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Introdução
O mundo que “Cabra marcado para morrer“ traz para a tela representa um
momento histórico único, abordado a partir da visão de quem esteve (e ainda
está) fora do status quo da sociedade brasileira.
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É nessa época que começa a saga de “Cabra Marcado para Morrer”. Nas
primeiras cenas do filme aparecem imagens de camponeses, crianças, mães e
trabalhadores pobres ao som da “Canção do subdesenvolvido” (Carlos Lyra e
Chico Assis, 1961) e com a seguinte narração em off:
“Abril de 1962,
Estas imagens foram filmadas durante a UNE Volante, uma caravana da União
Nacional dos Estudantes que percorreu o país para promover a discussão da
reforma universitária. Com os estudantes viajavam membros do CPC, Centro
Popular de Cultura da UNE, que pretendiam estimular a formação de outros
centros de culturas nos estados. A imagem da miséria contrastando com a
presença do imperialismo, esta era uma tendência típica na cultura daqueles
tempos.” (Cabra Marcado para Morrer, 1984).
O filme se faz através das histórias que são contadas por quem tem a
propriedade de ter sido afetado pela política do governo militar. Trata-se de
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“Apesar de toda a carga de tristeza, Cabra Marcado para Morrer não é um filme
que busca lágrimas do espectador. Como nas tragédias, ele mostra que o
destino dos indivíduos independe de sua vontade”.
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Um dos motivos que faz com que “Cabra Marcado para Morrer” tenha tanta
força é, segundo a reportagem “No cinema, uma saga camponesa”, escrita por
Sergio Augusto, para a Ilustrada, da Folha de 22 de abril de 1984, que os
pontos de partida de Coutinho “não foram nem uma obra prima inacabada nem
dois clássicos do documentário, apenas os retalhos de um projeto, que se
tivesse seu curso normal até o fim, hoje, presume-se que não passaria de
curiosidade arqueológica do nascente cinema novo”. Assim a década de 1980
recebeu o filme:
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O filme mostra pessoas muito pobres que se unem para buscar uma pequena
melhora nas condições de vida. O heroísmo existe na figura de homens e
mulheres comuns, e surge pela necessidade. O governo militar só aparece sob
a forma de repressão. Em uma das entrevistas do filme, o filho de Elizabeth
Teixeira, Abraão, discursa: “Eu quero que o filme registre este nosso repúdio a
quaisquer tipo de governo. Nenhum presta para o pobre”. Á todo momento, os
camponeses se lembram do que ocorreu na década de 1960, do encerramento
das filmagens do filme até às sessões de tortura impostas aos considerados
comunistas.
“Isso é tipo de revolução? Pegar um cabra lascado que nem eu e deixar meus
filhos todos morrendo de fome, aí? (...) Era melhor mandar me fuzilar, né? Do
que fazer uma miséria dessas!” conta João Virgínio da Silva, um dos líderes de
Galieia, e um dos mais marcantes personagens entrevistados por Coutinho.
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“Dona Elizabeth, por exemplo, que mudou até de nome para fugir a prisão e as
represálias, escondendo-se na cidadezinha de São Rafael, no interior do Rio
Grande do Norte, não é representada como heroína ou mártir. Instigada pelo
filho mais velho, Abraão, ela de inicio elogia João Figueiredo e diz que só
poderia falar por causa dos benéficos da abertura. Momentos depois, ataca o
governo queixando-se da miséria e afirma que a luta dos camponeses tem que
continuar. Qual a verdadeira Elizabeth – a conciliadora ou a contestadora?
Cabra marcado não toma partido, deixando com que o espectador avalie e
julgue.
(...) O mesmo jogo de paradoxos ocorre com o filho Abraão. Ele só aceita
mostrar a Coutinho o esconderijo da mãe depois de ter garantia de que poderá
enaltecer o governo no filme. Logo a seguir, ele desabafa: “Nenhum partido
lembrou da desgraça de minha mãe e de nossa família. Todo governo, para os
pobres, como nós, não presta”. Ao contrapor estes depoimentos, Coutinho está
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“Nessa época, a Liga de Sapé já era a maior do nordeste com mais de sete mil
sócios. A liga tinha sido registrada em cartório, três anos antes, como
sociedade civil de direito privado. Como a sindicalização rural era um direito
inexistente na prática, os trabalhadores do campo encontraram nas ligas o
único meio legal para canalizar as suas reivindicações.
“Fevereiro de 1981.
Dezessete anos depois, voltei a Galiléia para completar o filme do modo como
fosse possível. Não havia um roteiro prévio, apenas a ideia de tentar
reencontrar os camponeses que tinham trabalhado em “Cabra Marcado para
Morrer”. Queria retomar o nosso contato através de depoimentos sobre o
passado, incluindo os fatos ligados pela filmagem interrompida, a historia real
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Conclusão
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“Cabra Marcado para Morrer” realiza reflexões. Por um lado enquanto obra de
arte e comunicação realiza a reflexão do projeto anterior: da epopéia ao drama
documentado, dos arquétipos perfeitos a complexidade real, da intenção
pedagógica à percepção do outro como consciente de si. Por outro lado, uma
reflexão histórica: ouvimos a voz dos vencidos escutando o seu silêncio”.
(Marilena Chauí, “Do épico pedagógico ao documentário”, Folha de São Paulo,
9 de junho de 1984, Ilustrada, p.49)
Referências
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JORNAIS:
Augusto, Sergio. No cinema, uma saga camponesa. Folha de São Paulo. São
Paulo, 22 de abril de 1984. Ilustrada, p.56. Disponível em
<http://acervo.folha.com.br/resultados/?q=cabra+marcado+para+morrer+&site=
&periodo=acervo&x=3&y=13>. Acesso em: 6 de julho de 2013.
Bernardet, Jean Claude. Vitória sobre a lata de lixo da história. Folha de São
Paulo, de 24 de março de 1985. Folhetim, p.4. Disponível em
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Departamento de Comunicação Social
<http://acervo.folha.com.br/resultados/?q=cabra+marcado+para+morrer+&site=
&periodo=acervo&x=3&y=13>. Acesso em: 6 de julho de 2013
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