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ARGENTINA E BRASIL
Resumo: Há uma grande heterogeneidade fiscal entre os países latino-americanos: alguns países arrecadam
cerca de 30% do PIB, outros apenas cerca de 15%. Este trabalho tem como objetivo entender as diferentes cargas
tributárias dos países latino-americanos, principalmente daqueles que mais arrecadam: Argentina e Brasil. Este
trabalho busca testar a hipótese de que variadas formas de crises fiscais podem estar historicamente associadas
ao crescimento da arrecadação. Com base em séries históricas das finanças públicas dos dois países,
identificaram-se duas formas de crise associadas ao fortalecimento fiscal: crises no comércio internacional e
esforço de industrialização.
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Palavras-chave: Crises Fiscais. Formação do Estado. Argentina. Brasil.
Abstract: There is great fiscal heterogeneity among Latin American countries: some governments have revenues
of about 30% of GDP, others only about 15%. This paper aims to understand the different tax burdens of Latin
American countries, especially those with highest public revenues: Argentina and Brazil. We test the hypothesis
that various forms of fiscal crises may be historically associated with the growth of tax revenue. Based on
historical series of public finances from both countries, two forms of crisis associated with fiscal strengthening
were identified: crises in international trade and industrialization efforts.
Keywords: Fiscal crises. State formation. Argentina. Brazil.
Resumen: Existe una gran heterogeneidad fiscal entre los países latinoamericanos: algunos países recaudan
alrededor del 30% del PIB, otros solo alrededor del 15%. El objetivo de este trabajo es comprender las diferentes
cargas impositivas de los países latinoamericanos, especialmente los que recaudan más: Argentina y Brasil. Este
artículo busca probar la hipótesis de que varias formas de crisis fiscales pueden estar históricamente asociadas
con el crecimiento de la recaudación. Con base en series históricas de finanzas públicas de ambos países, se
identificaron dos formas de crisis asociadas con el fortalecimiento fiscal: crisis en el comercio internacional y
esfuerzos de industrialización.
Palabras-clave: Crisis fiscales. Formación del Estado. Argentina. Brasil.
1
Graduando em Ciências Econômicas, UNILA. Bolsista do CNPq. E-mail: benjacuevas100@gmail.com.
2
Doutor em Sociologia. Professor da UNILA. E-mail: rodrigo.souza@unila.edu.br.
3
De acordo com dados da CEPAL para 2017.
Hipótese
Como investigar as origens dos diferentes níveis de arrecadação? As distintas
dinâmicas do Estado fiscal latino-americano tem sido objeto de análises de diversos campos
disciplinares. Uma abordagem que tem se destacado nas últimas décadas vem da literatura
sobre formação do Estado. Charles Tilly (1975, 1992), em seus estudos sobre a formação do
Estado na Europa. Tilly elabora uma das principais formulações das Ciências Sociais sobre o
papel central da guerra no crescimento e consolidação do Estado. O Estado faz guerra e a
guerra faz o Estado, no resumo do autor. Inspirado no trabalho de Roberts ([1956]1995), Tilly
defende que os crescentes custos das operações militares forçaram um crescimento fiscal e
organizacional do Estado, com consequências sócio-políticas importantes, tais como a 97
concessão de direitos às populações tributadas. Miguel Ángel Centeno (2014) explora as
questões da guerra, da economia e da contestação política na formação dos Estados latino-
americanos durante o século XIX. Segundo Centeno, o baixo poder fiscal da maior parte dos
países latino-americanos é resultado da ausência de guerras de larga escala na região, o que
eximiu os Estados de buscar aumentar seus aparatos militares, burocráticos e impositivos. A
face complementar desse quadro é uma inércia de fraca monopolização da coerção
internamente, de debilidade das políticas públicas e de fraqueza do Estado de modo geral.
Cantu (2016) expande a intuição desses autores para examinar a trajetória fiscal do
Brasil, em particular, no século XX. Embora válidas para esclarecer a força e fraqueza dos
Estados por conta da guerra até o século XIX, Tilly e Centeno não explicam consistentemente
porque alguns Estados latino-americanos se fortaleceram fiscalmente ao longo do século XX,
apesar da ausência de grandes guerras internacionais envolvendo esses países. Para abordar
essa anomalia, Cantu generaliza a hipótese de Tilly. A guerra produz fortalecimento estatal,
pois os elevados custos da operação militar provocam uma crise fiscal, que precisa ser
resolvida. A solução, no caso Europeu, passou pelo contínuo fortalecimento fiscal do Estado.
Entretanto, a guerra não é o único fenômeno gerador de crises fiscais. Cantu (2016) conclui
Materiais e metodologia
Para o presente estudo, foram selecionados dois países cujas análises serão tomadas
comparativamente a fim de testar a hipótese de que as crises supracitadas seriam base para
mudanças fiscais. Trata-se dos casos argentino e brasileiro, os quais, ilustram casos de alta
arrecadação numa região historicamente conhecida pela baixa carga fiscal. O clássico texto de
Kaldor (1962) chama atenção para a longa experiência de baixa arrecadação de países
subdesenvolvidos e da América Latina, em particular. Essa característica é ainda hoje 98
identificada por estudos mais recentes (CEPAL, 2016, p.44-46; OCDE, 2018, p.17). Tal perfil
de baixa arrecadação fiscal seria esperado, se estiver correta a hipótese de Tilly sobre a
origem militar de estados fortes. Mas como explicar casos de países com carga fiscal
relativamente alta, como Argentina e Brasil, na ausência de experiências militares intensas ao
longo de sua história? Investigamos esses casos não explicados pela teorização prévia,
examinando outros tipos de crises que podem estar associadas ao fortalecimento fiscal.
A estratégia para examinar empiricamente a hipótese se baseia na construção e análise
de duas séries: uma que permite abordar o tema das crises fiscais e outra que capta a noção de
crescimento fiscal e construção fiscal do Estado. A fim de examinar as crises fiscais, foram
elaboradas, para cada país, séries com base em dados da receita (R) e da despesa pública (D).
A diferença entre o montante da despesa e da receita constitui o resultado fiscal. A maior
parte dos resultados fiscais para as séries elaboradas é negativo, configurando déficit fiscal.
Para compreender a relevância desse déficit para cada contexto, foi acrescentado como
denominador o montante da receita fiscal, obtendo-se a seguinte razão:
Resultados
A séries elaboradas podem ser observadas nos Gráficos 1 e 2. As séries em preto, com
escala à esquerda, mostram o déficit de cada país. As séries em vermelho, com escala à
direita, mostram a carga fiscal. As áreas destacadas nos gráficos se referem a contextos a
serem examinados na seção de discussão.
Discussão
Os resultados obtidos mostram as conjunturas favoráveis à hipótese inicial. Tratar-se-á
especificamente das crises no comércio internacional e seus efeitos na Argentina e no Brasil,
países bastante dependentes dos impostos aduaneiros; bem como da pressão fiscal pelo
esforço de industrialização nesses países antes primarizados.
O gráfico 1 destaca o período desde 1914 até 1945 tanto na Argentina quanto no
Brasil, a fim de evidenciar o período dos choques adversos do comércio exterior do século
XX (Primeira Guerra Mundial, Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial). A reação de
ambos países a tais conjunturas externas evidencia não só a dependência aduaneira, mas
também reações que provocaram o crescimento fiscal do Estado nesses países.
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