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Universidade e
Ciência
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Créditos
Universidade e
Ciência
Livro didático
Designer instrucional
Carmelita Schulze
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Copyright © Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por
UnisulVirtual 2016 qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Livro Didático
Professores conteudistas
Alexandre De Medeiros Mota
Conceição Aparecida Kindermann
Diane Dal Mago
Josefina Maria Hassmann
Patricia Da Silva Meneghel
Designer instrucional
Carmelita Schulze
Diagramador(a)
Frederico Trilha
Revisor
Diane Dal Mago
ISBN
978-85-506-0070-3
e-ISBN
978-85-506-0069-7
U51
Universidade e ciência : livro didático / [conteudistas] Alexandre de
Medeiros Motta, Conceição Aparecida Kindermann, Diane Dal Mago,
Josefina Maria Hassmann, Patrícia da Silva Meneghel ; design
instrucional Carmelita Schulze. – Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
86 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-506-0070-3
e-ISBN 978-85-506-0069-7
Introdução | 7
Capítulo 1
Trajetória e desafios da universidade em nossa
sociedade | 9
Capítulo 2
Os caminhos da leitura e da pesquisa | 19
Capítulo 3
Trabalhos acadêmicos: quais caminhos
percorrer? | 39
Capítulo 4
A linguagem e seu funcionamento | 55
Considerações Finais | 79
Referências | 81
A partir dos conhecimentos adquiridos, você estará apto para efetuar as leituras,
produzir textos com uma linguagem apropriada para cada contexto e trabalhar a
pesquisa científica. Essas habilidades serão muito importantes tanto para a vida
acadêmica quanto profissional.
Bom estudo!
Capítulo 1
Seção 1
História da universidade
Para entender a trajetória da universidade, como instituição, é necessário
mergulhar no passado e contextualizar os momentos históricos que marcaram a
sua formação, desde a antiguidade ocidental até sua trajetória no Brasil. Assim,
abordam-se as etapas históricas que permitem localizar a universidade no tempo.
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Capítulo 1
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Universidade e Ciência
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Capítulo 1
Com isso, após 1930, em plena Era Vargas, inicia-se o processo de transformação
do ensino superior para a condição de universidade, a partir do agrupamento de
três ou mais faculdades. Assim, neste mesmo ano, surgem as Universidades de
Minas Gerais e de São Paulo, com a proposta de superar o simples agrupamento
de faculdades, o que ocorre em 1934. Em seguida, em 1935, o professor Anísio
Teixeira defende uma universidade como centro livre de discussão de ideias, isso
é interrompido pela ditadura do Estado Novo de 1937. Apesar dessas iniciativas,
nesse período, devido ao processo de industrialização, predomina a preocupação
com o ensino profissionalizante.
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Universidade e Ciência
Seção 2
Finalidades da universidade: ensino, pesquisa e
extensão
A universidade é responsável pelo ensino, por meio do contato sistemático com
a cultura universal. Além disso, deve ampliar e diversificar esses conhecimentos
adquiridos, por meio da pesquisa, que produz novos saberes, vinculado ao ensino
(e a aprendizagem), como atividade essencial para a formação acadêmica. O
mesmo vale para a extensão ou prestação de serviços à comunidade, uma forma
de garantir responsabilidade social à universidade e estimulá-la a aproximar-
se dos diferentes saberes, promover iniciativas comunitárias sustentáveis,
reconhecer a diversidade cultural e aperfeiçoar o exercício das potencialidades
humanas. Por isso, é fundamental que uma universidade seja reconhecida,
sobretudo, como um espaço do ensino, da pesquisa e da extensão.
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Capítulo 1
Acredita-se que essa medida foi a forma ideal encontrada pelos legisladores para
atender aos interesses de mantenedoras do setor privado, permitindo grande
redução nos custos dos serviços oferecidos por tais instituições, se comparados
às universidades, que garantem as três funções, organicamente associadas, além
de cumprir exigências, como corpo docente titulado e contratado em regime de
dedicação exclusiva, com produção intelectual qualificada.
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Universidade e Ciência
Seção 3
Dilemas que desafiam a universidade no mundo
contemporâneo
Em nossa sociedade, o conhecimento científico ainda está profundamente ligado
ao espaço da universidade. É imprescindível que a universidade seja um espaço
democrático e, dessa forma, que esse conhecimento possa circular em todos os
outros espaços, e, principalmente, trazer contribuições.
Trindade (2000) ressalta que uma instituição de ensino superior não pode se
deixar dominar pela lógica do mercado ou do poder. Essa é a questão que está
no centro do conceito de autonomia universitária, mesmo que historicamente
ele tenha se transformado nas diferentes etapas da evolução da sociedade em
relação a sua forma medieval originária.
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Capítulo 1
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Universidade e Ciência
Como afirma Lukesi (1991, p. 41), “uma universidade que se propõe a ser crítica
e aberta não tem o direito de estratificar, absolutizar qualquer conhecimento como
um valor em si; ao contrário, reconhece que toda conquista do pensamento do
homem passa a ser relativa, na medida em que se espacio-temporaliza. Há sempre a
necessidade de um entendimento novo”.
Seção 4
Universidade: espaço de formação do cidadão
A globalização é um fenômeno econômico, resultante do próprio sistema
capitalista, na ânsia de conquistas por novos mercados, em decorrência da
saturação de setores da economia, em alguns locais. Isso tem provocado
transformações profundas em nossa sociedade, que precisam ser tratadas em
suas relações, sem isolá-las. É nesse contexto que se insere a universidade, ou
seja, um ambiente dinâmico com diversos conhecimentos.
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Capítulo 1
Essas questões implicam não só reflexões, como também ações por parte de todos nós.
É necessária a adoção de atitudes coerentes com uma educação centrada no exercício da
cidadania. Nesse sentido, é possível acreditar que temas recorrentes e fundamentais como
os que são tratados nesta seção ampliem os horizontes das áreas de conhecimento, para
além dos seus domínios específicos, para a formação integral do ser humano.
Assim, a universidade se move no sentido de transformar a sociedade, não só por
questões que discutem e permeiam as formações específicas dos seus cursos, mas,
de maneira muito significativa, por aquelas que perpassam a formação de cidadãos
críticos, investigativos e partícipes de uma sociedade justa e igualitária.
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Capítulo 2
Seção 1
A leitura nos move
O ato de leitura é inerente ao ser humano, pois mesmo não sabendo decodificar
a palavra escrita, uma pessoa consegue fazer leituras, porque estamos
constantemente lendo o que nos rodeia, ou seja, pessoas, lugares, situações, fatos...
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Capítulo 2
Assim, mais do que decodificar códigos, o que fazemos durante uma leitura é
construir significados a partir daquilo que lemos. Portanto, se adotamos essa
perspectiva de leitura, não podemos mais considerá-la um simples ato de
decodificação de um produto pronto, mas sim, um processo de significação e
de construção de sentido do texto.
Independente do objetivo que o conduza ao ato de ler, você deve atentar para o
fato de que, na realização de qualquer atividade de leitura, como destaca Orlandi
(2006), alguns fatores se impõem, entre eles, destacamos:
Dessa forma, ainda que o conteúdo de um texto não mude, é possível que dois
leitores com histórias de leitura e objetivos diferentes subtraiam dessa leitura
informações distintas.
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Universidade e Ciência
Texto 1
Ler pouco
Jovem, eu sonhava ter uma grande biblioteca. E fui assim pela vida, comprando
os livros que podia. Tive de desenvolver métodos para controlar minha voracidade,
porque o dinheiro e o tempo eram poucos. Entrava na livraria, separava todos os
livros que desejava comprar e, ao me aproximar do caixa, colocava-os sobre o
balcão e me perguntava diante de cada um: “Tenho necessidade imediata desse
livro? Tenho outros, em casa, ainda não lidos? Posso esperar?” E assim ia pegando
cada um deles e os devolvendo às prateleiras. A despeito desse método de
controle, cheguei a ter uma biblioteca significativa, mais do que suficiente para as
minhas necessidades.
Notei, à medida em que envelhecia, uma mudança nas minhas preferências: passei
a ter mais prazer na seção dos livros de arte nas livrarias. Os livros de ciência a
gente lê uma vez, fica sabendo e não tem necessidade de ler de novo. Com os
livros de arte acontece diferente. Cada vez que os abrimos é um encantamento
novo! Creio que meu amor pelos livros de arte tem a ver com experiências infantis.
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Capítulo 2
Talvez que os psicanalistas interpretem esse amor como uma manifestação neurótica
de regressão. Não me incomodo. Pois, em oposição à psicanálise que considera
a infância como um período de imaturidade que deve ser ultrapassado para que
nos tornemos adultos, eu, inspirado por teólogos e poetas, considero a maturidade
como uma doença a ser curada. Bem reza a Adélia Prado: “Meu Deus, me dá cinco
anos, me cura de ser grande…” E não pensem que isso é maluquice de poeta. Peter
Berger, um sociólogo inteligente e com senso de humor, definiu “maturidade”, essa
qualidade tão valorizada, como “um estado de mente que se acomodou, ajustou-se
ao status quo e abandonou os sonhos selvagens de aventura e realização…” Menino
de cinco anos, eu passava horas vendo um livro da minha mãe, cheio de figuras.
Lembro-me: uma delas era um prédio de dez andares com a seguinte explicação:
“Nos Estados Unidos há casas de dez andares.” E havia a figura de um caçador de
jacarés, e de crianças esquimós saudando a chegada do sol.
Essa coisa de “amor universal aos livros” fez-me lembrar um texto de Nietzsche
sobre o filósofo Tales de Mileto, em que ele recorda que “a palavra grega que
designa o “sábio” se prende, etimologicamente, a sapio, eu saboreio, sapiens, o
degustador, sisyphos, o homem de gosto mais apurado; um apurado degustar
e distinguir, um significativo discernimento, constitui, pois, (…) a arte peculiar do
filósofo. (…) A ciência, sem essa seleção, sem esse refinamento de gosto, precipita-
se sobre tudo o que é possível saber, na cega avidez de querer conhecer a qualquer
preço; enquanto o pensar filosófico está sempre no rastro das coisas dignas de
serem sabidas…” E depois, no Zaratustra, ele comenta com ironia: “Mastigar e
digerir tudo – essa é uma maneira suína.”
O fato é que muitos estudantes são obrigados a ler à maneira suína, mastigando e
engolindo o que não desejam. Depois, é claro, vomitam tudo… Como eu já passei
dessa fase, posso me entregar ao prazer de ler os livros à maneira canina. Nenhum
cachorro abocanha a comida. Primeiro ele cheira. Se o nariz não disser “sim”, ele
não come. Faço o mesmo com os livros. Primeiro cheiro. O que procuro? O cheiro
do escritor. Se não tem cheiro humano, não como. Nietzsche também cheirava
primeiro. Dizia só amar os livros escritos com sangue.
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Universidade e Ciência
Ler é um ritual antropofágico. Sabia disso Murilo Mendes quando escreveu: “No
tempo em que eu não era antropófago, isto é, no tempo em que eu não devorava
livros – e os livros não são homens, não contém a substância, o próprio sangue do
homem?” A antropofagia não se fazia por razões alimentares. Fazia-se por razões
mágicas. Quem come a carne do sacrificado se apropria das virtudes que moravam
no seu corpo. Como na eucaristia cristã, que é um ritual antropofágico: “Esse pão
é a minha carne, esse vinho é o meu sangue…” Cada livro é um sacramento. Cada
leitura é um ritual mágico. Quem lê um livro escrito com sangue corre o risco de
ficar parecido com o escritor. Já aconteceu comigo… (Disponível em: <https://
rubemalves.wordpress.com/>. Acesso em: 10 mar. 2016.)
Texto 2
Pensar
Por isso, sendo um país tão rico, somos um povo tão pobre, somos pobres em
ideias. Não sabemos pensar. Nisto nos parecemos com os dinossauros, que tinham
excesso de massa muscular e cérebros de galinha. Hoje nas relações de troca
entre os países, o bem mais caro, o bem mais cuidadosamente guardado, o bem
que não se vende, são as ideias. É com as ideias que o mundo é feito. Prova disso
são os tigres asiáticos, Japão, Coréia, Formosa, que pobres de recursos naturais,
enriqueceram-se por ter se especializado na arte de pensar.
Minha filha me fez uma pergunta: “O que é pensar?”. Disse-me que esta era uma
pergunta que o professor de filosofia havia imposto à classe. Pelo que lhe dou os
parabéns. Primeiro, por ter ido diretamente à questão essencial. Segundo, por ter
tido a sabedoria de fazer a pergunta, sem dar a resposta. Porque se tivesse dado a
resposta, teria com ela cortado as asas do pensamento. O pensamento é como a
águia que só alça voo nos espaços vazios do desconhecido. Pensar é voar sobre o
que não se sabe. Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das
respostas certas. Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas
para ensinar as perguntas. As respostas nos permitem andar sobre a terra firme.
Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.
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Capítulo 2
E, no entanto, não podemos viver sem respostas. As asas, para o impulso inicial do
voo, dependem dos pés apoiados na terra firme. Os pássaros, antes de saber voar,
aprendem a se apoiar sobre os seus pés. Também as crianças, antes de aprender a
voar têm de aprender a caminhar sobre a terra firme.
Terra firme: as milhares de perguntas para as quais as gerações passadas já
descobriram as respostas. O primeiro momento da educação é a transmissão
desse saber. Nas palavras de Roland Barthes: “Há um momento em que se ensina
o que se sabe…” E o curioso é que este aprendizado é justamente para nos poupar
da necessidade de pensar.
Todo mundo fala, e fala bem. Ninguém sabe como a linguagem foi ensinada e nem
como ela foi aprendida. A despeito disso, o ensino foi tão eficiente que não preciso
pensar em falar. Ao falar, não sei se estou usando um substantivo, um verbo ou
um adjetivo, e nem me lembro das regras da gramática. Quem, para falar, tem
que se lembrar dessas coisas, não sabe falar. Há um nível de aprendizado em que
o pensamento é um estorvo. Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabeça
esqueceu. E assim escrevemos, lemos, andamos de bicicleta, nadamos, pregamos
prego, guiamos carros: sem saber com a cabeça, porque o corpo sabe melhor.
É um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo. E isso me
poupa do trabalho de pensar o já sabido. Ensinar, aqui, é inconscientizar.
O sabido é o não pensado, que fica guardado, pronto para ser usado como
receita, na memória deste computador que se chama cérebro. Basta apertar a
tecla adequada para que a receita apareça no vídeo da consciência. Aperto a tecla
moqueca. A receita aparecerá no meu vídeo cerebral: panela de barro, azeite, peixe,
tomate, cebola, coentro, cheiro-verde, urucum, sal, pimenta, seguidos de uma série
de instruções sobre o que fazer.
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Universidade e Ciência
Não é coisa que eu tenha inventado. Me foi ensinado. Não precisei pensar. Gostei.
Foi para a memória. Esta é a regra fundamental desse computador que vive no
corpo humano: só vai para a memória aquilo que é objeto do desejo. A tarefa
primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda.
Vejamos:
Já o leitor que se sentir excluído desse contexto não consegue estabelecer uma
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Capítulo 2
relação de significado entre o que o texto diz e aquilo que procurava, em virtude
de não se sentir atraído pelo conteúdo apresentado. Assim, na universidade, cada
vez que o aluno não dá conta da leitura do texto sugerido para o estudo, deve-
se incentivá-lo a fazer leituras menos complexas, para aos poucos introduzi-lo
nos textos com um grau maior de complexidade, já que há a necessidade de
ampliar o conhecimento. Uma outra sugestão para atrair o estudante em relação
ao conteúdo é fazê-lo compreender o momento da produção (contexto) e o
momento da leitura.
Muitas vezes, essa tarefa torna-se árdua, por isso ocorre a aceitação daquilo
que está pronto, que a sociedade estabelece como correto, dessa forma, não se
estabelece a relação de conceitos refinados. Sendo assim, conforme menciona
o texto 1, nas palavras de Nietzsche, “ciência, sem essa seleção, sem esse
refinamento de gosto, precipita-se sobre tudo o que é possível saber, na cega
avidez de querer conhecer a qualquer preço; enquanto o pensar filosófico está
sempre no rastro das coisas dignas de serem sabidas…”
De acordo com Alves, “... somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar
desconhecido”, pois a leitura e o estudo científico nos obrigam a sair do senso
comum. Nesse sentido, estamos diante da ideia da problematização, tópico
esse presente em um projeto, em estudos científicos. É na inquietação das
ideias, provocada pelo ato de ler, que a ciência se desenvolve, aperfeiçoa e vai
transformando a história da humanidade.
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Universidade e Ciência
O saber científico não busca respostas prontas, pelo contrário, quer despertar,
aguçar a busca pelo novo, pela mudança, assim progride a humanidade. Pensar
induz-nos a entender que fazer ciência, construir o conhecimento são tarefas diárias.
É indispensável ressaltar que, conforme deve ter percebido, não há uma receita para
aprender a ler. Não há roteiro preestabelecido que dê conta de nortear a leitura de
todos os textos. O que propusemos nesta seção é mostrar a você alguns pontos
os quais nunca podem ser desconsiderados nessa atividade. Vejamos:
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Capítulo 2
b. Comentários de margem
· Podem ser resultantes de uma ideia que o texto suscitou, da
lembrança de outros textos;
· Servem para registrar o assunto principal daquele parágrafo;
· Devem ser bastante objetivos e sintéticos;
· Funcionam como disparador da memória.
c. Esquema
· É uma forma de reorganizar um texto em tópicos sequenciais;
· Ajuda na seleção e na organização das informações mais
importantes;
· Deve apresentar apenas o “esqueleto”, ou seja, “as palavras-
chave” do texto.
d. Roteiro de Leitura
· Conjunto de instruções, apresentadas na forma de tópicos, para
orientar a leitura;
· Formulação de perguntas que possam guiar a leitura;
· Um bom exemplo de roteiro pode ser feito a partir dos seguintes
itens: encontrar o assunto, problema, tese e argumentos;
ou encontrar definições, exemplos; ou apresentar a linha
argumentativa utilizada pelo autor.
e. Sublinhar
· É destacar as ideias principais;
· Sua finalidade é destacar elementos que servirão de orientação
para consulta futura; por isso tem de ser objetivo e se restringir a
palavras ou frases;
· É uma estratégia que monitora a compreensão e permite fazer
um mapeamento do texto;
· Auxilia na concentração na hora da leitura, pois com um
objetivo, uma tarefa a realizar, uma ação concreta, tem-se mais
facilidade de fixar a atenção na leitura e na compreensão das
ideias;
· Possibilita voltar ao texto lido, num outro momento, e analisar
esses destaques;
· Permite fazer uma retomada do texto.
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Universidade e Ciência
Até aqui, nossa intenção foi motivar você a ler e mostrar que a leitura é um
ato complexo, porque exige mais que a simples decodificação das palavras.
Como aluno do ensino superior, você não deve discordar de que as leituras
efetuadas a partir de agora exigem um comprometimento maior. Assim sendo,
qualquer atividade de leitura, para você, deve envolver disciplina intelectual,
comprometimento e postura crítica, pois o objetivo, certamente, será a apropriação
da “significação profunda de um texto”. (CASTELLO-PEREIRA, 2003, p. 55)
Podemos ver que os textos sempre mantêm uma relação com outros textos,
ou seja, com algo já lido, mencionado em outro lugar, a isso damos o nome
de intertextualidade. Conforme citação acima, no texto científico, há muito a
presença de outros autores citados direta ou indiretamente, visando a dar mais
credibilidade, valor, sentido, significado; dessa forma, podemos escrever com
mais aptidão e propriedade.
Para quem lê, a intertextualidade permite uma leitura além do que está escrito, pois
leva o leitor a dialogar com outros textos, autores, construindo novas visões sobre o
mesmo tema. Nesse sentido, deve-se ter a percepção da existência e da pertinência
das alusões efetuadas no texto quando se lê, pois caso não se saiba o porquê da
presença de tal elemento de intertextualidade, não fará sentido essa presença.
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Capítulo 2
(Murilo Mendes)
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Universidade e Ciência
Acima você leu uma paródia de Murilo Mendes, em relação ao texto de Gonçalves
Dias. Agora, segue um trecho da paródia da Canção do Exílio, elaborada por Jô
Soares, veja:
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Capítulo 2
Jô Soares
Da Ilha de Marajó
Perceba que é mantida a mesma estrutura do texto original, mas o enfoque crítico
altera o sentido do poema.
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Universidade e Ciência
Seção 2
A leitura do texto literário e científico
Vamos analisar os dois textos que seguem:
Texto 3
Texto 4
Vejo sangue no ar, vejo o piloto que levava uma flor para a noiva, abraçado com
a hélice. E o violinista em que a morte acentuou a palidez, despenhar-se com sua
cabeleira negra e seu estradivárius. Há mãos e pernas de dançarinas arremessadas
na explosão. Corpos irreconhecíveis identificados pelo Grande Reconhecedor. Vejo
sangue no ar, vejo chuva de sangue caindo nas nuvens batizadas pelo sangue dos
poetas mártires. Vejo a nadadora belíssima, no seu último salto de banhista, mais
rápida porque vem sem vida. Vejo três meninas caindo rápidas, enfunadas, como se
dançassem ainda. E vejo a louca abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser
o paraquedas, e a prima-dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como
um cometa. E o sino que ia para uma capela do oeste, vir dobrando finados pelos
pobres mortos. Presumo que a moça adormecida na cabine ainda vem dormindo, tão
tranquila e cega! Ó amigos, o paralítico vem com extrema rapidez, vem como uma
estrela cadente, vem com as pernas do vento. Chove sangue sobre as nuvens de
Deus. E há poetas míopes que pensam que é o arrebol.
(LIMA, Jorge de. Poesia completa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 2 v, v. 1, p. 237).
33
Capítulo 2
Podemos logo perceber que os textos possuem algo que os diferencia, ou seja,
a linguagem utilizada. Em um primeiro momento, no texto 3, há uma linguagem
técnica, não literária, pois a abordagem está relacionada à construção de um texto
de caráter científico. Já no texto 4, observamos uma outra leitura, de cunho literário,
haja vista a presença de palavras e expressões plurissignificativas, levando-os
a fazer diversas interpretações e a analisar um fato verídico que é descrito com
emoções e palavras que não se constituem em termos técnicos nem objetivos.
Também no texto 4, por sua vez, algumas palavras têm significados diferentes
daqueles que encontramos no dicionário. Analise este trecho: “vejo a louca
abraçada ao ramalhete de rosas que ela pensou ser o paraquedas, e a prima-
dona com a longa cauda de lantejoulas riscando o céu como um cometa”. Aqui,
vemos que a relação entre o ramalhete de rosas e o paraquedas constitui-se em
uma linguagem metafórica, subjetiva, visando a dar emoção e um significado
mais abstrato à escrita, tendo vista que esse texto literário remete a algo que
realmente ocorreu. Dessa forma, temos a presença da linguagem conotativa.
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Universidade e Ciência
No texto não literário, por sua vez, a linguagem utilizada tende a ser mais objetiva.
São textos que lemos nos jornais, nas revistas, nos artigos científicos etc.
Seção 3
A leitura implícita
Dando continuidade ao nosso roteiro de leitura, propomos que você estude os
níveis de informação textual. Quando lemos um texto, podemos perceber que
algumas informações estão explícitas, isto é, aparecem claramente expressas,
enquanto outras não, ou seja, estão implícitas, essas são representadas por
pressupostos e subentendidos. Segundo Platão e Fiorin (2008, p. 307 e 310):
35
Capítulo 2
Mas ainda podemos inferir que o professor tomou consciência de que fumar
é prejudicial à saúde. Esse tipo de inferência pode ser classificada como
subentendido, pois é uma dedução do contexto, perceba que não há marca
linguística que leva a isso.
Fonte:Apocalipsetotal.wordpress.com, 2013.
36
Universidade e Ciência
Assim sendo, podemos afirmar que todo texto tem conteúdo explícito e
implícito. Ou seja, informações explícitas são exatamente aquelas ditas no texto,
que aparecem claramente expressas. As informações implícitas, por sua vez, são
as que o leitor pode inferir da leitura do texto.
37
Capítulo 3
Esse fazer pesquisa é um processo que precisa ser discutido com mais
propriedade, para que se possa entender os caminhos que vão desde a
observação de uma realidade, da projeção e execução da pesquisa até chegar à
construção do trabalho científico.
Seção 1
Que diálogo há entre pesquisa e trabalho
acadêmico?
Na vida acadêmica, faz-se necessário criar uma cultura de pesquisa. É
fundamental os estudantes produzirem trabalhos científicos, que se vinculem as
dimensões do ensino, da pesquisa e da extensão. A elaboração de um trabalho
científico é parte de um processo que vai desde a transformação individual como
também social, uma vez que traz descobertas ou desvelamento do novo.
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Capítulo 3
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Universidade e Ciência
41
Capítulo 3
Método de - Dedutivo
abordagem - Indutivo
- Hipotético-dedutivo
- Fenomenológico
Métodos de - Comparativo
procedimentos - Estatístico
- Monográfico
- Etnográfico
- Histórico
Quanto ao - Exploratória
nível ou objetivo - Descritiva
- Explicativa
Quanto à - Qualitativa
abordagem - Quantitativa
Seção 2
Que pesquisa decidir no trabalho?
A pesquisa pode ser entendida como atividade racional que almeja concretizar
vários aspectos: responder precisamente ao problema; fornecer novas
informações sobre ele; permitir maior conforto (e controle) diante do problema; e
gerar novos questionamentos (paradoxo) para a formação de linhas de pesquisa.
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Universidade e Ciência
O maior ganho em seguir e entender esse processo é, sem dúvida, a garantia de atingir
convicção no que e sobre o que se pesquisa. O ato científico, nesse sentido, abrange o
domínio dos processos de abordagens específicos aos problemas, que são a síncrese,
a análise e a síntese. Estas interagem como numa sequência dialética, por isso não se
excluem mutuamente. São fundamentais no estudo e desenvolvimento temático do
trabalho científico.
À medida que se prossegue nos estudos para o entendimento cada vez mais
profundo do tema do trabalho científico, maior é o grau de maturidade alcançado
pelo pesquisador e, por conseguinte, o conhecimento se desdobra em outros, de
modo a configurar um processo de aprendizagem contínuo.
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Capítulo 3
Seção 3
Por que se deve planejar a pesquisa?
A pesquisa é uma atividade organizada e sistemática, que segue um
planejamento, na forma de um projeto, para responder ou solucionar um
problema. Trata-se de uma atividade ligada a um processo complexo, constituído
de várias etapas, não havendo por isso como aceitar a ideia de que exista
pesquisa de fácil resolução, no sentido de simplificar a complexidade do
processo de construção de um trabalho científico.
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Universidade e Ciência
1 Perceba como os dois primeiros itens são dependentes de uma leitura qualificada, tema tratado no capítulo
anterior desse livro.
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Capítulo 3
Assim, cabe dizer que planejar é uma forma de se antecipar o futuro, não se
deixar engolir pelo problema e, dessa maneira, o projeto funciona como um
instrumento de planejamento, uma ferramenta que delineia procedimentos e
ações que se desenrolarão no decorrer da pesquisa.
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Universidade e Ciência
1 - Tema da pesquisa
O tema é a determinação do objeto da pesquisa, que corresponde à seleção
de uma "[...] fração da realidade a partir do referencial teórico-metodológico
escolhido" (BARRETO; HONORATO, 1998, p. 62). A convicção na decisão pelo
tema adequado ao problema de pesquisa 2 é um bom indício de que o trabalho
científico a ser desenvolvido será de qualidade.
Heerdt (2004) afirma que "o tema de pesquisa é, na verdade, uma área de
interesse a ser abordada. É uma primeira delimitação, ainda ampla." Exemplos de
tema: Navegações marítimas; Direito do consumidor; Gestão financeira pessoal.
2 - Delimitação do tema
A delimitação do tema é o enunciado (tema de conteúdo mais detalhado) que responde
simultânea e aleatoriamente às perguntas: O que pesquisar? Que período pesquisar?
Que lugar (ou ambiente) pesquisar? Quem pesquisar (sujeitos da pesquisa)?
2 Tema adequado àquela pergunta que o pesquisador deseja responder com a pesquisa.
47
Capítulo 3
3 - Problema de pesquisa
O problema é uma pergunta inteligente (planejada) que revela claramente o objeto
de pesquisa ou questão central, sentida na realidade, a ser respondida pela
pesquisa. Em sua construção, até chegar à pergunta central, deve-se observar
com atenção a sequência lógica das seguintes indagações:
Marinho (1980 apud LEITE, 2011, p. 61) afirma que na formulação do problema
são fundamentais os aspectos da viabilidade (o problema pode ser eficazmente
resolvido por meio da pesquisa), relevância (é capaz de trazer conhecimentos
novos a uma indagação antiga, ainda não esgotada ou examinada de forma
satisfatória), novidade (se está adequado ao estágio atual da evolução científica),
exequibilidade (o problema conduz a uma conclusão válida) e oportunidade
(permite ao pesquisador apresentar conclusões sobre o tema proposto).
Rauen (2015, p. 133) defende que se deve formular o problema na forma de uma
pergunta direta. "Quando um tema está razoavelmente delimitado, é possível
convertê-lo numa questão de pesquisa. Por exemplo, pode-se anteceder o
tema com um pronome interrogativo 'Quais', acrescido das devidas adaptações
linguísticas, e finalizá-lo com ponto de interrogação."
4 - Hipóteses
É uma proposição que responde a um problema de pesquisa, derivada de
uma teoria que se obtém por meio de inferência dedutiva e que permite
verificação empírica.
3 Sobre o que são esses itens, consulte material referente na nossa midiateca.
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Universidade e Ciência
5 - Justificativa
A justificativa é um texto dissertativo que apresenta conteúdo problematizado,
justificando a necessidade da pesquisa por meio de argumentos próprios.
Apresenta, sobretudo, a importância científica e social da pesquisa pretendida,
como também suas intenções e finalidades. Os motivos da justificativa devem tornar
relevante a realização da pesquisa, correspondendo às perguntas centrais: por que
se deseja realizar a pesquisa e e qual sua relevância social, científica ou profissional?
Barral (2003, p. 88-89) oferece alguns itens importantes que podem fazer parte de
uma boa justificativa. São eles: "a) atualidade do tema; b) ineditismo do trabalho;
c) interesse do autor; d) relevância do tema; e) pertinência do tema."
49
Capítulo 3
6 - Objetivos
O objetivo expressa a ação para a solução do problema. A elaboração do objetivo
viabiliza a construção dos capítulos do trabalho científico, por isso recomenda-
se que os objetivos devam ser expressos no infinitivo, para indicar a ideia de
ação ou estado. Esses respondem, simultaneamente, às perguntas: Para que vou
pesquisar o tema? Que ações respondem ao problema da pesquisa?
50
Universidade e Ciência
Não se pode esquecer, ainda, que os autores citados nesse item do projeto,
certamente, farão parte da fundamentação teórica do trabalho científico, quando
já se executou a pesquisa, revelando aprofundamento dos conhecimentos pelo
estudante sobre o tema proposto.
51
Capítulo 3
Essa fase é uma grande oportunidade para que o estudante aprenda que, de
acordo "com a complexidade da pesquisa, as metas [que subentendem um
problema operacional e não, necessariamente, os objetivos específicos] podem ser
desenvolvidas em ações; e, essas ações, em procedimentos." (RAUEN, 2015, p. 144).
4 Para saber mais sobre esses tipos de abordagem, consultar na midiateca, No Eva, texto referente.
52
Universidade e Ciência
9 - Cronograma
O cronograma é o item da metodologia em que se detalham as ações inerentes
à aplicação e composição da pesquisa no decorrer do tempo. Pode ser também
a distribuição adequada das tarefas, por ordem de importância, em relação ao
tempo previsto. É costumeiro apresentar as ações e datas na forma de tópicos
ou de quadro. Salienta-se, ainda, que esta etapa preveja, cronologicamente, as
atividades inerentes à estruturação da monografia e não do projeto, uma vez que
este corresponde ao planejamento daquela.
10 - Referências
As referências dizem respeito à etapa em que se listam as obras citadas no texto
do projeto, em ordem alfabética e alinhadas à esquerda, conforme a NBR 6023
vigente da ABNT.
53
Capítulo 4
Seção 1
A linguagem como prática social
Um dos mitos (desde Aristóteles) que chama a atenção sobre a linguagem é o de
atribuir a ela a simples função de possibilitar a transmissão de informações entre as
pessoas. Entretanto, muito mais do que “transmitir”, cabe à linguagem a função de
representar a realidade, na medida em que ela própria possibilita efeitos de sentidos
múltiplos, a cada vez que se materializa numa dada enunciação 1. Não é à toa que
Carlos Drummond de Andrade escreveu, em Procura da Poesia, o seguinte fragmento:
[...]
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
(grifo nosso)
1 Enunciação entendida aqui como ato de utilização da língua pelo falante, ao produzir um enunciado em um
dado contexto comunicativo.
55
Capítulo 4
Grifamos - “cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra” -, justamente
porque, a cada ato comunicativo (enunciação), a palavra aparece com um efeito
de sentido diverso e ao mesmo tempo único, decorrente daquele ato, daquele
instante presente. Imaginemos, num exemplo prático do dia a dia, alguém
pronunciando a frase “- hoje estou engolindo sapos!”. A palavra “sapos” aparece
em um sentido conotativo, visto que, naturalmente, não se engole sapos. O efeito
de sentido torna possível a compreensão de que, no dia de hoje, se está com
problemas, dificuldades, tensões.
56
Universidade e Ciência
Seção 2
Autoria
A autoria está em relação com o sujeito que produz um texto, ou seja, o sujeito-
autor o qual usa a linguagem em determinada situação. Por conseguinte, o que
caracteriza a autoria é “a produção de um gesto de interpretação”, quer dizer,
quem produz o texto é “responsável por uma formulação que faz sentido. O modo
como ele (o sujeito) faz isso caracteriza sua autoria”. (ORLANDI, 2001, p. 76).
Muitos pensamos que o que move o mundo é o dinheiro, os bens materiais que
tanto nos atraem ou mesmo a busca pelo prestígio e poder. Tudo isso é muito
importante e mexe de verdade com o comportamento humano, porém, o que mais
é capaz de provocar mudanças, transcender teorias e transformar o mundo é, de
fato, a linguagem.
As palavras são muito poderosas, quando saem de nossa boca tem o potencial
de criar ou dissipar estresses, cativar ou afastar pessoas, conquistar ou destruir
sonhos, provocar paixão ou abrir feridas que duram por uma vida inteira. Tudo vai
depender de nossa habilidade de lidar com elas no tempo, dose, forma e tempero
adequado. (COSTA, 2016, p. 1).
57
Capítulo 4
vez que aí intervêm os aspectos discursivos (a situação real de uso da língua, nas
interações sociais).
O autor é o sujeito que produz o texto em uma situação sociointerativa com todos os
critérios de coesão e coerência, como prática social.
Seção 3
A materialização da linguagem: texto
Um texto, segundo a sua materialidade, é um objeto com começo, meio e fim, tem
relação com outros textos (existentes, possíveis ou imaginários), com suas condições
de produção (os sujeitos e a situação) e com sua exterioridade constitutiva.
58
Universidade e Ciência
Exemplificamos:
Essa imagem
é um texto?
O texto além de ter uma materialidade específica, também está relacionado com os
contextos de uso. Em cada esfera da sociedade, circulam textos com certas regularidades
comuns dessa esfera. Isso trataremos a seguir, sobre os gêneros discursivos.
59
Capítulo 4
Seção 4
Gêneros discursivos
Os gêneros discursivos são formas típicas de enunciados que se realizam em
condições específicas e com variadas finalidades nas diferentes situações de
interação social.
É preciso ficar claro que as tipologias ou sequências textuais estão a serviço dos
gêneros. E mais: fazer uso desta ou daquela tipologia, e mesmo lançar mão de
mais de uma delas, dependerá de qual gênero se vai elaborar. Assim também
a opção por este ou aquele gênero é uma questão a se decidir e a decisão
dependerá de um conjunto de fatores, tais como: as características e a finalidade
do texto; a quem ele se destinará etc.
Você já parou para pensar quais são os gêneros discursivos que o cercam em seu dia a dia?
Aqui na Universidade circulam, principalmente, artigos científicos, ensaios, monografias,
projetos, relatórios, Trabalho de Conclusão de Curso etc.
60
Universidade e Ciência
Hoje, há diversos suportes como o papel (livros, jornais, revistas, apostilas etc.),
as telas (da televisão, do computador), as diferentes mídias ou qualquer espaço
virtual. Os suportes – essenciais para a circulação dos gêneros – podem variar de
acordo com as necessidades de quem os está usando. Por exemplo, posso usar
um telefone celular para mandar um bilhete ou ler uma notícia.
Se encontrarmos esse texto num papel sobre a mesa, ele será um BILHETE. Se
o encontrarmos numa secretária eletrônica, é um RECADO. Se for enviado pelo
correio é um TELEGRAMA. Caso esteja em um celular, será uma MENSAGEM. E,
se estiver num outdoor, é uma declaração de amor.
A partir do que foi apresentado acima, podemos dizer que o suporte é uma
superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. Essa
ideia compreende três aspectos:
61
Capítulo 4
62
Universidade e Ciência
Seção 5
Texto e construção de sentido
Ao se olhar para dentro de um texto, isto é, para as partes que o compõem, é
possível observar não só os elementos linguísticos que os constituem – as palavras,
os períodos e os parágrafos, mas também as ideias que por ali passam. Esse
conjunto vem a ser responsável por estabelecer a coerência e a coesão textuais.
5.1 Coerência
Um texto é coerente quando apresenta ideias organizadas e argumentos
relacionados em sequência lógica, de forma a permitir que o leitor chegue às
conclusões desejadas pelo autor. Assim, um texto coerente deve satisfazer a
quatro critérios básicos:
63
Capítulo 4
Meu filho não estuda na UNISUL. Ele não sabe que a primeira Universidade do mundo
românico foi a de Bolonha. Essa universidade possui um imenso espaço verde.
Fique atento!
Para finalizar esse item, acompanhe a definição apresentada por Fávero (2004, p.
10): “A coerência refere-se aos modos como os componentes do universo textual,
isto é, os conceitos e as relações subjacentes ao texto de superfície, unem-se
numa configuração de maneira reciprocamente acessível e relevante”.
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Universidade e Ciência
5.2 Coesão
Um texto é coeso quando suas partes estão estruturalmente bem organizadas.
Entre os elementos de coesão estão os conectores – conjunções, pronomes,
advérbios, preposições que podem aparecer entre palavras, orações, períodos e
parágrafos – e outros recursos gramaticais (a substituição vocabular – por meio
de sinônimos, hiperônimos e hipônimos – a elipse etc.).
d) Todos queriam que o aluno participasse da pesquisa, mas, por ser um acadêmico
de primeira fase, seu projeto não foi aceito.
65
Capítulo 4
Embora haja quem pense diferentemente, pode-se dizer que coerência e coesão
são aspectos interligados, ainda que não sejam dependentes. Assim sendo, é
provável que se um texto estiver mal estruturado, o sentido estará comprometido.
Porém, é possível que, mesmo sem uma coesão estabelecida por elementos
coesivos, um texto apresente-se com coerência. Nesse caso, a falta de ligação por
meio de elementos linguísticos coesivos não impediu o sentido entre as ideias.
66
Universidade e Ciência
É de fundamental importância que você saiba fazer uso dos conectivos em seus textos,
pois são eles os elementos responsáveis pelo encadeamento lógico das ideias, o que
justifica denominá-los de conectores argumentativos.
Como a própria palavra define, conectores são elementos que unem, ligam
elementos. Na língua portuguesa, os conectores são elementos que permitem a
“costura” do texto, deixando-o mais coeso. Podemos utilizar diversos conectivos
em nossos textos, como:
Além dos exemplos citados acima, podemos usar também os conectivos que
traduzem relações de:
Cada um desses conectivos tem um valor e tem como objetivo, além de ligar partes
do texto, estabelecer relação semântica de: causa, finalidade, conclusão, contraste,
oposição etc. Dessa forma, ao produzirmos nossos textos, temos de “ter o cuidado de
usar o elemento adequado para exprimir o tipo de relação que se quer estabelecer”,
como já enfatizam Platão e Fiorin (2007).
67
Capítulo 4
De acordo com Platão e Fiorin, o conectivo PORÉM, usado para unir as duas
frases, apresenta uma relação de contradição entre elas. Nesse caso, não teria
sentido usar, por exemplo, o termo PORQUE, pois sabemos que esse termo
indica causa e se assim o fosse, o enunciado apresentado ficaria sem sentido,
pois a exportação de produtos agrícolas não pode ser vista como a causa de
Israel ter um solo árido. Certo?
Veja, a seguir, um quadro organizado por grupos de conectores com suas funções
textuais.
AINDA QUE
NÃO
OBSTANTE
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Universidade e Ciência
As mulheres sempre lutaram pelos seus direitos, mas ainda há muita discriminação
em relação a elas, pois os homens, em muitas empresas, ainda ganham mais.
Explicando:
Explicando:
Como finalização desta seção, refletiremos sobre alguns dos problemas mais
recorrentes, e que devem ser evitados, quando se pretende produzir textos
objetivos e adequados à língua padrão.
69
Capítulo 4
5.3 Ambiguidade
Possuem ambiguidade as palavras, as expressões ou os períodos com mais de
um sentido. A ambiguidade pode ser estrutural, lexical ou de referência.
•• eu o vi no banco.
De referência: quando não fica definido qual é o nome que um pronome deve retomar.
Há uma tentativa de usar os pronomes todos eles para fazer referência a um termo
anterior, no entanto, não sabemos se eles se refere a alunos ou a professores.
Importante!
Estamos listando ambiguidade como algo que deve ser evitado nos textos. No entanto, cabe
um comentário: a ambiguidade é um problema em textos técnicos, científicos, empresariais,
jurídicos, ou seja, textos informativos em geral, que exigem clareza e objetividade.
70
Universidade e Ciência
Seção 6
Discurso
Não se pode perder de vista que todo texto é influenciado por – e depende
de – textos que já ocorreram anteriormente. Trata-se do fenômeno da
intertextualidade, sem a qual um texto não se efetiva. Nesse sentido, pode-
se dizer que todo texto traz em si outros textos ou apresenta um grau de
intertextualidade constituída. De outro lado, haverá sempre na base de um
discurso outros discursos que, por sua vez, vêm demarcados in memória. Trata-
se do fenômeno da interdiscursividade.
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Capítulo 4
Daí poder-se dizer que “o discurso é sempre incompleto, assim como são
incompletos os sujeitos e os sentidos” (ORLANDI, 2001, p. 113). Compreender
um discurso é, portanto, muito mais que decodificar mensagens, é, antes, buscar
estabelecer uma relação de reciprocidade entre o dizer e o não dizer (do outro),
sendo essa relação permeada pela ideologia.
72
Universidade e Ciência
Você pode notar que o escritor Caulos (1978) lança mão do pensamento de
Gonçalves Dias para compor sua crítica em defesa da natureza brasileira,
bastante ameaçada. Ou seja, Caulos utilizou-se da intertextualidade (abordada
no capítulo 2) ao trazer, para seu texto, a ideia e as palavras de Gonçalves Dias
expressas nos versos do poema “Canção do Exílio”, escrito pelos idos do século
XIX, na época do Romantismo no Brasil.
Seção 7
Que linguagem buscar no processo científico?
73
Capítulo 4
Assim:
7.2.1 Introdução
O objetivo principal da introdução é apresentar o assunto de maneira clara e
precisa e, também, a maneira como a pesquisa foi desenvolvida.
2 Você acompanhou no capítulo 3 as partes de um projeto de pesquisa, aqui estamos vendo as partes do
trabalho pronto. Tenha clareza também que um trabalho acadêmico pode ser um relatório, uma resenha crítica
etc., não só um projeto de pesquisa.
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Universidade e Ciência
7.2.2 Desenvolvimento
O desenvolvimento é dividido em partes e é a fração mais extensa do trabalho,
pois nele são apresentados os resultados de tudo aquilo que se pesquisou.
75
Capítulo 4
7.2.3 Conclusão
A conclusão é a parte que finaliza a construção lógica do trabalho e deve fazer
um balanço geral dos principais resultados alcançados. Não é conveniente
detalhar ideias que não tenham sido tratadas no desenvolvimento e nem se deve
apresentar um mero resumo do trabalho. Entretanto, na parte inicial, podemos
relembrar, de maneira breve, as principais ideias que foram expostas no decorrer
dos capítulos.
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Universidade e Ciência
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Considerações Finais
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Referências
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Universidade do Sul de Santa Catarina
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002
LIMA, Jorge de. Poesia completa. Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, 2 v, v. 1,
p. 237.
PLATÃO, Francisco Savioli; FIORIN, José Luiz. Lições de texto: leitura e redação.
5. ed. São Paulo: Ática, 2007.
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Universidade e Ciência
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Sobre os Professores Conteudistas
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Universidade do Sul de Santa Catarina
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