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Ou seja, não há um empreendedor sozinho.
Não há. Digo mais, quando você tem uma universidade, tem uma
hierarquia meritocrática, e é assim que funciona. Quem manda? O PHD,
não o reitor. O reitor tem um papel diferente. Bem, no Brasil não faz nada,
nas universidades americanas capta recursos, e funciona muito bem com
os conhecimentos tradicionais. Já o empreendedor, como é que ele
aprende? Não adianta falar com ele, ele aprende falando com outro
empreendedor. No Brasil há uma cidade empreendedora, de 35 mil
habitantes, que só tinha café e gado. Há uns 50 anos, a mulher do
embaixador brasileiro no Japão viu uma escola de tecnologia e criou, lá
em Santa Rita, uma escola de 2º grau de electrónica. Sem nenhum
dinheiro do governo, hoje a cidade é um parque de alta tecnologia, com
150 empresas, como se explica esse ambiente? Foi o Bar do Bá. Porquê?
Porque lá as pessoas conversavam sobre empreendedorismo. Nos cafés do
Brasil fala-se de futebol, de mulher – nada contra (risos) – mas, nos cafés
de Silicon Valley fala-se de ideias, diz-se que se procura um investidor, e
as coisas rolam. Isso é rede. Eu não posso ensinar ninguém a ter essa
atitude. Nenhum empreendedor criou nada na universidade, já iam
prontos, já tinham esse modelo mental. O Zuckerberg queria trepar e fez o
Facebook (risos), foi mais ou menos isso, quando tentava encontrar forma
de falar com as colegas criou uma página social.
Percebem que é muito difícil fazer alguma coisa sozinho. O objectivo não
é que as crianças mudem a cidade, mas que aprendam que precisam da
rede, da comunidade. A proposta é: transformem o mundo, deixem um
mundo melhor do que receberam, e para isso tem de trabalhar com a
comunidade. Porque o empreendedorismo é um fenómeno de
comunidades, de cidades. Isso é muito importante porque todos os
núcleos de empreendedorismo do mundo estão à volta de cidades – não é
um programa nacional, é um fenómeno que acontece entre vizinhos. Por
isso encontramos nos Estados Unidos lugares que não são
empreendedores e encontra outros que são. Também não existe nenhuma
regra, nenhuma relação de causa/efeito. Por exemplo, criem cidades de
alto nível e terão empreendedorismo e start-ups, não! Silicon Valley é a
excepção. Ou a rota 128 de Boston [conhecida pelo nome de semicírculo
mágico, devido à quantidade de empresas tecnológicas que se espalham
pela sua área, geralmente impulsionadas pelas descobertas que saem do
MIT ou de Harvard]. A regra é: não começar por start-ups. O que é que o
pessoal do 3º mundo faz? Investem em universidades, em
empreendedorismo, em start-ups todos contentes. Pode dar certo, mas
pode não dar e na maior parte das vezes não dá certo.
Mais do que espírito de empreendedor é preciso ter estômago de
empreendedor para aguentar as fases más?
Ou nos livros.
Ou nos livros. Eu já escrevi dezassete, não servem para nada (risos). Estou
a ser um pouco auto cáustico, mas ninguém pode dizer que aprende
empreendedorismo lendo livros. Aprende-se com a história. E o Segredo
de Luísa é uma história, um romance. Porquê romance? Porque somos
contadores de histórias e o empreendedor conta a história do futuro. Foi o
que pensei ao olhar para esta praia [Quebra-Canela] vamos fazer o futuro
disto aqui, e aí contamos a história do futuro: aqui teria um banheiro
público, ali um sorveteiro, além um churrasquinho de camarão, esta é a
história do futuro. E, na minha opinião, toda a grande educação é à base
de histórias. Muitas vezes não reparamos, mas nós criamos os nossos
modelos porque ouvimos uma história, ou do nosso pai, ou de um tio,
mesmo um filme. Também aprendemos com os livros, mas somos
humanos porque contamos história. Por exemplo, quando você vai ter
com um capitalista de risco para o convencer a investir na sua empresa
você conta-lhe a história do futuro.
Acho que não vai ter confronto (risos). Acho que vai ser uma evolução
natural.