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O som de passos inesperados no silêncio misterioso da noite traz medo para muitos de
nós. Mas o som da música que gostamos e a voz de alguém que amamos desencadeiam
sentimentos de alegria. Para alguns de nós, sentimentos e emoções podem tornar-se muito
exagerados; medos, por exemplo, podem desencadear ataques paralisantes de ansiedade e pânico.
Nenhuma história sobre o nosso comportamento é completa sem a consideração dos muitos
eventos que envolvem sentimentos, mesmo em um único dia.
O estudo psicobiológico das emoções progrediu em várias direções. Uma área tradicional
analisa as respostas corporais durante estados emocionais, especialmente as mudanças na
expressão facial e nas respostas viscerais, tais como alterações no ritmo cardíaco. O estudo dos
mecanismos cerebrais relacionados a estados emocionais tem enfatizado especialmente o medo e
a agressão, porque ambos são importantes para a existência humana, e eles são facilmente
estudados em animais.
Outro tema de pesquisa relacionado à emoção é o estresse, tal como aquele que
acompanha alguns problemas de saúde. Estresse envolve e afeta não apenas os sistemas nervoso
e endócrino, mas também o sistema imunológico; assim, nós também discutiremos o sistema
imunológico neste capítulo. Nós iremos encontrar uma grande interação entre os sistemas
nervoso, endócrino e imunológico.
nós, as emoções são estados muito pessoais, difíceis de definir ou mesmo de identificar, exceto
nos casos mais óbvios. O gato está silvando porque está com medo, com raiva, ou simplesmente
está desfrutando de nossa reação assustada? Além disso, muitos aspectos de nossas emoções
parecem inconscientes. Por estas razões, as emoções foram negligenciadas como um campo de
estudo por muitos anos. Mas, ultimamente tem ocorrido um significativo renascimento deste
fascinante assunto.
(D)
Figura 15.1. Diferentes pontos de vista da cadeia de eventos nas respostas emocionais
(A) Psicologia popular sugere que as emoções induzem o organismo a reagir. (B) James e Lange sugerem que a
resposta corporal evoca a experiência emocional. (C) Cannon e Bard insistem que o cérebro deve interpretar a situação
para decidir qual é a emoção apropriada. (D) Schachter tentou reconciliar essas visões, sugerindo que a intensidade da
emoção pode ser afetada pelas respostas corporais e que o cérebro continuamente avalia a situação.
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autonômicas, já que estas últimas acontecem de forma relativamente lenta. Além disso,
alterações autonômicas que acompanham fortes emoções como raiva, medo ou surpresa parecem
ser muito semelhantes. Cannon enfatizou que essas reações corporais (aumento da frequência
cardíaca, mobilização de glicose e outros efeitos) são uma resposta de emergência de um
organismo a uma condição ameaçadora súbita, produzindo máxima ativação do sistema nervoso
simpático, preparando o organismo para lutar ou fugir. Assim, a função da emoção é para nos
ajudar a lidar com um ambiente em mudança.
Na visão de Cannon e Bard é função do cérebro decidir qual emoção particular seria uma
resposta apropriada ao estímulo. De acordo com este ponto de vista, o córtex cerebral decide,
simultaneamente, sobre a resposta emocional adequada e ativa o sistema nervoso simpático, para
que o corpo esteja pronto para a ação apropriada quando o cérebro decidir (Figura 15.1C). A
teoria Cannon-Bard incentivou muitos estudos sobre os efeitos de lesões cerebrais e estimulação
elétrica na emoção.
discutiremos mais adiante neste capítulo) que pode ser visível com ressonância magnética funcional
(fMRI), no caso de fraude. Daniel Langleben et al. (2002) utilizaram fMRI para mostrar que o córtex
cingulado anterior (outra região que discutiremos mais adiante neste capítulo) tornou-se mais ativo
quando os indivíduos estavam mentindo. Mesmo que imagens do cérebro sejam bem sucedidas na
detecção de fraude, tais detectores de mentira seriam mais caros e menos disponíveis do que os
polígrafos.
Figura 15.3 Expressões faciais universais de emoções. De acordo com Paul Ekman et al., as 7 expressões faciais
emocionais mostradas aqui são vistas em todas as culturas. Constrangimento foi mais recentemente proposto ser
uma oitava emoção básica (C. R. Harris, 2006).
Plutchik inclui afeto e expectativa em suas oito emoções básicas, Keltner e Ekman incluem, em
vez disso, desprezo e vergonha. As outras seis emoções __ raiva, tristeza, felicidade, medo, nojo e
surpresa __ são as mesmas em ambos os regimes.
Similaridade através das culturas também é observada na produção de expressões
específicas a determinadas emoções. Por exemplo, pessoas analfabetas de uma sociedade da
Nova Guiné mostram expressões faciais emocionais como os das pessoas nas sociedades
industrializadas. No entanto, esta hipótese de universalidade da expressão facial foi alvo de
críticas (Fridlund, 1994). As diferenças culturais podem surgir em regras de exibição específicas
da cultura, que estipulam contextos sociais para a expressão facial. Por exemplo, Russell (1994)
encontrou concordância significativa entre culturas no reconhecimento da maioria dos estados
emocionais de expressões faciais, mas grupos isolados iletrados não concordam com os
ocidentais sobre reconhecimento de surpresa e desgosto (figura 15.4).
Essas sutis diferenças culturais sugerem que as culturas estabelecem regras para a
expressão facial, e que elas controlam e fazem cumprir essas regras pelo condicionamento
cultural. Todos concordam que as culturas afetam a exibição facial da emoção; o restante é
controvérsia sobre a extensão da influência da cultura (figura 15.5).
De acordo com Fridlund (1994), um papel importante de expressão facial é
paralinguístico; ou seja, a face é acessório para comunicação verbal, proporcionando ênfase e
direção na conversa. Por exemplo, Gilbert et al. (1986) mostraram que os indivíduos exibem
algumas respostas faciais para odor quando estão, sozinhos, cheirando algo, mas demonstram
uma resposta significativamente mais intensa em um ambiente social. Da mesma forma,
jogadores raramente sorriem ao fazerem um strike, mas eles, muitas vezes, sorriem quando se
viram em direção aos rostos dos espectadores (Kraut e Johnton, 1979). Às vezes, nós
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comunicamos nossas emoções muito bem, como vimos no início do capítulo, como a tendência
de Christine ficar vermelha quando ela não queria.
Figura 15.4 Diferenças culturais no reconhecimento das expressões faciais de emoções. Dentro de grupos de leitores
ocidentais (à esquerda) há um amplo consenso sobre as emoções representadas por fotografias de expressões faciais
básicas. Mas pessoas de grupos isolados (à direita) são muito menos propensas a concordar com julgamentos ocidentais
de algumas expressões faciais, especialmente os de surpresa e desgosto. As barras horizontais petras indicam o percentual
de concordância que seria esperado apenas pelo acaso (Russell, 1994).
Figura 15.5. Um modelo para expressões faciais emocionais através das culturas
As expressões faciais são mediadas por músculos, nervos cranianos, e vias do SNC
Como as expressões faciais são produzidas? No rosto humano há uma rede elaborada de
músculos finamente inervados, cujos papéis funcionais, além de expressão facial, incluem falar,
comer e respirar, entre outros. Os músculos faciais podem ser divididos em duas categorias:
1. Músculos faciais superficiais ligados à pele da face (figura 15.6). Atuam como esfíncteres,
alterando, por exemplo, a forma da boca, olhos, nariz. Um desses músculos, o frontalis, franze a
testa e levanta a sobrancelha.
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2. Músculos faciais profundos ligados a estruturas ósseas da cabeça. Estes músculos permitem
movimentos como a mastigação. Um exemplo de um músculo profundo é o masseter, um
poderoso músculo da mandíbula.
Músculos faciais humanos são inervados por dois nervos cranianos: (1) o nervo facial
(VII), que inerva os músculos superficiais da expressão facial; e (2) o nervo trigêmeo (V), que
inerva os músculos que movem a mandíbula. Estudos do nervo facial revelam que os lados
direito e esquerdo são completamente independentes. Como a Figura 15.6 mostra, o tronco
principal do nervo facial se divide na porção superior e inferior, pouco depois de penetrar no
rosto. As fibras motoras do nervo facial têm sua origem no tronco encefálico, no núcleo motor do
nervo facial.
Defensores atuais da psicologia evolutiva apontam outros meios pelos quais as emoções
são adaptáveis e poderiam ter se desenvolvido através da seleção natural (Cosmides e Tooby,
2000). Eles sugerem que as emoções são programas motivacionais amplos que coordenam várias
respostas para resolver problemas adaptativos específicos, incluindo a manutenção de relações de
cooperação com os membros de um grupo, a escolha de um companheiro, evitar predadores,
encontrar fontes de alimento, e assim por diante.
Figura 15.9 Expressão facial de emoções em primatas não-humanos. (A) Uma fêmea de chimpanzé adulta grita
com outra fêmea, que está puxando a sua comida. Grito é usado em submissão e protesto. (B) Um chimpanzé jovem
mostra uma “play face” enquanto é agradado. Ele também faz um som gutural de riso. (C) A macaco tibetano mostra
os dentes, sorrindo para sinalizar a submissão a um animal dominante. Em outros primatas, incluindo humanos,
mostrar os dentes tem ganhado um significado diferente, mais amigável.
Por exemplo, uma situação ancestralmente comum, mas ainda recorrente é a de estar
sozinho à noite e perceber que você está sendo perseguido por um predador (humano ou não-
humano). Tal como acontece com a maioria dos outros tipos de comportamento, os indivíduos
diferem em suas respostas a esta situação de risco de vida. Alguns fazem escolhas erradas e,
portanto, são menos propensos a sobreviver e se reproduzir. Outros fazem escolhas mais eficazes
e, à medida que este comportamento é hereditário, seus descendentes também são mais
propensos a sobreviver em situações semelhantes. Assim, através da seleção natural, um
programa eficaz para lidar com esta situação evolui. A emoção do medo suscita mudanças de
percepção, atenção, cognição e ação que se concentram em evitar o perigo e buscar segurança,
bem como, se preparar fisiologicamente para a luta ou fuga. Outras atividades, como a busca de
alimento, sono, ou companheiros, são suprimidos. De uma perspectiva evolutiva, em face de uma
ameaça iminente para a vida, é melhor ter medo, invocando esta forma de agir, desenvolvida e
testada ao longo dos tempos, do que improvisar algo. Da mesma forma, sentimentos de nojo aos
fluidos corporais podem nos ajudar a evitar a exposição a germes (Curtis et al., 2004), por isso
pode ser sábio reconhecer sentimentos de repulsa nos outros.
mostram evidências de alegria; eles começam a sorrir e parecem apresentar excitação e/ou
felicidade em resposta a rostos familiares. Tristeza também surge neste momento, especialmente
causada pela retirada de eventos positivos. Nojo também aparece, na forma primitiva de cuspir
objetos desagradáveis colocados na boca. Tem sido relatado que a raiva aparece entre os 4 e 6
meses, quando os bebês estão frustrados ou restringidos. Surpresa aparece pela primeira vez por
volta dos 6 meses, em resposta à violação de uma expectativa ou uma descoberta. O sentimento
de medo surge primeiramente aos 7 ou 8 meses. Assim, as chamadas emoções primárias ou
básicas estão todas presentes aos 8 ou 9 meses após o nascimento.
Entre 18 e 24 meses, o surgimento da autoconsciência ou auto-conhecimento permite que
um grupo adicional de emoções se desenvolva, incluindo, vergonha, empatia, e inveja. Outro
marco ocorre em algum momento entre 2 e 3 anos de idade, quando as crianças se tornam
capazes de avaliar o seu comportamento contra um padrão. Esta capacidade permite o
surgimento de "emoções avaliativas auto-conscientes" (orgulho, culpa, arrependimento,
vergonha), que Darwin (1872) caracterizou como única para nossa espécie. Mark Twain (1897)
concordou, dizendo: "O homem é o único animal que ruboriza ... Ou que precisa."
O rubor é causado pela ativação de fibras simpáticas que inervam a pele. Lembre-se de
Christine no início do capítulo? Ela optou por fazer a cirurgia para cortar dois nervos que saem
da cadeia simpática de cada lado de sua face, perdendo o controle simpático de todo o rosto,
exceto das pupilas. Christine não ruboriza mais. Ela não se arrepende e está trabalhando rumo ao
seu sonho. Um aspecto interessante do rubor é que ele pode ser de auto-reforço: a
conscientização sobre o problema de Christine a fez corar mais frequentemente. Pela mesma
razão, às vezes é possível enganar as pessoas para corar. Basta olhar para alguém de perto e
dizer: "Ei, você está ficando vermelho"!
indivíduos altamente reativos podem ter uma aversão ao longo da vida a novas amizades, o que
certamente afeta muitos aspectos da vida.
Figura 15.11. Regiões mediais do cérebro envolvidas nas emoções. Regiões cerebrais incluídas no circuito de Papez
estão interligadas com setas e são mostradas com estruturas incluídas no conceito de sistema límbico, posteriormente
proposto por MacLean.
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evidências de que os neurônios aqui codificam a associação de que certos estímulos podem ser
acompanhados do choque (Maren e Quirk, 2004). A amígdala lateral, em seguida, ativa outras
duas pequenas sub-regiões da amígdala (as porções basolateral e basomedial) que, por sua vez,
estimulam o núcleo central. A seguir, o núcleo central transmite a informação para os vários
centros do tronco cerebral para evocar três aspectos diferentes de respostas emocionais (ver
figura 15.12B): vias através da substância cinzenta periaquedutal evocam comportamentos
emocionais, outras, através do hipotálamo lateral, evocam respostas autonômicas e aquelas, por
meio do núcleo da estria terminal, evocam respostas hormonais.
Figura 15.12 A circuitaria do medo (A) Um procedimento de condicionamento clássico para estudar o medo; um som é
associado com um choque elétrico ameno, que causa aumento da pressão arterial e comportamento de congelamento;
eventualmente, o som isolado elicia essas respostas. (B) Circuitaria proposta para a mediação das respostas de medo
condicionado. Um estímulo indutor de medo alcança o tálamo e é enviado ao córtex e hipocampo. Todas essas 3 regiões
projetam para o núcleo lateral da amígdala. A informação alcança finalmente o núcleo central da amígdala, o qual projeta para
3 diferentes núcleos cerebrais, cada um envolvido com um componente diferente da resposta ao medo (LeDoux, 1994).
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Medos aprendidos são notoriamente lentos para se extinguir; por exemplo, o som deve
ser apresentado sem o choque por muitas vezes antes de os animais deixarem de apresentar a
resposta de congelamento. Ratos sem um dos dois tipos de receptores canabinóides têm um
tempo ainda mais longo para deixar de apresentar sua reação de medo a um som (Marsicano et
al., 2002), sugerindo que a estimulação desses receptores normalmente extingue medos
aprendidos. Desta forma, pode ser possível desenvolver drogas canabinóides para o tratamento
de fobias em humanos.
Esses resultados com animais vão ao encontro das observações de que os seres humanos
que sofrem de convulsões do lobo temporal, incluindo a amígdala, comumente relatam medo
intenso como prelúdio ou aviso sobre a perspectiva imediata de uma convulsão (Engel, 1992).
Do mesmo modo, a estimulação de vários locais dentro do lobo temporal de seres humanos __ um
procedimento realizado para identificar os locais que provocam as crises __ desencadeia medo em
alguns pacientes (Bancaud et al., 1994). Além disso, quando é mostrada a seres humanos uma
sugestão visual anteriormente associada com o choque, ocorre um aumento do fluxo sanguíneo
para a amígdala (LaBar et al., 1998).
Os pacientes com amígdalas lesionadas usam mal a expressão facial como um indicador
de confiabilidade, o que ilustra o papel desta estrutura no reconhecimento de medo em
expressões faciais humanas (Adolphs et al., 1994, 1998; A.W. Young et al., 1996). Quando são
apresentadas fotografias de expressões faciais que representam as seis emoções básicas __
felicidade, surpresa, medo, nojo, tristeza e raiva __ esses pacientes são bastante prejudicados no
reconhecimento de medo, embora possam selecionar faces de pessoas que eles conhecem e
aprender as identidades das novas faces. Um exemplo contrastante: um médico que sofreu um
AVC que danificou seu córtex occipital e estava funcionalmente cego, quando fotografias de
expressões faciais emocionais foram apresentadas diante de seus olhos, ele conseguiu, com
precisão, "adivinhar" qual a emoção foi apresentada, e imagem de ressonância magnética
funcional (fMRI) revelou que sua amígdala direita estava ativada durante esta tarefa (Pegna et
al., 2005).
Um progresso considerável tem sido feito na identificação dos circuitos neurais de outras
emoções, além de medo. Grande parte destes trabalhos utilizou técnicas bem estabelecidas, tais
como a indução de lesões cerebrais bem localizadas, transecção de tractos, estimulação elétrica, e
registros elétricos. Alguns pesquisadores têm visualizado circuitos emocionais observando os
locais onde genes são imediatamente expressos quando uma emoção é evocada (Kollack-Walker
et al., 1999; Neophytou et al., 2000). Está bem estabelecido que não há correspondência de um-
para-um entre uma emoção e uma região do cérebro; isto é, cada emoção envolve a atividade de
mais de uma região cerebral e algumas regiões cerebrais estão envolvidas em mais de uma
emoção.
Resultados de injeções unilaterais de amital sódico em uma única artéria carótida (o teste
de Wada) oferecem dados adicionais sobre as diferenças hemisféricas da emoção. Este
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espontânea ou durante uma pose, para as emoções agradáveis e desagradáveis, para ambos os
sexos e todas as idades.
Figura 15.13 Emoções e assimetria facial. Faces compostas revelam diferenças entre o lado direito e esquerdo no
nível de intensidade da expressão emocional. Fotografias construídas somente com o lado esquerdo da face (A) são
julgadas mais emotivas quando comparadas com a original (B) ou aquelas compostas somente com lados direitos da
face (C).
Figura 15.14 Regiões cerebrais envolvidas com as emoções. A porção órbitofrontal do córtex pré-
frontal(amarelo), o córtex cingulado anterior(azul), o córtex cingulado posterior(verde), a ínsula (púrpura) e a
amígdala(vermelho) estão todos envolvidos na experiência das emoções. Tais regiões são aqui apresentadas
em secções (A) sagital média; (B) coronal anterior e (C) coronal posterior. (Dolan, 2002).
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Figura 15.15 Regiões cerebrais envolvidas em 4 emoções. Vermelho e amarelo indicam áreas de atividade
aumentada; púrpura indica áreas de atividade reduzida. Para os sítios identificados, a seta para cima indica atividade
aumentada e seta para baixo indica atividade reduzida. (Cortesia de Antonio Damasio).
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em jogo, quão grande é a recompensa oferecida, etc., para realmente avaliar como tomamos
decisões econômicas. Os psicólogos e economistas aprenderam que a maioria de nós é muito
avessa ao risco: somos mais sensíveis à perda de uma certa quantia de dinheiro do que ganhar
essa quantia. Em outras palavras, perder 10 dólares nos faz sentir muito pior do que ganhar 10
dólares nos faz sentir melhor. A neuroeconomia é o estudo dos mecanismos cerebrais envolvidos
durante a tomada de decisões econômicas, e nossa resposta emocional a ganhos e perdas tem
uma enorme influência sobre essas decisões. Assim, não é nenhuma surpresa que as mesmas
regiões cerebrais implicadas nas emoções estão ativas durante estas decisões.
Por exemplo, macacos jogando esses tipos de jogos econômicos (sim, macacos vão jogar
para ganharem suco de maçã, coisa que eles realmente, realmente gostam), neurônios no córtex
cingulado posterior (ver figura 15.14) tornam-se mais ativos quando escolhas de risco estão
sendo feitas (McCoy e Platt, 2005). Em humanos, o córtex cingulado anterior tornou-se mais
ativo quando as recompensas foram diminuídas, sinalizando que os sujeitos deveriam mudar a
forma como eles jogavam um jogo (Z. M. Williams et al., 2004). Quando esta região do cérebro
foi lesionada (cingulotomia como uma última tentativa para controlar o transtorno obsessivo-
compulsivo), os indivíduos cometeram mais erros, tendo dificuldades para a mudança de
estratégias, como se eles não experimentassem totalmente o desapontamento de uma recompensa
reduzida.
Esses estudos também indicam que o córtex pré-frontal (que inclui o córtex cingulado
anterior) inibe decisões impulsivas, reforçando a nossa aversão à perda (Tom et al., 2007).
Quando as pessoas se deparam com mais e mais incertezas, o córtex pré-frontal torna-se mais e
mais ativo (Hsu et al., 2005; Huettel et al., 2006). Da mesma forma, quando as pessoas têm
tomado decisões custosas erradas que as tornam arrependidas, aumenta a atividade na amígdala
(que pode refletir o medo sobre os resultados futuros) e no córtex pré-frontal (Coricelli et al.,
2005), o que pode refletir que o indivíduo está se tornando cada vez mais avesso à possibilidade
de perda.
O que é agressão?
A agressão é um termo demasiado familiar e tem muitos significados diferentes. No uso
comum, refere-se a um estado emocional que muitos seres humanos descrevem como
sentimentos de ódio e um desejo de infligir danos. Essa perspectiva enfatiza a agressão como um
sentimento interior poderoso. No entanto, quando vemos a agressão como uma resposta
ostensiva __ comportamento manifesto que envolve a destruição efetiva ou prevista, de outro
organismo __ vemos várias formas diferentes.
Alguns pesquisadores visualizam o comportamento de ataque de um animal dirigido à
presa natural como agressão predatória. Psicólogos comparativos, no entanto, argumentam que
este comportamento é mais apropriadamente designado como comportamento alimentar
(Glickman, 1977). Agressão entre machos da mesma espécie é observada em muitos vertebrados.
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A relevância pode ser refletida no fato de que, nos Estados Unidos, os homens têm probabilidade
cinco vezes maior do que as mulheres de serem presos sob a acusação de assassinato. Além
disso, o comportamento agressivo entre rapazes, em contraste com o comportamento entre
garotas, é evidente inicialmente, na forma de vigorosa e destrutiva brincadeira comportamental.
A diferença entre os sexos na agressão indica que os hormônios sexuais desempenham um papel
(R. J. Nelson, 1995).
frontal do psicopata é menor do que no grupo controle (Raine et al., 2000) __ outro achado que é
consistente com esta hipótese.
Sem dúvida, a violência humana e a agressão
humana têm muitas fontes. Estudos biológicos de
agressão foram vigorosamente criticados por políticos e
cientistas sociais. Estes críticos argumentam que, como
um resultado de enfatizar fatores biológicos, tais como a
genética ou mecanismos cerebrais, as origens mais
evidentes de violência e agressão humanas podem ter
sido esquecidas, e formas odiosas de controles
biológicos de disfunção social podem ser instituídas.
Entretanto, a qualidade de vida de algumas pessoas
violentas pode ser significativamente melhorada se os
problemas biológicos puderem ser identificados e
tratados. Por exemplo, tratamentos que aumentam a
atividade de serotonina no cérebro pode ser um
complemento importante para uma intervenção sócio-
ambiental ou psicoterapêutica (Coccaro e Siever, 1995;
Hollander, 1999).
Figura 15.18 Impulsividade psicopática. O serial killer Theodore
Bundy apresentava muitas características de um psicopata. Ele era
charmoso, superficial e impulsivo por natureza, como pode ser
observado na foto tirada durante seu julgamento. Assim como
outros psicopatas, Bundy sentia pouco ou nenhum remorso de seus
atos cometidos.
aprendizagem) e enfatiza que o estresse, por si só, não leva inevitavelmente à disfunção ou
doença. O modelo contribui, assim, para explicar a variabilidade no histórico de saúde de
indivíduos expostos a experiências de vida estressantes similares.
Ursin et al. (1978) estudaram um grupo de jovens recrutas do exército norueguês, tanto
antes como durante a fase inicial de formação de paraquedistas. No período de treinamento, os
indivíduos foram arremessados estando presos por um longo fio inclinado, suspenso de uma torre
de 12 m de altura. Apesar dos recrutas saberem que eles não estariam propensos a perderem suas
vidas neste treinamento, a apreensão inicial é alta, e, no começo, a sensação de perigo é enorme,
Em cada dia de salto neste estudo, amostras de sangue revelaram a ativação de hormônios
trópicos da hipófise anterior e de ambos os sistemas simpático e parassimpático (Figura 15.19).
Figura 15.19 Ativação autonômica durante uma situação de estresse. (A) Estudos com soldados em treinamento
para serem paraquedistas revelaram que um conjunto de alterações autonômicas e endócrinas acompanha essa
experiência estressante. (B) Note as mudanças hormonais durante o treinamento, especialmente durante o primeiro
dia de salto (Ursin et al., 1978).
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Figura 15.20 Alterações hormonais em humanos em resposta a estresses sociais. (A) Pequenas mudanças
na lotação de um trem alteram os níveis hormonais dos passageiros. Um aumento de 10% no número de
passageiros, durante um período de racionamento gasolina (direita da figura A) resultou em um aumento
muito maior na secreção de epinefrina, (B) Os níveis de epinefrina e norepinefrina em um estudante durante
um período de 2 semanas, antes, durante, e depois da defesa da tese refletem o nível de estresse
(Frankenhaeuser, 1978).
Robert Sapolsky (2001) estudou babuínos vivendo em liberdade em uma reserva natural
no Quênia. À primeira vista, esses animais parecem ter uma boa vida: comida é abundante, os
predadores são raros. Os estresses que os babuínos experimentam são os impactos que eles
exercem uns sobre os outros. Para os machos, esse estresse é a forte concorrência que envolve a
corte com a parceira e o estabelecimento de hierarquias de dominância. Um lugar do animal na
hierarquia de dominância influencia a fisiologia da resposta ao estresse, como visto na resposta
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do animal à anestesia produzida por uma seringa de pistola de dardos. Em geral, os níveis de
testosterona dos machos dominantes recuperam mais rapidamente após um evento estressante do
que aqueles dos machos subordinados. Da mesma forma, os subordinados exibem um aumento
mais prolongado dos níveis de cortisol circulantes.
Por que as pessoas diferem em sua resposta ao estresse? Uma hipótese focou na
experiência inicial. Filhotes de ratos encontram-se claramente em estresse ao serem manipulados
e tratados pelo experimentador humano. No entanto, Levine et al. (1967) descobriram que os
ratos que tinham sido manuseados brevemente, enquanto filhotes, eram menos suscetíveis ao
estresse quando adultos, em comparação com aqueles que tinham sido deixados sozinhos
enquanto filhotes. Por exemplo, os ratos previamente tratados secretam menos corticosteróides,
em resposta a uma grande variedade de fatores estressantes para um animal adulto. Este efeito foi
denominado imunização do estresse, porque um pouco de estresse no início da vida parecia
tornar os animais, posteriormente, mais resistentes ao estresse.
Um estudo de acompanhamento sugere que há algo a mais nessa história. Quando os
filhotes são devolvidos à sua mãe depois de uma separação, ela passa um tempo considerável
lambendo e limpando-os. Na verdade, ela vai lamber os filhotes muito mais se eles foram
manipulados por seres humanos durante a separação. Michael Meaney e seus colegas sugerem
que esta estimulação tátil suave da mãe é fundamental para o efeito de imunização do estresse.
Eles descobriram que, mesmo entre ninhadas não perturbadas, a prole de ratas que apresentaram
um comportamento maior de lamber e limpar foi mais resistente em sua resposta ao estresse
adulto do que as demais (D. Liu et al., 1997). Privação materna prolongada tem um efeito
negativo sobre os filhotes de rato (apesar da estimulação tátil da mãe no retorno) na idade adulta,
os ratos mostram uma maior resposta ao estresse a novos estímulos, dificuldade de aprendizagem
em labirintos, e redução da neurogênese no hipocampo (Mirescu et al., 2004).
expostas ao vírus (S. Cohen et al., 2006). Da mesma forma, pessoas que tendem a sentir emoções
positivas também irão produzir mais anticorpos em resposta a uma vacina contra a gripe
(Rosenkranz et al., 2006), o que deve ajudá-los a lutar contra a doença. Estas interações
caminham nos dois sentidos: o cérebro influencia as respostas do sistema imunitário e células do
sistema imunológico e os seus produtos afetam as atividades cerebrais.
O SISTEMA IMUNE. Para entender essa história intrigante, é preciso observar algumas das
principais características do sistema imunológico. Existem no sangue diferentes classes de
células brancas do sangue (leucócitos). Os fagócitos (células "comedoras", tais como macrófagos
e neutrófilos) são especializados para engolfar e destruir os germes invasores. Porém, os
fagócitos dependem de outras células brancas do sangue (linfócitos) para informar-lhes o que
atacar. Linfócitos B (ou células B, porque se formam na medula óssea, bone marrow, em inglês),
produzem proteínas denominadas anticorpos (ou imunoglobulinas). Anticorpos atacam
moléculas estranhas, tais como vírus ou bactérias e convocam fagócitos e proteínas circulantes
para destruir os invasores. Linfócitos T (células T), assim chamados porque eles se formam na
glândula timo, podem atuar como células assassinas, formando uma parte importante de ataque
do organismo contra substâncias estranhas. Além disso, os linfócitos T especiais chamados
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Figura 15.22 Principais componentes do sistema imune humano. (A) Os vários componentes do sistema imune
nos protegem por meio de três classes de células brancas do sangue: linfócitos B (B) produzem anticorpos para
atacar micróbios invasores; linfócitos T (C) liberam citocinas para regular as células B para se dividirem ou
morrerem. Células T também formam células killers que, juntamente com os neurtrófilos e macrófagos (D),
atacam diretamente tecidos ou micróbios invasores.
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Figura 15.23 Exemplos de relações recíprocas entre os sistemas nervoso, endócrino e imune.
contraste, os padrões de comportamento tipo B são mais relaxados, com pouca evidência de
movimentação agressiva ou ênfase em fazer as coisas rapidamente. É claro que esta é uma
dicotomia bruta; muitas pessoas têm um pouco de cada padrão em seu estilo de vida
característico (Steptoe, 1993).
Uma forte associação entre a hostilidade e doença cardíaca foi observada (Almada et al.,
1991). Expressão excessiva de hostilidade também pode estar relacionada ao isolamento social,
que tem sido apontado como um fator de risco para doenças do coração em vários estudos. Por
exemplo, os homens que são socialmente isolados e sofreram estresses significativos
recentemente, tais como a separação da família, têm uma taxa de mortalidade muito mais alta do
que os controles integrados socialmente (Ruberman et al., 1984). Em indivíduos normais, jovens,
a presença de um amigo durante uma tarefa exigente diminui a magnitude de respostas
cardiovasculares para este tipo de estresse. Então, talvez, uma das melhores maneiras de lidar
com o estresse é construir fortes amizades e uma família feliz.
Resumo
1 O termo emoção inclui sentimentos subjetivos privados, assim como expressões ou
manifestações especialmente somáticas e respostas autonômicas. Os quatro aspectos principais
das emoções são sentimentos, ações, excitação fisiológica e programas motivacionais.
Psicólogos têm gerado diferentes sistemas de categorização para dar conta das variedades de
emoções.
2 Enquanto a teoria das emoções de James-Lange as consideram como o resultado das
percepções de mudanças corporais induzidas pelo estímulo, a teoria Cannon-Bard enfatiza a
integração das experiências emocionais e respostas no cérebro. A teoria cognitiva das emoções
argumenta que a atividade em um sistema fisiológico não é suficiente para provocar uma
emoção; em vez disso, o elemento-chave na emoção é a interpretação de atividades viscerais.
3. Expressões faciais distintas representam raiva, desprezo, alegria, tristeza, nojo, medo, surpresa
e constrangimento, e essas expressões são interpretadas de forma semelhante em muitas culturas.
As expressões faciais são controladas por diferentes conjuntos de músculos faciais que, por sua
vez, são controlados pelos nervos faciais e trigeminais.
4. Emoções podem ter evoluído como programas motivacionais coordenados que são úteis na
resolução de problemas adaptativos específicos.
5 A estimulação elétrica de algumas regiões do cérebro é gratificante.
6. Lesões cerebrais têm revelado que determinados circuitos cerebrais e regiões interconectadas
medeiam e controlam as emoções. Regiões relevantes incluem regiões límbicas do sistema
descritos no circuito neural de Papez e outras regiões relacionadas, incluindo a amígdala.
7. O medo é mediado por um circuito que envolve a amígdala, que está diretamente ligado às
regiões sensoriais do córtex.
8 Os hemisférios esquerdo e direito processam as emoções diferentemente. Em pessoas normais,
o hemisfério direito é melhor na interpretação de estados ou estímulos emocionais.
9 O comportamento agressivo é aumentado pelos andrógenos. Regiões cerebrais do sistema
límbico e sítios relacionados diferem em sua relação com o comportamento agressivo: a
estimulação de algumas regiões provoca um padrão completo, espécie-específico de agressão. Os
níveis de serotonina são negativamente correlacionados com a agressão.
10 Avaliação de estresse em situações da vida real mostra que o estresse eleva os níveis de vários
hormônios (incluindo cortisol, epinefrina e norepinefrina) e suprime outros hormônios (como a
testosterona).
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Esse texto é uma tradução do capítulo 15: Emoções, agressão e estresse do livro Biological
Psychology: an introduction to behavioral, cognitive, and clinical neuroscience. S. Marc
Breedlove, Mark R. Rosenzweig, and Neil V. Watson. Fifth edition, Sinauer, pp. 458-479, 2005.