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Apostila Barragens 05.2003 - UnB
Apostila Barragens 05.2003 - UnB
Faculdade de Tecnologia
Dept. Engenharia Civil & Ambiental
Prog. de Pós-Graduação em Geotecnia
APOSTILA DE BARRAGENS
BRASÍLIA, DF 2003
Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / FT
Geotecnia
ÍNDICE
CAPÍTULO 1 1
1. FASES DE ESTUDO E PROJETO 1
1.1 Introdução 1
CAPÍTULO 2 8
2. FATORES QUE INTERFEREM NO ARRANJO GERAL DE UMA BARRAGEM 8
CAPÍTULO 3 15
3. FATORES PREDOMINANTES NA SELEÇÃO DO TIPO DE BARRAGEM DE
TERRA E DE BARRAGEM DE ENROCAMENTO 15
3.1 Introdução 15
CAPÍTULO 4 27
4. ENSAIOS DE LABORATÓRIO 27
4.1 Introdução 27
CAPÍTULO 5 49
5. PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DE SOLOS COMPACTADOS 49
5.1 Introdução 49
5.6 Observações 62
CAPÍTULO 6 64
6. PROPRIEDADES DOS ENROCAMENTOS COMPACTADOS 64
6.1 Introdução 64
CAPÍTULO 7 77
7. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETOS DE BARRAGENS DE TERRA E
ENROCAMENTO 77
CAPÍTULO 8 85
8. ANÁLISE E CONTROLE DE PERCOLAÇÃO 85
CAPÍTULO 9 113
9. FUNDAÇÕES EM SOLO 113
CAPÍTULO 10 141
10. FUNDAÇÕES EM ROCHA 141
CAPÍTULO 11 160
11. TRATAMENTO DE FUNDAÇÃO DE BARRAGEM DE TERRA ATRAVÉS DE
CORTINA DE INJEÇÃO 160
REFERÊNCIA 169
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Balanço de regularização 2
Figura 1.2 Amortecimento da onda de cheia 3
Figura 1.3 Reservatório de finalidade múltipla, controle de cheias, navegação e
produção de energia elétrica 4
CAPÍTULO 1
1.1 Introdução
A conscientização humana, notadamente nas duas últimas décadas, da limitação dos recursos
naturais da terra, aliada à crescente demanda das mesmas, tem conduzido cada vez mais a sua
exploração de modo racional e otimizado, reduzindo seu desperdício ao mínimo.
Sob este enfoque são desenvolvidos os estudos para a implantação de barragens, em que, em
uma primeira fase, é estudada toda a Bacia Hidrográfica, e associada a todos os possíveis usos
de água. Deste modo, evita-se que a implantação de uma barragem, num determinado local,
prejudique outros locais barráveis da bacia, o que impediria a otimização global almejada. Por
outro lado, evita o aproveitamento da água somente sob uma finalidade.
No Brasil, o planejamento integrado de uma bacia, sob o ponto de vista energético já tem
cerca de 20 anos, enquanto que, o associado a finalidades múltiplas, tem sido cada vez mais
adotado, principalmente nos últimos 10 a 15 anos.
Com algumas exceções as barragens podem ser reunidas, quanto as suas finalidades, em dois
grupos: Barragens de Regularização e Barragens de Retenção.
Barragens de Regularização
Q
Vazões Naturais
Suprimento Déficit
Vazões
Período de Armazenamento
Período de Regularização
Ano Hidrológico t
Navegação – Também neste caso há um benefício duplo: a). Para jusante, através da
regularização do período de estiagem. b). Para montante, através do afogamento
de eventuais corredeiras e cachoeiras.
Barragens de Retenção
Tem a finalidade de reter água, amortecendo a onda de cheias para evitar inundações
(Figura 1.2), podem ser utilizadas também para a retenção de sedimentos ou resíduos
Natural
Volume Vazão Amortecida
Acumulado
Vazões
Descarga Efluente
Em muitos casos é comum uma barragem possuir mais de uma finalidade, conforme
apresentado na Figura 1.3, onde pode-se apreciar que o volume de um reservatório possui
usos diversos como o de regularização para a geração de energias, assim como o controle de
cheias e a regularização para navegação.
Os estudos e projetos para a implantação final de uma barragem, são executados em quatro
etapas de distinta cronologia, visando a otimização da bacia hidrográfica como um todo.
Visa determinar a melhor divisão de queda da bacia sob o ponto de vista de aproveitamento
múltiplo (energético, navegação, irrigação, controle de cheias, entre outros), associado às
seguintes limitações físicas: cidades, estradas, jazidas, parques nacionais e indígenas, entre
outras. A dificuldade de otimização de todas estas variáveis prende-se não somente a sua
multiplicidade, mas principalmente às possíveis variações futuras da importância relativa
destas variáveis, uma vez que o tempo entre os estudos iniciais de inventário de uma bacia,
com sua definição de quedas, e a implantação de todos os aproveitamentos é de cerca de 30 a
40 anos.
Nesta fase é realizada a análise técnico-econômica dos possíveis eixos, dentro do trecho
definido na fase de Inventário. Com esta informação é realizada a definição da melhor
alternativa do eixo para a barragem, assim como a definição do arranjo geral e a comprovação
técnico-econômica do aproveitamento como um conjunto.
É o valor numérico que expressa a intensidade do impacto ambiental sobre a área de estudo,
variando em uma escala contínua desde zero (mínimo impacto) até um (máximo impacto).
Este índice é calculado considerando-se os impactos sobre ecossistemas aquáticos e terrestres,
modos de vida, organização territorial, base econômica e populações indígenas.
CAPÍTULO 2
As Figuras de 2.3 a 2.5 ilustram arranjos típicos para os três tipos de vales citados
anteriormente.
Tomada de água
Barragem
Vertedouro
Casa de força
Ensecadeira
Túnel de Barragem
desvio
Vertedouro
Tomada
de água
Casa de força
Figura 2.4 Arranjo típico em vale medianamente encaixado (UHE Foz do Areia)
Eclusa
Vertedouro
Barragem
Casa de Força
Canal de fuga
Barragem
Um local poderá ser considerado propício para construção de barragem de terra homogênea
(Figura 2.6) quando o reconhecimento de campo indicar que a rocha se encontra a grandes
profundidades na área em consideração. Esse tipo de barragem exige menor declividade nos
paramentos de montante e jusante e, portanto, resultando em maiores volumes. Por isso, é
utilizado para pequenas e médias alturas.
NAmax
B
NAmin
2,5 Hba
3,0 1
1
aterro filtro
O local poderá ser considerado propício para construção de barragem de enrocamento com
núcleo de argila (Figuras 2.7 e 2.8) ou com face de concreto (Figura 2.9) se o reconhecimento
de campo indicar, na área selecionada, a existência de rocha sã e de boa qualidade ao longo do
eixo, a pequena profundidade. Esse tipo de barragem não necessita de condições especiais de
fundação. Grandes volumes de escavação em rocha na casa de força, em canais e vertedouros
são um bom indicativo para a utilização deste tipo de barragem. Além disso, se existirem
períodos chuvosos ou excessiva umidade que prejudique a execução de núcleos de argila, ou a
dificuldade na obtenção de material adequado para o núcleo, a solução com face de concreto é
a mais indicada.
Um local poderá ser considerado propício para construção de barragem de concreto (Figura
2.10) quando o reconhecimento de campo indicar, na área selecionada, a existência de rocha
sã e com compressibilidade pequena ao longo de todo o eixo já que estas exercem maiores
pressões nas fundações, a pequena profundidade. A estabilidade é garantida principalmente
pelos esforços de gravidade. A não ser em casos excepcionais, somente deverão ser
consideradas barragens de concreto tipo gravidade maciça.
transição
10,0
NA
B
0,2 0,2
1
1 1 H ba
El te
Figura 2.7 Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila vertical
transição
Elcr
NAmax
B
1 1
0,8
Hba
1
1
0,5
Elte
núcleo de argila
enrocamento
Figura 2.8 Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila inclinado
B NAmax
laje de concreto
1 Hba
enrocamento
Elte
plinto transição
8,0
Elcr
NAma
Hbl
x
1
Hba
Elte
CAPÍTULO 3
3.1 Introdução
Não raro soluções economicamente mais desfavoráveis são selecionadas, caso estas estruturas
sejam analisadas isoladamente. Entretanto, apresentam, nítidas vantagens econômicas no
contexto global do aproveitamento.
Nível Normal
2,5
4 1
Filtro
Terreno 1 Argila Vertical
Original Compactada
Dreno Horizontal
Linha de Escavação Enrocamento
Linha de Rocha
Denominação dada quando não há um único material predominante. Conforme será visto no
item subseqüente, a escolha entre seção homogênea ou zoneada depende dos materiais de
construção disponíveis e seus respectivos custos. Na Figura 3.2 é apresentada a seção típica
da barragem São Simão no Brasil, no trecho do leito do rio, onde se deve observar o
aproveitamento e otimização dos diversos materiais disponíveis.
Terraço
Terraço
Núcleo
Zona 3 - Zona 3 –
Grandes Grandes
Blocos Blocos
Cascalho Enrocamento
Random Random
3 ou 5
8A 5 Cascalho 5
5
Areia Areia
Balanço de Regularização
Figura 3.2 Exemplo de barragem de seção Zoneada, Barragem de São Simão, Brasil.
Quando há predominância de material rochoso na sua seção. Em geral existem dois tipos de
barragem de enrocamento.
IB
Primeiro IC
Estagio IIID
IVA IIB IB
IA
Cortina de Injeções
d). Clima – Maior interferência climática para a barragem de núcleo impermeável, que
aliado ao tratamento de fundação mais demorado, poderia implicar em atrasos no cronograma
de obra.
Em alguns casos, somente um tipo de solo é disponível nas proximidades da obra. Neste caso,
a preocupação quanto ao projeto da seção se prende a determinação das dimensões mais
econômicas da barragem, associadas às características do material e respectiva especificação
de compactação, bem como as características geotécnicas da fundação.
Freática Teórica
Por outro lado, há locais em que existe uma grande variedade de solos. De um modo geral,
nestes casos, o projeto mais econômico consiste em um maciço zoneado, utilizando-se os
materiais menos permeáveis na parte central, como núcleo, e os materiais granulares, mais
resistentes, nas zonas externas (espaldares).
1,8
1
2
1
ransição
n to
me ção
rgila
ca
ro Enrocamento
ransi
En de A
Zona de T
de T
Random
eo
dom
Núcl
Zona
Ran
Uma regra básica, quanto aos materiais de construção a serem utilizados, é considerar, em
primeiro lugar, os materiais provenientes das escavações obrigatórias. No caso de materiais
terrosos, a sua utilização só é econômica, quando utilizado diretamente das escavações. Por
outro lado, as escavações rochosas obrigatórias, devem sempre ser incorporadas ao maciço
independente da possibilidade de sua utilização direta ou não.
Além dos recalques imediatos e por adensamento, bastante conhecidos, um outro tipo de
recalque tem ocorrido em algumas barragens brasileiras (Três Marias, Ilha Solteira, entre
outras). São os chamados recalques por saturação. Estes recalques ocorreram devido ao
colapso da estrutura do solo da fundação, provocado pela saturação do mesmo, devido ao
enchimento do reservatório.
Os métodos utilizados para o controle da percolação são divididos em dois principais grupos,
no primeiro encontram-se os métodos utilizados para a redução da percolação como a
utilização de uma zona impermeável, um tapete impermeável a montante, um diafragma
flexível ou uma zona de injeções. Já no segundo grupo encontram-se os métodos utilizados
para realizar um controle da drenagem como um filtro-dreno vertical, o tapete drenante ou
poços de alívio. Na Figura 3.6 são indicados os métodos mais utilizados para o controle da
percolação em solos permeáveis.
Nível de Água
E
A
F
B
C D Fundação
Permeável G
Base Impermeável
Figura 3.6 Métodos para o controle da percolação; (A) zona impermeável; (B) tapete
impermeável a montante; (C) diafragma flexível; (D) zona de injeções; (E) filtro-dreno
vertical; (F) tapete drenante; (G) poços de alívio.
Uma vez definida a construção de uma barragem, cada ano gasto no projeto e na construção,
representam perdas de rendimentos consideráveis, além de onerar os juros durante a
construção.
Nestes locais de pluviosidade elevada, sempre que possível, tem-se utilizado no projeto de
barragem de terra, seções zoneadas, com núcleo de material areno-argiloso e espaldares
constituídos de materiais granulares (cascalho, cascalho arenoso, etc), mesmo que estes
materiais se encontrem a distâncias maiores, ou adotadas seções de terra enrocamento. Outra
alternativa é a utilização de taludes mais brandos, porém aceitando-se um controle de
compactação menos rigoroso, no que concerne a umidade de compactação. Esta alternativa
nem sempre é possível na prática, devido às limitações dos grandes equipamentos de
compactação atuais.
A escolha de uma barragem de enrocamento é muitas vezes ditada pelo tempo disponível para
construção, pois a execução do enrocamento independe das condições climáticas da região.
Entretanto, a construção do enrocamento depende da construção do núcleo, que por sua vez
depende das condições climáticas. A fim de se obter uma otimização na construção do
enrocamento, o núcleo é projetado com inclinação para montante. Deste modo é possível a
construção de grande parte do talude de jusante, independente da subida do núcleo. Na
Figura 3.7 apresentasse a seqüência construtiva de uma barragem de enrocamento com núcleo
argiloso inclinado a montante.
Enrocamento
Executado
Injeções Razas
Cortina de
Injeção
De um modo geral a seqüência de construção de uma barragem envolve duas grandes fases.
Na primeira fase, o rio continua passando pela calha natural (total ou parcial). Durante esta
fase são construídas as estruturas de desvio (canal lateral, túnel, galeria, etc.), por onde será
desviado o rio na segunda etapa. Na segunda fase é feito o fechamento do canal por onde
passava o rio na primeira fase, e completada a barragem neste trecho.
Nos casos em que é extenso o canal por onde passa o rio durante a primeira fase, não é
econômica a construção de pontes, ligando as duas margens. Neste caso, na primeira fase, os
materiais de construção para as duas frentes de trabalho tem que ser das próprias margens,
mesmo ocorrendo materiais com características geotécnicas bem mais favoráveis em uma
margem que em outra, resultando deste modo, em seções de barragem diferentes.
Algumas vezes, o tempo que se dispõe para conclusão do maciço no trecho do canal da
primeira fase, após o desvio, é reduzido. Nestes casos, nesta seção de fechamento, a barragem
possui seção diferente da do resto da obra. Quando este período coincide com o início do
período chuvoso, é adotada com freqüência uma seção de enrocamento (por exemplo,
Barragem de Tucuruí apresentada na Figura 3.7).
Por outro lado, para as barragens construídas unicamente com finalidade de controle de
cheias, o controle da percolação se reflete somente quanto aos gradientes de saída (para o
controle do “piping”) e as sub-pressões na base do talude de jusante, e não quanto ao volume
total d’água perdida por percolação. Em alguns casos o tempo de permanência do volume
armazenado para o controle de cheias é tão reduzido que não há possibilidade de
estabelecimento de regime permanente de fluxo no maciço, não necessitando, portanto,
maiores cuidados de drenagem interna.
CAPÍTULO 4
4. ENSAIOS DE LABORATÓRIO
4.1 Introdução
Neste capítulo procura-se dar ênfase especial a aplicação dos resultados dos ensaios de
laboratório utilizados na mecânica dos solos normalmente no que se refere a barragens de
terra. Não é objetivo o ensaio propriamente dito, suas técnicas e detalhes de execução. Estes
apenas serão considerados na medida em que o resultado final seja afetado. Serão tecidas
também considerações críticas a respeito da obtenção dos parâmetros de engenharia a partir
dos ensaios de laboratório englobando as incertezas envolvidas.
4.2.1 Granulometria
Às curvas granulométricas podem ser atribuídas algumas funções básicas como são:
- Caracterização dos solos;
- Determinação do coeficiente de permeabilidade em solos granulares;
- Projetos de filtros;
- Comportamento qualitativo dos solos granulares em relação às propriedades de
engenharia.
A seguir serão apresentadas algumas considerações que devem ser levadas em conta na
determinação das curvas granulométricas de materiais coesivos e não coesivos.
- Solos Coesivos
Em função dos diâmetros dos grãos são separadas as frações de argila, silte, areia, pedregulho,
etc. A este respeito as classificações existentes dos solos são discordantes principalmente em
relação as partículas menores. Neste sentido a ABNT considera que a fração de argila
apresenta um diâmetro inferior a 0,005mm.
A própria metodologia de ensaio no que se refere à fração fina (silte e argila) é bastante
variável para cada norma de ensaio, e o resultado pode ser bastante afetado por esta
metodologia. A utilização de defloculantes para dispersão das partículas finas também tem
sido bastante questionada uma vez que procura reduzir os solos a condição de grãos isolados o
que em muitos casos não tem nenhum significado.
Se o SCS é menor a 25% a argila pode ser considerada não dispersiva, já se SCS é superior a
25% a argila apresenta uma dispersibilidade que pode ser classificada como alta ou baixa em
função da porcentagem do SCS.
100
% menor que (%)
50
0
0,01 0,1 1,0 10 100 (mm)
A classificação dos solos finos, é complementada através dos limites de Atterberg, os limites
de liquidez e de plasticidade.
solos. Na Figura 4.2 são mostradas na carta de plasticidade alguns solos residuais de Tucuruí
e da região centro-sul do país, solos na mesma posição da carta apresentam propriedades de
engenharia aproximadamente similares.
Apesar da importância destes ensaios, os primeiros determinando os índices físicos dos solos
tais quais densidade dos grãos, umidade e densidade natural, a partir dos quais são obtidas as
propriedades índices como grau de saturação, índice de vazios e porosidade, e os segundos
determinando para uma dada energia de compactação, a umidade ótima com a qual é obtida a
máxima densidade do solo, os mesmos não serão comentados especificamente uma vez que a
influência destes parâmetros será relatada em trabalhos ou itens específicos.
4.4.1 Introdução
Sem dúvida desde que se conheçam as pressões neutras, a análise em termos de pressões
efetivas seria mais representativa. A chave da questão reside nas incertezas das medidas das
pressões neutras, tanto no laboratório como em alguns casos no campo.
aplicadas nos corpos de prova, as tensões confinante e axial serão iguais as tensões principais
atuantes no corpo de prova.
Os ensaios triaxiais são geralmente representados pela curva tensão – deformação, sendo que
desta pode ser determinado o ponto de ruptura da amostra. Já com esta informação pode-se
representar no diagrama de Mohr os círculos de tensões, ou no diagrama p-q as trajetórias de
tensões. Estas representações permitem conhecer a evolução das tensões e das pressões
neutras durante a realização do ensaio, assim como os parâmetros de resistência do material
quando realizados diferentes ensaios a variadas tensões de confinamento (c). A Figura 4.2
contem uma representação gráfica de alguns ensaios triaxiais nos diagramas de circulo de
Mohr e trajetória de tenções. Já a Figura 4.3 contem as envoltórias de resistência obtidas da
representação de um conjunto de ensaios triaxiais na forma do diagrama de Mohr e de
trajetórias de tenções.
1 3
2
Envoltória em termos
de Tensão Efetiva
’
Envoltória em termos
de Tensão Total
u<0 u>0 u
’31 3 ’11 1
(a) Representação no diagrama de circulo de Mohr
1 3
q
2
45º
1 3 p
p
2
1 3
2
c
c’
’31 ’32 31 32 ’11 ’12 11 12
1 3
q
2
q d p tg
onde:
d c' cos
tg sen
d
1 3 p
p
2
Kf = Kc = 4.0
Kc = 3.0
1c Kc = 2.0
Kc
3c
Kc = 1.5
Kc = 1.0
Envoltória de
Remitência
Kc = 4.0
Kc = 3.0
Kc = 2.0
c Kc=1.5 Círculos de
c’
Adensamento
Kc = 1.0
fc Tensão Normal
Resistência ao Cisalhamento
’
va
eti Tensão de Consolidação
o Ef
nsã
Te
’
Amostras parcialmente Saturadas
Amostras com 100% de Saturação
c
c’
’
’
(c) Ensaios S ou CD
Figura 4.5 Resultados típicos de ensaios triaxiais; (a) Ensaios C.U.; (b) Ensaios Q ou UU em
material argiloso; (c) Ensaios S ou CD
1 1
N.A. Máximo Normal
f
3 3
1
3
1
1
3
3
Escavação
Compactação
Saturação
A programação dos ensaios deve ser realizada em função do tipo de solicitação que se terá nas
condições de campo. Em função desta consideração serão apresentadas algumas
considerações com relação a cada uma das faces da barragem.
Neste caso o solo é compactado com graus de saturação que variam normalmente entre 75 a
90% e submetido a um carregamento devido à construção do aterro sobrejacente. Dependendo
da velocidade da construção e condições de permeabilidade do solo podem ser consideradas
como válidas as envoltórias de resistência dos ensaios rápidos não drenados (construção
instantânea sem dissipação de pressões neutras) ou adensados rápidos (possibilidade de
adensamento devido a velocidade lenta de construção).
Rebaixamento rápido
Funcionamento normal
O cálculo das pressões efetivas é feito extraindo-se as pressões neutras de redes de fluxo em
regime permanente.
Observações gerais
Durante muitos anos o ensaio de cisalhamento direto foi muito utilizado para a avaliação da
resistência dos solos. Na atualidade é realizado devido à sua fácil execução e ao baixo custo
(Juarez & Rico, 1976). O ensaio é executado em uma caixa constituída de duas partes, uma
primeira parte fixa que contém aproximadamente a metade da amostra, e uma segunda móvel
que contém a metade restante. Duas pedras porosas, uma localizada na parte inferior, e outra
na parte superior da amostra, permitem a drenagem livre de amostras saturadas. A parte
superior móvel, tem um elemento no qual é possível a aplicação de uma carga horizontal no
plano de separação das duas peças, provocando desta forma, a ruptura do corpo de prova ao
longo deste plano bem definido. Sobre a parte superior da caixa de cisalhamento, é possível a
aplicação de carga vertical, proporcionando uma pressão normal no plano de ruptura, n. Esta
pressão pode ser livremente definida pelo operador do equipamento (Juarez & Rico, 1976). A
adição de extensômetros ao equipamento permite a medição de deslocamentos da amostra nas
direções horizontal e vertical. Na Figura 4.8 é possível apreciar um esquema do equipamento
de cisalhamento direto.
Existem duas formas de realização dos ensaios de cisalhamento direto. A primeira consiste
em definir e aplicar a carga vertical para atingir a pressão normal no plano de ruptura. Após
este procedimento, continua-se a induzir na amostra uma deformação controlada, definida por
uma taxa de deformação fixada pelo operador do equipamento (velocidade de cisalhamento).
Durante o processo de deformação da amostra é medida a força tangencial T, aplicada ao
corpo de prova. Este procedimento é conhecido como Ensaio de Cisalhamento a Deformação
Controlada. Já a segunda forma consiste em alcançar a pressão normal no plano de ruptura, e
posteriormente, procede-se induzindo no corpo de prova incrementos da força tangencial T,
medindo os deslocamentos horizontais e verticais geradas pela aplicação desta força
tangencial. Este procedimento recebe o nome de Ensaio de Cisalhamento Direto a Tensão
Controlada.
O ensaio também apresenta grandes vantagens como ser de fácil execução, os princípios
teóricos básicos serem de fácil entendimento, e a moldagem dos corpos de prova ser de rápida
execução. Outras vantagens são que podem ser elaborados equipamentos de maiores
dimensões a um custo relativamente menor que para outro tipo de ensaios e que as
propriedades medidas como ângulo de atrito e coesão podem ser considerados de boa
representatividade. O equipamento pode ser utilizado para ensaios drenados e para a medida
da resistência ao cisalhamento residual, pelo processo de múltipla reversão da direção de
cisalhamento.
Devido a que uma das desvantagens do ensaio de cisalhamento direto é o fato de que a
rotação das tensões principais não pode ser controlada, na Figura 4.9, se apresenta o círculo
de ruptura, com os esforços e as direções das tensões principais no ensaio. Nesta figura foi
considerado que a linha de ruptura passa pela origem de coordenadas e coincide com os
esforços (n, ), que é chamado de ponto D. Traça-se o círculo tangente à linha de ruptura no
ponto D, e que tem centro sobre o eixo . O pólo de planos é localizado traçando uma linha
paralela ao plano de ruptura, que passa pelo ponto D. Unindo-se o pólo P com os pontos de
intercessão do círculo com o eixo , A e B, se tem a direção dos planos principais, que é
detalhada na Figura 4.9a (Juarez & Rico, 1976).
Envoltória de Ruptura
n R
D P
T
O A C B
3
1 3
n
1
(a) (b)
Figura 4.9 Rotação das tensões principais no ensaio de cisalhamento direto: (a) Direção das
tensões principais; (b) Representação das tensões no diagrama de Mhor
(modificado - Juarez & Rico, 1976).
Este ensaio é um caso particular do ensaio triaxial onde a tensão confinante é nula. Na área de
barragens de terra geralmente estes ensaios são preteridos em relação aos ensaios triaxiais. A
maior aplicação destes ensaios é no caso de argilas saturadas onde a resistência à compressão
simples deveria ser semelhante a resistência destes solos em ensaios Q (na realidade um
pouco inferior se é considerada a tração nas bordas do corpo de prova). A coesão das argilas
neste caso pode ser tomada igual a 0,43 a 0,50 da resistência à compressão simples. Outra
aplicação destes ensaios está na determinação da sensitividade das argilas.
Os fatores que influenciam nos resultados finais dos ensaios são variados, entre eles podem-se
mencionar a amostragem, a velocidade de carregamento, o tempo de adensamento, atrito nas
bases e efeito da membrana. Todos estes fatores são amplamente descritos em livros
específicos de ensaios de laboratório. Neste item dar-se-á ênfase especial apenas no fator
amostragem.
A amostragem, tanto por cravação do amostrador ou por abertura de poços, provocam, sem
dúvidas, perturbações nas amostras que influenciam o resultado final tanto mais quanto maior
O índice de vazios é menor para o solo amolgado e sua compressibilidade é maior. Nos
ensaios triaxiais adensados, amostras amolgadas terão índices de vazios menor, umidades
menores, quando adensadas nas mesmas pressões de campo e no carregamento axial
desenvolverão menores pressões neutras e maior pressão efetiva, apresentando, portanto,
maiores resistências efetivas. Em contrapartida, nos ensaios Q os solos terão menores
resistências quanto maior a sensitividade da amostra.
Indeformada
Remoldada
Log (
CAPÍTULO 5
5.1 Introdução
Em tese, com exceção de solos orgânicos e de solos solúveis, qualquer solo pode ser
empregado no maciço de uma barragem de terra. Por outro lado não existe um “solo ideal”.
Em princípio, cada barragem específica, associada a suas características da fundação, à sua
altura, ao clima da região, entre outras condições, possui um solo “ideal”, ou, mais
corretamente, cada zona de uma barragem possui um “solo ideal”. Mesmo este enfoque,
difundido por muitos, a nosso ver não é conceitualmente correto. De fato, subentende
implicitamente uma atuação passiva do engenheiro.
Do maciço
Desta forma, as propriedades dos solos compactados fazem parte importante das condições de
projeto. Estes dados são obtidos através da programação de ensaios de laboratório para todos
os tipos de solos existentes e em toda gama de variação possível de especificação. Entretanto,
tal procedimento de análise, individualizado, sem estar baseado em nenhum princípio físico
geral não constitui um enfoque técnico cientifico.
Se um solo coesivo é compactado com uma dada energia de compactação e a vários teores de
umidade, obtendo-se uma curva típica, conforme é apresentado na Figura 5.1.
Peso Especifico Seco (kN/m3)
S=
10
0%
Esta curva mostra que à medida que aumenta o teor de umidade, o peso específico seco
aumenta, atinge um valor máximo e depois decresce. O ponto máximo é denominado de peso
específico seco máximo (dmax) e o respectivo teor de umidade, de umidade ótima. Deve-se
observar que o teor ótimo não representa uma condição ótima-ideal relativamente às
propriedades geotécnicas, mas tão somente uma denominação comum referente à umidade do
ponto máximo da curva.
da curva para cima e para a esquerda (um maior peso específico a um menor teor de
umidade).
Interpretação física
Assim sendo, no trecho acima da umidade ótima a densidade do solo diminui devido a
diminuição da pressão efetiva aplicada, provocada pelo desenvolvimento de pressões neutras
durante a compactação. Este modelo interpretativo é particularmente válido para a condição
confinante do ensaio de compactação em laboratório. No campo, entretanto, a diminuição da
pressão efetiva aplicada é devido à diminuição de suporte do solo (capacidade de carga)
devido à criação de pressões neutras.
Interpretação Físico-Química
Estudos físico–químicos indicam que cada partícula de solo é envolvida por uma fina película
d’água. Quando o teor de umidade do solo é baixo o efeito físico–químico da película
envolvente é equivalente a de uma elevada viscosidade entre as partículas de solo. Deste
modo, apresenta grande resistência aos movimentos dos grãos quando uma carga é aplicada.
Assim sendo, a teores de umidade baixos é necessário um grande esforço (grande energia)
para provocar movimento no interior do solo. Se o teor de umidade aumenta, os grãos da
estrutura do solo são separados por água de “baixa viscosidade”, desta forma diminui os
efeitos físico–químicos e diminui também a concentração eletrolítica, tendo como resultado
uma expansão da película d’água.
5.4.1 Permeabilidade
De um modo geral, no ramo seco, o aumento do teor de umidade provoca uma redução
marcante do coeficiente de umidade. No ramo úmido, o aumento do teor de umidade provoca
apenas um pequeno aumento da permeabilidade. Este fenômeno pode ser observado na
Figura 5.2.
Permeabilidade (m/sec)
Peso Especifico Seco (kN/m3)
S=
10
0%
Da Figura 5.2 é possível verificar que para uma mesma densidade e teores de umidade de
compactação diferentes, há diferenças no coeficiente de permeabilidade.
Esta diferença é explicada pelo modelo de estruturas do solo proposto por Lambe, e discutido
no capítulo 2, onde um solo com estrutura “dispersa”, a mesma densidade, é mais permeável
do que com estrutura “floculada”.
5.4.2 Compressibilidade
A seguir serão ressaltadas algumas observações feitas com relação à compressibilidade dos
solos compactados.
Os recalques provocados por este efeito são rápidos e têm provocado trincas e rupturas em
barragens durante o seu primeiro enchimento. O procedimento de projeto que deve ser
adotado nestes casos, na zona do maciço submetida a tensões inferiores a que exclui o
efeito de colapso, é o de especificar convenientemente a umidade de compactação de modo
a não ocorrer colapso da estrutura.
Serão realizadas algumas observações com relação aos tipos de condições drenadas ou não
drenadas, assim como ao tipo de solo e as condições de compactação do material.
Resistência Drenada
a. Com relação ao tipo de solo – no trecho virgem verifica-se um aumento do ângulo de atrito
interno com os solos representados por maiores pesos específicos seco máximo do ensaio
de compactação.
’
Energia de Compactação
Estes dois efeitos resultam numa maior pressão neutra no solo quando compactado do lado
úmido e submetido a determinado carregamento não drenado. Deste modo, no estado de
compactação os solos apresentam maior resistência ao cisalhamento quando compactados no
lado seco do que no lado úmido.
Medições de pressões neutras no protótipo têm indicado que as previsões de pressões neutras,
a partir de ensaios de laboratório, em geral superestimam os valores reais. Isto devido
basicamente aos seguintes fatores:
5.4.4 Flexibilidade
Deste modo, em princípio, uma vez estimada a extensão máxima de tração (t) de uma zona
do maciço, o procedimento de projeto consiste em selecionar um dado material e especificar
as condições de compactação no protótipo de tal modo que a deformação específica à tração
do solo nestas condições seja superior à prevista no protótipo, ou seja t > t.
a. Tanto quanto possível evitar zonas tracionadas, ou potenciais zonas de tração, no maciço
da barragem;
b. Projetar o maciço de tal modo que ele funcione mesmo quando fissurado, através do
alargamento do sistema de filtros e transições a jusante, bem como introduzindo uma zona
de filtro a montante para funcionar como material auto-cicatrizante;
c. Diminuir a zona capaz de desenvolver fissuras por tração, através da redução da altura
crítica da barragem. Adotar nas zonas de possíveis trincas, solos com baixa coesão;
5.5.1 Da especificação
5.6 Observações
CAPÍTULO 6
6.1 Introdução
O enrocamento como material de construção está sendo utilizado na maioria dos grandes
projetos hidrelétricos brasileiros atuais, apresentando grandes vantagens do ponto de vista de
facilidade construtiva e aspectos econômicos.
No entanto, tem-se determinado com relação ao efeito do tamanho de partículas, que com o
aumento do tamanho máximo das partículas do enrocamento o ângulo de atrito reduz-se,
colocando em evidência não um fenômeno físico e sim um problema de representatividade
das amostras. A Figura 6.1 apresenta o efeito do máximo tamanho de partículas sob o ângulo
de atrito para diferentes enrocamentos modelados.
e = 0.45 ’3
45
35
0,1 1,0 10,0 D100
Figura 6.1 Efeito do máximo tamanho de partículas no ângulo de atrito – enrocamentos com
curvas modeladas (modificado – Marachi, et.al. 1969)
Mineralogia
Na prática é muito difícil isolar o aspecto mineralógico como controle das propriedades
físicas, existindo porém, evidência que as propriedades físicas do enrocamento têm relação
com o tipo de material e com suas características litológicas.
O fraturamento dos blocos é função não só da resistência do bloco como do formato dos grãos
e a sua composição granulométrica. Comparando a variação da granulometria, após o teste de
deformabilidade, obtendo uma medida do grau de fraturamento, foi possível concluir que
quanto maior o fraturamento maior a deformabilidade.
Enrocamentos bem graduados são mais resistentes e menos deformáveis que os uniformes,
para a mesma resistência individual dos blocos. Desta forma é possível observar que a
granulometria está intrinsecamente ligada ao índice de vazios e a porosidade. Para um
material com a mesma granulometria, quanto menor o índice de vazios maior a resistência e
menor a deformabilidade. Desta forma, materiais bem graduados atingem índices de vazios
menores que materiais mal graduados, quando submetidos às mesmas condições de
compactação. O efeito do índice de vazios na resistência, representado através da
compacidade relativa, é apresentado na Figura 6.2.
A resistência ao cisalhamento varia com a forma das partículas, sendo maior para partículas
angulares e menor para arredondadas. Em contrapartida a deformabilidade aumenta para
partículas sub-angulares e angulares em relação às arredondadas.
Tamanho máximo de partículas 125mm
52
’3
44
Dr = 85% Dr = 50%
36
120 80 40 0 %
Saturação
Saturação
Log (
0%
Compressão (%)
1er Enchimento
100%
Altura do aterro (% de H
que para baixas tensões confinantes. A Figura 6.5 apresenta as envoltórias de resistência de
alguns enrocamentos.
Quanto ao tipo de ensaio para a medida da resistência, os ensaios triaxiais convencionais dão
uma resistência de pico de até 30% inferiores a cisalhamento direto. É possível que os ensaios
de deformação plana simulem melhor as condições reais de campo, e desta forma a utilização
dos ensaios triaxiais convencionais seja um tanto conservativa.
Resistência ao Cisalhamento (kPa)
400
200
0
0 200 400 600 (kPa)
aparelhagem e a não utilização de curvas granulométricas reais, os resultados que têm sido
obtidos devem ser encarados com enfoque crítico.
No entanto, mesmo com os avanços na realização de ensaios de laboratório cada vez mais
apurados, e o melhor entendimento das condições de comportamento dos materiais de
enrocamento, os taludes das grandes barragens construídas atualmente ainda apresentam
condições de inclinação dos taludes muito similares às utilizadas anteriormente quando não se
dispunham destas ferramentas.
Serão relacionados alguns procedimentos construtivos e alguns critérios básicos que têm sido
adotados na construção de enrocamentos compactados.
Na Tabela 6.1 são apresentados alguns critérios relativos às granulometrias que devem
apresentar o enrocamento, extraídas da literatura e complementadas com algumas
especificações construtivas de algumas das principais obras brasileiras.
AUTOR RECOMENDAÇÕES
Marsal Menos que 10% em peso menor que 0,2mm e máximo entre 200 e
300 mm, com (D60/D10) > 15
Henry & Thomas Menos que 15% em peso menor que 25 mm
T. Leps Menos que 30% em peso menor que 25 mm
Mori & Freitas Menos que 40% em peso menor que 5mm, com (D60/D10) > 15
Sherard De 30 a 40% em peso menor que 25,4 mm
Foz de Areia Menos que 25% em peso menor que 25 mm com 50% em peso maior
que 75 mm
Itaipu Isentos de pó de pedra, argila, areia; e máximo igual a 600 mm
Tucuruí Menos que 15% em peso com diâmetro menor que 4,8 mm; e
máximo igual a 1,0 m
Tabela 6.2 Critérios relativos à espessura das camadas de compactação dos enrocamentos
AUTOR RECOMENDAÇÕES
Mori & Freitas 1 max
1 ; máximo 1,0 m
3 e
Penman & Charles max
1 ; máximo 0,9 m
e
Sherard e = 1 a 2 max ; máximo 0,9 m
Itaipú, Foz de Areia e max
Tucuruí 1
e
Mello De 1,5 a 2,0 m
Thomas Máximo 1,0 m
Casagrande Máximo 0,6 m
Vale acrescentar que estes dados relativos a espessuras da camada são apenas indicativos e
são função do tipo de enrocamento e de equipamentos a serem adotados e da seção transversal
da barragem.
Teoricamente, a determinação da espessura ótima de compactação deve ser feita não só com o
objetivo de maximizar a eficácia do equipamento de compactação, mas também, levar em
consideração o produto final que se deseja obter do ponto de vista de deformações e
resistência.
Intuitivamente, pode-se inferir que menores espessuras de camada devem gerar um maciço
mais rígido e mais resistente pela maior densificação produzida e conseqüentemente menor
índice de vazios.
Blocos maiores que a espessura da camada devem ser empurrados para as bordas do aterro.
Constituindo-se prática freqüente prever-se no projeto uma zona de 5,0 m, junto aos taludes
para a colocação destes blocos.
A molhagem do equipamento tem sido utilizada em algumas obras e tem como objetivo
reduzir os eventuais colapsos por inundação com o enchimento do reservatório. Nestas
condições a molhagem produz dois efeitos:
Alguns autores enfatizam que o volume d’água deve ser cerca de 20 a 30% do volume do
enrocamento a ser compactado.
Os parâmetros mais utilizados para projeto são o peso específico aparente, os módulos de
elasticidade da rocha, a resistência à compressão saturada e seca da rocha, ensaios de
ciclagem (natural e acelerada), ensaios de granulometria antes e após a compactação.
De posse destes dados devem ser atribuídos os parâmetros de energia para o projeto por
comparação com os já obtidos com enrocamentos de características geotécnicas semelhantes.
Os métodos para controle de construção geralmente são visuais. Deve-se controlar o número
de passadas do rolo e a espessura da camada de compactação que já foram definidas através
de aterros experimentais ou durante o início dos trabalhos de compactação. É boa prática,
esporadicamente, verificar-se a deformação que está sendo produzida durante a compactação,
sendo esta um índice importante na definição da eficiência da compactação. Normalmente a
deformação especificada da camada deve se situar entre 4 a 5%.
Ensaios para a determinação da densidade “in-situ” devem ser realizados com freqüência, pois
os parâmetros de projeto estão intimamente ligados com a mesma (índice de vazios e
compacidade). Ensaios no todo e na base da camada servem para determinar os gradientes de
compactação e homogeneidade da camada.
CAPÍTULO 7
7. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETOS DE BARRAGENS DE
TERRA E ENROCAMENTO
O presente capítulo visa servir de elo de ligação entre as considerações sintéticas sobre o
arranjo geral de um barramento, a interdependência entre o projeto de barragem de terra com
as demais estruturas do barramento, com os aspectos relativos aos dados básicos para o
projeto de uma barragem e o enfoque do projeto propriamente dito, suas concepções e seus
métodos de cálculo. Desta forma será apresentada a interdependência entre as diversas
concepções específicas de projeto.
De fato a premissa básica entre a concepção de uma barragem de terra, sua seção transversal e
respectivo tratamento de fundação, é que a introdução de cada detalhe, beneficie o projeto
como um todo. Por exemplo a introdução de um “cut-off” na fundação de uma barragem visa
controlar a percolação, com a redução de perda d’água pela fundação e dos gradientes de
saída, como conseqüente controle contra “piping”, bem como, otimizar o talude de jusante,
aumentando a estabilidade ao deslizamento pela fundação através da redução da sub-pressão
na fundação.
Outro aspecto interessante a abordar neste capítulo é o referente a distinção entre projeto e
cálculo. Na realidade a engenharia consiste em projetar primeiro e analisar em segundo lugar.
O projeto, ou a concepção, constitui a verdadeira arte da engenharia, não existindo, portanto,
diretrizes, regras ou metodologias para o seu estabelecimento. Entretanto, a partir dos dados
básicos referentes à fundação e aos materiais de construção, procuraremos mostrar alguns
exemplos usuais de concepção e respectivas vantagens técnicas.
Deste modo, quando existente, o projeto da barragem de terra, sua localização, seção
transversal, tratamento de fundação, é estabelecido visando o custo mínimo do
aproveitamento como um todo, o que não é necessariamente a locação, seção transversal,
tratamento de fundação que resultariam em custo mínimo para a barragem de terra,
isoladamente.
Por exemplo, a locação da barragem de terra é em geral ditada pela escolha da melhor
localização das estruturas de concreto, no que se refere às condições geotécnicas para
fundação e condições hidráulicas - operacionais. De fato, uma premissa básica no
estabelecimento do arranjo geral é favorecer as estruturas de concreto com os melhores locais
de fundação, sob o ponto de vista geológico – geotécnico.
O corpo de engenheiros dos Estados Unidos estabelece os seguintes requisitos básicos que
deve satisfazer uma barragem para que apresente segurança satisfatória.
c. A percolação através do maciço, fundação e ombreiras devem ser controladas de tal modo
que não ocorra “piping” ou remoção de material por solução. Adicionalmente, a
quantidade d’água perdida por percolação deve ser compatível com a finalidade do
projeto;
d. A crista da barragem deve ter uma elevação segura quanto ao transbordamento por efeitos
de ondas, bem como uma folga adicional referente aos recalques após construção;
e. A capacidade de vazão do vertedouro deve ser de tal ordem a impedir o transbordamento
do reservatório sobre a barragem de terra.
A análise superficial é isolada dos critérios acima, bem como a divisão usual dos métodos de
cálculo geotécnicos, tem conduzido a graves erros de projeto. Nos itens subseqüentes é
apresentada uma interpretação conjunta dos mesmos e sua interdependência.
Deve-se considerar inicialmente, o que está implícito na sua formulação, que os cinco
critérios devem ser atendidos simultaneamente.
O item c é onde ocorrem, com mais freqüência, interpretações erradas, associando segurança
ao “piping”, somente à redução dos gradientes de percolação. A análise de segurança ao
“piping”, de modo correta, deve contemplar a comparação entre forças de percolação com
forças de gravidade. Logo, o estudo correto de “piping” envolve o estabelecimento do estado
de tensões no maciço durante as fases de operação da barragem, uma vez que, tanto a força
atuante de percolação, quanto a resistência, de gravidade, é função do estado de tensões.
A engenharia geotécnica envolve a estimativa das tensões e deformações tanto nas obras de
terra como nas fundações. A fim de obter esta estimativa de modo correto é necessário o
conhecimento das equações constitutivas dos solos, bem como a distribuição geométrica dos
diversos tipos de solos.
Na realidade, o solo deforma de modo contínuo, desde seu estado inicial de tensões até a
ruptura. Muitos problemas têm ocorrido em projetos de barragem devido à separação artificial
e simplificada, do comportamento do solo, em estudos de deformação, sem consideração de
rupturas localizadas e estudos de ruptura, sem consideração das deformações necessárias para
a massa de solo atingir o estado de ruptura.
Figura 7.1 Evolução do projeto de barragens de terra e seu sistema de drenagem interna
Projetos de barragens de terra e/ou enrocamento em tais regiões, caracterizadas por variações
abruptas da superfície rochosa, exigem uma análise detalhada das zonas potenciais de fissuras
no maciço, devido às deformações diferenciais impostas por estas irregularidades
topográficas. Nestes casos, concepções de projeto envolvem em geral uma ou mais das
seguintes medidas.
A verificação e adequação das medidas de projeto acima indicadas são feitas pelo método dos
elementos finitos de forma paramétrica, ou seja, variando os diversos parâmetros
intervenientes.
sobre elevação da cota da crista da barragem correspondente aos recalques após a construção.
Quanto aos recalques diferenciais, as soluções de projeto tem sido a adaptação de seqüência
construtiva visando uma redução dos recalques diferenciais e/ou projeto de sistema de
drenagem mais rigoroso, a espessura dos drenos deve ser de tal ordem que não sejam
secionados devido aos recalques diferenciais.
CAPÍTULO 8
8. ANÁLISE E CONTROLE DE PERCOLAÇÃO
Problemas causados por percolação através de barragens, podem ser resumidos em três
principais tipos:
- “Piping” – ou erosão regressiva – pode ocorrer pela migração de partículas de solo devido às
forças de percolação, desenvolvendo na fundação ou no maciço da barragem canais ou
tubos que se interligam com o reservatório. O “piping” é uma causa comum de rupturas em
barragens de terra – enrocamento, reservatórios e ou outras estruturas hidráulicas.
A quantidade de água que percola através ou sob uma barragem e a distribuição das pressões
de água (equipotenciais) podem ser estimadas usando a teoria de fluxo através de meios
porosos, que se constitui desta forma, numa ferramenta importante para as análises de
engenharia.
No primeiro caso pode-se estimar as perdas d’água no reservatório. No segundo caso pode-se
avaliar a distribuição de pressões neutras para análises de estabilidade, para análises dos
gradientes hidráulicos de saída e verificação do potencial ao “piping”.
a. Os solos do maciço e fundação são meios incompressíveis não havendo variações nas
dimensões dos poros.
b. A percolação se processa sob gradientes hidráulicos que são função das perdas de carga
gravitacionais.
c. Não há mudanças do grau de saturação na zona onde o fluxo ocorre, de tal forma que a
quantidade de fluxo que entra no elemento de volume é igual a quantidade de fluxo que
sai dele, num mesmo espaço de tempo.
d. As condições de contorno de fluxo são conhecidas.
Estas hipóteses são melhor satisfeitas em maciços de areia ou brita, onde a vazão de
percolação é relativamente grande, não há ar nos vazios e a influência da capilaridade é
pequena. Em maciços de solos finos, por outro lado, as forças capilares podem ter mais
influência nas pressões neutras que as cargas hidráulicas e assim a rede real de fluxo pode ser
bem diferente da projetada. As análises de percolação nestes solos devem ser encaradas com
reservas, servindo apenas para orientar o julgamento do engenheiro.
A lei de Darcy (1856) de fluxo laminar para a percolação de água através dos solos pode ser
escrita da seguinte forma:
dh
V k i K (8.1)
dl
Q k i A (8.2)
Onde:
V: velocidade de descarga;
k: coeficiente de permeabilidade;
i: gradiente hidráulico;
h: carga de pressão;
l: comprimento do caminho de percolação;
A: área de seção transversal do solo onde a água percola;
Q: vazão de percolação.
A equação geral da hidrodinâmica para fluxo permanente – Equação de Laplace pode ser
escrita como:
2h 2h 2h
0 (8.3)
x 2 y 2 z 2
2h 2h
0 (8.4)
x 2 y 2
Esta última equação representa duas famílias de curvas que se interceptam ortogonalmente,
formando figuras “quadradas” conhecidas como redes de fluxo. Uma das famílias de curvas
são chamadas de linhas de fluxo; as outras são chamadas de equipotenciais.
Para satisfazer as equações de Laplace podem ser desenhadas duas famílias de curvas
ortogonais satisfazendo algumas condições de contorno e formando os chamados “quadrados”
entre si.
Para os traçados de redes de fluxo devem ser seguidos os passos abaixo descritos:
e. A vazão por canal de fluxo por unidade de comprimento é calculada pela equação de
Darcy.
h h
q k i A k Ak (8.5)
L nq
Onde:
nq: número de equipotenciais.
nf
Qk h (8.6)
nq
Onde:
nf: número de canais de fluxo;
h: diferença de carga total (montante – jusante).
f. Para maior facilidade construtiva, um número mínimo de equipotenciais de fluxo deve ser
traçado inicialmente. O detalhamento final só deve ser feito quando o traçado já estiver
parcialmente acertado.
g. Lembrar que as equações de Laplace só admitem uma única solução e, desta forma, para
uma determinada condição de contorno, a rede de fluxo é única.
No caso da Figura 8.1 uma das condições de contorno não é conhecida, a linha de saturação
ou linha freática e o traçado em geral é mais demorado. No entanto existem maneiras de
inferir-se a linha freática inicial.
Lembrar que as equipotenciais são perpendiculares a linha freática (linha de fluxo limite) e
que nesta as pressões neutras são nulas existindo apenas carga de posição, razão pela qual as
equipotenciais devem ser traçadas em intervalos verticais iguais.
N.A.
h
h
h h
h
h
2h 2h
kx 2 k y 2 0 (8.7)
x y
Esta solução pode ser convertida na solução simples de Laplace pela transformação da escala
geométrica. Assim, para permeabilidades horizontais maiores que as verticais (caso mais
comum em maciços compactados em camadas), a escala horizontal deve ser reduzida no fator
k h kv .
kequiv kh kv (8.8)
A Figura 8.2 apresenta as redes de fluxo transformadas e verdadeiras para uma barragem de
maciço homogêneo anisotrópico.
Os fluxos através de enrocamentos não obedecem às leis de fluxo laminar, ou Lei de Darcy,
exceto possivelmente em gradientes extremamente baixos. As leis de fluxos turbulentos são
mais adequadas para um melhor entendimento deste tipo de fluxo.
N.A.
Seção Transformada
N.A.
Seção Original
kh = 0,5 kv
h
VV C N a M b i n (8.9)
Onde:
C: fator de forma;
N: viscosidade da água;
M: raio hidráulico médio dos vazios;
i: gradiente hidráulico;
a, b, n: coeficientes empíricos.
Onde:
W: varia de aproximadamente 33 a 46 para enrocamentos com superfícies rugosa à
polida.
A Figura 8.3 mostra uma rede de fluxo turbulento para dois quadrados adjacentes, localizados
no mesmo canal de fluxo. As relações entre os lados dos mesmos guardam a seguinte
proporção:
n
l1 h1
n 1,85 (8.11)
l2 h2
Como no fluxo laminar, no regime turbulento, entre duas equipotenciais sucessivas existe a
mesma perda de carga.
N.A.
h
1,85
l1 b1 h
b1 l1
l2 b2 l2 h
b2
h
h
O termo fissura é considerado no seu sentido mais amplo, englobando todas as aberturas dos
maciços rochosos, independente de sua orientação geológica: juntas de estratificação, de
xistosidade, diáclases, falhas, etc. Fissuras, mesmo que muito finas, conferem aos maciços de
fundação anisotropias hidráulicas e sem dúvida coeficientes de permeabilidade superiores a da
matriz rochosa.
A seguir são apresentados os princípios que regem o fluxo através de maciços rochosos.
b. Fissuras elementares
Considerando-se fissuras abertas, sem preenchimento, com eventuais contatos das
paredes. Nas rochas as fissuras são caracterizadas por alto valor de rugosidade relativa K/Dh,
onde K é a rugosidade relativa e Dh o diâmetro hidráulico igual ao dobro da abertura da
fissura. As variações relativas a abertura da fissura são, portanto, muito importantes.
V Kf Jf
Regime Laminar (8.12)
Regime Turbulento V K ' f J f (8.13)
Onde:
V: velocidade média do escoamento;
Kf, K’f : condutividade hidráulica;
Jf : projeção do gradiente hidráulico sobre o plano da fissura;
: coeficiente de não linearidade, variando lentamente de 1,0 a 0,5 quando o número
de Reynolds passa de 100 (limite de fluxos laminar/turbulento) para 2000.
c. Sistema de Fissuras
Basicamente o que se deseja determinar é a condutividade hidráulica do sistema de
fissuras para a aplicação nas fórmulas de escoamento laminar e/ou turbulento.
V KJ (8.14)
e
K K f Km (8.15)
b
Onde:
Kf : Condutividade hidráulica da fissura;
Km : Condutividade hidráulica do maciço;
e : Abertura média das fissuras;
b : Espaçamento médio das fissuras.
Uma aplicação numérica mostra nitidamente que um sistema de fissuras contínuas, mesmo
muito delgadas, pode ter condutividades hidráulicas muito elevadas. Na realidade estes
valores teóricos de condutividade hidráulica são mais baixos, pois em geral a extensão das
fissuras é limitada, sendo no seu plano descontínuas.
A função básica dos filtros é prevenir fenômenos de erosão regressiva ocasionados por forças
de percolação internas, rupturas hidráulicas e trincas ocasionadas por deformações
diferenciais no corpo da barragem.
a. Piping – os vazios dos filtros devem ser suficientemente pequenos para impedir que
partículas do solo, que se deseja proteger, migrem através dos filtros.
b. Permeabilidade – os vazios dos filtros devem ser suficientemente grandes para permitirem
a passagem livre do fluxo e, desta forma, possibilitar o controle de sub pressões.
Existem regras empíricas para o dimensionamento dos filtros. Considerando Dn: o diâmetro
do filtro em que n% em peso tem diâmetro menor, e dn diâmetro do material a ser protegido
em que n% em peso tem diâmetro menor. Abaixo são listados alguns critérios para o
dimensionamento de filtros.
Critério de Terzaghi
D15
Piping 4 (8.16)
d85
D15
Permeabilidade 4 (8.17)
d15
Sherard
D15
Piping 5 (8.18)
d85
D15
Permeabilidade 5 (8.19)
d15
e D5 > 0,074mm
USBR
- Solos não coesivos e solos uniformes
D50
5 10 (8.20)
d50
- Solos bem graduados, partículas arredondadas do material de filtro
D50
12 58 (8.21)
d50
D15
12 40 (8.22)
d15
D50
9 30 (8.23)
d50
D15
6 18 (8.24)
d15
D5 > 0,074mm e D100 < 3”
O solo uniforme é aquele que D95 < 8 x D5 (aproximadamente)
Estas regras empíricas são válidas geralmente para solos não coesivos. Para solos coesivos
representam critérios conservadores, parecendo mais lógico, caso se deseje aplicar os critérios
de filtro, executar ensaios de granulometria sem defloculante, utilizando como dispersante
apenas água.
Estes filtros têm função “cicatrizante” e desta forma podem ser projetados com mínima
largura construtiva uma vez que, normalmente, sua capacidade de vazão é grande em relação
à vazão de percolação através do maciço compactado. Atualmente, com o emprego de formas
deslizantes, na construção destes filtros, tem-se chegado a larguras de 0,80 m.
No sistema de drenagem interna o filtro-dreno horizontal, tem papel fundamental. Sua função
basicamente é não só impedir carregamentos do material de fundação, bem como promover a
drenagem das águas de percolação através da fundação e do maciço compactado.
- Dimensionamento Hidráulico
No primeiro caso apresentado na Figura 8.4a, pode-se utilizar a fórmula geral seguinte:
K h2
Q (8.25)
2L
Onde:
K : Permeabilidade do filtro;
h : Altura da linha de saturação no limite montante do filtro-dreno é igual à espessura
do filtro;
L : comprimento do filtro;
Q : Vazão total pelo maciço e fundação.
Q
K h2 h j
2
(8.26)
2L
Onde:
hj : carga hidráulica na saída do filtro.
Esta formulação é conservativa, pois não admite saturação do maciço. Em geral pode ser
admitido que o filtro-dreno trabalhe sob carga hidráulica, de tal forma que se mantenham
ainda baixos os gradientes hidráulicos no filtro, como estabelecidos nas Figuras 8.4b e 8.4c.
Desta forma podem ser utilizadas as Equações (8.27) e (8.28) para uma destas condições
respectivamente:
h
Q KA (8.27)
L
Q
K
2L
2 A h A2 h j 2 (8.28)
- Fatores de Segurança
K h2 hj
Q h=A Q
2L
L
(a)
h
Q KA h
L
A Q
L
(b)
Q
K
2L
2 A h A2 h j 2
h hj
Q A
L
(c)
Quanto menor a capacidade drenante dos filtros mais alta será a linha de saturação, levando
portanto ou a menores coeficientes de segurança do talude de jusante ou ao abrandamento
destes taludes. A Figura 8.5 ilustra a variação da linha de saturação em função da capacidade
drenante do tapete horizontal.
N.A.
Linha de saturação
Desta forma, a utilização dos filtros sanduíche pode representar a diminuição das espessuras
de filtro e conseqüentemente de seu volume.
Uma desvantagem da utilização de filtros tipo sanduíche é o fato de que para a total segurança
dos mesmos é necessário que os materiais que os compõem obedeçam aos critérios de filtro, o
que leva geralmente a um aumento de espessura teórica em função da maior quantidade de
materiais. No entanto, as análises técnico-econômicas, para a decisão do tipo do filtro a
considerar, devem também computar os benefícios trazidos pelo aumento da capacidade de
vazão.
Outra solução para este tipo de problema é o aumento de peso no pé da barragem pela
construção de bermas, como ilustrado também na Figura 8.6c. De preferência estas bermas
devem ser feitas totalmente com material drenante ou no mínimo com material drenante junto
ao terreno natural.
N. A.
Berma para estabilização do pé
da barragem
Linha de subpressão AB Filtro
Base Impermeável
(a)
N. A.
Base Impermeável
(b)
N. A.
Base Impermeável
(c)
- Trincheiras drenantes
A capacidade drenante da trincheira deve ser tal que a linha de carga hidráulica na mesma não
ultrapasse o terreno natural. O cálculo da capacidade drenante da trincheira pode ser feito
utilizando-se as equações de Darcy para filtros ou de Wilkins para filtros grossos de brita e
enrocamento.
Para aumentar a capacidade drenante podem ser usadas tubulações perfuradas no interior da
trincheira. Cuidados especiais devem ser tomados no projeto das trincheiras, com relação aos
materiais de filtro, uma vez que a trincheira é uma região de convergência de fluxo e
conseqüentemente de altos gradientes de entrada.
Tem sido muito utilizadas mantas de material sintético tipo Bidim como filtro para os
materiais mais grossos. A Figura 8.7 apresenta algumas seções transversais de trincheiras
drenantes.
Pé da Barragem
Tubulação Perfurada
Camada Impermeável
Brita
Pedrisco
- Poços de alívio
Vale acrescentar que é conveniente para aumentar a capacidade de vazão nos poços de alívio,
manter-se um tubo interno de no mínimo 2”. O preenchimento total dos poços com materiais
de filtro reduz substancialmente sua capacidade de vazão.
Solo Impermeável
Lama Bentonítica
Aqüífero Areia
O cálculo da espessura de tapete pode ser feito a partir do traçado de redes de fluxo ou através
de formulações matemáticas.
O inconveniente da utilização de tapetes está no fato de que trincas por ressecamento durante
a fase construtiva ou por deformações diferenciais pelo enchimento do reservatório são muito
comuns e reduzem substancialmente sua eficiência.
N.A.
Poço de
alivio
Camada de areia protetora
Tapete Impermeável
Fundação Permeável
Base Impermeável
A largura na base das trincheiras deve ser da ordem de 0,10 a 0,30H, onde H é a carga
hidráulica total do reservatório.
Cuidados especiais devem ser tomados na base (cut-off parciais) e nas paredes de jusante da
trincheira para evitar-se carregamento do material de preenchimento da trincheira para a
fundação, uma vez que os gradientes hidráulicos no “cut-off” são elevadíssimos por ser este
um trecho de concentração de perdas de carga.
Estes cuidados devem ser tomados em fundações fraturadas ou que contenham vazios não
preenchidos. A Figura 8.10 apresenta um detalhe de uma trincheira de vedação.
N.A.
Tratamento
superficial
Areia
0,10 a 0,30 H Base Impermeável
Os dois primeiros tipos de estruturas têm sido utilizados nos Estados Unidos e na Europa com
bastante freqüência. No Brasil, por critérios econômicos, eles têm sido preteridos.
Os fluxos através de enrocamentos provocam dois tipos de rupturas nos taludes que podem
ser catastróficos.
Rupturas locais provocadas por arraste dos blocos devido às forças de percolação.
Rupturas gerais por instabilização do talude, segundo superfícies aproximadamente
circulares devido às pressões neutras que se desenvolvem.
Um talude construído próximo a seu ângulo de repouso (), quando submetido à percolação,
torna-se instável, a menos que o mesmo seja abatido (w),
b
w (8.29)
Onde:
b : Peso específico submerso do material;
: Peso específico do material.
T W U tg (8.30)
Onde:
W : peso da cunha a ser estabilizada;
U : poro pressão atuante na base da cunha;
T : Força que tem que ser fornecida pelo sistema de ancoragem.
A força T precisa ser transmitida ao longo da superfície de descarga e embora sua distribuição
não seja conhecida, é razoável esperar-se uma distribuição uniforme, pois a ancoragem
funciona como um todo.
8.5.2 Estabilização dos taludes em função do tamanho dos blocos e vazões de descarga
Tabela 8.1 Estabilização dos taludes em função do tamanho dos blocos e vazões de descarga
A aplicação das teorias de fluxo em enrocamentos bem como as soluções para controle destes
fluxos têm sido adotadas com sucesso em vários países, principalmente, em barragens sem
sistema de extravasamento e que, portanto, podem ser susceptíveis a “overtopping” e fluxos
através do enrocamento de jusante.
A utilização de armação e ancoragem para enrocamentos deve considerar a vida útil da obra.
Em estruturas definitivas deve-se considerar proteções para as malhas e ancoragem contra a
corrosão, tais como: tinturas, proteção catódica e malhas e ancoragens de metais não ferrosos
ou aço inoxidável.
De parte dos projetistas é necessário que no final de cada projeto de instrumentação sejam
fornecidas todas as informações relativas aos parâmetros de cálculo, às hipóteses de projeto,
aos níveis piezométricos máximos admitidos e níveis prováveis e às vazões de percolação
esperadas.
CAPÍTULO 9
9. FUNDAÇÕES EM SOLO
É um problema comum, pois as barragens devem fechar vales ou baixadas onde, em geral,
ocorrem formações geológicas constituídas de solos moles, compressíveis e permeáveis.
Embora possa haver superposição de duas ou mais características desfavoráveis dos solos de
fundação, serão aqui apresentadas três condições que, didaticamente retratam toda a
problemática envolvida.
Evitar, tanto quanto possível, que a água penetre na região onde é indesejável;
Facilitar, até o “impossível”, a sua saída dessa região.
Os métodos para o controle da percolação através das fundações de uma barragem podem ser
classificados pelo próprio efeito que tem sobre a percolação:
Antes de 1940, quase todas as grandes barragens fundadas em solos permeáveis foram
construídas com o primeiro método. Ainda hoje, a maioria das barragens é assim projetada,
mas de lá para cá, um número crescente de barragens tem sido fundadas diretamente sobre
solos permeáveis, em locais onde a construção de barreiras impermeáveis completas seria
extremamente onerosa.
Dentro do primeiro método, quatro tipos de obras podem ser utilizadas, elas são:
A adoção de uma barreira impermeável completa só deve ser descartada por motivos de
ordem econômica, quando, por exemplo, a espessura da camada permeável for muito grande
em relação à base impermeável da barragem.
Também as paredes de concreto têm sido cada vez menos empregadas, por serem muito caras
e por oferecerem um inconveniente muito sério, sua elevada rigidez torna o maciço da
barragem, muito menos rígido, vulnerável ao fissuramento sob efeito das deformações
A Figura 9.1 mostra uma seção típica de barragem com trincheira preenchida com solo
impermeável compactado. Esta solução tem sido mais intensamente utilizada, em vista da
evolução dos equipamentos de terraplanagem, que a têm tornado mais econômica para
profundidades cada vez maiores. Profundidades até 25 a 30 m são, hoje, perfeitamente
razoáveis.
A principal dificuldade de sua construção é dada pelo lençol freático que exige, muitas vezes,
onerosas instalações de rebaixamento, como mostrada na Figura 9.2.
N.A.
Tratamento
superficial
Areia
Base Impermeável
Sistema de
Bombeamento
Areia
A Figura 9.3 ilustra o efeito de trincamento provocado por um elemento rígido inserido na
fundação, sob o maciço da barragem.
N.A.
Elevadas tensões de
compressão
Trincas abertas
Aluvião
Parede de concreto
Base Rígida
Esse método consiste em preencher com concreto plástico uma trincheira, aberta com
utilização de lama bentonítica.
As trincheiras de lama foram pela primeira vez utilizadas em obra permanente na barragem de
Wanapum, construída nos Estados Unidos, em 1958. Essas trincheiras são executadas com o
mesmo processo anterior, porém, em um único painel contínuo, preenchido com lama
plástica, obtida pela mistura de solo com bentonita.
A lama foi obtida pela mistura do material escavado, bentonita utilizada na escavação e 15% a
20% de silte natural, obtido de área de empréstimo.
Até 40 anos atrás, as injeções de cimento eram utilizadas apenas para reduzir a percolação
através de maciços rochosos fraturados. Injeções químicas que pudessem ser executadas em
Por volta desse ano teve início o projeto da barragem de Serra-Ponçon, localizada nos Alpes.
O fato das injeções tornarem mais rígido o trecho de fundação tratado é uma questão que deve
ser considerada no projeto, de forma a compatibilizar as deformações do conjunto
maciço-fundação para que não ocorram trincas indesejáveis.
Depois de Serra-Ponçon este método foi utilizado, com sucesso, em várias outras barragens de
grande porte como, por exemplo:
N.A. N.A.
Aluvião Aluvião
(a) (b)
N.A. N.A.
(c) (d)
Figura 9.4 Métodos de controle de percolação pelas fundações sem construção de barreiras
impermeáveis completas
redução das vazões ou pressões. Tanto a teoria como a experiência mostram que seria
necessário penetrar em 95% da espessura total, em solos homogêneos permeáveis, para se ter
um resultado apreciável. Essa é a razão pela qual, nesses solos, apenas o “cut-off” total deve
ser considerado.
Porém, o método será muito útil em casos em que o coeficiente de permeabilidade decresce
com a profundidade, ou quando existir uma camada impermeável contínua que possa ser
atingida pela barreira impermeável (trincheira, diafragma plástico, etc.).
Para os solos homogêneos o tapete horizontal impermeável a montante, Figura 9.4b, terá
melhor eficiência na redução da percolação. Para isso, é necessário que o tapete seja muito
menos permeável que a fundação e se estenda suficientemente para montante, para reduzir as
pressões a jusante, pois estas são inversamente proporcionais ao comprimento do caminho de
percolação. A espessura e o comprimento necessários dependem diretamente do coeficiente
de permeabilidade do material que constitui o tapete, da espessura da camada permeável da
fundação, do coeficiente de permeabilidade dessa camada e da carga hidráulica do
reservatório. Espessuras de 0,6m a 3,0m têm sido freqüentemente empregadas. Costuma-se,
também, aumentar a espessura nas proximidades do pé da barragem, onde o gradiente
hidráulico é maior.
A percolação de água através das fundações de uma barragem pode trazer riscos a sua
segurança de formas diferentes: desenvolvendo elevadas sub-pressões sob o espaldar de
jusante, com isto diminuindo as tensões efetivas nessa região e, conseqüentemente, a
resistência ao cisalhamento do talude, ou, proporcionando elevados gradientes hidráulicos na
sua saída, podendo originar erosão regressiva (piping).
Fácil é concluir que a execução de drenos na fundação de uma barragem, se bem projetados e
construídos, constituem uma medida importantíssima para sua segurança, pois possibilita a
redução tanto da sub-pressão a jusante, como do gradiente hidráulico de saída. Os drenos são
mesmo imprescindíveis em obras de barramento.
Na Figura 9.4c, apresenta-se um sistema com filtro horizontal sob o espaldar de jusante, e na
Figura 9.4d, poços de alívio ou trincheira drenante interceptando a camada permeável.
Um sistema de drenagem deve ser dimensionado de forma a captar o fluxo das águas que
percolam pela fundação (e pelo maciço) e conduzi-lo para jusante, de forma controlada.
O máximo cuidado deve ser tomado, tanto no projeto com na sua execução. Vários são os
fatores que intervem no dimensionamento:
Deve-se salientar que a fundação solicita muito mais (10 a 1000 vezes) o sistema de drenagem
do que o maciço da barragem. A percolação da água é governada pela lei de Darcy que,
Assim, pode-se usar materiais mais permeáveis (drenos sanduíche) para reduzir a área
drenada e conseqüentemente a qualidade do material de dreno. Esta poderia ser uma medida
que resulte em economia para a obra, mas os aspectos constitutivos devem ser
cuidadosamente analisados, por exemplo, a espessura mínima do dreno, imposta pelo próprio
método de execução, poderá já ser suficiente.
Em geral, adota-se para a seção drenante obtida nos cálculos, coeficientes de segurança de 10
a 100, dada a grande variação (ou incerteza) dos coeficientes de permeabilidade. Para drenos
horizontais é usual limitar o gradiente hidráulico a valores de 0,05a 0,15.
A vazão afluente ao dreno é determinada pelo traçado da rede de fluxo onde o método dos
elementos finitos é de grande utilidade, principalmente nos casos em que a configuração da
fundação é complexa. O método permite que se obtenha com rapidez o intervalo possível,
obtido pela variação paramétrica dos fatores intervenientes. Também, a interação entre a
barragem e sua fundação deve ser considerada como, por exemplo, a possibilidade de
ocorrência de trincas em zonas estanques provocadas por recalques diferenciais.
A granulometria do material filtrante deve ser suficientemente fina para evitar que partículas
do solo a drenar sejam carregadas para seu interior, e suficientemente grossa para que sua
permeabilidade seja significativamente maior que a do solo drenado, possibilitando o
escoamento fácil das águas.
As soluções técnicas discutidas passarão pelo crivo de uma análise econômica que apontará a
melhor solução. É, portanto, muito importante que as diversas alternativas estejam
“homogeneizadas” quanto à segurança e ao funcionamento das obras. O engenheiro projetista
deverá conhecer as implicações de cada uma delas, desde a adoção dos parâmetros
geomecânicos das fundações, passando pelo método teórico de cálculo, até a fase de
construção, de forma a atribuir-lhes justo valor no processo de escolha.
Uma alternativa que se impõe, quase como obrigatória, é a de remover totalmente os solos
que não oferecem condições adequadas de fundação. Porém, desde que se possa conviver com
esses solos, ou com parte deles, dentro dos critérios usuais de segurança, isto nem sempre é
economicamente vantajoso.
No estudo de fundações em solos moles, dois aspectos, em geral interligados, devem ser
considerados: ruptura de base e recalques excessivos.
Quanto ao aspecto de recalques excessivos, devem ser estudados tanto os recalques (totais,
diferenciais e diferenciais específicos) como o tempo em que os mesmos deverão processar-
se.
No que se refere ao tempo de recalque, é desejável que a maior parte deste ocorra até o final
da construção, razão pela qual pode-se, em alguns casos, acelerar o processo de adensamento
mediante sobrecargas ou drenos de areia.
Muitas vezes o solo mole é constituído por argilas sensíveis de baixa plasticidade e baixa
resistência ao cisalhamento no ensaio rápido. Nestes casos, os resultados de ensaios de
laboratório são geralmente falseados pelo inevitável amolgamento das amostras, levando os
resultados a erros apreciáveis.
Faz-se então necessária a realização de ensaios “in situ” que permitam avaliar a resistência do
solo a diversas profundidades, principalmente pretende-se adotar soluções tais como bermas
de equilíbrio, ritmo lento de construção ou drenos verticais de areia.
Mais uma vez, convém ressaltar que, na programação das investigações do sub-solo no local
de barramento, é preciso ter em conta que qualquer custo adicional, para determinar
elementos úteis ao projeto, é sempre muito menor que o preço de eventuais medidas
corretivas posteriores.
A seguir são apresentadas algumas soluções típicas de projeto e métodos construtivos para
fundações em solos moles.
a. Remoção do material mole e sua substituição total ou parcial por aterro compactado.
Neste caso poderão ser empregados vários métodos construtivos tais como: escavação
mecânica, remoção por bombas de sucção, deslocamento por jatos d’água e deslocamento
pelo peso do aterro.
Normal
Altura da Barragem (% de H)
100
50
Velocidade Lenta
0
t (meses)
2,0
Velocidade Lenta Normal
Coeficiente de Segurança
1,0
FS mínimo
1,25
0,5
0 20 40 60 t (meses)
Tempo Decorrido (Meses)
A Figura 9.6 ilustra o andamento dos recalques no tempo, com e sem sobrecarga. A
sobrecarga deve ser levada acima da assíntota prevista para carga de projeto, pois nessa
região, embora haja um ligeiro inchamento após sua retirada, este é pequeno e, em geral, não
prejudicial. Além de acelerar os recalques, a sobrecarga provoca um efeito de
pré-adensamento nas argilas, aumentando a segurança da obra para as cargas de trabalho.
Quando se trata de aumentar a segurança quanto à ruptura de base, pode-se construir bermas
de equilíbrio junto aos pés dos taludes do aterro. Estas bermas funcionam como contrapesos
que atuam contrariamente à tendência de escorregamento.
Tempo
De um modo geral denomina-se, entre nós, solos porosos aqueles que apresentam macroporos
visíveis a olho nu, com conseqüente alto grau de porosidade (e daí a denominação poroso) e
com baixo teor de umidade (em geral abaixo do limite de plasticidade), resultando ainda em
baixo grau e saturação. Tem uma estrutura complexa, a qual é instável, pois em geral sofre
colapso quando o solo é saturado e, quando isso acontece, são denominados, também, como
solos colapsíveis. São extremamente compressíveis e muito pouco resistentes à erosão.
Esse tipo de solo recobre uma grande área do Brasil Central-Sul, conhecendo-se a ocorrência
do mesmo até Brasília, ao norte, e Londrina, ao Sul.
Esses solos constituem uma espessa camada de solo superficial e podem ser solos residuais
típicos e solos coluviais.
Parece claro que as camadas porosas superficiais se originam da lixiviação de óxidos de ferro
e de frações do solo, pela ação da água da chuva e conseqüente precipitação desses óxidos e
frações finas na camada subjacente.
Assim, muitas vezes, as camadas subjacentes aos solos porosos são duras. Na linha divisória
entre as duas camadas aparecem freqüentemente leitos ou lentes de limonita.
Ao longo do eixo longitudinal da barragem, a carga aplicada pelo aterro à fundação varia com
a altura da barragem e a camada de solo poroso pode também ter espessura variável. É de
esperar, então, recalques diferenciais na seção longitudinal que podem, eventualmente,
provocar o aparecimento de trincas transversais, que são as mais perigosas, pois podem
comunicar a face de montante com a face de jusante da barragem.
As principais características dos solos porosos são sua elevada porosidade volumétrica e seu
baixo teor de umidade, o que resulta em solo de baixo grau de saturação. É comum
observarem-se nesses solos porosidade volumétrica e grau de saturação da ordem de 50% e
40%, respectivamente.
A Figura 9.7 mostra faixas de curvas granulométricas de solos porosos típicos, bem como
apresenta valores da espessura da camada (1) onde esses solos ocorrem, porosidade
volumétrica média (n) e grau de saturação médio (S) correspondentes.
A Figura 9.8 mostra o gráfico de plasticidade com zonas delimitadas de plasticidade dos
solos porosos típicos já mencionados na Figura 9.7.
Investigações feitas por Grim e Bradley em solos porosos mostram que a fração argila é
constituída por caolinita e gibsita com elevado teor de óxido de ferro, enquanto que a
montmorilonita só foi encontrada na camada de solo não porosa inferior.
100
% menor que (%)
3
50
2
1
0
0 0,0001 0,001 0,01 0,1 1,0 10 (mm)
Diâmetro dos Grãos (mm)
50
3
1
0 50 100
Limite de Liquidez
De um modo geral a compressibilidade dos solos porosos, a exemplo dos outros solos,
aumenta com o aumento de seu limite de liquidez. Porém, a estrutura do solo influi mais
Esses solos, quando submetidos à saturação, sem acréscimo de carga, sofrem recalques
bruscos. Jennigs interpretou esse fenômeno como proveniente de um colapso da estrutura do
solo devido à saturação; para estudar a compressibilidade, propôs um ensaio de adensamento
duplo, adensando-se um corpo de prova na umidade natural e outro corpo de prova, da mesma
amostra, depois de saturado.
Entretanto, deve ser observado que o recalque do colapso da estrutura do solo não será para
diferentes condições de carga previamente aplicadas ao solo no momento da saturação. Os
recalques por colapso tendem a diminuir com o aumento do valor da carga já aplicada ao solo
no momento da saturação até que, após certo valor da carga aplicada não ocorre mais colapso.
A Figura 9.9 mostra resultados de ensaios duplos de adensamento para amostras de solo
poroso típico. Para facilitar a comparação das curvas de adensamento em vários corpos de
prova da mesma amostra, as curvas estão desenhadas no mesmo gráfico, bem como os
recalques dos colapsos observados devido à saturação aplicada para diferentes valores de
pressão atuantes no corpo de prova.
Nos solos porosos aparece muito bem determinada a carga de pré-adensamento. Alguns
ensaios mostram que tal carga tem a tendência de obedecer ao valor do peso de terra existente
sobre o ponto onde se colheu a amostra. Entretanto, essa tendência é constantemente
perturbada pelo secamento do solo nas camadas superiores e pelo endurecimento das camadas
profundas em virtude da precipitação dos finos provenientes das camadas superiores pela
lixiviação.
e
Umidade Natural
Pré-saturado
Colapso
Índice de Vazios
Os solos “porosos” são também muito compressíveis por possuírem estrutura instável. A
argila porosa do terciário da cidade de São Paulo, por exemplo, quando submetida a uma
carga de 100kPa, pode recalcar cerca de 3% e, se sofrer saturação, mais um recalque adicional
de 3% ocorre.
Portanto uma camada dessa argila com 5m de espessura, pode sofrer recalques de 0,3m, se
submetida a uma pressão de 100kPa e for submetida à saturação.
A Figura 9.10 mostra resultados de ensaios triaxiais (R sat) drenados rápidos executados em
corpos de prova saturados para quatro amostras, de argila “porosa” de São Paulo, coletadas
em profundidades diferentes, comparadas com envoltórias de ensaios de cisalhamento direto
lento para as mesmas amostras. Pode-se perceber que o ângulo de atrito obtido nos ensaios
Rsat (=13,5º) é da ordem de (1/2 a 2/3) do ângulo de atrito obtido em cisalhamento direto
(=29º)
Tensão Cisalhante
Cisalhamento Direto
’= 29o
’= 13,5o
Ensaios Triaxiais
Tensão Normal
Figura 9.10 Resistência ao cisalhamento - Argila porosa vermelha do Terciário São Paulo, SP
Pode-se dizer que os solos “porosos” têm resistência ao cisalhamento muito alta: ângulo de
atrito da ordem de 30º e coesão, embora desprezível para amostras saturadas,
consideravelmente alta para umidades naturais baixas.
a. A barragem da Ilha Solteira, no rio Paraná, teve maciço de terra da margem direita, desde o
início até a estaca 70, assentado sobre um solo poroso derivado por um processo pedogenético
sobre um coluvião de solo vermelho argiloso, com w=22%, ei=1,4, S=45%, LL=45% e
IP=15%.
A Figura 9.11 apresenta a seção transversal da barragem pela estaca 65 e o perfil geológico do
eixo longitudinal da barragem pela ombreira direita. Para reduzir ao mínimo os recalques, foi
feita a escavação do solo de fundação em forma de calha, atingindo-se no eixo longitudinal da
barragem, cota correspondente ao topo da camada de solo residual. Dessa forma, os recalques
Nestes ensaios, semelhantes aos já anteriormente descritos, constatou-se que para ocorrer
colapso da estrutura do solo são necessárias a saturação e o acréscimo de pressão.
Observou-se, também, uma certa tendência de aumento das deformações com o aumento da
pressão de inundação.
Essas reduções podem ser atribuídas a vários fatores, entre os quais a diferença de condições
de “saturação” do solo no campo e no laboratório, a rigidez do próprio aterro e as
heterogeneidades de ordem geológica. Os resultados dos ensaios “in situ” levaram à solução
de se remover uma camada superficial do solo de fundação de apenas 1,0m.
c. A barragem Três Marias no rio São Francisco, Minas Gerais, teve um trecho de seu aterro,
com altura acima de 23m, apoiado em uma camada de argila vermelha porosa proveniente de
Os tratamentos requeridos para fundações constituídas por solos porosos e colapsíveis são
orientados pelas propriedades de compressibilidade do solo. Estas são bem determinadas por
ensaios de laboratório em amostras indeformadas e irão indicar se os recalques pós-
construção submetidos à saturação serão significativos.
Para barragens pequenas (até 15m de altura), pode ser utilizado, preliminarmente, um critério
empírico, desenvolvido pelo “Bureau of Reclamation”, que correlaciona D a h para níveis de
carga limitado a essa barragem, sendo:
Foram ensaiadas 112 amostras provenientes de áreas “loessiais” que segundo o Sistema
Unificado de Classificação, eram constituídas por ML – 51%, CL – 23%, ML-CL – 13%, SM
– 8% e MH – 5%.
Se a camada de solo poroso foi muito espessa para uma remoção econômica, ou constituir um
tapete “impermeável” natural sobre uma camada subjacente muito permeável, pode-se ter as
seguintes situações:
- O solo poroso é muito compressível, mas não colapsível. Neste caso, estudos de
recalque devem ser feitos visando, por exemplo, uma remoção parcial do solo, como
foi feito para a barragem de Promissão.
- O solo poroso é colapsível. Neste caso devem ser tomadas medidas que assegurem a
ocorrência dos recalques da fundação durante a construção. Isto pode ser conseguido
por meio de uma pré-saturação do material de fundação.
Nos Estados Unidos tem sido usados, com sucesso, aspersão de água e tanqueamento
da camada de solo poroso em áreas “loessiais” que constituem fundação de barragens.
Esse método é perfeitamente aplicável nos casos em que a barragem possa ser
assegurada por uma camada permeável inferior.
CAPÍTULO 10
10. FUNDAÇÕES EM ROCHA
10.1 Introdução
As barragens de terra e/ou enrocamento, quando existentes, constituem sempre uma das
estruturas de um aproveitamento hidráulico. Como nas demais estruturas do aproveitamento, a
concepção e projeto das mesmas, deve visar a unidade e otimização do aproveitamento como
um todo. Esta meta quase sempre não é alcançada, quando se deseja otimizar, isoladamente,
técnica e economicamente, cada estrutura.
Na fase I, conforme comentado acima, após a análise conjunta das variáveis intervenientes, é
estabelecido o arranjo e concepção geral das estruturas. No que concerne ao tema específico
deste capítulo – Tratamento de fundação em trechos críticos de cronograma – o que se
procura é introduzir, como variantes de decisão, para cada possível arranjo, os
correspondentes tratamentos de fundação, respectivos prazos estimados e grau de
confiabilidade destes prazos. Quase sempre, sob o ponto de vista de otimização global,
predominando o tempo de construção da barragem de terra e/ou enrocamento no trecho de
fechamento final do leito do rio, por sua vez, em grande parte, condicionado pelo tempo de
tratamento da fundação neste trecho.
Nos casos em que a construção deste trecho de barragem é possível em um único período de
estiagem, as obras provisórias supracitadas são sensivelmente diminuídas, uma vez que são
dimensionadas para as correspondentes vazões do período de estiagem. O exemplo 1,
referente à Usina Hidrelétrica de Samuel, apresentado em seguida, ilustra esta situação.
Há casos entretanto, que devido ao vulto das obras envolvidas na fase de fechamento final do
rio, não é possível a complementação desta parte da obra num único período de estiagem.
Também, nestes casos, é importante a escolha de uma alternativa que minimize o tempo de
construção desta fase, a fim de que não ultrapasse mais de dois anos hidrológicos. Caso
contrário, além de onerar ainda mais as estruturas de desvio (o dimensionamento é função do
tempo de utilização das mesmas), pode condicionar o início da operação da obra. O exemplo
2, referente à Usina Hidrelétrica de Tucuruí, apresentado em seguida, ilustra este caso.
Vertedouro
N Região de Grandes
Blocos
Área de Montagem
Casa de
Força
Rio
Jamari
(a)
Vertedouro
N Região de Grandes
Blocos
Canal de Desvio
Área de Montagem
Casa de Força
Rio
Jamari
(b)
Figura 10.1 Hidrelétrica Samuel – (a) Alternativa “A” de arranjo, Fechamento final margem
esquerda; – (b) Alternativa “B” de arranjo, Fechamento final margem direita
Geológicos Geotécnicos – A geologia local é constituída por uma intrusão granítica no leito
do rio, pouco fraturada e intemperizada, a não ser próximo da margem esquerda. Este trecho,
que constitui o canal principal do rio, é caracterizado por um conjunto de blocos de dimensões
variadas (2 a 6 metros) originados pelo intenso fraturamento do granito nesta região. Observe-
se que o rio procurou esta zona de fraqueza para estabelecer o seu leito principal.
Por outro lado, no caso da alternativa “B”, havia a necessidade de prévia construção de um
canal de desvio na margem direita, que consistiria na região do fechamento final. As
investigações geotécnicas, nesta área, não indicaram qualquer anomalia tectônica. Além disto,
parte do tratamento da fundação poderia ser feita durante a escavação do canal, sem prejuízo
para o cronograma desta obra. Deste modo, durante o fechamento final do rio, o tratamento da
fundação seria totalmente previsível e bastante reduzido.
No contexto global, devido aos fatos acima analisados, restringiu-se às alternativas de arranjo
precedentes ao grupo “B”.
No arranjo inicial, o fechamento final seria feito através do canal central. Após estes novos
dados, foi questionado o tempo estimado para construção da barragem no canal central,
principalmente no que concerne ao tratamento da fundação, devido aos seguintes motivos:
Todos os tratamentos pertencentes aos itens 2 e 3 acima, deveriam ser feitos num período de
6 meses, coincidindo com o período chuvoso, a fim de não elevar subitamente, o já elevado
pico de aterro compactado (núcleo de barragem) neste trecho de obra.
A outra alternativa, consistia em deixar como trecho final de fechamento do rio, o canal da
margem direita, cuja fundação apresentava características geotécnicas bem mais favoráveis do
que a do canal central.
Restritos ao tema específico deste capitulo, são abordados, neste item, alguns pormenores de
projeto da estrutura que levam a requisitos de tratamento de fundação menos rigorosos ou de
mais rápida execução.
É enfatizado, mais uma vez, a tese deste capítulo, de que reduções sensíveis no tratamento de
fundação são obtidas nas fases de concepção e projeto (fases I e II) e não do detalhamento do
mesmo (fase III).
A fim de que o núcleo cumpra sua função (elemento impermeável da estrutura) as tensões
totais no contato núcleo – fundação devem ser de compressão e superiores às pressões
intersticiais na fundação, imediatamente abaixo deste contato. Esta condição deve ser
satisfeita durante a fase do enchimento e ao longo da operação do reservatório.
Satisfeitas as condições antes mencionadas, contatos da ordem de 0,25H tem sido utilizados
com sucesso. No Brasil, contatos de 0,4H a 0,5H são comuns, o que corresponde a uma
otimização tanto do maciço quanto dos tratamentos de fundação.
A utilização de tapete impermeável interno (núcleo em “L” inclinado) que consiste, sem
dúvida uma segurança adicional, com relação a percolação pela fundação, pode representar
acréscimos importantes de tempo no tratamento da fundação, caso sejam estendidos os
rigorosos critérios da zona de núcleo, para esta zona de núcleo adicional. Em adição, deve-se
considerar que esta extensão do núcleo pode comprometer o início do lançamento do
enrocamento a jusante do núcleo, que representa, uma frente de trabalho importante,
independente do tratamento da fundação do núcleo, no caso de barragens de enrocamento
com núcleo inclinado para montante. Deve-se enfatizar, entretanto, a não necessidade de
critérios de tratamento de fundação rigorosos na zona adicional do núcleo.
Zonas mais rigorosas de tratamento, da ordem de 0,5H a 1,0H, tem sido adotadas com sucesso
em barragens homogêneas, reduzindo deste modo, consideravelmente, os trabalhos de
tratamento da fundação.
Uma das finalidades das cortinas de injeções consiste em reduzir a percolação pela fundação,
portanto, não sobrecarregando o sistema de drenagem e, conseqüentemente, limitando as
sub-pressões na base do talude de jusante.
confinados em depressão e com pequena espessura (limite permitido de 1,0m numa das
barragens analisadas).
Somente em uma das barragens, foi especificado talude máximo admissível para a rocha da
fundação neste trecho (1,0H:10,0V, para alturas superiores a 5,0m).
Na barragem de Tucuruí foi previsto, por razões técnicas, recobrimento de concreto nas
áreas de intenso fraturamento, ou com descontinuidades de grande desenvolvimento
montante – jusante. Nesta obra, foi deixado a critério da fiscalização, a execução de
e. Tratamento profundo
- Injeções rasas – Nas barragens de Emborcação e Tucuruí (enrocamento com núcleo
argiloso) injeções rasas foram previstas sob todo o núcleo (“área Grouting”).
Posteriormente, na barragem de Tucuruí, com o andamento das injeções e
interpretações judiciosas das absorções de cimento e respectivas feições geológicas, o
critério geométrico foi substituído por critério geológico, consistindo na execução de
injeções rasas somente naquelas feições geológicas necessárias.
10.5.2 Análise conceitual dos critérios usuais de tratamento de fundações rochosas para apoio
de barragens de Terra e/ou Enrocamento
Quanto aos critérios apresentados neste item, deve-se observar que os mesmos devem ser
interpretados como conceitos gerais e não como regras fixas.
Adicionalmente, embora o tema tratamento de fundação nesta fase de detalhamento deva ser
analisado de modo amplo, englobando o projeto propriamente dito, a forma de atuação do
empreitero e da fiscalização, uma abordagem mais detalhada é restrita somente aos aspectos
de projeto.
- Limpeza final – No caso de apoio em rocha, após a limpeza com jatos de ar e água, não há
necessidade de remoção manual adicional de fragmentos de rocha. O somatório de
pequenas exigências desnecessárias, como esta, pode atrasar o tratamento de fundação em
caminho crítico do cronograma.
- Tratamento superficial, filtro invertido na zona de enrocamento – Nos locais de falha com
materiais de preenchimento susceptíveis a erosão, tem sido utilizados filtros invertidos,
satisfazendo os rígidos critérios de filtro camada por camada. Como o carregamento de
partículas é função do balanço entre a força gravitacional restritiva devido ao peso da
barragem e a força de percolação, muitas vezes, uma camada de material bem graduado,
com a finalidade de melhor distribuir os esforços do enrocamento, pode substituir com a
mesma eficiência técnica as múltiplas camadas de filtro.
Por outro lado, o lançamento das primeiras camadas com teores de umidade mais elevados,
acarretam somente um acréscimo de recalque nas mesmas, desprezível perante o recalque
de toda a barragem.
- Tratamento profundo, injeções rasas – Estas injeções visam evitar a migração de material
do núcleo para a fundação, reduzir a potencialidade de curto circuito hidráulico por sobre a
cortina de injeção e reduzir eventuais pressões de percolação elevadas no contato fundação
–maciço, no pé de jusante do núcleo.
Quanto à distribuição destas injeções, adota-se usualmente uma malha regular (“critério
geométrico”) ou condicionadas pelo fraturamento da fundação (“critério geotécnico”). Um
procedimento híbrido, com a seqüência adiante detalhada, é mais eficiente e mais rápido:
Realização de injeções segundo critério geométrico no início dos trabalhos; correlação
Quando as profundidades das injeções rasas, em geral não necessitam ir além de 6,0 a
9,0m. Em adição reduções importantes de tempo são obtidas quando injeções rasas são
injetadas num único estágio.
Deste modo é explicado porque pressões superiores ao peso do material sobrejacente não
provocam, necessariamente, levantamentos do maciço.
Ainda existem certas restrições com relação à injeção ao longo do maciço, associadas a
problemas de fraturamento hidráulico provocado pelas pressões d’água de perfuração.
Esta preocupação, entretanto, deixa de existir quando é utilizada perfuração a ar em lugar
de avanço de perfuração por água sob pressão, ou perfuração a seco (trado espiral
mecanizado).
Neste tipo de serviços, os projetos devem ter uma característica mais conceitual do que
determinística, explicando o porque, quando e onde determinado tratamento deve ser
adotado. Por outro lado, a fiscalização deve ter uma autoridade de decisão ampla, a fim de
obter um produto melhor e em prazo menor.
Por outro lado, restrito somente ao tema específico deste capítulo, e analisado o estado atual
brasileiro na técnica de detalhamento de projeto, bem como a interação projeto-construção,
verifica-se um retrocesso evolutivo nos últimos anos.
CAPÍTULO 11
11. TRATAMENTO DE FUNDAÇÃO DE BARRAGEM DE TERRA
ATRAVÉS DE CORTINA DE INJEÇÃO
11.1 Introdução
Entre os vários tipos de tratamento a que são submetidas às fundações das barragens de terra
deve-se destacar as injeções de calda de cimento, particularmente no caso de fundação em
maciço rochoso fraturado. Esse tipo de tratamento consiste em injetar na fundação uma
mistura (basicamente água + cimento) capaz de solidificar e obstruir os vazios (fendas,
fraturas, etc.) do maciço rochoso, dificultando a percolação d’água, ou seja, reduzindo a
permeabilidade.
Para fundações muito permeáveis as injeções podem ser executadas visando não apenas
eliminar o risco de “piping”, mas também com a finalidade de reduzir as vazões.
Dado às incertezas quanto às reais características do maciço rochoso, o melhor método para
avaliar a necessidade ou não de cortina de injeções é a execução de furos exploratórios. Em
função das absorções da calda de cimento nos furos exploratórios toma-se a decisão quanto à
necessidade ou não de execução da cortina.
Em geral as injeções exploratórias são executadas a cada 12m ou 24m, podendo esse
espaçamento ser maior ou menor em função do conhecimento que se tem do maciço rochoso
bem como do tipo de seção da barragem. Para uma seção de barragem de enrocamento com
núcleo argiloso as injeções assumem uma importância maior, devido ao menor caminho de
Uma cortina de injeção clássica é constituída por furos primários, secundários e terciários,
podendo essa cortina ser constituída por uma ou mais linhas de injeção. Em geral inicia-se a
cortina pelos furos primários, diminuindo-se o espaçamento com furos intermediários
(secundários), seguindo-se com furos terciários e mesmo quaternários, até que as absorções de
calda sejam inferiores aos limites pré-estabelecidos. Em geral, o espaçamento final é função
da absorção de calda nos furos precedentes, sendo a cortina iniciada com espaçamento da
ordem de 12m e chegando ao final com espaçamento de 3m ou 1,5m. A Figura 11.1
apresenta a disposição típica dos furos primários, secundários e terciários em uma cortina de
injeção.
Primários
Terciários
Linha Jusante
Linha Central
12,0
6,0
3,0
3,0
1,5
Uma cortina pode ser constituída por uma única linha de furos pouco espaçados ou por 2 ou
mais linhas com furos mais espaçados (assunto esse ainda bastante controvertido no meio
técnico). Um critério bastante utilizado, é o de executar uma primeira linha e reforçá-la com
uma 2a. ou mesmo 3a. linha nos trechos onde as absorções de calda foram superiores aos
limites pré-estabelecidos.
Como regra geral procura-se executar furos pouco espaçados nos primeiros metros a partir do
contato aterro x fundação onde os riscos de carregamento são maiores, aumentando-se o
espaçamento para furos mais profundos. Nesse critério são programados furos intermediários
ou adicionais sempre que:
Quanto à profundidade máxima da cortina tem-se adotado até 2/3 da altura da barragem
(2/3H), pelo menos para alguns furos exploratórios, mas a profundidade de 0,5H pode ser
considerada como suficiente a menos que ocorram grandes cavidades abaixo dessa
profundidade.
Esse é outro assunto controvertido, existindo duas escolas distintas onde as pressões aplicadas
variam de 25kPa por metro de profundidade (escola americana) a 100kPa por metro de
profundidade (escola européia). No caso da escola americana a pressão aplicada equivale ao
peso do terreno, de maneira que durante o processo de injeção não ocorram deformações do
maciço rochoso, sendo injetadas apenas as fraturas com aberturas superiores a dimensão dos
grãos de cimento. Na escola européia, com aplicações de altas pressões, podem ser injetadas
fraturas menores que a dimensão dos grãos graças à abertura forçada dessas fraturas.
Se por um lado as altas pressões favorecem a injeção de fraturas menores, podendo ainda
reduzir o número de furos pelo maior raio de alcance da calda, por outro lado podem
corresponder a um maior consumo de cimento que irá atingir distâncias desnecessárias, além
de poder danificar o maciço rochoso.
Para as fundações de barragens de terra, onde somente interessa injetar as fraturas maiores, as
baixas pressões têm sido usadas com sucesso.
Para a aplicação da pressão devem ser levados em conta: o peso próprio da calda, o nível do
lençol freático e perdas de carga na tubulação.
A calda para injeções é constituída basicamente por uma mistura de água e cimento.
Eventualmente outros componentes podem entrar na mistura como areia, pozolana, bentonita,
etc., sejam para melhorar as características da calda ou mesmo como medida de economia.
Antes do início das injeções as caldas devem ser dosadas procurando-se obter uma relação
água:sólidos que tenha boa fluidez ou seja boa capacidade de penetração nas fraturas. Uma
calda bastante fluida (rala) entretanto apresenta alto fator de sedimentação (F.S.) ou seja uma
maior facilidade de separação dos constituintes da mistura, resultando o preenchimento
apenas parcial dos vazios.
A calda ideal seria aquela que apresentasse baixa sedimentação e elevada capacidade de
penetração nas fraturas.
Para a obtenção da calda apropriada existem dois ensaios simples de laboratório, que embora
não representem as condições ideais de campo, podem ser utilizados com sucesso. Esses
ensaios consistem na obtenção do “Tempo de Escoamento” (T.E.) e do “Fator de
Sedimentação” (F.S.).
Com o T.E. e o F.S. obtém-se “curvas de injetabilidade” para várias misturas água:sólidos, o
que permite a escolha da calda. Na Figura 11.2 é mostrada a curva de injetabilidade obtida em
Tucuruí para um determinado cimento. Pelo gráfico verifica-se que a calda ideal está no ponto
da inflexão da curva onde são menores o tempo de escoamento e o fator de sedimentação.
Embora seja ainda um ponto de discordância, havendo quem prefira caldas mais ralas, tem-se
chegado a bons resultados com calda de relação água:cimento de 0,7:1 em peso, ou mesmo
calda 1:1 com adição de 1% de bentonita.
t
Tempo de Escoamento
Relação Água-Cimento
Ensaiada
Caldas Ideais
Fator de Sedimentação
As caldas são preparadas no campo, em recipientes onde são agitadas a altas velocidades para
a separação dos grãos de cimento, sendo em seguida injetadas com auxílio de bombas de
pressão. Os furos para as injeções em geral são executados com equipamentos a
roto-percussão, eventualmente rotativos, com diâmetro mínimo de 63,5mm (2½”). Antes de
iniciar-se a injeção os furos são limpos com jatos de ar e água, até que a água saia isenta de
impurezas.
O método de injeção mais comum e também mais econômico, é o ascendente, onde a injeção
é efetuada em trechos de 3 a 5m a partir do fundo do furo, com auxílio de obturador para
isolar o trecho a ser injetado. A injeção de um determinado trecho deve ser contínua devendo
somente ser suspensa quando for atingida a pressão especificada e não ocorrendo mais
absorção da calda.
Em maciços rochosos muito fraturados, onde ocorre desmoronamento das paredes do furo
e/ou quando o maciço não permite fixar o obturador, a injeção deve ser efetuada pelo
processo descendente, onde é necessário perfurar novamente o trecho injetado para prosseguir
com a injeção. O trecho previamente injetado estará apto para fixar o obturador após a pega
da calda.
A injeção de um determinado trecho deve ser contínua até a recusa, porém, para grandes
absorções de calda pode-se estabelecer volumes a partir dos quais a injeção é paralisada
temporariamente até o início da pega, visando limitar o consumo de cimento. Outro
procedimento usual é engrossar a calda com areia quando o trecho está absorvendo grandes
volumes de calda.
Para avaliar a eficiência de uma cortina em geral são executados ensaios de perda d’água nos
furos a serem injetados. Assim, a eficiência da cortina pode ser avaliada comparando-se as
permeabilidades dos furos iniciais (exploratórios, primários, etc.) com as permeabilidades dos
furos finais.
Afora a permeabilidade, a eficiência também pode ser avaliada em função das absorções de
calda nos furos iniciais, bem como pela execução de sondagens de controle que poderão
mostrar testemunhos com as fraturas obturadas, pelo cimento da injeção.
Na Figura 11.3 é mostrado um exemplo prático de redução das absorções entre os furos
iniciais e finais.
(ton.)
Primários
Sólidos Injetados (ton)
Secundários
Terciários
(m)
Furos da Linha Montante
maciços rochosos muito fraturado. Embora haja críticas a esse tipo de tratamento deve-se
lembrar que esse é um dos primeiros procedimentos que se lança mão quando ocorre algum
problema de vazamento durante ou após o enchimento do reservatório.
No que se refere aos procedimentos para execução das injeções, tipos de calda, pressão,
espaçamento, profundidade, etc., os critérios são bastante variáveis tanto no Brasil como no
exterior, embora já se tenha feito várias tentativas de uniformização.
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