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INO V A Ç Ã O CLEMENTE NOBREGA*

O sucesso vem do time


A ideia de que o profissional mais valorizado será independente
ignora que o conhecimento real é sempre uma criação coletiva

A empresa moderna é resultado


de mutações de formas ances-
trais de organização. Empresas sur-
nora a noção de que conhecimento
real é sempre uma criação coletiva. O
agente solitário não pode dar certo em
giram um dia, porque ficou evidente larga escala. Ninguém sabe como será
que eram o melhor jeito para se obter exatamente, mas a empresa do futuro
mais com menos, algo que os huma- será muito diferente do que sugere a
nos adoram. A empresa do futuro, seja ideia “uma empresa chamada você”,
como for, não eliminará o passado. que tem dominado a imaginação de
Não poderá. Sabe por quê? Antropó- A tecnologia tantos. Ela vai se organizar por meio
logos ensinam que povos que caçam muda, mas a de contextos novos de comunicação.
animais grandes têm relações sociais motivação, não. Quanto mais formos capazes de
complexas – muita gente (muitas es- Somos humanos articular e operar essas novas mídias,
pecializações) tem de colaborar para hoje à maneira mais eficiente será a empresa. Mídia é
abater uma girafa. Se não há animais do passado qualquer meio habilitador de diálogo
grandes, ocorre o isolamento, e isola- distante – qualquer coisa que crie um espaço
mento é sempre sinônimo de pobreza. que possa ser compartilhado para
É assim com os shoshones, um me um time, e eles pegam 50 coelhos trocar algo. As pessoas descobrem, no
povo que sobrevive (em bandos de com a rede. Dois coelhos e meio para próprio processo de compartilhar, sig-
famílias isoladas) remexendo o chão cada um, e com menos esforço. A pros- nificados que apelam à sua humani-
em busca de raízes e sementes. Às ve- peridade vem da colaboração. Deze- dade. É isso que vem definindo a seta
zes, em seu habitat, surgem coelhos nas de ex-executivos da GE, pupilos de da história humana desde sempre.
em abundância. É o que basta para Jack Welch que brilharam sob seu co- Essas mídias vão integrar colabora-
passarem a colaborar imediatamente, mando, foram contratados para diri- dores por meio de alguma espécie de
produzindo enormes redes com uma gir outras grandes corporações. A GE, rede digital, de forma análoga ao que
espécie de cipó. Como uma família só graças a seu sistema, tinha “o melhor faz a rede dos shoshones. Viveremos
não dá conta de manuseá-la, dúzias de- banco de reservas do mundo”. Essa elaborações cada vez mais sofisticadas
las juntam-se sob o comando de um lí- turma, contratada para fazer em ou- da rede de cipó. A tecnologia muda,
der. A rede de cipó viabiliza a interação. tras empresas o que fizera na GE, teve mas a motivação, não. Somos huma-
Esse padrão – uma tecnologia viabili- um sucesso apenas mediano. Só 50% nos hoje da mesma maneira que no
zando interações colaborativas entre deles obtiveram algum resultado. O passado distante. Tudo igual, só que
estranhos – é o que gera prosperidade. sucesso está no time, não no indivíduo. novo. Só que “mais”, graças à tecno-
Por quê? Os ganhos ficam irresistíveis: A ideia de que, no futuro, o pro- logia. Mais é diferente, entende?
20 shoshones, individualmente, pega- fissional mais valorizado será uma
riam, com sorte, um coelho cada. For- espécie de agente independente, ig- www.epocanegocios.com.br/clemente

* CLEMENTE NOBREGA é físico, escritor, consultor de empresas e autor do blog Ideias e Inovação no site de Época NEGÓCIOS

46 época negócios agosto 2 0 1 0 ilustração_pedro hamdan

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