resultado de danos
teciduais mais comuns e frequentes nas situações inflamatórias, traumáticas e invasivas,
ou isquémicas. A mensagem de dor viaja dos receptores de dor (nociceptores), nos
tecidos periféricos, através de neurónios intactos.
• Neuropática: Resulta de alguma injúria a um nervo ou de função nervosa anormal em
qualquer ponto ao longo das linhas de transmissão neuronal, dos tecidos mais periféricos
ao SNC.
• Simpaticomimética: diferenciada pelo relato de irradiação arterial normalmente
necessitando de diagnóstico diferencial por bloqueio anestésico.

Padrões e Tipos de Dor


A avaliação e intervenção na dor aguda deve ser diferente da dor crónica. Embora existam
aspectos comuns, os relatos de dor aguda têm ênfase nas características da dor, nas repercussões
biológicas da dor e do alívio, enquanto os relatos de dor crónica enfatizam, além destes,
aspectos psico- socioculturais que devem ser incluídos.
• Dor aguda-Início súbito relacionado a afecções traumáticas, infecciosas ou
inflamatórias. Espera-se que desapareça após intervenção na causa – cura da lesão,
imobilização ou em resposta a medicamentos. Respondem rapidamente às intervenções
na causa e não costumam ser recorrentes.
• Dor crónica- Não é apenas o prolongamento da dor aguda. Estimulações nociceptivas
repetidas levam a uma variedade de modificações no SNC. Enquanto dor aguda provoca
uma resposta simpática, com taquicardia, hipertensão e alterações em pupilas, a dor
crónica permite uma adaptação a esta situação. Mal delimitada no tempo e no espaço,
é a que persiste por processos patológicos crónicos, de forma contínua ou recorrente.
Sem respostas neurovegetativas associadas e com respostas emocionais de ansiedade e
depressão frequentes.
• Dor nociceptiva- Somática e visceral, ambas são dores nociceptivas. Dor somática
aparece a partir da lesão da pele ou tecidos mais profundos e é usualmente localizada.
Dor visceral se origina em vísceras abdominais e/ou torácicas. Ambos os tipos de
dor usualmente respondem a analgésicos
• Dor neuropática- Já descrita anteriormente pode ocorrer por lesão do SNP ou SNC, com
dano nervoso sendo determinado por trauma, infecção, isquemia, doença degenerativa,
invasão tumoral, injúria química ou radiação. Característica de queixas de dor com
irradiação neuro dérmica e em queimação.

Transtornos Psicofisiológicos Associados à Problemas Emocionais


Segundo Ballone (2007), as emoções, sejam elas agradáveis ou desagradáveis, são capazes de
desmobilizar o ser humano para a actividade e de influir na comunicação interpessoal.
São capazes de mobilizar a parte autónoma do sistema nervoso juntamente com outros órgãos e
sistemas directamente, podendo ter um importante papel na qualidade de vida psicológica. As
emoções influem sobre a saúde e sobre a doença não apenas em decorrência da
psiconeurofisiologia, influindo também através de propriedades motivacionais pela capacidade
de modificar as condutas saudáveis, tais como exercícios físicos, uma dieta equilibrada, o
descanso, entre outros exemplos e, conduzindo muitas vezes para condutas não saudáveis, como
o abuso do álcool, tabaco, sedentarismo, entre outros.
Hoje em dia pode-se afirmar que as emoções positivas potencializam a saúde, enquanto as
emoções negativas tendem a comprometê-la, pois há dados suficientes para isto. Por exemplo,
em períodos de estresse, quando as pessoas desenvolvem muitas reacções emocionais
negativas, é mais provável que surjam certas doenças relacionadas ao sistema imunológico, seja
uma gripe, herpes, diarreias ou outras infecções ocasionadas por vírus oportunistas. Em
contrapartida, emoções positivas como riso, bom humor, felicidade, ajudam a manter e/ou
recuperar a saúde. A ansiedade é uma das emoções negativas que mais se tem estudado,
pois é um estado emocional reconhecidamente associado a múltiplos transtornos, é a
atitude biológica necessária para a adaptação do organismo a uma nova situação. Ela trata de
um organismo submetido a uma situação física, seja uma cirurgia ou uma infecção e, uma
situação psíquica, seja uma situação vista como ameaça. Sendo assim, a ansiedade é um
mecanismo indispensável para a manutenção da adaptação à vida, à sobrevivência (BALLONE,
2007; BALLONE, MOURA, 2008).
Emoções fortes são capazes de provocar desmaios. Quando ocorre o impacto emocional, há uma
descarga de adrenalina enorme e esta substância em excesso no corpo, por sua vez, provoca uma
vasoconstrição, as artérias diminuem a espessura e fazem o sangue chegar com dificuldade e em
pouca quantidade às células cerebrais. Os impactos emocionais também podem ser causas de
arritmias cardíacas, e esta também pode ser considerada uma razão de desmaios, pois o coração
fica sem funcionar por um período ou funciona de forma errada, o fluxo sanguíneo diminui e a
frequência cardíaca reduz. A quantidade de oxigénio levada ao cérebro é baixa e ocorre a síncope
(TIR, 2007).
A depressão particularmente aumenta o batimento cardíaco e prejudica sua variabilidade. Se não
há variação, há sobrecarga do músculo cardíaco, o que piora sua função de bombear o sangue e
facilita o aparecimento de arritmias. A influência das emoções sobre o coração vai muito além da
beleza da poesia. Novas descobertas dão as pistas do real peso das emoções sobre a saúde
cardíaca. Uma vasta gama de sentimentos experimentada pelo ser humano pode promover
modificações orgânicas de tal dimensão que podem contribuir de maneira decisiva para o vigor
ou a falência do órgão, segundo pesquisas.
Com isso, aumenta o número de especialistas que defendem a inclusão de sentimentos como a
ansiedade e a depressão na lista de factores de risco para males cardiovasculares, sendo que
estariam assim, ao lado do colesterol, hipertensão, sedentarismo e de
outras doenças conhecidas (PEREIRA,
2004).

Avaliação Psicológica da Pessoa com Dor


Quando se fala em avaliação psicológica é de fundamental importância levar em conta os
diferentes métodos utilizados: entrevistas, observação do comportamento, testes, narrativas de
vida, questionários e escalas. Loduca, Portnoi e Moura (2008) consideram cada um desses
instrumentos como método de avaliação psicológica da dor e ressaltam que as entrevistas,
a observação, testes e questionários:
• “(…) permitem o levantamento mais sistematizado do desconforto físico do doente e do
sofrimento psíquico associado, assim como a identificação dos recursos de
enfrentamento, que dispõe o paciente papara lidar e seguir de modo activo e regular as
condutas terapêuticas. Factores comportamentais, tais como as expressões de dor,
limitação física, comportamentos de evitação, nível de actividade física, etc. são
testemunhos de vivencia dolorosa que integram a comunicação da dor e reflectem como
o individuo convive com a sua condição. (p. 181-184.)”

Todos os instrumentos devem ser utilizados para permitir uma avaliação mais aprofundada, não
só das vivencias de dor, mas também das condições emocionais subjacentes dessa experiência.
Assim, a avaliação psicológica baseada no modelo biopsicossocial considera a história médica,
familiar e social, bem como os aspectos psicológicos, as condições ocupacionais, ambientais de
cada individuo, levando-se em conta que todos esses aspectos se encontram ligados à queixa de
dor e a extensão do sofrimento na experiência dolorosa.
Dessa forma, a avaliação tem como objectivo buscar identificar na pessoa a ocorrência de
factores psicológicos que possam causar, manter e/ou agravar a percepção da dor do sofrimento.
Ribeiro; Portnoi; Moura (2008) destacam que o papel do psicólogo na avaliação de pacientes
com vivência de dor é de acompanha-los em sua trajectória para que possam conhecer e lidar
com os significados e sentidos do sofrimento em suas vidas. Avaliar é o primeiro passo
para que o psicólogo possa realizar o diagnostico das necessidades psicológicas e
comportamentais de pacientes com dor crónica e persistente.
O diagnostico preciso permite detectar e examinar características de personalidade dos doentes
e avaliar suas condições emocionais, cognitivas e comportamentais, que podem caracterizar
seu sofrimento psíquico. A avaliação psicológica oferece subsídios que irão direccionar as
intervenções terapêuticas para pessoas com dor, considerando as diferentes dimensões
relacionadas com a experiência de dor, inferindo na qualidade de vida do sujeito.
De acordo com Frutoso e Cruz (2004), a avaliação psicológica da pessoa com dor centra-se
em perceber e avaliar o impacto da dor na sua vida, tentando assim identificar se existem
situações ou factores que possam estar na base dessa dor, ou até mesmo que possam
determinar o seu agravamento, avaliando ao mesmo tempo se existem barreiras (crenças
cristalizadas, pensamentos automáticos negativos) à possível intervenção psicoterapêutica.
De acordo com Ahern (2004), foi estimada que cerca de 60% dos pacientes com dor crónica
podem desenvolver depressão clínica significativa, que complica a avaliação e o tratamento
clínico da dor, a depressão pode confundir a experiência dolorosa de tal forma que o paciente
relata a dor como sendo excruciante e esmagadora.
Em conjunto com a depressão, ansiedade e medo são transtornos psicológicos e comportamentais
que geralmente estão associados a dor crónica. Quando uma “lesão aguda inicial for percebida
como ameaçadora e um processo cognitivo de catastrofização se desenvolvera, surgira o medo
relacionado à dor (AHERN, 2004, p.254).”

Ausência Congénita de
Dor
Muitas das vezes pensamos em “como seria bom se não sentisse mais dor”, esse desejo não deve
ser realizado, pois, a dor nos avisa que algo não vai bem com nosso organismo. Além disso, é ela
que nos avisa que a área machucada ainda está prejudicada e nos induz a deixá-la de repouso
para plena recuperação.
Raras pessoas nascem com uma falha no desenvolvimento dos nociceptores, além de
possuírem falhas nas transmissões nervosas de vias relacionadas à dor com o sistema nervoso
central. As outras vias sensoriais são perfeitas, exceto aquelas relacionadas à dor.
Essas pessoas sofrem da ausência congênita de dor. Exemplos de complicações possíveis:
• Queimaduras diversas, mesmo em situações cotidianas como cozinhar.
• Fraturas que não são percebidas e tratadas.
• Escarras e úlceras de decúbito, pois o indivíduo não fica com dores no corpo e
dificilmente muda de posição durante o sono.
• Incapacidade de perceber alterações nas articulações, permitindo degenerações e
deformações.
• A dor é adaptativa, é necessário que ela promova um incômodo significativo que
demande nossa busca por cuidado.
Conclusão
No presente trabalho pudemos concluir que a sensação de dor é fundamental para a
sobrevivência. Dor é o primeiro indicador de qualquer lesão tecidual. Qualquer estímulo que
resulta em lesão ou ferimento conduz a uma sensação de dor, entre eles o calor, o frio, a
pressão, a corrente elétrica, os irritantes químicos e até mesmo os movimentos bruscos.
Diferente de outros sistemas sensoriais, todavia, o sistema sensorial para a dor é extremamente
amplo; uma sensação dolorosa pode ser iniciada em qualquer parte do corpo ou no próprio
sistema nervoso central (SNC). Vários locais são emparelhados aos vários tipos de sensações de
dor. A sua percepção é claramente uma rica e multidimensional experiência, a qual varia tanto
em qualidade quanto em intensidade sensorial, assim como em suas características afetivo-
motivacionais.
Sem dúvida, a sensação de dor é um importante domínio da experiência humana e, talvez, aquela
que tenha, continuamente e com mais sucesso, iludidos inúmeras tentativas de conceituação
consistente, de quantificação, ou mesmo de documentação sistemática, por gerações de
especialistas de diferentes áreas do conhecimento. Infelizmente, ela ainda possui o mesmo status,
apesar do renovado interesse no entendimento de sua natureza, agora agregado com a aplicação
de uma quantidade enorme de diferentes e inovados métodos de experimentação e análises.
Sua complexidade e natureza multidimensional, as quais são evidentes mesmo nas análises
mais elementares dos vários tipos de dor, têm, contudo, obstruído virtualmente o
desenvolvimento de uma definição adequada de dor, ou o que, talvez, seja o mais importante,
dificultado a construção de uma teoria geral da dor, bem como a derivação de técnicas de
tratamento claramente eficazes.
Referências bibliográficas
FRANCA, SUELY M.S.S. Histórias de Vida de Mulheres com Diagnostico Clínico de Dores
Crónicas. Universidade de São Paulo-Instituto de Psicologia, São Paulo, 2016

JACOME, MONISE FAGUNDES. Transtornos Psicofisiológicos Associados à Problemas


Emocionais. Anais do Conic-Semesp. Volume 1, 2013.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER. Cuidados Paliativos
Oncológicos: Controle da Dor. – Brasil, Rio de Janeiro: INCA, 2001.

SILVA, JOSÉ A. & RIBEIRO-FILHO, NILTON P. A Dor Como um Problema Psicofísico.


Ribeirão Preto, SP. 2011.

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