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SLI M G U ID E | A UL A 0 7

Ética Corporativa
e Programas de
Integridade I

Lei Anticorrupção

GISLENE CABRAL

A corrupção não é novidade na história da humani-


dade e muito menos surgiu no Brasil recentemente
com o escândalo ostensivamente divulgado, deno-
minado Lava Jato. A corrupção acompanha a história
da humanidade e está intimamente ligada ao desvio
ético.

O ponto crítico do desvio ético e da corrupção encon-


tra-se na ação do ser humano voltada para atingir os
objetivos egoísticos, seja de um grupo ou de uma de-
terminada pessoa. Nesse contexto, o ser humano em
suas possíveis relações em sociedade prefere adotar
todos os meios necessários ao atingimento de seu
objetivo, que no sistema capitalista poderia ser fa-
cilmente identificado como o atingimento do lucro
a qualquer preço e sem levar em conta os impactos
para os demais membros da sociedade.

Para explicitar mais ainda a afirmação anterior, va-


mos relembrar de forma bem superficial o que fa-
lamos do caso Lava Jato. Esse maior escândalo de
corrupção ocorrido na recente história do Brasil, nos
mostrou a forma escusa de se fazer negócios envol-
vendo entidades públicas e o mundo empresarial.
Diversas empresas da construção civil foram envolvi-
das nesse escândalo e com um objetivo bem claro, o
de conseguir a maior quantidade de contratos, por-
tanto, liquidez e lucro. No outro extremo, os partidos
políticos buscando recursos para financiar as suas
atividades e, alguns deles, buscando se perpetuar
no poder.

As empresas da construção civil passaram a se aliar,


formando cartéis, para participar do maior número
de licitações possíveis e dividir entre si os resultados
desses contratos, mas, se não bastasse atentarem
contra a ordem econômica, ofertaram ou até mes-
mo aceitaram pagar suborno ou propina para polí-
ticos ou partidos políticos com influencia nos altos
escalões das empresas públicas, por exemplo o setor
de distribuição da Petrobras passou a exigir recur-
sos para direcionar determinadas contratações ou
até mesmo para revisar os contratos públicos em
andamento, o dinheiro pago pelas empreiteiras era
rateado entre os funcionários públicos e os partidos
políticos, envolvendo, nisso, sofisticados sistemas de
remessas de pagamentos ao exterior ou até mesmo
o crime de lavagem de dinheiro para o pagamento
da propina.

Notem quantas ações foram praticadas de forma


lesiva ao equilíbrio necessário das relações sociais,
que precipuamente deveriam ter o objetivo do bem
comum e bem-estar social. Vejam o efeito do desvio
ético gerando os atos corruptivos.

Nesta altura, podemos explicitar a definição de cor-


rupção. A palavra tem origem no latim e está relacio-
nada à deterioração e decomposição do corpo. Foi
empregada nas relações sociais para indicar as ações
humanas contrárias ao bem comum, portanto, uma
espécie de ato antiético, desvio ético, de atitude an-
tiética ou aética, envolvendo os entes públicos e fun-
cionários públicos.

A modalidade mais comum de corrupção reconhe-


cida é o suborno, mas podemos dizer que os cri-
mes mencionados no Código Penal de 1940, em
seu capítulo de atos contra administração pública,
são espécies de corrupção, por exemplo, abuso de
poder, a lavagem de dinheiro ou ocultação de bens
oriundos de corrupção, contrabando e descaminho
e a corrupção, propriamente dita e nas suas duas
modalidades, ativa e passiva.

A Lava Jato também demonstrou o efeito nocivo da


corrupção, que é a degradação da sociedade. Como
resultado da operação, muitas empresas de constru-
ção foram impedidas de participar de licitações ou
tiveram de assumir compromissos financeiros vulto-
sos para devolver os recursos obtidos nos contratos
licitatórios investigados na Lava Jato. Em razão disso,
empreiteiras tiveram de demitir e algumas delas pe-
diram recuperação judicial ou até mesmo faliram.

Muitos empresários, políticos e até mesmo ex-pre-


sidentes foram presos, aliás camadas sociais que
sempre acreditaram na impunidade. O estado do Rio
de Janeiro assiste a maior crise de finanças públicas
em razão dos atos praticados pelos políticos na Lava
Jato e o Brasil passa pela maior crise econômica fi-
nanceira, cuja razão também está relacionada à cor-
rupção, pois a quebra de empreiteiras gerou um ex-
pressivo aumento no desemprego e dificuldades de
recolocação.

Os expressivos resultados das investigações da Lava


Jato somente foram conseguidos com os mecanis-
mos existentes na Lei Anticorrupção.

A Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) estabelece a


responsabilidade civil e administrativa para as em-
presas pela prática de atos contra a administração
pública, nacional ou estrangeira. A responsabilidade
empresarial vai desde multa expressiva até a dissolu-
ção compulsória da pessoa jurídica.

A responsabilidade das empresas pode se dar por


meio de processo administrativo e judicial. As pe-
nas podem ser abrandadas por meio dos chamados
acordos de leniências, desde que haja a comprovada
cooperação da pessoa jurídica na descoberta do ilíci-
to praticado contra o ente público.

O Acordo de Leniência foi muito utilizado na Lava


Jato ao lado da delação premiada, utilizado para re-
duzir as penas a serem atribuídas às pessoas físicas
envolvidas no ilícito.

A Lei Anticorrupção, nesse pouco espaço de exis-


tência, se provou como sendo uma ferramenta im-
portante para prevenir as mazelas decorrentes da
corrupção, tornando a condenação dos envolvidos
como certa. Nesse sentido e aliado a uma revisão da
postura ética, podemos voltar acreditar num Brasil
um pouco menos corrupto e mais próspero.

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