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Muito se tem falado em nossos dias sobre o verdadeiro sentido da missão da Igreja.
Especulações de diversos ramos evangelicais têm ao longo do tempo, forjado diversas
teorias sobre esse tão importante assunto. Deste modo, não é pretensão de nossa parte a
criação de mais um novo conceito de missão; mas, acima de tudo, o de encontrarmos na
Teologia Bíblica toda a sua legítima e real significância.
O termo missão deriva da palavra latina missio (enviar), referindo-se à proclamação do
evangelho a todos os homens em todas as partes do mundo. Uma vez que ela objetiva a
conversão das nações em todos os tempos (Mateus 28. 19.20; Atos 1.8), o envio de
missionários é de máxima importância. A interpretação atual da missão vê esta atividade
da igreja como parte da missio Dei, o Deus triúno propondo-se a reconciliar o mundo
consigo por meio de Cristo. Assim como o Pai envia seu Filho, assim eles enviam a igreja
sob a direção e a inspiração do Espírito Santo. A missão é um instrumento da ação divina
na história para a consumação de seus propósitos para s criaturas humanas. Bosh afirma:
“A missão tem sua origem no coração de Deus. Ele é uma fonte da qual mana amor. Esta
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é a mais profunda origem da missão. É impossível penetrar ainda mais fundo; há missão
porque Deus ama as pessoas.”
Nosso ponto de partida é o fato de que missão está intrinsecamente subordinada ao
Reino de Deus; sendo o seu objetivo único, a proclamação deste. Devemos entender que
Missão não é a simples “proclamação” do plano redentor salvífico; mas também, a
proclamação de todos os atributos que constituem este Reino. Desta feita, é totalmente
inconsequente e infundada a simples pregação do Evangelho tal como é feita em nossos
dias: o Evangelho que salva a alma, mas que não salva o corpo (aspecto social), e tão
pouco a mente (aspecto emocional). Isto seria ao nosso ver, reduzir o amplo conceito de
missão à evangelização (em sua forma catequética ou puramente proselitista). Segundo
Costas: “evangelizar é participar de uma ação transformadora, isto é, a boa-nova de
salvação. Neste sentido, a evangelização não é um conceito, mas sim uma tarefa
dinâmica, encarnada primeiro na vida e ação salvífica de Jesus Cristo. Portanto, ela não
pode ser reduzida a uma fórmula verbal. Evangelizar é reproduzir pelo poder do Espírito
Santo a salvação que foi revelada em Jesus Cristo.”
O conceito de Missão como puramente o envio de missionários a terras distantes (ainda
não cristianizadas), perde seu sentido obsoleto; pois baseia-se tão somente em uma
hermenêutica sensacionalista do ‘além mar’, que nada mais é que uma continuação da
teologia de missões (catequética) da Igreja Romana desde seu período medieval. Tal
conceito, difunde-se principalmente através das “agências” missionárias que têm seu
nascimento na omissão da Igreja, a quem Cristo realmente comissionou para tal missão.
Desta feita, os movimentos para eclesiásticos (que crescem dia a dia assustadoramente),
cumprem de fato, distorcida e imperfeitamente, aquilo que de direito pertence
exclusivamente a Igreja de Cristo na terra.
Não obstante a isso, a Igreja que ora vive ainda intensamente este conceito errôneo das
Missões, tem se despertado enfim para o cumprimento da Grande “Missão”; missão está,
integral e legitimamente Escriturística. Um conceito defendido e explorado a partir do
glorioso Congresso Internacional de Evangelização Mundial em Lausanne, Suíça, de 16 a
25 de julho de 1974. Onde a Missão tomou o seu sentido mais amplo, como aquela que
exerce atividade profética sobre a sociedade; pregando o evangelho de Cristo aplicando
seu conteúdo em todos os seguimentos da sociedade, como na luta contra as misérias
sociais, corrupção política, econômica, etc. Segundo Stephen Neill: “a era das missões
chegou ao fim, começou a era da Missão”. Sendo assim, a Missão tem sua essência
voltada para o alcance não apenas do homem pecador (indivíduo), mas, também, para o
alcance da sociedade pecadora; onde estão “todos os eleitos” de Deus. Diante disso,
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entendemos e optamos por este conceito, defendido a partir de Lausanne, crendo ser
este fruto de uma verdadeira e reformada teologia bíblica; com frutos que evidenciem o
Reino de Deus, tal como acontecera na Genebra dos dias de Calvino; influenciada em
todos os âmbitos sociais pelo ministério profético social da reforma, liderada por ele.
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todo (a medida do possível) notório em todos os seus feitos; sendo, portanto, exemplo de
frutos de justiça.
Ao compreendermos o sentido de Missão em toda a sua plenitude, poderemos observar
que esta, toma sobre si a qualidade Profética. O que implica em dizer que a exemplo do
ministério profético descrito nas Escrituras Sagradas, na qual o profeta era o indivíduo
levantado por Deus para representá-lo como “porta-voz”, isto é, um agente dos desígnios
de Yahweh; a Missão é em si uma ação profética, pois tem por objetivo anunciar os
desígnios de Deus a este mundo tenebroso; corrompido em todos os seus seguimentos
pela ação pecaminosa do homem e pela astúcia de Satanás. Os valores e princípios do
Reino e a Mensagem da Cruz, são a mensagem a ser proclamada. Diante disso a Igreja
destaca-se como a grande profetiza do Reino. A escolhida e vocacionada por Deus para
tamanha e gloriosa obra, que nem aos anjos fora permitido realizar.
Segundo A. A. Van Ruler; “… A missão deve ser vista como a proclamação do Reino de
Deus como Reino de Cristo a cada novo povo e em cada época nova. Assim, o tempo
passa a ser entendido historicamente deste esxaton: o Reino de Deus.”
Deste ponto vista, podemos concluir que a Missão compreende uma continuação do
ministério profético de Israel; que antes não apenas tratava dos assuntos peculiares a
este povo, mas também proclamava a salvação futura aos gentios, por meio de Cristo
Jesus, o Messias prometido (cf. Is 41,49,56, etc.). Sendo assim, podemos afirmar
categoricamente que o profetismo fora um meio singular (quanto a sua eficácia) pelo qual
Deus se revelava ao homem ao longo do desdobramento do plano salvífico na história
humana.
No contexto em que vivia, o profeta não apenas declarava o pecado e a maldade de sua
geração como também era o proclamador da salvação ao seu povo, além de toda sorte
de livramentos oferecidos por Deus ao mesmo. Assim, a missão (como profética) anuncia
em cada povo e em cada momento da história, a soberania de Deus e seus decretos
eternos e imutáveis. Não havendo, portanto, espaço para uma missiologia terapêutica,
que massageia o ego humano com sua mensagem sedutora do sucesso contínuo, do
inabalável, da vida sem doenças, dificuldades, etc. Além do mais, o ministério profético
requer responsabilidade social daquele que anuncia os decretos de Deus. O profeta não é
alguém alheio a realidade em que vive, ou puramente indiferente a ela. Ele deveria ser de
todo (a medida do possível) notório em todos os seus feitos; sendo, portanto, exemplo de
frutos de justiça.
O livro de Lamentações expressa a dor do profeta Jeremias pela ruína social de seu povo.
A mensagem empregada por Jeremias era ao mesmo tempo que salvífica: social, política
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e cultural. E todos estes são valores e diretrizes que de maneira alguma, devem estar
ausentes da missão entendida como um todo. A Igreja torna-se agora, não mais uma
simples proclamadora indiferente a sua realidade; mas sim, uma agência de promoção do
bem-estar social como um todo. Contudo, devemos esclarecer que tudo isto nada tem a
ver com a teologia da libertação, que na verdade nada mais é que uma “teologia”
marxista; deixando de lado o evangelho de Cristo e o Reino como centralidade da história,
para colocar nesse eixo o social e a política como um fim em si mesmo. Para estes, o
cristão teria a sua fé apenas como motivação, seguindo o programa dos partidos (na
política), igual aos não cristãos, porque “hoje o espírito que preside a presença dos
cristãos na vida política partidária não é mais conduzido em função da Igreja, mas em
função do povo e dos pobres”.
Minimizando o papel da revelação e da transcendência, da dimensão espiritual ou mística
da experiência religiosa, os teólogos da libertação, com um implícito universalismo,
reduzem igualmente a distinção entre Igreja e mundo, o campo missionário e a agência
missionária. “Com uma escatologia do tipo pós-milenista, um esvaziamento da identidade
cristã, e o privilegiar de certos marcos teóricos e propostas seculares, essa corrente de
pensamento mais se aproxima do campo das teorias políticas do que da Teologia como
historicamente entendida.”
Na teologia reformada, a teologia profética da missão está baseada em pelo menos 8
(oito) alicerces escriturísticos, a saber: a Soberania de Deus, a Trindade, a Predestinação,
a Depravação Humana, a Eleição Incondicional, a Expiação Limitada, a Graça Irresistível ,
a Perseverança dos Santos, e como alvo de tudo: A Glória de Deus. Todos estes pontos
constituem os pilares da conceito calvinista (que é essencialmente bíblico e teocêntrico),
que abrange “todo o desígnio de Deus”(At 20.27) Evangelizar (proclamar) é anunciar todo
o desígnio de Deus; é “pregar aos gentios o evangelho das insondáveis riquezas de
Cristo”(Ef 3.8); é anunciar “o propósito daquele que faz todas as coisas conforme o
conselho da sua vontade”(Ef 1.11).
A Soberania de Deus na salvação requer a evangelização… As missões são necessárias.
A Igreja precisa realizar a sua tarefa evangelística, anunciando os propósitos de Deus;
mas quando digo Igreja, penso no corpo de Cristo, que é uma operação do Espírito. A
Igreja precisa ser missionária, anunciando que há um propósito de Deus para o mundo e
que Jesus é o Senhor e Salvador.
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diante da dor alheia, mas é incapaz de mover uma palha para aliviar essa dor e ajudar a
pessoa aflita. Essa é nossa missão: “sermos influenciadores sociais”. Dentro desse
contexto, a igreja se destaca como a grande portadora das virtudes celestiais. Herdeira da
vida, da justiça, da paz, do real prazer e da alegria, enfim, de tudo aquilo que provém
única e exclusivamente de Deus.
Não basta à igreja fazer belos discursos sobre o amor de Deus, se ela não representa o
braço da misericórdia divina na vida dos aflitos e necessitados. Precisamos entender que
nós somos corpo de Cristo na terra. Jesus fala a um pecador moribundo através de nossa
boca. Ele visita o enfermo quando vamos ao seu encontro no leito de dor. Ele alimenta o
faminto quando abrimos a mão e a despensa da nossa casa par socorrê-lo.
Sendo assim, entendemos que o objetivo maior da missão é a transformação: espiritual e
social. É a proclamação do evangelho que transforma o interior do homem, levando-o a
exteriorizar os frutos de uma vida em Cristo. A transformação social incitada pela prática
do evangelho integral, ocorre a partir do momento em que não desassociamos a prática
do evangelho, isto é, a proclamação (evangelização), da responsabilidade social.
É honroso para o servo de Deus, e constitui um dever imposto a cada um de nós, tentar a
infiltração dos nossos padrões evangélicos na consciência do povo e até nos sistemas
econômicos, políticos e sociais. Isto se faz através do nosso testemunho falado ou escrito
e até por meio de entidades ou grupos tecnicamente organizados, os quais poderão
exercer grande influência entre as diversas classes profissionais.
Não faz mal reprisar que jamais a Igreja pensou tanto na sua responsabilidade social.
Estudos aprofundados na Palavra de Deus têm levado muitos cristãos a compreender
melhor a sua responsabilidade perante as necessidades do mundo em que vivemos.
Como resultado desses estudos, muitos são levados para mais perto do Senhor Jesus e
têm sentido que, quanto mais se aproximam do seu Senhor, maior compreensão têm do
mundo e das suas realidades.
Ao proclamarmos o evangelho a um povo, damos início a um processo de revolução
social. Isto é, transmitimos aquela sociedade todos os valores absolutos do reino: sua
justiça, sua ética, sua moral, etc. ” Em seu sentido mais amplo, a missão é o que a igreja
faz a serviço do reino de Deus”. Desta feita compreendemos que a missão (como
ordenança divina) é a aplicação do evangelho integral ao homem integral.