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História da

Psicologia Moderna
Tradu ção da oita va edição norte- americana

Duane P. Sc hultz
University of South Fl orida

Sydne y Ell en Sc hultz

Tradutora:
Suely Sonoe Murai Cuccio

Revisara técnica:
Roberta Gu rgel Azzi
Professora do Dep artamento de Psicologia
Educacional da Faculdade de Educação da Uni camp
As Influênci as
Filo sóficas n a
Psic ologia
o Espírito do Me canicismo
O Universo M ecânico
Determinismo e
Reducionismo
o Es pír ito do Mecani c is m o
O Robô
As Pessoas como Máquinas Formas extravagantes de entretenimento brotavam entre
A Máquina Calculadora as muitas ma ravilhas da impr essionante era nos jardins
Os Primórdios da Ciência reais da Europa do século XVII . A água q ue percorria uma
Moderna tubulação subterrânea acionava as fig uras mecânicas,
René Descartes (1596-1650)
fazendo-as realizar vários movimentos inusitados, tocar
As Cont ribuições de
instrumentos musicais e imi tar os sons da fa la. Placas de
Descartes: o M ecanicismo
e o Probl ema Mente-Corpo pressão ocultas no chão eram a cionadas quando as pes-

A Natureza
A Interação dMente-Cor
o Corpo po soas pis avam nelas sem quer er, fazendo a ág ua corr er
pelos canos até o mec anismo que movimentava as es tá-
A Doutrina das Idéias
tuas. Essas di versões da ar istocr acia do sé culo XVII ref le-
As Bas es Filosó ficas da Nova
tiam e evidencia vam o fa scínio exercido pelas máquinas
Psicologia: Positivismo,
que estavam sendo inventadas e aperfeiçoadas para o us o
Materialismo e Empirismo
Auguste Comte (1798-1857) na ciência, na indústr ia e no l a zer.
John Locke (1632-1704) Em toda a Ing later ra e na Europa ocidental, uma
Texto Original: Trecho sobre enorme quantidade de máquinas era empregada nas
o Empirismo Extraído
de An Essay Concerning tarefas d iárias par a complementar a força m uscular do
Human Und erstanding homem. Essas bo mbas, alavancas, guindastes, rodas e
(1690), de John Locke engrenagens moviam o s moinhos de á g ua e de vento
George Berkeley
David Hume (1685-1753)
(1711-1776) para moer grãos, serrar toras de madeira, tecer fios e re a-
David Hartley (1705-1757) lizar outros trabalhos braçais. Dessa maneira, a socieda -
James Mil! (1773-1836) de européia liber tava-se da de pendência da força física
John Stuart Mil! (1806-1873)
humana. As máquinas tornaram-se familiares às p essoas
Contribuições do E mpirismo
de todos os n íveis so ciais, desde o mais humi lde até o
à Psicologia
aristocrata, e logo passaram a faz er parte da vida cotidiana. E ntretanto, entre todos os
inventos, o relógio mec ânico foi o de m a ior impacto no p ensamento científico.
Mas qu al a relação e xistente entre o desenvolvimento mac iço da t ecnologia e a his-
tória da psicolo gia moderna? Afinal, referimo-nos a um perío do 200 anos anterior à fun-
dação formal da p sicologia como ciência, bem como à físi ca e à mecânica, disciplinas há
muito excluídas d o estudo da na tureza humana . No entanto, a relação é in e vitável e
direta, já que o s princípios incorporados nas movimentadas e ruidosas máquinas, nas
figuras e nos rel ógios mecânicos do século XVII exerceram grande influência na dire ção
tomada pela n o va psicologia.
O Z eit geist dos séculos X VII ao XI X consistiu a base que nutriu a nova psicologia. O
espírito do mecanicismo, que enxerga o universo como uma g rande máquina, foi o fun-
damento filosófico do s éculo XVII, ou seja , a sua força cont extual básica . Essa doutrin a
afirmava serem os p rocessos naturais mecânicos e passíveis de exp licação por meio d as
leis da física e da qu ímica.

Mecanicismo: doutrina para a qual os p rocessos naturais são determinados mecanicamente e exp li-
cados pelas leis da física e da química .

A idéia do mecanici smo originou-se na física, chamada na época de filosofia natura-


lista, como resultado d o trabalho do físico italiano Gali leu Galilei (1564-1642) e do
matemático e físico in glês Isaac Newton (1642-1727), que possuía alguma experiência
como relojoeiro. A teoria afirmava q ue qualquer objeto exis tente no un iverso era com-
posto de partículas de matéria em m o vimento. De acordo com Galileu, a matéria consi s-
tia de di scretos corpú sculos ou átomos que af etavam uns aos o utros mediante o contato
direto. Mais tarde, Newton aperfeiçoou a visão mecanicista de Galileu, postulando que
o movim ento não resultava do co n tato físico di reto, mas das f orças de at ração e repul -
são que atuavam sob re os átomos. A idéia de Newton , embora importante para a fí sica, .
não mudou radicalmente o conceito mecani cista nem a for ma como fora aplicado no s
problemas de origem psicológica.
Se o uni verso é con stituído de á tomos em movimento, então qualq uer efeito físic o
(o movimento de cada át omo) r esulta de uma ca usa direta (o mov imento do átomo que
o atinge) . Como o efeit o está suj eito às le is da medição, deveria s er prev isível. O fun cio-
namento do universo f ísico era comparado ao do relógio ou ao de qualq uer boa má qu i-
na, ou seja, era organizad o e preciso. No sécu lo XVII, os cien tistas atribuíam a "causa" e
a "perfeição" a Deus - que projetou o universo com perfeição - e acreditavam que, se
conseguissem dominar as le is de funcionamento do universo, ser iam capazes de pre ver
seu compor tamento futur o.
Nesse período, os métodos e as descob ertas da ciência avançavam a pa ssos largos
junto com a tecnologia, e a combinação entr e ele s foi per feita. A observação e a ex per i-
mentação tornaram-se os diferenciais da ciê n cia, seguidas de p erto pela mediçã o. Os
especialistas tentavam definir e desc rever os fenômenos, a tribuindo-Ihes um v alor
numérico, processo vital para o es tudo do funcionamento do universo como uma
máquina. Os termômetros, os barôme tros, as réguas d e cálculo, os micrômetros , os r eló-
gios de pê ndulo e out ros dispositivos de m edição era m aperfeiçoados e reforçavam a
idéia da po ssibilidade d e se medi r qualquer aspecto do u niverso natural. Até me smo o
tempo, considerado im possível de ser reduzido em unidades menores, já podia ser m edi-
do com precisão.
A medição exata do tempo teve conseqüências tanto p ráticas como científicas . "Sem
os instrumentos precisos para o acompanhamento do tem po não seria possível medir os
pequenos incrementos no intervalo decorrido entre as obs ervações e, portanto, a conso-
lidação dos avanços no conhecimento científico não começou apenas com a ajuda do
telescópio ou do microscópio" Gardine , 1999, p. 133-134). Além disso, os astrônomos e
os navegadores necessitavam de apare lhos pr ecisos de medição do tempo para registrar
com exatidão os movimen tos dos astros. Essas inf ormações eram vitais para a localiza-
ção dos navios em alto-mar.

o U n iv ers o M ec ân ic o
o relógio mecânico foi a metáfora pe rfeita usada pelo espírito do mecanicismo do sécu-
lo XVII. O historiador Daniel Boorstin referia -se ao relógio como a "mãe das máquinas "
(Boorstin, 1983, p. 71) . O relógio foi a sensação tecnológica do s éculo XVII, assim como
o computador no sé culo XX . Nenhum dispositivo m ecânico provocou tanto impacto no
pensamento humano e em todos os níveis da sociedade. Na Europa, os re lógios eram
produzidos em grande quantidade e variedade1. Alguns eram d e tamanho suficiente para
ficar sobre a mesa; outros, bem mai ores, instalados nas to rres das igrejas e n os edifícios
públicos, podiam ser vis tos e ouvidos a quilômetros de distância. Enquanto as figu ras
mecânicas instaladas nos jardins reais era m a diversão da elite, os relógios eram acessí-
veis a todos, independentemente da cla sse social ou da situação econômica.
Devido à regularidade, previsibilidade e e xatidão dos relógios, os cientistas e filósofos
começaram a enxergá-los como modelos pa ra o universo físico. T alvez o próprio univer-
so fosse um imenso relógio fabricado e colocad o em op eração pelo Criador. Os cientistas,
como o físico britânico Robert Boyle , o astrônomo alemão ]ohannes Kepler e o filósofo
francês René Descartes, acreditavam nes sa idéia e ace itavam a explicação da harmonia e

da ordem do universo baseada na regularidade do r elógio, ou seja, o mecanismo é fabri -


cado cuidadosamente pelo relojoeiro , assim como o univ erso f oi arquitetado por Deus
para funcionar com regularidade.
O filósofo alemão Ch ristian von Wol ff declarou: "O co mportamento do uni verso
não é diferente do fu ncionamento do meca nismo do relógio". Seu aluno ]oha nn
Cristoph Gottsched ainda acrescentou: "Com o o universo é um a máquina, ele é seme-
lhante ao relógio; e, assim, o relógio permit e-nos compreender em p equena escala o fun-
cionamento em grande escal a do universo" (apud Maurice e Mayr , 1980, p. 290).

o http://physics.nist.gov/Genlnt/Ti
A seção General Interest
me/time. htm l
(Interesses gerais) do National Institute of
Standards and Technology (Instituto Nacional de Padrões e Tec nologia)

1 No sé culo x , os chineses já ha viam criado enormes reló gios mecânicos. Talvez a notícia da in venção tenha incen-
tivado o desenvolvimento de outro s relógios no oeste europeu. Entr etanto, o tratamento refinado dado pelos eur o ·
peus e o seu entusiasmo na elaboração, criando modelos até extravagantes, tornaram esses relógios ini gualáveis
(Crosby, 1997).
oferece um recurso chamado " A Walk Through Time: The E volution of
Time Measurement Through the Ages " (Um pa sseio pelo tem po: a e volu-
ção da med ição do tempo atra vés das épocas).

Comparado com o mecanismo do relógio, o universo funcionava perfeitamente sem


qualquer interferência externa, já qu e fora criado e colocado em funcionamento por
Deus. Desse modo, a comparação do universo com o relógio abrange a idé ia do deter-
minismo, mais especificamente, a crença de que qualquer ação é determinada pelos
eventos do passado. Em outras palavras, é possível prever as m udanças que ocorrem na
operação do relógio, assim como no universo, com base na seqüência e na regularida-
de do funcionamento das peç as.

Não era difícil perceber a estrutura e o funcionamento do relógio. Era fácil desmon-
tá-Io e verificar exatamente a operação das engrenagens. Essa idéia levou os cientistas a
popularizarem o conceito d e reducionismo. Para compreender o mecanismo operacio-
nal das máquinas como o r elógio, bastava reduzi-Ias aos comp onentes bás icos. Do
mesmo modo, para entender o un iverso físico (que, afinal de contas, nada mais era do
que uma máquina), bastava analisá-Io ou reduzi-Io às partes mais simples, ou seja , às
moléculas e aos átomos. Assim, o reducionismo acabou caracterizando toda a ci ência,
inclusive a nova psicologia.

Reducionismo: doutrina que expl ica os fenômenos em um n ível (por e xemplo, as idéias complexas)
em termos de fenômenos em outro ní vel (por e xemplo, as id éias simples ).

Algumas questões óbvias foram levantadas: se a metáfora do relógio e os métodos


científicos podiam ser usados para explicar o funcionamento do universo físico, ser iam
adequados também para estudar a natureza humana? Se o universo era uma máquina
organizada, previsível, observável e mensuráve l, o ser humano igualmente o seria?
Seriam as pessoas e até mesmo os a nimais também alguma espécie de máquina?

As figuras movidas pela força da água nos jardins já serviam de modelo para os i ntelec-
tuais e aristocratas do século XVII, assim como os relóg ios para as pessoas comuns. À
medida que a tecnologia era aprimorada, aparelhagens mais sofisticadas, d esenvolvidas
para imitar as at itudes e os movimentos humanos, eram disponibil izadas para o entre-
tenimento da população em geral. Esses aparelhos foram chamados de robôs e era m
dotados de capacidade para realizar movimentos incríveis e inusitados com precisão e
regularidade.
o robô já fora desenvolvido muito antes do século XVII , pois foram encontradas
descrições de figuras mecanizadas nos antigos manuscritos gregos e ára bes. Os chin eses
também se destacaram na cons trução dos r obôs, já que sua li teratura r elata a existência
de animais e peixes mecânicos, além de figuras humanas criadas para s ervir vin ho, car -
regar xícaras de chá, cantar, dançar e tocar instrumentos musicais. No séc ulo VI, um
enorme relógio foi construído na atual região da Palestina e, de hora em hora, a cada
badalada, um con junt o sofis ticado de figuras m ecânicas entrava em mov imento. Ass im,
a art e da criação de robôs espalhou-se por tod o o mundo islâmico (Rossum, 1996). No
entanto, m ais de mil anos depois, no século XVII, os robôs desenvolvidos pe los cientis-
tas, intelectuais e a rtesãos do oe ste europeu foram con siderados novidade. O importan -
te trabalho das a ntigas civilizações havia-se perdido.
Os dois robôs mais complexos e sofisticados desen volvidos na E uropa foram um
pato e um flautista. O pato apanhava a comida da mão do demonstrador, engo lia-a e a
expelia; depois, bebia água mediante o movimento do pescoço flexível . Além disso, i mi-
tava o grasnido da própria ave e acomodava-se sobre as patas . "Mais tarde, constatou-se
que em apenas uma das asas havi a mais de 400 pe ças articuladas" (Woo d, 2002, p. 27).
O flautista não apenas em itia o som tí pico dos b rinquedos mus icais, como efetiva-
mente executava o instrumento. Com mais ou menos 1,67 m em pé, a ltura média do
homem da épo ca, o robô compr eendia uma peça mecanizada que repro duzia cada mú s -
culo, cada ligamento ou outra par te do co rpo necessária para executar a fla uta.
Nove foles bombeavam no p eito do robô a quantidade necessária de ar, de acor do
com o tom a ser ex ecutado den tre os 12 programados. O ar era empurrado at ravés de u m
tubo (correspondente à traq uéia humana) e entrava na b oca, onde era co ntrolado pela
língua e pel os lábios metálicos a ntes de chegar à flauta, dando, assim, a impressão de que
o boneco estava r ealmente respirando. Os dedos abriam -se e fechavam-se sobre os or ifí-
cios do instrumento para prod uzirem os sons exatos. Ambos os robôs "obscureceram a
linha divisória entre o homem e a má quina e en tre o ser animado e o inanimado"
(Wood, 2002, p. xv ii).
Hoje, os ro bôs podem ser v istos nos principais parques de várias c idades européias,
nas quais figuras mecânicas dos r elógios das to rres dos edifícios públicos marcham em
círculo, tocam tambores e batem nos sinos com os martelos a cada quar to de hora. Na
catedral de Estrasburgo, na Fra nça, representações de fi guras bíblicas reverenc iam a
Virgem Maria a ca da hora, enq uanto um galo abre o bico, põe a língua p ara fora, bate as
asas e canta. Na catedral de We lls, na Inglaterra, pares de cavaleiros ves tidos de ar madu-
ras simulam uma batalha. Quando o relógio to ca, a cada hora, um cav aleiro derruba o
outro do ca valo. No Museu Nacional Bávaro de M unique, na Alemanha, há um papagaio
de cerca de 40 cm de al tura e, q uando o relógio toca, de hora em ho ra, e le assobia, bate
as asas mecânicas, vira os olhos e d eixa cair um a bolinha de aço do seu ra bo.
A foto a seguir mostra o mecanismo interno da figura de um monge de mais o u
menos 40 cm de altura, que a tualmente faz parte da co leção do Mu s eu Nac ional de
História Americana, em Washington, De. O mo nge está programado para se move r
dentro de um espaço de ma is o u menos 60 cm. Seus pés pa recem movimentar -se sob o
hábito, mas na verdade a es tátua se move sobre rodas. E ele ainda ba te com um braço
no peito e c om o outro acena, mexe a cabeça d e um lado a outro, além d e abrir e fecha r
a boca .
Os filósofos e c ientistas da é poca acreditavam na tecnologia mecânica como uma
forma de r ealizar o sonho da c r iação do ser artif icial e, nitidamente, muitos dos prime i-
ros robôs da vam essa impressão. Podemos pensar n eles como os bonecos Disney da
época e é fá cil ente nder por que as p essoas chegaram à con clusão de que os seres vivos
eram simplesmente outro tipo de máquina.

http: //ww w.nyu .edu /pages /linguis ti es/ eour ses/v61 00 51 I


gelma nr I euIt _h istltextl p240. ht ml

Esses dois ende reços apresentam fotos e d escrições resumidas dos robôs dos
séculos XVIIe XVIII.

http: //ww w.xr oads.virgini a.edu/ -dr br /b _edin Lh tm l

Esse si t e contém uma pequena mo nografia a respeito do pape l do robô na


história da tecn ologia.

A s P e s s o a s c o m o M á q u in a s
Descartes e outros filósofos adotaram os robôs como modelos para os se res humanos.
Para eles, o ser humano funcionava assim como o uni verso, ou seja, igual ao mecanis-
mo do rel ógio. Descartes declarou não ser essa idéia "tão es tranha assim àqueles acos-
tumados com dife rentes robôs ou máquinas que se movem , fabricados pela indústria
dos homens (...) essas pessoas consideram o corpo humano uma máquina criada p elas
mãos de Deus , e incomparavelmente mais b em or ganizada e perf eita para realizar os
movimentos m ais admiráveis do que qualquer outr o mecanismo inventado pelo
homem" (Descartes, 1637/1912, p. 44). As pessoas podem a té ser melhores e mais efi-
cientes do que os mec anismos produzidos pe los relojoeiros, m as continuam sendo
máquinas.
Desse modo, os r elógios e os ro bôs abr iram o caminho para a noção de que o fun-
cionamento e o c omportamento humanos obedeciam às le is mecânicas e os métodos
experimentais e quantitativos, t ão eficazes na descoberta dos segr edos do universo físi -
co, seriam igua lmente a plicáveis ao estudo da n a tureza humana. Em 1 748, o médico
francês ]ulien de L a Mettrie ( que morreu de ingestão exce ssiva de fa isão e trufas) relatou
a alucinação que ti vera durante uma crise de febre alt a. O s onho convenceu-o de que as
pessoas eram máquinas, porém mai s sofisticadas, assim como um re lógio automático
(Mazlish, 1993). Essa id éia tornou-se a força mo triz do Z eitgeist na ciência e na filosofia
e durante muito temp o alterou a imagem predominante da nature za humana, mesmo
entre a populaç ão em geral. Por exe mplo: durante a Guerra Civil Ame ricana (1861-
1865), um oficial do e xército do norte, comentando sobre a mor te de um amigo, disse
não haver restado nada" além da máquina destruída que u m dia a a lma havia colocado
em movimento" ( Lyman, apud Agassiz, 1922, p. 332) .
A figura do ser hum ano robotizado permeou os romances e as histórias infantis do
século XIX e do início d o século XX. A idéia da criação de m áq uinas à i magem e seme -
lhança das f iguras humanas ex ercia grande fascínio . O escr itor din amarquês Hans
Christian A ndersen escr eveu The Night ingale, que tinha como personage m um pás saro
mecânico. A principal p ersonagem do livro eternamente popular da roma ncista ing lesa
Mary Wollstonecraft Shelley, Frankenstein, é um ser metade monstro me tade máquina
que acaba destruindo o seu criador . Os famosos li vros infantis Oz, do escr itor americano
L. Frank Ba um, que in spiraram o clássico fi lme O Mágico de Oz , estão re pletos de seres
mecânicos.
E assim, o legado dos séculos X Vll ao XIX inclui o c onceito do fu ncio namento do
homem como uma máquina e a ap licação do método cien tífico na investigação do com -
portamento humano. O homem era comparado às máqui nas, predominava a v isão cien-
tífica e a vida era reg i da pelas leis da mecânica . Em linhas g erais, o mecanicismo também
se ap licava ao fu ncionamento mental humano e o produto fin al foi uma má quina supos-
tamente capaz de pen sar.

http://www.santafe.edu/ -shalizi/ LaMettrie /

Essesite oferece uma bi ografia de Julien de La Mettrie e uma lista com fon -
tes de informação c omplementares a respeito da s ua vida e do seu trabalho,
além de uma tradu ção par a o ing lês do seu livro Man a machine.

A M áq u in a C a lc u lad o ra
Charles Ba bbage (1791-1871) era fascinado por relógios e robôs quando garoto. O
objeto de dese jo pelo q ual tinha enorme atração era uma bailarina mecânica, que acabou
adquirindo m uitos anos depois. Babbage era muito inteligente e tinha talento especial
para matemática, que estudou por co nta própria na adolesc ência. Quando s e matriculou
na Cambridge University, ficou decepcionado ao descobrir que sabia mais ma temática do
que os própr ios professores. Mais tarde tornou -se professor de matemática d a Cambridge
e membro da Royal Society, tendo sido um dos intelectuai s mais conhecidos da sua época.
O trabalho a q ue se dedicou a vida inteira foi o desenvolvime nto de uma m áquina calcu-
ladora capaz de realizar as operações matemáticas mais rapi d amente que o h omem e que
permitisse imprimir os resultados. Em busca d esse objetivo, Ba bbage acabou formulando
os princípios básicos do computador moderno.
Enquanto os robôs i mitavam os atos físicos humano s, a calculadora de Babbage
simulava as açõ es mentais. Além de tabular os va lores das funções m atemáticas, a
máquina dispunha de recursos para jogar xadrez, damas e outros jogos. Era até mesmo
dotada de me mória pa ra armazenar os resultados parciais usados posteriormente para
completar o cá lculo. Babbage batizou a c alculadora de máquina da dif erença" e refe -
l
ia

ria-se a si m esmo como "0 programador". Amáquina compreendi a cerca de 2 .000 peças
de aço e de bro nze, como hastes, engrenagens e discos, montadas com perfeição e movi -
das ou co locadas em funcionamento por um a manivela manual . A calculadora de
Babbage, que f unciona até hoje, marcou o início do de sen volvimento dos modernos e
2
sofisticados computadores . Ela representou um gr ande marco na tenta tiva de simular
o pensamento humano para fa bricar um mec anismo que demon stra sse urn a inteligên-
cia "ar tificial" (veja no Capítulo 15).
Um dos biógrafos mais r ecentes de Babbage fez a seguinte observação: " A importân-
cia da a utomatização da máq uina não de v e ser sup erdimensionada. No entanto, a utili-
zação da ma nivela manual, ou seja, a ap licação da força {fsica, permitiu, pela primeir a
vez na história, a obtenção de resultados possíveis até e ntão ap enas pelo esfor ço mental,

isto é, pelo pensamento. Foi a primeira t entativa de êxito em exteriorizar a faculdade d o


pensamento em urna máquina inanimad a" (Swa de, 2000, p . 83).
Babbage resolveu promover a nova máquina junto às p essoas mais influentes da
época, a fim de ob ter apoio para const ruir u m dispositivo a inda mais aperf eiçoado.
Organizou grandes festas na sua re sidên cia de Londres, com até 300 convidados perten-
centes à e lite social, intelectual e pol ítica. Charles Darw in e o escritor Charles Dickens
foram alguns dos convidados. Pe rsonalidades importantes faziam questão de serem vis-
tas na casa do brilhante contador de aned otas, inventor e c elebridade, e de estarem n a
presença de Babbage, ao lado da extraordinária máquina. En tretanto, a máquina comple-
ta era volumosa demais para ser exibida n a casa. Assim, Babbage construiu um mo delo d e
parte dela e colocava-o em fun cionamento para entreter os v isitantes. Tinha aproxima -
damente 76 cm d e a ltura, 61 cm de la rgu ra e 61 cm de pro f undidade.
Depois de dez a nos, Babbage aband onou o trabalho d a má quina da di ferença e
começou a projetar um aparelho mais so fisticado que ch a mou de "máquina analítica",
a qual podia ser pr ogramada com o us o de ca rtões p erfurados e era dotada de u rn a
memória separada, além da capacidade de processamento de dados. Também possuía
urna saída para a impre ssão dos resultad os das tabul ações. A má quina analítica foi com-
parada ao " co mputador digital para fins gerais" (Swade, 2000, p. 115). Infelizmente, o
projeto teve de ser abandonado . O governo britânico, q ue financiava os trab alhos de
Babbage, cancelou a verba d evido aos freqüentes estouros no orçamento.
Urna das leais patrocinadoras de Babbage e das raras pessoas a conhecerem a oper a-
ção da máquina era a j ovem e prodigiosa matem ática de 18 an os, Ad a, a Condessa de
Lovelace (1815-1852)3. Babbage chamava-a de minha "muito admirada intérprete" (apud
Campbell-Kelly; Aspray, 1996, p. 57). Era muito raro na época urna mulher estudar mate-
mática. As mulheres eram co nsideradas frágeis demais para l idarem com um objeto de
estudo tão complexo. Ada Lovelace completou os estud os com professores p articulares,
já que as m ulheres eram proibidas de f reqüentar os cursos univ ersitários. El a publicou
urna clara explicação a respeito do funci onamento da máqu ina cal culadora e ta mbém
sobre as possíveis aplicações e implicaçõ es filosóficas. Além disso, foi a prim eira a r eco-
nhecer a principal limitação de urna m áquina "pensante": ela não é capaz, por iniciati-
va própria, de cri ar ou desenvolver nada novo - executa apenas o que está programada
para fazer. 4

3 Ada Lovelace era filha do poeta Lord Byron (George Noel Gordon), cujos memoráveis escritos incluem: "Tis stran-
ge, but true; for truth is a/ways strange, - Stranger than fiction". (Tradução livre: "É estranho, mas verdadeiro, por-
que a verdade é sempre estranha - Mais estranha do que a ficção.")

4 Em 1 980, o Departamento de Defesa dos Estados Un idos batizou de "Ada" a linguagem de programação do siste-
ma de controle do computador do exército.
Babbage perdeu a motivação quando o governo susp endeu o financiamento do se u
trabalho. Além disso, a morte prematura de Ada, co m c erca d e 37 anos, deixou-o aind a
mais amargurado e re ssentido. Acreditava que os esforços para d esenvolver a máquin a
calculadora haviam sido em vão e que nunca seria reconh ecido pela sua contribu ição.
Todavia Babbage recebeu am plo reconhecimento pelo s eu trabalho. Em 1946, quando o
primeiro computador totalmente automático foi des envolvido na Harvard University,

um
sonhopioneiro do computador
de Babbage. referiu-se
Em 19 91, par ao acontecimento
a comemorar o bicentenário como a concr
d e seu etização um
nascimento, do
grupo de cientistas b ritânicos construiu a rép lica de um a das máquinas do sonho d e
Babbage, com base nos seus d esenhos originais. O aparelho consis te de 4.000 peças, pesa
3 toneladas e realiza c álculos com p erfeição (Dyson, 1997).
Charles Babbage, que personificou no sé culo XIX a no ção d o funcionamento do
homem como uma m áquina, estava evidentemente muito à fr ente da sua época. Sua cal-
culadora, precursora d os modernos computadores, representou a primeira tentati va de
sucesso na reprodução do pr ocesso cognitivo humano e no de senvolvimento d e uma
forma de inteligência artificial. Os cientistas e os inv entores da su a época previram qu e
os us os das máquina s seriam ilimitados, assim como as fu nções humanas que seria m
capazes de exec utar.

http://www.ex.ac.ukJBABBAGE/
Os dois sites fornecem informações interessantes sobre a vida, o t rabalho e
as contribuições de Charles Babbage.
http://awc-hq.org/lovelace/whowas.htm

http://adahome.com/Tutorials/Lovelace/lovelace. html

Os três sites são sobre Ada Love lace, com links para outros endereços
pertinentes na Internet.

O s P rim ó rd ios da Ci ênci a Mod er na


Observamos que o século XVII testemunhou uma evo lução extremamente abrangente e
diversificada da ciênci a. Até então, os filósofos buscavam as resp ostas no pa s sado, nos
trabalhos de Aristóteles e de outros pensadores da An tigüidade, e na Bíblia. As forças que
regiam a investigação consistiam no dogma (na doutrina imposta pela ig rej a estabeleci-
da) e na autoridade. No século XVII, nova força ga nhava i mportância: o empirismo, a
busca do conhecimento por meio da observação e da experi mentação. O conhecimento
extraído do passado t ornara-se suspeito, dando lugar aos anos dourados iluminados
pelas descobertas e percepções cie ntíficas que refletiam a mudanç a na natureza da inves-
tigação científica.

Empirismo: a bus ca do c onhecimento mediante a observação da natureza e a atribuição d e todo o


conhecimento à experiência.

Entre os vários estudiosos que marcaram o período, destaca -se o matemático francês
René Descartes, que contribuiu d iretamente para a história da p sicologia moder na. Seu
trabalho ajudou a libertar a invest igação científ ica do controle rí gido d as crenças intelec-
tuais e teológicas dos séculos pa ssados. Descartes simbolizou a tra nsição científica para a
era moderna e aplicou a noção do mecanismo do relógio ao corpo humano. Por esse
motivo, muitos afirmam t er ele in augurado a era da psicologia m oderna.

Descartes nasceu na Fra n ça, em 31 de março de 1596, e herdou do pai recursos suficien-
tes para manter uma vida confortável, com bu sca do c onh ecimento intelectual e viagens.
De 1604 a 1612 , freqüentou uma escola jesuíta, onde estudou matemática e ciências
humanas. Demonstrava também grande talento para a filosofia, fís ica e fisiologia. Devido
à fragilidade da sua saú de, Desca rtes era dispensado das missas m atutinas e era-lh e permi-
tido dormir até a hora do almoço, hábito que man teve por tod a a vida. Foi dur ante essas
tranqüilas manhãs que de senvolveu suas idéias mais c riativas.
Ao completar a educação formal, decidiu experimentar os pra zeres da vida parisien-
se. Com o tempo, acabou entediad o e decidiu levar uma vida mai s calma, dedicando-se
ao estudo da matemátic a. Aos 21 anos, serviu como voluntário nos exércitos da Holanda,
da Bavária e da Hungria e ficou conhecido como um es padachi m ousado e habilidoso.
Adorava dançar e jogar e provou se r um talentoso jogador devido à sua habilidade mat e-
mática. Seu único romance mais duradouro foi o re lacionam ento de trê s anos c om a
holandesa Helene Jans, que deu à luz sua filha Francine. Descartes adorava a criança e
ficou arr asado quando el a faleceu em seus br aços, aos 5 anos . Um biógrafo relatou que
Descartes ficou inconsolável e vivenciou "a mais profunda dor de s ua vida" (apud Rodis-
Lewis, 1998, p. 141 ). Permaneceu s olteiro pelo resto da vi da .
Descartes tinha profundo interesse em aplicar o conhecimento científico às questões
práticas. Pesquisava meios para evitar o embranquecimento dos c abelos e tent ou ape r-
feiçoar as manobras de uma cadeir a de rodas para deficientes físi cos.
Durante o período em qu e se rviu o exército, Descartes teve vá rios sonhos que muda-
ram sua vida. Conf orme seu relato , passou um dia 10 de novembro sozinho em um qu ar-
to com aquecedor , mergulhado em pensamentos sobre a matemá tica e a ciência. Acabou
adormecendo e, no sonho, que m ais tarde ele m esmo interpr etou, foi repreendido pe la
sua ociosidade. O "espírito da ve rdade" invadiu a s ua mente e convenceu-o a dedicar o
trabalho da s ua vida à proposta de aplicação dos princípios ma temáticos a tod as as ciên-
cias, produzindo, assim, o conheci mento inquestionável. Resolveu duvidar de tudo,
principalmente dos dogmas e das doutrinas do passado e acei tar como verdade apenas o
que tivesse absoluta certeza.
De volta a P aris, mais uma vez achou a vida dispersiva dem ais; resolveu vender as
propriedades herdadas do pai e mudou-se par a uma casa de ca mpo na Holanda. S ua
necessidade de isolamento era tamanha que, em 20 anos, morou em 13 cidades e em 24
casas d iferentes, mantendo em segredo o endereço, revel ando-o apen as para os amigos
mais íntimos, com quem man tinha correspondência freqüente . Parece que sua única
exigência era f icar próximo de uma igreja católica romana e de uma universidade. D e
acordo com um biógrafo, o lema de Descartes era: " Vive bem aque le que viv e bem escon-
dido" (Gaukroger, 1995, p. 16 ).
Descartes escreveu muitos trabalhos relacionados c om a matemática e a filosofia e
sua crescente fama chamou a ate nção da j o vem princesa Cristina, da S uécia, na époc a
com 20 a nos, que lh e pediu para minis trar-lhe aulas de filosofia. Embora relutasse muito
em abrir mão da liberdade e da pr ivacidade , e temesse acabar falecendo na S uécia, sem-
pre teve grande respeito pelas prerrogativas reais . Um na vio de guerra foi enviado para
buscá-l o n o o utono de 1649. A princesa insistia em ter au las às cinco d a man hã, em uma
biblioteca muito mal aqueci da , durante um inverno e xtremamente rigoroso. Descartes
escreveu a um amigo, dizendo: "Não me si nto feliz aqui e a única co isa que desejo é paz
e tranq üilidade" (apud Rodis-Lewis, 1998, p. 196). O frágil Descartes suportou a s madru-
gadas e o fr io intenso por quase quatro meses até contrair pneumonia. Morreu em 11 de
fevereiro de 1650.
Um interessante relato pós-morte de um homem que, co mo veremos m ais adiante,
dedicou boa parte do te mpo a es tudar o problema da relaç ão entre a m ente e o corpo diz
respeito ao o corrido com o próprio corpo. Após 16 anos d a morte de D escartes, s eus ami-
gos deci diram que os despojos de veriam retomar à França . Enviaram à S uécia um caixão
que, no e ntanto, era pequeno demais para conter os re stos mortais. Assim, as a utorida-
des suecas decidiram cortar a cabeça e enterrá-Ia até qu e outras providências fossem
tomadas.
Enquanto os res tos mortais de Desca rtes eram prepar ados para a viag em de retorno
para casa, o embaixador francês na Suécia resolveu guardar um souvenir e cortou-lhe o
dedo indicador direito. O corpo , agora sem a cabeça e sem um dedo, f oi sepultado em
Paris em meio a muita pompa e cerimônia. Algum tem po depois, um o ficial do exé rcito
sueco desenterrou o crânio de Des cartes e guardou -o de lembrança . Durante 150 anos ,
ele pa ssou de um colecionador sueco para outro até ser finalmente ent errado em Paris .
Os ca dernos e os manuscr itos de Descartes foram en viados para Paris de pois da su a
morte. Po rém o navio afundou pouco antes de a tracar e os papéis es tiveram submersos
por três dias. O trabalho de restauração levou 17 anos pa ra tornar possív el a publicação
desses documentos.

A s C o n t r ib u iç õ e s d e D e s c a r t e s :
o M ec an ic is m o e o P r o b le m a M e n t e -C o r p o
O trabalho mais importante de Descartes para o desen volvimento da psicologia moder-
na foi a te n tativa de r e solver o problema mente -corpo, uma ques tão controversa
durante séculos. Ao lon go de vários p eríodos, os in telectuais discutiam como a mente
- ou as qualidades mentais - podia ser difer enciada do corpo e de todas as demais
qualidades físicas. A questão básica, simples, porém enganosa , é esta : a mente e o corpo,
isto é, o universo mental e o m undo material são d e naturezas distintas? Por milhares
de anos os intelectuais adotaram posturas dualistas, com o argumen to de que a m ente
(a alma o u o espírito) e o corpo são de naturezas diferente s. Entretanto, a aceitação da
posição dualista levanta outras questões: se a me nte e o co rpo são de naturezas diferen-
tes, qual é a relação existente ent re ele s? Como interagem? Sã o independentes ou in-
fluenciam-se mutuamente?

Antes de Descartes, a teo ria predominante afirmava ser a i n teração ent re a mente
e o corpo essencialmente unil ateral. A ment e era capaz de exercer g rande influência
sobre o corpo, enquanto o corpo exercia pouco efeito sobre a m ente. Um histori ador
sugeriu a seguinte analogia para a explicação dessa visão: a r elação entre o corpo e a
mente é semelhante àquela ent re o marionete e seu manejador . A mente é como o man i-
pulador puxando as cordas do c orpo (Lowry, 1982).
Descartes aceitava essa posição; na sua vi são, a m ent e e o corpo eram realmente
compostos de diferentes essências. Todavia, ele se desviou da t radição ao redefinir essa
relação. Na teoria da in teração mente-c orpo d e Descartes, a men te influencia o c orpo e
a influência deste sobre a ment e era maior do qu e se acreditava. A relação não e ra ape-
nas unilateral, mas mútua. Essa proposta, considerada radical no sé culo XIX, teve gran-
de repercussão na psicologia.
Depois da publicação d a teoria de Descartes, vários estudiosos contemporâneos che-
garam à conclusão de qu e não podiam mais sus tentar a noção co nvencional da m ente
como o mestre das duas entidade s, isto é, como o manejador puxan do as corda s, e fun-
cionando quase independentemente do cor po. Desse modo, os c ientistas e os filósofos
passaram a atribuir maior importância ao corpo fís ico ou material. As funções atribuídas
anteriormente à mente começavam a ser consi deradas funções do corpo.
Por exemplo: acreditava-se na mente como responsável não apenas pelo pen samen-
to e pela razão, como tamb ém pel a reprodução, pela pe rc epção e pelo mo vimento.
Descartes rebatia essa crença com o a rgumento de que a men te exercia uma única fu n-
ção: o pensamento. Para ele , todos os demais processos eram funções do corpo.
Dessa forma, Descartes introduziu uma abordagem para a questão que perdurava
havia tanto tempo, ou se ja, o probl ema men te-corpo, e concentrou a atenção n a duali-
dade físico-psicológica. Assim, redireci onou a a tenção dos pe sq uisadores, que passaram
do conceito teológico abstrato da alma para o est udo científico d a mente e do s proces-
sos mentais. Como conseqüência, houve a t ransferência dos mé todos de investigação da
análise metafísica subjetiva para a observação e a ex perimentação objetivas. As pessoas
faziam apenas conjeturas a respeit o da natureza e da ex istência d a alma, mas p odiam
realmente observar as operações e os processos da mente.
Desse modo, os cientistas ac abaram acei tando a mente e o corpo co mo duas entida-
des separadas. É possível afirma r que a matéria - a substância m aterial do corpo - é
dotada de extensão (ou se ja , ocupa espaço) e oper a de acordo co m os princípios mecâ-
nicos. A mente, no entanto , é livre, isto é, não possui extensão nem substância fís ica. A
idéia revo lucionária de Descartes afirma que a ment e e o c orpo, embora di stintos, são
capazes de interagir dentro do o r ganismo humano. A men te é ca paz de e xercer influên-
cia sobre o corpo do mesmo modo que o corpo pode influenciar a mente .
A N a tu r e za d o C o r p o
Na visão de Descartes, o corpo é composto de maté ria física, portanto tem características
comuns a qualquer matéria, ou seja, possui tamanho e capac idade motora. Sendo uma
matéria, as leis da física e da mec ânica que regem o movimento e a ação do uni verso físi-
co aplicam-se também a ele . Logo, o corpo é semelhante a uma máquina cuja op era ção
pode ser explicada pelas leis da mecânica que governam o movimento dos objetos no
espaço. Seguindo esse raciocínio, Descartes prosseguiu co m a explicação do funciona-
mento fisiológico do corpo baseada na física.
Descartes foi inf luenciado pelo espírito mecanicista da época, refletido nos relógi os
mecânicos e nos robôs. Quando morou e m Par is, ficou encantado com as maravilhas mecâ-
nicas instaladas nos jardins reais. Passava horas pisando na s placas de pressão pa ra
acionar o fluxo de água e ati var as figuras, colocando-as em movimento e fazendo-as
emitir sons.
Quando descrevia o corpo humano, fa zia referência dir eta às figuras mecânicas que
vira. Comparava os nervos do co r po aos canos dentro dos qu ais corria a água e os mú s-
culos e tendões às engrenagens e m olas. Os m ovimentos do ro bô não resultavam da açã o
voluntária da máquina, mas de ações externas como, por exemplo, a pressão da água . A
natureza involuntária desse movimento refletia-se na ob s ervação de Descartes de que os
movimentos corporais, muitas vezes, ocorrem sem a intenção c onsciente do indivíduo.
Seguindo essa linha de raciocínio, ele c hegou à idéia do undula tio reflex a, um mo vi-
mento não comandado ou não dete rminado pela vontade consciente de se mo ver.
Devido a esse conceito, muitas vezes Descartes é definido como o autor da te or ia do ato
de reflexo. Essa teoria é precur sora da moderna psicologia behaviorista de estímulo-res-
posta (E-R), cuja idéia consiste n a possibilidade de um objeto externo (estímulo) provo-
car uma resposta involuntária, c omo a perna que salta q uando o médico bate no joelh o
com um pequeno martelo . O comportamento ref lexo não envolve pensamento nem
processo cognitivo: parece ser mec ânico ou automático.

Teoria do ato de re fle xo: a idéia de que um objeto e xterno ( estímulo) pode pro vocar uma respos-
ta in voluntária.

O trabalho de Descartes t ambém serviu de subsídio para a crescente te ndência à


hipótese científica da previsibilidade do comportamento humano. O modo de oper ação
do co rpo mecânico pode ser pre visto e calc ulado, desde que os estímulos sejam conhe-
cidos. Em outro exemplo, Descartes comparou o c ontrole do m ovimento muscular ao
funcionamento mecânico do órgão de um coro que havia visto e m uma igreja.

Se tivermos a curiosidade de examinar os ó rgãos dos coros d e igrejas, será possível des-
cobrir como os foles empurram o ar para dentro do s receptáculos denominados (pro va-
velmente por essa razão ) câmaras de ar. E s aberemos como o ar passa das câmaras p ara
um ou outro tubo , dependendo do movimento dos d edos do o rganista sobre o teclado .
Podemos comparar o cora ção e as a rtérias da no ssa máquina, que empurram o espírito
animal para den tro das ca vidades do cérebro, com os fo les, q ue empurram o ar para d en-
tro das câmaras de ar ; e os o bjetos ex ternos, que e stimulam cer tos nervos e fa zem com
que o e spírito contido nas cavidades cheguem a determinados po ros, com os dedos do
organista, que pressionam det erminadas teclas e fazem com que o ar passe das câmaras
de ar para os tubos e specíficos. (Apud Gaukroger, 1995, p. 2 79.)
Descartes encontrou na fisiologia contemporânea a confirmação para a s ua interpre-
tação mecânica do funcionamento d o corpo h umano. Em 1628, o mé dico inglês William
Harvey descobriu os fator es básicos relacionados com a circulação sang üínea no co rpo
humano. Outros fisiologistas dedicavam-se ao estudo dos processos digestivos; alguns
cientistas descobriram que os músculos d o corpo trabalhavam em par es opostos e que a
sensação e o mov imento dependiam, de alguma forma, dos n ervos.
Apesar dos grandes av anços dos pesquisadores na descriç ão das f unções e d os pro-
cessos do co rpo humano, mu itas vezes as descobertas eram impr ecisas o u incompletas.
Por exemplo: presumia-se que os nervos consistiam em tubos ocos através dos quais fluía
o espírito animal, assim com o o fluxo de ág ua percorria os canos para ativar as fig uras
mecânicas. Todavia nossa preocupação nesse caso não recai so bre a prec isão ou perfeição
da fisiologia do século XVII, mas no fato de ela servir como base de su s tentação para a
interpretação mecânica do corpo.
O dogma religioso est abelecido afirmava que os animais eram d esprovidos de alma,
sendo assim comparados aos robôs. Essa teoria preservava a distinção e ntre os seres h uma-
nos e os animais, conceito fundamental para o p ensamento cristão. E, se os an imais eram
robôs e não tinham alm a, também não e ram dotados de sen timentos. Desse modo, os
pesquisadores da época de Descartes conduziam pesquisas com an imais vivos, mesmo
antes de surgir a anestesia . Um escri tor declarou que se entr etinha "co m os grit os e cho-
ros [dos animais], que nada mais eram do que assobios hidráulicos e v ibrações d as máqui-
nas" aaynes, 1970, p. 224). Assim, os animais pertenciam t otalmente à categoria dos
fenômenos físicos. Eram desprovidos de imortalidade, de processos de pensamento e de
vontade própria, e seu comport amento era explicado totalm ente em termos mecânicos.

A /n teração M e n te -C o r p o

De ac ordo com a teoria de Descartes, a ment e é imaterial, ou sej a, não tem substância
física, mas é pro vida de c apacidade de pensamento e de outros processos cognitivos.
Conseqüentemente, proporciona aos seres humanos informações a res peito do mundo
exterior. Em outras pala vras, não apresenta nenhuma das propr iedades da matéria, no
entanto possui a capacid ade do pensamento, característica que a separa do mundo mate-
rial ou físico.
Como a mente possui a capacidade do pensamento, da percepção e da vontade, d e
algum modo influencia o cor po e é po r ele in fluenciada. Por ex emplo: quand o a mente
decide realizar um movimento de um lado para o outro, essa dec isão é executada pelos
músculos, tendões e ner vos do co rpo. Do mesmo modo, quando o corpo r ecebe um estí-
mulo como a luz ou o calor, a mente reconhece e interpreta ess es dados sensoriais e
determina a resposta adequ ada.
Antes de Des cartes compl etar es sa teoria sobr e a interação m ente-corpo, precis ou
localizar o ponto físico e xato do corpo em que ele e a mente int eragiam mut uamente.
Ele a considera va uma unid ade, o que significava q ue ela d everia interagir com o corpo
em apenas um único ponto. Também acreditava que a interação ocorria em al guma parte
dentro do cérebro, porque a pesquisa lhe havia demonstrado q ue as s ensações via javam
até ele, onde também se originava o movi mento. Estava claro para Descartes que o cére-
bro era o ponto central das funções da mente e a única estr utura cerebral unitária (ou
seja, não dividida nem duplicada em ca da hemisfério) s eria o corpo pineal ou conarium .
E ele considerou lógi co ser esse o centro da in teração.
Descartes usou os conceitos do mecanicismo para descrever como ocorre a interação
mente-corpo. Propôs que o mov imento do espírito animal nos tu bos n ervosos provoca
uma i mpressão no conarium e a par tir daí a mente produz a sensação . Em outras p ala-
vras, a quantidade de movime ntos físicos (o fluxo do espírito animal) p roduz uma qua-
lidade mental (uma sensação). O contrário também ocorre: a men te cria uma impressão
no conarium (de algum modo, D escartes nunca forneceu uma explicaç ão clara) e, incli-
nando-se para uma direção ou outra, a impr essão pode provocar o fluxo do e spíri to ani-
mal até os músculos, resu ltando, assim, no m ovimento corporal ou fís ico.

A doutrina das idéias de Desc ar tes também exerceu profunda influênc ia no d esenvolvi-
mento da ps icologia moderna. El e afirmava ser a mente produtora de do is tipos d e idéias:
derivadas e ina tas. As idéias derivadas surgem da aplicação direta de es tímulos externos,
tais como o som do sino ou a imagem de uma árvore. Assim, as id éias derivadas (a idéia
do sino ou da árvore) são produtos das experiências dos sentidos . As idéias inatas não
são produzidas por objetos do mundo externo que invadem os sentido s, mas desenvo l-
vidas a p artir da mente ou d o consciente. Embora as idéias ina tas possam existi r inde-
pendentemente das sensações, é possível serem percebidas na pre sença das exp eriências
adequadas. Entre as idé ias inatas identificadas por Descartes estão De us, o eu, a p erfei-
ção e o infinito.

Idéias d erivadas e inatas : as idéias derivadas são produzidas pela aplicação direta de um estímu-
lo externo; as idéias inatas surgem da m ente ou da con sciência, independentemente das e xperiências
sensoriais ou dos estímulos e xternos.

Mais adiante veremos como o conceito das idéias inatas conduziu à teoria na tivist a
da percepção (a idéia de a capac idade de percepção ser inata e não apr endida) e como
influenciou a escola de psicologia da Gestalt . Além disso, a doutrina das idéias inatas é
importante p or ter inspirado o surgimento da oposição entre os prim eiros empiristas e
associacionistas, como John Locke, e entre os empiristas posteriores, como Hermann
von Helmholtz e Wilhelm Wund t.
O trabalho de Descartes serviu como catalisador das diversas tendênc ias convergentes
da no va psicologia. Dentre as co ntribuições sistemáticas mais importantes, destacam-se:

• a co ncepção mecanicista do corpo


• a teoria do ato r eflexo
• a interação mente-corpo
• a localização das funçõ es mentais no cé rebro
• a doutrina d as idéias inatas

Graças a Descartes foi pos sível compreender a idéia do m ecanicismo aplicada ao


corpo humano. Tão disseminada estava a filosofia do mecanicism o na definição do
Z eitg eist da época, que era inev itável alguém se d ecidir a aplicá -Ia à mente humana.
Passaremos agora ao estudo desse importante acontecimento: a redução da mente a uma
máquina.
Foram localizados mais de 40.000 síte s a respeito de Desca rtes.

http://serendip.brynmawr.edu/exhibitions/Mind/Descartes. html
Contém a biografia resumida e uma discussão acerca do legado da q uestão
do du alismo mente-corpo.

http://www.philosophypages.com/ph/desc.htm
Apresenta a vida e os trabalhos de De scartes, uma bibliografia dos trabalhos
impressos referentes a ele e uma lista dos principais sítes on-/íne .

http://www.orst.edu/instruct/phI302/philosophers/descartes.html

Exibe uma re lação das biografias on -/íne, a cronologia e a b ibliografia das


principais publicações de Descartes.

A s B ases F ilo s ó fi c a s d a N o v a P s ic o lo g ia :
P o s itiv is m o , M aterial ism o e E m p ir is m o
A u g u s t e C o m t e (7798- 7 8 5 7)
Em meados do século XI X, 200 an os após a morte de D escartes, terminava o l ongo
período da psicologia pr é-científica. Nessa época, o pensa mento filosófico europeu foi
impregnado por um n o vo espírito: o positivismo. O conceito e o termo for mam a bas e
do trabalho do fi lósofo francês Auguste Comte que, ao sa ber da s ua morte i minente,
declarou que seria uma p erda irreparável para a humanidad e.

Positil'Ísmo: doutrina que reconhece somente os fenômenos e fatos natur ais observáveis de forma
objetiva.

Comte empreendeu uma pesquis a sis temática de t odo o co nhecimento humano.


A fim d e controlar melhor essa tare fa ambiciosa, dec idiu limitar o trabalho a fato s
inquestionáveis, ou seja , aqueles determinados exclusivamente por meio de métodos
científicos. Dessa maneira, a visão positivista r eferia-se a um sist ema baseado excl usi-
vamente nos fatos obser váveis objetivamente e indiscutíveis. Qua lquer objeto de estu-
do de natureza especulativa, deduzível ou metafísica era consid erado ilusório e, ass im,
rejeitado.
Comte acreditava terem as ciências físicas atingido o estágio pos itivista, não depen-
dendo mais das forças não -observáveis e das cr enças religiosas para explicar os fenômenos
naturais. Entretanto, para as ciências sociais alcançarem um estágio de desen volvimento
mais avançado, dever iam abandonar as questões e ex pl icações metafísicas e trabalhar
exclusivamente com os fat os observáveis. As idéias de Comte eram tão respeitadas que o
positivismo tornou-se uma força popular e dominante no Zeit geist europeu do final dos
anos 1800. "Todos eram po sitivistas ou, pelo menos, alegavam ser" (Reed, 199 7, p. 156).
É interessante obse rvar como Comte conseguiu exercer uma i nfluência tão fo rte e tão
duradoura sobre o pensament o europeu, apesar de s eus problemas financeiros e emocio-
nais. Por exemplo: Comte nunca exerceu uma posição acadêmi ca fo rmal. Seus escritos
não lhe renderam mai s do que o suficiente para a sua sobrevivê ncia, complementado com
os honor ários das pale stras e com o que ocasionalmente rec ebia como presente dos admi-
radores. Era brilhante, mas p roblemático e sofria fr eqüentemente de períodos de demên-
cia. Seu biógrafo descre veu estes episódios:

Muitas vezes [ele) fi cava agachado atrás das portas e agia ma is como um anim al do que
como um homem. (...) Em todo almoço e jantar, declarava-se um soldado do re gimento
escocês como um daquele s do romance de Walter Scott, e fincava a f aca na me sa, exigia
um pedaço de l ombo de porco cheio de molho e recitava versos de H omero. (...) Um dia,
quando sua mãe junt ou-se [ a Comte e sua esposa] para uma refeição, surgiu uma di scus-
são à mesa e Comte pegou a faca e cortou a garganta. As cicatrizes ficaram par a o resto
da vida. (Pick ering, 1993, p. 392.)

A vida de Comte é um exemp lo de como a pers istência e a dedicação a uma idéia,


além do trabalho séri o e obstinado, podem vencer obstáculos. Em toda a história d a psi-
cologia é possível obser var exemplos s emelhantes de pesquisadores enfrentando enor-
mes dificuldades para produzirem grandes contribuições.
A ampla ace itação d o positivismo significava que os i ntelectuais estudavam dois
tipos de proposição, descritos por um hist oriador da seguinte fo rma: "Um refere-se aos
objetos d a razão e con siste na afirmação científica. O o utro não tem sentido, ou se ja , é
irracional!" (Robinson, 1981, p. 333). O co nhecimento resultante da metafísica e d a teo-
logia era irracional, ist o é, "não tinha sentido". Somente o conhecimento derivado da
ciência era considerad o válido.
Outras idéias filosóf icas t ambém sustentavam o pos itivismo antimetafísico. A dou-
trina do materialismo assegurava a possibilidade de descrição dos fatos do uni verso em

termos físicos e da su a explicação por meio das prop riedades da matéria e da en ergia . A
proposta dos materialistas afirmava ser poss ível compreender até mesmo a consciência
humana com base no s princípios d a física e d a q uímica. O tra balho dos materialistas
relacionado com os proce ssos mentais concentrava-se nas p ropriedades físicas, mais
especificamente nas estruturas anatômicas e fisiológ icas do c ér ebro.

Materialismo: doutrina que explica os fatos d o universo em termos físicos pela existência e natu-
reza da matéria .

Um terceiro grupo de fil ósofos, os defensores do empirismo, preocupava-se em des-


cobrir como a mente a dquiria o conhecimento. Afirmava ser todo o c onhecimento r esul-
tante da experiência sens orial. O pos itivismo, o mat erialismo e o empirismo vieram a se
tornar as bases filosó ficas da nova ciência da ps i cologia. Dentre essas três orientações
filosóficas, foi o empi rismo que desempenhou o papel principal. O empirismo esta va
relacionado com o de senvolvimento da mente, ou s eja, com a forma como ela adquiria
o conhecimento. De acordo com a visã o empirista, a ment e evolui com o acúmulo pro-
gressivo das experiências sensoriais. Essa idéia cont radiz a vis ão nativista, exemplificada
por Descartes, da existência das idéias inatas. São consider ados os principais empi ristas
britânicos: ]ohn Lock e, George Ber keley, David Hu me, Dav id Hartley, ]ames Mill e ]ohn
Stuart Mill.
http://www.epistemelinks.com/main/MainPers.aspx

Apresenta links para outros sites referentes a Comte e a o po sitivismo,


incluindo verbetes de enciclopédia.

http://www.multimania.com/cloti Ide/#english
Contém material referente a Co mte e sua f ilosofia do p ositivismo.

]ohn Locke era fi lho de um advogado e estudou em univers idades em Lo ndres e Oxford,
obtendo o título de bac harel em 1656 e o de mes tre algum tempo dep ois. Permaneceu
em Oxford por vário s anos, dando aulas de grego, redação e filosofia, interessando-se
mais tarde pela prá tica da medicina. Desenvolveu interesse pela política e, em 1667, foi

a Londres para ser secret ário do Co nde de Shaftesbury, tornando-se amigo e confidente
desse controverso homem d e Estado.
O poder de Sha ftes bury no governo declinava e, em 1681, depois de participar de
uma conspiração contr a o rei C a rlos II, ele fugiu para a Hola nda. Embora Locke não esti-
vesse envolvido na con spiração, sua r elação com o conde colocou-o sob suspeita, de
modo que ta mbém acabou fu gindo par a a Ho landa. Muitos anos dep ois, Locke voltou
para a Inglaterra, tornou-se membro do c omitê de apelação e escreveu livros sobre educa-
ção, religião e economia. Preocupava-se com a liberdade r eligiosa e o direito d o povo em
ter um governo popu lar. Seus escritos trouxeram-lhe muita fama e influência e ele ficou
conhecido por toda a Europa como defensor d e um governo li beral. Alguns dos s eus tra-
balhos influenciaram os autores da D eclaração de Independência dos Es tados Unidos.
O trabalho mais importante de Locke para a ps icologia foi An essay co ncerning human
understanding (1690), o po nto mais alto de u m estudo de 2 0 a nos. Esse livro, publicado
em qu atro edi ções por volta de 1700 e traduzido para o fra ncês e o latim, marca o início
formal do empirismo b ritânico.

Como a mente adquire o conhecimento. O interesse principal de Lo cke estava vol-


tado ao funcionamento c ognitivo, isto é, à for ma como a m ente adqu ire o conhecimen-
to. Ao lidar com essa qu estão, Locke rejeitou a proposta de D escartes sobre a existência
das idéias inata s, apresentando o argu mento de que o ser humano nascia sem qualquer
conhecimento prévio. Séculos antes, Aristóteles defendia uma pos ição semelhante, ou
seja, a mente do hom e m ao na scimento era u ma tabula rasa, uma lousa vazia, em b ran-
co, em que se regi stravam as experiências. Locke a dmitia que alguns conceitos, como a
idéia de Deus, pareciam inatos para nós adultos, mas somente porque nos eram ensina-
dos na infância e não nos lembrávamos do t empo em que não tínhamos consciência
deles. Assim, Locke explic ava a aparente natureza inata d e algumas idéias fundamentado
no conceito da apr endizagem e do hábito. Então, como a m ente adquire o co nhecimen-
to? Para Locke, assim como para A ristóteles, a mente adquiria o conhecimento por meio
da experiência.
A sensação e a reflexão. Locke admitia dois tipos de ex p eriências: um d eri vado da
sensação e outro da r e flexão. As idéias resultantes da sensação, ou s eja, as der ivadas da
experiência sensorial direta com os o b jetos fís icos presentes no a mbiente, são simples
impressões do sentido. Essas i mpressões sensoriais operam na men te, a q ual também
opera nas sensações, f azendo u ma reflexão sobr e elas para formar as idéias. Essa função
cognitiva ou mental da reflexão como fonte de idéias d epende da experiência sensorial,
já que as idéias pr oduzidas pela reflexão da mente são baseadas nas i mpressões anterior-
mente percebidas por meio dos s entidos.
No curso da evolução humana, as sensações aparecem primeiro. El as são necessaria-
mente precursoras das refl exões porque, sem a existência de um rese rvatório das impres-
sões do s entido, não há como a mente refletir sobre elas. Dur ante a r eflexão, resgatamos
as impr essões sensoriais passadas, combinando-as para fo rmar abstraç ões e outras idéias
de ní vel s uperior. Desse modo, todas as idéias são frutos da s ensação e da reflexão, mas
a fon te final continua sendo nossas experiências sensoriais.

À Texto Original
Trecho sobre o Empirismo Extra ído de An Essa y Concerning Human
Underst anding (1690), de John Locke

Talvez você esteja questionando qual a razão de se ler u m texto escrito por Locke há ma i s
de 300 anos. Afinal, já lemos e discutimos a respeito de Lo cke nesta seção do li vro. Lembre-
se, no entanto , de que os autores do li vro e os professores oferecem versões, visões e per -
cepções próprias. Eles podem reduzir, abstrair e resumir infor mações originais da hi stória
para simplificá-Ias. E, nesse processo, a exclusividade da forma, do estilo e até me smo do
conteúdo original pode se perder

Para a total compreensão de qualquer sistema de pensamento, o ideal é a leitura dos dado s
históricos originais tomados como base para o escritor redigir o livro e para o professor pre~
parar a aula. Na prática, é claro, isso raramente é possível. Foi essa a razão que nos levou a
incluir partes dos dados originais - ou seja , as próprias palavras dos teóricos - de vária s
personagens que contribuíram para a evolução do pensamento psicológico. Esse s trechos
mostram como os teóricos apre sentaram suas idéias e permitem o contato com o estilo d e
explicação que se ex igia que os a lunos das gerações anteriores estudassem.

Suponhamos, então, que a Mente seja, como afirmamo s, um Papel em branco, despro-
vido de quaisquer Caracteres, sem qualquer conteúdo d e Idéias. Como virá a ser preenchida?
De onde surge esse vasto colorido, que a Fantasia Hu mana, ativa e ilimitada, nela pintou
com uma multiplicidade quase infinita? Aonde buscar á todo o recurso da Razão e do
Conhecimento? Como resposta, basta uma palavra: na Experiência. Nela se fundamenta
todo o nosso Co nhecimento e de la basicamente se deriva o próprio conhecimento. O uso
da nossa observação acerca dos Objetos senso riais externos, ou acerca das Ope rações inter-
nas da Mente, que percebemo s e sobre as q uais refletimos, é que nos proporciona a
Compreensão de todo o conteúdo do pensamen to. Sã o essas as duas Fontes do
Conhecimento de todas as Idéias qu e natu ralmente possuímos, ou que a partir da s quais
possamos vir a adquirir .
Em primeiro lugar, os Nos sos Sentidos, possuidores de r elações íntimas com determi-
nados Objetos sensoriais, transportam pa ra a Mente diversas percepções distintas dos el e-
mentos, de a cordo com as várias maneira s pelas qua is são afetados pelos Objetos. Eassim
concebemos as idéias de Amarelo, Branco, Quente, Frio, Macio, Duro, Amargo, Doce e de
todas as demais qualidades denom inadas sensoriais as quais, ao afirmar serem transporta-
das pelos sentidos para a mente , quero dizer que a partir dos Objetos externos são trans-
feridas para a me nte, produzi ndo as Perce pções. Essa imensa Fonte de pr aticamente todas
as idé ias q ue possuímos, totalmente dependente dos nossos Sentidos, e deles derivada
para o Entendimento, é o que c hamo de Se ns ação .
Em segundo lugar, A outra Fonte a pa rtir da qual a Experiência proporciona Idéias para o
Entendimento é a Pe rcepção das Operações da nossa própria Mente inter ior, de co mo e la
emprega as Idéias adq uiridas: Operações q ue, quando pass am a ser objeto de r eflexão e de
análise da Alma, produzem no Entendimento outro conjunto de Idéias , que não s eria possíve l
conceber a pa rtir dos elementos sem: a Percepção, o Pensamento, a Dúvida, a Crença, a Razão,
o Conhecimento, a Vontade e todas as diferentes ações das nossas Mentes e das quais, se tivés-
semos consciência e as ob servássemos em nossas almas, obteríamos nossos Entendimentos
como Idéias distintas, assim como agimos com nossos Co r pos que afeta m nossos Sentidos.
Dessa Fonte de Idéias t odo homem em s i é integra lmente dotado: E, embora não possa ser
Sentido, como t endo qualquer r elação com os Ob jetos e xternos, ainda assim, assemelha-se
muito e pode s e r corretamente chamado de Sentido interno. Todavia, como chamei o outro de
Sensação, a essec hamo d e Re flexão , sendo as Idéias por ele s ustentadas apenas as q ue a Ment e
obtém mediante a ref lexão sobre as própria s Operações internas. Então, por Re flexão quero
expressar a observação que a Mente realiza das próprias Operações e do seu modo , a razão
pela qual a observação transforma-se em Id éias no E ntendimento dessas Operações. Essesdois
elementos, ou se ja, os Externos ou Materiais como os ob jetos da Sensação e as Ope rações
internas das nossas Mentes como os Objetos da Refle xão , são, n a minha opinião, os ún icos e le -
mentos Originais a par tir dos quais surgem to das as nossas Idéias.

Idéias simples e id éias c omplexas. Locke f azia um a dis tinção entre idéias simples e
idéias complexas. Idéia s simples podem surgir tanto da s ensação como da refle xão e são
recebidas passivamente pela mente. Elas são elementares, ou seja, não podem ser anali-
sadas nem reduzidas a idéia s ainda mais simples. Entretanto, mediante o proc esso de
reflexão, a mente cria at ivame nte novas id éias, combinando as id éias simples. Essas
novas idéias der ivadas são chamadas por Lock e de idéias complexas. S ão compost as de
idéias simples e podem s er anali sadas e e studadas com base n as suas i déias mais simples.

Idéias simples e complexas: idéias simples são aquelas elementares, provoca das pela sensaç ão e
reflexão; idéias complexas são as der ivadas, compostas de idéias simples, podendo ser reduzidas em
componentes mais simples, e a ssim analisadas.

Associação: a noção de que o c onhecimento resulta da ligação ou assoc iação de idéias simples para
a formação de idéias comple xas.

A teoria da associação. O conceito da combinação ou da comp osição de idé ias e a


noção contrária de análise marcam o início da abordagem mental-química do problema
da associação. Desse ponto de vista, idéias simples podem ser con ectadas ou as sociadas
para formar idéias complexas. Associação é o nome i nicial dado ao processo chamado
atualmente pelos psicólogos de aprendizagem. A re dução ou a an álise da vida mental na
forma de id éias ou de ele ment os simples tornou-se fundamental para a nova psicologia
científica. Assim como é possível desmontar o r elógio e outros m ecanismos, reduzindo-os
até separar todos os com ponentes e remontá-Ios para pr odu zir uma máquina complexa,
podemos desmontar as idéias humanas.
Locke tratava o fun cionamento da mente conforme as lei s do universo natural. As par -
tículas básicas ou o s átomos do universo mental são as idéias s imples, conceito análog o ao
dos átomos da m atéria do universo mecânico de Galileu e New ton. Esses elemento s da
mente não podem se r divididos em outros mais simples, no en tanto, assim como seus
semelhantes do mund o material, podem ser combin ados ou associados para formarem
estruturas mais complexas. Desse modo, a teoria da as sociaç ão foi um passo sign ificativo
no sentido de considerar a mente, tal como o corpo , uma máquina.

Qualidades primárias e secundárias. Outra importante pro posta de L ocke p ara a


fase inicial da psicologia foi o conceito de qualidades primárias e s ecundárias aplicadas
às idéias sensoriais simples. As qualidades primárias existem e m um objeto, sejam ou
não percebidas por nós. O tamanho e a forma de um edifício são qualidades primárias,
enquanto a cor é uma qu alidade secundária. A cor não é inere nte ao objeto em si , mas
é dependente da experiência do indivíduo, já que nem todos per cebem determinada cor
da mesma maneira. As qualidades sec undárias, como a cor, o o dor, o s om e o s abor,
existem não no objet o em si, mas na pe rcepção individual do o bjeto. A sensação do
toque de uma pena nã o se encontr a nela, mas na reação ao toq ue da pena. A dor pro vo-
cada pelo cor te de um a faca n ão se encontra na faca propriamente dit a, mas na e xperiên-
cia individual como re ação ao ferimento.

Qualidades primárias e secundárias: qualidades primárias são as características como tamanho


e for ma do objeto, s ejam elas perceptíveis ou não; qualidades secundárias são as características, como
cor e cheir o, perceb idas no objeto.

Uma exp eriência popular desc rita por L ocke ilustra bem essa s idéias. Prepare três reci-
pientes, sendo um c om água fria, outro com morna e o t erceiro com água quente.
Mergulhe a mão esquerda na água fria, a direita na quente e, em se guida, as du as na água
morna. Uma das mãos terá a sensação de e star na água q uente e a o utra na fria. A tempe-
ratura da ág ua par a as duas mãos é a mesma, não pod e ser qu ente e fria ao me smo tempo.
As qualidades secund árias ou as experiências de calor e frio existem na nossa percepção e
não no obj eto propriamente d ito (nesse caso, na água).
Analisemos outro exemplo: se não mordêssemos uma maçã, s eu sabor não e xistiria.
As qualidades primárias, como o t amanho e a form a da maçã , existem independente-
mente de as percebermos ou não. As qualidades secundárias, como o sabor, e xistem ape-
nas no nosso ato de per cepção.
Locke não f oi o primeiro estudioso a fa zer distinção entre as qualidades prim ária e
secundária. Galileu apre sentou basicamente a mesma noção:

Creio que, se removêssemos os ouvidos, a líng ua e o nariz, permaneceriam as formas, as


quantidades e os mo vimentos [qualidades pri márias], mas não o odor, o sabor e o som
[qualidades secundárias]. Esses últimos, acredito, na da mais são do qu e nomes quand o
os sep aramos dos seres vivos. (Apud Boas, 1961, p. 262 .)
podem não existir de m odo correspondente à forma como aparecem na percepção do
sentido, já que em vários casos a percepção sensorial [de um ob jeto] é obscura e confu-
sa. (...) por meio dos nossos sentidos apreendemos apenas a forma, o tamanho e o movi-
mento [qualidades primárias] dos objetos ex ternos. (...) [A]spropriedades dos objetos
externos aos quais aplicamos os termos "l uz", " cor", "odor", "sabor", "som", "calor" e
"frio" (...) são s implesmente várias disposições desses ob jetos [qualidades se cundárias]
que os tornam capazes d e criar vários tipos de reações nos nossos nervos. (Apud
Graukroger, 1995, p. 345.)

A distinção entre as qualidad es primária e s ecundária está de acordo com a posição


mecanicista, que afirma ser a m atéria em m ovi mento a única real idade objetiva. Se a
matéria consiste em toda e xistência objetiva, a p ercepção de todo o resto, como da cor,
do odor e do sabo r, deve se r subjetiva. Somente a s qualidades primárias podem existir
independentemente de serem percebi das ou não .
Ao fazer a distinção entre as qualidades obj etiva e sub jetiva, Locke reconhecia a sub-

jetividad
desejo dee investigar
da maior parte da percepç
a mente ão humana,
e a experiência idéia queLocke
consciente. o in trsuger
igavaiu e ser
es timulava seu
a qualidade
secundária uma tentativa de e xplicar a ausência do correspondente preciso entre o uni-
verso físico e a no ssa percepção desse u niverso.
Uma vez aceita pelo s pesquisadores a teoria da dis tinção entre as q ualidades pri-
mária e secundária, ou seja, da e xistência r eal de umas e de o utras somente na nossa
percepção, era i ne vitável que alguém perguntasse se havia rea lmente uma diferença
entre elas. Talvez a percep ção exista apenas em termos das qualidades secundárias, as
qualidades subjetivas e dependentes do obs ervador. O fi lósofo a formular e responder
essa pergunta foi George Berk eley.

Descobrimos o espantoso número de 292.000 sites, a respeito de John


Locke, dentre os quais selecionamos alguns:

http://www.orst.edu/instruct/phI302/philosophers/locke.html

http://libraries.psu.edu/iasweb/locke/home.htm
Fontes de informações biográficas de Locke e a respeito de seus escritos .

http://www.rc.umd.edu/cstahmer/cogsci/locke.html

Apresenta uma discussão resumida do livro An es say concerning human


understanding, de Loc ke, mostrando a influência do trab alho no post erior
desenvolvimento da ciência cognitiva, abordada no Cap ítulo 15.

Ge o rg e B erk e le y (7685 -1753 )


George Berkeley nasceu e recebeu toda sua educação formal na Irlanda. Profun-
damente religioso, foi ord enado diácono da igreja anglicana aos 24 a nos. Pouco
tempo depois, publicou dois ensaios f ilosóficos que exerceram grande influência n a
psicologia: An essay tawa rds a new thea ry af vi sian (1709) e A treat ise cancer ning the pri n-
cipIes af human knaw Iedg e (1710). Esses livros encerra ram as suas contribuições para a
psicologia.
Berkeley viajava com freqüênci a por toda a E uropa e teve vários empregos n a
Irlanda, inclusive lecionando no Trinit y College, em Dublin. Obteve independênc ia
financeira ao receber de presente uma quantia considerá vel de uma mulher que conhe -
cera em um jantar. Depois de passar trê s anos em Ne wport, Rhode Island, Berkeley do ou
sua casa e sua biblioteca à Yale Uni versity. Nos últimos anos de vida, serviu como bisp o
de Cloyne. Quando morreu, atendendo a um pedido seu , seu corpo foi deixado em um a
cama até começar a se decompor . Ele acreditava ser a put refação o único sinal de mort e
e temia ser enterrado prematuramente.
A fama de Berkeley - ou, pelo menos, o seu no me - é conhecida até ho je no s
Estados Unidos. Em 1 855, o reverendo He nry Durant, da Yale University, fundou um a
escola na Califórnia, dando-lhe o nome de "Berkeley", em homenagem ao bom bispo ,
ou ta lvez em reconhecimento ao seu poema On the P r ospect af P I anting Arts and Learni ng
in America, em qu e se lê esta frase muito conhecida: "Westwa rd the course af empire take s
its way" (O império toma o seu rumo na direção oeste) .

A percepção é a única realidade. Berkeley concorda va com o conceito de Locke de


que todo o conhecimento do mundo exterior tem o rigem na experiência, mas divergi a
da distinção entre as qualidades pr imária e secundária. Berkeley alegava não existirem
qualidades primárias, mas somente as qua lidades que Locke chamava de se cundária s.
Para Berkeley, todo o conhecimento era uma função ou de pendia da experiência ou d a
percepção do indivíduo. Alguns anos mais tarde, essa teoria recebeu o nome de menta-
lismo, como expressão da ênfase no fe nômeno exclu sivamente mental.

Mentalismo: doutrina que considera ser todo o conhecimento uma função de um fenômeno men-
tal e dependente da pessoa que o pe rcebe ou vivencia.

Berkeley afirmava ser a percepção a única realidade d a qual se tem certeza. Não se
pode conhecer com precisão a natureza dos objetos físic os no universo experimental -
o universo derivado da própria experiência ou nela baseado . Tudo que sabemos é com o
percebemos ou sentimos esses o bjetos. Então, sendo a percepção interna e subjetiva ,
não reflete o mundo exterior . O objeto físico nada ma is é do que o acúmulo das sensa-
ções experimentadas simultaneamente, de forma que se associem à mente pelo hábit o.

De acordo com Berkeley, portanto, o universo das nos sas experiências é o somatório d as
sensações.
Não há substância material da qual possamos ter certeza, porque, se excluirmos a
percepção, a qualidade desaparecerá. Desse modo, não existe cor sem a nossa percepçã o
de cor, a forma ou o m ovimento sem a percepção da forma ou do movimento.
A afirmação de Berkeley não era de qu e os objetos re ais apenas existem no univers o
físico quando são por nós percebidos. Sua teoria consider ava que toda nossa experiênc ia
acumulada decorre da nossa percepção e que nunca conhecemos precisamente a nature -
za física do obj eto. Contamos apenas com a própria percepção desses objetos.
Ele reconhecia, no en tanto, que havia estabil idade e consistência nos objetos d o
mundo material e que eles ex ist iam independentemente de serem pe rcebidos e entã o
tinha de achar alguma forma de co mprovar essa teoria. O argumento uti lizado foi Deus;
afinal, Berkeley era b ispo. Deus funcionava como u ma espécie de observador perma-
nente de todos os objetos do unive rso. Se a árvore caía na flo resta (assim como dizia u m
antigo enigma), a queda p roduzia um s o m, mesmo q ue não ho uvesse ninguém para
ouvi-lo, porque Deus estava sempre presente para percebê-lo.

A associação das sensações. Berkeley aplicou o prin cípio da associação para explicar
como passamos a conhecer os objetos d o mundo real. Esse conhecimento é basicamente a
construção ou a composição de idé ias si mples (elementos mentais) unidas pelo funda men-
to da associação. As idéias complexas são f ormadas pela uni ão de idéias simples recebidas
por meio dos s entidos, como explicou em An Essa y T awards a N ew T heary af Vísian :

Sentado na minha sala d e leitura, ouço uma carruagem se aproximando pela ruai olho
pela [janela] e avisto-ai saio de casa e entro nela. Assim, uma narrativa comum pode con-
duzir qualquer um a pensar que eu ou vi , vi e to quei o me smo objeto (...) a carruagem.
No entanto, apesar de afirmar serem as idéias [concebidas] por cada sentido amplamen-
te diferentes e distintas umas das outras, quando observadas constantemente juntas, aca-
bam descritas como sendo um úni co e igual objeto. (Berkeley, 17ü9/1957a.)

A comp lexa idéia da ca rruagem pode se r ornamentada c om o som do ranger das


rodas nas ruas de parale lepípedos, com a robustez da estrutura, com o fr escor do cheiro
do cou ro dos assentos e com a imagem visual do seu formato quadrado. A mente co ns-
trói id éias complexas juntando esses blocos básicos de co nst rução mental - as idéia s
simples. A analogia mecânica no us o das palavr as "construir" e "blocos de con str ução"
não é uma coincidência.
Berkeley usava a associação para ex plicar a percepção de 'profundidade visual. Ele estu-
dava como o ser huma no percebe a tercei ra dimensão da profundidade, já que a retina
humana possui apenas duas dimensões. Sua resposta foi que a p ercepção de prof undidade
é resul tado da no ssa experiência. Associamos as impressões visuais com as sensações de
ajuste dos olh os para enxergarmos os ob jetos de distâncias diferentes e com mov imentos
de aproximação ou afastamento dos objetos visualizados. Em outras palavras, as contínuas
experiências sensoriais de caminhar em di reção aos ob jetos o u de al cançá-los, al iadas às
sensações dos músculos oculares, unem -se para produzir a p ercepção da pr ofu ndidade.
Quando apr oximamos o objeto dos olhos , as pupilas se convergem e, quando o afas tamos,
a conv ergência diminui. Desse mo do, a p ercepção de pro fundidade não é uma simples
experiência sensorial, mas uma associação de idéias a ser aprendida.
Berkeley prosseguiu na crescente teoria da associação dentro d a filosofia empirista,
tentando explicar o processo puramente psicológico ou cognitivo com base na as socia-
ção das sensações. Sua explicação antecipo u com p recisão a visão mo derna da per cepção
de profundid ade no q ue t ange à co nsideração das diretrizes psicológicas da acomo dação
e da conv ergência.

http://www.georgeberkeley.org.ukl
O site da International Berkeley Society (Sociedade Internacional de Berkeley)
oferece material referente a Berkeley e seus trabalhos, além de referências de
publicações sobre Berkeley e informações acerca de conferências. Também
permite a par ticipação constante de d iscussões sobre Ber keley no quadro de
avisos do site e a localização de links de s ite s relacionados.

http://www.utm.edu/research/iep/b/berkeley.htm
Oferece informações complementa res a respeito da vida e do trabalho de
Berkeley.

http://www.rc.umd.edu/cstahmer/cogsci/berkeley.html
Apresenta uma discussão sobre a relação entre o t rabalho de Be rkeley e os
desenvolvimentos mais recentes da ciência cogniti va.

David Hume, filósofo e historiador, estudou direito na University of Edinburgh, Escócia,


mas não completou o curso. Embarcou no mundo dos negócios, porém não era a sua
vocação, por isso mudou-se para a França a fim de estu dar filosofia. Depois, seguiu par a
a Inglaterra, onde obteve fama considerável como escrit or. Sua contribuição mais impor-
tante para a psicologia foi A treatise ofhuman nature (1739). Trabalhou, ainda, como fun -
cionário público, bibliotecário, comissário das forças armadas de uma expedição mil itar
e professor particular d e um lunático de berço nobre.
Hume apoiava a noção de Locke sobre a co mposição de idéias simples para formar
idéias complexas e analisou e esclareceu a teoria da associação. Concordava com a afi r-
mação de Berkeley de q ue a e xistência do mundo material para o ind ivíduo ocorria
somente por meio da própria percepção e conduziu essa id éia um passo adiante.
Berkeley afirmava ser Deus o observador permanente, como fo rma de garantir a per-
sistência e a estabilidade do objeto físico. Hume que stionava o que aconteceria se a
noção de Deus fosse omitida. Nesse caso, Hume afirmava, não haveria como confirmar
a existência de "algo fora da nossa mente. Se todo conhecimento do 'mundo exterior'
é adquirido mediante nossas idéias e (...) portanto, 'indiretamente', então, não é pos-
sível realmente afirmar, em princípio, se existe ou nã o um m undo exterior. (...) Talvez
exista um universo externo, talvez nã o, mas não te mos como confirmar" (Wilcox,
1992, p. 38).
As impressões e as idéias. Hume traçava uma dif erenciação entre doi s tipos de con-
teúdo mental: impressões e idéias. Impressões são os elementos básicos da vida ment al;
na terminologia atual, e quivalem às sensações e percepções. Idéias são experiências men-
tais
hoje que vivenciamos"imagem"
é considerado na ausência
peladepsicologia.
qual quer objeto de estímulo, o equivalente ao que
Hume não definia impressões e idéias em termos psicológicos ou r eferindo-se a estí-
mulos externos. Ele mantinha o cuidado de não at ribuir qualquer causa definitiva às
impressões. A diferença entr e impressões e idéias não estava na srcem , mas na su a
força relativa. Impressões são fortes e vívidas, enquanto idéias são cópias fracas das
impressões.
Esses dois conteúdos mentais podem ser simples ou complexos. A idéia simples é
semelhante à sua impressão simples. As idéias complexas não são necessariamente simi-
lares às idé ias simples porque são um a combinação sua que evolui e forma novos
padrões, compostos a partir da s idéias simples mediante o processo da associação.
Hume descreveu duas leis de associação: a lei da semelhança ou similaridade e a lei
da contigüidade no tempo ou no espaço. Quanto maior a semelhança e a contigüidade
entre duas idéias (quanto mais próximas no tempo estiverem as experiências), mais rapi-
damente elas se associam.

Semelhança: a noção de que quanto mais semel hantes forem duas idéia s , mais rápida será a s ua
associação.

Contigüidade: a noção de que q uanto mais pró xima a ligação entre duas idéi as, no tempo ou no
espaço, mais ráp ida se rá a sua associação.

o trabalho de Hume segue a linha do mecanicismo e desenvolve o empirismo e o


associacionismo. Hume alegava que, ass im como os a strônomos foram capazes de d efi-
nir as lei s e as forças da física para explicar o f uncionamento dos planetas, era possível
determinar as leis do universo mental. Acreditava nos princípios regentes da associação
de idéias, que definiu serem universais para a operação da men te, como uma versão

mental àdanoção
cional lei dadegravidade na física.
construção Dessecomplexas
das idéias modo, o trabalho
na mentedepor
Hume
meiooferece apoio adi-
da combinação
mecânica de idéias simples.

http://www.humesociety.org
Boa fonte de inf ormação referente a Hume e sobre os encontros da Hume
Society (Sociedade Hume).

http://www.comp.uark.edu/-rlee/semiau98/humelink.html
Apresenta referências aos trabalhos a respeito de Hum e e link s para o utros
sites .

http://cepa.newschool.edu/het/profiles/hume. htm
Oferece acesso às princ ipais publicações de Hume e a ou tros trab alhos
sobre ele.

D avid Hartley ( 7705-7757)


David Hartley foi preparado para seguir a carreira do pai e tornar-se um sacerdote, mas,
devido às desavenças constantes com a dout rina religiosa estabelecida, sabiamente resol-
veu dedicar-se à medicina. Teve uma vida t ranqüila e rot ineira como médico, embora
não houvesse complet ado o c urso de m edicina; e, por conta própria, estudou filosofia.
Em 1749, publicou Observations on m an, his frame, his duty, and his expectations, conside-
rado por muitos estudiosos o primeiro t ratado sistemático a respeito da associação.

A associação por contigüidade e por repetição . Para Hartley, a l ei fundamental da


associação é a contigüidade, que usou como base para explicar os processos da memo-
rização, do ra cioc ínio, da emoção e da açã o voluntária e involuntár ia. Idéias ou as sen-
sações que ocor rem juntas, simultânea ou sucessivamente, to rnam-se associadas, de
modo que a ocorrênc ia de uma resulta na oc orr ência da outra. Ha rtley ainda afirmava
que a repetição das sensações e das idéias é necessária para a formação das associações.

Repetição: a noção de que q uanto mais freqüente for a ocorrê ncia de duas idéias si multâneas, mais
rápida será a sua associa ção.

Hartley concor dava com Lock e em que todas as idéias e o co nhec imento s ão resultan-
tes das experiências qu e recebemos por meio dos se ntidos e que não exist em associações
inatas nem c onhecimento ao nasc ermos. À medida que a criança cr esce e acumula uma
variedade de e xperiências sensoriais, são estabelecidas as conexões m entais de cr escente
complexidade. Dessa forma, ao chegarmos à vida adulta, os sistemas mais el evados de pen-
samentos já estã o desenvolvidos. Essa vida mental de nível mais elevado, como o pensa -
mento, o julgamento e o raciocínio, pode ser analisada ou redu zida aos el ementos mentais
ou às se nsações sim ples que lhe deram origem. Hartley foi o primeiro a aplicar a t eoria da
associação para ex plicar todos os tipos de at ividades mentais.

A influência do mecanicismo. Assim como outros filósofos que o an tecederam,


Hartley enxergava o mundo mental com bas e no me canicismo. Em um aspec to ele ultra-
passou os objetivos de outros empiristas e associacionistas: Hartley tentou não ap enas
explicar os process os psicológicos com base nos princípios mecâni cos, como tamb ém
tentou explicar da mesma forma os processos fisiológicos subjacentes.
Isaac Newton afirmava se r a vibração uma das caracterís ticas do i mpulso no
mundo físico. Hartley aplicou essa idéia ao funcionamento do cérebro hum ano e do
sistema nervoso. Alegava que os nervos consistiam-se em estruturas sólidas (e não
tubos ocos com o acreditava Descartes) e que as vibrações dos nervos transmitiam
impulsos de uma parte a outr a do corpo. Essas vibrações davam início a outras, m eno-
res, no c érebro, que consistiam nas duplicações psicológicas das idéia s. A import ância
da doutr ina de Hart ley para a psicologia reside no fato de ainda s er uma t entativa de
usar as idéias científicas do universo mecânico como modelo para a compreensão da
natureza humana.

J am es M iII (7773 - 7836)


James Mill estudou na University of Edinburgh, na Escócia, e serviu durante algum
tempo como clé rigo. Quando p ercebeu que nin guém na sua congregação entendia seu s
sermões, abandonou a igreja escocesa para ganhar a vida como escritor. Seu trabalho lite-
rário mais f amoso é History of British India , que levou 11 anos para terminar . Sua contri -
buição mais importante para a p sicologia é Analysis ofthe phenomena o fthe human mind
(1829).

A mente como uma máquina. James Mill aplicou a doutrina do m ecanicismo à


mente humana com rara objetividade e c lareza. Seu objetivo era des truir a ilusão a res -
peito da subjetividade ou das at ividades psíquicas e demonstrar que a mente não pas -
sava de uma máquina. Mill não s e convencia com a argumentação dos empiristas de
que a me n te era semelhante à máquina apenas no seu funcionam ento. A mente er a
uma máquina - funcionava da mesma forma previsível e mecânica de um relógio. Era
colocada em funcionamento por força s físicas externas e operada por forças físicas
internas.
De acordo com essa perspectiva, a mente é uma entidade completamente passiva e
acionada totalmente por estímulos externos. A reação a esses estímulos é automática; a
atitude não é esp ontânea. A teoria de Mill não comportava o conceito de livre-arbítrio,
idéia persistente nos sistemas de psicologia derivados diretamente da t radição mecani-
cista, entre os quais o mai s famoso é o behaviorismo de B. F . Skinner.
Conforme sugere o título do principal trabalho de Mill, ele propunha o estudo da
mente pelo método d a análise, ou seja, reduzindo a mente em componentes básicos. É
possível reconhecer nessa afirmação a doutrina mecanicista. Por exemplo: para com-
preender um fenômeno complexo, seja n o mundo físico ou m ental, sejam idéias ou
relógios, é necessário dividi-los em partes componentes menores. Mill afirmou "ser
indispensável o conhecimento distinto dos elementos para apurar a formação resultan-
te da sua composição" (Mill, 1829, v. I, p. 1) .
Para Mill, sensações e idéias são as únicas espécies de elementos mentais. Na linha
tradicional empirismo-associacionismo, todo c onhecimento tem início com as sensa-
ções,
cesso dda
as associação,
quais são derivad
a qualasé uma
as idéias comde
questão plexas de nível mais
contigüidade elevadodemed
ou apenas iante o pro-
simultaneidade
e pode ser sucessiva ou concomitante.
Mill não acreditava que a mente tivesse uma função criativa, já que a associação
consistia em um processo passivo e automático. As sensações simultâneas que ocorrem
em certa ordem são reproduzidas mecanicamente em forma de idéias, as quais ocorrem
na mesma ordem das s ensações a q ue correspondem. Em outras palavras, a associação
é mecânica e as idéias resultantes são apenas o acúmulo ou a soma d os elementos men-
tais individuais.

]ames Mill concordava com a visão de Locke a respeito da mente humana como um a
folha em branco para o registro das experiências. Quando nasceu seu filho, ]ohn, Mill
prometeu estabelecer quais experiências preencheriam a men te do garoto e empreendeu
um rigoroso programa de aulas particulares. Todos os dias, durante um período de até
cinco horas, ensinava grego, latim, álgebra, geometria, lógica, históri a e política econô-
mica ao menino, formulando perguntas até receber a resposta correta.
Aos 3 anos, ]ohn Stuart Milllia Platão no original em grego. Aos lI, escreveu o pri-
meiro trabalho acadêmico e aos 12 dominava com perfeição o curr ículo universitário
padrão. Com 18 anos, descreveu a si mesmo como uma "máquina lógica" e, aos 21,
sofreu uma depressão profunda. Sobre seu distúrbio mental, diss e: "Meus nervos fica-
ram em estado de entorpecimento (...) toda a base sobre a qual a minha vida fora cons-
truída havia ruído. ( ...) Não havia sobrado na da por que vales se a pena continuar a
viver" (Mill, 1873/1961, p. 83). Ele levou muitos anos para recuperar a auto-estima.
Mill trabalhou na Companhia das Índias Orientais, lidando com a correspondência
rotineira referente à atuação do governo inglês na Índia. Aos 25 anos, apaixonou-se por
Harriet Taylor, uma mulher linda e inteligente, porém casada, que veio a exercer grande
influência no trabalho de Mill. Cerca de 20 anos depoi s, quando seu marido faleceu,
Harriet Taylor se casou com ]ohn Stuart Mill . Ele se referia a e la como a "dádiva-mor da
minha existência" (Mill, 1873/1961, p. 111) e ficou inconsolável quando ela morreu,
sete anos depois. Ele mandou construir um chalé de ond e pudesse ver o túmulo da sua
esposa. Mais tarde, Mill publicou um ensaio intitulado The Subjection of Women, escrito
por sugestão da sua filha e inspirado nas experiências matrimoniais de Harriet com seu
primeiro marido.
Mill ficou horrorizado com o fato de as mulheres serem privadas dos direitos finan-
ceiros ou das propriedades e comparou a saga f eminina à de outros grupos de desprovi-
dos. Condenava a idéia da submissão s exual da esposa ao desejo do marido , contra a
própria vontade, e a proibição do divórci o com base na incompatibilidade de gênios. Sua
concepção de casamento era baseada na parceria entre pess oas com os mesmos direitos,
e não na relação mestre-escravo (Rose, 1983).
Mais tarde, Sigmund Freud traduziu para o alemão o en saio de Mill sobre a mulher
e, em uma carta para sua noiva, zombou d o conceito de Mill a respeito da igualdade dos
sexos. Freud escre veu: "A posição da mulher não pode ser outra se não esta: ser uma
namorada adorada na juventude e uma es posa querida na maturidade" (Freud, 188 3/
1964, p. 76).

A química mental. Devido aos seus trabalhos a bordando diversos tópicos, ]ohn
Stuart Mill tornou-se contribuinte influente no que logo se transformou formalmente na
nova ciência da psicologia. Ele combatia a posição m ecanicista de seu pai, ]ames Mill, ou
seja, a visão da mente passiva que reage mediante o estímulo externo. Para ]ohn Stuart
Mill, a mente exercia um papel ativo na associação de idéias.
Em sua proposta, afirma que idéias complexas não são apenas o somatório de idéias
simples por meio do processo de associação. Idéias complexas são mais que a simples
soma das partes individuais (as idéias sim ples). Por quê? Porque acabam adquirindo
novas qualidades antes não encontradas nos elementos simples. Por exemplo: a mistura
de azul, vermelho e verde nas proporções corretas resulta na cor branca, uma quaÍidade
completamente
tiva, nova.
a combinação De acordo
correta com essa
de elementos perspectiva,
m entais sempreconhecida como qualidade
produz alguma a síntese cria-
dis-
tinta que não estava presente nos próprios elementos.

Síntese criativa: a noção de que idéias comp lexas for madas a partir de idé ias simples adquirem
novas qualidades e a comb inação dos e lementos mentais cr ia um ele mento maior o u diferente da
soma dos elementos srcinais .

Desse modo, o pensamento de ]ohn Stuart Mill foi influenciado pelas pesquisas em
andamento na química, que lhe propo rcionaram modelos diferentes das suas idéias da
física e da mec ânica, que formavam o contexto de idéias do seu pai e dos precursores
empiristas e associacionistas. Os químicos demonst ravam o conceito da síntese , que
busca componentes químicos para mostrar atributos e qu alidades não presentes nas par-
tes ou nos elementos que os compõem. Por exemplo: a mistura correta dos elementos do
hidrogênio e do oxigênio produz a água, a qual possui propriedades não encontradas em
nenhum desses componentes. Do mesmo modo, as idéias complexas formadas a pa rtir
da combinação de idéias simples adquirem características inexistentes em seus elemen-
tos. Mill chamou a essa teoria da associação de id éias de "química mental".
]ohn Stuart Mill também contr ibuiu significativamente para a psicologia, alegando
ser possível a realização de um estudo científico da mente. Fez essa afirmação quando
outros filósofos, principalmente Auguste Comte, negavam a possibilidade de examiná-Ia
por meio de métodos científicos. Além disso, Mill recomendou um novo campo de estu-
dos que cha mou de "etologia", dedicad o aos fatores que influenciam o desenvolvimen-
to da personalidade human a.

http://www.socsci.mcmaster.ca/- econ/ugcm/3113/mill/ auto


Síte com a autobiografia de Joh n Stuart Mill.

http://www.spartacus.schoolnet.co.uklPRmill.htm

Apresenta uma visão geral da vida e do trabalho de John Stua rt Mill , incluin-
do informa ções de Harriet Taylor e o pap el da mulhe r na vida social e pol íti-
ca da época.

C o ntribuiçõe s d o E m p iri s m o à P s icolo g ia


Com o surgimento do empirismo , muitos filósofos desviaram-se das abordagens iniciais
do conhecimento. Embora tratassem de algumas questões em co mum, seus métodos
para analisá-Ias baseavam-se nas teorias do atomismo, do me canicismo e do positi vismo.
Vejamos os princípios do empirismo:

• o papel principal do processo da sensação


• a análise da e xperiência consciente nos e lementos
• a síntese do s elementos em experiências mentais complexas mediante o proces-
so da a ssociação
• o enfoque nos processos conscientes

o papel principal do empirismo na form ação da nova ps icologia científica tornava-


se evidente e é pos sível perceber que as preocupações dos empiristas f ormavam o objeto
de estudo básico da psicologia.
Em meados do século XIX, os filósofo s estabeleceram a just ificativa teórica para uma
ciência dedicada à natureza humana. O passo seguinte seria a tra nsformação da teoria
em realidade - o tratamento e xperimental do mesmo objeto de est udo -, o que ocor-
reria logo, graças aos psicólogos, que prop orcionaram o tipo de expe rimentação que viria
a completar a fundação da nova psicolo gia.

Temas para Discussão


1. Explique o conceito do mecanicismo. Co mo esse con ce ito foi aplicado aos
seres humano s?

2. Qual a relação e xistente entre o de senvolvimento do relógio e o dos robôs e


as idéias do determinismo e do reducionismo?

3. Por que os relógio s foram consid erados modelos par a o universo físico?
4. Quais a s implicações da máquina calcu ladora de Babbage na nova psicolo-
gia? Descreva a contribuição de Ada Lovelace para o trabalho de Babbage.

5. Qual a diferen ça entre a visão d e Descartes a respeito da que stão mente-


corpo e as vi sões anteriores? Qual a explicação de Descartes para o funcio-
namento e a interação d o corpo hu mano e da mente humana? Qual o papel
do canarium?
6. Como De scartes diferenciava as idéias inatas das idéias derivadas?

7. Def ina o positivismo, o materialismo e o em pirismo. Quais as contribuições


de ca da um para a nova psicologia ?

8. Descreva a definição de Locke so b re o empi rismo. Discuta seus conceitos de


sensação e reflexão e o d e idéias simples e complexas.

9. O que é a abordagem mental-química para a assoc iação? Qual a relação


entre essa a bordagem e a noção d a mente semelhante a uma máquina?

10. Como as idéias de Be rkeley desa fiaram a visã o de Lo cke sobre a distinção
entre as qualidades primária e sec undária? O q ue Berkeley quis dizer c om a
frase "percepção é a única realidad e"?

11. Como o trabalho de H artle y superou os ob jetivos dos demais empiristas e


associacionistas? Como Hartle y explicava a asso ciação?

12. Compare as explicações a respeito de associação apresentadas por Hume,


Hartley, ]ames Mil l e ]ohn Stuart Mill.

13. Faça um a comparação e destaque os pon tos divergentes das posições de


]ames Mill e de ]ohn Stuart Mill acerca da natureza da mente. Qual dessas
visões teve impacto mais duradouro na psicologia?

Sugestões de Leitura
Babbage, C. On th e principIes and d evelapment af the calculatar, and ather seminal writings.
(P.Morrison; E . Morrison, Eds.). Nova York: Dover Publications, 1961. Seleção den-
tre vários trabalhos de Ba bbage refe rentes a computadores e out ros dispositivos
mecânicos. Contém uma biografia resumida.
Gaukroger, S. Descartes: an intellectual biagraphy. Oxford, Inglaterra: C larendon Pre ss,
1995. Um relato detalhado da vida e d o trabalho de Descartes.

Landes, D. S . Revalutian in time: Clacks and the making af the madern warld . Cambridge,
MA: Belknap Press of Har vard University Press, 1983. Relatos minuciosos sobre a
invenção do relógio mecânico e o ape rfeiçoamento da precisão dos dispositivos de
medição do tem po. Apresenta uma a valiação do seu i mpacto no desenvolvimento
da ciência e da socied ade.
Lowry, R. The evalutian af ps ychalagical theary: A critical histary af concepts and pr esuppasi-
tians (2. ed.), Hawthorne, NY: Aldine, 1982. A nálise das principais propostas e pers-
pectivas que serviram de ba se para o desen volvimento da psicologia , começando
com o mecanicismo do sé culo X VII.
Reston ]r.,]. Galilea: A lif e. Nova York: Ha rperCollins, 1994. Uma biografia sens ível e de
fácil le itura de uma grande figura da história d a ciência.
Teresi, D. Lost discoveries: The ancíent roots of mod em scíence-from the Bab ylonians to th e
Maya. Nova York : Simon & Schuster, 2002. Um tr abalho que mostra como as gran-
des conquistas humanas da ciência ocidenta l (matemática, astronomia, física, qu í-
mica, geologia e tecnologia) foram previstas décadas e até séculos antes, por meio da
análise das contribuições dos índios, chineses, árabes, polinésios, maias, astecas e
outros povos.

Wood, G. Edison's Eve : A magical history ofthe quest for mec hanicallife. Nova York: Knopf,
2002. Uma descriç ão sobre o d esen volvimento do ro bô, incluindo os b rinquedos
mecânicos e os mecanismos d e entretenimento da E uropa, além da bo nec a "que
fala" inventada por Th omas Edison .

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