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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
• SABER DEFINIR BIBLICAMENTE QUAL O CONCEITO DE TER FÉ EM DEUS E COMO
ISSO IMPACTA A VIDA CRISTÃ.
• ENTENDER DE QUE MODO A FÉ PERMEIA TODA A CAMINHADA CRISTÃ E NOS
TRAZ A PERCEPÇÃO CORRETA DE NOSSAS MOTIVAÇÕES NO SERVIÇO A DEUS.
• PERCEBER DE MANEIRA CORRETA NOSSA RELAÇÃO COM DEUS PELA FÉ DA
FORMA COMO O PRÓPRIO SENHOR ESPERA.
INTRODUÇÃO
Crer está relacionado com ter fé. A palavra fé tem uma proporção de significado muito grande,
apesar de quase comumente ser usada apenas no âmbito religioso. Porém, quase tudo na
sociedade se baseia nas chamadas relações fiduciais (de fé; é o chamado “princípio de boa fé”
das/nas pessoas e das/nas organizações), ou seja, desde o ato de passar o cartão de crédito e
crer em um sistema financeiro e de telecomunicação de que seu dinheiro está no banco, até todo
um procedimento de cirurgia que requer crença no conhecimento da equipe médica.
Recebemos Cristo pela fé e nos relacionamos, vivemos nele, somos plantados nele, nosso
fundamento é nele; e tudo que é feito nele é pela fé.
O MESTRE DA FÉ
Quem seria um bom modelo de fé para nós? Tem que ser alguém bem humano o por meio de
quem Deus iniciou seu projeto de salvação. O nome desse homem é Abraão, ou melhor, como
antes era chamado, Abrão.
Abraão é conhecido como pai da fé. Isso significa que ele é o modelo, ou melhor, aquele que
inaugura a relação de fé com Deus. Isso significa que a espiritualidade da fé é a espiritualidade
abraâmica e, portanto, devemos ter em mente como foi a construção da fé de Abraão, como ela
começou e como ela se desenvolveu.
Aparentemente a gente percebe uma inconstância na fé de Abraão por causa de suas atitudes.
E assim como enxergamos nossas vidas, temos a tendência de enxergar a vida de Abraão da
seguinte forma:
Abraão
manda
O O Abrão
seu
Senhor Senhor tem um Abraão Abraão
Deus Abrão Deus Deus servo
faz faz filho interced mente Isaque
chama mente anima a prova buscar
promess aliança com a e pelos novame nasce
Abrão no Egito Abrão Abraão uma
as a com escrava homens nte
mulher
Abrão Abrão Agar
para
Isaque
. 5 -2 4 -1 5 -4 3 -2 10 10 10
No entanto, não é assim que devíamos ver, pois nosso crescimento em fé permanece, pois é
Deus quem atua em nós. Ou seja, nos pontos que Abraão falhou, Deus atuou para ele seguir
crescendo. Portanto, devemos enxergar nossos altos e baixos na vida de fé não como topo e
vale e sim como uma progressão, mesmo que não seja constante:
Abraão
manda
O O Abrão
seu
Senhor Senhor tem um Abraão Abraão
Deus Abrão Deus Deus servo
faz faz filho interced mente Isaque
chama mente anima a prova buscar
promess aliança com a e pelos novame nasce
Abrão no Egito Abrão Abraão uma
as a com escrava homens nte
mulher
Abrão Abrão Agar
para
Isaque
. 10 5 20 15 30 25 40 35 50 50 50
O que acontece é que Deus não nos deixa regredir na fé, apesar de nossos percalços. Portanto,
devemos manter firmes nossa confiança nele.
Mas há algumas características na fé cristã que precisamos ter sempre em mente e
continuaremos usando Abraão para essa percepção conforme o apóstolo Paulo teve:
Rm 4.1-8 “Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne?
Porque, se Abraão foi justificado por obras, tem de que se gloriar, porém não
diante de Deus. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi
imputado para justiça. Ora, ao que trabalha, o salário não é considerado como
favor, e sim como dívida. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que
justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que
Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui justiça,
independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são
perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o
Senhor jamais imputará pecado”.
A primeira coisa que percebemos na fé de Abraão é que ela exclui o mérito. A justificação que
Abraão recebeu não foi por causa de suas obras e sim por causa da graça de Deus. Imputar é o
contrário de amputar. Ou seja, faltava justiça a Abraão e essa justiça foi acrescentada a ele por
meio da fé.
Entendendo que a fé é presente de Deus, temos que do princípio ao fim Deus atua em nós para
a nossa salvação. Continuando:
Rm 4.19-21 “E, sem enfraquecer na fé, embora levasse em conta o seu próprio
corpo amortecido, sendo já de cem anos, e a idade avançada de Sara, não
duvidou, por incredulidade, da promessa de Deus; mas, pela fé, se fortaleceu,
dando glória a Deus, estando plenamente convicto de que ele era poderoso para
cumprir o que prometera”.
Outro elemento presente na fé de Abraão é que ele confiou que Deus era fiel ao que prometera.
Isso tem dois aspectos: primeiro que Deus é fiel às Suas promessas. Deus não era fiel a Abraão.
Deus é fiel a Si mesmo, ao Seu caráter imutável e por isto a relação de fé também é uma relação
de graça. Ou seja, Abraão sem merecer, recebeu a promessa de Deus e sem merecer ainda foi
que Deus cumpriu esta promessa. Isso porque a promessa é de Deus, ou seja, Seu plano e,
portanto, seria cumprida independente de obras humanas.
FÉ É CONFIANÇA
A primeira premissa fala de “coisas que esperamos”. Se esperamos é porque ainda não
aconteceu. Se não aconteceu é futuro. Então, na primeira premissa temos que fé é a certeza de
que algo que não aconteceu ainda irá acontecer.
A segunda premissa fala de “fatos que não vimos”. Se é fato, já aconteceu. Se já aconteceu, é
passado. Então, na segunda premissa temos que fé é a certeza de algo que já aconteceu, mas
nós não estávamos lá para testemunhar.
Então, como é possível você ter certeza de que algo no futuro irá acontecer se não temos o
controle do futuro? E como é possível termos a certeza de que algo já aconteceu se não é
possível voltarmos ao passado para testemunhar?
Resposta: através de um interlocutor que tenha acesso ao futuro e acesso ao passado e que
este interlocutor seja confiável em suas informações.
Portanto, ter fé significa confiar neste interlocutor. Como cristãos, o que esperamos do futuro? A
volta de Cristo. E qual o fato do passado que cremos, mas não testemunhamos? A morte e
ressurreição de Cristo. Quem é o interlocutor que nos comunica essas verdades? Deus através
das Escrituras.
FÉ =
CONFIAR
Passado = Futuro =
Ressurreição Volta de
de Jesus Jesus
DEUS
A palavra fé no grego é PISTIS. Esta palavra varia seu significado de acordo com o objeto da
relação: quando ela estabelece uma relação do homem para com Deus, o significado
apresentado é de confiança. E quando ela apresenta a relação de Deus para com o homem, seu
significado se altera para fiel, confiável, leal.
Mas em que a gente confia? Não há espaço, neste caso para confiar na própria fé (“MINHA FÉ
MOVE A DEUS”, “VOU UTILIZAR MINHA FÉ”). O objeto de nossa fé é o próprio Deus e não
nossa fé. Logo, nossa fé, em um primeiro momento, é o reconhecimento de que Deus está
presente e da realidade do Seu amor.
Quando dizemos que confiamos em Deus, temos que ter em mente que isso tem a ver com Ele
mesmo, com Seu caráter confiável e com Sua lealdade. E o fato de Deus ser confiável faz com
que tenhamos a certeza de que Sua Palavra também seja confiável.
Se confiarmos no que Deus diz, algumas coisas afirmadas a nosso respeito são bem pesadas:
não queremos a Deus (Rm 3.11), não podemos fazer nada por nós mesmos (Jo 15.5), somos
criaturas completamente perversas (Rm 3.10-18). Por isso há essa necessidade de
desistência e, consequentemente, humilhação diante Dele.
FÉ É CONHECER
Estabelecer esta relação de confiança só é possível quando há em nós o mínimo de
conhecimento a respeito de Deus. E examinando novamente a história de Abraão, percebemos
que foi Deus quem se revelou para ele. Se Abraão é o modelo de fé, se torna muito importante
a forma como ele conheceu a Deus, e mais, significa que este modelo de fé se repete como uma
marca de autenticidade.
Nosso estado diante de Deus é de morte (Ef 2.1). Para permitir que o homem O perceba, é
necessário nada menos que a intervenção do próprio Deus agindo com plena liberdade e
decidindo soberanamente. Entregue às suas próprias forças, o homem poderá, no máximo,
segundo o grau de suas faculdades naturais, de seu entendimento e de sua intuição, reconhecer
a existência de um ser supremo, absoluto, de uma potência superior, de uma entidade que
domina toda a realidade.
Isto, no entanto, não tem nenhuma relação com o próprio Deus. Ela é fruto das intuições e das
possibilidades - limites do pensamento e do esforço do homem, que pode, com certeza, imaginar
um ser supremo sem que, apesar disso, tenha encontrado Deus. O risco de acharmos que nós
quem buscamos a Deus é de criamos um deus à nossa imagem e chama-lo de Jesus.
A linha divisória entre o verdadeiro Deus e os falsos deuses se estabelece já claramente a partir
do problema do conhecimento. Para Abraão, cuja família era fabricante de ídolos (Js 24.2), só
foi possível conhecer o Deus Vivo a partir do momento que Deus decidiu se revelar a ele. Este
processo de revelação de Deus é chamado na teologia de iluminação (2Co 4.6). É em Cristo
que temos esta iluminação, e Jesus é quem nos revela o Pai (Jo 14.9).
Para conhecermos a Deus, além
Dele se revelar, precisamos também
estar habilitados para isso. É
impossível para o ser humano se
aproximar de Deus, sem que Deus
providencie o meio para isso. Assim,
Jesus, além de nos revelar o Pai, é
também o meio, o caminho
(Jo14.6), a habilitação para nos
relacionarmos com Deus. Jesus é
quem nos introduz na relação que Ele
tem com o Pai.
CONHECIMENTO CRISTÃO SIGNIFICA VIVER NA VERDADE DE JESUS CRISTO. É NELE
QUE TEMOS A VIDA, O MOVIMENTO E O SER (AT 17.28), A
FIM DE QUE POSSAMOS SER NELE, POR ELE E PARA ELE (RM 11.36). ESSE
CONHECIMENTO COINCIDE, POIS, ABSOLUTAMENTE COM O QUE DENOMINAMOS A
CONFIANÇA EM DEUS E EM SUA PALAVRA.
FÉ É CONFESSAR
Conhecer a Deus que se revelou a nós e confiar Nele são os primeiros passos da fé. No entanto,
a fé enquanto virtude tem uma característica essencial: ela é operosa (1Ts 1.3). O fato de a fé
ser operosa significa que ela é visível externamente. Ela se traduz em obediência a Deus.
DÚVIDA E INCREDULIDADE
Ter fé não significa que nunca teremos dúvidas. Há um elemento na fé que atinge nossa finitude
que é o não saber, de “fatos que se não veem”. E por causa disso, há boas chances de
duvidarmos.
Esse tipo de dúvida também pode ser devido a um mau discipulado tirando das pessoas algumas
certezas (1Jo 5.13). É possível ter fé salvadora genuína e não ter certeza da salvação, devido
a um ensino falso, a pressões sociais ou dificuldades emocionais.
Porém há um tipo de dúvida que de fato é pecaminosa. Esta dúvida vem da desconfiança de que
Deus nos abandonou e estamos sozinhos, ou mesmo de que Deus não seja bom. Este tipo de
dúvida que vai contra o que Deus disse é pecaminosa.
É a dúvida que oscila (Tg 1.5-8). Tiago usa o termo “dispsychos” (duas almas, que foi traduzido
por “ânimo dobre”) para apontar a instabilidade de quem não sabe se ama ou não a sabedoria
divina que é pedida na oração. Esse tipo de dúvida é pecaminosa porque o sujeito não sabe se
quer ou não a Deus. Ou quer algo de Deus como bônus, mas não o ônus que se sucede.
Outra forma deste tipo de dúvida vem como uma cegueira baseada na soberba (Jo 9.39-41),
na reafirmação da própria competência e suficiência espiritual. A fé nos estabelece nus diante
de Deus e, se em algum momento pensarmos que estamos meritoriamente melhores diante de
Deus, entramos no estado de autossuficiência, e logo, nossa fé será falsificada, onde
sobrepujamos nossa crença na Palavra de Deus com nossos próprios esforços e soluções. No
caso, os fariseus duvidavam de que Jesus era quem dizia ser porque acreditavam que sua
própria forma de enxergar a Deus estava certa. Assim, nós duvidamos da Palavra de Deus
muitas vezes, em nossos atos ou valores, apenas porque cremos mais na forma como a gente
enxerga a Deus e não queremos abrir mão de tal forma.
Portanto, a incredulidade então não é a causa, mas o resultado da dúvida sobre a presença ou
a bondade de Deus. Essa dúvida original se manifesta na ingratidão, a partir do momento que
não reconhecemos mais a presença ou a bondade de Deus. E isto vem de uma desordem
intelectual, noética (de “nous” = mente; cf. Rm 1.21-23; Ef 4.17,18). Há um “bug”, um defeito
na mente que faz com que nós simplesmente nos esqueçamos de tudo o que Deus é e fez e,
simplesmente, apagamos isso.
C.S. Lewis ilustra isso em seu Livros Cristianismo Puro e Simples: “eu
supunha que, a partir
do momento em que a mente humana aceita algo como verdadeiro, vai
automaticamente continuar considerando-o verdadeiro até encontrar um bom
motivo para reconsiderar essa opinião. Na verdade, eu partia do pressuposto de
que a mente é completamente regida pela razão, o que não é verdade. Vou dar
um exemplo. Minha razão tem motivos de sobra para acreditar que a anestesia
geral não me asfixiará e que os cirurgiões só começarão a operar quando eu
estiver completamente sedado. Isso, porém, não altera o fato de que, quando
eles me prendem na mesa da operação e me cobrem a face com sua tenebrosa
máscara, um pânico infantil toma conta de mim. Começo a pensar que vou me
asfixiar e que os médicos vão começar a cortar meu corpo antes que eu perca a
consciência. Em outras palavras, perco a fé na anestesia. Não é a razão que me
faz perder a fé: pelo contrário, minha fé é baseada na razão. São, isto sim, a
imaginação e as emoções. A batalha se dá entre a fé e a razão, de um lado, e
as emoções e a imaginação, de outro.