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Ciência Política

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Definição
clássica
de Estado
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Povo

Elementos
Constitutivos do
Estado
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2.3. As ideologias políticas
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2.3. As ideologias políticas

A História conta-nos que os termos política de direita e política de


esquerda surgiram na Revolução Francesa, no século XVIII, e
estavam relacionados com o lugar que os políticos ocupavam no
parlamento francês. Quem queria que o rei tivesse mais poder,
estava sentado à direita. Quem queria que o rei tivesse
menos poder, sentava-se à esquerda.

"Nós começamos a reconhecer uns aos outros: aqueles que eram leais
a religião e ao rei, ficaram sentados à direita, de modo a evitar os gritos,
os juramentos e indecências que tinham rédea livre no lado oposto“
Barão de Gauville
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2.3. As ideologias políticas

Qual a diferença entre esquerda, direita, liberal e conservador?

As principais diferenças entre as ideologias de esquerda e de direita centram-


se em torno dos direitos dos indivíduos e o papel do governo.
A esquerda acredita que a sociedade fica melhor quando um governo tem um
maior papel, garantindo direitos e promovendo a igualdade entre todos.
Por sua vez, as pessoas de direita acreditam que a sociedade progride quando
os direitos individuais e as liberdades civis têm prioridade, e o poder do
governo é minimizado.
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2.3. As ideologias políticas

O que é ser de esquerda ou de direita?

Há partidos de direita, há partidos de esquerda e há partidos do centro.


É como se existisse uma linha que divide os principais pensamentos de
cada um, conforme o que defendem. Mas o que é que isso significa?
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O que é a Esquerda? O que é a Direita?


A ideologia defende uma menor
A ideologia de esquerda defende que o participação do governo na sociedade,
governo deve garantir o bem dos deixando que o próprio mercado dite suas
cidadãos. Para isso, ele deve ser grande regras.
e forte, controlando todos os setores da A direita defende uma maior
sociedade, regulando as empresas e responsabilidade individual das pessoas e
cobrando impostos. autonomia das empresas, com menos
As suas ideias são inspiradas no impostos e regulamentação.
socialismo e no comunismo O seu enquadramento teórico vem do
liberalismo.
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Progresso Tradição

Quem é de Direita considera que o


As ideias de Esquerda assentam
melhor para todos é que a sociedade
também na convicção de que a
mude pouco e é por isso que são
sociedade precisa de mudar para ser
apelidados de conservadores.
melhorada. E é por isso que as
Normalmente, a direita é contra
pessoas deste quadrante político
mudanças que ponham em causa os
falam sempre em progresso e
valores mais tradicionais ligados à
evolução.
família ou à religião.
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Mais Estado Menos Estado


Os partidos de Esquerda acham que A Direita diz que o Estado deve interferir
o Estado é o instrumento o menos possível na sociedade. Para
fundamental para melhorar um país, estes partidos, o Estado atrapalha, é
porque tem em conta os interesses mais difícil de gerir e, porque é muito
de todos e não de um só grupo de grande, causa mais dificuldades e não
pessoas ou empresas. Acreditam que tem em conta os problemas individuais
os serviços como as escolas e os das empresas.
hospitais devem ser públicos e
gratuitos.
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Igualdade Liberdade

A luta contra as desigualdades sociais é Para as pessoas de direita, o melhor para

uma das ideias centrais para a Esquerda. um país é que todos tenham liberdade,

Para as pessoas deste lado da política, é nomeadamente de iniciativa. A igualdade,

melhor para a sociedade que se defenda para a Direita, não é tão importante como a

mais o interesse coletivo do que o ideia de liberdade: acham que a sociedade

interesse individual. O objetivo é acabar fica melhor se ninguém estiver impedido de

com a desigualdade entre os ricos e os fazer o que quer para melhorar a sua vida.

pobres. O melhor, dizem, é que não haja Ou seja, a todos deve ser dada a

nem ricos nem pobres: todos devem ser oportunidade para ter mais, premiando

iguais. quem o consegue.


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Ajudar os trabalhadores Ajudar os patrões

Os ideais de esquerda têm como Quem é de direita acha que se os donos


interesse fundamental defender os das empresas tiverem mais condições e
trabalhadores. Proteger os seus direitos e mais possibilidades de fazerem crescer o
as suas necessidades é, para os atores seu negócio, melhor vai ser também para
políticos desta ala, muito importante, os seus trabalhadores, porque, em teoria,
porque acredita que a sociedade vai ser vão poder pagar-lhes mais e dar trabalho a
melhor se os trabalhadores receberem mais pessoas.
salários justos e tiverem condições de
trabalho dignas.
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Mais impostos Menos impostos

Ser de Esquerda significa normalmente


Fazer a sociedade ter de pagar poucos
achar que se devem pagar mais impostos,
impostos é, para a Direita, um objetivo
desde que os ricos paguem mais do que
importante. Para estes partidos, se se
os pobres. Mais impostos é melhor,
pagar menos impostos, tem-se mais
dizem, porque assim o dinheiro pode ser
dinheiro para poupar, investir ou consumir,
usado para ajudar quem mais precisa e
ajudando a economia. E as famílias assim
para pagar serviços, como a Saúde,
conseguem também pagar serviços como a
tornando-os gratuitos. Ou seja, paga-se
Saúde, que para eles, tendem a dever ser
mais por um lado, mas beneficia-se por
mais privatizados.
outro.
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Causas polémicas Contra as mudanças

A Esquerda tem maior abertura nos Os que se identificam com as ideias de


temas considerados polémicos na Direita são mais tradicionais e não se
nossa sociedade, como o casamento afastam dos valores antigos da família.
entre pessoas do mesmo sexo, o Daí que vários partidos discordem do
aborto em determinadas situações e casamento entre pessoas do mesmo
condições, ou o recurso a barrigas de sexo, da legalização do aborto ou da
aluguer em casos específicos. adoção por homossexuais.
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E o centro, o que é?

Os políticos mais próximos do centro, como os do PS e do PSD,


encontram políticas boas nos dois lados. Por isso, mesmo que
prefiram um deles – o PS está à esquerda e o PSD mais à direita -,
aceitam que é possível conciliar ideias vindas das duas ideologias.
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O PS, o BE, o PCP, o PAN e o LIVRE O PSD, o CDS-PP, O Iniciativa Liberal

estão à esquerda, em Portugal. e o CHEGA estão à direita.

Mas os partidos da mesma área política não são todos iguais. Embora
tenham ideais comuns, defendem prioridades diferentes ou aceitam que
há ideias do seu lado que já estão ultrapassadas ou são menos
importantes do que outras.
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2.3. As ideologias políticas

Esquerda e Direita na política atual


Com o passar dos anos, a divisão entre direita e esquerda foi ficando mais complexa,
pelo que os conceitos de direita e esquerda já não eram suficientes para definir os
ideais políticos dos partidos.
Assim, foi necessária a criação de outras divisões para explicar os diferentes partidos e
as suas reivindicações. As mais utilizadas são: extrema esquerda, esquerda, centro-
esquerda, centro, centro-direita, direita e extrema direita.
Os grupos com ideias mais radicais e extremistas ficam nas pontas, enquanto no centro
ficam os partidos que atuam de forma mais moderada e que possuem um maior apelo
eleitoral.
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2.3. As ideologias políticas

Qual a diferença entre esquerda, direita, liberal e conservador?

Vejamos agora as diferenças entre liberal e conservador. Enquanto os liberais


possuem uma visão mais progressista e a favor de mudanças, os
conservadores possuem uma visão mais tradicional da ordem social existente.
É necessário ressaltar que os conceitos direita, esquerda,
liberal e conservador mudaram bastante desde sua criação e que hoje a linha
entre eles é muito tênue
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O LIBERALISMO

Fundação: movimento que apareceu no séc. XIX – Partido Espanhol de


Liberais (1812).
Antecedentes – Iluminismo escocês – Adam Smith (1723-1790) é o seu
máximo representante; este movimento defendia os ideais iluministas

Especificidade do Iluminismo escocês


- ambiente cultural rico em debates científicos e filosóficos: grandes progressos das
ciências, tanto as naturais como as sociais e humanas e a Filosofia
- crescimento das universidades – alargamento dos cursos oferecidos (deixaram de ensinar
apenas teologia, começaram a ensinar ciências, direito e medicina)
- preocupação com a promoção de valores de urbanidade e civilidade: criação de clubes e
associações (por exemplo, a Sociedade Filosófica de Edimburgo): promoviam debates
entre intelectuais e homens comuns, sobre questões literárias, científicas e filosóficas
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O LIBERALISMO
Especificidade do Iluminismo escocês (Cont.)
- tolerância pela diferença, e respeito pela liberdade de pensamento e de expressão:
David Hume: «Nada neste país é mais capaz de surpreender os estrangeiros do que a
extrema liberdade que desfrutamos de comunicar ao público quando nos aprouver, e de
censurar abertamente qualquer medida que possa ser tomada pelo rei ou pelos seus
ministros.»

superação das precárias condições económicas do país – desenvolvimento da agricultura,


da indústria e do comércio
surgimento de um ambiente propício aos “melhoramentos” – crença no progresso
desenvolvimento dos estudos sobre a sociedade, a mudança social e a natureza da
liberdade

Adam Smith – A Riqueza das Nações (1776, 5 vols.) – cada indivíduo em busca do seu
próprio interesse irá promover o bem comum sem intervenção do Estado. Essa é a mão
invisível do mercado
- na economia de mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do
interesse comunal, a interação dos indivíduos parece resultar numa determinada ordem.
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O LIBERALISMO
Principais representantes do liberalismo – Immanuel Kant (Alemanha (1724-1804), John
Stuart Mill (Inglaterra, 1806-1873), Friedrich August von Hayek (Áustria, 1899-1992), John
Rawls (EUA, 1921-2002) e Robert Nozick (EUA, 1938-2002).

1. Conceções acerca do homem e da sociedade


- individualista: primazia moral da pessoa contra qualquer pretensão da coletividade social
- igualitária: todos os homens o mesmo estatuto moral; nega a relevância de graus de
diferenciação, legais ou políticos, da riqueza moral entre seres humanos
- universalista: unidade moral da espécie humana, com importância secundária para as
associações históricas e as formas culturais específicas
- melhorista: crença no aperfeiçoamento de todas as instituições sociais e dos acordos
políticos
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O LIBERALISMO

2. Princípios fundamentais

Liberdade – conceito definido no século XVIII por Benjamin Constant: a liberdade dos
antigos é diferente da liberdade dos modernos:
 para os antigos, liberdade significa o direito a ser-se ouvido na decisão e na
ação coletiva – é a liberdade republicana
- associa-se à democracia direta: os cidadãos são homens livres na medida em que
decidem, na praça pública, sobre as questões políticas.
- não implica nenhuma emancipação do indivíduo em relação à comunidade – a
liberdade coexiste com a submissão do indivíduo ao coletivo; embora livre de
participar na vida política, o indivíduo não pode escolher a sua religião, nem
exprimir livremente as suas opiniões nem, muitas vezes, escolher a sua atividade.
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O LIBERALISMO
2. Princípios fundamentais
Liberdade – conceito definido no século XVIII por Benjamin Constant: a liberdade dos
antigos é diferente da liberdade dos modernos:
 para os modernos, liberdade significa uma esfera protegida de não-interferência ou
de independência sob o poder da lei
- emergiu na Europa e na América, a partir dos finais do séc. XVIII
- trata-se do gozo da independência privada
- está associada aos direitos do cidadão (liberdades civis e direitos e liberdades políticos)
- implica o império da lei
- permite que cada um escolha a sua religião, exprima as suas opiniões e se dedique à
atividade que bem entender
- os cidadãos podem deslocar-se para onde quiserem, dispor da sua propriedade, ocupar os
dias da forma que acharem mais proveitosa

qualquer compromisso com a liberdade individual implica apoio da propriedade privada e do


mercado livre
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O LIBERALISMO
2. Princípios fundamentais
Igualdade – todas as pessoas têm direito a um tratamento igual, independentemente
das respetivas crenças e conceções de bem, quer as que são, quer as que não são
aprovadas pela sociedade e desde que não violem os direitos das outras pessoas
 pode ser compreendida em relação com a distribuição de determinados bens e,
como qualificativo do respeito que é devido aos sujeitos independentemente da sua
posição social
- do ponto de vista moral, os interesses de cada pessoa têm igual importância,
mas assinala que os liberais têm diferentes conceções sobre o que é tratar as
pessoas com igual consideração e respeito: a grande maioria dos liberais aceita
os direitos à mobilidade, à propriedade pessoal e à participação política, mas
recusa reconhecer quaisquer direitos coletivos, pois creem que apenas o
indivíduo pode ser considerado fonte de direitos válidos
- os políticos liberais conceberam um tipo de legislação a aplicar a todos os
indivíduos, independentemente da sua raça e etnia (colour-blind legislation).
 objetivo: pôr fim a todos os tipos de discriminação e promover a integração
universal dos cidadãos no Estado (em última análise, isso acabaria com as
minorias, pois o exercício da sua “diferença” seria remetido exclusivamente para a
esfera da vida privada)
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O LIBERALISMO
2. Princípios fundamentais

Neutralidade do Estado – princípio que está diretamente relacionado com


- o princípio da prioridade do justo sobre o bem
- o princípio da prioridade do indivíduo sobre a sociedade
 como não existe um critério comum de perfeição para avaliar as preferências
 e como a vida de cada pessoa é conduzida a partir de dentro,

- o Estado tem o dever de respeitar as diferentes conceções de bem, desde que elas
respeitem os princípios da justiça: «o bem comum é ajustado de forma a convir ao
padrão de preferências e conceções de bem que os indivíduos possuem.» (John
Rawls)
- o Estado deve impor uma legislação neutral e igual para todos os cidadãos,
independentemente de quaisquer características particulares que eles possuam
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O LIBERALISMO
3. Governo e Democracia

- o Estado liberal pode ter uma área de funções públicas, para além da proteção dos
direitos e da manutenção de justiça: defesa do Governo limitado ou constitucional:
existem restrições constitucionais ao exercício arbitrário da autoridade governamental
- o governo não pode violar os direitos e liberdades básicas (civis e políticas),
nomeadamente, o direito de propriedade, visto pelos liberais como garantia de uma
maior autonomia dos indivíduos
- o governo democrático ilimitado é uma forma de totalitarismo (porque quaisquer
maiorias políticas temporárias podem alterar as leis)
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O CONSERVADORISMO
- fundado por Edmund Burke (1729-1797, Reino Unido); perfilhado por Alexis de
Tocqueville (1805-1859, França) , por Michael Oakeshott (1901-1990, Reino Unido)
e por Irving Kristol (1920 – EUA).

Burke:
- liberal, favorável às reivindicações das colónias americanas e ao comércio livre
- crítico da Revolução Francesa Reflexões sobre a Revolução na França (1790):
revolução de tendências totalitárias e antiliberais, porque os jacobinos:
 pretendiam destruir a História e a tradição francesas
 agiam como conquistadores: recorriam à força contra o povo
 pretendiam um nivelamento em nome da igualdade
 defendiam o niilismo em nome da liberdade
 defendiam o poder absoluto e total em nome do povo.

a Revolução Francesa foi obra de intelectuais políticos (por exemplo, Rousseau) que
eram inimigos da sua sociedade – convenceram o povo de fantasias como a liberdade,
a igualdade e a justiça absolutas.
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O CONSERVADORISMO

Dogmática do Conservadorismo

1. Defesa dos grupos, associações e instituições intermédios:

aqueles que se situam entre o indivíduo e o Estado, por exemplo, a Igreja,


as classes sociais, a família e a propriedade

Rejeição do individualismo e do nacionalismo radicais


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O CONSERVADORISMO
2. Grande fé na História e na tradição:
- a História é uma experiência concreta que liga os vivos, os mortos e os que estão
para nascer: «Quem nunca olhou para trás, para os seus antepassados, nunca olhará
para a frente, para a posteridade.» (Burke)
- o presente não é livre de refazer a estrutura social segundo a sua vontade
- a legitimidade do Estado é produto da História e das tradições, que vão muito além
dos recursos de uma única geração
- a História expressa-se através da persistência das estruturas, comunidades, hábitos
e preconceitos, geração após geração

 o presente enraíza-se no passado e só pode ser compreendido enquanto enraizado


no passado e projetado no futuro
 a melhor forma de compreender a sociedade é através da abordagem histórica: a
verdadeira Constituição dos povos é a história das instituições (não qualquer
pedaço de papel) – os seus costumes e tradições formados ao longo de séculos
 oposição à mudança (e à revolução) como fim em si mesmo: só se deve mudar
quando é necessário mudar

- Burke defendia a Revolução Americana – correspondeu a uma verdadeira


necessidade de mudança e não a um mero culto da mudança pela mudança

rejeição do “espírito de inovação”


O CONSERVADORISMO Ciência Política

3. Oposição ao racionalismo puro (e, consequentemente, ao Iluminismo)


- o tipo de raciocínio que melhor serve o homem não deriva da lógica pura, mas
principalmente dos sentimentos, das emoções e da experiência: bom senso ou senso
comum
 dá-lhe estabilidade
 ajuda quem hesita no momento de tomar decisões

- tem um valor prático (não vem nos livros, resulta da experiência) – opõe-se ao
caráter abstrato e às generalizações do saber que vem nos livros /alcançado
racionalmente
 crítica ao utopismo e às teorias da reforma política: são ricos em princípios e
em ideais mas pobres em sentido de oportunidade e no aspeto prático, no
“saber como”

- pode ser designado por “preconceito” e é comum a todos os membros de uma


nação, não é privilégio de qualquer classe ou elite intelectual

- a vontade de resistir resulta geralmente dos preconceitos lentamente implantados


nas mentes de um povo: preconceitos sobre religião, propriedade, autonomia
nacional e participação na vida social

 funcionam como forças motivadoras nas lutas dos povos pela liberdade (não
como direitos abstratos, por exemplo, a igualdade)
O CONSERVADORISMO Ciência Política

4. Autoridade e poder

- os valores fundamentais para os conservadores são a autoridade, a propriedade e a


liberdade
- a liberdade é a possibilidade de os homens viverem de acordo com os seus
próprios costumes e tradições

Burke: «A única liberdade a que me refiro é uma liberdade ligada à ordem; que
não só coexiste com a ordem e a virtude mas também não pode existir sem
elas.»

necessidade de meios para reprimir as paixões dos homens, controlar a sua vontade e
contrariar certas tendências
oposição à escola dos direitos naturais – gerou indiferença perante a autoridade das
tradições e dos códigos sociais

- a liberdade exerce-se no âmbito do triangulo formado pela autoridade, pelo indivíduo


e pelo Estado
 a autoridade do Estado exerce-se exclusivamente sobre tudo o que é público –
paz, segurança, ordem e propriedade
 a autoridade do Estado não se aplica a problemas e necessidades da esfera
privada
O CONSERVADORISMO Ciência Política

4. Autoridade e poder

- os poderes do governo diminuem à medida que se desce do Estado à província, da


província à paróquia, da paróquia à casa particular: Burke defende políticas de
descentralização e laissez-faire
- o Estado deve evitar intrometer-se nos assuntos económicos, sociais e morais
- o Estado deve fazer tudo o que é possível para fortalecer e alargar as funções das
famílias, dos vizinhos e das associações cooperativas voluntárias
- rejeição da democracia enquanto governo de massas – agregado que se caracteriza
menos pelo número do que pela falta de estrutura social interna
 a importância atribuída à maioria e aos valores igualitários conduz à ditadura
plebiscitária – totalitarismo
 a sociedade fica desprovida de todas as formas de autoridade que faziam
dela uma organização social
O CONSERVADORISMO Ciência Política
5. Liberdade e igualdade
- liberdade e igualdade são incompatíveis, pois são dois valores com objetivos
contrários:
 a liberdade visa a proteção do indivíduo e da propriedade da família (material e
imaterial)
 a igualdade visa a redistribuição ou nivelamento dos valores materiais e imateriais
de uma dada comunidade
o esforço para compensar as desigualdades inatas só pode prejudicar a liberdade dos
indivíduos (principalmente os mais fortes e os mais inteligentes) e as dos grupos
intermédios
- «Aqueles que procuram nivelar nunca igualam» (Burke)
- embora os conservadores defendam a igualdade perante a lei, pensam que por
vezes ela destrói a tradição

opõem-se aos programas de redistribuição, reconhecimento de direitos especiais e


ação afirmativa – destroem a diversidade social e as hierarquias sociais
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O SOCIALISMO

Palavra derivada de social e se opõe a individualismo (1.º na Grã-Bretanha, depois em


França)
Socialismo Utópico - principais nomes: Fourier, Owen, Saint-Simon, Proudhon
- defesa de sociedade justa e igualitária
- eliminação da propriedade privada
- condenação da divisão da sociedade em classes, estados e castas
- distribuição justa dos bens materiais, segundo o trabalho e / ou as
necessidades
Crítica: os socialistas utópicos não conseguiram descobrir as leis do desenvolvimento
social do capitalismo
Socialismo Científico: Marx e Engels – descobriram as leis do desenvolvimento
social:
1.1. Materialismo histórico
1.2. Lei da Mais-valia
O SOCIALISMO Ciência Política

1.1. Materialismo histórico


- os homens são os autores e os atores da História
- para estudar a História, deve-se começar por estudar a economia, as relações de
trabalho, o estado das forças produtivas

Forças produtivas: meios e instrumentos de trabalho (ferramentas, máquinas, fontes


energéticas, matérias-primas e materiais + trabalho dos homens): «As relações sociais
estão intimamente ligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os
homens mudam o seu modo de produção e mudando o seu modo de produção, a
maneira de ganhar a sua vida, eles transformam as suas relações sociais. O moinho a
braços, dar-vos-á a sociedade com o suserano, o moinho a vapor dar-vos-á a
sociedade com o capitalista industrial.» (Marx)

Relações de Produção: por exemplo, relação entre suserano e vassalo, relação entre
capitalista e proletário: «Na produção social da sua existência, os homens entram em
relações determinadas, necessárias, independentes da sua vontade, relações de
produção que correspondem a um grau de desenvolvimento determinado das suas
forças produtivas materiais. O conjunto destas relações de produção constitui a
estrutura económica da sociedade e a base concreta sobre a qual se ergue uma
superestrutura jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência social
determinadas.» (Marx)
1) Forças produtivas + 2) Relações de produção = Modo de produção
- relação dialética: 1) e 2) determinam-se mutuamente
O SOCIALISMO Ciência Política

1.1. Materialismo histórico

Mas existe ainda outra relação dialética:

Modo de produção Consciência social


(determina)
Infraestrutura económica Superestrutura jurídica e política

- para compreender a superestrutura, tem de se analisar as condições materiais de


vida (a 1.ª não é independente das 2.as)

- todas as transformações sociais dependem da infraestrutura

Sempre que as forças de produção entram em contradição com as relações de


produção dá-se uma transformação da base económica
Revolução social: desaparecimento da antiga organização e aparecimento de uma
nova superestrutura (ou organização social)

Nota. Só pode acontecer depois de esgotadas todas as forças de produção antigas.


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O SOCIALISMO

1.2. Lei da Mais-valia

Conceito: é a diferença entre o valor criado pelo trabalho e o salário pago


Pode ser criada através de dois recursos geralmente utilizados pelos capitalistas:
- estender a duração da jornada de trabalho mantendo o mesmo salário (absoluta)
- aumentar a produtividade através da mecanização (relativa)
Em qualquer dos casos, o trabalhador produz mais do que necessitaria para subsistir
(em termos fisiológicos e espirituais) e garantir a subsistência dos seus filhos. O
capitalista tem, então, uma mais-valia.
Ciência Política
O SOCIALISMO

2. Proletariado

«Entende-se por proletariado a classe dos trabalhadores assalariados modernos que,


privados dos seus próprios meios de produção, são obrigados, para subsistir, a vender
a sua força de trabalho.» (Engels)
A relação entre capitalista e proletariado é uma relação de exploração: a luta de
classes (iniciada com a invenção da propriedade privada) agudiza-se

Necessidade da revolução – única forma de derrotar o capitalismo: «A revolução


comunista é a rutura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; não
surpreende, portanto, que no curso do seu desenvolvimento ela rompa da forma mais
radical com as ideias tradicionais.» (Marx e Engels)
- exige a união dos trabalhadores de todo o mundo, pois o capital é uma “força
internacional”
- afastamento da burguesia do poder
O SOCIALISMO Ciência Política
2. Proletariado
- inicia-se um período de transição para o comunismo: o socialismo, durante o qual se
institui uma ditadura do proletariado

destruição da base material da exploração do homem pelo homem: abolição da


propriedade privada
construção do socialismo: socialização dos meios de produção, a efetuar através da
estatização / nacionalização e da criação de cooperativas

 a força de trabalho deixa de ser uma mercadoria: deixa de gerar mais-valias


o objetivo da produção deixa de ser o lucro: a concorrência deixa de ter interesse
o objetivo passa a ser a máxima satisfação das necessidades materiais e espirituais dos
membros da sociedade
a produção realiza-se segundo uma plano estatal (controlo do trabalho e do consumo)
os produtos distribuem-se com base no princípio do socialismo: “de cada um segundo as
suas capacidades, a cada um segundo o seu trabalho” (quem trabalha mais recebe mais
– compensações honoríficas)
o Estado é governado pelos trabalhadores (não só os operários): ampla participação e
liberdade – direito de formarem associações, por exemplo, sindicatos, organizações
juvenis, culturais, desportivas, científicas…
considera-se que é democrático tudo aquilo que serve os interesses dos trabalhadores
a função do governo é defender as conquistas do povo e assegurar a construção da
sociedade socialista
O SOCIALISMO Ciência Política
MAS
Ainda não existe igualdade social completa, ainda há injustiça na distribuição de bens (não
é feita segundo as necessidades) – isso só acontecerá na sociedade comunista:

Revolução comunista

- distribuição segundo as necessidades;


- assente no desenvolvimento máximo das forças produtivas e da produção material
e espiritual: graças aos progressos tecnológicos e científicos
- o trabalho será uma atividade livre e criadora (não alienante)
- paulatinamente, extinguir-se-á o Estado e estabelecer-se-á a autogestão social.
O SOCIALISMO Ciência Política
O Socialismo de Eduard Bernstein (1850-1932, Alemanha)
- membro do SPD: Partido Socialista da Alemanha
- propôs a revisão da doutrina marxista: Os Pressupostos do Socialismo e As Tarefas da
Social-Democracia.
- defende um socialismo evolutivo: rejeita a revolução como meio para a criação de uma
sociedade mais justa

O socialismo vai impor-se gradualmente no interior do sistema capitalista e chegará


ao poder através de eleições

- não subscreve a teoria da derrocada inevitável do capitalismo


- rejeita a tese da ditadura do proletariado
- critica o materialismo histórico: além dos fatores económicos, há outros que determinam
os fenómenos sociais (ex. fatores psicológicos)
- a vida em sociedade não se reduz à luta entre a classe dos opressores e a classe dos
oprimidos; há outras classes sociais interligadas e existe também um interesse nacional
superior aos interesses particulares das diferentes classes.
- a socialização da propriedade não é o mesmo que a sua estatização; socializar é
neutralizar a tendência do mercado para dar prioridade ao que é lucrativo sobre o que é
justo
O SOCIALISMO Ciência Política

- o mercado é o melhor mecanismo de funcionamento de muitas das atividades do


homem: o mais eficaz e o mais adequado.
Mas não o é para todas: saúde, educação e infraestruturas não devem submeter-se às
leis do mercado (livre-concorrência, lucro, lei da oferta e da procura).
- defende a melhoria gradual das condições de vida dos trabalhadores, de modo a
permitir-lhes a ascensão à classe média
- o Estado deve obedecer ao imperativo social de dar forma institucional à solidariedade:
porque o homem não é apenas produtor e consumidor, também é pessoa

Conclusões:
 O socialismo é o sistema político mais justo e solidário; acabará por chegar ao poder,
não por motivos económicos (esgotamento do capitalismo) mas por motivos morais – é
eticamente desejável.
 O socialismo é compatível com a democracia.
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2.4. A reflexão contemporânea sobre as


funções e a extensão do Estado

2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick


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2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

Robert Nozick (1938-2002)

Anarquia, Estado e Utopia (1974)


- resposta à publicação de Uma Teoria da Justiça, de Rawls
- defesa da teoria libertária: liberdade como direito básico dos indivíduos, a
par do direito à vida e do direito à propriedade
- reconhecer a liberdade dos indivíduos: impossibilidade de impor restrições
à propriedade (Rawls é inconsistente, porque o princípio da liberdade é
incompatível com o princípio da diferença)

Teorias da Justiça
- teorias de “estado final”: a avaliação das situações distributivas é feita
apenas com base ma análise da sua estrutura (só se tem em conta os
resultados)
- teorias “históricas”: a avaliação das situações distributivas é feita com
base no estudo da forma como as pessoas obtiveram os bens de que
dispõem (tem-se em conta o processo) – são teorias da titularidade
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2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

As teorias padronizadas
a distribuição deve ser feita segundo um padrão e é independente da
produção dos bens – «tratam os objetos como se tivessem surgido de lado
nenhum, a partir do nada»
«Pensar que a tarefa de uma teoria distributiva da justiça é preencher
o espaço em branco em «a cada um de acordo com o seu ___» é
estar predisposto a procurar um padrão…»
Padrões existentes:
- mérito / capacidade / necessidade / estatuto / esforço…
- Nozick discorda: «as coisas vêm ao mundo ligadas às pessoas que têm
direitos sobre elas»
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2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

As teorias históricas – não padronizadas


- não existe nem deve existir padrão de distribuição
- para saber quem é o justo titular de um bem o que interessa é saber quem
o produziu ou adquiriu legitimamente (teorias processuais):
«De cada um de acordo com o que escolhe fazer; a cada um de
acordo com o que ele faz por si (talvez, com a ajuda, contratada, de
outros) e de acordo com o que os outros escolhem fazer por ele,
oferecendo-lhe do que lhes foi dado previamente (com base nesta
máxima) mas ainda não gastaram nem transferiram.»
Ou
«De cada um conforme escolher, a cada um conforme escolherem
dar-lhe.»
Ciência Política
2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

O Exemplo de Wilt Chamberlain (manual pp.57-58)


Se D1 é uma situação justa para o leitor,
E se as pessoas vão ver basquetebol porque querem e colocam 0,25€ na
caixa de Wilt Chamberlain porque querem e ficam satisfeitas com o
desempenho dele,
Então, D2 não é uma distribuição injusta, porque:
- as pessoas passaram voluntariamente de D1 para D2
- as pessoas tinham o direito de dispor livremente dos recursos de que
eram os justos titulares
- as pessoas não envolvidas no contrato continuam a ter as suas legítimas
partes.
Ciência Política
2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

Inferências tiradas por Nozick


- o exemplo mostra que qualquer padrão que tenha levado a D1 pode ser
quebrado pelas ações livres dos indivíduos
- a manutenção de princípios da justiça padronizados torna necessária uma
contínua interferência do Estado nas vidas das pessoas
- a aplicação de princípios da justiça padronizados viola os direitos dos
indivíduos – instrumentaliza-os e viola a sua autonomia moral
Ciência Política
2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

E se as pessoas decidirem não se desviar do padrão?


- não é de esperar que o façam: o mais certo é que algumas mudem de
opinião
- teriam de ter informação sobre quais as ações (suas e dos outros) que
perturbariam o padrão
- teriam de coordenar as suas ações para as ajustar ao padrão

a existência de padrões de distribuição tem custos para a


liberdade: proibição de certas transações ou interferência
contínua no mercado para redistribuir os recursos / propriedade
Ciência Política
2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick

Os Pressupostos Filosóficos de Nozick são Kantianos


- igualdade moral entre os indivíduos: todos têm direitos, logo há coisas que
ninguém pode fazer-lhes sem infringir esses direitos
- têm o direito de ser tratados como fins em si mesmos
- os bens e talentos de um indivíduo fazem parte integrante da sua
individualidade: um atentado a esses bens e talentos é um atentado à sua
dignidade

Estado Mínimo – funções de segurança e relações internacionais. Sem


funções sociais.
Ciência Política
2.4.1. Direitos individuais e Estado mínimo – Robert Nozick
Críticas a Nozick / respostas de Rawls
- o facto de a doação ser voluntária não implica a criação voluntária de D2
- o facto de a doação ser voluntária não torna automaticamente D2 uma
situação justa
- o princípio da liberdade de Rawls é compatível com a interferência do
Estado, porque o que o princípio não distribui a liberdade, põe à disposição
das pessoas um pacote de liberdades básicas que podem usar como
quiserem
- o princípio da diferença pode ser aplicado de uma forma não invasiva das
liberdades básicas – através da cobrança de impostos

Resposta de Nozick: a tributação é o equivalente moderno dos


trabalhos forçados: obriga os contribuintes a oferecerem parte
do produto / tempo do seu trabalho ao Estado (para ele o
redistribuir)

Contrarresposta de Rawls: a tributação aumenta a liberdade dos menos


favorecidos, dando-lhes acesso a um leque de escolhas que de outra forma
não teriam.

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