Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CAMPINAS
2017
MARIA CRISTINA GONZAGA
CAMPINAS
2017
Este exemplar corresponde à redação final da Tese de Doutorado defendida por Maria
Cristina Gonzaga, aprovada pela Comissão Julgadora em 31 de outubro de 2017, na
Faculdade de Engenharia Agrícola da UNICAMP.
__________________________________________________________________
Dr. Roberto Funes Abrahão – Presidente e Orientador
UNICAMP/Faculdade de Engenharia Agrícola
__________________________________________________________________
Dra. Flora Maria Gomide Vezzá – Membro Titular
SESI/Diretoria de Esporte e Qualidade de Vida
__________________________________________________________________
Dra. Sandra Francisca Bezerra Gemma – Membro Titular
UNICAMP/Faculdade de Ciências Aplicadas
__________________________________________________________________
Dr. Paulo José Adissi – Membro Titular
Colaborador do Programa de Pós Graduação da UFPB
__________________________________________________________________
Dr. José Marçal Jackson Filho – Membro Titular
FUNDACENTRO/ Centro Regional do Paraná
A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida
acadêmica da discente.
Segundo os provérbios populares:
―o que os olhos não veem o coração não sente‖.
―dar visibilidade ao invisível no cultivo de abacaxi é nossa meta.‖
Agradecimentos
Aos meus orientadores, os professores doutores Roberto Funes Abrahão e Mauro José
Andrade Tereso, pela paciência e disponibilidade durante todo o período de trabalho conjunto.
À dra. Leda Leal Ferreira por ter me guiado no caminho rumo ao doutorado, sempre
orientando e estimulando a ouvir e respeitar o saber advindo dos trabalhadores.
Ao dr. Paulo José Adissi pelo apoio e incentivo aos estudos vinculados aos trabalhadores
rurais.
À minha mãe, Tereza de Jesus Serralheiro Gonzaga, ao meu irmão, Michael Detro
Cavalcante, e ao meu marido, Antonio Ferreira dos Santos, por todo o carinho, apoio e
paciência nesse período em que me dediquei às atividades inerentes a este trabalho.
Ao Sindicato dos Produtores Rurais de Frutal, especialmente a seu presidente, Janes Cesar
Mateus, por permitir nossa entrada nas propriedades rurais de Frutal e o acesso aos
trabalhadores no cultivo de abacaxi, o que viabilizou o término desta pesquisa.
Ao procurador do Trabalho Rafael de Araújo Gomes pelo incentivo e apoio jurídico durante
todo o estudo feito em Guaraçaí.
À equipe da Fundação Ezequiel Dias, especialmente a Rômulo Antonio Righi de Toledo,
Leonardo Rocha de Oliveira Noronha, Tâmara Táscama Oliveira Rodrigues e Paulo Nunes de
Oliveira, pela viabilização do cumprimento legal dos trâmites dessa fundação e da realização
dos ensaios com serpentes.
À dra. Kathleen Fernandes Grego e ao dr. Sávio Stefanini Sant’Anna pelo apoio técnico para
a realização dos experimentos com serpentes no Instituto Butantan.
A Sandra Donatelli por ter apoiado a realização das pesquisas vinculadas ao Doutorado.
À dra. Sophia Piacenza pelo apoio carinhoso durante todo o processo do doutorado,
especialmente no trabalho feito junto à Fundação Ezequiel Dias.
Ao dr. Eduardo Garcia Garcia pelas sugestões brilhantes ao longo deste estudo.
A Bianca Alcântara, Delma Francisco Batista e a Karine Aleixo Dias pelo auxílio nas
questões administrativas que viabilizaram minhas ações em campo e as burocráticas junto à
Fundacentro.
A André da Silva Souza, Gabriela Karam e Alex de Oliveira Pires por me ajudarem
pacientemente na finalização desta tese.
A Thaïs Costa por pacientemente colaborar com a organização das minhas ideias através da
escrita, nos desabafos frente às dificuldades e na finalização desta tese, sempre ouvindo e
estimulando.
À Emater de Frutal, especialmente a Luis Guilherme Brunhara Postali, pelo inestimável apoio
na execução dos trabalhos de campo naquele município.
The results allow to conclude that workers involved in the production process of
pineapple don’t have effective protection against the main hazard factors in their work. There
is a clear need for PPE designed according to the particularities of agricultural work and with
workers’ active participation in the development of such projects.
Lista de tabelas
BM - Banco Mundial
MS - Ministério da Saúde
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 14
2. OBJETIVO GERAL ...................................................................................................... 17
2.1 Objetivos específicos 17
3. CONTINGENTE DE TRABALHADORES E DIMENSÃO DO SETOR QUE
PRODUZ ABACAXI .............................................................................................................. 18
5.1 O trabalho agrícola e o cultivo de abacaxi em Guaraçaí (SP) 31
5.2 O trabalho na colheita de abacaxi no município de Santa Rita (PB) 38
5.3 O trabalho no cultivo de abacaxi nas Filipinas, Tailândia e Costa Rica 42
6. ERGONOMIA E O USO DE EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL47
7. ACIDENTES DE TRABALHO .................................................................................... 60
8. AS SERPENTES E O MUNDO DO TRABALHO ..................................................... 65
8.1 Serpentes peçonhentas 68
8.2 Acidente ofídico 71
8.2.1 Acidentes botróficos ...................................................................................................... 74
8.2.2 Acidentes crotálicos ....................................................................................................... 76
8.2.3 Os acidentes de trabalho com serpentes peçonhentas....................................... 77
8.3 Tratamentos de acidentes ofídicos 91
9.1 Referencial legal para trabalhar com animais 97
9.2.1 Análise ergonômica do trabalho como referencial ..................................................... 98
9.2.2 Análise qualitativa ......................................................................................................... 99
10. MATERIAL E MÉTODOS ........................................................................................... 101
10.1 Estudo comparativo entre os processos produtivos no cultivo de abacaxi 101
10.2 Método para testes de perfuração de EPI por serpentes peçonhentas 101
10.3 Método para analisar a qualidade dos EPIs aprovados nos ensaios com ataques
reais de serpentes em Frutal ................................................................................................ 105
11. RESULTADOS ............................................................................................................... 110
11.1 Análise do processo produtivo em Frutal 110
11.2 Resultados dos ensaios com as serpentes peçonhentas 117
11.3 Resultados da análise qualitativa dos EPIs 127
11.3.1 Análise qualitativa dos EPIs de uso cotidiano ........................................................ 128
11.3.2 Análise qualitativa dos EPIs submetidos aos ensaios com serpentes .................... 133
11.3.3 Análise qualitativa das luvas de proteção ............................................................... 135
11.3.4 Análise das perneiras de segurança ......................................................................... 140
12. CONCLUSÕES............................................................................................................... 157
12.1 Sobre as condições de trabalho no cultivo de abacaxi 157
12.2 Sobre a resistência dos EPIS a ataques de serpentes peçonhentas 158
12.3 Sobre aspectos de conforto e usabilidade dos EPIs 158
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................... 160
APÊNDICE 2. ENTREVISTA PARA VALIDAÇÃO DA DEMANDA .......................... 181
APÊNDICE 3. ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA ................... 186
ANEXOS ............................................................................................................................... 194
ANEXO 1. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DA FUNDAÇÃO EZEQUIEL
DIAS ................................................................................................................................. 194
ANEXO 2. PARECER DA COMISSÃO DE ÉTICA DO INSTITUTO BUTANTAN .. 195
ANEXO 3. MATERIAL (TECIDO SINTÉTICO) TESTADO PELA FUNED ............. 196
ANEXO 4. MATERIAL (PERNEIRA DE PROTEÇÃO CA 11.410) TESTADO PELA
FUNED ................................................................................................................................. 197
14
1. INTRODUÇÃO
Tal quadro é preocupante visto que os trabalhadores informais não têm sequer um
direito garantido, incluindo o fornecimento dos EPIs. Esses, quando disponibilizados, eram
16
inadequados. Por exemplo: para todas as atividades a luva para aplicação de adubo químico
era confeccionada com fios de algodão e poliéster, o que permitia que o adubo penetrasse nas
mãos, como mostra o relato abaixo:
Vale salientar que esse experimento científico não tinha precedentes no Brasil.
17
2. OBJETIVO GERAL
Entre 1999 e 2008 a taxa de emprego nesse setor na África Subsaariana diminuiu
de 62,4% para 59%, no Sudeste da Ásia e do Pacífico teve queda de 49,3% para 44,3%,
enquanto na América Latina caiu de 21,5% para 16,3% (OIT, 2009).
Este trabalho teve por base estudos prévios feitos no município de Guaraçaí (SP),
onde ficou demonstrado que no cultivo de abacaxi os trabalhadores não tinham vínculo formal
de trabalho, conforme o seguinte relato: “... é muito difícil ter registro aqui, eles dizem que dá
muito trabalho, que tem que pagar isto, pagar aquilo, por isso eles preferem manter a gente
sem registro…” (GONZAGA et al., 2014, p. 22).
No Brasil, o abacaxi do tipo Havaí é mais cultivado nos Estados de Minas Gerais
e São Paulo, e seu fruto chega a pesar entre 1,5 e 2,5 kg. Há, porém, predominância do
abacaxi Pérola originário do Brasil, cujo fruto pode pesar de 1,0 a 1,5 kg (CUNHA, 2003).
22
Tailândia 2.650.000
Brasil 2.478.178
Filipinas 2.397.628
Indonésia 1.780.889
Por sua vez, o IBGE (BRASIL, 2013), que adota a medida ―mil frutos‖, informou
que a produção de abacaxi no Brasil em 2013 se distribuiu pelos Estados conforme mostrado
na tabela 3. Os maiores produtores foram Pará, Paraíba, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio
Grande do Norte.
23
Injúria por frio: polpa escurecida causada por geada ou armazenagem a baixa
temperatura.
O sabor final do fruto está vinculado a vários fatores, desde a região de plantio à
variedade, à época de produção, à adubação, ao sistema de poda, ao vigor da planta-mãe e a
outras técnicas de produção determinantes para tal. Segundo o Centro de Qualidade em
Horticultura do Ceagesp (2006), esse conjunto irá interferir na presença de substâncias, como
açúcares, ácidos e substâncias voláteis, cuja combinação influenciará o sabor.
O plantio de mudas deve ser feito na linha aberta pelo trator. Elas devem ser
plantadas com 30 cm de espaçamento entre si e com cerca de 8 cm de profundidade, o que
provoca um grande adensamento de frutos.
Muda de abacaxi
Solo
Mudas
Mudas na mesma intercaladas (em
direção (em linha zigue-zague)
reta)
diredireção
O plantio do abacaxi em leira não permite o uso de carriola, pois isso aumenta o
esforço físico. A carriola, porém, é apropriada para o plantio fora da leira.
A eliminação das plantas invasoras pode ser feita com enxada ou herbicidas.
Quando é feita com herbicida, requer o preparo da calda e o enchimento dos tanques de
aplicação. Na aplicação do herbicida, é necessário direcionar manualmente as mangueiras que
saem do trator até as ervas daninhas.
Durante a etapa de colocação de saquinhos para proteger o fruto contra o sol, é comum
pescoço; na empreita eles levam cerca de 1.000 saquinhos para ganhar mais. A colocação dos
O abacaxi não pode ser jogado da quarta rua para a primeira rua do eito para não
estragar, já que essa distância é de aproximadamente 2 metros. Os montes devem ficar
organizados na primeira rua, onde passa o trator com a carreta que transportará os frutos
colhidos para o caminhão.
37
Os caminhões transportam cargas de 15 mil a 23 mil quilos: tem dia que nós
colhemos frutos para encher dois caminhões. Quando feito em caixas, o transporte varia de
12 mil a 13 mil quilos de abacaxi, sendo a carga em caixas menor do que a granel, pois elas
ocupam mais espaço nos caminhões.
colhem abacaxi? Portanto, foi feita análise qualitativa e quantitativa do trabalho nesse cultivo
visando descrever o processo laboral.
Ribeiro (2005) cita os seguintes cálculos: um balaio vazio pesa em média 6 kg;
cada abacaxi do tipo A colhido pelos catadores pesa entre 1,5 kg e 1,8 kg; e 49,55 é a média
de frutos recebidos. A partir da multiplicação do peso do fruto pelo número de frutos no
balaio somado ao peso do balaio vazio, na colheita do tipo A o peso médio do balaio cheio foi
de 80,3 kg. Após o deslocamento dos frutos pelo balaieiro, os contadores descarregam o
balaio e os arrumadores ajeitam os frutos no caminhão.
pelos trabalhadores, porém os riscos químicos, por ser imperceptíveis, dificilmente são
evitados.
Ribeiro (2005) destaca que tais trabalhadores ficam expostos a muitos riscos
ergonômicos, como posturas inadequadas por longos períodos, manuseio e transporte das
cargas em balaios, um ritmo intenso, repetitividade dos movimentos de corte e de contagem
dos frutos pelos catadores.
O problema de saúde mais citado durante este estudo foi dor nas costas,
principalmente por parte dos balaieiros.
A maior parte da demanda mundial de abacaxi provém dos EUA, França, Japão,
Bélgica, Itália, Alemanha, Espanha, Países Baixos e Reino Unido, seguidos pela Coreia do
Sul e Cingapura. Os EUA dominam a maior parte do mercado de abacaxi fresco e cerca da
mesma fatia do mercado de abacaxi enlatado e de suco de abacaxi, juntamente com a União
Europeia. Em 2007, a Costa Rica forneceu cerca de 90% do abacaxi fresco vendido nos
Estados Unidos, produto que também tem alta demanda em países da União Europeia.
O cultivo de abacaxi nas Filipinas e Costa Rica é controlado por três grandes
empresas: a Dole no primeiro caso, e a Fresh Del Monte e a Pindeco no outro país.
A empresa Dole tem uma força de trabalho de cerca de 20.000 indivíduos, das
quais cerca de 5.000 são empregados regulares e 15.000 são contratados por empreiteiras,
com regimes de trabalho flexíveis. Isso representa uma mudança dramática a partir da década
de 1990, quando os funcionários regulares eram 8.000 e não havia empregados temporários.
estabilidade alguma no trabalho, já que permanece no emprego por dois meses e meio a três
meses durante a colheita de abacaxi.
A jornada trabalhada chega a ser de 10 a 12 horas por dia, 6 dias por semana.
Devido aos baixos salários -- US$ 6,32 por semana --, os trabalhadores encaram uma jornada
extensa para conseguir sobreviver.
horas, então peguei um ônibus e fui para uma clínica para me tratar dos
ferimentos.
É muito difícil ter registro aqui, eles dizem que dá muito trabalho, que tem
que pagar isto, pagar aquilo, por isso eles preferem manter a gente sem
registro. Eu acho isso muito ruim, pois quando chove a gente fica sem
receber, tem que comprar EPIs, quando a gente fica doente tem que resolver
sozinha. (GONZAGA et al., 2012, p. 17).
49
1
Ensaios exigidos para bota (norma NBR ISO 20347): resistência ao rasgamento, ao escorregamento, ao
vazamento, à flexão, à abrasão, da união cabedal/sola.
Ensaios exigidos para perneiras (norma ISO 11611): resistência à tensão, ao rasgamento, ao rompimento das
costuras e à propagação de chamas.
Ensaios exigidos para luvas e mangotes (norma EN 388): resistência à abrasão, ao corte por lâmina, ao rasgo e
à perfuração por punção.
52
Figura 12 - Mão lesionada pela luva de proteção na atividade do corte manual da cana
Para Zago e Silva (1998), os problemas estão relacionados à padronização dos EPIs,
pois muitos deles desconsideram as características antropométricas dos usuários, as
especificidades de onde serão utilizados e as condições ambientais presentes na execução da
atividade.
Mayer e Korhonen (1999) destacam que é difícil avaliar as reais qualidades dos
EPIs apenas em laboratório, visto que elas estão estreitamente ligadas às características
morfológicas e psicofisiológicas dos futuros usuários e à natureza das tarefas a serem
executadas.
Ressalta-se que não existe ensaio para corte por impacto. A EN 420 do European
Committee for Standardization (2003) estabelece requisitos gerais para luvas de proteção,
incluindo a especificação de tamanhos. Essa pesquisa demonstrou que os cortadores de cana
apresentam muitos cortes nas mãos, já que os ensaios não preveem o corte por impacto, risco
presente nessa atividade. Outro problema observado é a falta de aderência da luva ao cabo do
facão, o que acarreta muito esforço físico do trabalhador para segurar o cabo com firmeza.
Um dos modelos de luvas tinha fios de aço para proteger contra golpes de facão, mas tais fios
56
se soltavam e feriam as mãos. O tamanho das luvas, as quais eram largas e saíam das mãos,
foi outra dificuldade laboral citada pelos trabalhadores.
Com a mão lisa, a luva escorrega no cabo do podão e isso exige muito mais
força para segurá-lo, o que provoca muita dor nos braços e bolhas no local
de apoio para o facão; a mão molhada incomoda muito, pois o facão desliza
pela mão lisa. Cortei o dedo indicador porque essa luva não protege do
golpe do facão; os fios internos de aço enroscam e ferem os dedos, por isso
eu retiro esses fios.
utilizar o que foi projetado, já que uma concepção adequada envolve a inventividade dos
usuários, movida pela singularidade das situações de trabalho e dos contextos das ações.
Este trabalho se propôs a testar EPIs, como botas de couro, luvas, perneiras e
mangotes, em ataques reais de serpentes. Tais equipamentos haviam sido recomendados
anteriormente por esta autora após a observação dos riscos ocupacionais presentes no cultivo
de abacaxi, para proteger os pés, as pernas, as mãos e os braços – as partes do corpo mais
sujeitas a acidentes de trabalho ligados a riscos mecânicos como ataque de animais
peçonhentos (serpentes, aranhas e escorpiões) e perfuração por folhas e espinhos de abacaxi.
Tais riscos estão presentes praticamente em todas as tarefas do cultivo de abacaxi: colheita de
mudas, plantio, colocação de saquinhos e colheita de frutos.
7. ACIDENTES DE TRABALHO
A OIT (2004) considera a agricultura como um dos três setores mais perigosos do
mundo -- os outros são mineração e construção. Em vários países, a taxa de acidentes fatais na
agricultura é o dobro da média em todos os demais ramos industriais. Em cerca de 335 mil
acidentes de trabalho fatais em todo o mundo, aproximadamente 170 mil ocorrem entre os
trabalhadores agrícolas.
Além disso, as atividades perigosas são uma das piores formas de trabalho
infantil, com mais de metade (53%) dos 215 milhões de crianças trabalhadoras no mundo
inteiro fortemente envolvida, conforme dados do ILO (2004).
informações nos levam a concluir que o Nexo Técnico Epidemiológico ajuda a diminuir a
subnotificação de registros dos acidentes de trabalho.
No período entre 2002 e 2012 (figura 14) o município de Frutal (MG) teve 2.391
acidentes de trabalho registrados, sendo 1.817 acidentes típicos, 319 de trajeto e 26 doenças
ocupacionais. O interessante é que houve um aumento nos acidentes registrados através de
CATs para as duas categorias de registro: típico e de trajeto, conforme mostra a figura 14.
Elas podem ser classificadas, segundo Sazima e Marques (2009), das seguintes
formas em relação ao habitat:
Criptozoicas: caçam e se abrigam sob o folhedo da mata, têm olhos pequenos, corpo
delgado e cauda longa;
Quanto à alimentação: todas as serpentes são carnívoras e ingerem suas presas inteiras.
Seus dentes servem para agarrar e/ou envenenar suas presas. Ossos articulados no
crânio permitem grande abertura bucal. Alimentam-se de vertebrados (peixes,
anfíbios, lagartos, serpentes e aves) e invertebrados (moluscos e minhocas).
Quanto à reprodução: espécies ovíparas põem ovos, ao passo que espécies vivíparas
expelem filhotes prontos. Os gêneros Bothrops e Crotalus são vivíparos, e o tempo de
gestação é de 4 a 5 meses.
Quanto ao olfato: é agudo, mas esse fato não está relacionado à presença de epitélio
nas fossas nasais, mas sim pelo fato de que através dos movimentos vibratórios da
língua fina e comprida ela faz uma varredura e conduz para um órgão de Jacobson
(estrutura quimiorreceptora especializada revestida por um epitélio sensorial, situado
no céu da boca). As fossas nasais das serpentes servem apenas para a condução de ar
para a respiração.
Belluomini (1984) enfatiza que embora os hábitos alimentares das serpentes sejam
mais conhecidos no que diz respeito à caça a roedores, há onze grupos no quesito
alimentação:
de comprimento. Certas espécies nascem em épocas específicas, ao passo que outras, o ano
inteiro. Nos trópicos, o nascimento dos filhotes ocorre nas estações chuvosas.
Importante para a saúde pública, a família Viperidae possui 250 espécies. Elas
têm aparelho inoculador solenóglifo e cabeça triangular recoberta por escamas de aspecto
semelhante às do corpo. Além desses atributos, a subfamília Crotalinae tem fosseta loreal
entre o olho e a narina.
Melgarejo (2009) salienta que a espécie Bothrops jararacuçu, uma das mais
importantes do gênero, está presente desde o sul da Bahia até o Rio Grande do Sul, chega a
medir 1,8 m de comprimento, e as presas inoculadoras de veneno chegam a ter 2,5 cm de
comprimento. Essa espécie produz uma grande quantidade de veneno e certamente provoca
71
acidentes graves, conforme demonstrado por Belluomini (1984), que obteve 830 mg de
veneno por extração. Tal tipo de serpente se reproduz muito: no Instituto Vital Brazil são
registrados partos de ninhadas com até 59 filhotes.
Figura 17 – Jararaca
Figura 18 – Cascavel
Figura 20 - Coral-verdadeira
Melgarejo (2009, p. 55) e a Fundação Ezequiel Dias - Funed (Minas Gerais, 2009)
informam que os acidentes botróficos provocados pelo gênero Bothrops perfazem 90% dos
20.000 acidentes que o Brasil registra. Esse gênero tem ampla distribuição geográfica no
território brasileiro; a Bothrops jararaca é uma das espécies mais presentes nas regiões Sul,
Sudeste e Centro-Oeste.
Pode ocorrer necrose caso haja um grande intervalo de tempo entre o ataque e o
tratamento. Em geral, ela se limita ao tecido cutâneo, mas pode atingir tendões, músculos e
ossos.
O termo ―cara de bêbado‖ é atribuído aos pacientes que sofrem acidente crotálico
e se deve aos efeitos neurotóxicos como fácies miastênicas2, que causam flacidez na
musculatura da face e boca entreaberta; esse quadro regride em 3 ou 4 dias após o tratamento.
2
Modificação de aspecto imprimida à face por certos estados mórbidos.
78
ocorrência de ataques, fatos corroborados por França e Málaque (2009, p. 81); Lima et al.
(2009); Brito e Barbosa (2012); e Chippaux (2015).
Conforme mostra a figura 22, o Sinan (Brasil, 2015) reportou que no país há em
média 21.838,53 registros de acidentes com serpentes por ano.
Fayomi et al. (2002) estudaram acidentes provocados por serpentes no Benin, país
de clima subtropical e úmido no Sudoeste da África Ocidental, onde camponeses perfazem
80% da força de trabalho. A base econômica desse país é a cultura de algodão. Os dados
foram coletados no Ministério da Saúde, através do Sistema Nacional de Informação Gestão
Sanitária do Benin, e contemplaram o período de 1994 a 2000. Nesse período foram
81
registrados 30.313 acidentes fatais com serpentes peçonhentas, a faixa etária em 20.182
registros era de maiores de 15 anos, e em 8.173 registros a faixa etária era de 5 a 14 anos.
Embora a prevalência fosse baixa, a letalidade foi muito elevada (15%).
Feitosa et al. (1997) analisaram 668 casos de acidentes por serpentes peçonhentas
notificados pelo Departamento de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará
no período de janeiro de 1992 a dezembro de 1995. Os meses de maior incidência foram
maio, junho e julho. O sexo masculino representou 75,6% (520 casos), e o sexo feminino,
24,4% (168 casos). Os casos ocorridos com agricultores representaram (48,8%). A faixa etária
83
mais atingida foi de 10 a 19 (25%), e os membros inferiores foram os mais atingidos (67,1%).
O gênero de serpente que mais atacou foi o Bothrops (60,2%). Com relação à zona de
ocorrência, 98,6% dos casos se deram no local de trabalho no meio rural.
Norte 89 75 10 4 48 33 8
No período de 2002 a 2006, Lima et al. (2009) analisaram 10.553 casos com
acidentes ofídicos registrados pelo Sinan nas Gerências Regionais de Saúde (GRS) nos
municípios de Montes Claros, Januária e Pirapora, destacando que os dados epidemiológicos
relacionados a esse tema são escassos e subnotificados. Dos casos analisados, 958 ocorreram
junto a trabalhadores do meio rural, com a seguinte distribuição para os registros das partes do
corpo atingidas: ignorado (959 casos), dedos das mãos (2.663), pé (1.663), mão (1.544),
dedos dos pés (1.098), perna (642), tronco (509), braço (431), coxa (391), antebraço (368) e
cabeça (285). A faixa etária mais acometida era entre 20 e 34.
Não Não
Estados identifica- Bothrops Crotalus Micrurus Lachesis peço- Total
da nhenta
Gerais
Paulo
Catari-
na
Observa-se que a identificação das serpentes não é feita com frequência, o que
dificulta a administração do tratamento correto com o soro específico.
As vítimas mais comuns das serpentes são trabalhadores rurais e 80% dos
acidentes ocorrem abaixo do joelho, sendo esse um dado importantíssimo para medidas de
prevenção contra ataques das serpentes.
Presentes em todo o Brasil, as jararacas são responsáveis por 90% dos acidentes
com serpentes.
Após a picada, quase não há alterações no local. A vítima pode apresentar visão
borrada ou dupla, pálpebras caídas e aspecto sonolento. Pode haver dor muscular e
escurecimento da urina horas depois do acidente. Os rins podem ser afetados e haver
diminuição da urina, o que pode levar à morte.
A surucucu, responsável por apenas 1,5% dos acidentes, pode ter até 3,5 m de
comprimento e é encontrada na Amazônia e nas florestas da Mata Atlântica, do Estado do Rio
de Janeiro ao Nordeste. Muito semelhante ao acidente com a jararaca, o quadro após sua
picada inclui vômitos, diarreia e queda da pressão arterial, podendo levar à morte.
O local deve ser mantido limpo apenas com água e sabão. Não se deve colocar
substância alguma, como fumo, café, esterco, ervas etc., sobre o ferimento nem fazer
curativos oclusivos.
escorpiões e lagartas. O plasma obtido pelas sangrias de cavalos é submetido a uma sequência
de processos físicos e químicos para a purificação das imunoglobulinas3.
Cardoso et al. (2009) salientam que, para ser eficiente na neutralização dos efeitos
de um veneno animal, um soro deve conter anticorpos dirigidos contra as principais toxinas
responsáveis por sua ação sistêmica e local. Esses autores destacam ainda que a mistura de
imunização deve incluir venenos de indivíduos de diferentes idades, coletados em diferentes
épocas do ano nas regiões onde o soro será utilizado.
• Antitetânico: eficaz para a neutralização das toxinas secretadas pelo bacilo tetânico
(Clostridium tetani).
1. Incisão com sucção: leigos ou profissionais, muitas vezes com estresse após o
acidente, não conseguem programar a técnica de forma segura, o que pode provocar a
interrupção da circulação e levar à mutilação da parte afetada;
2. Incisões múltiplas com sucção e torniquete: o kit suíço Venom EX tem um
dispositivo cortante composto por seis lâminas paralelas ajustáveis a uma profundidade de 5
mm. Quando liberadas, elas perfuram a pele fazendo incisões. O kit inclui ainda um
torniquete tipo cinta com fivela e uma seringa de 20 ml com um dispositivo de sucção
acionado por mola. Aplicando esse kit ao redor dos orifícios da picada, a sucção é feita sobre
as incisões. Em alguns pacientes esse tratamento associado a anti-histamínicos teve bons
resultados, mas como esse dispositivo mutila, podem ocorrer infeções ou sangramento
excessivo na presença de distúrbios de coagulação comuns após acidente com serpente;
3. Torniquetes (vide figura 23) e faixas de contrição: são tolerados no máximo
por 20 minutos. Uma vez liberados, pode ocorrer uma rápida absorção do veneno. Na maioria
dos casos, a absorção do veneno não é impedida pelo torniquete. Não há ensaios clínicos no
Brasil que comprovem a eficácia de torniquete em acidentes provocados por serpentes
peçonhentas;
95
Nas regiões mais carentes são utilizadas outras técnicas populares até a vítima ter
acesso ao soro específico.
97
Entende-se por filo Chordata animais que tem, como características exclusivas, ao
menos na fase embrionária, a presença de notocorda (estrutura celular em forma de bastão,
que dá origem ao eixo primitivo do embrião), fendas branquiais na faringe e tubo nervoso
dorsal único.
Dias et al. (2000) enfatizaram que os seguintes aspectos ergonômicos devem ser
considerados: posturas favoráveis, dimensões adequadas, dimensionamento e acessibilidade,
comandos, controles, fatores ambientais, movimentos e questões de segurança. No
desenvolvimento de um produto, o sucesso da atividade e o conforto dos usuários são os
principais objetivos almejados.
Wisner (2004) salienta que a ergonomia reconhece que, em situações onde haja
dificuldades operacionais, os trabalhadores adotam estratégias operacionais que resultam em
soluções felizes para dificuldades desconhecidas por parte dos organizadores do trabalho.
Assim, a ação ergonômica consiste em reconhecer tais invenções e facilitá-las tecnicamente.
A FAO (1990) e Costa (1995) indicam a análise qualitativa quando não há muita
informação sobre o fenômeno estudado, pois ela possibilita analisar de forma mais profunda a
100
O método para os ensaios com as serpentes, com o intuito de testar os EPIs quanto
ao quesito perfuração, foi aprovado pela Comissão de Ética no Uso de Animais da Fundação
102
Ezequiel Dias MG (FUNED) (anexo 1). Esse estudo passou também por análise da Comissão
de Ética no Uso de Animais do Instituto Butantan.
Na seleção dos gêneros de serpentes que participaram dos ensaios, para avaliar a
resistência dos equipamentos de proteção individual (EPIs) aos ataques de ofídios, foram
consideradas as seguintes características:
1. Sexo: fêmeas
Como tais serpentes são de clima úmido e seco, essa característica é respeitada no
cativeiro. A cascavel vive em campos abertos e regiões secas e pedregosas, e a jararacuçu
vive na beira de matas, rios e córregos. Como o ambiente do cativeiro onde elas são mantidas
leva isso em conta, a umidade do ar varia de acordo com a serpente.
Durante os ensaios de ataque real das serpentes foram utilizados dois arranjos
experimentais, conforme mostra a figura 25:
Foram realizadas três repetições por tipo de EPI em dois arranjos experimentais,
com duas espécies de serpente cada. Os EPIs passaram por 12 repetições. Assim que era
perfurado, o EPI era descartado (figura 39).
Manequim C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4
Calçados Cascavel
Bexiga C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4
de
Manequim C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4
segurança
Jaracuçu
Bexiga C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4 C1, C2, C3, C4
Luvas Cascavel
Bexiga L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3
de
Manequim L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3
segurança
Jaracuçu
Bexiga L1, L2, L3 L1, L2, L3 L1, L2, L3
Manequim M M M
Mangote Cascavel
Bexiga M M M
de
Manequim M M M
segurança
Jaracuçu
Bexiga M M M
Perneiras Cascavel
Bexiga P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3
de
Manequim P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3
segurança
Jaracuçu
Bexiga P1, P2, P3 P1, P2, P3 P1, P2, P3
Os modelos doados foram definidos pela equipe das três entidades (Funed,
Fundacentro e Animaseg), com o intuito de avaliar a proteção efetiva contra perfurações
provocadas por ataques de serpentes nas mãos, nos pés, nas pernas e nos braços dos
trabalhadores (as).
105
10.3 Método para analisar a qualidade dos EPIs aprovados nos ensaios com ataques
reais de serpentes em Frutal
Antes da análise dos EPIs testados mediante ensaios com as serpentes, fizemos
um estudo piloto junto a trabalhadores para verificar se os EPI usuais geravam problemas na
execução do trabalho e validar a demanda oriunda da pesquisa feita em Guaraçaí por Gonzaga
em 2012. Esse estudo incluiu uma entrevista semiestruturada e observações em campo (vide
apêndice 2) junto a 9 trabalhadores no cultivo de abacaxi no município de Frutal.
Guérin et al. (1991) destacaram que a demanda a ser trabalhada deve ser validada
junto aos trabalhadores, para permitir que eles a acatem ou reformulem a proposta da pesquisa
a ser realizada. Ou seja, a análise da demanda é a definição do problema a ser analisado, a
partir da negociação com diversos atores sociais.
Essa etapa foi desenvolvida junto a 6 homens que executam as tarefas no cultivo
de abacaxi. Tal amostra foi definida em função do número de trabalhadores que se
apresentaram voluntariamente para participar da pesquisa e, consequentemente, utilizar os
EPIs fornecidos para teste. Esses indivíduos assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (apêndice 1), previamente aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de
Ciências Médicas da Unicamp.
Destacamos que a roupa protetora de nylon, que passou previamente pelos testes
com serpentes na Funed, e um modelo de perneira de segurança também foram testados em
campo (figura 28).
protetora de nylon fornecidas para os testes em campo tinham tamanhos pequeno, médio e
grande. Por sua vez, as botas em couro eram nos tamanhos 36, 37, 38, 39, 40, 41, 43 e 45.
Nessa fase de análise qualitativa dos EPIs foi utilizado o conceito da usabilidade
proposto por Ferrés (2007) e Haapala, H. et al. (2006), através de questionamentos sobre
conforto, facilidade para exercer a tarefa e outras informações que os usuários considerarem
importantes.
11. RESULTADOS
Essa máquina também faz o desponte das folhas de abacaxi para facilitar o
trabalho durante a colheita. Essa estratégia no sistema produtivo é muito boa, pois protege os
trabalhadores das perfurações provocadas por essas folhas. A poda das folhas também pode
ser feita com facão.
O desponte das folhas do abacaxi está de acordo com o item 9.4 das normas
técnicas específicas para a produção integrada de abacaxi, que são regulamentadas pela
Instrução Normativa nº 43, de 23 de julho de 2008, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Brasil, 2008). Esta preconiza que se realize o desbaste parcial das mudas
alguns dias antes da colheita, assim como o corte da parte superior das folhas na região
mediana, a fim de facilitar a colheita do fruto.
Ribeiro (2005, p. 115) tece o seguinte comentário sobre o risco mecânico das
folhas serrilhadas de abacaxi:
A diária paga pela execução dessa tarefa varia entre R$ 23 e R$ 25 por milheiro
plantado. Os trabalhadores chegam a plantar 8 milheiros por dia.
115
Em Frutal os frutos são cobertos com saquinhos de papel (vide figura 32) para
evitar sua queimadura pelo sol. Os trabalhadores salientaram que os saquinhos são melhores
por ser mais largos e, quando o fruto é coberto por jornal, esse rasga e queima o fruto.
declive acentuado permeado de curvas de nível para conter a erosão, pois a carga não pode
cair, e que manter o equilíbrio da carriola exige muito esforço e atenção.
Uma das desvantagens de trabalhar sem carteira assinada é que o afastamento por
motivos de saúde ou acidentes de trabalho não tem cobertura relativa ao auxílio-doença do
INSS.
Por outro lado, quando firma um vínculo empregatício com uma empresa, o
trabalhador tem segurança e aporte do governo por qualquer acidente ou infortúnio que venha
a ocorrer. Entre os possíveis imprevistos estão acidentes de trabalho, lesão por esforço
repetitivo (LER) e abusos dos empregadores.
Ter um bom tempo trabalhado no regime CLT também é uma grande garantia de
conseguir se aposentar no futuro. A carteira de trabalho é indiscutivelmente um dos
documentos mais importantes para requisitar qualquer benefício, principalmente a
aposentadoria por tempo de contribuição e por idade. Ter a carteira assinada vale como
comprovante de filiação à Previdência Social, vínculo empregatício, tempo trabalhado e
salário de contribuição -- os requisitos principais para requerer uma aposentadoria.
Houve tentativa de aprovar esses ensaios no Instituto Butantan (SP), mas sua
Comissão de Ética no Uso de Animais indeferiu a proposta alegando que as serpentes
ficariam estressadas (vide anexo 2).
O método utilizado foi o de ―ataque real de serpentes aos EPIs‖ (figura 36), pois
os ensaios em laboratório prescritos na Portaria nº 209 do MTE não preveem ensaios para
perfuração provocada por ataque de serpentes. Além disso, o laboratório Satra (2011),
certificado no Reino Unido e China para executar ensaios com pontas afiadas quanto à
resistência a penetração com agulhas hipodérmicas, destaca que há problemas óbvios em
qualquer regime de testes que tente usar presas de cobras, já que estas são seres vivos.
O tamanho das serpentes tinha variação de até 84,52 cm, sendo a maior uma
jararacuçu de 1,48 cm, e a menor, uma cascavel de 86 cm.
A variação do peso foi de 1,350 kg, sendo que a serpente mais pesada tinha 1,9
kg, e a mais leve, 550 g.
119
Com relação à altura do bote, para a jararacuçu houve variação entre 25 e 20 cm,
enquanto para a cascavel, foi entre 10 e 14 cm.
Para a proteção efetiva dos trabalhadores, consideramos que o EPI deve ser 20 cm
mais longo do que as alturas dos botes obtidas nesses testes com as espécies jararacuçu e
cascavel. Esses dados não se aplicam a outras espécies de serpentes, pois na fauna brasileira
há serpentes maiores, a exemplo da Lachesis muta (surucucu-bico-de-jaca) que vive na região
Norte e região litorânea e, quando adulta, pode chegar a 3,5 m de comprimento.
ataques das serpentes: o calçado B3, as perneiras P2 e P3, e as luvas L2 e L3 (vide figuras 45
e 46 nas pp. 135 e 136).
B1 X X X X
B2 X X X X
B3 X X X X
B4 X X X X
P1 X X X X
P2 X X X X
P3 X X X X
M X X X X
L1 X X X X
L2 X X X X
L3 X X X X
O calçado ocupacional B3, tipo bota, é fabricado no Brasil, segundo a NBR ISO
20347:2008 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT). Confeccionada em
microfibra (microfilamentos de poliamida, poliéster e viscose, com fios termoligados e
acabamento em poliuretano) na cor preta, a bota tem forro da gáspea em não tecido na cor
cinza, palmilha de montagem em material sintético na cor branca, solado preto de poliuretano
bidensidade injetado diretamente no cabedal, sem biqueira de aço e resistente ao óleo
combustível, para uso em locais com presença de eletricidade. O fechamento da bota é com
zíper na lateral. Disponível nos tamanhos de 35 a 45, esse modelo de calçado ocupacional foi
aprovado para proteger os pés dos usuários contra riscos de natureza leve, contra agentes
122
abrasivos e escoriantes, e contra choques elétricos. Destacamos que essa bota foi perfurada
quando o zíper estava aberto (vide figura 38).
Figura 38 - Bota perfurada pela presa da jararacuçu quando o zíper estava aberto
O material testado e aprovado pela Funed (vide anexo 3), através de testes com
cascavel, jararacuçu e caiçaca, tinha as seguintes características informadas pelo fabricante:
- Camisa com tronco em tecido tipo sarja com acabamento hidrorrepelente, mangas
em material em três camadas (camadas externas em tecido tipo tela 55% algodão/45%
poliéster, com resinagem em PVC nas duas faces e camada interna em couro sintético), e
punhos com ajuste em velcro.
- Calça tipo cowboy, com ajuste na cintura em velcro, perneiras em material em três
camadas (camadas externas em tecido tipo tela 55% algodão/45% poliéster, com resinagem
em PVC nas duas faces e camada interna em couro sintético).
A bota B2, fabricada no Brasil segundo a norma ABNT NBR ISO 20347:2008, é
confeccionada em couro curtido ao cromo e tem fechamento em elástico, palmilha de
montagem em material não tecido fixada pelo sistema strobel, biqueira de polipropileno e
solado de poliuretano bidensidade injetado direto no cabedal. Os tamanhos disponíveis são de
22 a 46. Foi aprovada para proteger os pés contra riscos leves e choque elétrico.
A bota B4, fabricada no Brasil segundo a norma ABNT NBR ISO 20347:2008, é
confeccionada em couro hidrofugado curtido em cromo e tem palmilha de montagem em
125
material não tecido, montado em sistema strobel, sem biqueira de proteção e solado em
poliuretano bidensidade injetado direto no cabedal. Os tamanhos disponíveis são de 33 a 46.
Essa bota foi aprovada contra riscos de natureza leve e agentes abrasivos e escoriantes.
As espessuras, medidas três vezes por EPI com paquímetro Mitutoyo, estão
apresentadas na figura 40 a seguir.
T IPO D E EP I E SP ES S UR A (M M )
B1 4,42
B2 3,56
B3 4,93
P1 4,61
P2 3,0
P3 5,73
M1 2,51
L1 4,93
L2 1,71
L3 2,56
Com relação às botas, a B3, com maior espessura, foi a que resistiu ao ataque da
jararacuçu. Com relação às perneiras, a reprovada foi a P1 cuja espessura é maior do que a da
P2 e menor do que a da P3, sendo que estas duas últimas foram aprovadas. Quanto às luvas, a
127
L1, que era a mais espessa, foi reprovada, ao passo que a L2 e a L3, com espessuras menores,
foram aprovadas.
determinado assunto. A repetição pode levar à saturação das informações, fenômeno que
ocorre quando, após certo número de entrevistas, o entrevistador começa a ouvir de novos
entrevistados relatos muito semelhantes àqueles já ouvidos anteriormente.
GOLDENBERG (2004, p. 53) salienta que:
Os atributos foram analisados nesta fase com respostas diretas ―sim ou não‖
conforme o Apêndice 2 - Entrevista para validação da demanda.
As luvas de proteção tinham o seguinte certificado de aprovação: CA 12407 - luva
de segurança confeccionada em fios de algodão/poliéster, punho com elastano, acabamento
final em overloque, sem costuras (tecida de forma integral).
A maioria dos trabalhadores concordou nos seguintes aspectos relativos a essa
luva: não provocar coceira nas mãos, não prejudicar os movimentos manuais, não machucar
as mãos e não endurecer. No entanto, o grupo apresentou discordância quanto à resistência a
perfurações por folhas de abacaxi, ao conforto térmico e ao tamanho.
Os trabalhadores chamavam essa peça de luva de pano: essa luva de pano é boa
pra trabalhar; essa luva de pano é razoável.
Oito trabalhadores afirmaram que os aspectos de prejudicar movimentos,
machucar as mãos e endurecer não ocorrem, e todos avaliaram que essas luvas não provocam
coceira nas mãos.
Já quanto à resistência a perfurações de folhas de abacaxi, as opiniões variaram: 4
afirmaram que sim e 5 que não.
As opiniões também diferiram quanto ao conforto térmico e ao fato de as mãos
transpirarem com as luvas (figura 42): 5 afirmaram que sim e 4 que não.
O tamanho foi considerado bom por 6 trabalhadores, porém um deles afirmou que
a luva aperta as mãos, e outro, que é larga: essa luva fica grande na minha mão, pois é muito
larga e atrapalha o trabalho.
Figura 42 - Luva de pano com tamanho inadequado
131
A luva em pano (figura 42) foi considerada boa por 7 trabalhadores, porém
outros teceram os seguintes comentários negativos: essas luvas não são boas para trabalhar
na adubação; elas rasgam fácil quando o abacaxi está muito grande; elas são ruins para
pegar as mudas.
As seguintes propriedades foram analisadas para as perneiras de proteção:
prejudicar o movimento das pernas, machucar as pernas, endurecer durante o trabalho,
provocar coceira, resistir à perfuração de folhas de abacaxi, esquentar a perna, transpiração
adequada das pernas e tamanho adequado.
As perneiras de proteção usadas nesta fase da pesquisa tinham os seguintes
Certificados de Aprovação: CA 28433, CA 25535 e CA 16742. Três trabalhadores usavam
calça em lona.
Os trabalhadores 5 e 6 utilizaram a perneira com CA 28433: perneira de segurança
confeccionado em tecido sintético (bidim), três talas de polipropileno e fechamento por
soldagem eletrônica, modelo longo, metatarso reforçado.
Esses dois indivíduos afirmaram que a perneira em questão não prejudica o
movimento das pernas, não endurece durante o trabalho, não provoca coceira nas pernas,
embora as esquente, e resiste à perfuração provocada por folhas de abacaxi.
Com relação ao tamanho, houve discordância de opiniões. O trabalhador 6 afirmou
que ela aperta as pernas. O trabalhador 5 a considerou boa, e o 6, razoável, sendo que ambos
afirmaram que ela permite fazer todas as tarefas.
Os trabalhadores 4 e 2 utilizavam a perneira com CA 25535: perneira de segurança
confeccionada em material sintético, costurada eletronicamente nas extremidades por meio de
material sintético, constituída de três talas de proteção frontal e lateral costuradas
eletronicamente.
Ambos deram os seguintes retornos sobre essa perneira: o tamanho é bom, ela não
prejudica o movimento das pernas, não endurece durante o trabalho, não provoca coceira nas
pernas, resiste à perfuração provocada pelas folhas do abacaxi, mas esquenta as pernas. Para
eles, outro ponto positivo da perneira é que permite executar todas as tarefas.
Os trabalhadores 1 e 9 utilizaram a perneira com CA 16742: perneira de segurança
confeccionada em material sintético (bidim), cinco talas interligadas em polipropileno na
parte frontal, costura eletrônica, dez fios de aço no metatarso, com dois que sobem na tala
central recobrindo o joelho.
132
11.3.2 Análise qualitativa dos EPIs submetidos aos ensaios com serpentes
Eles exerciam diversas tarefas por ocasião das entrevistas, em setembro de 2016. O
trabalhador 1 era cargueiro (incumbido de carregar o caminhão com os frutos colhidos) à
tarde e pela manhã dirigia a moto durante a colheita semi-mecanizada de abacaxi (figura 30);
o trabalhador 2 estava tirando mudas de abacaxi; o trabalhador 3 estava colhendo e podando
os pés de abacaxi; o trabalhador 4, que se diferencia por ser produtor, estava colhendo frutos;
e os trabalhadores 5 e 6 faziam serviços gerais, a exemplo de capina.
Os atributos selecionados para análise dos EPIs foram gerados após pesquisas em
campo junto aos trabalhadores no cultivo de abacaxi (GONZAGA et al., 2012, 2014) e
também com base em ampla pesquisa bibliográfica sobre os problemas derivados do uso de
equipamentos de proteção individual.
135
A análise qualitativa dos EPIs apresentada a seguir teve como base o Apêndice 3 -
Roteiro para entrevista semiestruturada.
136
A seguir será apresentada a avaliação dos trabalhadores quanto à luva L3 (figura 46),
que é confeccionada em couro, com tira de reforço na palma da mão e forro térmico na palma
e no punho.
Figura 46 - A luva L3
Com relação aos atributos avaliados na luva de proteção L3, os dados da figura 47
demonstram que 4 trabalhadores alegaram que essa luva não atrapalhou os movimentos das
mãos, enquanto 2 asseguraram que ela prejudicou um pouco os movimentos devido ao
endurecimento que impede mexer os dedos.
137
Muralidhar et al. (1999): muitos problemas com os EPIs estão ligados à padronização, que
desconsidera as características antropométricas dos usuários. Gonzaga (2004) discutiu essa
questão na atividade do corte manual da cana, na qual os equipamentos de proteção
fornecidos aos trabalhadores eram em tamanho único.
A figura 49 apresenta a avaliação relacionada a peso da luva, se ela atrapalha a
execução das atividades e finalmente a avaliação geral dos trabalhadores sobre essa luva de
proteção.
Figura 49- Análise qualitativa da luva L3 referente a peso, se atrapalha a execução das
atividades e avaliação final
Com relação ao peso, todos afirmaram que as luvas não são pesadas, mas um dos
trabalhadores teceu o seguinte comentário: ela não pesa, mas é desconfortável.
Acerca da transpiração das mãos dentro das luvas, 4 trabalhadores consideraram
que as mãos transpiram bem com as luvas. O comentário oposto foi o seguinte: essa luva não
permite que a mão transpire bem, a minha mão fica encharcada de suor.
Sobre a execução das tarefas, 5 dos trabalhadores consideraram que a luva
atrapalha pouco e teceram os seguintes comentários: ela não atrapalha a execução das tarefas
e é boa para colher o abacaxi, pois tamanho é bom, não pesa, a mão transpira bem com ela.
Somente um trabalhador alegou que ela atrapalha muito, ao passo que os outros
fizeram os comentários a seguir: ela é boa só para apanhar; pra conseguir usar ela a gente
emborracha o cabo do carrinho para dar mais aderência e não escorregar; embora o
140
tamanho seja bom, ela atrapalha a execução das tarefas, principalmente o plantio; para tirar
as mudas ela não presta, mesmo molhada. Segundo outro trabalhador, a luva L3 não é boa
para colocar e tirar saquinho do balde: aí eu uso a luva de borracha verde.
GONZAGA (2004) observou a mesma estratégia durante o corte manual da cana-
de-açúcar, para compensar a falta de aderência ao cabo do facão: emborrachar o cabo.
Ainda em relação a essa luva, houve um comentário interessante por parte de dois
trabalhadores: essa luva é boa, pois protege até o cotovelo.
Figura 50 - Perneira P3
141
Com relação à sensação de maciez nas pernas, todos afirmaram que ela é macia.
Já ao fato de provocar coceira, um dos trabalhadores concordou: ela provoca
coceira nas pernas, principalmente quando está muito quente. No entanto, 5 trabalhadores
avaliaram que ela não provoca coceira.
Quanto à resistência a perfurações por folhas de abacaxi, apenas um dos
trabalhadores afirmou que ela não resiste.
Com relação ao conforto térmico, 4 dos trabalhadores alegaram que essa perneira
não esquenta as pernas durante a execução do trabalho. Outros 2 afirmaram que ela esquenta
um pouco as pernas e fizeram o seguinte comentário: ela esquenta, mas não prejudica o
trabalho.
A figura a seguir apresenta os resultados da avaliação da perneira pelos
trabalhadores quanto a tamanho, peso, se ela deixa a perna transpirar bem, se permite executar
as tarefas e a avaliação final.
144
Com relação a tamanho, ela não era adequada às pernas de 1 trabalhador, o qual
afirmou: a perneira preta é pequena demais, podia ser um pouco maior. Para os outros 5
trabalhadores, o tamanho era adequado, principalmente por ela ter ajuste nas pernas em
elástico por dentro, quando a gente fecha (vide figura 55).
Quatro dos trabalhadores afirmaram que a perna transpira bem com a perneira.
Dois, porém, alegaram que não, conforme essa descrição: a perna fica suada quando uso essa
perneira.
Sobre a execução das tarefas com essa perneira, 4 dos trabalhadores declararam
que ela não atrapalha, ao passo que 2 disseram que ela atrapalha um pouco: quando ela
esquenta, escorrega nas pernas e tem que ficar pondo ela no lugar.
Embora algumas opiniões tenham apontado problemas na utilização desta
perneira de proteção, os 6 trabalhadores a consideraram boa.
A seguir será apresentada a avaliação dos trabalhadores relativa à perneira
marrom – CA 11.410 (vide figura 56 abaixo), que é confeccionada em material sintético com
duas camadas de laminado em PVC e tem fechamento total com solda eletrônica.
Cinco dos trabalhadores alegaram que essa perneira não prejudica o movimento
das pernas, porém um afirmou que ela atrapalha um pouco. Já o movimento dos pés não é
prejudicado por ela, segundo todos os trabalhadores entrevistados.
As pernas e os pés não são lesionados por ela, segundo todos os trabalhadores que
a testaram.
A figura abaixo apresenta o parecer deles quanto a maciez, a provocar coceira, à
resistência a perfurações por folhas de abacaxi e a conforto térmico.
abacaxi, pois no plantio a gente usa calça comprida e fica descalço ou de meia (figura 60), e
trabalha apenas com mudas que têm folhas pequenas e não machucam as pernas.
Veremos a seguir como foi avaliada a bota de proteção em couro (figura 61),
confeccionada em microfibra, com forro da gáspea em não tecido, palmilha em material
sintético, solado em poliuretano, sem biqueira de aço e com zíper lateral.
149
Com relação à movimentação dos pés, 4 trabalhadores alegaram que a bota não
prejudica, enquanto outros 2 disseram que ela prejudica um pouco.
No que concerne a machucar os pés, 5 dos trabalhadores asseguraram que não.
Quanto à sensação de maciez, todos os trabalhadores garantiram que a bota é
macia, além de não provocar coceira.
A figura 63 apresenta a análise dos trabalhadores quanto à resistência a
perfurações, a tamanho adequado e peso.
151
Considerando que avaliamos EPIs que não passaram por ensaios com serpentes e
EPIs que passaram por ensaios e foram aprovados, houve diferenças observadas nos dois
casos, as quais serão apresentadas a seguir.
Com relação às luvas de proteção, a principal diferença entre ambas é que a luva
que passou pelos ensaios (L3) resistiu à perfuração por folhas de abacaxi, enquanto a luva em
pano não resistiu. Salientamos que a L3 atendeu à demanda dos trabalhadores quanto à
proteção do risco mecânico de perfuração das mãos por folhas pontiagudas de abacaxi.
Com relação a atrapalhar a execução das tarefas, as luvas também apresentaram
diferenças. A luva em pano rasga rapidamente quando o abacaxi é grande e dificulta a
realização da tarefa de colher as mudas. Já a luva L3 exigiu dos trabalhadores o
emborrachamento dos cabos do carrinho em metal que faz o transporte de frutos e mudas,
uma vez que ela atrapalha a execução das tarefas de plantar, colher as mudas e colocar os
saquinhos de papel.
Para as perneiras de proteção analisadas (CA 28433, CA 25535, CA 16.742) e a
calça em lona, foram observadas as seguintes diferenças: as perneiras esquentam as pernas, ao
contrário da calça em lona.
Com relação ao endurecimento, também houve diferenças entre as avaliações das
proteções das pernas. As perneiras não endurecem, mas a calça em lona endurece após a
lavagem.
Já para as botas avaliadas, a principal diferença foi que a bota em couro não
esquenta os pés dos trabalhadores, enquanto a bota P2 esquenta.
Finalizamos destacando que conseguimos atingir o objetivo de selecionar um
conjunto de EPIs para proteger os membros inferiores (pés e pernas) contra os riscos
mecânicos de perfuração por folhas pontiagudas e espinhos de abacaxi. No entanto, para os
membros superiores (mãos e antebraços) só conseguimos obter a proteção para as mãos, já
que o mangote testado foi perfurado pelos ataques de serpentes e, consequentemente, não foi
testado em campo. Portanto, os braços e antebraços não foram contemplados com proteção
efetiva contra as perfurações.
157
12. CONCLUSÕES
tamanho é adequado. Por sua vez, foram confirmados os quesitos de as pernas não respirarem
bem, a perneira esquentar e atrapalhar a execução das tarefas.
Com relação à perneira CA 11410, houve consenso nos seguintes aspectos: não
machucar os pés nem as pernas, ser macia, ter tamanho adequado, não ser pesada, não
atrapalhar a execução das tarefas e a avaliação de que a perneira é boa. Ocorreram, porém,
algumas opiniões divergentes nos seguintes quesitos: prejudicar os movimentos das pernas,
provocar coceira, resistir às perfurações das folhas, esquentar e deixar as pernas transpirarem.
Com relação à bota de proteção, houve concordância nos seguintes quesitos: ser
macia, não provocar coceira e não ser pesada. As divergências ocorreram nos seguintes
aspectos: prejudicar os movimentos dos pés, resistir à perfuração das folhas, esquentar os pés,
machucar os pés e o tamanho adequado.
Com relação à roupa protetora de nylon (figura 60), houve concordância nos
seguintes aspectos: pesar e esquentar. Certos quesitos geraram discordância: o tamanho, o
grau de proteção e dificultar os movimentos corporais.
Destacamos que os EPIs fabricados com materiais sintéticos e rígidos se
mostraram desconfortáveis, pois lesionam o corpo dos trabalhadores, prejudicam os
movimentos corporais e causam desconforto térmico.
Salientamos que para haver uma proteção física efetiva e confortável para os
trabalhadores é de suma importância conhecer as particularidades do processo produtivo no
qual tais equipamentos serão utilizados, assim como as características antropométricas dos
usuários, de forma que a proteção não atrapalhe seu trabalho nem venha a gerar problemas
adicionais à sua saúde.
160
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMARAL, C.F.S. Cuidados intensivos nos acidentes por animais peçonhentos. In:
Cardoso, J. L. C., F. O. S. França, F. H. Wen, C. M. S. Málaque & V. Haddad Jr. Animais
Peçonhentos no Brasil – Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes. 2ª ed., pp. 446-
453. São Paulo: Editora Sarvier, 2009.
Disponível em <http://www.medicina.ufba.br/imuno/roteiros_imuno/
imunoglobulinas_01_2.pdf>, Data de acesso: 10/11/2015.
BOCHNER, R.; STRUCHINER, C. J. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100
anos no Brasil: uma revisão. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, pp. 7-16, 2003.
Disponível em <http://www.scielo.br/pdf/csp/v19n1/14900.pdf>, Data de acesso: 26/04/2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Acidentes com animais peçonhentos crescem 157%. 2012.
Disponível em<http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/profissional-e-gestor/
vigilancia/noticias-vigilancia/7592-acidentes-com-animais-peconhentos-crescem-157>, Data
de acesso: 14/05/2015.
DUL J., WEERDMEESTER, B. Ergonomia prática. Tradução de Itiro Iida. São Paulo:
Editora Edgard Blücher, 1993.
________ BS EN 420: protective gloves – general requirements and test methods. 2003.
FAYOMI, B., MASSOUGBODJI, A., CHOBLI, M. Données épidémiologiques sur les cas de
morsures de serpent déclarés au Bénin de 1994 à 2000. Bull Soc Pathol Exot, v. 95, n. 3, pp.
178-180, 2002. Disponível em <http://www.plosmedicine.org/article/ info%3Adoi%2F10.
1371%2Fjournal.pmed.0050218>, Data de acesso: 07/10/ 2014.
_________ Análise Coletiva do Trabalho: quer ver? Escuta. Revista Ciências do Trabalho,
n. 4, 2015a.
GARRIGOU, A.; BALDI, I.; JACKSON, M. The use of pesticides in French viticulture: a
badly controlled technology transfer! Work, Holanda, v. 41, suplemento 1, pp. 19-25, 2012.
Disponível em http://content.iospress.com/download/work/wor0130?id=work%2Fwor0130,
Data de acesso: 08/12/2016.
GONZAGA, M. C.; LIMA, C.Q.B. Dificuldades e limitações das luvas de proteção usadas no
corte manual da cana. Laboreal. França, v. 12, n.1, pp. 77-87, 2016.
GRAY, D. E. Pesquisa no mundo real. Tradução de Roberto Cataldo Costa. 2ª ed., 488 p.,
Porto Alegre: Editora Penso, 2012.
HAAPALA, H.; NURKA, P.; KAUSTELL, K.; MATTILA, T.; SUUTARINEN, J. Usability
as a challenge in agricultural engineering. Finlândia, 2006. Disponível em
<http://www.smts.fi/>, Data de acesso: 26/03/2015.
INTERNATIONAL STANDARD. ISO 11611. Protective clothing for use in welding and
allied processes, 2007
LIMA, J. S.; JÚNIOR, H. M.; MARTELLI, D. R. B.; SILVA, M. S.; CARVALHO, S. F. G.;
CANELA, J. R.; BONAN, P. R. F. Perfil dos acidentes ofídicos no norte do Estado de Minas
Gerais, Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical. v. 42, n. 5, pp. 561-
564, set-out, 2009.
SANTOS, M.E. Frutos Anônimos da exploração: o caso dos acidentes e intoxicações dos
trabalhadores do abacaxi em Sapé Paraíba. 233 p. Dissertação (Mestrado em
Epidemiologia) - Escola Nacional de Saúde Pública, Rio de Janeiro, 1985.
SÃO PAULO. Polícia Militar do Estado de São Paulo. Bombeiros – Imobilização, s.d.
Disponível em <http://www.bombeirosemergencia.com.br/images/ps_3_t.gif> Data de
acesso: 28/04/2016.
SAZIMA, I.; MARQUES, O. A. V. História Natural das Serpentes. In: Cardoso, J. L. C., F.
O. S. França, F. H. Wen, C. M. S. Málaque & V. Haddad Jr. Animais Peçonhentos no Brasil
– Biologia, Clínica e Terapêutica dos Acidentes. 2ª ed., pp. 71-80. São Paulo: Editora
Sarvier, 2009
WISNER, A. Por dentro do trabalho - Ergonomia: método & técnica. Tradução de Flora
Maria Gomide Vezzá. São Paulo. Editora Oboré, 1987
ZAGO, J. E., SILVA, J. P. O design pode contribuir para a melhoria dos EPIs. CIPA:
Caderno Informativo de Prevenção de Acidentes. v. 19, n. 220, pp. 101-102, 1998.
179
APÊNDICES
Peso _______________Altura_______________________________
Escolaridade _____________________
Tipo de luva_______________________________
Explique _____________________________________________________________
____________________________________________________________________
___________________________________________________________________
1. Prejudica o movimento das pernas ou dos pés? Sim (_____) Não (_____)
Explique _____________________________________________________________
______________________________________________________________
____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
Onde:__________________________________________________________
____________________________________________________________________
184
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_____________________________________________________
Tipo de mangote
___________________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
Onde:__________________________________________________________
185
____________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_____________________________________________________
186
Data: ________
Peso: _______________Altura:_______________________________
Escolaridade: _____________________
Tipo de luva_______________________________
Explique: _____________________________________________________________
Onde?_________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
6. Protege as mãos durante a manipulação dos frutos? Sim (_____) Não (_____)
Explique: _____________________________________________________________
7. Conforto térmico
A luva esquenta muito as mãos durante a execução das tarefas ( )
A luva esquenta um pouco as mãos durante a execução das tarefas ( )
A luva não esquenta as mãos durante a execução das tarefas ( )
Explique: ____________________________________________________________
8. Em relação ao tamanho
A luva é grande demais (larga) ( )
A luva é adequada (tem bom tamanho) ( )
A luva é pequena demais (aperta) ( )
Explique: ____________________________________________________________
Explique: ____________________________________________________________
188
Explique: ____________________________________________________________
12. Como você avalia essa proteção? Boa (___) Razoável (_____) Ruim (___)
Explique: ____________________________________________________________
Tipo de perneira_______________________________
Explique: _____________________________________________________________
Onde?_________________________________________________________
Onde?_________________________________________________________
5. Quanto à sensação:
A perneira é muito dura ( )
A perneira é um pouco dura ( )
A perneira é macia ( )
Explique: _____________________________________________________________
Onde? _____________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
8. Conforto térmico
A perneira esquenta muito as pernas durante a execução das tarefas ( )
A perneira esquenta um pouco as pernas durante a execução das tarefas ( )
A perneira não esquenta as pernas durante a execução das tarefas ( )
Explique: ____________________________________________________________
9. Em relação ao tamanho
A perneira é grande demais ( )
A perneira é adequada (tem bom tamanho) ( )
A perneira é pequena demais ( )
Explique: ____________________________________________________________
190
10. Em relação ao peso, a perneira é pesada demais? Sim (_____) Não (_____)
Explique: ____________________________________________________________
Explique: ____________________________________________________________
Explique: ____________________________________________________________
13. Como você avalia essa proteção? Boa (___) Razoável (_____) Ruim (___)
Explique: ____________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
191
Onde?_________________________________________________________
3. Quanto à sensação:
A bota é muito dura ( )
A bota é um pouco dura ( )
A bota é macia ( )
Explique: _____________________________________________________________
Onde? _____________________________________________________________
Explique: _____________________________________________________________
6. Conforto térmico
A bota esquenta muito os pés durante a execução das tarefas ( )
A bota esquenta um pouco os pés durante a execução das tarefas ( )
A bota não esquenta os pés durante a execução das tarefas ( )
Explique: ____________________________________________________________
7. Em relação ao tamanho
A bota é grande demais (larga) ( )
A bota é adequada (tem bom tamanho) ( )
A bota é pequena demais (aperta) ( )
192
Explique: ____________________________________________________________
Explique: ____________________________________________________________
Explique: ____________________________________________________________
1. O tamanho é bom ( )
2. Ele protege ( )
3. Esquenta ( )
É pesado ( )
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
________________________________________________________________
ANEXOS