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Resumo: O propósito deste artigo é analisar as diversas escolas teóricas que permeiam
o universo da linguística como ciência da linguagem. A presente abordagem
contemplou as correntes teóricas conforme o processo histórico que delineou o papel de
cada uma no cenário científico. Ressalta-se, portanto, o registro de que a linguística tem
sua origem na filosofia grega e no remoto pensamento indiano, que será explicado nas
linhas abaixo.
Palavras-chave: Linguística. Linguagem. Filologia. Saussure. Schlegel.
Abstract: The purpose of this article is to analyze the different theoretical schools that
permeate the universe of linguistics as a science of language. This approach included
the theoretical currents as the historical process that outlined the role of each one in the
scientific field. It is noteworthy, therefore, the record that the language has its origin in
Greek philosophy and in the remote Indian thought, which will be explained in the lines
below.
Keywords: Linguistics. Language. Philology. Saussure. Schlegel.
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Por outro lado, não se deve contentar-se apenas com o que já se conhece, mas
produzir conhecimentos e pesquisas novos. Todavia, parece difícil produzir algo novo
sem conhecer um mínimo do que já foi produzido. Para tal, o estudioso precisa
posicionar-se de forma clara e coerente dentro de dada teoria, a fim de realizar um
recorte da mesma para que sua pesquisa seja reconhecida e validada pela comunidade
científica. Deve-se percorrer um longo caminho que vai da supracitada erudição mínima
àquilo que é descoberto por novidade. Entretanto, não se deve esquecer de que é
fundamental delimitar a(s) teoria(s) dentro de um trabalho de pesquisa a fim de
questionar, descrever e analisar.
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Todas essas motivações até então citadas constituem uma espécie de embrião
para os estudos da linguagem. Desde que o homem entende-se “refém” da linguagem
para a comunicação, há a preocupação em estudá-la, seja para descrever, seja para
conhecer ou regular. Pode-se dizer que o homem nunca esteve alheio às questões
linguísticas. No mundo cristão, por exemplo, tudo começou por meio da palavra: “Disse
Deus...” Precisou haver um comando verbal para que tudo passasse a existir. Os
cânticos religiosos, seja em que religião for, são por meio da linguagem. Em outras
palavras, desde a comunicação interpessoal, até a comunicação com o divino, utiliza-se
a linguagem. O homem não vive sem ela, pois assim não interagiria, não trocaria
experiências ou até morreria solitário.
As preocupações filológicas dão início aos estudos históricos, uma vez que a
filologia preocupa-se com a mudança das línguas na linha temporal através do estudo de
textos antigos, em sua maioria literários. Isso só se torna possível a partir do momento
em que determinadas sociedades consideram seus textos escritos preciosos documentos
linguísticos e históricos. Evidentemente, esse tipo de trabalho não pode ser efetuado em
sociedades ágrafas, que são dignas de outros métodos de estudo.
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Todavia, Franz Bopp foi quem mais criteriosamente estudou a semelhança entre
essas línguas. Em 1816, publicou livro no qual, por meio da morfologia verbal,
demonstrou correspondências sistemáticas entre elas. Nas décadas seguintes, Bopp
inclui em seu estudo outras línguas, tais como o lituano, o eslavo, o armênio, o celta e o
albanês criando, posteriormente, uma gramática comparativa de todas as línguas
estudadas por ele. Essa obra é considerada pioneira nos estudos histórico-comparativos.
A linguística que adentrou o século XIX foi extremamente valiosa no que tange
aos estudos da comparação, ratificando assim a questão da mudança e do parentesco
entre as línguas. Além dos supracitados autores, diversos outros foram importantes na
construção dessa ciência. Por exemplo, Rasmus Rask, paralelamente a Bopp, trabalhou
com as línguas nórdicas e tornou-se pouco conhecido devido ao atraso de sua
publicação e à língua em que foi publicada sua obra (dinamarquês). Já o alemão
Friedrich Diez inicia os estudos filológicos das línguas românicas e seu trabalho torna-
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se mais abrangente pelo fato das línguas românicas deterem maior número de
documentos antigos escritos em latim, a então língua dos povos romanos.
Por sua vez, Augusto Schleicher orientou seus estudos por uma visão naturalista
baseado no evolucionismo de Darwin. A língua passa a ser vista como um organismo
vivo, com existência própria fora de seus usuários, “sendo sua história vista como uma
“história natural”, isto é, como um fluxo que se realiza por força dos princípios
invariáveis e idênticos às leis da natureza” (FARACO, 1991, p.87). Há várias
contribuições comuns a todos esses estudos. Uma delas é aquela que consolida o que se
denomina tronco indo-europeu e que ficou mais consolidada através dos estudos de
Schleicher que propunha a divisão das línguas em ramos até chegar a uma única língua.
Entretanto, apesar de ver a língua como organismo vivo, esse estudioso não leva em
conta as variações dialetais, nem as influências que uma língua exerce sobre a outra.
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relevante até o presente século. Questões como língua x fala, sincronia x diacronia, a
noção de signo linguístico, a arbitrariedade desse signo, a própria noção de sistema,
paradigma x sintagma, permitiram – e ainda permitem – discussões e colaborações no
campo em questão. Dessa forma, vejamos um breve resumo da teoria saussuriana:
Para Saussure, os signos não são rótulos que as coisas reais do mundo recebem,
mas a união de um conceito (significado) a uma imagem acústica (significante) cujo
resultado é o signo linguístico. Fiorin (2006, p. 58), de maneira clara, discorre sobre o
fato:
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Resumindo, o signo linguístico é uma entidade psíquica que combina dois lados ou
faces: o significado e o significante (SAUSSURE, 1985, p.80).
À linguística que se detém nos estudos das mudanças que ocorrem nas línguas
através do tempo, Saussure chama de diacrônica. Àquela que vê a língua como sistema
onde um elemento se define pelos demais, chama de sincrônica. Um estudo sincrônico
deve isolar um determinado estado da língua para que, por meio de abstrações, ela seja
estudada como um sistema de signos.
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Por fim, apesar de tão contestada, não se pode deixa de salientar a definição de
língua como sistema. A partir da contestação de tal definição é que várias teorias
emergiram, e.g., as teorias enunciativas e funcionalistas que consideram, com alguma
variação, a língua como instrumento de comunicação, logo a fala – parole – não tem
como ausentar-se da análise do linguista.
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são então as linguísticas estruturais? Em resposta a essa pergunta, declara Ilari (2007,
pp. 67 e 68):
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O estudo sobre as funções da linguagem efetuado por Halliday, além das reflexões sobre coesão e
coerência, pode ser encontrado em sua famosa obra Cohesion in English (1976) em coautoria com R.
Hasan.
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5 – Roman Jakobson
Dono de vasta obra, Jakobson produziu diversos estudos no campo da fonologia
influenciado não só por seu colega Troubetzkoy, mas também por Saussure. Seus
trabalhos auxiliaram a ciência nos estudos da afasia no processo de aquisição da
linguagem, e na poética. Não se pode deixar de citar sua famosa nomenclatura das
funções da linguagem, herança funcionalista, em que se definem as funções fática,
conativa ou apelativa, metalinguística, informativa ou referencial, poética e expressiva.
Esse quadro tornou-se tão influente que, atualmente, encontra-se presente em quase
todos os livros didáticos de Língua Portuguesa.
Jakobson tornou-se influente no campo da poética, por meio de seus estudos de
fonética e fonologia, por acreditar, dentre outros aspectos, na afirmação de que não há
atração no texto poético por seu conteúdo, mas pelo tratamento que ele dá à linguagem.
Por isso, no Brasil, apreciava a poesia concretista e quase foi contratado pela recém
criada Universidade de São Paulo, na década de oitenta do século passado.
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6 – O estruturalismo americano
Quando se fala em “estruturalismo americano”, pensa-se num
amplo espectro de trabalhos que foram realizados nos Estados
Unidos da América entre as décadas de 1920 e 1950, e em
autores que cultivaram interesses de pesquisa bastante
diversificados. [...] um amplo trabalho de descrição e análise
que, ao contrário, mereceria a maior atenção. Não faltam,
contudo, características comuns, que definem o que poderíamos
chamar de “estilo de época”, e essas características ficam ainda
mais visíveis quando são postas em contraste com a linguística
chomskiana. (Ilari, 2007, p. 77)
2
A tradução da palavra language do inglês para o português é, no mínimo, ambígua. Sabe-se que tal
vocábulo pode ser traduzido tanto como língua quanto como linguagem. A tradução feita da obra de Sapir
usa, nesse trecho, linguagem, mas acreditamos que língua seria mais adequado.
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