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Culto Especial de Celebração de 25 anos da Igreja Fonte da Vida.| Foto: Palácio do Planalto/Alan Santos
Os evangélicos, uma das principais bases de apoio político ao presidente Jair Bolsonaro,
têm tido sua figura associada a várias pautas do governo consideradas conservadoras.
Segundo uma pesquisa recente do Datafolha, cristãos protestantes tendem a avaliar de
forma mais positiva a atual gestão.
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14/05/2020 Juristas evangélicos repudiam uso político da religião para obter benefício
No entanto, parte desse grupo religioso, mais recentemente, tem visto a necessidade de vir
a público manifestar oposição à forma como determinadas instituições e líderes têm
compactuado com ações contrárias ao que consideram ser princípios fundamentais do
cristianismo.
É o que fez, em carta aberta lançada nesta sexta-feira (8), a Associação Nacional dos
Juristas Evangélicos (Anajure) em conjunto com importantes organizações e igrejas
históricas. No documento, a associação chama a atenção do poder público, das instituições
e da sociedade em geral para o que considera a atuação mais fiel à cosmovisão cristã na
esfera pública.
"A Anajure entende pela necessidade premente de que as igrejas e organizações religiosas
no geral, bem como os seus membros individualmente, desempenhem a sua vocação na
esfera pública, com coragem, retidão e integridade", diz o texto.
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Troca de benefícios
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O posicionamento da associação é motivado, entre outras coisas, por episódios nos quais
figuras religiosas e instituições evangélicas estariam supostamente envolvidas em alianças
político-partidárias em troca de benefícios. Essas coligações estariam deturpando o
propósito da atuação evangélica na sociedade.
Seria inadmissível que uma igreja, lembra a Anajure, se aproveitasse da proximidade com
o presidente Jair Bolsonaro ou outras pessoas do governo para tentar conseguir vantagens
como o não pagamento de tributos. Há boatos de que instituições, como a Igreja
Internacional da Graça de Deus, com R$ 144 milhões em dívida previdenciária, teria
pedido ajuda ao governo para receber o perdão das dívidas - informação não confirmada
pelo Planalto. Outras 36 instituições com atividade econômica principal definida como
“atividades de organizações religiosas”, com débitos superiores a R$ 1 milhão,
principalmente com a Previdência Social ou em dívidas trabalhistas, estariam interessadas
na mesma "ajuda".
Para o presidente da Anajure, instituições não deveriam se deixar servir de curral eleitoral.
"Nosso compromisso não deve ser com pessoas, mas com a Verdade", afirma. "Nossa
lealdade deve ser com valores e princípios, e a Verdade é o nosso princípio basilar.
Acreditamos que 'Jesus é o Caminho, a Verdade, a Vida'. Se um cristão tiver que denunciar
autoridade pública, por exemplo, porque tomei conhecimento de que ele fez algo que é
corrupto, é imprescindível fazer isso e não se omitir".
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"O pedido para que o Estado subsidie suas dívidas é escandaloso, ainda mais quando
sabemos que há igrejas que funcionam como grandes negócios", afirma o teólogo,
jornalista e fundador da ONG Rio de Paz, Antonio Carlos Costa.
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Os juristas evangélicos da Anajure também entendem que algumas das pautas defendidas
durante as manifestações no último 19 de abril - o fechamento do Congresso Nacional, do
STF, a intervenção militar e a reedição do AI-5 - tentam promover uma violação ao Estado
Democrático de Direito.
"A livre manifestação do pensamento é defensável, pessoas podem ter opiniões, com toda
certeza. Mas não compactuamos com esse grupo, minoritário, que busca intervenção
militar desnecessária, sendo que os poderes estão funcionando", afirma Uziel.
"Vivemos em um Estado Democrático de Direito e a reforma protestante foi uma das bases
para a formação do mesmo e das chamadas liberdades civis fundamentais. Nós
compreendemos que movimentos dessa natureza são autoritários e não devem prosperar.
Não queremos uma Venezuela a la derecha. Por isso, referendamos a Nota do Ministério
da Defesa que se contrapõe a tais iniciativas.".
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Além disso, como as igrejas evangélicas não mantêm um corpo unânime doutrinal - podem
defender ideias diferentes fundamentadas em mesmas passagens bíblicas, de acordo com a
visão da instituição e até com o pastor -, é possível encontrar evangélicos conservadores,
progressistas, que não concordam com os seus irmãos na fé sobre muitos assuntos da esfera
civil.
"Por exemplo, no documento da Anajure, se vê muita ênfase do Estado como aquele que
coíbe o avanço do mal agindo coercitivamente. Mas também é possível, a partir da
cosmovisão cristã, pensar em um Estado que fomente justiças sociais para diminuir a
prática do crime", explica Costa. "Esse debate está presente dentro da igreja, há pessoas
com perspectivas neoliberais e outras que são marxistas e aguardam a revolução do
proletariado".
"Mas a igreja como 'indivíduo' é livre para se filiar a partido político, para lutar pela
implementação da política pública que ele julga mais oportuna", defende Costa.
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Para o teólogo, o fato de Bolsonaro - católico, mas batizado por um pastor no rio Jordão,
em Israel, em 2016, e frequentador de igrejas neopentecostais da qual sua esposa, Michelle
Bolsonaro, participa - estar presente em uma manifestação em que algumas pessoas pedem
a reedição do AI-5, mesmo sem falar nada sobre o tema, já é ir "na contramão do que o
cristianismo apregoa".
"Soma-se a isso o seu comportamento descortês, o fato de que ele não procurou, por
exemplo, a deputada Maria do Rosário para pedir perdão por insinuar que não a estupraria.
É da natureza do cristianismo ser misericordioso, um encontro com Cristo te faz restituir ao
próximo aquilo que dele você roubou."
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