dade e muito menos surgiu no Brasil recentemente com o escândalo ostensivamente divulgado, deno- minado Lava Jato. A corrupção acompanha a história da humanidade e está intimamente ligada ao desvio ético.
O ponto crítico do desvio ético e da corrupção encon-
tra-se na ação do ser humano voltada para atingir os objetivos egoísticos, seja de um grupo ou de uma de- terminada pessoa. Nesse contexto, o ser humano em suas possíveis relações em sociedade prefere adotar todos os meios necessários ao atingimento de seu objetivo, que no sistema capitalista poderia ser fa- cilmente identificado como o atingimento do lucro a qualquer preço e sem levar em conta os impactos para os demais membros da sociedade.
Para explicitar mais ainda a afirmação anterior, va-
mos relembrar de forma bem superficial o que fa- lamos do caso Lava Jato. Esse maior escândalo de corrupção ocorrido na recente história do Brasil, nos mostrou a forma escusa de se fazer negócios envol- vendo entidades públicas e o mundo empresarial. Diversas empresas da construção civil foram envolvi- das nesse escândalo e com um objetivo bem claro, o de conseguir a maior quantidade de contratos, por- tanto, liquidez e lucro. No outro extremo, os partidos políticos buscando recursos para financiar as suas atividades e, alguns deles, buscando se perpetuar no poder.
As empresas da construção civil passaram a se aliar,
formando cartéis, para participar do maior número de licitações possíveis e dividir entre si os resultados desses contratos, mas, se não bastasse atentarem contra a ordem econômica, ofertaram ou até mes- mo aceitaram pagar suborno ou propina para polí- ticos ou partidos políticos com influencia nos altos escalões das empresas públicas, por exemplo o setor de distribuição da Petrobras passou a exigir recur- sos para direcionar determinadas contratações ou até mesmo para revisar os contratos públicos em andamento, o dinheiro pago pelas empreiteiras era rateado entre os funcionários públicos e os partidos políticos, envolvendo, nisso, sofisticados sistemas de remessas de pagamentos ao exterior ou até mesmo o crime de lavagem de dinheiro para o pagamento da propina.
Notem quantas ações foram praticadas de forma
lesiva ao equilíbrio necessário das relações sociais, que precipuamente deveriam ter o objetivo do bem comum e bem-estar social. Vejam o efeito do desvio ético gerando os atos corruptivos.
Nesta altura, podemos explicitar a definição de cor-
rupção. A palavra tem origem no latim e está relacio- nada à deterioração e decomposição do corpo. Foi empregada nas relações sociais para indicar as ações humanas contrárias ao bem comum, portanto, uma espécie de ato antiético, desvio ético, de atitude an- tiética ou aética, envolvendo os entes públicos e fun- cionários públicos.
A modalidade mais comum de corrupção reconhe-
cida é o suborno, mas podemos dizer que os cri- mes mencionados no Código Penal de 1940, em seu capítulo de atos contra administração pública, são espécies de corrupção, por exemplo, abuso de poder, a lavagem de dinheiro ou ocultação de bens oriundos de corrupção, contrabando e descaminho e a corrupção, propriamente dita e nas suas duas modalidades, ativa e passiva.
A Lava Jato também demonstrou o efeito nocivo da
corrupção, que é a degradação da sociedade. Como resultado da operação, muitas empresas de constru- ção foram impedidas de participar de licitações ou tiveram de assumir compromissos financeiros vulto- sos para devolver os recursos obtidos nos contratos licitatórios investigados na Lava Jato. Em razão disso, empreiteiras tiveram de demitir e algumas delas pe- diram recuperação judicial ou até mesmo faliram.
Muitos empresários, políticos e até mesmo ex-pre-
sidentes foram presos, aliás camadas sociais que sempre acreditaram na impunidade. O estado do Rio de Janeiro assiste a maior crise de finanças públicas em razão dos atos praticados pelos políticos na Lava Jato e o Brasil passa pela maior crise econômica fi- nanceira, cuja razão também está relacionada à cor- rupção, pois a quebra de empreiteiras gerou um ex- pressivo aumento no desemprego e dificuldades de recolocação.
Os expressivos resultados das investigações da Lava
Jato somente foram conseguidos com os mecanis- mos existentes na Lei Anticorrupção.
A Lei Anticorrupção (Lei nº 12.846/13) estabelece a
responsabilidade civil e administrativa para as em- presas pela prática de atos contra a administração pública, nacional ou estrangeira. A responsabilidade empresarial vai desde multa expressiva até a dissolu- ção compulsória da pessoa jurídica.
A responsabilidade das empresas pode se dar por
meio de processo administrativo e judicial. As pe- nas podem ser abrandadas por meio dos chamados acordos de leniências, desde que haja a comprovada cooperação da pessoa jurídica na descoberta do ilíci- to praticado contra o ente público.
O Acordo de Leniência foi muito utilizado na Lava
Jato ao lado da delação premiada, utilizado para re- duzir as penas a serem atribuídas às pessoas físicas envolvidas no ilícito.
A Lei Anticorrupção, nesse pouco espaço de exis-
tência, se provou como sendo uma ferramenta im- portante para prevenir as mazelas decorrentes da corrupção, tornando a condenação dos envolvidos como certa. Nesse sentido e aliado a uma revisão da postura ética, podemos voltar acreditar num Brasil um pouco menos corrupto e mais próspero.