Você está na página 1de 32

METODOLOGIA DO ENSINO DE

ARTES/LINGUAGEM DO CORPO
Equipe de Elaboração
Instituto Mineiro de Formação Continuada

Coordenação Geral
Ana Lúcia Moreira de Jesus

Gerência Administrativa
Marco Antônio Gonçalves

Professor-autor
M.ª Jéssica de Freitas Lopes

Coordenação de Design Instrucional do Material Didático


Eliana Antonia de Marques

Diagramação e Projeto Gráfico


Cláudio Henrique Gonçalves

Revisão
Ana Lúcia Moreira de Jesus
Mateus Esteves de Oliveira

ZAYN –Instituto Mineiro de Formação


Continuada

Travessa Antônio Olinto, 33 – Centro

Carmópolis de Minas – MG

CEP: 35.534-000

TEL: (37) 3333-2233

contato@institutozayn.com.br

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


Boas-vindas

Olá!

É com grande satisfação que o ZAYN – Instituto Mineiro de Formação


Continuada agradece por escolhê-lo para realizar e/ou dar continuidade aos seus
estudos. Nós do ZAYN estamos empenhados em oferecer todas as condições para que
você alcance seus objetivos, rumo a uma formação sólida e completa, ao longo do
processo de aprendizagem por meio de uma fecunda relação entre instituição e aluno.

Prezamos por um elenco de valores que colocam o aluno no centro de nossas


atividades profissionais. Temos a convicção de que o educando é o principal agente de
sua formação e que, devido a isso, merece um material didático atual e completo, que
seja capaz de contribuir singularmente em sua formação profissional e cidadã. Some-
se a isso também, o devido respeito e agilidade de nossa parte para atender à sua
necessidade.

Cuidamos para que nosso aluno tenha condições de investir no processo de


formação continuada de modo independente e eficaz, pautado pela assiduidade e
compromisso discente.

Com isso, disponibilizamos uma plataforma moderna capaz de oferecer a você


total assistência e agilidade da condução das tarefas acadêmicas e, em consonância, a
interação com nossa equipe de trabalho. De acordo com a modalidade de cursos on-
line, você terá autonomia para formular seu próprio horário de estudo, respeitando os
prazos de entrega e observando as informações institucionais presentes no seu espaço
de aprendizagem virtual.

Por fim, ao concluir um de nossos cursos de pós-graduação, segunda


licenciatura, complementação pedagógica e capacitação profissional, esperamos que
amplie seus horizontes de oportunidades e que tenha aprimorado seu conhecimento
crítico a cerca de temas relevantes ao exercício no trabalho e na sociedade que atua.
Ademais, agradecemos por seu ingresso ao ZAYN e desejamos que você possa colher
bons frutos de todo o esforço empregado na atualização profissional, além de pleno
sucesso na sua formação ao longo da vida.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


A arte é o homem acrescentado à
natureza, é o homem acrescentado à
realidade, à verdade, mas com um
significado, com uma concepção, com
um caráter, que o artista ressalta, e aos
quais dá expressão, resgata, distingue,
liberta e ilumina.

Van Gogh

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


METODOLOGIA DO
ENSINO DE ARTES/
LINGUAGEM DO
ZAYN
CORPO

EMENTA: CONTEÚDO PROGRAMÁTICO


Na disciplina Metodologia do Ensino -Introdução: A Arte e a formação
humana;
de Artes/Linguagem do Corpo será
1. A arte e a expressividade humana;
estudada a arte e a formação 2. Arte e capitalismo;
3. A arte e a racionalidade estético-
humana; a arte e a expressividade
expressiva;
humana; arte e capitalismo; a arte e a 4. Atos de fala no corpo;
5. Corpo que se comunica;
racionalidade estético-expressiva;
-Leitura Complementar;
atos de fala no corpo; corpo que se -Referências.
comunica.

Organização do conteúdo:
Prof.ª M.ª Jéssica de Freitas Lopes

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


CARACTERIZAÇÃO DA DISCIPLINA
Curso:
Disciplina: METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES/LINGUAGEM
DO CORPO

Carga Horária:

EMENTA

Na disciplina Metodologia do Ensino de Artes/Linguagem do Corpo será


estudada a arte e a formação humana; a arte e a expressividade humana; arte e
capitalismo; a arte e a racionalidade estético-expressiva; atos de fala no corpo;
corpo que se comunica.

OBJETIVOS

Refletir sobre a arte e a linguagem do corpo.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

-Introdução: A Arte e a formação humana;


1. A arte e a expressividade humana;
2. Arte e capitalismo;
3. A arte e a racionalidade estético-expressiva;
4. Atos de fala no corpo;
5. Corpo que se comunica;
-Leitura Complementar;
-Referências.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


SUMÁRIO

Introdução: A Arte e a formação humana 07


1. A arte e a expressividade humana 08
2. Arte e capitalismo 09
3. A arte e a racionalidade estético-expressiva 10
4. Atos de fala no corpo 11
5. Corpo que se comunica 13
Leitura Complementar 18
Referências 31

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


7

METODOLOGIA DO ENSINO DE ARTES/ LINGUAGEM DO CORPO

Introdução: A arte e a formação humana

Fonte: Imagem retirada da internet

Podemos entender que a arte é formativa, ela tem a capacidade de transformar


e formar os seres humanos, é resgate de experiência, libertação das vozes,
iluminação do espírito e traz significados únicos para a vida daqueles que estão em
contato com ela.

A arte possui a função catártica diante do objeto estético, nas concepções


vigotskiana e lukacsiana, quer dizer que deve contribuir para transformar o arranjo da
consciência dos homens, conferindo-lhes novas formas de apreensão do real e
substância crítica capaz de afrontar a sociedade capitalista em sua totalidade, lutando
por uma sociedade menos injusta (FERREIRA, 2010).

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


8

Assim, a arte é um caminho possível para manifestações que buscam lutar pela
garantia de direitos da humanidade, a arte é expressiva e revolucionária.

A formação dos sentidos e das sensibilidades humanas é um processo que


vem se desenvolvido ao longo da história social e relacionado às condições objetivas
de cada momento histórico. Dessa maneira, entendemos que a arte, e em seu interior
a literatura, é uma das manifestações da vida humana cuja necessidade precisa ser
criada nas novas gerações pela sociedade, principalmente pelas escolas públicas
(FERREIRA, 2010).

Essa função formadora da arte deve começar dentro das escolas e se


manifestar no cotidiano das pessoas, uma vez que esta interfere na formação de
identidades.

1- A arte e a expressividade humana

Dizia Fernando Pessoa que a arte é a auto-expressão lutando para ser


absoluta.

A arte, independente da maneira a qual a definamos, está presente em tudo o


que fazemos para agradar aos nossos sentidos (Read, 1958).

Além disso, ela nos leva a comunicação, ao estranhamento, a produção de


conhecimentos. Ela é também subjetiva e depende da singularidade de cada ser
humano e da percepção que tem da realidade - não há então uma resposta correta
quando nos perguntamos sobre a finalidade da arte, são múltiplas (LOPES, 2017).

Segundo Read (1958) a configuração da obra de arte é dada por uma pessoa
em particular e a essa pessoa damos o nome de artista; e um/uma artista vai muito
além de pessoas que pintam quadros.

É também, aqueles que fazem músicas, poesias ou móveis, sapatos e vestidos.


Há todos os tipos e graus de artistas, todos(as) são indivíduos que conseguem dar
forma a alguma coisa. O que é uma boa forma em arte? Uma boa resposta pode ser:
o que agrada a uma pessoa não vai agradar necessariamente a outra. Vamos ao

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


9

ponto de afirmar que o que a um cura a outro pode chegar até mesmo a matar (READ,
1958).

As pessoas se expressam e fazem expressar em suas obras sensibilidades que


podem ou não afetar aqueles que apreciam, a arte está “no humano” que a produz.

2- Arte e capitalismo

Segundo Fischer, assim como o Rei Midas transformava tudo que tocava em
ouro, a sociedade capitalista transforma tudo em mercadoria, e numa sociedade onde
tudo é tratado como mercadoria, com certeza a obra de arte não sairia livre. E sendo
que mercadorias são na verdade trabalho humano materializado, para entender as
relações do sistema capitalista com a produção artística, é preciso compreender o
mundo das mercadorias e o trabalho humano no capitalismo (SANTOS, 2013).

Quando o que prevalece é o valor de uso do objeto, ele vale por


sua relação com o homem, ou seja, sua capacidade de
objetivação humana, por outro lado, quando significa por seu
valor de troca o objeto perde sua relação com o homem, sua
qualidade, valendo apenas por características quantitativas.
Então podemos concluir que a mercadoria no capitalismo perde
suas características humana, e perdeu seu valor de uso, sua
relação com as necessidades humanas (SANTOS, 2013, p. 33)

Com isso, podemos compreender que a obra de arte quando tratada como
mercadoria pode acabar perdendo seu valor de essência humana, passando a ser
tratada como simples objeto de venda e lucros.

Quanto mais a atividade artística vai sendo submetida às leis de produção


capitalista, mais vai perdendo suas qualidades estéticas, e sendo o estético o valor
especifico da obra de arte, ela perde seu valor social, sua relação com a significação
humana e com a essência de sua criação. O que a caracteriza quando é convertida
em mercadoria é seu valor de troca, sendo submetida às leis de oferta e procura que
prevalece no mercado (SANTOS, 2013).

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


10

Assim, o trabalho artístico pode perder sua dimensão humana e prazerosa,


uma vez que o capitalismo se preocupa com os lucros, sem qualquer consideração
com a parte humanizadora da arte.

3- A arte e a racionalidade estético-expressiva

Fonte: imagem retirada da internet

Lopes (2017) afirma que as expressões estéticas estão interligadas a um


mundo de significações e são importantes na construção dos saberes e da existência
que nos cerca – o que se faz importante dialogar com o que Boaventura chama de
racionalidade estético-expressiva.

A racionalidade estético-expressiva tem por finalidade vincular o que a


racionalidade científica busca separar (causa e intenção) e legitimar a qualidade e a
importância (em vez da verdade) através de uma forma de conhecimento que a ciência
moderna desprezou e tentou fazer esquecer, o conhecimento retórico (SANTOS,
2011). A racionalidade estético-expressiva considera as manifestações artísticas
como importantes na construção do conhecimento, sem desvalorizar nenhuma forma
de saber.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


11

Contudo, a racionalidade estético-expressiva não apresenta intencionalidades


de crítica abusiva à ciência. Ela procura fazer um movimento de tradução,
dispensando qualquer tipo de conhecimento que venha a ser regulado e/ou
desprezado (SANTOS, 2011).

Portanto, precisamos alcançar o que Boaventura chamou de novo senso


comum estético, senso comum reencantado, em que o prazer é a sua marca estética.
A ciência moderna é uma forma de saber que se afirma desencantada e
desapaixonada. Prazer, emoção, paixão, estilo e biografia; tudo isso pode perturbar e
tende a ser rejeitado (SANTOS, 2011).

Lutamos contra essa rejeição, queremos considerar as produções de vida e


relacioná-las com a ciência. É imprescindível a racionalidade estético-expressiva no
que se refere às relações sociais. Ela permite que os indivíduos manifestem-se
esteticamente, demonstrando seus pensamentos e saberes de forma prazerosa em
busca da própria emancipação. A arte está contida na racionalidade estético-
expressiva, uma vez que os seres humanos podem se manifestar de múltiplas
maneiras (LOPES, 2017).

Assim, compreendemos que a ciência não pode ser vista como a única forma
de produzir conhecimento, ela pode estar atrelada a outros saberes, aqueles que
consideram a dimensão humana em todas as suas potencialidades.

4- Atos de fala no corpo

A partir da teoria de Austin (1990), Butler (1997) vai expandir o conceito de


performativo para o conceito de performatividade. De maneira mais ampliada, trata os
atos e a organização da fala como ações não apenas fonéticas. O ato de fala passa a
ser entendido como um ato corpóreo e, dessa maneira, constitui-se um cruzamento
sintático da fala, que já é corpo, com a linguística. De partida, o que chama a atenção
na abordagem de Butler (1997) é o estado corporal da ação indicando outros modos
de falar e expressar ideias. É a performatividade do performativo. E vale destacar,
desde já, a importância do conteúdo político da fala que se constrói no e pelo corpo e
comunica-se através desse fazer (SETENTA, 2008).

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


12

A implicação política no entendimento do corpo como realizador de atos de fala


performativos, de performatividade, indica a existência de situações de poder na
relação do social e do corporal e, por conta disso, provoca a mobilização de ações
que recontextualizam condições pré- estabelecidas. Decorre daí uma tomada de
atenção para situações de falas consideradas dizíveis e aquelas consideradas
indizíveis. Essas considerações serão trabalhadas no capítulo seguinte, que
transporta questões focalizadas no corpo-sujeito para o corpo-instituição a partir da
indicação de situações de dizibilidade e indizibilidade. Torna-se viável, então, observar
tanto falas instituídas pelo corpo em configuração humana, quanto em configuração
institucional além de questioná-las nas esferas do público e do privado (SETENTA,
2008).

Trazer essa compreensão e discussão para o ambiente do corpo que dança,


permite o emprego do conceito de política não restrito a fatos relativos a partidos
políticos ou governos, mas como um modo de operação do corpo. O uso de conceito
de político nesse sentido vincula-se à compreensão de que se as ideias se organizam
no corpo, e o corpo assim formado é sempre político, isto é, sempre age no mundo a
partir de uma determinada coleção de informação. Cada coleção implica em um
determinado modo de se agir no mundo – cada qual com sua consequência política.
Faz pensar ainda nos procedimentos do corpo que dança a partir de modelos
convencionalizados, sistematizados. Será que as suas ações também questionam e
refletem criticamente o mundo, tal qual no fazer dizer performativo? Esse constitui um
ponto fundamental para a aceitação da dança enquanto ato de fala, com conotações
políticas que indicam uma condição de dizibilidade que se expresse como um fazer
que é dizer. Importa aqui discutir a constituição da fala da dança que se organiza no
corpo tendo em vista que ela também resulta do vínculo com a sociedade e com as
estruturas de poder. E sustentar que ela se distingue de outras falas da dança que se
formulam com outros pressupostos (SETENTA, 2008).

5- Corpo que se comunica

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


13

Fonte: imagem retirada da internet

A partir do entendimento linguístico de que a fala não está só no verbo, mas


também no corpo, Butler (2000) inicia a investigação na qual os atos de fala são
construídos como conduta. Esse modo de investigar vai discutir o que é e o que não
é considerado dizível no exercício de constituição da fala. A noção de proferimento
corporal, impressa nas discussões de Butler (1997), faz com que seja possível pensar
o corpo que dança como inventor de modos próprios de proferir idéias. Ajuda a
trabalhar com o entendimento de que o corpo, quando faz algo, ele está dizendo algo
e, se esse fazer necessita inevitavelmente de uma invenção do corpo para a sua
realização (pode ser dito), tem-se a situação de um corpo que dança o seu fazer-dizer
(SETENTA, 2008).

A performatividade significa não só o modo de se apresentar no mundo, mas a


própria constituição epistemológica de um tipo de mundo. Os corpos compõem textos,
falas que se constroem para serem percebidas e reconhecidas. No processo de
organização dos campos de fala há o exercício de reconhecer, selecionar, censurar e
excluir informações (essa censura será tratada não somente no viés habitual,
castrador, mas sobretudo como censura produtiva, a partir de Butler (1998)
(SETENTA, 2008).

LEITURA COMPLEMENTAR

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


14

CORPOS E EXPRESSÃO EM MOVIMENTO. A DANÇA E A EDUCAÇÃO. POR


QUE ENSINAR DANÇA NA ESCOLA?

Sidinei Barbosa Varanda

1. INTRODUÇÃO

Dançar é definido como uma manifestação instintiva do ser humano, “[...] é


executar movimentos corporais de maneira ritmada, em geral ao som de música,
bailar, balançar, oscilar; sacudir-se, agitar-se, mexer-se, movimentar-se”
(HOLLANDA, 1999).
Desde sempre o homem dançou. Antes de polir a pedra e construir abrigos, os
homens já se movimentavam ritmicamente para se aquecer e comunicar. A dança,
considerada a mais antiga das artes, é também a única que dispensa materiais e
ferramentas, pois ela só depende do corpo e da vitalidade humana para cumprir sua
função, enquanto instrumento de afirmação dos sentimentos e experiências
individuais do homem.
As danças coletivas aparecem na origem da civilização e sua função associava-se
à adoração das forças superiores ou dos espíritos, para obter êxito em expedições
guerreiras ou de caça ou ainda para solicitar bom tempo e chuva. Mesmo com a
simplicidade dos movimentos e repetições, os povos traduziam nessas danças,
manifestações repletas de significado e eram fatos celebrados, que diante das
comunidades, refletiam o verdadeiro sentido da comunhão entre os seres. Dessa
forma “[...] pode-se perceber o valor da comunicação via dança nestas manifestações”
(VOLP; GASPARI, 2010, p. 20).
Tudo no universo está em constante mutação e assim como o ar, a terra e todas
as coisas da natureza estão em pleno movimento; nosso corpo também se encontra
repleto de movimentos, energia e linguagens corporais, que segundo Brikman (1989,
p. 13-14), “Podemos afirmar que o corpo e movimento constituem uma unidade que
opera por energia; que corpo, energia e movimento formam um todo; que não haverá
movimento sem corpo [...]”. Já Baiak (2007, p. 06) considera que “[...] é através do
movimento das coisas que a história se faz; e foi através do movimento corporal que
o homem primitivo começou a construir uma nova linguagem, a linguagem da dança”.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


15

O corpo se expressa por meio da linguagem corporal e dos movimentos e de


acordo com Laban (1978, p. 19), “O homem se movimenta a fim de satisfazer uma
necessidade. Com sua movimentação, tem por objetivo atingir algo que lhe é valioso
[...]”, dessa forma podemos perceber que o ser humano se comunica por intermédio
de movimentos expressivos e linguagem corporal, para atingir sua verbalização.
Consta nos PCNs (2000) que os conteúdos da Educação Física devem alcançar
uma grande relevância de conhecimento no que concerne à cultura corporal, assim
como áreas pertinentes que permitam aos alunos compreender o corpo como um todo
sem fracioná-lo em parte física e cognitiva; assim neste bloco de conteúdos, podemos
entender que incluir manifestações da cultura corporal devem ser baseadas nas
características de intenção à expressão e à comunicação, por meios de gestos e com
presença de estímulos sonoros como primordiais para o movimento corporal, e neste
caso, dando destaque às atividades rítmicas como a dança ou brincadeiras cantadas.
Embora tenhamos conhecimento que o país seja tão rico em sua diversidade
cultural e que a dança seja uma de suas manifestações mais expressivas entre os
adolescentes e jovens, peca-se por não oferecer o ensino dessas manifestações no
contexto escolar, como fator de relevante importância nas escolas e oportunizando ao
professor, ser o mediador das manifestações expressivas e culturais tão ricas em
nossa sociedade.
Dessa forma, o presente artigo tem por objetivo refletir sobre a linguagem corporal
do movimento, dança-educação e o ensino da dança no contexto escolar, tendo como
base referências bibliográficas.
Apresentar-se-á a dança como área de conhecimento, de expressão e
movimento, mediadora na educação e cunhada pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, onde a dança faça parte das disciplinas escolares Artes e Educação Física,
com suas possíveis formas de mediar as expressões, movimentos, educação e
vivências no contexto escolar e salientar a afirmação de Nanni (2002, p. 130), que diz:
“A Dança/Educação procurando desenvolver potencialidades integradas do ser,
concorre para a educação integral. Ela é a expressão natural e verdadeira do ser
humano”.

2. A DANÇA

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


16

Antes mesmo de o homem falar, ele dançou. Dançou para se manifestar, para se
comunicar e para se expressar. Dançou para a beleza física, para a guerra, para a
educação, para a fertilidade da terra e da sua própria espécie. Dançou em
falecimentos, casamentos, nascimentos e dançou para os deuses para pedir sol ou
chuva. O homem sempre dançou e como mostra Baiak (2007, p. 20), “O homem
primitivo dançava porque não sabia falar, hoje os homens falam, mas continuam
dançando, não como antes, mas dançam, mesmo depois de anos de evolução e
transformação”.
A história da dança poderia ser tão longa quanto a história da humanidade. Não é
possível dizer quando a dança tornou-se parte da cultura humana. A dança tem sido,
certamente uma parte importante de cerimônias, rituais, celebrações e entretenimento
desde antes do nascimento das primeiras civilizações humanas. Nanni (2003, p. 01)
corrobora com este pensamento quando diz que: “A Dança - em sua essência - como
manifestação primitiva, era um mergulho no mundo mágico, onde os movimentos
espontâneos surgiram da imaginação, liberação em forma de súplica e agradecimento
aos deuses. [...] mítica, lúdica e religiosa” - e ainda acrescenta que “A evolução e
progresso da Dança através da história não é aleatória. Obedece a padrões [...] ou
nascem da necessidade latente do homem de expressar seus sentimentos e
emoções, desejos e interesses, sonhos ou realidade através [...] de Dança”.
Dessa forma, pode-se compreender que a dança sempre existiu através dos
tempos e em todas as épocas da história, ela teve sua relevância, seja através da
representação de manifestações de seus povos, para aplacar seus deuses e espíritos,
seja para expressar emoções, sentimentos e comunicar-se com os seus e traduzir
suas características culturais. A dança é a manifestação natural do ser humano e
segundo Sá Earp (apud NANNI, 2003, p. 1) “Dança é a expressão da harmonia
universal em movimento” e tendo Baiak que concorda e acrescenta, quando ela diz
que “A dança é uma linguagem universal, através da qual o corpo se expressa, e os
humanos se entendem. Assim como todas as artes, a dança tem um papel importante
na sociedade, a de unir homens, natureza e de ser muito maior do que nós” (BAIAK,
2007, p. 20).
Para denominar os tipos de dança que conhecemos hoje, Bland (1976) (apud
VOLP; GASPARI, 2010, p. 49), “[...] denomina-as de as três faces da dança”, sendo
elas: “Natural - simples prazer do movimento físico; Social - elemento coesivo no grupo

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


17

e Estética - fusão perfeita do abstrato com o humano, da mente com a emoção, da


disciplina com a espontaneidade”.
Os homens primitivos já dançavam. Nos grandes Impérios, os homens dançavam
nos funerais, as mulheres dançavam elementos de acrobacias, dançavam do
nascimento à morte, nas festas, no treinamento militar, na educação das crianças e
para os gregos era importante dominar a arte de dançar tendo até a Musa da Dança
Terpsícore, filha de Zeus. Em Creta “Os deuses ensinaram a dança aos mortais para
que os honrassem e os alegrassem” e para os gregos, o sentido da dança era: “De
essência religiosa, Dom dos imortais e Meio de comunicação com os deuses” (VOLP;
GASPARI, 2010, p. 54-55). Roma muda a essência da dança, pois eles não tinham
essa tradição e sofrem influências de outros povos como dos etruscos e gregos, mas
quando Roma foi destruída, a dança já havia morrido. Na Idade das Trevas ou Idade
Média a doutrina cristã foi o refúgio dos que procuravam bênçãos e paz espiritual,
para limparem o corpo e a alma, onde a mesma era contra a dança, mesmo que fosse
a dança religiosa e mesmo que numa determinada época fosse renegada num outro
momento, Santo Agostinho (354-430 d.C.) também entendeu que a dança era
benéfica e primordial na terra e no céu, e declarou enaltecendo-a: “Ó homem, aprende
a Dançar! Caso contrário, os anjos não saberão o que fazer contigo”. (BAIAK, 2007,
p.20)
Apesar da doutrina cristã se impor e proibir a dança em todas as regiões e em
todas as situações observa-se que: “[...] a dança sobrevive nos vilarejos, nos festivais
populares. Os ritos de fertilidade e as danças curativas garantiam a sobrevivência dos
povos que as praticavam, por isso, mesmo que escondidas, elas continuavam sendo
realizadas nos vilarejos até o século 16”. (VOLP; GASPARI, 2010, p.58).
Apesar de tudo, a dança começou a entrar nos castelos medievais como forma de
entretenimento e cem anos depois, são dados os primeiros passos para a dança da
corte e assim iniciar o Ballet Clássico. No começo da Renascença, as doenças
arrasavam as aldeias, as danças eram intercaladas com as entradas de pratos nos
recintos dos castelos; a aparência física não era tão importante e sim as boas
maneiras. No apogeu da Renascença, pode-se destacar que:

Quando a censura religiosa se atenua um pouco, a concepção


de dança/espetáculo vai mudando, as características dramáticas
começam a aparecer e há um retorno aos mitos. Os

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


18

espectadores são passivos, e artistas e dançarinos passam a


representar heróis e heroínas dos mitos. Essas alterações vão
evoluindo para o que se denominou Dança da corte. (VOLP;
GASPARI, 2010, p. 58).

Acredita-se que, o que se conhece hoje de dança deve muito ao casamento de


Catherine de Médicis, italiana, com Henrique II da França, o que torna vital para a
dança, pois ela traz toda sua vivacidade, alegria, paixão e interesse por artes, para
uma França que está em ascensão. A partir daí grandes Academias de danças foram
fundadas, grandes nomes da dança foram apresentados ao mundo, grandes
bailarinos, incontáveis coreógrafos, os grandes ballets de repertórios, as músicas com
seus compositores famosos, as grandes bailarinas que dançaram papéis que as
imortalizaram, as grandes evoluções de passos, calçados e figurinos de ballets, os
criadores de técnicas e seus defensores, as experiências e as loucuras dos
personagens da dança, fazem e fizeram o que hoje conhecemos por dança e por conta
de toda esta história, a dança sempre estará em constante evolução e transformação.

3. CORPOS EM MOVIMENTO

De acordo com Laban (1978, p. 67), “[...] corpo é nosso instrumento de expressão
por via do movimento. O corpo age como uma orquestra, na qual cada seção está
relacionada com qualquer uma das outras e é uma parte do todo”. Ossona (1988, p.
29) aponta que:

A necessidade de comunicação é inata no homem. Essa


necessidade orientou seu próprio instinto para os meios mais
apropriados com que se expressar, ser compreendido e
entender as manifestações de outros indivíduos. Sem dúvida, na
primeira tentativa de comunicação, o homem se utilizou do
movimento como veículo [...].

Constata-se que tudo à nossa volta está em constante movimento, o ar, a terra,
a água, os seres vivos e os corpos para se comunicar, para pensar, se repetir,

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


19

transformar, para se expressar, para contar sua história através das épocas, para
dançar, e segundo Laban (apud NANNI, 2002, p. 17):

As qualidades dos movimentos introduzem a ideia de pensar por


movimento. Isto faculta ao homem modificar sua conduta de
esforço tornando-os mais humanos e refinar seus hábitos de
movimentos ao desenvolvimento de modalidades diferentes de
configurações de esforços selecionados e aprimorados durante
os períodos da história até finalmente se tornarem expressivos;
a partir daí se transformam em atividades rítmicas orientadas
pelos impulsos interiores se constituindo em Dança.

Constata Ossona (1988, p. 25), que: “Todo movimento, desde mecânico até o
simbólico, contém sempre uma carga expressiva”. Em Brikman (1989, p. 15-16)
observa-se que “[...] através do movimento no contexto do tempo e do espaço, a
pessoa pode adquirir consciência do que acontece com seu próprio corpo”, e ainda
“O movimento constitui uma unidade orgânica de elementos materiais e espirituais
que se integram numa totalidade”.
“O corpo fala sem palavras. Pela linguagem do corpo, você diz muitas coisas aos
outros. E eles têm muitas coisas a dizer a você. Também nosso corpo é antes de tudo
um centro de informações para nós mesmos. É uma linguagem que não mente”
(WEIL; TOMPAKOW, 2001, p. 02).
Rengel (2004, p. 05), ao se referir ao corpo no contexto histórico, diz o seguinte:

Historicamente, o corpo (e este é o corpo que se manifesta! Que


se comunica com e no mundo! O corpo que dança!) sempre foi
muito escondido e reprimido (como sabemos disto!). Não nos
deixemos mais ser contaminados por esta ideia de corpo ser
”coisa” e mente, algo “superior”. Corpo tem vários aspectos, mas
tudo (emoção, reflexão, pensamento, percepção, etc.) é corpo.
Nos nossos melhores e piores momentos o corpo está, o corpo
é. Sem o corpo não conhecemos, não sentimos e não
pensamos.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


20

A partir dessas colocações, acredita-se, então, que para que se possa


desenvolver um trabalho corporal é pertinente conhecer o próprio corpo e esse é o
primeiro passo para que o aluno desenvolva a capacidade de se movimentar perante
um ritmo qualquer. Dessa forma, acredita-se que é imperativo que sejam pesquisados
e analisados os movimentos e possibilidades corporais antes de qualquer atividade
voltada à expressão corporal ou à dança. A partir desse conhecimento, o aluno poderá
agregar um repertório de movimentos, expressões e ritmos e então, será capaz de
assimilar as particularidades que a ação de dançar ou se expressar que traz consigo,
tendo o discernimento de seus limites e das suas capacidades.
Para que o corpo responda e corresponda aos comandos das particularidades
do trabalho expressivo da linguagem corporal, necessita-se criar uma disciplina,
através da prática contínua de movimentos diferenciados, para que corpo se conheça
e potencialize suas descobertas através de gestos e ações. Brikmam (1989, p. 16)
sentencia que “[...] a expressão corporal funcionaliza a linguagem do corpo em suas
estruturações, componentes e desenvolvimentos” e continua “[...] sua prática leva à
manifestação da personalidade, a um conhecimento e uma consciência mais
completos, para fora e para dentro de si mesmo [...] capaz de promover uma profunda
transformação da atitude básica da personalidade” (BRIKMAN, 1989, p. 16).
Assim sendo, ressalta-se que os movimentos e expressões a serem
trabalhados devem abranger o corpo como um todo e jamais de forma fragmentada,
para que o aluno seja trabalhado em sua totalidade, fato que Laban (1978, p. 47)
afirma que “[...] a fluência do movimento é francamente influenciada pela ordem em
que são acionadas as diferentes partes do corpo”.
Nesse sentido, espera-se que, com o conhecimento adquirido sobre si mesmo,
em relação aos movimentos e à linguagem corporal, o aluno esteja preparado para
saber representar a sua vivência e o seu interior, tendo conhecimento dos outros,
identificando e selecionando movimentos apropriados à sua atuação de forma mais
simples, livre e primária, conforme afirma Laban (1978, p. 104), “[...] o melhor meio de
adquirir e desenvolver a capacidade de usar o movimento como meio de expressão
no palco é executar cenas com movimentos simples”. Brikman (1989, p. 19/99)
complementa, dizendo:

A aptidão criadora se expressa na capacidade de transformar o


próprio movimento corporal, isto é, na capacidade de perceber a

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


21

peculiaridade de seu movimento, de suas possibilidades


pessoais, e de enriquecê-las, tudo isso devido à aptidão de sentir
da forma mais profunda, gerada por uma conexão íntima consigo
mesmo, por uma harmonia interior, que gera, naturalmente, por
sua vez, novas formas de movimento [...]. O hábito do
movimento livre faz do movimento um ato de constante criação.
A partir de uma imagem, de um desejo espontâneo não-utilitário,
segue-se um desenvolvimento imprevisível.

Pode-se inferir que, com o movimento o indivíduo transmuta comportamentos,


que os torna visíveis ao seu redor. Segundo Nanni (2002, p. 17): “O movimento é a
relação das atitudes internas com as formas externas permitindo ao indivíduo
transformar seus símbolos de emoções, em ações através de padrões ritmados e
interligados com o UNIVERSO. É o meio do HOMEM participar do ritmo Universal”.
Diante do exposto, nota-se que a expressão corporal e o movimento fazem uso
de uma linguagem à qual as pessoas querem expor a si mesmas, aos outros e ao
mundo; tudo é movimento, tudo gira através do movimento. Como diz Brikman (1989,
p. 87) “O homem está constituído por uma mente que pensa, uma alma que sente e
um corpo que expressa esse todo. O corpo não é apenas um veículo; constitui o
principal modo de percepção e expressão do homem. A expressão corporal permite
projetar a essência criadora do corpo”.
Na concepção de Strazzacappa (2001, p. 69), observamos que o “[...] indivíduo
age no mundo através de seu corpo, mais especificamente através do movimento” e
salienta que “[...] o movimento corporal que possibilita as pessoas de se comunicarem,
trabalharem, aprenderem, sentirem o mundo e serem sentidos”.
Assim, diante dessas acepções, conclui-se que, o corpo é o canal pelo qual o
indivíduo se expressa e se comunica através dos movimentos, visando que os
mesmos sejam sinônimos de prazer e bem estar, como também, um veículo através
do qual possa mostrar-se e expressar-se ao mundo.

4. DANÇA E EDUCAÇÃO

É importante ressaltar que os PCNs, privilegiam a dança, um elemento da cultura


corporal, através da Educação Física escolar, como componente do conteúdo das

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


22

Atividades Rítmicas e Expressivas, cabendo a mesma o objetivo de incentivar os


alunos no experimento de movimentos próprios a fim de pesquisar e estudar o próprio
corpo, dando origem aos novos movimentos.

Gallardo (apud EHRENBERG, 2003, p. 57) ao se referir à dança, “[...]


considera-a como uma forma de comunicação que se utiliza da linguagem corporal,
podendo expressar ideias, sentimentos e emoções através de seus gestos” - e os
autores Carbonera e Carbonera (2003, p. 07) definem a dança como:

A dança é movimento e não pode ser satisfatoriamente descrita,


verbalizada, é essencial vivê-la, senti-la, experimentá-la. É
inerente ao ser humano, em qualquer um de nós, em qualquer
homem ou mulher que transita pela rua. É necessário
desmistificá-la, desenterrá-la, cultivá-la e compartilhá-la.

Fux sentencia que a dança “[...] é a poesia encarnada nos íntimos impulsos de
um corpo, em seus ritmos e gestos” (FUX, 1983, p. 19) e para Collier (2001, p. 01), “A
Dança apesar de sua origem popular e rotineira é considerada Arte, sendo a mais
antiga manifestação artística criada pelo homem”.
Com o passar dos tempos e dos fatos históricos, o homem evoluiu e com ele
a dança também, tanto em seus conceitos quanto na própria forma de movimentar-se
e de enxergar seu novo lugar na sociedade, como afirma Nanni (2003, p. 07):

Como toda atividade humana, a Dança sofreu o destino das


formas e das instituições sociais. Assim, essas perspectivas
abrem uma relação entre as peculiaridades, características e o
caráter dos movimentos dançantes e o desenvolvimento sócio-
cultural dos povos em todos os tempos.

A partir desses levantamentos, observa-se que, a dança aliada às mudanças


promovidas no indivíduo, na história, na sociedade e alicerçada pela educação é um
relevante estímulo para o espírito, que colabora para a evolução das capacidades do
homem, promovendo o desenvolvimento físico, mental e sua parte emocional. “A
dança permite, pelo processo educacional, a utilização do processo criativo, e por

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


23

meio deste, criar novas formas e explorá-las até seu limite”, o que afirma Nanni (2002,
p. 129) e ainda complementa “A dança predispõe o homem a desenvolver e aprimorar
suas características sensoriais, emocionais, afetivas, sensibilizando pela apreciação
do belo, do estético e do moral por ser uma arte conceitual”.
Para oportunizar aos alunos, no quesito de aprimorar os elementos da cultura
corporal do movimento, nota-se que a dança é um elemento importante na educação
escolar, por observar que a aprendizagem ocorre através das relações externas e
internas de um indivíduo, através do aumento da sociabilização, criatividade,
comunicação e a sua consciência corporal.
De acordo com o dicionário, reza-se a educação como:

Ato ou efeito de educar (-se). Processo de desenvolvimento da


capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser
humano em geral, visando à sua melhor integração individual e
social. Os conhecimentos ou as aptidões resultantes de tal
processo; preparo. O cabedal científico e os métodos
empregados na obtenção de tais resultados; instrução, ensino.
Nível ou tipo de ensino. Aperfeiçoamento integral de todas as
faculdades humanas. (HOLLANDA, 1999).

No que tange à Educação, é célebre a frase do educador Paulo Freire que


afirma: “Ninguém educa ninguém, mas ninguém se educa sozinho” e ainda “A
educação pode contribuir para que as pessoas se acomodem ao mundo em que vivem
ou se envolvam na transformação dele” (BARRETO, 1998 p. 59-61).
Ao se referir ao corpo e aos movimentos de expressão corporal, mais
especificamente, a dança, Rengel (2004, p. 05-06) é bem enfática, ao relacionar a
omissão da Educação e ao conhecimento do corpo para o indivíduo, ao afirmar que:

A Educação é falha com o “corpo”. Pelo fato de não serem


suficientemente estimulados e educados para tal, muitos jovens,
crianças e mesmo adultos não percebem o quanto é importante
o movimento e a dança para o bem-estar, e nem mesmo
aprendem a desenvolver a apreciação estética que existe em
ambos, apresentam falta de coordenação motora entre braços e

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


24

pernas, não têm uma postura saudável, têm falta de equilíbrio,


entre outros problemas.

No entanto, Ehrenberg (2003, p. 57-58) já mais otimista, entende que tanto a


dança quanto a educação podem estar juntas, neste processo de
ensino/aprendizagem ao salientar que:

Tanto a dança como a educação podem fazer parte de um


projeto unificado, se acreditarmos que a dança é uma
manifestação cultural do ser humano e que, através da vivência
contextualizada, torna-se possível o acesso a ela e a
possibilidade de sua produção cultural. A escola pode
possibilitar o acesso a esse patrimônio cultural, porque a dança
é cultura, é história, é patrimônio da humanidade.

Os autores Carbonera e Carbonera (2008, p. 44), ressaltam a seguinte


afirmação no que se refere à dança e o processo educacional:

Poderíamos dizer então, que a Dança enquanto um processo


educacional, não se resume simplesmente em aquisição de
habilidades, mas sim, poderá estar contribuindo para o
aprimoramento das habilidades básicas, dos padrões
fundamentais do movimento, no desenvolvimento das
potencialidades humanas e sua relação com o mundo.

Vale ressaltar que a educação pela dança, mostra hoje um fator de extrema
importância, sobretudo se for permitido utilizar como manifestação cultural do
movimento, no contexto escolar, o que viria a enriquecer as aulas de Educação Física,
devido ao seu grande crescimento e riqueza de expressão e atitudes. Nanni (2003, p.
03) destaca com relevância sua importância, “Da virada do século até hoje, o
enriquecimento do ensino da dança viria, através de métodos modernos, onde o corpo
é usado como um todo com inúmeras possibilidades e infinitas combinações de
formas e movimentos como meio de expressão e comunicação”. Ehrenberg (2003, p.
57) também considera a dança como uma forma de comunicação que se utiliza da

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


25

linguagem corporal, podendo expressar ideias, sentimentos e emoções por intermédio


de seus gestos e por isso ela diz que, “[...] reconhecer o valor cultural que a dança
incorpora, passamos a adotar o seu como nosso conceito de dança, além de
relacioná-lo diretamente à educação, afinal esta é uma manifestação artística que
possibilita formas de criação e apreensão cultural”. E ainda complementa:

Tanto a dança como a educação podem fazer parte de um


projeto unificado, se acreditarmos que a dança é uma
manifestação cultural do ser humano e que, através da vivência
contextualizada, torna-se possível o acesso a ela e a
possibilidade de sua produção cultural. A escola pode
possibilitar o acesso a esse patrimônio cultural, porque a dança
é cultura, é história, é patrimônio da humanidade.
(EHRENBERG, 2003, p. 57-58).

5. DANÇA NO CONTEXTO ESCOLAR

Embora já dito que os PCNs orientem que a Educação Física oportunize e valorize
os alunos desde muito cedo, no quesito da democratização, humanização e
diversificação de sua conduta pedagógica, observa-se que, na maior parte das
escolas, o exercício de jogos competitivos ainda prevalece, em detrimento da dança
e das atividades expressivas, usando-as como atividades extracurriculares onde o
aluno faz a opção, caso queira.
Diante desta realidade, Collier (2001, p. 03) infere:

Para que a dança saia dos planejamentos e passe a ser


conteúdo presente nas aulas de Educação Física é mister que
se modifique a visão que a sociedade tem da mesma. Esta
modificação começa na escola com a valorização do movimento
natural e criativo que permita a expressão dos seus
participantes.

Para Ferreira (2009), é importante a exposição de treinos e ensinos


pedagógicos e raciocínios teóricos que oportunizem a dança no contexto escolar e

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


26

que a mesma possa ser um instrumento que colabore no decurso do ensino e


aprendizagem dos alunos.

A escola pode oferecer a dança como suporte da comunicação


e da expressão corporal. A dança na escola pode desenvolver
contínuas experiências que se iniciam espontaneamente
evoluindo para temas de dança formalizada. Por meio da dança,
a escola pode contribuir para o resgate da cultura brasileira
como forma de despertar a identidade social do aluno no projeto
de construção da cidadania, além de promover uma maior
interação social e fazê-lo participar do processo de
ensino/aprendizagem. (FERREIRA, 2009, p. 12-13)

Ferreira (2009, p. 13) ainda alerta que a dança na escola, “[...] deve estar
voltada para auxílio, aquisição e manutenção da saúde e aptidão social, mental,
psíquica e física” e fala da parceria com a Educação Física, analisando: “Sua prática
deve contribuir para a consecução dos objetivos primeiros da Educação Física:
formação básica e educação dos movimentos”.
Coaduna-se com essas reflexões a autora Strazzacappa (2001, p. 71) ao
ressaltar que:

A dança no espaço escolar busca o desenvolvimento não


apenas das capacidades motoras das crianças e adolescentes,
como de suas capacidades imaginativas e criativas. As
atividades de dança se diferenciam daquelas normalmente
propostas pela educação física, pois não caracterizam o corpo
da criança como um apanhado de alavancas e articulações do
tecnicismo esportivo, nem apresentam um caráter competitivo,
comumente presente nos jogos desportivos. Ao contrário, o
corpo expressa suas emoções e estas podem ser
compartilhadas com outras crianças que participam de uma
coreografia de grupo.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


27

Marques (2007, p. 17), também empenhada na concretização da dança na


escola, tem o seguinte pensamento:

[...] Neste mar de possibilidade, características da época em que


vivemos, talvez seja este o momento mais propício para também
refletirmos criticamente sobre a função e o papel da dança na
escola formal, sabendo que este não é – e talvez não deva ser -
único lugar para se aprender dança com qualidade,
profundidade, compromisso, amplitude e responsabilidade. No
entanto, a escola é hoje, sem dúvida, um lugar privilegiado para
que isto aconteça e, enquanto ela existir, a dança não poderá
continuar mais sendo sinônimo de” festinhas de fim-de-ano.

Diante dessas perspectivas, os autores Carbonera e Carbonera (2008, p. 38)


fazem a seguinte reflexão em relação à dança no contexto escolar:

A dança no contexto escolar pode ser uma forma muito


construtiva de experiência lúdica, pois está ao alcance de todos,
uma vez que seu instrumento principal é o corpo. Sem a intenção
de formar bailarinos, a escola pode proporcionar ao aluno um
contato mais efetivo e intimista com a possibilidade de se
expressar criativamente com o movimento [...]. A dança é, sem
dúvida, uma das maiores catalisadoras da manifestação e
expressão do movimento humano. No âmbito educativo, ela é
pedagógica e ensina tanto quanto os esportes, jogos e
brincadeiras. A dança pode (e deve) ser usada como meio de
crítica social para o questionamento de valores
preestabelecidos, padrões repetitivos e modismos, como, por
exemplo, as coreografias com fortes apelos sexuais, que
aparecem incessantemente em programas de TV.

Ehrenberg (2003, p. 13) também tem a visão de que a dança agrega valores
no contexto escolar, por meio da Educação física quando objetiva: “A Educação Física
possui conhecimentos específicos a serem tratados pedagogicamente no contexto

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


28

escolar. Entre esses conhecimentos, encontra-se a dança” e em sua perspectiva,


Ferreira ressalta a modalidade no contexto escolar: “Na Dança Escolar, devem-se
valorizar as possibilidades expressivas de cada aluno, permitir a expressão
espontânea e favorecer o surgimento dela, abandonando a formação técnica formal,
que pode vir a esvaziar o aspecto verdadeiramente educacional da dança”
(FERREIRA, 2009, p. 15).
Marques (2007, p. 24), com base em seus estudos da dança na escola, destaca
o seguinte apontamento:

A escola pode, sim, fornecer parâmetros para sistematização e


apropriação crítica, consciente e transformadora dos conteúdos
específicos da dança e, portanto, da sociedade. A escola teria,
assim, o papel não de “soltar” ou de reproduzir, mas sim de
instrumentalizar e de construir conhecimento em/ por meio da
dança com seus alunos, pois, ela é forma de conhecimento,
elemento essencial para a educação do ser social.

Pode-se depreender, com base nesses autores que, as aulas de dança no


contexto escolar, podem envolver tanto o aluno quanto o ambiente em que estão,
oportunizando para que os mesmos busquem novas maneiras de movimento diante
da realidade em que vivem, incitando a troca de informações com os colegas e sendo
a facilitadora na resolução dos problemas propostos, criando relações e como
consequência, produzir mais conhecimento.
Esses pensamentos vêm de encontro ao que sugere Ferreira (2009, p. 16), no
que concerne aos conteúdos de uma aula de dança escolar:

Os conteúdos selecionados para uma aula de Dança escolar


devem promover uma concepção científica do mundo, a
formação de interesse, e devem emergir da realidade dinâmica
e concreta do aluno. Assim, quando se fala em valorizar a
capacidade expressiva espontânea de aluno, sugere-se
trabalhar com danças de livre interpretação, com interpretação
de temas figurados, com conteúdos relacionados a realidade e
com expressão corporal geral.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


29

Ferreira (2009) enfatiza que deve dar prioridade aos alunos para o
desenvolvimento dos movimentos naturais, trabalhando as qualidades lúdicas deles,
e ainda, oportunizar suas manifestações criativas como fontes de comunicação e do
poder da expressão corporal, e agregando ainda os quatro impulsos primários que o
indivíduo possui: sentimento, ritmo, movimento e expressão, onde todos unidos
formarão a base para o estímulo da dança.

A Dança escolar tem que se preocupar com a formação ética, a


adaptação social, a organização do trabalho, o tratamento da
informação e com o desenvolvimento psicomotor da criança,
competências essas que são primordiais no cotidiano humano.
(FERREIRA, 2009, p. 28).

Marques (2007, p. 85/101) a partir de seus estudos, pesquisas, conhecimentos


e trabalhos sobre implantar a dança no contexto escolar, faz a seguinte análise:

A valorização da dança como forma de conhecimento, a


mudança de atitude e o nível de compromisso com a educação
podem ser considerados como um salto qualitativo nos
programas da rede municipal, se não o mais importante dos
ganhos desse processo educacional [...] A dança na escola tem
como compromisso social ampliar o escopo, a visão e as
vivências corporais do aluno em sociedade a ponto de torná-lo
um sujeito criador-pensante de posse de uma linguagem
artística transformadora.

Hoje se fala da dança educativa ou dança-educação, dança expressiva, dança


moderna ou ainda dança criativa que de acordo com Marques (2007, p. 141-142),
todas podem ser sinônimos da própria dança que se ensina nas escolas, ao ressaltar
que:

O processo histórico tanto da dança quanto da educação das


últimas décadas/séculos já pode ser visto, analisado e

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


30

desconstruído a partir de uma perspectiva mais crítica. Será que


ainda necessitamos de tantos termos diferentes, e ao mesmo
tempo semelhantes, para nos referirmos à dança em contexto
educacional dirigida às crianças e aos jovens? Porque, afinal de
contas, não serão todas as danças realmente educativas se
forem ensinadas de tal modo que os alunos possam
compreender, sentir, verbalizar, contextualizar e apreciar aquilo
que estão fazendo? Será que não poderíamos dizer que
estamos simplesmente ensinando “dança” nas escolas.

Texto completo disponível em:


file:///C:/Users/Jessica/Downloads/sumario7%20(1).pdf.

MATERIAL COMPLEMENTAR:

VÍDEO: Linguagem do corpo

https://www.youtube.com/watch?v=pAdET5X22VE.

___________________________________________________________________
Referências

FERREIRA, Nathalia Botura de Paula. A arte e a formação humana: implicações para


o ensino de literatura. In: MARTINS, LM., and DUARTE, N., orgs. Formação de
professores: limites contemporâneos e alternativas necessárias [online]. São Paulo:
Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo


31

LOPES, Jéssica de Freitas. Práticas textuais na Licenciatura em Educação do campo:


mundos que se tecem em busca de sentidos. Dissertação de Mestrado, Programa de
Pós-graduação em Educação, Universidade Federal de Viçosa, 2017.

READ, Herbert. A educação pela arte. Tradução de Ana Maria Rabaça e Luis Filipe
Silva Teixeira. 70 ed, Lisboa-Portugal, 1958.

SANTOS, Boaventura de Sousa. Para um novo senso comum: a ciência, o direito e


a política na transição paradigmática. V. 1. A crítica da razão indolente: contra o
desperdício da experiência. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2011.

SANTOS, Mariele Mota. A perda da significação da arte na sociedade capitalista.


Florianópolis, 2013.

SETENTA, Jussara Sobreira. O fazer-dizer do corpo dança e performatividade.


Salvador, 2008.

Metodologia do Ensino de Artes/ Linguagem do Corpo

Você também pode gostar