Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Na Grã Bretanha, como nos Estados Unidos, verificou-se, a partir dos anos 80,
uma crescente produção de artigos, livros, tendo sido criados inúmeros periódicos
privilegiando temas específicos no âmbito da geografia. Algumas editoras tem
divulgado, por meio de livros, textos e coletâneas, a produção dos geógrafos
(Routledge, Blackwell, Arnold, Sage, entre outras). Muitos dos textos são repetições,
em maior ou menor grau, do que já foi escrito antes, alguns são inequivocamente fracos,
mas há excelente e rico material abrangendo novos temas, novas interpretações de
temas antigos, debates intra e interdisciplinares e novas metodologias. O número de
jovens geógrafos que publicam cresceu muito. Acompanhando esse crescimento
verifica-se na Grã Bretanha, a expansão de cursos de geografia já existentes e a criação
de novos (Short, 2002).
1
Publicado originalmente na Revista Bibliografica de Geografia y Ciencias Sociales, Universidad de
Barcelona, vol. X, 650, 10 de mayo de 2006. Republicado em: Caminhos Paralelos e Entrecruzados. São
Paulo: UNESP, 2018.
Nos critérios de avaliação os artigos são os mais valorizados que os livros e
capítulos em livros. Os periódicos também são submetidos a uma classificação. Assim,
por exemplo, publicar um artigo na Transactions of Institute of British Geographers, no
seu congênere norte-americano Annals of the Association of American Geographers,
nos periódicos Environment and Planning e Progress in Human Geography, tem um
valor, numericamente qualificado, que em outros periódicos. As revistas de menor
circulação, porém mais criativas são relegadas a um plano muito secundário, porque não
ficaram classificadas como de grau A. Aqueles que publicam artigos nas revistas
acadêmicas de alto status obtêm maior pontuação. Aqueles que editam essas revistas
acabam detendo poder na comunidade, assim como aqueles membros do comitê de
avaliação, transformados em “árbitros da disciplina, os novos guardiões, parte do
sistema governamental de vigilância” (Short, 2002, p.324). Esses membros são
selecionados, em parte, pelo status que individualmente conquistaram, mas são, segundo
Short (2002, p.324), os “recipientes (...) e não os artífices do processo” de avaliação de
cursos e distribuição de bolsas. Esses membros, pouco numerosos, concentram poder
acadêmico, passando a desfrutar de enorme prestígio. Nesse processo certos temas são
considerados mais relevantes, mas essa relevância está associada, em grande parte, à
aceitação que os temas desfrutam entre aqueles que detêm poder.
Kitchin e Fuller (2003), por sua vez, apontam para o aumento de discussões
sobre a transparência dos mecanismos de avaliação da prática dos geógrafos, congressos
e publicações, mais especificamente. Questões como “quem decide?” e “que critérios
foram adotados?” emergem nessas discussões. Questões dessa natureza, apareceram em
textos publicados em periódicos correntes, na revista eletrônica de geografia crítica e
durante a Conferência Internacional de Geografia Crítica realizada em 2002 na cidade
húngara de Békéscsaba.
As questões apontadas nos três textos não são estranhas e irrelevantes aos
geógrafos brasileiros envolvidos em programas de pós-graduação. A explosão de cursos
de mestrado e, menos acentuadamente, de doutorado em geografia, foi acompanhada de
crescente controle por parte do Estado por intermédio, sobretudo, do CNPq e da
CAPES. A produção acadêmica e o desempenho do curso são avaliados por comitês de
geógrafos.
Referências Bibliográficas