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Havia duas irmãs gêmeas, que estavam sob minha tutela.

Uma era naturalmente mais melancólica que a


outra. Uma enxergava os "bons", a outra os "maus", o que se refletia diretamente sob seu olhar
cabisbaixo e melancólico que denotava um vazio e desespero muito grande.

Elas tinham a capacidade de ver nos mundos supradimensionais, nos meandros das dimensões mais
obscuras além da visão humana. Tentavam demonstrar o que viam pintando quadros, e através das
artes. Viam naves gigantescas, de variados formatos. Em forma de discos, pirâmides e forma cilíndrica ou
de 'charuto". A "melancólica" dizia que a forma de charuto não era coisa boa, pois dentro dela estavam
as formas de vida mais obscuras e perversas, e que a humanidade deveria, a seu próprio bem, manter-se
longe delas.

Pois bem, eu me via então num grande terraço de com âmbar de fim de tarde entremeado de nuvens.
Eu queria ver o que as gêmeas viam, anseava por isso, entrar em contato com o grandioso e magnífico,
por mais amedrontador que fosse.

Após consecutivas tentativas entre um dia e outro, finalmente me via agora então neste imenso terraço
âmbar, olhando o céu, buscando aos "deuses". E num determinado instante meu peito bateu forte, via
ao longe uma pequena forma discóide que volta e meia, entre uma nuvem e outra, aparecia a meus
olhos, que contemplavam com a sensação de que aquilo era único, magnífico, e grandioso; então veio
um anseio e curiosidade de contato, uma vontade de "tocar", de saber o que era. Uma vontade infantil
de descoberta, assim como uma criança que vê pela primeira vez um objeto e constata a sua existência,
e portanto quer tocá-lo e pegá-lo. Mas em seguida eu não poderia me arrepender mais! O formato
discóide, há pouquíssimos segundos atrás longe de mim, encontrava-se agora pairando quase que em
cima da minha cabeça, a uma curta distância amedrontadora! Pois parece que eu havia sido percebido!
Eu queria perceber e olhá-lo e contemplá-lo, mas não estava nos meus planos ser percebido e visto, e
então caí num desespero e medo inumano profundo, uma sensação de vazio existencial, a sensação do
nada, do não existir próximo. Uma angústia absurda!! Aquele objeto gigantesco, de proporções absurdas
estava sobre minha cabeça e parecia ter me visto! O que seria de mim?! O mais impressionante foi a
rapidez e maneira como aquilo se moveu, de uma forma tão anormal e absurdamente não geométrica;
coisa que nenhuma aeronave humana seria capaz de fazer, e outra: Pude constatar que apesar das
enormes dimensões, aquilo não fazia som algum! Nenhum ruído! Era simplesmente um gigantesco
objeto rodando e se movimentando rapidamente, mas sem fazer barulho. Este fato me causou enorme
angústia, pois aquilo ia totalmente de encontro a qualquer instinto humano ou animalêsco de
sobrevivência. Como fugir de algo que é rapido e não faz som algum?!

Uma sensação bizarra e de me afastar tomou conta de mim, eu precisava correr e sair dali ou estaria
tudo acabado!! A nave discóide pairou sobre minha cabeça, e em seguida pousou ao meu lado na frente
e começou a girar e girar tão rápido, e meu instinto mais primitivo de sobrevivência me disse que era pra
sair dali imediatamente, pois um raio mortal seria desferido daquela coisa e me pulverizaria, me
reduziria a nada. Foi então que, na impossibilidade de me mover e de sair da vista de algo tão grande e
gigantesco, fiz a única coisa que restava, e por mais absurdo que possa parecer, comecei a fazer um
esforço mental tão grande que jamais havia feito, um esforço para que minha mente me tirasse dali!
O disco girava cada vez mais rápido e eu já via a centelha de raios que me fritariam em pouquíssimo
tempo. Comecei a fazer o esforço mental pra acordar, desses que fazemos quando estamos tendo um
pesadelo ruim e queremos acordar em nossa cama. E incrivelmente, deu certo! Me vi deitado suando
frio na cama e no meu quarto escuro a milésimos de segundos de ter sido fritado por aquele objeto
enorme, a ponto de ao abrir os olhos eu ainda estar vendo centelhas azuladas de raios bem na minha
frente com as pálpebras semi-abertas, como se uma pare de mim ainda estivesse lá naquele mundo e
perto da nave. Metade lá e metade no meu quarto!

Não se enganem! Aquilo não era simplesmente um pesadelo,era REAL! Acordei com alguns pontos da
pele ardendo, mas nada muito grave, uma sensação de ardência como se tivesse passado muito tempo
no sol escaldante de uma praia! De alguma maneira milagrosa, eu havia escapado daquela
"supradimensão" estranha, que não era sonho nem pesadelo, era um lugar real cheio de animais e
criaturas terríveis, e no qual embora parecesse que eu estivesse apenas dormindo e tendo um pesadelo,
eu sabia que havia estado fisicamente e materialmente naquele lugar bizarro!

Em seguida, eu estava deitado na minha cama no meu quarto escuro, quando de repente, minha irmã
bate à porta do meu quarto pedindo ajuda, urgente. Mandei que ela abrisse a porta e entrasse. Ela
parecia desesperada, pois havia escutado ruídos e havia constatado que alguém houvesse invadido
nossa casa, que era de proporções enormes. A nossa casa era enorme, e tinha um quintal gigantesco.
Essa pessoa, ao que parecia, havia arrombado uma das trincas da porta da cozinha e estava
perambulando pela nossa casa às escuras. Foi então que no desesespero, minha irmã, não sabendo mais
o que fazer, foi procurar se esconder em meu quarto. Apesar de termos trancado a porta, ficamos
escutando os barulhos, e pra minha incrível surpresa, a maçaneta e a trinca da porta do meu quarto
começou a girar e girar e então a porta se abriu! Vi diante do quarto escuro e diante da porta uma
sombra, apenas uma silhueta que chamava a minha irmã, e essse vulto negro era uma mulher, que foi
chegando cada vez mais perto da cama, foi vindo e chamando, se aproximou rápido e pegou nos meus
pés e puxou e puxou cada vez mais forte até que eu caísse da cama! E foi então que na angústia e
desespero, eu acordei e me vi novamente deitado na minha cama, desta vez sozinho no quarto, sem a
minha irmã!

Essa sensação de estar sonhando e acordar dentro de outro sonho pode ser familiar a muitos, mas o
caso não era esse, era muito mais grave, como pude constatar depois e como detalharei aqui.

Enfim, pela terceira vez, me vi deitado em minha cama no meu quarto escuro. E dessa vez foi a gota
d'água! Achei que realmente estaria tudo normal agora, e que realmente teria despertado. Levantei da
cama e sai normalmente do quarto. Eram mais ou menos 4:30 da manhã, ainda escuro. E me acalmou o
fato de ver minha mãe na cozinha arrumando costumeiramente e rotineiramente seus utensílios, como
ela sempre fazia. A presença materna e da rotina, me levou à calmaria e sensação de volta à
normalidade.

Fui então falar com minha mãe e dar bom dia. Ela cordialmente e amavelmente respondeu, dizendo que
estava já preparando uma lista de compras, e falando e falando, e como sempre eu ia escutando e não
escutando ao mesmo tempo.
Minha mãe era do tipo que acordava cheia de energia de manhã, estravazando sua energia em formas
de palavras. Eu era o oposto; Eu não tinha a capacidade mental de captar muitas palavras de uma vez só
pela manhã. Eu era como um carro velho, que precisava esquentar o motor primeiro para poder rodar e
andar. Eu precisava de tempo para ter energia. E então, como de rotina, ela ia falando e eu apenas
concordando, entendendo uns 30% das palavras que ela estava dizendo. Mas o timbre de voz dela me
acalmou.

Foi então, assim como um baque ou despertador, que algo resoou dentro de mim. Tudo parecia normal,
mas algo não estava certo! Havia um detalhe pequeno que acabou com o meu mundo, e que só fui
perceber ao abrir melhor os olhos. Eu estava sentado à mesa, e minha mãe de costas na pia, com seu
vestido- pijama usado rotineiramente, e na medida em que fui olhando para cima, constatei que a
cabeça da minha mãe estava totalmente desfigurada, enorme, e com um crânio inumano e anormal!! A
roupa era a mesma, o corpo era o mesmo, a voz era a mesma, mas essa deformidade me causou o mais
absoluto terror e pavor! Um medo de que as coisas nunca mais seriam as mesmas, e que o pior estava
por vir. Continuaremos depois...

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