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25/04/2020 Mistério sobre leões que mataram 135 pessoas finalmente é desvendado - Ciência e Saúde

Mistério sobre leões que mataram 135 pessoas


finalmente é desvendado
Mortos em 1898 por comerem 135 operários em Tsavo, os leões recorreram
ao comportamento inesperado porque tinham infecções nos dentes que os
impediam de se alimentar de presas maiores, revela estudo norte-americano

PO Paloma Oliveto

postado em 22/04/2017 06:00

Coronel John Henry Patterson com um dos animais mortos: estudo foi feito pela
análise de imagens 3D dos dentes dos machos
(foto: The Field Museum/Divulgação)

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25/04/2020 Mistério sobre leões que mataram 135 pessoas finalmente é desvendado - Ciência e Saúde

“São devoradores de homens, feras que caçam e matam por prazer, não
para se alimentar! Eles tomaram o gosto pela caça e pela carne dos
homens e nada mais vai satisfazê-los.”
John Henry Patterson

Tsavo era só uma região da savana do Quênia, banhada pelo rio de


mesmo nome, tão desconhecida do Ocidente como se poderia esperar
de uma localidade remota em pleno fim de século 19. Mas dois leões a
colocaram no mapa mundial quando, em março de 1898, começaram a
devorar os homens que trabalhavam para erguer uma ferrovia
encomendada pelo império britânico. Um a um, comeram 135
operários indianos, suspendendo a obra por nove longos meses, até
serem abatidos, no fim daquele ano, pelo coronel John Henry
Patterson. O caçador irlandês tornou-se uma celebridade, posou com
as enormes feras já inertes e faturou milhões com o livro Os comedores
de homens de Tsavo e outras aventuras da África Ocidental, lançado
quase 10 anos depois.
 
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Patterson também lucrou com os corpos dos animais. Vendeu a dupla
de machos ao Museu Field, em Chicago, por US$ 5 mil, uma quantia
considerável naqueles tempos. Hoje, eles repousam placidamente em
um diorama, um pouco menores do que em vida, compondo o cenário
perfeito para visitantes que gostam de postar selfies ao lado dos felinos
legendários. Além de atração turística, as feras serviram de objeto de
pesquisa ao museu norte-americano. Ao estudar os fósseis, cientistas
da instituição apresentaram, na revista Scientific Reports, uma nova
teoria para explicar o motivo de tamanha matança.

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O zoólogo do museu Bruce Patterson, que não tem qualquer


parentesco com o homem que abateu os leões, é fascinado pela
história dos felinos. Já passou, inclusive, uma década estudando o
comportamento dos descendentes da famosa dupla, que virou tema de
três filmes hollywoodianos. De acordo com o cientista, que é coautor
do artigo, a causa de tanta fúria é menos glamourosa que a sugerida
pelo coronel. Na realidade, o motivo seria uma severa doença
periodontal. Abcessos orais impediram que ambos caçassem suas
presas à moda leonina: usar a mandíbula para segurar animais
igualmente fortes e lépidos, como zebras, e sufocá-los. Sem mais
conseguir fazer a manobra e famintas, as feras feridas não tiveram
opção, a não ser apelar para um bicho muito mais fácil de matar e que,
por ocasião da construção da ferrovia, encontrava-se aos montes na
região.

Relatos exagerados
Por muito tempo, sugeriu-se que os leões de Tsavo atacaram os
operários porque uma seca severa no Quênia havia exterminado boa
parte das presas. Contribuiu para o mistério ao redor da dupla o fato de
J. H. Patterson ter carregado nas tintas, relatando de forma exagerada a
ação dos animais. Ele narrou, por exemplo, a angustiante sensação de
ouvir as feras mastigarem os ossos de uma vítima, bem próximas ao
abrigo do coronel. Contudo, o estudo dos pesquisadores do Museu
Field descobriu que os dentes dos leões não apresentam sinais de
desgaste esperado de um animal que, como as hienas, come ossos.

Essa não é, aliás, a primeira vez que o coronel britânico é pego na


mentira. Em 2009, um estudo publicado na revista Pnas, que também
investigou os fósseis do museu, garantiu que as vítimas humanas
chegaram a, no máximo, 35. Além disso, não foram apenas os dois leões
abatidos por Patterson que fizeram o banquete humano — eles

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comeram mais que os outros, mas havia um grupo maior de animais


envolvidos.

Análise microscópica
Agora, a equipe do Museu Field matou a charada de mais de 100 anos
usando a moderna tecnologia de impressão 3D. Os pesquisadores
fizeram imagens tridimensionais dos dentes fossilizados dos leões e
imprimiram moldes tridimensionais das peças. Então, aplicaram uma
técnica chamada análise de microtextura dental, pela qual se avalia, em
escala microscópica, desgastes e orifícios dos dentes, resultantes de seu
uso. No lugar de marcas esperadas de um devorador de ossos, os
cientistas descobriram que os padrões de mordida estavam mais
compatíveis com a alimentação de um leão de zoológico, que recebe a
carne já desossada, do que a de uma fera selvagem.

“Os testes também mostraram que os dentes estavam muito


estragados. Não por mastigarem ossos, mas por uma doença dental
muito grave. Eles tinham abcessos da raiz à ponta dos caninos, uma
infecção que deveria provocar muita dor e que tornava a caça normal
impossível”, conta Patterson (o zoólogo). “A doença impediu que eles
fossem atrás de animais grandes e que oferecem muita resistência. O
homem é muito mais fácil de se caçar porque somos mais fracos, mais
vagarosos e sem meios de defesa contra feras”, observa. “Além disso, o
acampamento dos trabalhadores invadiu o território dos leões. Esses
animais estavam feridos, e leões feridos são muito mais perigosos,
porque mudam seu comportamento e não vão se deixar morrer de
fome”, revela.

Segundo o cientista, ao contrário do que se possa imaginar, é muito


raro leões atacarem seres humanos, mesmo em seu hábitat natural.
Para ele, grande parte do fascínio em torno dos leões de Tsavo se deve à
simbologia da história. Afinal, eles interromperam as obras do

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poderoso império britânico, que teve de aguardar nove meses para


retomar os planos da construção da ferrovia.

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