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O USO DA ETNOGRAFIA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO DO

LETRAMENTO CIENTÍFICO NO ENSINO DE SOCIOLOGIA NA EDUCAÇÃO


BÁSICA

Walleson Willian Cândido Lourenço, (UFAL)


E-mail: Willian.mcz@outlook.com

Eixo temático: Alfabetização e práticas de letramento na educação básica

Introdução

É possível perceber atualmente uma série de reflexões acerca da importância


do uso do letramento científico no ensino de ciências. Segundo Montenegro (2008), o
letramento científico e a alfabetização científica, se constituem como uma tentativa de
renovação do ensino de Ciências. Sendo, nesse processo, por um lado, a
alfabetização científica a aprendizagem dos conteúdos e da linguagem científica, e
por outro, o letramento científico, o uso do conhecimento científico e tecnológico no
quotidiano.
Nessa linha de raciocínio, Santos (2007, p. 487) compreende que o letramento
científico amplia a função do ensino, quando diz, “o que se busca não é uma
alfabetização em termos de propiciar somente a leitura de informações científicas e
tecnológicas, mas a interpretação do seu papel social”. Perspectiva essa que também
se encontra na visão de Montenegro (2008), já supracitado, quando concebe que
letramento científico fornece ao sujeito o empoderamento frente às situações naturais
ou sociais. Além do desenvolvimento de sua autonomia frente a decisões acerca de
situações problemas, da capacidade de comunicação com os outros pelo diálogo ou
debate, utilizando-se do conhecimento científico e da habilidade de construir teorias.
Assim, grosso modo, o pressuposto dos pensadores do letramento científico é
a ênfase no desenvolvimento da leitura e escrita no ensino e aprendizagem das
ciências. Na medida em que compreendem que ler e escrever estão intrinsecamente
ligados tanto à natureza da ciência e ao fazer científico, quanto ao aprender ciência
(SASSERON; CARVALHO, 2011).
Nesse sentido, quando pensamos essas reflexões acima em consonância com
os objetivos sociopolíticos do letramento científico propriamente dito, isto é, de que os
conhecimentos transmitidos aos alunos sirvam para que eles desenvolvam
habilidades e competências que os possibilitem se tornarem agentes transformadores
da sociedade em que vivem. Na medida em que se utiliza deste conhecimento para a
resolução de problemas do seu quotidiano. Começamos a refletir, por fim, acerca das
implicações e efeitos que o uso do letramento científico teria no ensino das ciências
sociais, especialmente no ensino de sociologia da educação básica, decorrentes do
fato de terem significativas similitudes de objetivos de natureza pedagógica, social e
política.
Segundo as OCEM (2006), o objetivo da sociologia no ensino básico é,
efetivamente, o desdobramento de dois princípios epistemológicos fundamentais, a
desnaturalização e o estranhamento das realidades naturalizadas socialmente. Além
disso, compreende-se que a Sociologia permeia as dimensões: científica, política e
educacional, com o intuito de desmistificar as estruturas sociais e construir uma
consciência sociológica (SARANDY, 2013).
Sendo necessário para a concretização disso, o desdobramento do que o
sociólogo americano Charles Wright Mills (1972) denomina de “imaginação
sociológica”, que se traduz na habilidade que se tem em integrar elementos da nossa
experiência individual com as instituições sociais do nosso cotidiano, além dos
aspectos históricos de nossa vivência a partir de uma visão sistêmica de todos os
elementos que compõe a sociedade. Dito de outra forma, desenvolver a capacidade
de apreender os conceitos e categorias dessa disciplina como forma de poder
interpretar e entender a sua realidade quotidiana. Ou seja, o que o letramento
científico propõe.
Destarte, compreendemos que através da aplicação do letramento científico no
ensino de sociologia, o professor buscaria estimular a imaginação sociológica do
aluno, pois estaria lançando as bases para o aluno conseguir utilizar os conteúdos
científicos dessa disciplina em seu quotidiano.
Assim, o objetivo desse trabalho para além de pensar a justificativa da
utilização do letramento científico no ensino de sociologia da educação básica,
refletimos largamente acerca do “como” desenvolvê-lo, e as implicações teóricas e
epistemológicas dessa escolha metodológica. As quais, em nosso trabalho, se deu
através do uso da etnografia, materializada na escrita quotidiana de diários
etnográficos. Tendo por objetivo principal, a reflexão acerca da sua realidade prática,
se utilizando dos conceitos e categorias sociológicas apreendidos tanto em sala de
aula, quanto em outros espaços, pensando suas implicações para uma intervenção
enquanto cidadão crítico.

Fundamentação teórica

A escolha do uso da escrita etnográfica enquanto elemento propiciador do


desenvolvimento do letramento científico no ensino de sociologia está alinhada com
a perspectiva teórica de Motta-Roth (2011), que amparada nas análises de Vygotsky
(1989), compreende que esse se justifica pelo fato de a alfabetização científica ser
dependente da educação linguística enquanto componente primordial na tarefa de
educar a população para viver os tempos atuais. A qual é caracterizada pelo
acelerado avanço tecnológico e científico, o que vem exigindo dos sujeitos tanto
uma formação qualificada para o engajamento nos discursos vigentes acerca de
variadas temáticas, como também na tomada de decisões pertinentes a elas.
A etnografia em seu sentido lato significa, segundo Mattos (2011, p. 53),
“escrever sobre, escrever sobre um tipo particular - um etn(o) ou uma sociedade em
particular”. É, efetivamente, um método de especialidade da antropologia,
largamente utilizado nas ciências sociais, que visa o estudo e a descrição dos
povos, através de sua língua, raça, religião, manifestações materiais de suas
atividades, a qual está também diretamente alinhada com a etnologia que se
debruça acerca da cultura material dos povos.
No entanto, não se esgotando nisso, pretendemos destacar que adotamos
uma concepção ampliada de etnografia, aquela que não é pautada tão somente em
estabelecer relações, transcrever textos, levantar genealogias, mapear campos,
manter um diário, mas num esforço intelectual específico visando a construção de
uma “descrição densa” (GEERTZ, 1989). Isto é, uma atividade laboral voltada para
uma descrição completa de um grupo particular, de tal modo que se possa
compreender a sua natureza constitutiva, suas ações e suas respectivas
significações culturais, como se diferenciam perante outro grupo, como se
desenvolve as desigualdades sociais, os processos de exclusão e situações
sóciointeracionais. Sendo, assim, um método de análise que Mattos (2011)
compreende enquanto “escrita visível”. A qual passa a melhor se desenvolver
mediante o aperfeiçoamento da observação, sensibilidade perante o outro, do
conhecimento sobre a atmosfera estudada e, fundamentalmente, da imaginação
científica do pesquisador.
Destarte, é justamente compreendo a etnografia como esse estudo holístico
dos povos, devidamente documentado, monitorado, no qual se observa, grosso
modo, o modo conduz suas vidas com o intuito de revelar o significado cotidiano,
nos quais as pessoas agem, que percebemos suas reais contribuições para ser
utilizado enquanto um instrumento do desenvolvimento do letramento científico no
ensino de sociologia. À medida que os alunos podem se utilizar desse método para
entenderem a sua própria realidade a partir da sua escrita diária das impressões e
correlações lógicas que estabeleçam com os conceitos científicos apreendidos.
Além disso, em termos de implicações práticas subjetivas para o aluno,
entendemos que esse instrumento favorece o desenvolvimento do que Bourdieu
(1983, 1989, 2005) compreende como “autoanálise” e “socioanálise” dentro da
pesquisa social. O primeiro como sendo desenvolvido pelo método reflexivo, a partir
da objetivação de elementos de sua trajetória de vida como fatores de reflexão da
constituição do seu “habitus”. Isto é, tornar objeto de análise em sua pesquisa social
determinadas estruturas de dominação, injustiças, desigualdades sociais advindas
do campo em que o indivíduo está situado, que perpassa sua trajetória de vida e
resultado da ação de variadas forças sócias, o que ele conceitua de “libido social” a
partir das influencias da psicanálise freudiana, para pensar o quanto boa parte das
influências que constituem o ser do indivíduo é resultado das suas próprias relações
sociais e das estruturas de poder que, por sua vez, desenvolve com o seu meio, as
quais podem ser objeto de análise para pensar a si mesmo como objeto de estudo.
Na mesma linha de raciocínio, em busca de romper a falsa dicotomia
indivíduo-sociedade, o segundo conceito de Bourdieu é complementar do primeiro,
se orienta a sinalizar para a necessidade do desenvolvimento de uma sociologia da
sociologia, ou seja, desenvolver uma sociologia reflexiva do meio social. A qual,
além de nesse processo constitutivo do oficio do sociólogo, mobilizar aspectos que
visam colocar a sua própria trajetória de vida como objeto de estudo, se encaminha,
por sua vez, para desenvolver um habitus de pesquisa social que não desassocia
vida intelectual da vida quotidiana do pesquisador. À medida que a sócioanálise
está inserida no modo como observamos os conceitos sociológicos dos sistemas
sociológicos na vida pratica quotidiana e fazemos a devida revisão crítica deles,
quando for necessário para o desenvolvimento duma pesquisa social crítico
reflexiva (BOURDIEU, 1983, 1989, 2005). Visando, assim, a análise da constituição,
transformação, reprodução das estruturas de poder e dominação que subjaz nas
relações sociais, no campo em que os indivíduos históricos estão inseridos
quotidianamente.
Por conseguinte, nosso trabalho também sinaliza para incorporação nos
indivíduos de práticas subjetivas advindas do trabalho intelectual que Foucault
conceitua de “Governo de si” e a “Estética da existência”. Sendo para o filósofo
francês, momentos em que o pesquisador ao estudar os saberes e as instituições
que exercem sobre os indivíduos relações de poder específicas, visando controlar
suas condutas, podemos pensar em formas de transformação e possível
reversibilidade. Formas essas que, segundo esse mesmo filosofo, então
influenciado pela psicanálise e os escritos estoicos, perpassam a relação do
indivíduo consigo mesmo, visando um estado de satisfação e soberania de si
(FOUCAULT, 1997). Dito de outra forma, o desenvolvimento de um governo de si
que se constitui como uma recusa relativa das práticas abusivas de controle das
condutas, à medida que o indivíduo identifica esses discussões e saberes
limitadores de conduta autônoma.
Por fim, se trata de um princípio ético do sujeito, a estética da existência, que
se coloca como autor autônomo de sua própria existência, de sua libertação,
fazendo realmente de sua vida e corpo uma obra artística, ao passo que desenvolve
o domínio de instrumentos, práticas, saberes e exercícios que irão compor a arte do
viver (FOUCAULT, 2010). É nesse sentido, efetivamente, a gradual incorporação
no indivíduo da necessidade de desenvolvimento da “askésis” grega, o ocupar-se
consigo mesmo, com o meu interior e as representações que construo sobre mim e
os outros, numa relação de afirmação da minha alteridade e resistência social
(VENTURA, 2008).

Metodologia

Este presente trabalho de caráter teórico, que visa, grosso modo, pensar as
implicações práticas do uso da etnografia no desenvolvimento do letramento científico
no ensino de sociologia da educação básica, se utilizou da metodologia da pesquisa
bibliográfica e documental, aliado a um método de abordagem de perspectiva teórica-
metodológica estruturalista crítico reflexivo, de vertente marxista.
A proposta do autor neste trabalho foi, inicialmente, coletar documentos e
bibliografias que dissertam acerca dos objetivos do ensino de sociologia no ensino
médio como as OCEM (2006) e os escritos de Sarandy (2013) e Wrigth Mills (1972),
para num segundo momento correlacionar com as perspectivas teóricas de Santos
(2007), Montenegro (2008), Sasseron e Carvalho (2011), com vistas a entender o
quanto os objetivos do ensino de sociologia na educação básica e o letramento
científico aplicado na mesma área de ensino, estão semelhantemente alinhados. E
assim, se constituir enquanto subsídio para corroborar a necessidade de sua
aplicação em conjunto.
Posteriormente, voltamos nossa atenção para cogitar acerca da prática de
aplicação real do letramento científico no ensino de sociologia da educação básica.
Nesse sentido, raciocinamos teoricamente acerca das implicações e efeitos práticos
do uso da etnografia pelos estudantes, com vistas a concretização desse objetivo. A
ideia foi mobilizar elementos presentes na bibliografia de Geertz (1989) com sua
concepção de etnografia como “descrição densa”, Mattos (2011) com a perspectiva
de que praticar etnografia é também desenvolver uma “escrita visível”, que se
aperfeiçoa ao passo que melhor conheço a realidade estudada e o outro, numa
relação de alteridade, para, assim, pensar as reais contribuições da etnografia e as
possibilidades de aplicação desse método na realidade de ensino médio que, por sua
vez, seria materializada através do uso e escrita quotidiana de um diário de campo ou
diário etnográfico.
Estando os pressupostos acima, desta forma, diretamente alinhados com a
ideia de Motta-Roth (2011), de evidente influência de Vygotsky (1989), sobre a
educação científica ser dependente de uma educação linguista, que requerer o
desenvolvimento de estruturas de linguagens próprias do fazer científico.
Por fim, caminhamos no sentido de perceber as implicações práticas subjetivas
dos pressupostos desse trabalho para os alunos do ensino médio, numa perspectiva
teórica crítica. Assim, mobilizamos, num primeiro momento, as perspectivas teóricas
metodológicas do sociólogo francês Pierre Bourdieu (1983, 1989, 2005) acerca do
desenvolvimento da “autoanálise” e “socioanálise” dentro do processo de execução
de elementos que constituem o ofício do sociólogo dentro da pesquisa social.
Buscando enfatizar, em linhas gerais, o quanto a trajetória de vida do estudante de
ensino médio, especialmente os de realidade de escola pública que sofrem, em suma
maioria, de limitações e barreiras em seu processo educativo, pode ser
problematizada ao passo que mobilizem determinados instrumentos da sociologia,
visando objetificá-la. Isto é, tornar a si próprio, objeto de seu estudo.
Além de mostrar através de Foucault (1997, 2010) com seus conceitos de
“Governo de si” e “Estética da existência”, as implicações da pesquisa social para
constituição da representação e posicionamento crítico do sujeito frente às instituições
de poder que visam dominar e gerir as ações dos sujeitos.

Resultados e discussão

Nessa pesquisa de caráter teórico, bibliográfico e documental, percebemos, de


forma mais precisa, os elementos que justificam a utilização da etnografia como
instrumento de desenvolvimento do letramento científico no ensino de sociologia da
educação básica, bem como as implicações e efeitos práticos subjetivos para o
desenvolvimento do senso crítico do aluno enquanto cidadão.
Um dos pressupostos para se pensar o uso desse instrumento como
propiciador do letramento científico nessa realidade educacional é, justamente, como
pensa Motta-Roth (2011) com sua influência Vygotskiana, que desenvolver o ensino
de ciências, como a sociologia, perpassa a necessidade de aprimoramento das
estruturas de linguagem. Num processo que Paulo Freire (2015) denomina de “educar
e educar-se” através da leitura do seu quotidiano, uma reflexão não mecânica, mas
crítica que melhor se desenvolve através da escrita sobre esse mesmo meio.
Ademais, entendemos mediante essa pesquisa, que assim como os teóricos
sobre o letramento científico pensavam, a exemplo Santos (2007), Montenegro
(2008), Sasseron e Carvalho (2011), em consonância com aqueles que pensam os
processos de compreensão da ciência social, sociologia Sarandy (2013) e Wrigth Mills
(1972), que o entendimento do estudo da sociologia como um momento de
assimilação de conceitos não de forma mecânica, mas de forma a refletir sobre sua
realidade social de forma crítica, propicia o desenvolvimento da “imaginação
sociológica”. Que em linhas gerais, segundo as OCEM (2006) se efetiva mediante o
processo dos dois objetivos da sociologia no ensino básico, “estranhamento” e a
“desnaturalização” das realidades sociais naturalizadas.
Por conseguinte, entendemos que o uso da metodologia de escrita etnográfica
feita pelos alunos, quotidianamente, através do uso do que podemos chamar de
“diários de campo” ou “diários etnográficos”, pode propiciar o desenvolvimento de um
“habitus” do fazer científico. Isto é, engendrar no aluno disposições para a pesquisa
social, trazer novamente a fascinação pela curiosidade de buscar explicações para os
problemas de seu meio social. Na mobilização de uma escrita etnográfica preocupada
com aquilo que Geertz (1989) conceitua de “descrição densa”, além daquela que
Mattos (2011) chama de “escrita visível”. Em suma, dar uma base para que o aluno
entenda que não é simplesmente escrever, traçar genealogias, documentar sobre o
lugar, mas mobilizar reflexões com categorias e conceitos sociológicos duma forma a
tentar se apropriar das múltiplas disposições do seu meio, numa postura de
pesquisador que busca as mais diversas informações e as descreve e analisa
criticamente, cientificamente.
Dessa forma, ao lançar as bases para o desenvolvimento do “habitus” da
reflexão crítica, de disposições à escrita, do fazer científico, observamos que podemos
desenvolver, por um lado, o que Bourdieu compreende como “autoanálise” e
“socioanálise”, uma vez que ao refletirem e dissertarem sobre a sua realidade,
conforme uma pesquisa social, estão também tomando a si mesmos enquanto objetos
de estudo. Por outro lado, a edificação do que Foucault compreende como “estética
da existência” e o “governo de si”, momentos fundamentais da construção da
autonomia de sujeitos históricos críticos.

Conclusão

Assim, ao refletirmos sobre o objetivo e natureza tanto do letramento científico,


quanto do ensino da sociologia no ensino básico, compreendemos que a utilização da
escrita etnográfica como instrumento prático para o desenvolvimento do letramento
científico no ensino de sociologia da educação básica, se constitui enquanto
processos educativos que visam sobretudo satisfazer o que eles mesmos propõem. A
saber, a edificação de cidadãos críticos que se preocupem em apreender conceitos
científicos como forma de entender problemas de sua realidade social, buscando
meios para nela intervir conscientemente, com o intuito de solucioná-los.
Nesse sentido, em nossa presente pesquisa, a qual possui apenas o objetivo
de oferecer contribuições teóricos específicas para o campo dos estudos sobre
letramento científico no ensino das ciências, partimos do pressuposto que para
pensarmos a aplicação do letramento científico no ensino de sociologia ou qualquer
ciência, é necessário cogitarmos acerca de sua natureza e os possíveis métodos para
sua real aplicação.
Tendo em vista o exposto acima, cogitar sobre o uso da etnografia foi,
justamente, mobilizar esses elementos. Ler, refletir e escrever são processos
constitutivos do fazer sociológico, como nos afirma Bourdieu, Chamboredon e
Passeron (1999) em A profissão do sociólogo – preliminares epistemológicos, e
processos presentes na nossa trajetória pedagógica de sujeito crítico na tarefa de
“educar e educar-se” como afirma Paulo Freire (2005).
Então incentivar o desenvolvimento desse habitus de pesquisa social da sua
realidade no aluno, é nada menos que pensar na natureza dessa disciplina, no quanto
o aluno pode achar mais interessante estudar e aprender sociologia refletindo sobre
seu lugar, sobre a sua trajetória de vida, como propõe a socioanálise e a autoanálise.
É, ademais, teorizar as possíveis implicações disto em sua existência enquanto ser
social histórico, cidadão inserido em uma complexa realidade moderna capitalista
repleta de problemas sociais que precisam ser estudados e problematizados
cientificamente na busca de respostas. É, em suma, ter empatia perante o aluno de
realidade de educação básica, especialmente de realidade de escola pública, com
suas diversas limitações e barreiras em termos de possibilidade de ascensão social,
econômica e geográfica. Demonstrando que é possível lutar contra os problemas
sócio-políticos segregadores do meio e buscar nossa emancipação. Constituindo
nossa estética da existência e nosso governo de si, na medida que, assim como Orfeu
e Eurídice, fazemos de nossas vidas uma obra de arte.

Referências

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