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Universidade de Brasília

Faculdade de Tecnologia
Dept. Engenharia Civil & Ambiental
Prog. de Pós-Graduação em Geotecnia

APOSTILA DE BARRAGENS

Prof. André P. Assis, PhD

APOSTILA: Publicação G.AP-AA006/02


Assis, A.P., Hernandez, H.M. & Colmanetti, J.P.

BRASÍLIA, DF 2003
Universidade de Brasília
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental / FT
Geotecnia

ÍNDICE
CAPÍTULO 1 1
1. FASES DE ESTUDO E PROJETO 1

1.1 Introdução 1

1.2 Das finalidades de uma barragem 1

1.3 Do estudo global de uma Bacia Hidrográfica 4


1.3.1 Etapa I – Inventário 4
1.3.2 Etapa II – Viabilidade 5
1.3.3 Etapa III – Projeto Básico 5
1.3.4 Etapa IV – Projeto Executivo 5

1.4 Índice custo-benefício e índice ambiental 6


1.4.1 Índice Custo-Benefício Energético 6
1.4.2 Índice Ambiental 6

CAPÍTULO 2 8
2. FATORES QUE INTERFEREM NO ARRANJO GERAL DE UMA BARRAGEM 8

2.1 Arranjos dos aproveitamentos 8

2.2 Definição do tipo de barragem 11

CAPÍTULO 3 15
3. FATORES PREDOMINANTES NA SELEÇÃO DO TIPO DE BARRAGEM DE
TERRA E DE BARRAGEM DE ENROCAMENTO 15

3.1 Introdução 15

3.2 Classificação quanto ao tipo de seção 15


3.2.1 Barragem Homogênea 15
3.2.2 Barragem Zoneada 16
3.2.3 Barragem de Enrocamento 17

3.3 Fatores predominantes no estabelecimento da seção típica 18


3.3.1 Materiais de construção 18
3.3.2 Características geotécnicas da fundação 20
3.3.3 Tempo disponível para construção e Clima da Região 23
3.3.4 Seqüência de Construção e Desvio do Rio 24
3.3.5 Finalidade do reservatório 25

CAPÍTULO 4 27

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4. ENSAIOS DE LABORATÓRIO 27

4.1 Introdução 27

4.2 Ensaios de caracterização e índices físicos 27


4.2.1 Granulometria 27
4.2.2 Limites de Atterberg 30

4.3 Ensaios índices e de compactação 31

4.4 Ensaios triaxiais para determinação da resistência ao cisalhamento do solo 31


4.4.1 Introdução 31
4.4.2 Ensaios Triaxiais 32
4.4.3 Representação dos ensaios 33
4.4.4 Tipos de ensaios 33

4.5 Programação dos ensaios triaxiais 38

4.6 Outros ensaios de resistência 42


4.6.1 Ensaio de cisalhamento direto 42
4.6.2 Ensaio de compressão simples 45

4.7 Ensaios de adensamento – Determinação da compressibilidade dos solos 46

4.8 Acondicionamento dos ensaios 46


4.8.1 Efeito da moldagem 46
4.8.2 Efeito da pressão atuante 47
4.8.3 Solos compactados 48

CAPÍTULO 5 49
5. PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DE SOLOS COMPACTADOS 49

5.1 Introdução 49

5.2 Considerações gerais sobre a compactação 51


5.2.1 A curva de compactação 51
5.2.2 Interpretação física e físico – química da curva de compactação 52

5.3 Interpretação geotécnica da compactação 53

5.4 Efeito da compactação nas propriedades geotécnicas do solo 54


5.4.1 Permeabilidade 54
5.4.2 Compressibilidade 55
5.4.3 Resistência ao cisalhamento 57
5.4.4 Flexibilidade 59

5.5 Especificações de compactação 60


5.5.1 Da especificação 60
5.5.2 Considerações estatísticas sobre especificações e controle de compactação 62

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5.6 Observações 62

CAPÍTULO 6 64
6. PROPRIEDADES DOS ENROCAMENTOS COMPACTADOS 64

6.1 Introdução 64

6.2 Deformabilidade e resistência de enrocamentos 64


6.2.1 Fatores que influenciam a resistência e a deformabilidade dos enrocamentos 65
6.2.2 Observações com relação à resistência e a deformabilidade 69

6.3 Recomendações sobre as especificações construtivas 70


6.3.1 Critérios relativos à granulometria 70
6.3.2 Critérios relativos à espessura de camadas de compactação 72
6.3.3 Equipamentos de compactação 73
6.3.4 Algumas recomendações sobre o processo construtivo 73

6.4 Parâmetros para projeto e controle de construção adequados à atualidade brasileira


75

CAPÍTULO 7 77
7. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETOS DE BARRAGENS DE TERRA E
ENROCAMENTO 77

7.1 Fase de viabilidade 77

7.2 Fase de projeto básico 78


7.2.1 Requisitos básicos de projeto e método de análise 78
7.2.2 Dos requisitos básicos – Interpretação conjunta 79
7.2.3 Dos métodos de cálculo – Interpretação conjunta 80
7.2.4 Exemplos de concepção conjunta Maciço – Fundação 81
7.2.5 Outros exemplos de concepção de projeto 82

CAPÍTULO 8 85
8. ANÁLISE E CONTROLE DE PERCOLAÇÃO 85

8.1 Fluxo através de meios porosos (Teoria de percolação) 85


8.1.1 Limitações da teoria 86
8.1.2 Lei de Darcy e Equações de Laplace 86
8.1.3 Método gráfico para o desenho das redes de fluxo 87

8.2 Fluxo através de enrocamentos 90


8.2.1 Equações de fluxo 90
8.2.2 Redes de fluxo 93

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8.3 Fluxo através de fissuras 94

8.4 Controle da percolação através dos maciços compactados e fundações 96


8.4.1 Projeto de filtros 96
8.4.2 Projetos de drenagem interna 98
8.4.3 Sistema de alívio de sub-pressões 103
8.4.4 Tapetes de impermeabilização a montante 106
8.4.5 Trincheira de vedação (“cut-off”) 107
8.4.6 Outros tipos de estruturas para a redução da vazão de percolação 108

8.5 Controle de percolação em enrocamentos 109


8.5.1 Estabilização dos taludes 109
8.5.2 Estabilização dos taludes em função do tamanho dos blocos e vazões de descarga 110
8.5.3 Considerações gerais 111

8.6 Verificação do comportamento das barragens de terra e enrocamento em face aos


problemas de percolação 112

CAPÍTULO 9 113
9. FUNDAÇÕES EM SOLO 113

9.1 Fundação em solos permeáveis 114


9.1.1 Soluções de Eliminação – Trincheiras impermeáveis (“cut-offs”) 116
9.1.2 Soluções de Eliminação – Paredes diafragma 117
9.1.3 Soluções de Eliminação – Injeções de impermeabilização 119
9.1.4 Soluções de redução – Barreiras impermeáveis incompletas 121
9.1.5 Soluções de controle – Controle de percolação com drenos 122

9.2 Fundações em solos moles 125

9.3 Fundações em solos porosos e colapsíveis 129


9.3.1 Características Geotécnicas 131
9.3.2 Compressibilidade e Colapsibilidade 132
9.3.3 Resistência ao cisalhamento 134
9.3.4 Exemplo de obras fundadas em solos porosos 136
9.3.5 Orientações para projetos 139

CAPÍTULO 10 141
10. FUNDAÇÕES EM ROCHA 141

10.1 Introdução 141

10.2 Fase de concepção e projeto de aproveitamentos hidráulicos 141

10.3 Tratamento da fundação na Fase I: Concepção do arranjo geral 142


10.3.1 Exemplo 1 – Usina Hidroelétrica Samuel 143
10.3.2 Exemplo 2 – Usina Hidroelétrica Tucuruí 146

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10.4 Integração e otimização Maciço - Fundação – Fase II 147


10.4.1 Posição e extensão do núcleo da barragem de terra – enrocamento. 148
10.4.2 Estabelecimento de zona hipotética de núcleo em barragem dita homogênea 148
10.4.3 Pormenores de drenagem interna 149

10.5 Tratamento de fundação propriamente dito – Fase III 149


10.5.1 Critérios usualmente adotados no tratamento de fundações rochosas para apoio de
barragens de terra e/ou enrocamento 150
10.5.2 Análise conceitual dos critérios usuais de tratamento de fundações rochosas para
apoio de barragens de Terra e/ou Enrocamento 153

10.6 Observações Gerais 159

CAPÍTULO 11 160
11. TRATAMENTO DE FUNDAÇÃO DE BARRAGEM DE TERRA ATRAVÉS DE
CORTINA DE INJEÇÃO 160

11.1 Introdução 160

11.2 Finalidade das injeções 160

11.3 Quando executar injeções 161

11.4 Quantidade de injeção e profundidade da cortina 162

11.5 Pressão de injeção 163

11.6 Escolha da calda 164

11.7 Metodologia para as injeções 166

11.8 Eficiência da cortina 166

11.9 Considerações gerais 167

REFERÊNCIA 169

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1.1 Índice de impacto ambiental de usinas hidrelétricas brasileiras. 7

Tabela 4.1 Relação dos limites de Atterberg com as propriedades de resistência e


compressibilidade 30

Tabela 6.1 Critérios relativos à granulometria de alguns enrocamentos 71


Tabela 6.2 Critérios relativos à espessura das camadas de compactação dos
enrocamentos 72
Tabela 6.3 Características de algumas barragens de enrocamento construídas no
Brasil e no exterior 74

Tabela 8.1 Raio hidráulico dos vazios para enrocamentos 92


Tabela 8.1 Estabilização dos taludes em função do tamanho dos blocos e vazões de
descarga 111

Tabela 9.1 Resistência ao cisalhamento de solos porosos 136

Tabela 10.2 Principais características de algumas barragens brasileiras 150

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LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 Balanço de regularização 2
Figura 1.2 Amortecimento da onda de cheia 3
Figura 1.3 Reservatório de finalidade múltipla, controle de cheias, navegação e
produção de energia elétrica 4

Figura 2.1 UHE Funil-RJ – Barragem tipo abóboda de concreto 9


Figura 2.2 UHE Funil-BA – Barragem de concreto com contrafortes 9
Figura 2.3 Arranjo típico em vale estreito (UHE Yoshida) 10
Figura 2.4 Arranjo típico em vale medianamente encaixado (UHE Foz do Areia) 10
Figura 2.5 Arranjo típico em vale aberto (UHE Tucuruí) 11
Figura 2.6 Seção típica de barragem homogênea de terra 12
Figura 2.7 Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila vertical 13
Figura 2.8 Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila
inclinado 13
Figura 2.9 Seção típica de barragem de enrocamento com face de concreto 14
Figura 2.10 Seção típica de barragem de concreto convencional a gravidade 14

Figura 3.1 Exemplo de barragem homogênea, Barragem Vigário, Brasil. 16


Figura 3.2 Exemplo de barragem de seção Zoneada, Barragem de São Simão,
Brasil. 16
Figura 3.3 Exemplo de barragem de enrocamento, Alternativas da barragem Foz
de Areia, (a) Enrocamento com face de concreto; (b) Enrocamento com
núcleo impermeável. 17
Figura 3.4 Barragem homogênea com dreno horizontal 19
Figura 3.5 Localização da zona denominada “random”, Barragem de Furnas,
Brasil. 20
Figura 3.6 Métodos para o controle da percolação; (A) zona impermeável; (B)
tapete impermeável a montante; (C) diafragma flexível; (D) zona de
injeções; (E) filtro-dreno vertical; (F) tapete drenante; (G) poços de
alívio. 22
Figura 3.7 Barragem de enrocamento com núcleo argiloso inclinado a montante. 24

Figura 4.1 Resultados dos ensaios de permeabilidade para alguns materiais 29


Figura 4.2 Representação dos ensaios triaxiais; (a) Representação no diagrama de
circulo de Mohr; (b) Trajetória de tenções 34
Figura 4.3 Envoltórias de resistência; (a) Representação no diagrama de circulo de
Mohr; (b) Trajetória de tenções 35
Figura 4.4 Ensaios triaxiais adensados rápidos anisotrópicos 36
Figura 4.5 Resultados típicos de ensaios triaxiais; (a) Ensaios C.U.; (b) Ensaios Q
ou UU em material argiloso; (c) Ensaios S ou CD 37
Figura 4.6 Tensões principais ao longo de uma superfície de ruptura 38
Figura 4.7 Seqüência de carregamento de uma barragem 39
Figura 4.8 Equipamento de cisalhamento direto. 43
Figura 4.9 Rotação das tensões principais no ensaio de cisalhamento direto: (a)
Direção das tensões principais; (b) Representação das tensões no
diagrama de Mhor (modificado - Juarez & Rico, 1976). 45
Figura 4.10 Curva de ensaios oedométricos, amostras remoldadas e indeformadas 47

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Figura 5.1 Curva típica de um ensaio de compactação em um solo coesivo 51


Figura 5.2 Variação da permeabilidade com as mudanças na umidade de
compactação 55
Figura 5.3 Influência da energia de compactação na envoltória de resistência ao
cisalhamento 58

Figura 6.1 Efeito do máximo tamanho de partículas no ângulo de atrito –


enrocamentos com curvas modeladas (modificado – Marachi, et.al.
1969) 65
Figura 6.2 Variação no ângulo de atrito com as mudanças na compacidade
relativa do material 67
Figura 6.3 Evidência de colapso em ensaios oedométricos 68
Figura 6.4 Deformação do enrocamento durante o alteamento da barragem e no
primeiro enchimento 68
Figura 6.5 Envoltória de resistência de alguns enrocamentos 69

Figura 7.1 Evolução do projeto de barragens de terra e seu sistema de drenagem


interna 82

Figura 8.1 Redes de fluxo em barragens de seção homogênea 89


Figura 8.2 Redes de fluxo transformadas e verdadeiras em uma barragem
homogênea anisotrópica. 91
Figura 8.3 Redes de fluxo turbulento em enrocamentos 93
Figura 8.4 Determinação da espessura do filtro-dreno horizontal 101
Figura 8.5 Esquema de filtro-dreno horizontal 102
Figura 8.6 Controle de sub-pressão 104
Figura 8.7 Detalhes esquemáticos de trincheiras drenantes 105
Figura 8.8 Detalhes esquemáticos de poços de alívio 106
Figura 8.9 Detalhe esquemático de um tapete de impermeabilização a montante 107
Figura 8.10 Detalhe esquemático de uma trincheira de vedação 108

Figura 9.1 Trincheira impermeável 116


Figura 9.2 Esquema da escavação abaixo do lençol freático 117
Figura 9.3 Trincamento provocado por um elemento rígido de parede diafragma 118
Figura 9.4 Métodos de controle de percolação pelas fundações sem construção de
barreiras impermeáveis completas 121
Figura 9.5 Ritmo lento de construção 128
Figura 9.6 Influência da sobrecarga no andamento do recalque 129
Figura 9.7 Faixas de curvas granulométricas de solos porosos 132
Figura 9.8 Gráfico de plasticidade, onde se localizam argilas porosas 132
Figura 9.9 Ensaio de adensamento duplo em argila porosa vermelha – Bauru, SP 134
Figura 9.10 Resistência ao cisalhamento - Argila porosa vermelha do Terciário
São Paulo, SP 135

Figura 10.1 Hidrelétrica Samuel – (a) Alternativa “A” de arranjo, Fechamento


final margem esquerda; – (b) Alternativa “B” de arranjo, Fechamento
final margem direita 144

Figura 11.1 Disposição dos furos da cortina de injeção em planta 162

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Figura 11.2 Curva de injetabilidade 165


Figura 11.3 Cortina de injeção convencional, absorção de sólidos por furo. 167

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CAPÍTULO 1

1. FASES DE ESTUDO E PROJETO

1.1 Introdução

A conscientização humana, notadamente nas duas últimas décadas, da limitação dos recursos
naturais da terra, aliada à crescente demanda das mesmas, tem conduzido cada vez mais a sua
exploração de modo racional e otimizado, reduzindo seu desperdício ao mínimo.

Sob este enfoque são desenvolvidos os estudos para a implantação de barragens, em que, em
uma primeira fase, é estudada toda a Bacia Hidrográfica, e associada a todos os possíveis usos
de água. Deste modo, evita-se que a implantação de uma barragem, num determinado local,
prejudique outros locais barráveis da bacia, o que impediria a otimização global almejada. Por
outro lado, evita o aproveitamento da água somente sob uma finalidade.

No Brasil, o planejamento integrado de uma bacia, sob o ponto de vista energético já tem
cerca de 20 anos, enquanto que, o associado a finalidades múltiplas, tem sido cada vez mais
adotado, principalmente nos últimos 10 a 15 anos.

1.2 Das finalidades de uma barragem

Com algumas exceções as barragens podem ser reunidas, quanto as suas finalidades, em dois
grupos: Barragens de Regularização e Barragens de Retenção.

Barragens de Regularização

Tem a finalidade de regularizar o regime hidrológico de um rio, ou seja, armazena água no


período de afluência em relação à demanda (Figura 1.1). Com esta operação, a amplitude de
variação das vazões naturais do rio é reduzida, garantindo-se assim, vazões efluentes, nos
períodos de estiagem, superiores às naturais.

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Q
Vazões Naturais

Armazenamento Vazão Média

Suprimento Déficit
Vazões

Período de Armazenamento
Período de Regularização

Ano Hidrológico t

Figura 1.1 Balanço de regularização

As barragens de regularização possuem, em geral, uma ou mais das seguintes finalidades


específicas.

Aproveitamento Hidrelétrico – Neste caso deve-se considerar, como benefício


adicional à regularização, a formação de desnível, propiciando a criação de
energia potencial hidráulica, que é transformada em energia elétrica.

Navegação – Também neste caso há um benefício duplo: a). Para jusante, através da
regularização do período de estiagem. b). Para montante, através do afogamento
de eventuais corredeiras e cachoeiras.

Abastecimento d’Água – Para fins industriais, de irrigação ou doméstico, entre outros.

Barragens de Retenção

Tem a finalidade de reter água, amortecendo a onda de cheias para evitar inundações
(Figura 1.2), podem ser utilizadas também para a retenção de sedimentos ou resíduos

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industriais. No caso de amortecimento de cheias, a onda de cheia é temporalmente


armazenada, sendo posteriormente liberada, de tal modo que não cause danos a jusante.

Para o dimensionamento de um reservatório de contenção de cheias é necessário o


conhecimento da onda de cheia efluente ao reservatório, e a descarga máxima permitida a
jusante do mesmo, conforme é mostrado na Figura 1.2.

Descarga Máxima Natural

Natural
Volume Vazão Amortecida
Acumulado
Vazões

Descarga Efluente

Descarga Máxima Efluente

Amortecimento da Onda de Cheia Tempo (t)

Figura 1.2 Amortecimento da onda de cheia

Em muitos casos é comum uma barragem possuir mais de uma finalidade, conforme
apresentado na Figura 1.3, onde pode-se apreciar que o volume de um reservatório possui
usos diversos como o de regularização para a geração de energias, assim como o controle de
cheias e a regularização para navegação.

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Figura 1.3 Reservatório de finalidade múltipla, controle de cheias, navegação e produção de


energia elétrica

1.3 Do estudo global de uma Bacia Hidrográfica

Os estudos e projetos para a implantação final de uma barragem, são executados em quatro
etapas de distinta cronologia, visando a otimização da bacia hidrográfica como um todo.

1.3.1 Etapa I – Inventário

Visa determinar a melhor divisão de queda da bacia sob o ponto de vista de aproveitamento
múltiplo (energético, navegação, irrigação, controle de cheias, entre outros), associado às
seguintes limitações físicas: cidades, estradas, jazidas, parques nacionais e indígenas, entre
outras. A dificuldade de otimização de todas estas variáveis prende-se não somente a sua
multiplicidade, mas principalmente às possíveis variações futuras da importância relativa
destas variáveis, uma vez que o tempo entre os estudos iniciais de inventário de uma bacia,
com sua definição de quedas, e a implantação de todos os aproveitamentos é de cerca de 30 a
40 anos.

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Na divisão de quedas, cada local de aproveitamento é definido em um trecho do rio, em geral


de 1 a 5km, ficando a definição precisa do eixo para a fase subseqüente (viabilidade).

Em paralelo a divisão de quedas, o inventário fornece, para cada local, as características de


aproveitamento relativas as suas finalidades múltiplas e as respectivas estimativas de custos,
em geral com uma precisão do 20%.

1.3.2 Etapa II – Viabilidade

Nesta fase é realizada a análise técnico-econômica dos possíveis eixos, dentro do trecho
definido na fase de Inventário. Com esta informação é realizada a definição da melhor
alternativa do eixo para a barragem, assim como a definição do arranjo geral e a comprovação
técnico-econômica do aproveitamento como um conjunto.

1.3.3 Etapa III – Projeto Básico

É feita a definição final da obra, são elaborados os memoriais descritivos, as especificações


técnicas e o dimensionamento final das estruturas com a elaboração de plantas e cortes das
estruturas e dos equipamentos permanentes, é elaborado o cronograma de execução da obra
assim como o orçamento final. Estas atividades são realizadas com o objetivo de levar a obra
a licitação para sua adjudicação.

1.3.4 Etapa IV – Projeto Executivo

É realizado o detalhamento do projeto básico contendo todos os pormenores para a execução


de obras civis, montagens de equipamentos permanentes, fiscalização, teste de funcionamento
e orientação para treinamento de operadores.

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1.4 Índice custo-benefício e índice ambiental

1.4.1 Índice Custo-Benefício Energético

Durante a fase de inventário são selecionadas as melhores alternativas de divisão de quedas,


ou seja, aquelas que resultem em máxima produção de energia elétrica, dentro dos limites
estabelecidos para o custo unitário de referência. Em cada uma destas alternativas, os
aproveitamentos deverão ser ordenados segundo o índice custo-benefício que cada um
apresenta ao ser incorporado como próxima adição à configuração do sistema de referência.

O índice custo-beneficio energético (ICBE), expressos em US$/MWh, é definido como a


relação entre o custo anual de cada aproveitamento e o benefício em energia firme obtido por
sua operação integrada no sistema. O Manual de Inventário Hidrelétrico de Bacias
Hidrográficas da Eletrobrás descreve o cálculo deste índice.

1.4.2 Índice Ambiental

É o valor numérico que expressa a intensidade do impacto ambiental sobre a área de estudo,
variando em uma escala contínua desde zero (mínimo impacto) até um (máximo impacto).
Este índice é calculado considerando-se os impactos sobre ecossistemas aquáticos e terrestres,
modos de vida, organização territorial, base econômica e populações indígenas.

No entanto, uma estimativa preliminar do impacto que um aproveitamento hidrelétrico irá


causar pode ser obtida pela relação entre a área inundada pelo reservatório (km2) e a potência
instalada (MW). A Tabela 1.1 ilustra o impacto causado por algumas usinas hidrelétricas
brasileiras.

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Tabela 1.1 Índice de impacto ambiental de usinas hidrelétricas brasileiras.

Potência Área do Índice


UHE Estado / País Bacia instalada reservatório ambiental
(MW) (km 2) (Km 2/MW)
Balbina AM Rio Amazonas 250 2360 9.44
Belo Monte* PA Rio Amazonas 11000 400 0.04
Samuel RO Rio Amazonas 217 600 2.76
Lajeado** TO Rio Tocantins 903 630 0.70
Serra da Mesa GO Rio Tocantins 1293 1784 1.38
Tucuruí PA Rio Tocantins 7960 2430 0.31
Mal. Castelo Branco MA/PI Atlântico, trecho norte/nordeste 216 363 1.68
Itaparica PE/BA Rio São Francisco 1500 828 0.55
Moxotó BA/AL Rio São Francisco 440 93 0.21
Paulo Afonso IV BA Rio São Francisco 2460 17 0.01
Sobradinho BA Rio São Francisco 1050 4214 4.01
Três Marias MG Rio São Francisco 388 1142 2.94
Xingó SE/AL Rio São Francisco 3000 60 0.02
Funil RJ Atlântico, trecho lesle 216 39 0.18
Lajes RJ Atlântico, trecho lesle 144 30 0.21
Barra Bonita SP Rio Paraná 144 308 2.14
Capivara SP/PR Rio Paraná 662 515 0.78
Corumbá GO Rio Paraná 375 65 0.17
Emborcação MG/GO Rio Paraná 1192 455 0.38
Foz do Areia PR Rio Paraná 2511 139 0.06
Furnas MG Rio Paraná 1216 1450 1.19
Igarapava MG/SP Rio Paraná 210 39 0.19
Ilha Solteira SP/MS Rio Paraná 166 1200 7.23
Itaipu Brasil/Paraguai Rio Paraná 14000 1350 0.10
Itumbiara MG/GO Rio Paraná 2280 760 0.33
Marimbondo MG/SP Rio Paraná 188 438 2.33
Nova Ponte MG Rio Paraná 510 447 0.88
Porto Colômbia MG/SP Rio Paraná 320 140 0.44
Rosana SP/PR Rio Paraná 320 217 0.68
Salto Grande MG Rio Paraná 104 5.8 0.06
São Simão MG/GO Rio Paraná 1710 722 0.42
Segredo PR Rio Paraná 1260 82 0.07
Taquaruçu SP/PR Rio Paraná 515 74 0.14
Campos Novos* SC Rio Uruguai 880 24 0.03
Itá SC/RS Rio Uruguai 294 141 0.48
Machadinho SC/RS Rio Uruguai 1140 79 0.07
Obs.:
** Em construção
* Previsto para construção

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CAPÍTULO 2

2. FATORES QUE INTERFEREM NO ARRANJO GERAL DE UMA


BARRAGEM

2.1 Arranjos dos aproveitamentos

Os arranjos dos aproveitamentos são estudados para cada local, considerando-se


principalmente as condições topográficas locais, o provável apoio logístico em fase de
construção, a possibilidade de evacuação de cheias durante a construção, a provável
disponibilidade de materiais de construção, as condições gerais do ponto de vista geológico e
geotécnico, a potência instalada calculada para o aproveitamento, a descarga calculada para o
vertedouro e os resultados dos estudos especiais.

O arranjo de um aproveitamento hidrelétrico é muito influenciado pelo tipo de vale, podendo


este ser este encaixado e estreito, semi-encaixado ou aberto. Em vales encaixados e estreitos é
usual a execução de barragens de concreto do tipo arco, como mostrado na Figura 2.1. No
caso de vales semi-encaixados pode-se optar por barragens do tipo gravidade, com
contrafortes (Figura 2.2) ou mesmo barragens de enrocamento. Quando se têm vales muito
abertos, recomenda-se barragens do tipo gravidade de concreto convencional ou concreto
compactado com rolo (CCR) e barragens de terra.

As Figuras de 2.3 a 2.5 ilustram arranjos típicos para os três tipos de vales citados
anteriormente.

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Figura 2.1 UHE Funil-RJ – Barragem tipo abóboda de concreto

Figura 2.2 UHE Funil-BA – Barragem de concreto com contrafortes

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Tomada de água
Barragem
Vertedouro

Casa de força

Figura 2.3 Arranjo típico em vale estreito (UHE Yoshida)

Ensecadeira

Túnel de Barragem
desvio

Vertedouro

Tomada
de água

Casa de força

Figura 2.4 Arranjo típico em vale medianamente encaixado (UHE Foz do Areia)

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Eclusa

Vertedouro

Barragem

Casa de Força

Canal de fuga
Barragem

Figura 2.5 Arranjo típico em vale aberto (UHE Tucuruí)

2.2 Definição do tipo de barragem

A escolha do tipo de barragem dependerá, principalmente, da existência de material


qualificado para sua construção, dos aspectos geológicos e geotécnicos, e da conformação
topográfica do local da obra. Outros fatores igualmente importantes para a seleção são:
- Disponibilidade de solo ou rocha: proveniente de escavações requeridas, disponíveis
em quantidade e qualidade adequadas, segundo um fluxo compatível com a construção
do arranjo proposto;
- Natureza das fundações: barragens de enrocamento e de concreto somente deverão ser
colocadas sobre fundação em rocha, enquanto que as de terra poderão ser colocadas
em solo; e
- Condições climáticas: a existência de períodos chuvosos razoavelmente prolongados
onera exageradamente a construção de aterro de solo compactado ou núcleos de argila
porque condiciona o progresso da construção.

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Um local poderá ser considerado propício para construção de barragem de terra homogênea
(Figura 2.6) quando o reconhecimento de campo indicar que a rocha se encontra a grandes
profundidades na área em consideração. Esse tipo de barragem exige menor declividade nos
paramentos de montante e jusante e, portanto, resultando em maiores volumes. Por isso, é
utilizado para pequenas e médias alturas.

NAmax
B
NAmin
2,5 Hba
3,0 1
1

aterro filtro

Figura 2.6 Seção típica de barragem homogênea de terra

O local poderá ser considerado propício para construção de barragem de enrocamento com
núcleo de argila (Figuras 2.7 e 2.8) ou com face de concreto (Figura 2.9) se o reconhecimento
de campo indicar, na área selecionada, a existência de rocha sã e de boa qualidade ao longo do
eixo, a pequena profundidade. Esse tipo de barragem não necessita de condições especiais de
fundação. Grandes volumes de escavação em rocha na casa de força, em canais e vertedouros
são um bom indicativo para a utilização deste tipo de barragem. Além disso, se existirem
períodos chuvosos ou excessiva umidade que prejudique a execução de núcleos de argila, ou a
dificuldade na obtenção de material adequado para o núcleo, a solução com face de concreto é
a mais indicada.

Um local poderá ser considerado propício para construção de barragem de concreto (Figura
2.10) quando o reconhecimento de campo indicar, na área selecionada, a existência de rocha
sã e com compressibilidade pequena ao longo de todo o eixo já que estas exercem maiores
pressões nas fundações, a pequena profundidade. A estabilidade é garantida principalmente
pelos esforços de gravidade. A não ser em casos excepcionais, somente deverão ser
consideradas barragens de concreto tipo gravidade maciça.

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transição
10,0
NA
B
0,2 0,2
1
1 1 H ba
El te

enrocamento núcleo de argila

Figura 2.7 Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila vertical

transição

Elcr
NAmax
B

1 1
0,8
Hba
1
1
0,5
Elte

núcleo de argila

enrocamento

Figura 2.8 Seção típica de barragem de enrocamento com núcleo de argila inclinado

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B NAmax
laje de concreto

1 Hba

enrocamento
Elte

plinto transição

Figura 2.9 Seção típica de barragem de enrocamento com face de concreto

8,0
Elcr
NAma
Hbl
x

1
Hba

Elte

Figura 2.10 Seção típica de barragem de concreto convencional a gravidade

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CAPÍTULO 3

3. FATORES PREDOMINANTES NA SELEÇÃO DO TIPO DE


BARRAGEM DE TERRA E DE BARRAGEM DE ENROCAMENTO

3.1 Introdução

As barragens de terra ou de enrocamento, quando existem, constituem sempre uma das


estruturas de um barramento. Deste modo, a escolha deste tipo de barragem visa a otimização
do arranjo geral do barramento como um todo, e não a sua otimização isolada.

Não raro soluções economicamente mais desfavoráveis são selecionadas, caso estas estruturas
sejam analisadas isoladamente. Entretanto, apresentam, nítidas vantagens econômicas no
contexto global do aproveitamento.

Assim sendo, os fatores predominantes na seleção do tipo de barragem de terra ou de


enrocamento, são aqueles associados aos do arranjo geral do aproveitamento.

3.2 Classificação quanto ao tipo de seção

3.2.1 Barragem Homogênea

Designação simplificada quando há predominância de um único material, pois, na realidade,


não existe barragem homogênea. A existência de mais de um material deve-se à necessidade
de drenagem interna e de proteção externa dos taludes. Na Figura 3.1 é apresentada a seção
típica da barragem Vigário no Brasil. Esta barragem é considerada como homogênea, embora
exista drenagem interna, zonas de proteção de taludes com “rip-rap” e incorporação de
ensecadeiras.

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Nível Normal

2,5
4 1
Filtro
Terreno 1 Argila Vertical
Original Compactada
Dreno Horizontal
Linha de Escavação Enrocamento
Linha de Rocha

Figura 3.1 Exemplo de barragem homogênea, Barragem Vigário, Brasil.

3.2.2 Barragem Zoneada

Denominação dada quando não há um único material predominante. Conforme será visto no
item subseqüente, a escolha entre seção homogênea ou zoneada depende dos materiais de
construção disponíveis e seus respectivos custos. Na Figura 3.2 é apresentada a seção típica
da barragem São Simão no Brasil, no trecho do leito do rio, onde se deve observar o
aproveitamento e otimização dos diversos materiais disponíveis.

Terraço
Terraço
Núcleo
Zona 3 - Zona 3 –
Grandes Grandes
Blocos Blocos

Cascalho Enrocamento
Random Random
3 ou 5

8A 5 Cascalho 5
5
Areia Areia

Balanço de Regularização

Figura 3.2 Exemplo de barragem de seção Zoneada, Barragem de São Simão, Brasil.

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3.2.3 Barragem de Enrocamento

Quando há predominância de material rochoso na sua seção. Em geral existem dois tipos de
barragem de enrocamento.

a). Com membrana externa impermeável (concreto, asfalto, entre outros);


b). Com núcleo impermeável interno.

A Figura 3.3a e 3.3b mostram as alternativas de barragens estudadas para a definição da


barragem de Foz de Areia, tendo sido adotada a alternativa de enrocamento com face de
concreto devido aos seguintes motivos principais.

N.A. Máximo Normal

IB

Primeiro IC
Estagio IIID
IVA IIB IB

IA

(a) Enrocamento com face de concreto

N.A. Máximo Normal

Cortina de Injeções

(b) Enrocamento com núcleo impermeável


Figura 3.3 Exemplo de barragem de enrocamento, Alternativas da barragem Foz de Areia, (a)
Enrocamento com face de concreto; (b) Enrocamento com núcleo impermeável.

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a). Condições Geológicas – Adequadas para os dois tipos de barragens. Entretanto, a


existência de degraus nas encostas (derrames basálticos) conduziria a tratamentos mais
rigorosos na fundação para o caso de seção com núcleo impermeável, com a finalidade de
redução dos recalques diferenciais.

b). Desvio do Rio – Na alternativa de barragem com face de concreto é possível


construir parcialmente o trecho de montante da barragem, constituindo-se na própria
ensecadeira. Além disto, a cota possível desta ensecadeira, no caso de barragem com face de
concreto, é superior a cota de uma ensecadeira incorporada a uma barragem com núcleo
impermeável, já que na barragem com núcleo há interferência da ensecadeira com o núcleo.
Deste modo, apresenta menores riscos hidrológicos de transbordamento com mesmos
investimentos.

c). Comparação de Custos – Menor volume de enrocamento, de filtro e maior volume


de concreto na alternativa com face de concreto. No global resultou numa economia de 9 a
15 milhões de dólares a favor da barragem com face de concreto.

d). Clima – Maior interferência climática para a barragem de núcleo impermeável, que
aliado ao tratamento de fundação mais demorado, poderia implicar em atrasos no cronograma
de obra.

3.3 Fatores predominantes no estabelecimento da seção típica

3.3.1 Materiais de construção

A principal vantagem das barragens de terra e enrocamento é que os materiais de construção


já foram “fabricados” pela natureza.

Em alguns casos, somente um tipo de solo é disponível nas proximidades da obra. Neste caso,
a preocupação quanto ao projeto da seção se prende a determinação das dimensões mais
econômicas da barragem, associadas às características do material e respectiva especificação
de compactação, bem como as características geotécnicas da fundação.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 18


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Se o material é de baixa permeabilidade, o projeto consistirá em um maciço homogêneo com


um sistema de drenagem interno. Neste tipo de barragens é pratica corrente utilizar um filtro
septo vertical ou inclinado para montante, até o nível de água máximo do reservatório. A
utilização em barragens homogêneas, de filtro de pé ou tapete drenante horizontal, é
conceitualmente errada, mesmo em barragens de pequena altura como é apresentado na
Figura 3.4. De fato, o filtro vertical ou inclinado para montante, aumenta a estabilidade da
região a jusante do maciço e evita qualquer possibilidade do fluxo atingir o talude de jusante,
o que levaria a formação de “piping” (erosão regressiva).

N.A. Máximo Normal


Fluxo Preferencial
(Possibilidade de Piping)

Freática Teórica

Figura 3.4 Barragem homogênea com dreno horizontal

Por outro lado, há locais em que existe uma grande variedade de solos. De um modo geral,
nestes casos, o projeto mais econômico consiste em um maciço zoneado, utilizando-se os
materiais menos permeáveis na parte central, como núcleo, e os materiais granulares, mais
resistentes, nas zonas externas (espaldares).

Quando os materiais de uma jazida ou de escavações obrigatórias são erráticos, é comum


utilizá-los numa zona denominada “random”. Devido à heterogeneidade da zona de “random”
esta nunca é utilizada como núcleo. Em geral, esta zona situa-se a jusante do filtro septo como
é apresentado na Figura 3.5.

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N.A. Máximo Normal

1,8
1

2
1

ransição
n to
me ção

rgila
ca
ro Enrocamento
ransi
En de A

Zona de T
de T

Random
eo
dom

Núcl
Zona
Ran

Figura 3.5 Localização da zona denominada “random”, Barragem de Furnas, Brasil.

Uma regra básica, quanto aos materiais de construção a serem utilizados, é considerar, em
primeiro lugar, os materiais provenientes das escavações obrigatórias. No caso de materiais
terrosos, a sua utilização só é econômica, quando utilizado diretamente das escavações. Por
outro lado, as escavações rochosas obrigatórias, devem sempre ser incorporadas ao maciço
independente da possibilidade de sua utilização direta ou não.

3.3.2 Características geotécnicas da fundação

O projeto do maciço de uma barragem está intimamente relacionado com as características


geotécnicas do terreno de fundação, em particular, a resistência ao cisalhamento, a
compressibilidade, a permeabilidade e a resistência a erodibilidade.

Quanto à resistência ao cisalhamento da fundação, o conceito de resistência baixa ou alta, tem


como referência a resistência do material do maciço.

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De fato, de um modo geral, quando a resistência da fundação é inferior a do maciço, os


taludes do maciço são condicionados pela resistência da fundação, pois as superfícies
potenciais de ruptura passam pela fundação. Por outro lado, quando a resistência da fundação
é igual ou superior a do maciço, os taludes dos maciços são estabelecidos unicamente em
função da resistência do mesmo.

Pelo exposto acima, conclui-se que, dependendo das características de resistência da


fundação, não tem sentido ser rigoroso quanto ao tipo de material a ser utilizado no maciço,
como também, quanto às respectivas especificações construtivas. Por exemplo, nos locais de
fundações de baixa resistência e de grande espessura, cujos estudos econômicos indicam a sua
não remoção, é aceitável, para material de maciço, qualquer material, com exceção daqueles
com elevada porcentagem de matéria orgânica, bem como pouco rigor quanto ao grau de
compactação mínimo e desvio de umidade, desde que o maciço apresente uma certa
homogeneidade.

No caso de terrenos de baixa resistência as soluções comumente utilizadas são as seguintes:


- Projeto de taludes mais abatidos e/ou bermas de equilíbrio;
- Remoção parcial da camada de baixa resistência;
- Remoção total da camada de baixa resistência;
- Utilização de métodos para aumentar a resistência do solo (por exemplo, drenos de
areia ou geossintético no caso de argila mole saturada, entre outros).

Outro parâmetro geotécnico da fundação, condicionante no projeto do maciço é a


compressibilidade. Portanto, além do estudo da fundação, quanto à ruptura, mencionada
anteriormente, deve-se considerar a influência, no maciço, dos recalques da fundação. Esta
influência se traduz principalmente por eventual fissuramento do maciço e pela redução do
bordo livre “freeboard”.

Além dos recalques imediatos e por adensamento, bastante conhecidos, um outro tipo de
recalque tem ocorrido em algumas barragens brasileiras (Três Marias, Ilha Solteira, entre
outras). São os chamados recalques por saturação. Estes recalques ocorreram devido ao
colapso da estrutura do solo da fundação, provocado pela saturação do mesmo, devido ao
enchimento do reservatório.

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Quanto à permeabilidade, três aspectos básicos devem ser considerados.:


- A perda d’água através da fundação não deve ser excessiva;
- As pressões d’água na base do talude de jusante não devem ser elevadas. Pressões
elevadas, neste trecho da fundação, reduzem consideravelmente a estabilidade deste
talude;
- Os gradientes na saída, a jusante do pé do talude, devem ser tais que não provoquem
“piping”.

Os métodos utilizados para o controle da percolação são divididos em dois principais grupos,
no primeiro encontram-se os métodos utilizados para a redução da percolação como a
utilização de uma zona impermeável, um tapete impermeável a montante, um diafragma
flexível ou uma zona de injeções. Já no segundo grupo encontram-se os métodos utilizados
para realizar um controle da drenagem como um filtro-dreno vertical, o tapete drenante ou
poços de alívio. Na Figura 3.6 são indicados os métodos mais utilizados para o controle da
percolação em solos permeáveis.

Nível de Água

E
A
F
B

C D Fundação
Permeável G

Base Impermeável

Figura 3.6 Métodos para o controle da percolação; (A) zona impermeável; (B) tapete
impermeável a montante; (C) diafragma flexível; (D) zona de injeções; (E) filtro-dreno
vertical; (F) tapete drenante; (G) poços de alívio.

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3.3.3 Tempo disponível para construção e Clima da Região

Uma vez definida a construção de uma barragem, cada ano gasto no projeto e na construção,
representam perdas de rendimentos consideráveis, além de onerar os juros durante a
construção.

Em geral, os rendimentos gerados por um reservatório, em um ano de operação são bem


superiores as economias obtidas em estudos adicionais de projeto, bem como alternativas de
projeto mais econômicos, porém com tempo de construção maior.

Quando o tempo de construção é limitado, muitas vezes é necessária a elaboração de um


projeto que não seria o mais econômico, caso se dispusesse de um tempo maior de construção.
Por exemplo, foi mencionado anteriormente que sempre devem ser incorporados ao maciço os
materiais rochosos provenientes das escavações obrigatórias (vertedouro, tomada d’água,
entre outras). Entretanto, dependendo do tempo disponível de construção, pode não ser viável,
num cronograma de construção otimizado, em relação ao tempo, a utilização de todos os
materiais rochosos provenientes das escavações obrigatórias.

Um parâmetro relacionado diretamente com o tempo de construção é o clima da região. Em


locais de pluviosidade elevada e sem estação seca definida, dependendo do tempo de
construção disponível, o projeto de um maciço homogêneo de material bem argiloso, pode ser
antieconômico sob ponto de vista global. Nestes locais, deve-se sempre que possível restringir
o volume de material argiloso a um mínimo compatível com as necessidades técnicas do
projeto, mesmo que esta não seja a solução mais econômica isoladamente.

Nestes locais de pluviosidade elevada, sempre que possível, tem-se utilizado no projeto de
barragem de terra, seções zoneadas, com núcleo de material areno-argiloso e espaldares
constituídos de materiais granulares (cascalho, cascalho arenoso, etc), mesmo que estes
materiais se encontrem a distâncias maiores, ou adotadas seções de terra enrocamento. Outra
alternativa é a utilização de taludes mais brandos, porém aceitando-se um controle de
compactação menos rigoroso, no que concerne a umidade de compactação. Esta alternativa
nem sempre é possível na prática, devido às limitações dos grandes equipamentos de
compactação atuais.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 23


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A escolha de uma barragem de enrocamento é muitas vezes ditada pelo tempo disponível para
construção, pois a execução do enrocamento independe das condições climáticas da região.
Entretanto, a construção do enrocamento depende da construção do núcleo, que por sua vez
depende das condições climáticas. A fim de se obter uma otimização na construção do
enrocamento, o núcleo é projetado com inclinação para montante. Deste modo é possível a
construção de grande parte do talude de jusante, independente da subida do núcleo. Na
Figura 3.7 apresentasse a seqüência construtiva de uma barragem de enrocamento com núcleo
argiloso inclinado a montante.

Em caso de extrema pluviosidade, e em locais onde não há disponibilidade de material para


núcleo, as barragens de enrocamento possuem um paramento na face do talude de montante,
de concreto ou asfalto.

N.A. Máximo Normal

Enrocamento
Executado

Injeções Razas

Cortina de
Injeção

Figura 3.7 Barragem de enrocamento com núcleo argiloso inclinado a montante.

3.3.4 Seqüência de Construção e Desvio do Rio

De um modo geral a seqüência de construção de uma barragem envolve duas grandes fases.
Na primeira fase, o rio continua passando pela calha natural (total ou parcial). Durante esta

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 24


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fase são construídas as estruturas de desvio (canal lateral, túnel, galeria, etc.), por onde será
desviado o rio na segunda etapa. Na segunda fase é feito o fechamento do canal por onde
passava o rio na primeira fase, e completada a barragem neste trecho.

Nos casos em que é extenso o canal por onde passa o rio durante a primeira fase, não é
econômica a construção de pontes, ligando as duas margens. Neste caso, na primeira fase, os
materiais de construção para as duas frentes de trabalho tem que ser das próprias margens,
mesmo ocorrendo materiais com características geotécnicas bem mais favoráveis em uma
margem que em outra, resultando deste modo, em seções de barragem diferentes.

Quanto a ensecadeira de segunda fase, a sua cota é definida em função de considerações


hidrológicas e hidráulicas, de tal modo que seja segura para uma determinada cheia (em geral,
com tempo de recorrência de 25 a 100 anos). Como o volume desta ensecadeira é
considerável, é pratica corrente a incorporação da mesma ao maciço definitivo da barragem,
resultando em diminuição de volume e em tempo de construção.

Algumas vezes, o tempo que se dispõe para conclusão do maciço no trecho do canal da
primeira fase, após o desvio, é reduzido. Nestes casos, nesta seção de fechamento, a barragem
possui seção diferente da do resto da obra. Quando este período coincide com o início do
período chuvoso, é adotada com freqüência uma seção de enrocamento (por exemplo,
Barragem de Tucuruí apresentada na Figura 3.7).

3.3.5 Finalidade do reservatório

Dependendo da finalidade do reservatório, diferentes tipos de projeto são justificáveis, para


um mesmo local.

Quando a quantidade d’água disponível é da mesma ordem de grandeza da demanda, a perda


d’água por infiltração, através do maciço e da fundação, deve ser reduzida ao máximo. Esta
necessidade é comum em barragens de regularização, de porte médio, para abastecimento de
cidades. Neste caso, deve-se utilizar, para o maciço, materiais de baixa permeabilidade, e
tratamento de fundação, visando reduzir ao máximo a percolação, em algumas condições será

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 25


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necessária a utilização de medidas de redução de percolação como “cut-off” total ou


diafragma total.

Por outro lado, para as barragens construídas unicamente com finalidade de controle de
cheias, o controle da percolação se reflete somente quanto aos gradientes de saída (para o
controle do “piping”) e as sub-pressões na base do talude de jusante, e não quanto ao volume
total d’água perdida por percolação. Em alguns casos o tempo de permanência do volume
armazenado para o controle de cheias é tão reduzido que não há possibilidade de
estabelecimento de regime permanente de fluxo no maciço, não necessitando, portanto,
maiores cuidados de drenagem interna.

A finalidade do reservatório e sua forma de operação têm influência também no


dimensionamento do talude de montante quanto a existência ou não de um regime
instabilizante de rebaixamento rápido, bem como o dimensionamento do “rip-rap”.

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CAPÍTULO 4

4. ENSAIOS DE LABORATÓRIO

4.1 Introdução

Neste capítulo procura-se dar ênfase especial a aplicação dos resultados dos ensaios de
laboratório utilizados na mecânica dos solos normalmente no que se refere a barragens de
terra. Não é objetivo o ensaio propriamente dito, suas técnicas e detalhes de execução. Estes
apenas serão considerados na medida em que o resultado final seja afetado. Serão tecidas
também considerações críticas a respeito da obtenção dos parâmetros de engenharia a partir
dos ensaios de laboratório englobando as incertezas envolvidas.

4.2 Ensaios de caracterização e índices físicos

Como ensaios de caracterização são entendidos os ensaios de granulometria e os limites de


Atterberg. Como índices físicos são considerados os ensaios de densidade dos grãos, umidade
e densidade natural dos quais é possível obter as propriedades índices dos solos tais quais:
grau de saturação, índice de vazios e porosidade.

4.2.1 Granulometria

Às curvas granulométricas podem ser atribuídas algumas funções básicas como são:
- Caracterização dos solos;
- Determinação do coeficiente de permeabilidade em solos granulares;
- Projetos de filtros;
- Comportamento qualitativo dos solos granulares em relação às propriedades de
engenharia.

A seguir serão apresentadas algumas considerações que devem ser levadas em conta na
determinação das curvas granulométricas de materiais coesivos e não coesivos.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 27


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- Solos Coesivos

Em função dos diâmetros dos grãos são separadas as frações de argila, silte, areia, pedregulho,
etc. A este respeito as classificações existentes dos solos são discordantes principalmente em
relação as partículas menores. Neste sentido a ABNT considera que a fração de argila
apresenta um diâmetro inferior a 0,005mm.

A própria metodologia de ensaio no que se refere à fração fina (silte e argila) é bastante
variável para cada norma de ensaio, e o resultado pode ser bastante afetado por esta
metodologia. A utilização de defloculantes para dispersão das partículas finas também tem
sido bastante questionada uma vez que procura reduzir os solos a condição de grãos isolados o
que em muitos casos não tem nenhum significado.

Como conceito geral, em que se pese as diferenças entre as diversas classificações e


metodologia de ensaio é certo que a distribuição granulométrica serve apenas como referência
de caracterização de solos para aqueles com propriedades coesivas, não sendo possível
deduzir ou inferir para estes solos a partir de curvas granulométricas, propriedades de
resistência, compressibilidade ou permeabilidade. Estas propriedades são dependentes do tipo
de mineral que o compõe e de sua historia geológica.

Do ponto de vista da erodibilidade/dispersibilidade os ensaios sedimentométricos


comparativos (SCS), que se baseiam fundamentalmente na comparação de curvas
granulométricas, sem e com defloculante, parecem dar boa indicação das suscetibilidades de
erosão dos materiais finos.

%  0,005mm sem defloculan te 


SCS  (4.1)
%  0,005mm com defloculan te 

Se o SCS é menor a 25% a argila pode ser considerada não dispersiva, já se SCS é superior a
25% a argila apresenta uma dispersibilidade que pode ser classificada como alta ou baixa em
função da porcentagem do SCS.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 28


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- Solos não Coesivos

Para os solos não coesivos, ou granulares, o tamanho do grão e a distribuição granulométrica


tornam possível serem inferidas algumas propriedades de engenharia. Assim, por exemplo,
algumas relações empíricas têm sido relatadas definindo a permeabilidade em função do
diâmetro.

Na Figura 4.1 são apresentadas algumas curvas granulométricas e resultados de ensaios de


permeabilidade indicando a possibilidade de associação à curvas granulométricas similares,
permeabilidade equivalentes (em 1° de aproximação).

Faixa granulométrica para areias Faixa granulométrica para


finas utilizadas em filtros britas utilizadas em concreto
k=0,01 m/min k=15m/min

100
% menor que  (%)

50

0
0,01 0,1 1,0 10 100 (mm)

Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 4.1 Resultados dos ensaios de permeabilidade para alguns materiais

Outra aplicação para os ensaios de granulometria, muito utilizada na engenharia de barragens,


é o projeto de filtros em função da distribuição granulométrica e tamanho dos grãos. È
possível também nos casos de solos não coesivos inferir, do ponto de vista qualitativo,
algumas propriedades geotécnicas como por exemplo: areias bem graduadas apresentam num

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 29


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mesmo estado de compacidade maior resistência, menor compressibilidade e menor


permeabilidade que uma areia uniforme.

4.2.2 Limites de Atterberg

A classificação dos solos finos, é complementada através dos limites de Atterberg, os limites
de liquidez e de plasticidade.

Casagrande desenvolveu para a utilização em aeroportos a carta de plasticidade que


posteriormente foi estendida para a área de estradas e barragens de terra. Casagrande procurou
relacionar qualitativamente os limites de Atterberg com as propriedades de resistência e
compressibilidade, como se apresenta na Tabela 4.1. Também têm sido postuladas algumas
regressões estatísticas relacionando quantitativamente os limites com algumas propriedades
de engenharia para solos sedimentares.

Tabela 4.1 Relação dos limites de Atterberg com as propriedades de resistência e


compressibilidade

Característica Solos com igual LL e com Solos com igual IP e LL


IP crescente crescente
Compressibilidade Aproximadamente Cresce
constante
Permeabilidade Decresce Cresce
Resistência Seca Cresce Decresce

Estas tentativas de correlacionar-se os limites às propriedades de resistência e


compressibilidade deve ser encarada com reservas uma vez que estas, são função da origem
geológica dos solos. Extrapolações destas correlações não podem ser feitas sem prévia análise
de como foram obtidas.

Apesar de todas as críticas relativas à correlações e ao significado físico dos ensaios de LL e


LP, é certo que estes ensaios permitem que os solos possam ser classificados em grandes
grupos permitindo em primeiro grau de aproximação a previsão de algumas propriedades dos

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solos. Na Figura 4.2 são mostradas na carta de plasticidade alguns solos residuais de Tucuruí
e da região centro-sul do país, solos na mesma posição da carta apresentam propriedades de
engenharia aproximadamente similares.

Uma outra aplicação dos ensaios LP é com relação ao limite de trabalhabilidade de um


material na praça de compactação, atualmente se sabe que mesmo com altos teores de
umidade natural em relação à umidade ótima de compactação é possível se compactar solos
desde que a umidade natural esteja próxima ao limite de plasticidade.

4.3 Ensaios índices e de compactação

Apesar da importância destes ensaios, os primeiros determinando os índices físicos dos solos
tais quais densidade dos grãos, umidade e densidade natural, a partir dos quais são obtidas as
propriedades índices como grau de saturação, índice de vazios e porosidade, e os segundos
determinando para uma dada energia de compactação, a umidade ótima com a qual é obtida a
máxima densidade do solo, os mesmos não serão comentados especificamente uma vez que a
influência destes parâmetros será relatada em trabalhos ou itens específicos.

4.4 Ensaios triaxiais para determinação da resistência ao cisalhamento do solo

4.4.1 Introdução

Inicialmente convém lembrar que a análise de um problema de estabilidade em mecânica dos


solos pode ser feita tanto em termos de pressões totais, como em termos de pressões efetivas.

A análise de um problema em termos de pressões totais consiste:


- Estimativa das pressões totais que atuam sobre o solo e das condições de drenagem;
- Determinação da resistência do solo por meio de ensaios de laboratório que reproduzam
as tensões que agem no solo e as condições de drenagem previstas;
- Comparação das tensões totais previstas com a resistência em termos de pressões totais
obtidas no ensaio.

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A análise de um problema em termos de pressões efetivas consiste das seguintes fases:


- Estimativa das pressões totais e pressões neutras (estimadas ou medidas) que atuam
sobre o solo;
- Determinação das pressões efetivas que agem sobre o solo em função das pressões totais
e pressões neutras;
- Determinação no laboratório da resistência ao cisalhamento do solo em termos de
pressão efetiva ;
- Comparação entre as pressões efetivas previstas e a resistência do solo em termos de
pressões efetivas.

O problema de análise em termos de pressões totais ou efetivas é bastante complexo,


existindo correntes dentro da mecânica dos solos favoráveis a uma ou outra.

Na realidade a análise de um problema em termos de pressões totais é um artifício criado para


suprir as deficiências em estimar ou medir as pressões neutras uma vez que a parcela de
tensão total resistida pela estrutura das partículas de solo é a tensão efetiva, não havendo
“compromisso” desta com aquelas.

Sem dúvida desde que se conheçam as pressões neutras, a análise em termos de pressões
efetivas seria mais representativa. A chave da questão reside nas incertezas das medidas das
pressões neutras, tanto no laboratório como em alguns casos no campo.

4.4.2 Ensaios Triaxiais

Estes ensaios tem sido extensivamente adotados na engenharia de barragens de terra na


determinação dos parâmetros de resistência, para análise de estabilidade e, em alguns casos,
analise de tensão – deformação.

Basicamente os ensaios triaxiais se resumem a aplicação de uma tensão confinante (c) e de


uma tensão axial (a). Desta forma, e sabendo-se que não existem tensões de cisalhamento

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aplicadas nos corpos de prova, as tensões confinante e axial serão iguais as tensões principais
atuantes no corpo de prova.

4.4.3 Representação dos ensaios

Os ensaios triaxiais são geralmente representados pela curva tensão – deformação, sendo que
desta pode ser determinado o ponto de ruptura da amostra. Já com esta informação pode-se
representar no diagrama de Mohr os círculos de tensões, ou no diagrama p-q as trajetórias de
tensões. Estas representações permitem conhecer a evolução das tensões e das pressões
neutras durante a realização do ensaio, assim como os parâmetros de resistência do material
quando realizados diferentes ensaios a variadas tensões de confinamento (c). A Figura 4.2
contem uma representação gráfica de alguns ensaios triaxiais nos diagramas de circulo de
Mohr e trajetória de tenções. Já a Figura 4.3 contem as envoltórias de resistência obtidas da
representação de um conjunto de ensaios triaxiais na forma do diagrama de Mohr e de
trajetórias de tenções.

4.4.4 Tipos de ensaios

Em função de como são realizados os estágios de carregamento e de ruptura dos corpos de


prova, os ensaios triaxiais podem ser divididos em várias categorias.
- Ensaios rápidos (Q ou UU): Neste ensaio não é permitida a drenagem em qualquer
estágio do carregamento e o carregamento do corpo de prova é feito de forma rápida.
- Ensaios pré-adensados rápidos (R ou CU): Neste ensaio é permitida a drenagem durante
o processo de adensamento. Posteriormente é aplicado um carregamento rápido e o
corpo de prova é levado a ruptura sem drenagem.
- Ensaios Lentos (S ou CD): Nestes ensaios permite-se a drenagem no carregamento que é
feito de forma lenta e com total dissipação da pressão neutra. Desta forma a resistência
é sempre expressa em termos de tensões efetivas.

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1   3

2
Envoltória em termos
de Tensão Efetiva
’
Envoltória em termos
de Tensão Total

u<0 u>0 u 

’31 3 ’11 1 
(a) Representação no diagrama de circulo de Mohr

1   3
q
2

Trajetória de Tensões Trajetória de Tensões


Efetivas Totais

45º

1   3 p
p
2

(b) Trajetória de tenções


Figura 4.2 Representação dos ensaios triaxiais; (a) Representação no diagrama de circulo de
Mohr; (b) Trajetória de tenções

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1   3

2

Resistência em termos de Tensões Totais ’


  c   tg 
Resistência em termos de Tensões Efetivas
 '  c'   ' tg  ' 

c
c’
’31 ’32 31 32 ’11 ’12 11 12 

(a) Representação no diagrama de circulo de Mohr

1   3
q
2

q  d  p tg 
onde: 
d  c'  cos 
tg   sen 

d
1   3 p
p
2

(b) Trajetória de tenções


Figura 4.3 Envoltórias de resistência; (a) Representação no diagrama de circulo de Mohr;
(b) Trajetória de tenções

A Figura 4.4 apresenta os resultados de ensaios triaxiais adensados rápidos anisotrópicos. Já a


Figura 4.5 apresenta os resultados típicos para vários tipos de ensaios triaxiais anteriormente
mencionados.

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 Kf = Kc = 4.0

Kc = 3.0

 1c Kc = 2.0
Kc 
 3c
Kc = 1.5

Kc = 1.0

Envoltória de
Remitência

Kc = 4.0
Kc = 3.0
Kc = 2.0
c Kc=1.5 Círculos de
c’
Adensamento
Kc = 1.0
 fc Tensão Normal 

Figura 4.4 Ensaios triaxiais adensados rápidos anisotrópicos

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Resistência ao Cisalhamento
’

va
eti Tensão de Consolidação
o Ef
nsã
Te

c 45º+/2 Tensão Normal



f f u ff 1
f c
f t

(a) Ensaios C.U.



’
Amostras parcialmente Saturadas
Amostras com 100% de Saturação

c
c’

 

(b) Ensaios Q ou UU em material argiloso


’
’

 

(c) Ensaios S ou CD
Figura 4.5 Resultados típicos de ensaios triaxiais; (a) Ensaios C.U.; (b) Ensaios Q ou UU em
material argiloso; (c) Ensaios S ou CD

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4.5 Programação dos ensaios triaxiais

Os ensaios de laboratório devem ser programados e executados de forma a representar da


melhor forma possível as condições de solicitação, drenagem e saturação que existirão no
campo. Como condições de solicitação devem ser considerados o tipo e as tensões de
adensamento, a forma com que estas solicitações é feita (compressão axial, extensão axial,
compressão lateral e extensão lateral) e a velocidade de carregamento.

Na Figura 4.6 é apresentada a orientação das tensões principais ao longo da superfície


hipotética de ruptura. Há que se notar que as direções das tensões principais ao longo da
superfície potencial de ruptura podem não ser as mesmas no instante de ruptura. Esta hipótese
no entanto, não induzirá um erro muito sério.

Já a Figura 4.7 apresenta as condições normais de solicitação de uma barragem de terra .

1 1
N.A. Máximo Normal
f 
3 3

1

3
1
1
3
3

Figura 4.6 Tensões principais ao longo de uma superfície de ruptura

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Escavação

Compactação

Carregamento devido ao peso do material sobrejacente

Saturação

Rebaixamento do nível do reservatório

Figura 4.7 Seqüência de carregamento de uma barragem

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A programação dos ensaios deve ser realizada em função do tipo de solicitação que se terá nas
condições de campo. Em função desta consideração serão apresentadas algumas
considerações com relação a cada uma das faces da barragem.

Final de construção ou durante a construção

Neste caso o solo é compactado com graus de saturação que variam normalmente entre 75 a
90% e submetido a um carregamento devido à construção do aterro sobrejacente. Dependendo
da velocidade da construção e condições de permeabilidade do solo podem ser consideradas
como válidas as envoltórias de resistência dos ensaios rápidos não drenados (construção
instantânea sem dissipação de pressões neutras) ou adensados rápidos (possibilidade de
adensamento devido a velocidade lenta de construção).

Como discutido anteriormente, a adoção de envoltórias em termos de tensão total incorpora


automaticamente o efeito da pressão neutra. No caso de análise em termos de tensão efetiva
Bishop sugere a adoção do parâmetro B que relaciona a pressão neutra desenvolvida com a
tensão vertical atuante no local de interesse. A determinação do parâmetro B pode ser feita em
ensaios PN, onde é realizada a medição da pressão neutra com aplicação de acréscimo na
pressão confinante e axial de tal forma que a relação mantenha-se constante. Nestas condições
são normais os casos em solos residuais, por exemplo, em que se determinam parâmetros de
B da ordem de 30 a 50% sendo que as medidas de pressões neutras efetuadas no campo, para
os mesmos solos, raramente excedem a 10%. Desta forma é possível observar que na
estimativa das pressões neutras em solos não saturados é onde residem as maiores dúvidas
que dificultam sobremaneira a realização das análises de estabilidade.

Este fato decorre, principalmente, da dificuldade não só da medida de pressão neutra em


laboratório, bem como de simulação da velocidade de carregamento e das condições de
drenagem.

Rebaixamento rápido

Para simular as condições de rebaixamento rápido no laboratório são utilizados os ensaios CU


(adensado não drenado) saturados. O adensamento real no campo é feito com uma relação

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 40


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próxima de  1c  3c  2 , no entanto, é uso corrente, na engenharia de barragens, proceder-se a


ensaios com adensamento isotrópico, que apresentam condições mais conservativas.

Em análises em termos de pressões efetivas, as pressões neutras desenvolvidas devido a


variação da carga originada pelo rebaixamento podem ser determinadas no próprio ensaio
CU . Tem sido também extensivamente adotada a previsão de pressões neutras após o
rebaixamento, pela utilização do parâmetro B = 1(solo saturado), isto é, a variação da pressão
neutra como função da variação da tensão principal maior suposta igual à variação da pressão
vertical.

Na análise em termos de pressões efetivas, dependendo da permeabilidade do material


(k>10-5 m/s), a previsão das pressões neutras pode ser realizada pelo traçado de redes de fluxo
em regime transiente.

Funcionamento normal

O ensaio utilizado para reproduzir as condições de campo é o ensaio CD (adensado drenado).


Se for feita a saturação, a mesma deve ser executada por contra pressão. São utilizados
também os ensaios adensados rápidos ou a média das envoltórias dos ensaios adensados
rápidos com os ensaios lentos.

O cálculo das pressões efetivas é feito extraindo-se as pressões neutras de redes de fluxo em
regime permanente.

Observações gerais

Análise em termos de tensões efetivas


- A única envoltória em termos de tensões efetivas não sujeita às vicissitudes de
determinação da pressão neutra é a do ensaio lento.
- A envoltória em termos de pressões efetivas é uma propriedade intrínseca de cada tipo
de argila. Esta envoltória é única e é independente do histórico de tensões e do
processo de ruptura. Desta forma, como pode ser observado nas Figura 4.3 e 4.5,
apesar das trajetórias de tensões efetivas terem formas diferentes para os vários tipos

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de ensaios (CU, UU, S) a envoltória é a mesma e a resistência o cisalhamento é


dependente da tensão de confinamento na ruptura.
- As pressões neutras medidas em laboratório normalmente são maiores que as observadas
em campo em barragens brasileiras, para a condição de final de construção. Desta
forma, em análise de estabilidade em termos de pressões efetivas a utilização das
pressões neutras de ensaios representa um enfoque muito conservativo. No caso de
análise de final de construção, as pressões neutras de cálculo inferidas dos resultados
de medidas no campo em obras e solos similares parecem ser uma solução mais
realista.
- Em análise de rebaixamento rápido, infelizmente, não se dispõe de dados de medidas de
pressão neutra no campo nos solos brasileiros e a previsão desta, pode ser feita pelo
método de Bishop descrito anteriormente e na maioria dos casos esta previsão é
conservadora.

Análise em termos de pressões totais


- A utilização das envoltórias em termos de tensões totais pode ter erros significativos
uma vez que as condições de drenagem e de velocidade de carregamento são bastante
difíceis de serem produzidas. Além deste fato a parcela das pressões totais aplicadas,
resistida pelo solo, é a pressão efetiva que não tem “compromisso” com as tensões
totais aplicadas.

4.6 Outros ensaios de resistência

4.6.1 Ensaio de cisalhamento direto

Durante muitos anos o ensaio de cisalhamento direto foi muito utilizado para a avaliação da
resistência dos solos. Na atualidade é realizado devido à sua fácil execução e ao baixo custo
(Juarez & Rico, 1976). O ensaio é executado em uma caixa constituída de duas partes, uma
primeira parte fixa que contém aproximadamente a metade da amostra, e uma segunda móvel
que contém a metade restante. Duas pedras porosas, uma localizada na parte inferior, e outra
na parte superior da amostra, permitem a drenagem livre de amostras saturadas. A parte
superior móvel, tem um elemento no qual é possível a aplicação de uma carga horizontal no

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 42


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plano de separação das duas peças, provocando desta forma, a ruptura do corpo de prova ao
longo deste plano bem definido. Sobre a parte superior da caixa de cisalhamento, é possível a
aplicação de carga vertical, proporcionando uma pressão normal no plano de ruptura, n. Esta
pressão pode ser livremente definida pelo operador do equipamento (Juarez & Rico, 1976). A
adição de extensômetros ao equipamento permite a medição de deslocamentos da amostra nas
direções horizontal e vertical. Na Figura 4.8 é possível apreciar um esquema do equipamento
de cisalhamento direto.

Figura 4.8 Equipamento de cisalhamento direto.

Existem duas formas de realização dos ensaios de cisalhamento direto. A primeira consiste
em definir e aplicar a carga vertical para atingir a pressão normal no plano de ruptura. Após
este procedimento, continua-se a induzir na amostra uma deformação controlada, definida por
uma taxa de deformação fixada pelo operador do equipamento (velocidade de cisalhamento).
Durante o processo de deformação da amostra é medida a força tangencial T, aplicada ao
corpo de prova. Este procedimento é conhecido como Ensaio de Cisalhamento a Deformação
Controlada. Já a segunda forma consiste em alcançar a pressão normal no plano de ruptura, e
posteriormente, procede-se induzindo no corpo de prova incrementos da força tangencial T,
medindo os deslocamentos horizontais e verticais geradas pela aplicação desta força
tangencial. Este procedimento recebe o nome de Ensaio de Cisalhamento Direto a Tensão
Controlada.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 43


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Com os resultados obtidos do ensaio é possível a construção de curvas de tensão tangencial


() versus deslocamentos horizontais (), para uma determinada tensão normal (n). A partir
destas curvas é possível definir os critérios de ruptura do material, e que tipo de ruptura
apresenta, ou seja, se é frágil ou dúctil. Definida a tensão de ruptura do material () para uma
determinada tensão normal (n), e executando o ensaio várias vezes sob as mesmas condições,
mas com diferentes valores de tensão normal, é possível obter a envoltória de ruptura do
material. Da envoltória de ruptura é possível a determinação dos parâmetros de resistência
como coesão (c) e ângulo de atrito () do material. A coesão é definida como a intercessão da
reta que melhor se ajusta à envoltória de ruptura com o eixo da tensão cisalhante (), e o
ângulo de atrito é representado pela inclinação desta reta. Em função da magnitude das
tensões normais, pode-se não obter envoltórias de ruptura retilíneas. Neste caso, o ângulo de
atrito e o intercepto de coesão variam com o incremento da tensão normal (n).

Este processo de determinação da resistência ao cisalhamento dos solos apresenta algumas


desvantagens. A primeira delas é o fato de que o corpo de prova é condicionado a romper em
um plano de ruptura pré-determinado, desconsiderando a presença de estruturas herdadas ou
planos de fraqueza. Em segundo lugar, a distribuição das tensões no plano de ruptura não é
completamente uniforme, o conjunto de tensões é complexo, e existem rotações das tensões
principais à medida que se incrementa a tensão de cisalhamento. Também não se pode
controlar a drenagem durante o ensaio, a poro pressão não pode ser medida, e as deformações
aplicadas à amostra são limitadas pelas condições do equipamento.

O ensaio também apresenta grandes vantagens como ser de fácil execução, os princípios
teóricos básicos serem de fácil entendimento, e a moldagem dos corpos de prova ser de rápida
execução. Outras vantagens são que podem ser elaborados equipamentos de maiores
dimensões a um custo relativamente menor que para outro tipo de ensaios e que as
propriedades medidas como ângulo de atrito e coesão podem ser considerados de boa
representatividade. O equipamento pode ser utilizado para ensaios drenados e para a medida
da resistência ao cisalhamento residual, pelo processo de múltipla reversão da direção de
cisalhamento.

Devido a que uma das desvantagens do ensaio de cisalhamento direto é o fato de que a
rotação das tensões principais não pode ser controlada, na Figura 4.9, se apresenta o círculo

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de ruptura, com os esforços e as direções das tensões principais no ensaio. Nesta figura foi
considerado que a linha de ruptura passa pela origem de coordenadas e coincide com os
esforços (n, ), que é chamado de ponto D. Traça-se o círculo tangente à linha de ruptura no
ponto D, e que tem centro sobre o eixo . O pólo de planos é localizado traçando uma linha
paralela ao plano de ruptura, que passa pelo ponto D. Unindo-se o pólo P com os pontos de
intercessão do círculo com o eixo , A e B, se tem a direção dos planos principais, que é
detalhada na Figura 4.9a (Juarez & Rico, 1976).

Envoltória de Ruptura
 

n R
 D P

T 
O A C B

3
1 3
n

1

(a) (b)
Figura 4.9 Rotação das tensões principais no ensaio de cisalhamento direto: (a) Direção das
tensões principais; (b) Representação das tensões no diagrama de Mhor
(modificado - Juarez & Rico, 1976).

4.6.2 Ensaio de compressão simples

Este ensaio é um caso particular do ensaio triaxial onde a tensão confinante é nula. Na área de
barragens de terra geralmente estes ensaios são preteridos em relação aos ensaios triaxiais. A
maior aplicação destes ensaios é no caso de argilas saturadas onde a resistência à compressão
simples deveria ser semelhante a resistência destes solos em ensaios Q (na realidade um
pouco inferior se é considerada a tração nas bordas do corpo de prova). A coesão das argilas
neste caso pode ser tomada igual a 0,43 a 0,50 da resistência à compressão simples. Outra
aplicação destes ensaios está na determinação da sensitividade das argilas.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 45


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4.7 Ensaios de adensamento – Determinação da compressibilidade dos solos

Os ensaios oedométricos ou de adensamento são ensaios de compressão unidimensional


realizados com total drenagem, onde são medidas as cargas aplicadas, as variações de altura
do corpo de prova e o tempo em que estas variações ocorrem. As deformações laterais são
nulas.

A medida da permeabilidade em ensaios de adensamento constitui-se numa técnica simples,


sendo o resultado obtido mais representativo que os ensaios a carga variável em laboratório,
por incorporar a redução dos vazios decorrentes das pressões aplicadas e pela maior facilidade
de garantir a saturação da amostra.

A colapsibilidade dos solos de fundação de barragens sob o efeito da inundação, sem


acréscimo de pressão, tem sido também determinada através dos ensaios de adensamento.
Neste caso convém se verificar a ocorrência de colapso a várias pressões.

Além da utilização em cálculo de recalques convencionais (teoria de adensamento de


Terzaghi), os resultados dos ensaios de adensamento têm sido aplicados na determinação dos
módulos de elasticidade para o cálculo das deformações de barragens pela teoria elástica.

4.8 Acondicionamento dos ensaios

Os fatores que influenciam nos resultados finais dos ensaios são variados, entre eles podem-se
mencionar a amostragem, a velocidade de carregamento, o tempo de adensamento, atrito nas
bases e efeito da membrana. Todos estes fatores são amplamente descritos em livros
específicos de ensaios de laboratório. Neste item dar-se-á ênfase especial apenas no fator
amostragem.

4.8.1 Efeito da moldagem

A amostragem, tanto por cravação do amostrador ou por abertura de poços, provocam, sem
dúvidas, perturbações nas amostras que influenciam o resultado final tanto mais quanto maior

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 46


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o amolgamento. Nos ensaios de adensamento oedométricos a influência do amolgamento está


representada na Figura 4.10.

O índice de vazios é menor para o solo amolgado e sua compressibilidade é maior. Nos
ensaios triaxiais adensados, amostras amolgadas terão índices de vazios menor, umidades
menores, quando adensadas nas mesmas pressões de campo e no carregamento axial
desenvolverão menores pressões neutras e maior pressão efetiva, apresentando, portanto,
maiores resistências efetivas. Em contrapartida, nos ensaios Q os solos terão menores
resistências quanto maior a sensitividade da amostra.

Indeformada

Remoldada

Log (

Figura 4.10 Curva de ensaios oedométricos, amostras remoldadas e indeformadas

4.8.2 Efeito da pressão atuante

Ao retirar-se amostras indeformadas se modificam inevitavelmente as pressões atuantes. As


pressões verticais atuantes sobre uma determinada amostra a ser extraída são sensivelmente
diminuídas durante a abertura do poço enquanto as pressões horizontais diminuem mais
lentamente. Este alívio de tensões gera uma expansão e como o comportamento do solo não é
elástico, é bastante difícil que se consiga, mesmo levando-se o corpo de prova ao estado de
tensão de campo, reproduzir o índice de vazios do campo.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 47


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4.8.3 Solos compactados

A compactação de laboratório de materiais de empréstimo, para simulação da compactação de


campo, deve ser feita tendo em conta todos os aspectos intervenientes na construção dos
maciços compactados. Embora ainda não esteja muito investigada a influência da
compactação de laboratório com relação às condições reais de compactação no campo,
estudos têm concluído que os materiais compactados no campo apresentam melhores
parâmetros geotécnicos que os mesmos materiais compactadas no laboratório.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 48


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CAPÍTULO 5

5. PROPRIEDADES GEOTÉCNICAS DE SOLOS COMPACTADOS

5.1 Introdução

Os materiais de construção disponíveis, suas características geotécnicas quando compactados


e as características logísticas e econômicas das áreas de empréstimo, constituem um dos
fatores predominantes na concepção de uma barragem de terra.

Em tese, com exceção de solos orgânicos e de solos solúveis, qualquer solo pode ser
empregado no maciço de uma barragem de terra. Por outro lado não existe um “solo ideal”.
Em princípio, cada barragem específica, associada a suas características da fundação, à sua
altura, ao clima da região, entre outras condições, possui um solo “ideal”, ou, mais
corretamente, cada zona de uma barragem possui um “solo ideal”. Mesmo este enfoque,
difundido por muitos, a nosso ver não é conceitualmente correto. De fato, subentende
implicitamente uma atuação passiva do engenheiro.

Assim sendo, o procedimento correto é o de uma atuação ativa do engenheiro, no


estabelecimento do projeto de uma barragem, tornando ideal os materiais disponíveis, através
da concepção conveniente do maciço, de modo que resulte num custo global mínimo para a
obra.

Do maciço

De um modo geral as propriedades geotécnicas dos solos relevantes ao projeto de uma


barragem de terra são homogeneidade, compressibilidade, permeabilidade, resistência ao
cisalhamento incluindo as pressões neutras desenvolvidas durante a construção do maciço,
flexibilidade e resistência a erosão interna. Entretanto, dependendo da zona do maciço,
algumas destas propriedades são parcialmente ou totalmente irrelevantes. Um exemplo de
propriedade irrelevante é a permeabilidade do material que conforma os espaldares.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 49


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Dos materiais de construção

As propriedades geotécnicas de um solo compactado depende de dois fatores importantes, o


primeiro é o tipo de solo propriamente dito (max), e o segundo são as características de
compactação deste material. Como a liberdade do engenheiro na escolha do tipo de solo é
limitada aos existentes nas proximidades da barragem, sua atuação de forma ampla e livre é
restrita às especificações de compactação de modo a obter a almejada otimização maciço-solo
existentes.

Do conjunto maciço – materiais de construção

É necessário que sejam definidas as propriedades relativas de cada zona do maciço, e os


respectivos limites aceitáveis para cada uma das propriedades dos solos compactados que
conformarão estas zonas. Desta forma são determinados os tipos de solos a serem empregados
nas diferentes partes da barragem, assim como suas condições de compactação na obra, com a
finalidade de obter as condições ótimas de projeto.

Desta forma, as propriedades dos solos compactados fazem parte importante das condições de
projeto. Estes dados são obtidos através da programação de ensaios de laboratório para todos
os tipos de solos existentes e em toda gama de variação possível de especificação. Entretanto,
tal procedimento de análise, individualizado, sem estar baseado em nenhum princípio físico
geral não constitui um enfoque técnico cientifico.

No presente caso, confirmado a necessidade de uma síntese científica, é fundamental, o


conhecimento das propriedades gerais dos solos compactados, baseados no princípio físico da
compactação e respectivas iterações e tendências gerais entre parâmetros geotécnicos, tipo de
solo e condições de compactação. Desta forma, a concepção inicial do maciço e a
programação correta e sistemática dos ensaios de laboratório, será adequadamente planejada
seguindo um ciclo iterativo entre programação de ensaios de laboratório e análise da
informação obtida, permitindo a reorientação dos conceitos de projeto e sendo estes
reavaliados com uma nova campanha de ensaios de laboratório.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 50


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5.2 Considerações gerais sobre a compactação

5.2.1 A curva de compactação

Se um solo coesivo é compactado com uma dada energia de compactação e a vários teores de
umidade, obtendo-se uma curva típica, conforme é apresentado na Figura 5.1.
Peso Especifico Seco (kN/m3)

S=
10
0%

Teor de Umidade (%

Figura 5.1 Curva típica de um ensaio de compactação em um solo coesivo

Esta curva mostra que à medida que aumenta o teor de umidade, o peso específico seco
aumenta, atinge um valor máximo e depois decresce. O ponto máximo é denominado de peso
específico seco máximo (dmax) e o respectivo teor de umidade, de umidade ótima. Deve-se
observar que o teor ótimo não representa uma condição ótima-ideal relativamente às
propriedades geotécnicas, mas tão somente uma denominação comum referente à umidade do
ponto máximo da curva.

A curva de compactação de um determinado solo depende da energia de compactação e do


tipo de compactação. O aumento da energia de compactação reflete no deslocamento do pico

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 51


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da curva para cima e para a esquerda (um maior peso específico a um menor teor de
umidade).

5.2.2 Interpretação física e físico – química da curva de compactação

Interpretação física

A deformação de um solo é basicamente devida ao movimento relativo de suas partículas por


deslizamento e rolamento. Deste modo, numa primeira análise, visando o conhecimento do
mecanismo físico da curva de compactação é valido comparar o esforço atuante (energia de
compactação) com o esforço resistente (resistência do deslizamento das partículas de solo).

Assim sendo, no trecho acima da umidade ótima a densidade do solo diminui devido a
diminuição da pressão efetiva aplicada, provocada pelo desenvolvimento de pressões neutras
durante a compactação. Este modelo interpretativo é particularmente válido para a condição
confinante do ensaio de compactação em laboratório. No campo, entretanto, a diminuição da
pressão efetiva aplicada é devido à diminuição de suporte do solo (capacidade de carga)
devido à criação de pressões neutras.

Para umidades abaixo da ótima, a densidade diminui devido ao aumento da resistência ao


cisalhamento do solo. De fato, para uma mesma pressão aplicada (esforço de compactação),
uma maior resistência do solo implica em menor deslizamento das partículas,
conseqüentemente menor densidade.

Interpretação Físico-Química

Estudos físico–químicos indicam que cada partícula de solo é envolvida por uma fina película
d’água. Quando o teor de umidade do solo é baixo o efeito físico–químico da película
envolvente é equivalente a de uma elevada viscosidade entre as partículas de solo. Deste
modo, apresenta grande resistência aos movimentos dos grãos quando uma carga é aplicada.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 52


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Assim sendo, a teores de umidade baixos é necessário um grande esforço (grande energia)
para provocar movimento no interior do solo. Se o teor de umidade aumenta, os grãos da
estrutura do solo são separados por água de “baixa viscosidade”, desta forma diminui os
efeitos físico–químicos e diminui também a concentração eletrolítica, tendo como resultado
uma expansão da película d’água.

Lambe apresenta a seguinte interpretação da curva de compactação com relação à estrutura do


solo: “para um dado esforço de compactação um dado solo tende a ter uma estrutura mais
floculada representada por um baixo grau de orientação das partículas de argila quando
compactado do lado seco (w < wot) do que quando compactado do lado úmido(w > wot)”. O
mesmo autor também postula que o esforço de compactação, para um mesmo solo e a uma
mesma umidade, tende a aumentar a “dispersão” do solo, ou seja, a orientação das partículas.

Embora a mudança da estrutura do solo com o teor de umidade de compactação, acima


descrita, pode não desenvolver em todos os solos coesivos, ou melhor, desenvolve a graus
quantitativos diferentes, este modelo é útil na interpretação das propriedades geotécnicas de
solos compactados, associados ao desvio de umidade de compactação.

5.3 Interpretação geotécnica da compactação

Analisando a seqüência de compactação de um solo, tanto em laboratório quanto no campo,


verifica-se que o efeito de compactação é o de aplicação de uma determinada carga ao solo e
de sua remoção posterior. Análoga, portanto, a seqüência de carregamento de um solo pré-
adensado (com exceção do tempo de aplicação da carga). Partindo deste raciocínio Victor de
Mello idealizou como modelo geotécnico de um solo compactado, o modelo comumente
adotado na engenharia geotécnica para um solo pré-adensado, sendo a pressão de pré-
adensamento a carga efetiva absorvida pelo solo devido ao esforço de compactação.

O modelo anterior, representativo de um solo pré-adensado, e o estudo do efeito de


compactação permitem a seguintes interpretações.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 53


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- A primeira variável que deve ser pesquisada em um solo compactado é a pressão de


pré-adensamento equivalente. Esta pressão é função do tipo de solo, da energia de
compactação e da umidade do solo.
- Como o efeito da compactação é restrito à faixa de pressões inferiores a de
pré-adensamento, as características geotécnicas do solo, no universo virgem,
dependem praticamente só do tipo de solo, sendo este comportamento também
influenciado pela estrutura do solo, variável que deve ser considerada adicionalmente.
Deste modo, nas zonas do maciço em que o solo será submetido a pressões superiores
a de pré-adensamento, praticamente não há influência da compactação nas respectivas
propriedades geotécnicas.
- As características geotécnicas correspondentes ao universo pré-adensamento dependem
de dois fatores associados ao tipo de solo: capacidade do solo de reter a energia de
compactação e de reter o “estado compactado”-expansão.
- Devido à energia absorvida pelo solo no campo, o estado inicial da tensão principal
maior corresponde à pressão horizontal. O valor de ko varia com a pressão vertical
(razão de pré-adensamento) tal qual nos solos pré-adensados: de um valor inicial
maior a um até um valor entre 0,4 e 0,6 quando atinge o universo virgem.

5.4 Efeito da compactação nas propriedades geotécnicas do solo

5.4.1 Permeabilidade

De um modo geral, no ramo seco, o aumento do teor de umidade provoca uma redução
marcante do coeficiente de umidade. No ramo úmido, o aumento do teor de umidade provoca
apenas um pequeno aumento da permeabilidade. Este fenômeno pode ser observado na
Figura 5.2.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 54


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Permeabilidade (m/sec)
Peso Especifico Seco (kN/m3)

S=
10
0%

Teor de Umidade (%

Figura 5.2 Variação da permeabilidade com as mudanças na umidade de compactação

Da Figura 5.2 é possível verificar que para uma mesma densidade e teores de umidade de
compactação diferentes, há diferenças no coeficiente de permeabilidade.

Esta diferença é explicada pelo modelo de estruturas do solo proposto por Lambe, e discutido
no capítulo 2, onde um solo com estrutura “dispersa”, a mesma densidade, é mais permeável
do que com estrutura “floculada”.

5.4.2 Compressibilidade

A seguir serão ressaltadas algumas observações feitas com relação à compressibilidade dos
solos compactados.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 55


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a. Baseado no modelo de solo pré-adensado a compressibilidade do universo pré-adensado é


menor do que a do universo virgem, desta forma solos residuais compactos apresentam em
geral um valor inferior a 0,15 para a referida relação.

b. Conforme já dito, a ordem de “explicação estatística” dos parâmetros de


compressibilidade, tanto para o índice de compressão quanto para o índice de
recompressão, tem-se em primeiro lugar a variável tipo de solo e, em segundo lugar a
variável estrutura do solo função da origem geológica e das condições de umidade na
compactação.

c. Embora não seja de nosso conhecimento a existência de estudos estatísticos, porém


baseados em alguns dados disponíveis e no modelo de estruturas de solos compactados, é
possível estabelecer as seguintes tendências, resguardadas as observações acima:

- No universo pré-adensado o índice de recompressão de um solo compactado com


umidade inferior a ótima é menor do que compactado no lado úmido, por apresentar
aquela menor expansão quando aliviadas as tensões.

- No universo virgem ocorre a mesma influência da umidade de compactação, porém,


devido a maior “rigidez” da estrutura floculada em comparação com a dispersa.

d. Um efeito interessante a abordar, quanto à compressibilidade de solo compactado é o


fenômeno de deformação a carga constate, quando o solo é saturado, devido ao colapso da
estrutura. Este fenômeno é comum ocorrer quando o solo compactado apresenta grande
desvio da umidade para o ramo seco, apresentando um baixo grau de saturação inicial.

Os recalques provocados por este efeito são rápidos e têm provocado trincas e rupturas em
barragens durante o seu primeiro enchimento. O procedimento de projeto que deve ser
adotado nestes casos, na zona do maciço submetida a tensões inferiores a que exclui o
efeito de colapso, é o de especificar convenientemente a umidade de compactação de modo
a não ocorrer colapso da estrutura.

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e. De um modo extremamente simplificado a relação entre os parâmetros de


compressibilidade obtidos em corpos de prova moldados em laboratório e de amostras
indeformadas do protótipo é de 2:1, e das amostras indeformadas para medições de campo
realizadas no protótipo é de aproximadamente 1.5:1 até 3:1.

5.4.3 Resistência ao cisalhamento

Serão realizadas algumas observações com relação aos tipos de condições drenadas ou não
drenadas, assim como ao tipo de solo e as condições de compactação do material.

Resistência Drenada

a. Com relação ao tipo de solo – no trecho virgem verifica-se um aumento do ângulo de atrito
interno com os solos representados por maiores pesos específicos seco máximo do ensaio
de compactação.

b. Com relação à umidade de compactação – para um mesmo solo, submetido à mesma


energia de compactação e com a mesma densidade de compactação, porém com umidades
de compactação diferentes (no ramo úmido ou no ramo seco), apresentam para todos os fins
práticos, a mesma resistência no trecho do universo virgem.

c. Com relação à energia de compactação – o aumento da energia de compactação aumenta a


pressão de pré-adensamento e, conseqüentemente, a resistência do solo no trecho pré-
adensado, conforme pode ser observado na Figura 5.3. Na prática a envoltória de
resistência é ajustada a uma ou duas retas.

Resistência não drenada

Para um mesmo solo a mesma energia de compactação o efeito do teor de umidade na


resistência não drenada é devido a dois fatores. O primeiro é o conhecido efeito físico que tem
estreita relação com o grau de saturação, e o segundo é o efeito físico–químico que tem
relação com a estrutura do solo.

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’

Energia de Compactação

Pa1 Pa2 Pa3 

Figura 5.3 Influência da energia de compactação na envoltória de resistência ao cisalhamento

Estes dois efeitos resultam numa maior pressão neutra no solo quando compactado do lado
úmido e submetido a determinado carregamento não drenado. Deste modo, no estado de
compactação os solos apresentam maior resistência ao cisalhamento quando compactados no
lado seco do que no lado úmido.

Medições de pressões neutras no protótipo têm indicado que as previsões de pressões neutras,
a partir de ensaios de laboratório, em geral superestimam os valores reais. Isto devido
basicamente aos seguintes fatores:

a. Técnica do ensaio de laboratório – no ensaio de laboratório do tipo PN, por exemplo, a


medida da pressão neutra é feita na base e/ou no topo do corpo de prova, cuja técnica de
medida necessita da saturação prévia da tubulação e da pedra porosa. Esta saturação
provoca uma ligeira modificação da umidade no ponto de medida. Porquanto esta
umidade introduzida artificialmente no corpo de prova em nada interfere no
comportamento do ensaio, quando analisado em termos de pressões totais é suficiente para
mascarar a medida da pressão neutra, fornecendo valores maiores que o real, conforme
gráficos reais típicos deste ensaio.

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b. Mecanismo de compactação ensaio-protótipo – para teores de umidade elevados o


mecanismo de compactação no laboratório é bastante distinto da compactação no campo.
No campo a condição que controla é a resistência (capacidade de carga), enquanto que em
laboratório, devido ao confinamento do solo no molde não há problemas de resistência. A
diferença de estrutura, devido a estes dois mecanismos explica parcialmente a diferença de
comportamento geotécnico entre corpos de prova moldados no laboratório e de amostras
indeformadas, quando são compactadas acima da umidade ótima.

c. Seqüência de carregamento ensaio-protótipo – no campo, após compactada uma camada o


solo tende a expandir. Esta expansão é praticamente impedida pela criação de tensões
capilares negativas. Logo, o estágio inicial de pressão neutra no campo é, para a maioria
dos solos, negativa.

5.4.4 Flexibilidade

Uma das falácias da engenharia geotécnica é associada a flexibilidade de um solo (capacidade


do solo deformar plasticamente sem fissuras), nas condições naturais ou quando compactado.
Conforme será discutido as “tensões e deformações em barragens de terra e enrocamento”, o
parâmetro que deve ser considerado na análise de fissuras de uma barragem é a deformação
específica à tração no fissuramento (t) e não a resistência a tração propriamente dita.

Pesquisas de laboratório e observações no protótipo indicam que a deformação a tração no


fissuramento é função do tipo de solo, das características de compactação e do tempo de
carregamento.

Deste modo, em princípio, uma vez estimada a extensão máxima de tração (t) de uma zona
do maciço, o procedimento de projeto consiste em selecionar um dado material e especificar
as condições de compactação no protótipo de tal modo que a deformação específica à tração
do solo nestas condições seja superior à prevista no protótipo, ou seja t > t.

Este procedimento, embora conceitualmente lógico e correto, apresenta grau de confiabilidade


baixo em relação às necessidades de segurança da obra, por estar baseado em duas variáveis

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 59


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de difícil obtenção. A extensão de tração prevista, obtida através de métodos de cálculo, e a


extensão máxima resistente, obtida através de ensaios de laboratório.

Assim sendo, o procedimento de projeto normalmente adotado, é o seguinte:

a. Tanto quanto possível evitar zonas tracionadas, ou potenciais zonas de tração, no maciço
da barragem;

b. Projetar o maciço de tal modo que ele funcione mesmo quando fissurado, através do
alargamento do sistema de filtros e transições a jusante, bem como introduzindo uma zona
de filtro a montante para funcionar como material auto-cicatrizante;

c. Diminuir a zona capaz de desenvolver fissuras por tração, através da redução da altura
crítica da barragem. Adotar nas zonas de possíveis trincas, solos com baixa coesão;

d. Adoção do procedimento lógico de projeto de zonas de tração, ou seja, solo com


capacidade de extensão prevista (t), porém como segunda linha de defesa, constituindo
um fator de segurança adicional.

5.5 Especificações de compactação

5.5.1 Da especificação

De um modo genérico as especificações constituem a apresentação escrita da concepção do


projeto. Assim sendo, as especificações e os desenhos de projeto se complementam com a
função de comunicar ao construtor os conceitos de projeto adotados. Em resumo, as
especificações são parte integrante do projeto. Em particular, as especificações de
compactação visam obter um produto durante a construção igual ao admitido nas fases de
projeto.

Existem, em tese, dois procedimentos para especificar um maciço compactado:

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 60


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a. Especificar o método construtivo e nele a espessura da camada, o tipo de equipamento de


compactação, a seqüência de espalhamento e compactação, o número de passadas, etc.;

b. Especificar o produto acabado, através de propriedades geotécnicas fundamentais como


permeabilidade, resistência, compressibilidade etc., ou através de parâmetros índices
como por exemplo grau de compactação relativo a uma dada energia e desvio de umidade.

A especificação do produto acabado através de propriedades fundamentais, embora seja o


procedimento mais cômodo para o projetista, é inviável na prática. A especificação através de
parâmetros índices ou do método construtivo, apresentam, cada uma, vantagens e
desvantagens. Deste modo, o procedimento mais correto é um procedimento híbrido-iterativo
conforme a seqüência apresentada a seguir.

a. Especificação inicial – A partir de ensaios de laboratório de propriedades geotécnicas


fundamentais, são fixados o grau de compactação médio da camada e o desvio da
umidade, isto tendo como base a energia de compactação a ser utilizada no processo de
compactação no campo. Também são especificadas as dispersões máximas para estes
parâmetros.

b. Controle inicial de compactação – Através dos parâmetros de compactação é realizado o


ajuste do método construtivo com a finalidade de obter o resultado desejado.

c. Adequação da especificação – Através de ensaios de laboratório em amostras


indeformadas obtidas no maciço são reavaliadas as correlações previamente estabelecidas
entre os parâmetros-índice e os parâmetros fundamentais. Em função destes estudos,
eventualmente são feitas revisões nas especificações de compactação, e como
conseqüência no método construtivo.

d. Adequação do método de controle – Na medida que o método construtivo ajustado vai


fornecendo os parâmetros – índices especificados, com razoável confiabilidade, o método
de controle vai passando gradualmente de controle através dos parâmetros de
compactação para controle através do método construtivo.

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5.5.2 Considerações estatísticas sobre especificações e controle de compactação

Em geral os parâmetros de controle de compactação, como grau de compactação e desvio de


umidade, são variáveis do tipo aleatórias. De fato, a realização de N ensaios em uma mesma
camada fornecem N valores diferentes. A característica aleatória destes parâmetros é devida a
dispersão da energia aplicada, a dispersão do empréstimo e a dispersão inerente ao mesmo
ensaio.

Com a finalidade de identificar a dispersão destes parâmetros é utilizado o desvio padrão, e


suas diferentes “variantes” como variância e coeficiente de variação que é a relação entre o
desvio padrão e a média. O desvio padrão do grau de compactação de uma mesma camada de
solo, após ajustado o método construtivo, varia, em geral de 1,5 a 2,5%.

Existem diferentes formas de especificar os controles no processo de compactação. A mais


utilizada é definir os valores extremos da faixa de compactação que devem ser atingidos pelos
materiais, nestas condições são especificados o Valor Médio e o Valor Mínimo da variável de
controle que pode ser o grau de compactação ou a umidade de compactação. Neste processo é
especificado que o valor médio de uma bateria de ensaios não deve ser inferior ou 98% do
valor médio, caso contrário a camada é rejeitada, deverá ser removida e uma nova
compactada no seu lugar.

5.6 Observações

As especificações de compactação de um solo podem e devem ser diferentes em função da


zona de maciço, de modo a permitir uma maior flexibilidade construtiva. Assim mesmo, a
análise das propriedades geotécnicas de um solo compactado deve levar em consideração não
somente o tipo de solo e as características de compactação, mas o estado de tensões a que o
elemento de solo estará submetido, quando solicitado.

Um modelo interpretativo que se ajusta adequadamente ao comportamento de um solo


compactado é o de um solo pré-adensado, sendo a pressão de pré-adensamento função da

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 62


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energia aplicada e da capacidade do solo de absorver a respectiva energia. As propriedades


geotécnicas de um solo compactado variam conforme o estado de tensão do solo seja superior
ou inferior a pressão de pré-adensamento.

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CAPÍTULO 6

6. PROPRIEDADES DOS ENROCAMENTOS COMPACTADOS

6.1 Introdução

A utilização de enrocamentos na construção de barragens no Brasil é reportada desde 1931 e


nos últimos anos tem sido incrementada com a construção de barragens com alturas
superiores a 100 m, como as barragens de Furnas, São Simão, Foz de Areia e Emborcação
entre outras.

O enrocamento como material de construção está sendo utilizado na maioria dos grandes
projetos hidrelétricos brasileiros atuais, apresentando grandes vantagens do ponto de vista de
facilidade construtiva e aspectos econômicos.

6.2 Deformabilidade e resistência de enrocamentos

Os ensaios de laboratório para a determinação da deformabilidade e resistência dos


enrocamentos têm esbarrado, principalmente, na representatividade das amostras, no tamanho
da aparelhagem de ensaio e na dificuldade de simulação das condições de campo.

As técnicas atuais de ensaios consistem, basicamente, em moldar curvas paralelas às curvas


reais, eliminando blocos com diâmetros superiores a um determinado diâmetro limitado pelas
dimensões das células de ensaio. Isto devido a que o tamanho da célula de ensaio deve ser da
ordem de seis vezes maior que o máximo tamanho das partículas do enrocamento para que
não se apresentem problemas de escala nos resultados dos ensaios realizados.

No entanto, tem-se determinado com relação ao efeito do tamanho de partículas, que com o
aumento do tamanho máximo das partículas do enrocamento o ângulo de atrito reduz-se,
colocando em evidência não um fenômeno físico e sim um problema de representatividade
das amostras. A Figura 6.1 apresenta o efeito do máximo tamanho de partículas sob o ângulo
de atrito para diferentes enrocamentos modelados.

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 Oroville Dam Material


55

e = 0.45 ’3

45

35
0,1 1,0 10,0 D100

Figura 6.1 Efeito do máximo tamanho de partículas no ângulo de atrito – enrocamentos com
curvas modeladas (modificado – Marachi, et.al. 1969)

6.2.1 Fatores que influenciam a resistência e a deformabilidade dos enrocamentos

Como nos solos arenosos e granulares, os fatores que influenciam na resistência e


deformabilidade do enrocamento são a mineralogia, a resistência da rocha, o fraturamento dos
blocos, índice de vazios, o tamanho dos blocos, a velocidade de aplicação das cargas e a
magnitude das pressões aplicadas. A seguir serão discutidos alguns destes fatores.

Mineralogia

Existem poucas investigações sobre o efeito da mineralogia na resistência dos enrocamentos.


Alguns estudos concluíram que minerais iguais, embora procedentes de diferentes origens,
apresentam características de atrito semelhantes; já materiais diferentes apresentam ângulos
de atrito diferentes.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 65


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Na prática é muito difícil isolar o aspecto mineralógico como controle das propriedades
físicas, existindo porém, evidência que as propriedades físicas do enrocamento têm relação
com o tipo de material e com suas características litológicas.

Resistência / fraturamento dos blocos

A resistência é sensivelmente diminuída para tensões confinantes de até 90kPa, para os


materiais menos duros. A partir deste valor é menor a influência na resistência global do
enrocamento.

O fraturamento dos blocos é função não só da resistência do bloco como do formato dos grãos
e a sua composição granulométrica. Comparando a variação da granulometria, após o teste de
deformabilidade, obtendo uma medida do grau de fraturamento, foi possível concluir que
quanto maior o fraturamento maior a deformabilidade.

Granulometria e índice de vazios

Enrocamentos bem graduados são mais resistentes e menos deformáveis que os uniformes,
para a mesma resistência individual dos blocos. Desta forma é possível observar que a
granulometria está intrinsecamente ligada ao índice de vazios e a porosidade. Para um
material com a mesma granulometria, quanto menor o índice de vazios maior a resistência e
menor a deformabilidade. Desta forma, materiais bem graduados atingem índices de vazios
menores que materiais mal graduados, quando submetidos às mesmas condições de
compactação. O efeito do índice de vazios na resistência, representado através da
compacidade relativa, é apresentado na Figura 6.2.

Forma das partículas

A resistência ao cisalhamento varia com a forma das partículas, sendo maior para partículas
angulares e menor para arredondadas. Em contrapartida a deformabilidade aumenta para
partículas sub-angulares e angulares em relação às arredondadas.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 66


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Tamanho máximo de partículas 125mm
52

’3

44

Dr = 85% Dr = 50%
36
120 80 40 0 %

Compacidade Relativa (%)

Figura 6.2 Variação no ângulo de atrito com as mudanças na compacidade relativa do


material

Saturação

A molhagem do enrocamento pode produzir uma leve redução na resistência ao cisalhamento


pela diminuição da resistência das pontas dos blocos, notadamente para baixas tensões
confinantes, embora alguns autores afirmem que não é clara a relação entre a resistência e a
saturação.

Do ponto de vista de deformação, no entanto, a influência da saturação é mostrada com a


realização de ensaios oedométricos, indicando colapsos abruptos quando a mesma é efetuada.
A instrumentação de barragens de enrocamento tem mostrado também o acréscimo das
deformações com o enchimento do reservatório. As Figura 6.3 e 6.4 apresentam a ocorrência
de colapso em enrocamentos durante a realização de ensaios oedométricos e durante o
enchimento de alguns reservatórios.

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Saturação

Log (

Figura 6.3 Evidência de colapso em ensaios oedométricos

0%
Compressão (%)

1er Enchimento

100%
Altura do aterro (% de H

Figura 6.4 Deformação do enrocamento durante o alteamento da barragem e no primeiro


enchimento

Magnitude das pressões aplicadas e tipo de ensaio

Quanto à magnitude de tensões de um modo geral, as envoltórias de resistência são curvas,


indicando que para maiores tensões confinantes o efeito de quebra de blocos é mais acentuado

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 68


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que para baixas tensões confinantes. A Figura 6.5 apresenta as envoltórias de resistência de
alguns enrocamentos.

A deformação também é função das pressões aplicadas, sendo nítido o efeito do


pré-adensamento “nominal” tanto em ensaios como em resultados de medida de deformações
no campo.

Quanto ao tipo de ensaio para a medida da resistência, os ensaios triaxiais convencionais dão
uma resistência de pico de até 30% inferiores a cisalhamento direto. É possível que os ensaios
de deformação plana simulem melhor as condições reais de campo, e desta forma a utilização
dos ensaios triaxiais convencionais seja um tanto conservativa.
Resistência ao Cisalhamento (kPa)

400

200

0
0 200 400 600 (kPa)

Tensão Normal (kPa)

Figura 6.5 Envoltória de resistência de alguns enrocamentos

6.2.2 Observações com relação à resistência e a deformabilidade

Foram analisados os fatores principais que influenciam na resistência e deformabilidade dos


enrocamentos, considerando principalmente resultados de ensaios de laboratório. Vale notar,
como já foi mencionado, que pela dificuldade de execução dos ensaios, a representatividade
dos mesmos no contexto das reais condições de campo, as limitações de tamanho da

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aparelhagem e a não utilização de curvas granulométricas reais, os resultados que têm sido
obtidos devem ser encarados com enfoque crítico.

No entanto, mesmo com os avanços na realização de ensaios de laboratório cada vez mais
apurados, e o melhor entendimento das condições de comportamento dos materiais de
enrocamento, os taludes das grandes barragens construídas atualmente ainda apresentam
condições de inclinação dos taludes muito similares às utilizadas anteriormente quando não se
dispunham destas ferramentas.

Na realidade, o desconhecimento sobre as reais características do material, as dificuldades de


previsão do comportamento das barragens de enrocamento e o aumento considerável das
alturas das barragens, têm levado os projetistas a desenvolverem os projetos de forma
conservativa. No Brasil ainda não se dispõe de aparelhagem de ensaios para enrocamentos
reais e os projetos são feitos baseados em analogia com os resultados sobre enrocamentos de
características semelhantes e, principalmente, na experiência do comportamento de obras
similares.

Os parâmetros de projeto a serem adotados devem ser tomados de forma criteriosa,


levando-se em conta todos os fatores intervenientes na resistência e deformabilidade dos
enrocamentos e o processo construtivo (especificações).

6.3 Recomendações sobre as especificações construtivas

Serão relacionados alguns procedimentos construtivos e alguns critérios básicos que têm sido
adotados na construção de enrocamentos compactados.

6.3.1 Critérios relativos à granulometria

Na Tabela 6.1 são apresentados alguns critérios relativos às granulometrias que devem
apresentar o enrocamento, extraídas da literatura e complementadas com algumas
especificações construtivas de algumas das principais obras brasileiras.

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Tabela 6.1 Critérios relativos à granulometria de alguns enrocamentos

AUTOR RECOMENDAÇÕES
Marsal Menos que 10% em peso menor que 0,2mm e  máximo entre 200 e
300 mm, com (D60/D10) > 15
Henry & Thomas Menos que 15% em peso menor que 25 mm
T. Leps Menos que 30% em peso menor que 25 mm
Mori & Freitas Menos que 40% em peso menor que 5mm, com (D60/D10) > 15
Sherard De 30 a 40% em peso menor que 25,4 mm
Foz de Areia Menos que 25% em peso menor que 25 mm com 50% em peso maior
que 75 mm
Itaipu Isentos de pó de pedra, argila, areia; e  máximo igual a 600 mm
Tucuruí Menos que 15% em peso com diâmetro menor que 4,8 mm; e 
máximo igual a 1,0 m

As limitações, principalmente na quantidade de finos, estão ligadas a dois fatores principais:

- Um aumento da quantidade de finos pode ocasionar a diminuição da permeabilidade e o


desenvolvimento de pressões neutras durante a construção.
- O aumento da quantidade de finos pode provocar uma mudança no comportamento do
maciço, mudando de comportamento de solo granular a comportamento de solos finos.

As limitações na quantidade de finos, no coeficiente de uniformidade e no tamanho dos


blocos, muitas vezes são difíceis de serem conseguidas, pois a granulometria é função do tipo
de rocha e dos métodos de escavação e desmonte. Estabelecer-se uma granulometria ideal
prévia repercutirá negativamente no custo da obra. O mais correto é adequar o tipo de
enrocamento que está sendo obtido ao processo construtivo e ao projeto da barragem,
utilizando o conceito de zoneamento de materiais.

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6.3.2 Critérios relativos à espessura de camadas de compactação

Algumas recomendações de diversos autores são relacionadas na Tabela 6.2, considerando


como critério o diâmetro máximo do enrocamento.

Tabela 6.2 Critérios relativos à espessura das camadas de compactação dos enrocamentos

AUTOR RECOMENDAÇÕES
Mori & Freitas 1 max
  1 ; máximo 1,0 m
3 e
Penman & Charles max
 1 ; máximo 0,9 m
e
Sherard e = 1 a 2 max ; máximo 0,9 m
Itaipú, Foz de Areia e max
Tucuruí 1
e
Mello De 1,5 a 2,0 m
Thomas Máximo 1,0 m
Casagrande Máximo 0,6 m

Vale acrescentar que estes dados relativos a espessuras da camada são apenas indicativos e
são função do tipo de enrocamento e de equipamentos a serem adotados e da seção transversal
da barragem.

Teoricamente, a determinação da espessura ótima de compactação deve ser feita não só com o
objetivo de maximizar a eficácia do equipamento de compactação, mas também, levar em
consideração o produto final que se deseja obter do ponto de vista de deformações e
resistência.

Intuitivamente, pode-se inferir que menores espessuras de camada devem gerar um maciço
mais rígido e mais resistente pela maior densificação produzida e conseqüentemente menor
índice de vazios.

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No entanto não é intuitivo o fato que menores compressibilidades no enrocamento resultam


em melhor comportamento da barragem. Em barragens terra-enrocamento, núcleos muito
compressíveis e espaldares pouco deformáveis provocam arqueamentos de tensões no núcleo,
aumentando os riscos de ruptura hidráulica. No caso de barragens com face de concreto
interessa realmente uma menor compressibilidade do enrocamento.

A falta de dados de laboratório e os reduzidos resultados de instrumentação das barragens


brasileiras ainda não permitem conclusões teóricas precisas sobre a diminuição do módulo de
deformabilidade devido à redução da camada de compactação.

Um método de otimização da espessura da camada, em função do equipamento de


compactação, é a construção de aterros experimentais, através de medida das deformações
especificadas da camada.

6.3.3 Equipamentos de compactação

Os equipamentos que comprovadamente têm revelado maior eficiência na compactação de


enrocamentos são os rolos vibratórios lisos de peso estático superior a 10 ton. Têm sido
também utilizados tratores de esteira tipo D-9. Estes no entanto, além de serem menos
eficientes dificultam o controle de compactação.

Alguns dados construtivos e de deformações observadas em algumas barragens são listados


na Tabela 6.3.

6.3.4 Algumas recomendações sobre o processo construtivo

As operações de lançamento e espalhamento devem ser feitas de maneira a evitar segregação


do material. Geralmente este procedimento é feito com o lançamento do material nas bordas
dos avanços da camada que está sendo compactada e pelo posterior espalhamento com a
lâmina inclinada de um bull-dozer.

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Tabela 6.3 Características de algumas barragens de enrocamento construídas no Brasil e no


exterior

Barragem Altura Material max e max / e %max < CU


(m) (mm) (mm) 5mm D60/D10
Trangslet 125 Porfirito 1000 2000- ½-1/3 5 5
3000
Tooma 68 Quartzito 150 3000 1/20 - -
M.D.W.R.* 61 - 200 600 1/3 7 18
Cethane 110 Quartzito 600 900 2/3 40 8
Brianne 91 - 300 500 3/5 24 >80
Blowering 112 Quartzito, filito 1000 1000 1 10 20
Embankment
Gepatsck 153 Gnaisse 1800 2000 1 24 17
Rockfill
Shihmen 110 “seixos” 300 - - 18 >80
El Infiernillo 148 Diorito 450 600 ¾ 10 12
Mont-Cenis 120 - 1000 1000- 1-1/2 5 3
2000
Cougar 157 Basalto 450 600 ¾ 15 8
Mica 244 Quartzito 300 300 1 52 15
Nyumba Ta 45 Gnaisse 400 500 4/5 25 12
Mungu
Paraibuna 94 Biotita gnaisse 1000 1100 -1 12 30
Paraitinga 104 Biotita gnaisse 1000 1100 -1 12 30
Itumbiara 105 Anfibolito 600 600 1 35 30
Estreito 92 Quartzito 150 500 3/10 42 15
Furnas 125 Quartzito 300 700 3/7 45 15

*: Mauthaus Drinking Water Reservoir

Blocos maiores que a espessura da camada devem ser empurrados para as bordas do aterro.
Constituindo-se prática freqüente prever-se no projeto uma zona de 5,0 m, junto aos taludes
para a colocação destes blocos.

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No número de passadas do equipamento de compactação deve-se ter em conta diminuir a


excessiva trituração do topo da camada. Devido a este fenômeno estima-se que a porcentagem
de vazios na primeira metade da camada pode chegar a ser duas vezes menor que a da metade
inferior, gerando altos gradientes de compactação na própria camada.

A molhagem do equipamento tem sido utilizada em algumas obras e tem como objetivo
reduzir os eventuais colapsos por inundação com o enchimento do reservatório. Nestas
condições a molhagem produz dois efeitos:

- Efeito Mecânico. A molhagem proporciona uma melhor distribuição de finos,


escarificando a superfície da camada e forçando a penetração dos finos para os vazios
formados na parte interna da camada.
- Efeito Físico. A molhagem reduz a resistência à compressão da rocha, aumentando os
recalques durante a construção e, portanto, diminuindo os recalques posteriores
durante o enchimento do reservatório.

Alguns autores enfatizam que o volume d’água deve ser cerca de 20 a 30% do volume do
enrocamento a ser compactado.

6.4 Parâmetros para projeto e controle de construção adequados à atualidade brasileira

Os parâmetros mais utilizados para projeto são o peso específico aparente, os módulos de
elasticidade da rocha, a resistência à compressão saturada e seca da rocha, ensaios de
ciclagem (natural e acelerada), ensaios de granulometria antes e após a compactação.

De posse destes dados devem ser atribuídos os parâmetros de energia para o projeto por
comparação com os já obtidos com enrocamentos de características geotécnicas semelhantes.

Até o momento não foram ainda desenvolvidas aparelhagens de ensaios triaxiais e


deformação para enrocamentos no Brasil, só se tem aparelhagem para o ensaio de curvas
granulométricas semelhantes (paralelas) do mesmo material do enrocamento. Entretanto
mesmo com o desenvolvimento das técnicas de ensaio, devem ser utilizados também os

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resultados de instrumentação durante a fase construtiva e de funcionamento, pois os mesmos


fornecem subsídios valiosos para uma retro-análise e devem sempre ser computados.

Os métodos para controle de construção geralmente são visuais. Deve-se controlar o número
de passadas do rolo e a espessura da camada de compactação que já foram definidas através
de aterros experimentais ou durante o início dos trabalhos de compactação. É boa prática,
esporadicamente, verificar-se a deformação que está sendo produzida durante a compactação,
sendo esta um índice importante na definição da eficiência da compactação. Normalmente a
deformação especificada da camada deve se situar entre 4 a 5%.

Ensaios para a determinação da densidade “in-situ” devem ser realizados com freqüência, pois
os parâmetros de projeto estão intimamente ligados com a mesma (índice de vazios e
compacidade). Ensaios no todo e na base da camada servem para determinar os gradientes de
compactação e homogeneidade da camada.

A execução de ensaios de granulometria (gravimetria) também deve se considerada como


uma medida da homogeneidade do material de construção.

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CAPÍTULO 7
7. CONSIDERAÇÕES SOBRE PROJETOS DE BARRAGENS DE
TERRA E ENROCAMENTO

O presente capítulo visa servir de elo de ligação entre as considerações sintéticas sobre o
arranjo geral de um barramento, a interdependência entre o projeto de barragem de terra com
as demais estruturas do barramento, com os aspectos relativos aos dados básicos para o
projeto de uma barragem e o enfoque do projeto propriamente dito, suas concepções e seus
métodos de cálculo. Desta forma será apresentada a interdependência entre as diversas
concepções específicas de projeto.

De fato a premissa básica entre a concepção de uma barragem de terra, sua seção transversal e
respectivo tratamento de fundação, é que a introdução de cada detalhe, beneficie o projeto
como um todo. Por exemplo a introdução de um “cut-off” na fundação de uma barragem visa
controlar a percolação, com a redução de perda d’água pela fundação e dos gradientes de
saída, como conseqüente controle contra “piping”, bem como, otimizar o talude de jusante,
aumentando a estabilidade ao deslizamento pela fundação através da redução da sub-pressão
na fundação.

Outro aspecto interessante a abordar neste capítulo é o referente a distinção entre projeto e
cálculo. Na realidade a engenharia consiste em projetar primeiro e analisar em segundo lugar.
O projeto, ou a concepção, constitui a verdadeira arte da engenharia, não existindo, portanto,
diretrizes, regras ou metodologias para o seu estabelecimento. Entretanto, a partir dos dados
básicos referentes à fundação e aos materiais de construção, procuraremos mostrar alguns
exemplos usuais de concepção e respectivas vantagens técnicas.

7.1 Fase de viabilidade

Na fase de viabilidade de uma barragem é estabelecido o arranjo geral do aproveitamento,


incluindo a disposição das estruturas, seções transversais típicas com respectivos tratamentos
de fundação, seqüência construtiva e cronograma das obras.

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Deste modo, quando existente, o projeto da barragem de terra, sua localização, seção
transversal, tratamento de fundação, é estabelecido visando o custo mínimo do
aproveitamento como um todo, o que não é necessariamente a locação, seção transversal,
tratamento de fundação que resultariam em custo mínimo para a barragem de terra,
isoladamente.

Por exemplo, a locação da barragem de terra é em geral ditada pela escolha da melhor
localização das estruturas de concreto, no que se refere às condições geotécnicas para
fundação e condições hidráulicas - operacionais. De fato, uma premissa básica no
estabelecimento do arranjo geral é favorecer as estruturas de concreto com os melhores locais
de fundação, sob o ponto de vista geológico – geotécnico.

7.2 Fase de projeto básico

Na fase de projeto básico, além do estabelecimento da seção típica e do tratamento de


fundação, são quantificados e especificados os referidos projetos, de um modo a possibilitar a
licitação da obra. Com os novos dados obtidos nesta fase, através de investigações
complementares, são otimizados, inicialmente, o maciço e o tratamento de fundação de forma
conjunta. Numa segunda etapa, o maciço e o tratamento de fundação são otimizados
separadamente, mantendo-se as diretrizes estabelecidas anteriormente.

7.2.1 Requisitos básicos de projeto e método de análise

O corpo de engenheiros dos Estados Unidos estabelece os seguintes requisitos básicos que
deve satisfazer uma barragem para que apresente segurança satisfatória.

a. Os taludes da barragem devem ser estáveis durante a construção e todas as fases de


operação, incluindo a de rebaixamento rápido;
b. O maciço não deve impor tensões excessivas à fundação;

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c. A percolação através do maciço, fundação e ombreiras devem ser controladas de tal modo
que não ocorra “piping” ou remoção de material por solução. Adicionalmente, a
quantidade d’água perdida por percolação deve ser compatível com a finalidade do
projeto;
d. A crista da barragem deve ter uma elevação segura quanto ao transbordamento por efeitos
de ondas, bem como uma folga adicional referente aos recalques após construção;
e. A capacidade de vazão do vertedouro deve ser de tal ordem a impedir o transbordamento
do reservatório sobre a barragem de terra.

Excluindo-se o item e, os demais itens pertencem ao campo da engenharia geotécnica, que,


por sua vez, subdivide os problemas em três grupos.

a. Análise de tensões e deformações, no maciço e fundação, na condição de equilíbrio limite.


b. Análise de tensão e deformação em regime elástico, linear ou não.
c. Estudos de percolação.

A análise superficial é isolada dos critérios acima, bem como a divisão usual dos métodos de
cálculo geotécnicos, tem conduzido a graves erros de projeto. Nos itens subseqüentes é
apresentada uma interpretação conjunta dos mesmos e sua interdependência.

7.2.2 Dos requisitos básicos – Interpretação conjunta

Deve-se considerar inicialmente, o que está implícito na sua formulação, que os cinco
critérios devem ser atendidos simultaneamente.

A análise de estabilidade do maciço e fundação, no regime de equilíbrio limite, não considera


as deformações cisalhantes necessárias à mobilização da resistência ao cisalhamento. Deste
modo, embora um talude possa apresentar uma segurança global ao deslizamento, suas
deformações podem não ser compatíveis com a segurança da obra.

O item c é onde ocorrem, com mais freqüência, interpretações erradas, associando segurança
ao “piping”, somente à redução dos gradientes de percolação. A análise de segurança ao

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“piping”, de modo correta, deve contemplar a comparação entre forças de percolação com
forças de gravidade. Logo, o estudo correto de “piping” envolve o estabelecimento do estado
de tensões no maciço durante as fases de operação da barragem, uma vez que, tanto a força
atuante de percolação, quanto a resistência, de gravidade, é função do estado de tensões.

De fato, a existência de zonas fraturadas no maciço ou de fraturas abertas devido à percolação


(fraturamento hidráulico) governa a distribuição da permeabilidade no maciço e,
conseqüentemente, a configuração dos gradientes hidráulicos.

Quanto ao item d, os recalques do maciço e da fundação, provocam distribuição de tensões no


interior do maciço, com possíveis aberturas de trincas, que devem ser levadas em
consideração na análise do critério de projeto.

Em síntese, as observações acima servem para mostrar a interdependência entre os diversos


critérios de projeto.

7.2.3 Dos métodos de cálculo – Interpretação conjunta

A engenharia geotécnica envolve a estimativa das tensões e deformações tanto nas obras de
terra como nas fundações. A fim de obter esta estimativa de modo correto é necessário o
conhecimento das equações constitutivas dos solos, bem como a distribuição geométrica dos
diversos tipos de solos.

Devido à impossibilidade da aplicação do procedimento correto acima exposto, a engenharia


geotécnica subdividiu o problema geral de tensões e deformações no solo em dois grupos: um
associado à deformação e o outro referente a máxima tensão que poder ser imposta a uma
massa de solo, estado de ruptura.

Na realidade, o solo deforma de modo contínuo, desde seu estado inicial de tensões até a
ruptura. Muitos problemas têm ocorrido em projetos de barragem devido à separação artificial
e simplificada, do comportamento do solo, em estudos de deformação, sem consideração de

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rupturas localizadas e estudos de ruptura, sem consideração das deformações necessárias para
a massa de solo atingir o estado de ruptura.

A exposição anterior procura mostrar a interdependência real entre os problemas de


deformações e rupturas, bem como os riscos devido à aplicação indiscriminada da referida
subdivisão.

7.2.4 Exemplos de concepção conjunta Maciço – Fundação

Barragem de Terra – Enrocamento. Posição do Núcleo

As barragens de terra – enrocamento são constituídas por um núcleo de material terroso


impermeável, contido por espaldares de enrocamento, e com zonas de filtro e transição entre o
núcleo e o enrocamento. A posição do núcleo varia desde extremamente inclinado,
coincidindo com o talude de montante, até a posição central, simétrica.

Sob o ponto de vista de estabilidade dos taludes, de fraturamento hidráulico do núcleo e


eficiência no contato núcleo-fundação, de um modo geral, função das características de
resistência e deformabilidade do material do núcleo e do enrocamento, o núcleo
moderadamente inclinado para montante constitui a posição otimizada. De forma livre a
“inclinação moderada” se refere a inclinação 0,4H:1V a 0,6H:1,0V para a interface de jusante
do núcleo de enrocamento, e 0,9H:1,0V a 1,0H:1,0V para a interface de montante. O núcleo
inclinado também apresenta vantagens de cronograma, em locais de alta pluviosidade, por
possibilitar construção de maior volume do enrocamento de jusante, independente do núcleo.

Entretanto, condições específicas de determinados projetos podem levar a utilização de outras


seções típicas. Como pode ser a utilização do núcleo pouco inclinado ou central visando a
incorporação total da ensecadeira de montante. Ou a utilização do núcleo extremamente
inclinado devido às condições geológicas da fundação, e/ou condições topográficas mais
favoráveis.

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Barragem Homogênea – Sistema interno de drenagem

Na Figura 7.1 é apresentada a evolução dos projetos de barragens de terra e respectivos


sistemas de drenagem. O estágio atual de projeto impõe a necessidade de septo drenante total,
a fim de evitar fluxo emergente no talude de jusante. Deve-se observar as condições ideais de
percolação, implícitas no conceito de rede fluxo, e as condições reais, associadas a camadas
mal compactadas, ao estado de tensões do maciço e zonas fissuradas no maciço.

Figura 7.1 Evolução do projeto de barragens de terra e seu sistema de drenagem interna

7.2.5 Outros exemplos de concepção de projeto

Regularização de fundação rochosa

É comum a existência de grandes irregularidades topográficas da superfície rochosa no leito


do rio, associadas a zonas de maior fraturamento da rocha, uma vez que o rio “procura” as
zonas de fraquezas estruturais da rocha para estabelecer o seu leito.

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Projetos de barragens de terra e/ou enrocamento em tais regiões, caracterizadas por variações
abruptas da superfície rochosa, exigem uma análise detalhada das zonas potenciais de fissuras
no maciço, devido às deformações diferenciais impostas por estas irregularidades
topográficas. Nestes casos, concepções de projeto envolvem em geral uma ou mais das
seguintes medidas.

a. Regularização da topografia da fundação, através da suavização das irregularidades;


b. Fixação da seqüência construtiva de modo a reduzir os recalques diferenciais;
c. Adequação dos materiais do maciço e/ou respectivas especificações, de modo a reduzir os
recalques diferenciais, ou provir maior plasticidade ao solo nas zonas solicitadas a tração;
d. Ampliação do sistema de drenagem interna nas zonas de fissuramento potencial.

A verificação e adequação das medidas de projeto acima indicadas são feitas pelo método dos
elementos finitos de forma paramétrica, ou seja, variando os diversos parâmetros
intervenientes.

Fundações em solos argilosos saturados moles – Soluções normalmente adotadas

Estes materiais caracterizam-se por baixa resistência ao cisalhamento, elevada


compressibilidade e baixa permeabilidade. Quando ao aspecto de resistência ao cisalhamento
tem sido adotado um ou mais dos seguintes procedimentos.

a. Remoção parcial ou total do material;


b. Aumento da resistência ao cisalhamento utilizando o procedimento da construção por
etapas associada ou não a aceleração do adensamento através de drenos verticais de areia;
c. Diminuição da solicitação cisalhante da fundação mediante a adaptação da seção
transversal do maciço através da suavização dos taludes e/ou com emprego de bermas de
equilíbrio.

Quanto ao aspecto de elevada deformabilidade deve-se distinguir os casos de recalques quase


absolutos e de recalques diferenciais. O primeiro tipo de recalque pouco freqüente, interfere
no projeto somente no que refere a diminuição do bordo livre, necessitando portanto, de uma

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sobre elevação da cota da crista da barragem correspondente aos recalques após a construção.
Quanto aos recalques diferenciais, as soluções de projeto tem sido a adaptação de seqüência
construtiva visando uma redução dos recalques diferenciais e/ou projeto de sistema de
drenagem mais rigoroso, a espessura dos drenos deve ser de tal ordem que não sejam
secionados devido aos recalques diferenciais.

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CAPÍTULO 8
8. ANÁLISE E CONTROLE DE PERCOLAÇÃO

Problemas causados por percolação através de barragens, podem ser resumidos em três
principais tipos:

- “Piping” – ou erosão regressiva – pode ocorrer pela migração de partículas de solo devido às
forças de percolação, desenvolvendo na fundação ou no maciço da barragem canais ou
tubos que se interligam com o reservatório. O “piping” é uma causa comum de rupturas em
barragens de terra – enrocamento, reservatórios e ou outras estruturas hidráulicas.

- Saturação e instabilização de taludes – causadas pelas forças de percolação devido a fluxos


emergentes no talude ou altas subpressões de fundação no pé das barragens.

- Perda excessiva de água – Principalmente em reservatórios alimentados por rios de pequena


vazão, estes problemas podem assumir serias proporções.

Os problemas relativos à percolação devem sempre ser analisados de forma conservativa


pelas incertezas normalmente envolvidas como a permeabilidade dos meios, a
heterogeneidade dos solos, as descontinuidades dos maciços de fundação, entre outras.

8.1 Fluxo através de meios porosos (Teoria de percolação)

A quantidade de água que percola através ou sob uma barragem e a distribuição das pressões
de água (equipotenciais) podem ser estimadas usando a teoria de fluxo através de meios
porosos, que se constitui desta forma, numa ferramenta importante para as análises de
engenharia.

No primeiro caso pode-se estimar as perdas d’água no reservatório. No segundo caso pode-se
avaliar a distribuição de pressões neutras para análises de estabilidade, para análises dos
gradientes hidráulicos de saída e verificação do potencial ao “piping”.

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8.1.1 Limitações da teoria

Em análises de percolação o projetista deve ter em mente sempre as hipóteses básicas da


teoria, que são:

a. Os solos do maciço e fundação são meios incompressíveis não havendo variações nas
dimensões dos poros.
b. A percolação se processa sob gradientes hidráulicos que são função das perdas de carga
gravitacionais.
c. Não há mudanças do grau de saturação na zona onde o fluxo ocorre, de tal forma que a
quantidade de fluxo que entra no elemento de volume é igual a quantidade de fluxo que
sai dele, num mesmo espaço de tempo.
d. As condições de contorno de fluxo são conhecidas.

Estas hipóteses são melhor satisfeitas em maciços de areia ou brita, onde a vazão de
percolação é relativamente grande, não há ar nos vazios e a influência da capilaridade é
pequena. Em maciços de solos finos, por outro lado, as forças capilares podem ter mais
influência nas pressões neutras que as cargas hidráulicas e assim a rede real de fluxo pode ser
bem diferente da projetada. As análises de percolação nestes solos devem ser encaradas com
reservas, servindo apenas para orientar o julgamento do engenheiro.

8.1.2 Lei de Darcy e Equações de Laplace

A lei de Darcy (1856) de fluxo laminar para a percolação de água através dos solos pode ser
escrita da seguinte forma:

dh
V  k i  K (8.1)
dl
Q  k i A (8.2)

Onde:
V: velocidade de descarga;

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k: coeficiente de permeabilidade;
i: gradiente hidráulico;
h: carga de pressão;
l: comprimento do caminho de percolação;
A: área de seção transversal do solo onde a água percola;
Q: vazão de percolação.

A equação geral da hidrodinâmica para fluxo permanente – Equação de Laplace pode ser
escrita como:

 2h  2h  2h
  0 (8.3)
x 2 y 2 z 2

Considerando fluxo bidimensional, geralmente admitido nas barragens de terra e


enrocamento, pode-se usar a fórmula simplificada da equação de Laplace:

 2h  2h
 0 (8.4)
x 2 y 2

Esta última equação representa duas famílias de curvas que se interceptam ortogonalmente,
formando figuras “quadradas” conhecidas como redes de fluxo. Uma das famílias de curvas
são chamadas de linhas de fluxo; as outras são chamadas de equipotenciais.

As linhas de fluxo representam os caminhos da água ao longo de uma seção transversal. As


linhas equipotenciais são linhas de igual nível de energia ou carga.

8.1.3 Método gráfico para o desenho das redes de fluxo

Para satisfazer as equações de Laplace podem ser desenhadas duas famílias de curvas
ortogonais satisfazendo algumas condições de contorno e formando os chamados “quadrados”
entre si.

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Para os traçados de redes de fluxo devem ser seguidos os passos abaixo descritos:

a. Zoneamento dos materiais de diferentes permeabilidades.

b. Estabelecimento das condições de contorno:


- Linhas equipotenciais limites;
- Linhas de fluxo limites.

c. Traçado das linhas de fluxo e equipotenciais por tentativas obedecendo as relações


constantes entre as distâncias entre duas equipotenciais e duas linhas de fluxo adjacentes,
de forma que l1 b1  l2 b2  cte , num mesmo canal de fluxo. Por conveniência este fator
constante é tomado igual a unidade para facilidade de visualização das figuras que, neste
caso, são aproximadamente quadradas.

No traçado das linhas de fluxo e equipotenciais deve sempre ser observado o


ortogonalismo entre as linhas.

d. Entre duas equipotenciais sucessivas as perdas de carga são constantes.

e. A vazão por canal de fluxo por unidade de comprimento é calculada pela equação de
Darcy.

h h
q  k i A k   Ak (8.5)
L nq

Onde:
nq: número de equipotenciais.

A vazão total por unidade de comprimento é:

nf
Qk  h (8.6)
nq

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Onde:
nf: número de canais de fluxo;
h: diferença de carga total (montante – jusante).

f. Para maior facilidade construtiva, um número mínimo de equipotenciais de fluxo deve ser
traçado inicialmente. O detalhamento final só deve ser feito quando o traçado já estiver
parcialmente acertado.

g. Lembrar que as equações de Laplace só admitem uma única solução e, desta forma, para
uma determinada condição de contorno, a rede de fluxo é única.

No caso da Figura 8.1 uma das condições de contorno não é conhecida, a linha de saturação
ou linha freática e o traçado em geral é mais demorado. No entanto existem maneiras de
inferir-se a linha freática inicial.

Lembrar que as equipotenciais são perpendiculares a linha freática (linha de fluxo limite) e
que nesta as pressões neutras são nulas existindo apenas carga de posição, razão pela qual as
equipotenciais devem ser traçadas em intervalos verticais iguais.

N.A.

h

h

h h

h

h

Figura 8.1 Redes de fluxo em barragens de seção homogênea

Se considerar-se anisotropia, permeabilidades horizontais e verticais diferentes, a equação de


Laplace que governa a percolação é dada dela seguinte expressão.

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 2h  2h
kx 2  k y 2   0 (8.7)
x y

Esta solução pode ser convertida na solução simples de Laplace pela transformação da escala
geométrica. Assim, para permeabilidades horizontais maiores que as verticais (caso mais
comum em maciços compactados em camadas), a escala horizontal deve ser reduzida no fator
k h kv .

A vazão de percolação pode ser calculada pela utilização da permeabilidade equivalente


apresentada na Equação (8.8).

kequiv  kh  kv (8.8)

A Figura 8.2 apresenta as redes de fluxo transformadas e verdadeiras para uma barragem de
maciço homogêneo anisotrópico.

Normalmente considera-se para maciços compactos anisotropia (kh/kv) da ordem de 4 a 16.


Nas fundações a anisotropia pode ser considerada nos casos de xistosidade, acamamentos,
estratificações ou qualquer descontinuidade que indique fluxos preferenciais em uma
determinada direção. Deve-se sempre que possível verificar, quer para o maciço compactado
quer para as fundações, as permeabilidades no sentido vertical e horizontal através de ensaios
de permeabilidade.

8.2 Fluxo através de enrocamentos

8.2.1 Equações de fluxo

Os fluxos através de enrocamentos não obedecem às leis de fluxo laminar, ou Lei de Darcy,
exceto possivelmente em gradientes extremamente baixos. As leis de fluxos turbulentos são
mais adequadas para um melhor entendimento deste tipo de fluxo.

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N.A.

Seção Transformada

N.A.

Seção Original
kh = 0,5 kv
h

Figura 8.2 Redes de fluxo transformadas e verdadeiras em uma barragem homogênea


anisotrópica.

A complexidade do regime de fluxo que se processa em enrocamentos é aumentada pela


impossibilidade de construção de maciços com gramulometrias uniformes, considerando que
as operações de carga e descarga, espalhamento e construção produzem inevitável segregação
do material. Desta forma o maciço de enrocamento possui heterogeneidades intrínsecas do
próprio processo de construção, com volumes de vazios variáveis em seções adjacentes.

Devido a esta heterogeneidade, a vazão estimada através de enrocamentos normalmente é


multiplicada por fatores de 2 a 5.

A partir de ensaios de laboratório é proposta a seguinte equação, para a determinação da


velocidade através dos vazios (velocidade de descarga dividido pela velocidade).

VV  C  N a  M b  i n (8.9)

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Onde:
C: fator de forma;
N: viscosidade da água;
M: raio hidráulico médio dos vazios;
i: gradiente hidráulico;
a, b, n: coeficientes empíricos.

Esta equação pode ser simplificada para:

VV  W  m0,5  i 0,54 (8.10)

Onde:
W: varia de aproximadamente 33 a 46 para enrocamentos com superfícies rugosa à
polida.

Esta equação exprime basicamente as condições de fluxo turbulento através de enrocamentos.

Através de medida de área de superfície, em rochas de tamanho único e isentas de finos


(W=33), foram determinados valores para os raios hidráulicos apresentados na Tabela 8.1.

Tabela 8.1 Raio hidráulico dos vazios para enrocamentos

Tamanho dos Blocos M M0,5 W. M0,5


(polegada) (polegada) (polegada0,5) (polegada/seg)
¾ 0,09 0,30 10
2 0,24 0,49 16
6 0,75 0,87 28
8 0,96 0,98 32
24 3,11 1,76 58
48 6,43 2,54 84

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As principais limitações para as fórmulas de fluxo turbulento, desenvolvidas, para


enrocamentos uniformes, está ligada a dificuldade de medir ou determinar o raio hidráulico
dos vazios dos enrocamentos bem graduados.

8.2.2 Redes de fluxo

As redes de fluxo turbulento, devido às flutuações de velocidade, requerem novos conceitos


para as equipotenciais e linhas de fluxo. No caso de uma linha de fluxo, ela não é a única e
deve ser entendida como média na representação do caminho do fluxo (fluxos
bidimensionais).

A Figura 8.3 mostra uma rede de fluxo turbulento para dois quadrados adjacentes, localizados
no mesmo canal de fluxo. As relações entre os lados dos mesmos guardam a seguinte
proporção:

n
l1  h1 
    n  1,85 (8.11)
l2  h2 

Como no fluxo laminar, no regime turbulento, entre duas equipotenciais sucessivas existe a
mesma perda de carga.

N.A.

h
1,85
 l1   b1  h
     b1 l1
 l2   b2  l2 h
b2
h

h

Figura 8.3 Redes de fluxo turbulento em enrocamentos

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8.3 Fluxo através de fissuras

Os problemas de percolação dos fluidos em meios fissurados e em particular, em rochas


fissuradas, são ainda pouco conhecidos e bastante complexos.

O termo fissura é considerado no seu sentido mais amplo, englobando todas as aberturas dos
maciços rochosos, independente de sua orientação geológica: juntas de estratificação, de
xistosidade, diáclases, falhas, etc. Fissuras, mesmo que muito finas, conferem aos maciços de
fundação anisotropias hidráulicas e sem dúvida coeficientes de permeabilidade superiores a da
matriz rochosa.

A seguir são apresentados os princípios que regem o fluxo através de maciços rochosos.

a. Maciços sem fissuras


Neste caso são aplicáveis as leis de escoamento nos meios porosos. As
permeabilidades dos maciços rochosos são muito pequenas, da ordem de 10 -7cm/s a 10-11cm/s,
dependendo na natureza dos mesmos. No entanto, como a escala de problemas de percolação
em barragens atinge até dezenas de metros, são raros os casos em que os maciços rochosos
não são fissurados.

b. Fissuras elementares
Considerando-se fissuras abertas, sem preenchimento, com eventuais contatos das
paredes. Nas rochas as fissuras são caracterizadas por alto valor de rugosidade relativa K/Dh,
onde K é a rugosidade relativa e Dh o diâmetro hidráulico igual ao dobro da abertura da
fissura. As variações relativas a abertura da fissura são, portanto, muito importantes.

As leis de escoamento numa fissura elementar são:

V  Kf  Jf
Regime Laminar (8.12)
Regime Turbulento V  K ' f  J f (8.13)

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Onde:
V: velocidade média do escoamento;
Kf, K’f : condutividade hidráulica;
Jf : projeção do gradiente hidráulico sobre o plano da fissura;
 : coeficiente de não linearidade, variando lentamente de 1,0 a 0,5 quando o número
de Reynolds passa de 100 (limite de fluxos laminar/turbulento) para 2000.

c. Sistema de Fissuras
Basicamente o que se deseja determinar é a condutividade hidráulica do sistema de
fissuras para a aplicação nas fórmulas de escoamento laminar e/ou turbulento.

V KJ (8.14)

Para um sistema de fissuras contínuas:

e
K  K f  Km (8.15)
b

Onde:
Kf : Condutividade hidráulica da fissura;
Km : Condutividade hidráulica do maciço;
e : Abertura média das fissuras;
b : Espaçamento médio das fissuras.

Uma aplicação numérica mostra nitidamente que um sistema de fissuras contínuas, mesmo
muito delgadas, pode ter condutividades hidráulicas muito elevadas. Na realidade estes
valores teóricos de condutividade hidráulica são mais baixos, pois em geral a extensão das
fissuras é limitada, sendo no seu plano descontínuas.

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8.4 Controle da percolação através dos maciços compactados e fundações

Os projetos de estruturas para o controle de percolação têm como objetivos principais à


redução da quantidade de percolação, minimização ou controle dos gradientes de saída e,
redução da linha de saturação no espaldar de jusante e nível de sub-pressões na fundação.

Basicamente existem dois tipos de soluções:

Soluções de Drenagem: Filtros inclinados ou verticais, filtros drenos horizontais, poços de


alívio, trincheiras de drenagem.

Soluções de Impermeabilização: Tapetes impermeáveis, trincheiras de vedação diafragmas


plásticos, paredes diafragma, cortinas de injeção.

Como regra geral as soluções de impermeabilização devem ser apenas consideradas à


montante e as de drenagem à jusante. Estas soluções em geral são consideradas de forma
combinada.

8.4.1 Projeto de filtros

A função básica dos filtros é prevenir fenômenos de erosão regressiva ocasionados por forças
de percolação internas, rupturas hidráulicas e trincas ocasionadas por deformações
diferenciais no corpo da barragem.

Os materiais para filtro devem satisfazer os seguintes critérios aparentemente antagônicos:

a. Piping – os vazios dos filtros devem ser suficientemente pequenos para impedir que
partículas do solo, que se deseja proteger, migrem através dos filtros.

b. Permeabilidade – os vazios dos filtros devem ser suficientemente grandes para permitirem
a passagem livre do fluxo e, desta forma, possibilitar o controle de sub pressões.

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Existem regras empíricas para o dimensionamento dos filtros. Considerando Dn: o diâmetro
do filtro em que n% em peso tem diâmetro menor, e dn diâmetro do material a ser protegido
em que n% em peso tem diâmetro menor. Abaixo são listados alguns critérios para o
dimensionamento de filtros.

Critério de Terzaghi
D15
Piping 4 (8.16)
d85

D15
Permeabilidade 4 (8.17)
d15

Sherard
D15
Piping 5 (8.18)
d85

D15
Permeabilidade 5 (8.19)
d15
e D5 > 0,074mm

As curvas do material de base e filtro são aproximadamente paralelas. Máximo tamanho da


partícula do material de filtro igual a 3” para prevenir segregação.

USBR
- Solos não coesivos e solos uniformes
D50
5  10 (8.20)
d50
- Solos bem graduados, partículas arredondadas do material de filtro
D50
12   58 (8.21)
d50
D15
12   40 (8.22)
d15

- Solos bem graduados, partículas angulares do material de filtro

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D50
9  30 (8.23)
d50
D15
6  18 (8.24)
d15
D5 > 0,074mm e D100 < 3”
O solo uniforme é aquele que D95 < 8 x D5 (aproximadamente)

Estas regras empíricas são válidas geralmente para solos não coesivos. Para solos coesivos
representam critérios conservadores, parecendo mais lógico, caso se deseje aplicar os critérios
de filtro, executar ensaios de granulometria sem defloculante, utilizando como dispersante
apenas água.

8.4.2 Projetos de drenagem interna

No projeto de drenagem interna, diferentes elementos devem ser projetados para a


funcionalidade do sistema, adicionalmente alguns cuidados devem ser tomados para garantir a
segurança das obras. Entre estes elementos temos os filtros tipo chaminé, os drenos
horizontais, o dimensionamento hidráulico e a avaliação dos fatores de segurança, assim
como a determinação da capacidade de drenagem dos elementos. Estes fatores são discutidos
com mais profundidade a seguir.

a. Filtros Chaminé (Vertical ou Inclinados)

O objetivo básico deste filtro é prevenir o carregamento do material, no sentido montante e


jusante, através de eventuais trincas que se processem quer por rupturas hidráulicas, quer por
deformações diferenciais.

Estes filtros têm função “cicatrizante” e desta forma podem ser projetados com mínima
largura construtiva uma vez que, normalmente, sua capacidade de vazão é grande em relação
à vazão de percolação através do maciço compactado. Atualmente, com o emprego de formas
deslizantes, na construção destes filtros, tem-se chegado a larguras de 0,80 m.

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b. Filtros – Drenos Horizontais

No sistema de drenagem interna o filtro-dreno horizontal, tem papel fundamental. Sua função
basicamente é não só impedir carregamentos do material de fundação, bem como promover a
drenagem das águas de percolação através da fundação e do maciço compactado.

- Dimensionamento Hidráulico

Existem duas formas para o dimensionamento dos filtros drenos horizontais:

A primeira consiste em dimensionar a espessura do dreno para escoar o volume de percolação


previsto sob determinadas condições de carga hidráulica, com base na lei de Darcy.

Já a segunda determina a espessura necessária de filtro com base em análise de percolação


através do conjunto aterro-fundação-filtro.

No primeiro caso apresentado na Figura 8.4a, pode-se utilizar a fórmula geral seguinte:

K h2
Q (8.25)
2L

Onde:
K : Permeabilidade do filtro;
h : Altura da linha de saturação no limite montante do filtro-dreno é igual à espessura
do filtro;
L : comprimento do filtro;
Q : Vazão total pelo maciço e fundação.

Três hipóteses estão envolvidas nesta fórmula:


- A área drenante tende a zero na saída do dreno;
- A linha de saturação não se eleva acima da superfície superior do tapete;
- O fluxo d’água (vazão total do maciço e da fundação) penetra inteiramente através
do limite de montante do tapete.

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A primeira hipótese pode ser reformulada através da seguinte equação:

Q

K h2  h j
2
 (8.26)
2L

Onde:
hj : carga hidráulica na saída do filtro.

Esta formulação é conservativa, pois não admite saturação do maciço. Em geral pode ser
admitido que o filtro-dreno trabalhe sob carga hidráulica, de tal forma que se mantenham
ainda baixos os gradientes hidráulicos no filtro, como estabelecidos nas Figuras 8.4b e 8.4c.

Desta forma podem ser utilizadas as Equações (8.27) e (8.28) para uma destas condições
respectivamente:

h
Q KA (8.27)
L

Q
K
2L

2 A  h  A2  h j 2  (8.28)

A vantagem de o filtro trabalhar em carga é a de proporcionar melhores condições para a não


colmatação de origem geoquímica, além de permitir espessuras mais econômicas do filtro.

- Fatores de Segurança

Em projetos convencionais de filtros e drenos é comum a adoção de fatores de segurança em


relação à vazão. Estes fatores de segurança em geral variam de 10 a 100 vezes. Justificam-se
tão altos valores de coeficiente de segurança devido às seguintes apreciações:
 Incerteza com relação às permeabilidades dos materiais notadamente da fundação;
 As permeabilidades variam em escala logarítmica;
 Heterogeneidade tanto dos materiais de maciço quanto da fundação;

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 Incertezas com relação a colmatação dos filtros;


 Correções do sistema de drenagem interna são difíceis e onerosas;
 Incertezas com relação ao fluxo através da rocha;
 Incertezas com relação aos fluxos tridimensionais.

K h2 hj
Q h=A Q
2L

L
(a)

h
Q KA h
L
A Q

L
(b)
Q
K
2L

2 A  h  A2  h j 2 
h hj
Q A

L
(c)

Figura 8.4 Determinação da espessura do filtro-dreno horizontal

Considerando todas as incertezas envolvidas, o conservadorismo no projeto de barragens deve


ficar por conta dos filtros e drenos.

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- Capacidade drenante do filtro

Quanto menor a capacidade drenante dos filtros mais alta será a linha de saturação, levando
portanto ou a menores coeficientes de segurança do talude de jusante ou ao abrandamento
destes taludes. A Figura 8.5 ilustra a variação da linha de saturação em função da capacidade
drenante do tapete horizontal.

N.A.

Linha de saturação

Figura 8.5 Esquema de filtro-dreno horizontal

O aumento da capacidade de drenagem pode ser conseguido pela utilização de tubulações


perfuradas no interior do tapete drenante. No entanto este procedimento pode ocasionar
problemas consideráveis, devido aos riscos de trincas ou rupturas de tais tubulações, perante
carregamentos não uniformes e deformações diferenciais.

Outra forma de se aumentar a capacidade drenante é a utilização de filtros tipo “sanduíche”


(Figura 8.5). Por exemplo com a utilização de filtros de areia de 2,0m de espessura (k = 10-2
cm/seg), a vazão por centímetro que percola é de 2 i cm3/seg.cm. Num filtro sanduíche
contendo uma camada de brita (k = 1cm/seg) de 0,20m para o mesmo gradiente hidráulico a
vazão é de 20 i cm3/seg.cm.

Desta forma, a utilização dos filtros sanduíche pode representar a diminuição das espessuras
de filtro e conseqüentemente de seu volume.

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Uma desvantagem da utilização de filtros tipo sanduíche é o fato de que para a total segurança
dos mesmos é necessário que os materiais que os compõem obedeçam aos critérios de filtro, o
que leva geralmente a um aumento de espessura teórica em função da maior quantidade de
materiais. No entanto, as análises técnico-econômicas, para a decisão do tipo do filtro a
considerar, devem também computar os benefícios trazidos pelo aumento da capacidade de
vazão.

8.4.3 Sistema de alívio de sub-pressões

Os sistemas de alívio de sub-pressões mais comumente utilizados são as trincheiras de


drenagem e poços de alívio, como apresentados na Figura 8.6a e 8.6b.

As sub-pressões no pé da barragem tendem a se elevar no caso de existência de camadas


menos permeáveis na superfície, bloqueando a saída natural de fluxo e forçando o aumento de
carga hidráulica na camada mais permeável (efeito aqüífero). Este aumento de pressão pode
ser de tal ordem que produza um levantamento na região do pé da barragem (“blowup”).

O coeficiente de segurança ao levantamento na região do pé da barragem deve ser no mínimo


1,5. O fator de segurança é definido como sendo a relação entre o esforço vertical total e a
pressão neutra no ponto considerado.

Outra solução para este tipo de problema é o aumento de peso no pé da barragem pela
construção de bermas, como ilustrado também na Figura 8.6c. De preferência estas bermas
devem ser feitas totalmente com material drenante ou no mínimo com material drenante junto
ao terreno natural.

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N. A.
Berma para estabilização do pé
da barragem
Linha de subpressão AB Filtro

A Solo Impermeável Solo Permeável B

Base Impermeável

(a)
N. A.

Linha de subpressão AB Linha de subpressão AB


com trincheira Filtro

A Solo Impermeável Solo Permeável B

Base Impermeável
(b)
N. A.

Linha de subpressão AB Linha de subpressão AB


com o poço de alívio
Filtro

Solo Impermeável Solo Permeável


A B

Base Impermeável
(c)

Figura 8.6 Controle de sub-pressão

- Trincheiras drenantes

A capacidade drenante da trincheira deve ser tal que a linha de carga hidráulica na mesma não
ultrapasse o terreno natural. O cálculo da capacidade drenante da trincheira pode ser feito
utilizando-se as equações de Darcy para filtros ou de Wilkins para filtros grossos de brita e
enrocamento.

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Para aumentar a capacidade drenante podem ser usadas tubulações perfuradas no interior da
trincheira. Cuidados especiais devem ser tomados no projeto das trincheiras, com relação aos
materiais de filtro, uma vez que a trincheira é uma região de convergência de fluxo e
conseqüentemente de altos gradientes de entrada.

Tem sido muito utilizadas mantas de material sintético tipo Bidim como filtro para os
materiais mais grossos. A Figura 8.7 apresenta algumas seções transversais de trincheiras
drenantes.

Pé da Barragem

Tubulação Perfurada

Camada Impermeável
Brita
Pedrisco

Aqüífero Filtro de Areia

Figura 8.7 Detalhes esquemáticos de trincheiras drenantes

- Poços de alívio

Os poços de alívio em barragens de terra são normalmente utilizados junto ao pé da barragem.


Como recomendação de ordem prática, os poços de alívio devem ter, no mínimo, 6” de
diâmetro e a máxima penetração possível na camada permeável.

Vale acrescentar que é conveniente para aumentar a capacidade de vazão nos poços de alívio,
manter-se um tubo interno de no mínimo 2”. O preenchimento total dos poços com materiais
de filtro reduz substancialmente sua capacidade de vazão.

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Em projetos de barragens de terra é comum a adoção de um espaçamento inicial entre poços


de 10 a 20m, e posteriormente, no primeiro enchimento do reservatório diminuir este
espaçamento onde necessário.

A Figura 8.8 apresenta alguns detalhes do poço de alivio.

Brita Tubo de PVC

Solo Impermeável

Lama Bentonítica

Aqüífero Areia

Figura 8.8 Detalhes esquemáticos de poços de alívio

8.4.4 Tapetes de impermeabilização a montante

Os tapetes de impermeabilização são utilizados na redução das vazões de percolação,


gradientes hidráulicos e sub-pressões, pelo aumento do caminho de percolação.

O cálculo da espessura de tapete pode ser feito a partir do traçado de redes de fluxo ou através
de formulações matemáticas.

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O inconveniente da utilização de tapetes está no fato de que trincas por ressecamento durante
a fase construtiva ou por deformações diferenciais pelo enchimento do reservatório são muito
comuns e reduzem substancialmente sua eficiência.

A Figura 8.9 apresenta um esquema da disposição do tapete a montante.

N.A.
Poço de
alivio
Camada de areia protetora

Tapete Impermeável
Fundação Permeável

Base Impermeável

Figura 8.9 Detalhe esquemático de um tapete de impermeabilização a montante

8.4.5 Trincheira de vedação (“cut-off”)

As trincheiras de vedação constituem-se na estrutura de redução das vazões de percolação


mais utilizadas nas barragens brasileiras em casos de fundação em solo.

Apresenta as seguintes vantagens:


 É um elemento adicional para as investigações geológico – geotécnicas;
 Permite uma boa execução do preparo superficial da base e paredes da trincheira;
 Permite na escavação e construção, a utilização de equipamentos construtivos
convencionais.

O principal inconveniente que as trincheiras de vedação apresentam é quando existem níveis


de água altos, o que exige utilização de drenagem para a execução da escavação (ponteiras,
poços de bombeamento e trincheiras de drenagem, etc).

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As trincheiras de vedação devem ser localizadas a montante do eixo da barragem e,


preferencialmente, nas regiões onde apresenta maior altura para incorporar uma redução de
permeabilidade do solo de preenchimento, por efeito da pressão vertical.

A largura na base das trincheiras deve ser da ordem de 0,10 a 0,30H, onde H é a carga
hidráulica total do reservatório.

Cuidados especiais devem ser tomados na base (cut-off parciais) e nas paredes de jusante da
trincheira para evitar-se carregamento do material de preenchimento da trincheira para a
fundação, uma vez que os gradientes hidráulicos no “cut-off” são elevadíssimos por ser este
um trecho de concentração de perdas de carga.

Estes cuidados devem ser tomados em fundações fraturadas ou que contenham vazios não
preenchidos. A Figura 8.10 apresenta um detalhe de uma trincheira de vedação.

N.A.

Tratamento
superficial

Areia
0,10 a 0,30 H Base Impermeável

Figura 8.10 Detalhe esquemático de uma trincheira de vedação

8.4.6 Outros tipos de estruturas para a redução da vazão de percolação

Outras soluções para a redução das vazões de percolação são:


 Diafragmas plásticos ou de concreto;

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 108


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 Cortinas de estacas pranchas;


 Cortinas de injeções;

Os dois primeiros tipos de estruturas têm sido utilizados nos Estados Unidos e na Europa com
bastante freqüência. No Brasil, por critérios econômicos, eles têm sido preteridos.

Quanto às cortinas de injeção são descritas com detalhe em um capítulo específico.

8.5 Controle de percolação em enrocamentos

Os fluxos através de enrocamentos provocam dois tipos de rupturas nos taludes que podem
ser catastróficos.

 Rupturas locais provocadas por arraste dos blocos devido às forças de percolação.
 Rupturas gerais por instabilização do talude, segundo superfícies aproximadamente
circulares devido às pressões neutras que se desenvolvem.

Alguns casos históricos de fluxo através de enrocamentos e medidas de controle são


encontrados na bibliografia.

Basicamente as soluções para a estabilização de seções de enrocamento estão relacionadas


com a suavização do talude de jusante, aumento das dimensões dos blocos e/ou utilização de
malhas e ancoragens de aço para reforço do talude.

8.5.1 Estabilização dos taludes

Um talude construído próximo a seu ângulo de repouso (), quando submetido à percolação,
torna-se instável, a menos que o mesmo seja abatido (w),

b
w  (8.29)

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Onde:
b : Peso específico submerso do material;
 : Peso específico do material.

No caso de estabilização dos taludes, o projetista possui dois caminhos a seguir.

 Abater os taludes especificando um enrocamento adicional no pé da estrutura;


 Prover o talude original com um sistema de ancoragem que suporte as tensões que
seriam absorvidas pelo enrocamento adicional.

O dimensionamento da ancoragem pode ser feito pelo equilíbrio de forças.

T  W  U  tg  (8.30)

Onde:
W : peso da cunha a ser estabilizada;
U : poro pressão atuante na base da cunha;
T : Força que tem que ser fornecida pelo sistema de ancoragem.

A força T precisa ser transmitida ao longo da superfície de descarga e embora sua distribuição
não seja conhecida, é razoável esperar-se uma distribuição uniforme, pois a ancoragem
funciona como um todo.

8.5.2 Estabilização dos taludes em função do tamanho dos blocos e vazões de descarga

Diferentes experiências têm determinado de forma experimental a relação entre o tamanho


dos blocos e a vazão permissível para garantir a estabilidade da estrutura. Tudo isto em
função das condições de estabilidade do material, como inclinação do talude de jusante e o
grau de compacidade, fofo ou denso. A Tabela 8.2 contém um resumo destas relações.

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Tabela 8.1 Estabilização dos taludes em função do tamanho dos blocos e vazões de descarga

Talude Jusante Tamanho dominante Vazão permissível (m3/s /m)


(H:V) dos blocos (mm) Fofo Denso
1,5:1 600 0,37 0,93
1,5:1 1200 1,40 3,72
1,5:1 1500 1,86 5,11
5:1 300 0,46 1,39
5:1 600 1,86 5,11
5:1 900 3,25 8,83
5:1 1200 5,11 13,94
5:1 1500 6,96 18,58
10:1 300 1,39 3,72
10:1 600 4,18 11,15
10:1 900 7,43 20,44
10:1 1200 11,15 30,66
10:1 1500 15,79 43,66

8.5.3 Considerações gerais

A aplicação das teorias de fluxo em enrocamentos bem como as soluções para controle destes
fluxos têm sido adotadas com sucesso em vários países, principalmente, em barragens sem
sistema de extravasamento e que, portanto, podem ser susceptíveis a “overtopping” e fluxos
através do enrocamento de jusante.

Ensecadeiras de fechamento de rios também são submetidas a fluxos internos ao


enrocamento, notadamente, quando o órgão de desvio está situado em cotas mais altas que o
nível d’água do rio, na época de desvio. Nestes casos, como o enrocamento das ensecadeiras é
lançado, os taludes externos são da ordem 1,3H:1V e não é possível adotar nenhum sistema de
ancoragem e armação do enrocamento. A estabilização deve ser feita apenas considerando o
aumento de diâmetro dos blocos em função da máxima vazão permitida através do
enrocamento.

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A utilização de armação e ancoragem para enrocamentos deve considerar a vida útil da obra.
Em estruturas definitivas deve-se considerar proteções para as malhas e ancoragem contra a
corrosão, tais como: tinturas, proteção catódica e malhas e ancoragens de metais não ferrosos
ou aço inoxidável.

8.6 Verificação do comportamento das barragens de terra e enrocamento em face aos


problemas de percolação

Do ponto de vista de percolação, o comportamento de barragens pode ser verificado através


de uma instrumentação adequada, como piezômetros e medidores de vazão, nas regiões mais
críticas.

Os resultados obtidos fornecem subsídios para:


 Reavaliar a segurança da obra em qualquer fase de seu funcionamento;
 Tomar medidas oportunas de controle;
 Verificar as hipóteses originais de projeto.

Infelizmente apesar de muitas barragens brasileiras terem sido instrumentadas, poucos


resultados e avaliações desses resultados, em confronto com as hipóteses admitidas em
projeto, foram publicados, o que tem dificultado o avanço das teorias de percolação em solos
residuais e saprolitos.

A quantidade de dados de instrumentação existentes sem a devida análise é enorme. Este


problema, no entanto, é bastante complexo pois envolve um custo adicional que normalmente
não tem sido dispendido. Atualmente, existe uma movimentação por parte dos donos de obras
no sentido de solucionar este problema.

De parte dos projetistas é necessário que no final de cada projeto de instrumentação sejam
fornecidas todas as informações relativas aos parâmetros de cálculo, às hipóteses de projeto,
aos níveis piezométricos máximos admitidos e níveis prováveis e às vazões de percolação
esperadas.

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CAPÍTULO 9
9. FUNDAÇÕES EM SOLO

A construção de barragens sobre solos que apresentam características geotécnicas


desfavoráveis, como baixa resistência, altas permeabilidade e compressibilidade, e
colapsibilidade, constitui um dos mais sérios problemas da engenharia de barragens. O
problema começa com a dificuldade de se formular um modelo geotécnico que corresponda à
realidade e termina com a necessidade de se adotar soluções que sejam as mais econômicas
possíveis, sem que haja o comprometimento da segurança da obra.

É um problema comum, pois as barragens devem fechar vales ou baixadas onde, em geral,
ocorrem formações geológicas constituídas de solos moles, compressíveis e permeáveis.

No projeto de uma grande barragem, dificilmente a solução será o abandono do local de


barramento por falta de condições adequadas de fundação, a menos que haja um local
próximo, com condições nitidamente melhores e com indiscutível vantagem econômica.
Pode-se mesmo afirmar que é perfeitamente possível construir uma barragem de terra sobre
quase todo os tipos de fundações, desde que o projeto se adapte convenientemente às
condições oferecidas pelo sítio. Neste caso, é a análise econômica das diversas alternativas,
concebidas com o intuito de contornar os problemas apresentados e garantir a funcionalidade
e a segurança da barragem, que apontará a solução definitiva do projeto. Caberá, então,
otimizar, técnica e economicamente, a solução adotada.

Embora possa haver superposição de duas ou mais características desfavoráveis dos solos de
fundação, serão aqui apresentadas três condições que, didaticamente retratam toda a
problemática envolvida.

a. Fundação em solos permeáveis – areias e cascalhos, onde interessa analisar a


quantidade de água perdida por percolação e a grandeza das forças de percolação.
b. Fundações em solos moles – argilas, areias argilosas e siltes argilosos, onde interes
assegurar a estabilidade contra a ruptura por cisalhamento e evitar o aparecimento de
trincas no maciço, devidas a recalques excessivos.

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c. Fundações em solos porosos e colapsíveis – de elevada porosidade volumétrica e


baixo grau de saturação, onde interessa evitar ou minimizar os efeitos dos recalques
instantâneos desses materiais.

9.1 Fundação em solos permeáveis

Na engenharia civil, ao se tratar de problemas resultantes da presença inconveniente de água,


muitas vezes inevitável, deve-se ter sempre presente dois preceitos elementares que orientem
sua solução.

 Evitar, tanto quanto possível, que a água penetre na região onde é indesejável;
 Facilitar, até o “impossível”, a sua saída dessa região.

Em projetos de barragens, para atender ao primeiro preceito, costuma-se adotar elementos ou


medidas que visem a “impermeabilização” da fundação, como por exemplo: substituição do
material permeável ou construção de trincheiras vedantes, cortina de estacas-prancha, paredes
diafragma e tapetes impermeáveis a montante. Para atender ao segundo preceito é usual
utilizar-se tapetes drenantes associados a filtros de pé, trincheiras drenantes e poços de alívio.
Nestes casos o objetivo é minimizar os efeitos, elevadas vazões e sub-pressões, da presença
de água no trecho de jusante das fundações da barragem.

Os métodos para o controle da percolação através das fundações de uma barragem podem ser
classificados pelo próprio efeito que tem sobre a percolação:

 Eliminando-a, ou reduzindo-a a valores desprezíveis, através da construção de


“barreiras impermeáveis completas” até o horizonte impermeável;
 Reduzindo-a, mediante a construção de uma “barreira impermeável incompleta” que
aumente as linhas de fluxo, proporcionando o aumento de perda de carga e redução
das sub-pressões, do gradiente hidráulico e da vazão;
 Apenas controlando-a, mediante a construção de drenos, método este praticamente
imprescindível e que pode ser associado aos dois anteriores.

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Antes de 1940, quase todas as grandes barragens fundadas em solos permeáveis foram
construídas com o primeiro método. Ainda hoje, a maioria das barragens é assim projetada,
mas de lá para cá, um número crescente de barragens tem sido fundadas diretamente sobre
solos permeáveis, em locais onde a construção de barreiras impermeáveis completas seria
extremamente onerosa.

Dentro do primeiro método, quatro tipos de obras podem ser utilizadas, elas são:

a. Trincheiras impermeáveis (“cut-offs”) – obtidas compactando-se solo impermeável


em trincheiras escavadas na fundação permeável da barragem;
b. Paredes diafragma – estruturas impermeáveis delgadas que podem ser construídas em
concreto, solo-cimento ou lama;
c. Cortinas de estaca-prancha cravadas a partir da superfície do terreno – natural ou
escavada, não exigem, ao contrário dos tipos de obras anteriores, a substituição do
material da fundação;
d. Injeções de impermeabilização.

A adoção de uma barreira impermeável completa só deve ser descartada por motivos de
ordem econômica, quando, por exemplo, a espessura da camada permeável for muito grande
em relação à base impermeável da barragem.

As cortinas de estacas-prancha metálicas são atualmente pouco utilizadas, principalmente no


Brasil, tendo em vista o alto custo dos perfis metálicos. Só constituirão solução vantajosa em
circunstâncias muito especiais.

Também as paredes de concreto têm sido cada vez menos empregadas, por serem muito caras
e por oferecerem um inconveniente muito sério, sua elevada rigidez torna o maciço da
barragem, muito menos rígido, vulnerável ao fissuramento sob efeito das deformações

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9.1.1 Soluções de Eliminação – Trincheiras impermeáveis (“cut-offs”)

A Figura 9.1 mostra uma seção típica de barragem com trincheira preenchida com solo
impermeável compactado. Esta solução tem sido mais intensamente utilizada, em vista da
evolução dos equipamentos de terraplanagem, que a têm tornado mais econômica para
profundidades cada vez maiores. Profundidades até 25 a 30 m são, hoje, perfeitamente
razoáveis.

A principal dificuldade de sua construção é dada pelo lençol freático que exige, muitas vezes,
onerosas instalações de rebaixamento, como mostrada na Figura 9.2.

N.A.

Tratamento
superficial

Areia
Base Impermeável

Figura 9.1 Trincheira impermeável

Esta solução apresenta as seguintes vantagens:


 Permite a inspeção visual tanto das paredes como do fundo da escavação;
 Permite um bom preparo superficial da base da trincheira;
 Permite o uso dos equipamentos convencionais de escavação e terraplanagem;
 Possibilita o preenchimento da trincheira com materiais selecionados, compactados
sob controle tecnológico.

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Sistema de
Bombeamento

Areia

Calha de drenantes Base Impermeável

Figura 9.2 Esquema da escavação abaixo do lençol freático

A trincheira impermeável é em geral posicionada sob a crista da barragem, onde a maior


compressão, proporcionada pelo peso do aterro, aumenta sua eficiência. Porém, sua posição
poderá ser condicionada pela geometria do topo impermeável, ou seja, deverá situar-se de
forma a minimizar as escavações. Em barragens de enrocamento com núcleo de argila ela
deverá estar, obrigatoriamente, sob a base do núcleo impermeável.

9.1.2 Soluções de Eliminação – Paredes diafragma

Dentre as paredes diafragmas destacam-se os diafragmas plásticos, constituídos por materiais


deformáveis, que se compatibilizam melhor com o maciço da barragem, tornando-o menos
susceptível ao trincamento.

A Figura 9.3 ilustra o efeito de trincamento provocado por um elemento rígido inserido na
fundação, sob o maciço da barragem.

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N.A.

Elevadas tensões de
compressão

Trincas abertas

Aluvião
Parede de concreto

Base Rígida

Figura 9.3 Trincamento provocado por um elemento rígido de parede diafragma

Esse método consiste em preencher com concreto plástico uma trincheira, aberta com
utilização de lama bentonítica.

A lama bentonítica tem a finalidade de manter a estabilidade das paredes da trincheira,


atuando duplamente: oferece um grande empuxo estabilizador, proporcionado pela sua alta
densidade, aproximadamente 12 kN/m3, e impermeabilizando as paredes da escavação,
impossibilitando a formação de uma rede hidrodinâmica desfavorável. Além disso, a lama
bentonítica serve de veículo ao transporte do material escavado.

O concreto plástico é obtido mediante a adição de colóides argilosos (argila natural ou


bentonítica), cuja dosagem deve ser controlada por ensaios de laboratório.

Os diafragmas plásticos são, em geral, executados em painéis com cinco metros de


comprimento (5m), em espessuras de 0,50 a 1,50m e podem atingir valores da ordem de
10-6 mm/s.

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As trincheiras de lama foram pela primeira vez utilizadas em obra permanente na barragem de
Wanapum, construída nos Estados Unidos, em 1958. Essas trincheiras são executadas com o
mesmo processo anterior, porém, em um único painel contínuo, preenchido com lama
plástica, obtida pela mistura de solo com bentonita.

Na barragem de Wanapum, o material de fundação era construído por um depósito aluvionar


de areias, pedregulhos e cascalho com permeabilidade média estimada em 10mm/s.

Os estudos indicaram que a execução de cortina com estacas-prancha ou de uma trincheira


impermeável teriam custo muito elevado. Após testes bem sucedidos de execução no campo a
trincheira de lama foi construída, com 3m de espessura até a profundidade de 25m. Em alguns
trechos, onde a espessura do aluvião era superior a 25m, a camada inferior remanescente foi
injetada com solo-cimento.

A lama foi obtida pela mistura do material escavado, bentonita utilizada na escavação e 15% a
20% de silte natural, obtido de área de empréstimo.

Ensaios de laboratório sobre corpos de prova indicaram permeabilidade de 10 -6 mm/s.

As trincheiras de lama oferecem as seguintes vantagens: grande deformabilidade,


continuidade da cortina, boa eficiência, facilidade de execução abaixo do lençol freático,
inclusive em cascalho.

Em contra-partida tem os seguintes inconvenientes: limitação da profundidade, dificuldades


de atravessar materiais compactos ou duros, impossibilidade de engastamento em rocha
alterada e pequena resistência.

9.1.3 Soluções de Eliminação – Injeções de impermeabilização

Até 40 anos atrás, as injeções de cimento eram utilizadas apenas para reduzir a percolação
através de maciços rochosos fraturados. Injeções químicas que pudessem ser executadas em

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depósitos de areia eram muito dispendiosas e as tentativas com betume revelaram-se


extremamente desvantajosas.

Engenheiros franceses iniciaram experiências com argilas e caldas para impermeabilizar


areias e obtiveram algum sucesso antes de 1950.

Por volta desse ano teve início o projeto da barragem de Serra-Ponçon, localizada nos Alpes.

A barragem, concluída em 1960, está assentada sobre um aluvião constituído de areia e


pedregulhos, entremeados por camadas e lentes de silte e argila. A permeabilidade média
desse material foi estimada em 5x10 -1 a 1mm/s. Esse depósito aluvionar foi injetado com
calda de cimento e argila, até a profundidade de 100m, em largura de 15m. Ensaios realizados
mostraram uma redução da permeabilidade para valores de 1x10-3 a 5x10-4 mm/s e o sucesso
do método pôde ser constatado por piezômetros instalados na fundação, imediatamente a
jusante da cortina, que indicaram apenas 2m acima do nível d’água anterior ao barramento.

As injeções se processam através de numerosas rupturas hidráulicas que permitem a


penetração da calda no aluvião, dificultando a passagem das águas de percolação. Se a
camada for homogênea, essas rupturas ocorrem segundo planos verticais, ou seja, em planos
onde atuam as menores tensões de compressão (3). A penetração da calda nessas fendas
verticais provocam uma compressão dos materiais adjacentes (Aumento de 3) tornando-os
mais compactos e menos permeáveis. As injeções em meios aluvionares têm, portanto, um
duplo efeito: aumentando o caminho de percolação, forçando a água a contornar esses
inúmeros planos injetados e diminuindo a própria permeabilidade do meio entre esses planos,
por onde deve passar a água.

O fato das injeções tornarem mais rígido o trecho de fundação tratado é uma questão que deve
ser considerada no projeto, de forma a compatibilizar as deformações do conjunto
maciço-fundação para que não ocorram trincas indesejáveis.

Depois de Serra-Ponçon este método foi utilizado, com sucesso, em várias outras barragens de
grande porte como, por exemplo:

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 Barragem de Terzaghi, no Canadá, em depósitos aluvionares, cortina de até 155m de


profundidade;
 Barragem de Sivenstein, na Alemanha, em solo aluvionar, até 90m de profundidade;
 Barragem de Assouan, no Egito, em areias finas e grossas, cortina de até 255m de
profundidade;

A redução do coeficiente de permeabilidade após as injeções é muito variável. A experiência


tem mostrado reduções que vão de 20 a 10.000 vezes.

9.1.4 Soluções de redução – Barreiras impermeáveis incompletas

Os métodos de tratamento de fundação que visam apenas aumentar o caminho de percolação,


estão, esquematicamente, apresentadas na Figura 9.4.

N.A. N.A.

“cut-off” Tapete impermeável


parcial parcial

Aluvião Aluvião

Base Rígida Impermeável Base Rígida Impermeável

(a) (b)

N.A. N.A.

Filtro Filtro Filtro


Horizontal de pé de pé

Aluvião Aluvião Poço de alivio

Base Rígida Impermeável Base Rígida Impermeável

(c) (d)

Figura 9.4 Métodos de controle de percolação pelas fundações sem construção de barreiras
impermeáveis completas

Quando a permeabilidade dos solos de fundação for praticamente a mesma em todas as


direções, sem decrescer com a profundidade, o “cut-off” parcial terá pouca influência na

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 121


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redução das vazões ou pressões. Tanto a teoria como a experiência mostram que seria
necessário penetrar em 95% da espessura total, em solos homogêneos permeáveis, para se ter
um resultado apreciável. Essa é a razão pela qual, nesses solos, apenas o “cut-off” total deve
ser considerado.

Porém, o método será muito útil em casos em que o coeficiente de permeabilidade decresce
com a profundidade, ou quando existir uma camada impermeável contínua que possa ser
atingida pela barreira impermeável (trincheira, diafragma plástico, etc.).

Para os solos homogêneos o tapete horizontal impermeável a montante, Figura 9.4b, terá
melhor eficiência na redução da percolação. Para isso, é necessário que o tapete seja muito
menos permeável que a fundação e se estenda suficientemente para montante, para reduzir as
pressões a jusante, pois estas são inversamente proporcionais ao comprimento do caminho de
percolação. A espessura e o comprimento necessários dependem diretamente do coeficiente
de permeabilidade do material que constitui o tapete, da espessura da camada permeável da
fundação, do coeficiente de permeabilidade dessa camada e da carga hidráulica do
reservatório. Espessuras de 0,6m a 3,0m têm sido freqüentemente empregadas. Costuma-se,
também, aumentar a espessura nas proximidades do pé da barragem, onde o gradiente
hidráulico é maior.

9.1.5 Soluções de controle – Controle de percolação com drenos

A percolação de água através das fundações de uma barragem pode trazer riscos a sua
segurança de formas diferentes: desenvolvendo elevadas sub-pressões sob o espaldar de
jusante, com isto diminuindo as tensões efetivas nessa região e, conseqüentemente, a
resistência ao cisalhamento do talude, ou, proporcionando elevados gradientes hidráulicos na
sua saída, podendo originar erosão regressiva (piping).

Fácil é concluir que a execução de drenos na fundação de uma barragem, se bem projetados e
construídos, constituem uma medida importantíssima para sua segurança, pois possibilita a
redução tanto da sub-pressão a jusante, como do gradiente hidráulico de saída. Os drenos são
mesmo imprescindíveis em obras de barramento.

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Na Figura 9.4c, apresenta-se um sistema com filtro horizontal sob o espaldar de jusante, e na
Figura 9.4d, poços de alívio ou trincheira drenante interceptando a camada permeável.

Um sistema de drenagem deve ser dimensionado de forma a captar o fluxo das águas que
percolam pela fundação (e pelo maciço) e conduzi-lo para jusante, de forma controlada.

O máximo cuidado deve ser tomado, tanto no projeto com na sua execução. Vários são os
fatores que intervem no dimensionamento:

a. Geometria do maciço de fundação: Espessura, profundidade, posições relativas das


camadas, existência de lentes impermeáveis ou bolsões permeáveis, etc. Para o
conhecimento deste fator as investigações de campo são extremamente importantes, e
a própria definição de um programa de sondagens, poços, trincheiras, se faz à medida
que o conhecimento geotécnico do local avança.
b. Características geológicas e geotécnicas dos materiais de fundação: permeabilidade,
anisotropia, descontinuidades, etc. Deve-se ter sempre presente que a água “sabe”
onde está o cominho mais fácil e é justamente por esse caminho que ela buscará sua
saída a jusante. Portanto, um “detalhe geológico” praticamente impossível de detectar,
por mais intensas que sejam as investigações, pode por em risco a segurança da
barragem. Daí serem as soluções planas – trincheiras drenantes e tapetes drenantes-
mais recomendáveis que as soluções pontuais – tubos e poços drenates.
c. Geometria da barragem – taludes, dimensões do núcleo impermeável, tapete de
montante etc. A geometria do maciço influi diretamente sobre o comprimento dos
caminhos de percolação.
e. Carga hidráulica. A carga hidráulica é dada pelo nível d’água do reservatório, mais
exatamente, pela diferença entre os níveis d’água de montante e de jusante, e deve ser
sempre considerada para a situação mais desfavorável, ou seja, diferença máxima
possível.

Deve-se salientar que a fundação solicita muito mais (10 a 1000 vezes) o sistema de drenagem
do que o maciço da barragem. A percolação da água é governada pela lei de Darcy que,

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 123


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mostra que a capacidade de um dreno (transmissibilidade hidráulica) é proporcional a sua área


e ao coeficiente de permeabilidade do material que o constitui.

Assim, pode-se usar materiais mais permeáveis (drenos sanduíche) para reduzir a área
drenada e conseqüentemente a qualidade do material de dreno. Esta poderia ser uma medida
que resulte em economia para a obra, mas os aspectos constitutivos devem ser
cuidadosamente analisados, por exemplo, a espessura mínima do dreno, imposta pelo próprio
método de execução, poderá já ser suficiente.

Em geral, adota-se para a seção drenante obtida nos cálculos, coeficientes de segurança de 10
a 100, dada a grande variação (ou incerteza) dos coeficientes de permeabilidade. Para drenos
horizontais é usual limitar o gradiente hidráulico a valores de 0,05a 0,15.

A vazão afluente ao dreno é determinada pelo traçado da rede de fluxo onde o método dos
elementos finitos é de grande utilidade, principalmente nos casos em que a configuração da
fundação é complexa. O método permite que se obtenha com rapidez o intervalo possível,
obtido pela variação paramétrica dos fatores intervenientes. Também, a interação entre a
barragem e sua fundação deve ser considerada como, por exemplo, a possibilidade de
ocorrência de trincas em zonas estanques provocadas por recalques diferenciais.

Obviamente, os drenos obedecem sempre os critérios de filtro já apresentados nesta apostila


(D15 < (4 a 5)d85 e D15> 5d15) e deverão ter espessuras suficientes para permitir a utilização
dos equipamentos mecânicos e que levem em conta uma certa contaminação por outros
materiais.

A granulometria do material filtrante deve ser suficientemente fina para evitar que partículas
do solo a drenar sejam carregadas para seu interior, e suficientemente grossa para que sua
permeabilidade seja significativamente maior que a do solo drenado, possibilitando o
escoamento fácil das águas.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 124


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9.2 Fundações em solos moles

Partindo-se de uma situação em que no local de barramento, já definido em função de estudos


técnico-econômicos que demonstram sua viabilidade, ocorrem solos de baixa resistência e/ou
elevada compressibilidade, o primeiro problema que se impõe é o de melhorar o
conhecimento geológico-geotécnico do local. É necessário que se obtenha um perfil do
terreno que retrate com fidelidade a situação real. Aí devem estar representadas as espessuras
das diferentes camadas, cujas características de resistência e deformabilidade serão
determinadas através de ensaios “in-situ” e em laboratório.

As soluções técnicas discutidas passarão pelo crivo de uma análise econômica que apontará a
melhor solução. É, portanto, muito importante que as diversas alternativas estejam
“homogeneizadas” quanto à segurança e ao funcionamento das obras. O engenheiro projetista
deverá conhecer as implicações de cada uma delas, desde a adoção dos parâmetros
geomecânicos das fundações, passando pelo método teórico de cálculo, até a fase de
construção, de forma a atribuir-lhes justo valor no processo de escolha.

Uma alternativa que se impõe, quase como obrigatória, é a de remover totalmente os solos
que não oferecem condições adequadas de fundação. Porém, desde que se possa conviver com
esses solos, ou com parte deles, dentro dos critérios usuais de segurança, isto nem sempre é
economicamente vantajoso.

No estudo de fundações em solos moles, dois aspectos, em geral interligados, devem ser
considerados: ruptura de base e recalques excessivos.

A ruptura de base consiste no deslizamento de material da fundação e do aterro com


levantamento a uma certa distância. Ocorre quando as tensões cisalhantes, provocadas pelo
peso do aterro, igualam a resistência ao cisalhamento. Isto acontece ao longo da superfície
aproximadamente cilíndrica através do conjunto maciço-fundação.

Em geral, as análises de estabilidade dos taludes seguem o conhecido método de Fellenius e


suas variantes como o método de Bishop, por exemplo. Pode-se também partir de

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 125


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considerações de capacidade de carga aplicando as teorias de plasticidade (Prandtl, Therzaghi,


Housel) ou a teoria da elasticidade (Boussinesq, Newmark e outros).

Quanto ao aspecto de recalques excessivos, devem ser estudados tanto os recalques (totais,
diferenciais e diferenciais específicos) como o tempo em que os mesmos deverão processar-
se.

Os recalques de fundação, ocorrendo de maneira desuniforme de ponto para ponto, seja em


função da desigualdade das tensões aplicadas, seja em função de mudanças do próprio
material, resulta em tensões adicionais que podem levar à ruptura da barragem.

No que se refere ao tempo de recalque, é desejável que a maior parte deste ocorra até o final
da construção, razão pela qual pode-se, em alguns casos, acelerar o processo de adensamento
mediante sobrecargas ou drenos de areia.

Muitas vezes o solo mole é constituído por argilas sensíveis de baixa plasticidade e baixa
resistência ao cisalhamento no ensaio rápido. Nestes casos, os resultados de ensaios de
laboratório são geralmente falseados pelo inevitável amolgamento das amostras, levando os
resultados a erros apreciáveis.

Faz-se então necessária a realização de ensaios “in situ” que permitam avaliar a resistência do
solo a diversas profundidades, principalmente pretende-se adotar soluções tais como bermas
de equilíbrio, ritmo lento de construção ou drenos verticais de areia.

Mais uma vez, convém ressaltar que, na programação das investigações do sub-solo no local
de barramento, é preciso ter em conta que qualquer custo adicional, para determinar
elementos úteis ao projeto, é sempre muito menor que o preço de eventuais medidas
corretivas posteriores.

A seguir são apresentadas algumas soluções típicas de projeto e métodos construtivos para
fundações em solos moles.

a. Remoção do material mole e sua substituição total ou parcial por aterro compactado.

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Neste caso poderão ser empregados vários métodos construtivos tais como: escavação
mecânica, remoção por bombas de sucção, deslocamento por jatos d’água e deslocamento
pelo peso do aterro.

A remoção parcial é indicada quando o solo apresenta um aumento de resistência e


redução da compressibilidade com a profundidade.

b. Lançamento do aterro sobre o solo mole:


- Adensamento normal: Se a barragem for construída em seu ritmo normal, deve-se esperar
elevadas pressões neutras na fundação. Pode-se, então, abater os taludes da barragem ou
construir bermas de equilíbrio.
- Construção demorada: Se o cronograma de implantação do projeto permitir pode-se
adotar um ritmo lento de construção ou construção por etapas.
- Adensamento acelerado: Neste caso, como a intenção é antecipar a ocorrência dos
recalques, pode-se sobrecarregar a fundação mediante o alteamento do aterro, desde que
as pressões neutras na fundação não ponham em risco a estabilidade do aterro. Pode-se
também executar drenos verticais de areia, para acelerar um processo de adensamento
típico.

Convém lembrar que é de extrema importância o acompanhamento da construção do aterro


mediante instalação de instrumentos que permitam a observação do comportamento da obra,
principalmente de piezômetros e medidores de recalques. Uma instrumentação adequada
possibilita, se necessário, a adoção de medidas corretivas que garantam a segurança da obra,
além de fornecer dados de grande valia para projetos futuros que apresentem problemas
análogos.

Na Figura 9.5 é apresentado o resultado da construção por etapas de um aterro em Senaca


Lake- New York. Após alcançar certa altura, a construção do aterro foi interrompida por 6
meses e retomada com redução da velocidade. Com isto foi possível manter o coeficiente de
segurança acima de 1,25, quando em velocidade normal conduziria a valores quase iguais a
1,0.

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Normal
Altura da Barragem (% de H)

100

50
Velocidade Lenta

0
t (meses)

2,0
Velocidade Lenta Normal
Coeficiente de Segurança

1,0
FS mínimo
1,25

0,5
0 20 40 60 t (meses)
Tempo Decorrido (Meses)

Figura 9.5 Ritmo lento de construção

A Figura 9.6 ilustra o andamento dos recalques no tempo, com e sem sobrecarga. A
sobrecarga deve ser levada acima da assíntota prevista para carga de projeto, pois nessa
região, embora haja um ligeiro inchamento após sua retirada, este é pequeno e, em geral, não
prejudicial. Além de acelerar os recalques, a sobrecarga provoca um efeito de
pré-adensamento nas argilas, aumentando a segurança da obra para as cargas de trabalho.

Quando se trata de aumentar a segurança quanto à ruptura de base, pode-se construir bermas
de equilíbrio junto aos pés dos taludes do aterro. Estas bermas funcionam como contrapesos
que atuam contrariamente à tendência de escorregamento.

As bermas de equilíbrio têm, entretanto, o inconveniente de aumentar os recalques na


fundação, pois aumenta o bulbo de pressões. Seu emprego deve, portanto, se restringir
unicamente aos casos em que se deseja aumentar a segurança à ruptura de base.

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Carga prevista + sobrecarga Assintota horizontal sob a carga


prevista + sobrecarga
Recalque

Linha apos a retirada da sobrecarga

Assintota horizontal sob a carga


prevista
Carga prevista

Tempo

Figura 9.6 Influência da sobrecarga no andamento do recalque

Para se determinar a resistência ao cisalhamento do solo é recomendável fazer-se uma série de


ensaios Rsat para várias tensões confinantes 3, de forma a avaliar as diversas fases pelas quais
passará o solo de fundação durante a construção do maciço da barragem. A construção do
maciço, por seu turno, pode ser simulada considerando várias etapas de carregamento,
associando o terreno a uma pilha de fatias horizontais, e calculando-se os efeitos acumulados
dos incrementos de carga (peso de cada fatia) sobre a fundação. A estabilidade dos taludes da
barragem pode então ser verificada a cada etapa de carregamento. O método dos elementos
finitos é uma ferramenta extremamente útil, neste caso.

Quando se trata de evitar abertura de trincas devidas a recalques acentuados, pode-se


compactar o aterro do lado úmido, tornado-o mais deformável e menos suscetível ao
trincamento. O abatimento dos taludes pode também resultar em recalques diferenciais
(específicos) menores, embota os recalques totais permaneçam elevados e até maiores.

9.3 Fundações em solos porosos e colapsíveis

De um modo geral denomina-se, entre nós, solos porosos aqueles que apresentam macroporos
visíveis a olho nu, com conseqüente alto grau de porosidade (e daí a denominação poroso) e
com baixo teor de umidade (em geral abaixo do limite de plasticidade), resultando ainda em

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baixo grau e saturação. Tem uma estrutura complexa, a qual é instável, pois em geral sofre
colapso quando o solo é saturado e, quando isso acontece, são denominados, também, como
solos colapsíveis. São extremamente compressíveis e muito pouco resistentes à erosão.

Esse tipo de solo recobre uma grande área do Brasil Central-Sul, conhecendo-se a ocorrência
do mesmo até Brasília, ao norte, e Londrina, ao Sul.

Esses solos constituem uma espessa camada de solo superficial e podem ser solos residuais
típicos e solos coluviais.

Provavelmente se originam numa evolução pedogênica de solos superficiais preexistentes,


quer sejam esses residuais ou transportados. Tem-se conhecimento de camadas superficiais
porosas de solos nitidamente residuais, de solos coluviais e também de argilas terciárias.

Parece claro que as camadas porosas superficiais se originam da lixiviação de óxidos de ferro
e de frações do solo, pela ação da água da chuva e conseqüente precipitação desses óxidos e
frações finas na camada subjacente.

Assim, muitas vezes, as camadas subjacentes aos solos porosos são duras. Na linha divisória
entre as duas camadas aparecem freqüentemente leitos ou lentes de limonita.

A fundação de barragens sobre camadas de solos porosos e colapsíveis está associada a


recalques acentuados, praticamente instantâneos, que se processam com a construção do
aterro e com o enchimento do reservatório. Durante a construção, a pressão aplicada pelo peso
próprio da barragem à camada de solo da fundação é crescente no sentido dos pés dos taludes
para a região do eixo e, sendo o solo também muito compressível, é de se esperar recalques
acentuados, crescentes no mesmo sentido.

Sendo o solo de fundação colapsível, com o enchimento do reservatório o fenômeno se


processa no sentido inverso: os recalques serão maiores junto aos pés dos taludes, onde as
pressões atuantes, anteriormente à saturação, são menores.

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Ao longo do eixo longitudinal da barragem, a carga aplicada pelo aterro à fundação varia com
a altura da barragem e a camada de solo poroso pode também ter espessura variável. É de
esperar, então, recalques diferenciais na seção longitudinal que podem, eventualmente,
provocar o aparecimento de trincas transversais, que são as mais perigosas, pois podem
comunicar a face de montante com a face de jusante da barragem.

9.3.1 Características Geotécnicas

As principais características dos solos porosos são sua elevada porosidade volumétrica e seu
baixo teor de umidade, o que resulta em solo de baixo grau de saturação. É comum
observarem-se nesses solos porosidade volumétrica e grau de saturação da ordem de 50% e
40%, respectivamente.

A Figura 9.7 mostra faixas de curvas granulométricas de solos porosos típicos, bem como
apresenta valores da espessura da camada (1) onde esses solos ocorrem, porosidade
volumétrica média (n) e grau de saturação médio (S) correspondentes.

A Figura 9.8 mostra o gráfico de plasticidade com zonas delimitadas de plasticidade dos
solos porosos típicos já mencionados na Figura 9.7.

Investigações feitas por Grim e Bradley em solos porosos mostram que a fração argila é
constituída por caolinita e gibsita com elevado teor de óxido de ferro, enquanto que a
montmorilonita só foi encontrada na camada de solo não porosa inferior.

Ensaios químicos em solos porosos típicos determinaram a relação molecular


sílica/sesquióxidos (SiO2/Al2O3 + Fe2O3) entre 0,8 e 1,4. De acordo com o LNEC (laboratório
Nacional e Engenharia Civil, de Lisboa), essa relação molecular indica que esses solos
sofreram processos de laterização. Não são lateritas, pois não existem concreções, porém, são
solos lateríticos.

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100
% menor que  (%)

3
50
2

1
0
0 0,0001 0,001 0,01 0,1 1,0 10 (mm)
Diâmetro dos Grãos (mm)

Figura 9.7 Faixas de curvas granulométricas de solos porosos


Índice de Plasticidade

50

3
1

0 50 100
Limite de Liquidez

Figura 9.8 Gráfico de plasticidade, onde se localizam argilas porosas

9.3.2 Compressibilidade e Colapsibilidade

De um modo geral a compressibilidade dos solos porosos, a exemplo dos outros solos,
aumenta com o aumento de seu limite de liquidez. Porém, a estrutura do solo influi mais

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acentuadamente na sua compressibilidade. Assim, um solo poroso de arenito, com LL=22%


terá índice de compressibilidade Cc=0,200. Porém, esse mesmo solo amolgado e moldado na
umidade correspondente ao LL terá Cc’ = 0,100. Outro exemplo: uma argila porosa do
terciário de São Paulo, com LL=75%, terá Cc=0,500; esse solo amolgado em sua umidade
natural terá Cc’= 0,400 e, compactada na umidade ótima, terá Cc”=0,150. Nota-se portanto, a
grande influência da estrutura do solo poroso na sua compressibilidade.

Esses solos, quando submetidos à saturação, sem acréscimo de carga, sofrem recalques
bruscos. Jennigs interpretou esse fenômeno como proveniente de um colapso da estrutura do
solo devido à saturação; para estudar a compressibilidade, propôs um ensaio de adensamento
duplo, adensando-se um corpo de prova na umidade natural e outro corpo de prova, da mesma
amostra, depois de saturado.

Entretanto, deve ser observado que o recalque do colapso da estrutura do solo não será para
diferentes condições de carga previamente aplicadas ao solo no momento da saturação. Os
recalques por colapso tendem a diminuir com o aumento do valor da carga já aplicada ao solo
no momento da saturação até que, após certo valor da carga aplicada não ocorre mais colapso.

A Figura 9.9 mostra resultados de ensaios duplos de adensamento para amostras de solo
poroso típico. Para facilitar a comparação das curvas de adensamento em vários corpos de
prova da mesma amostra, as curvas estão desenhadas no mesmo gráfico, bem como os
recalques dos colapsos observados devido à saturação aplicada para diferentes valores de
pressão atuantes no corpo de prova.

Nos solos porosos aparece muito bem determinada a carga de pré-adensamento. Alguns
ensaios mostram que tal carga tem a tendência de obedecer ao valor do peso de terra existente
sobre o ponto onde se colheu a amostra. Entretanto, essa tendência é constantemente
perturbada pelo secamento do solo nas camadas superiores e pelo endurecimento das camadas
profundas em virtude da precipitação dos finos provenientes das camadas superiores pela
lixiviação.

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e
Umidade Natural

Pré-saturado

Colapso
Índice de Vazios

Pressão Log (

Figura 9.9 Ensaio de adensamento duplo em argila porosa vermelha – Bauru, SP

Os solos “porosos” são também muito compressíveis por possuírem estrutura instável. A
argila porosa do terciário da cidade de São Paulo, por exemplo, quando submetida a uma
carga de 100kPa, pode recalcar cerca de 3% e, se sofrer saturação, mais um recalque adicional
de 3% ocorre.

Portanto uma camada dessa argila com 5m de espessura, pode sofrer recalques de 0,3m, se
submetida a uma pressão de 100kPa e for submetida à saturação.

9.3.3 Resistência ao cisalhamento

Um grande número de ensaios de cisalhamento direto lento, executados sobre amostras


indeformadas de solos porosos de diversas origens, mostrou que a resistência ao cisalhamento
desses solos, em termos de pressão efetiva, é, principalmente, devido ao atrito interno. Seu
ângulo de atrito varia desde 28º a 35º. A coesão, em amostras saturadas, é desprezível.

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A Figura 9.10 mostra resultados de ensaios triaxiais (R sat) drenados rápidos executados em
corpos de prova saturados para quatro amostras, de argila “porosa” de São Paulo, coletadas
em profundidades diferentes, comparadas com envoltórias de ensaios de cisalhamento direto
lento para as mesmas amostras. Pode-se perceber que o ângulo de atrito obtido nos ensaios
Rsat (=13,5º) é da ordem de (1/2 a 2/3) do ângulo de atrito obtido em cisalhamento direto
(=29º)


Tensão Cisalhante

Cisalhamento Direto
’= 29o

’= 13,5o

Ensaios Triaxiais

Tensão Normal 

Figura 9.10 Resistência ao cisalhamento - Argila porosa vermelha do Terciário São Paulo, SP

A Tabela 9.1 apresenta resultados de ensaios triaxiais em solos “porosos” de origem de


arenito e basaltos (areias e argilas). Nesta tabela são apresentados limites de Atterberg,
porcentagem de fração argilosa, densidade dos grãos, umidade natural, índice de vazios, e
grau de saturação natural, além de parâmetros de resistência total e efetiva (c, ) e (c’, ’)
obtidos em ensaios triaxiais Qnat e Rsat.

Pode-se dizer que os solos “porosos” têm resistência ao cisalhamento muito alta: ângulo de
atrito da ordem de 30º e coesão, embora desprezível para amostras saturadas,
consideravelmente alta para umidades naturais baixas.

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Tabela 9.1 Resistência ao cisalhamento de solos porosos

Tipo de Solo Areia Porosa Argila Porosa


Localização Bauru (SP) Rio das Pedras (SP)
Propriedade
Prof. (m) 1 4 5 2 3 4 8
LL (%) 21 29 31 43 43 45 42
IP (%) 6 12 12 13 11 15 9
<2 (%) 17 18 16 8 6 8 5
s (kN/m3) 26.5 26.5 26.5 29.0 29.1 29.8 30.0
wnat (%) 6.5 10.0 12.0 27.0 25.0 25.0 24.5
e 0.78 0.82 0.72 1.05 1.10 0.90 1.05
s (%) 22 32 44 75 68 82 70
Qnat c (kPa) 40 30 20 40 30 50 20
 (º) 25.0 24.0 26.0 12.0 12.5 12.5 19.0
c' (kPa) 30 40 10 15 10 10 0
' (º) 28.0 27.0 31.0 31.0 27.0 25.0 26.5
Rsat c (kPa) 0 0 0 0 10 10 20
 (º) 16.0 13.5 20.0 20.0 27.0 14.0 24.0
c' (kPa) 15 15 20 0 0 10 10
' (º) 30.0 30.0 32.0 35.0 35.0 28.0 30.0

9.3.4 Exemplo de obras fundadas em solos porosos

a. A barragem da Ilha Solteira, no rio Paraná, teve maciço de terra da margem direita, desde o
início até a estaca 70, assentado sobre um solo poroso derivado por um processo pedogenético
sobre um coluvião de solo vermelho argiloso, com w=22%, ei=1,4, S=45%, LL=45% e
IP=15%.

Este solo apresenta uma compressibilidade elevada, Cc da ordem de 0,60, e o efeito de


colapso de sua estrutura pela saturação torna-se desprezível para valores de pressões aplicadas
superiores a cerca de 800kPa.

A Figura 9.11 apresenta a seção transversal da barragem pela estaca 65 e o perfil geológico do
eixo longitudinal da barragem pela ombreira direita. Para reduzir ao mínimo os recalques, foi
feita a escavação do solo de fundação em forma de calha, atingindo-se no eixo longitudinal da
barragem, cota correspondente ao topo da camada de solo residual. Dessa forma, os recalques

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ao longo do eixo, devido à compressibilidade do solo poroso, serão nulos, (espessura da


camada igual a zero) e pequenos nos pés de montante e jusante, por não existirem, nesses
pontos, pressões atuantes. Porém, serão nesses pontos (pés de montante e jusante) que os
efeitos da saturação serão máximos, já que o colapso é máximo onde atuam pequenas
pressões. Os recalques observados na barragem, na estaca 65, apenas devidos as cargas
aplicadas foram de 4mm no eixo, 0,5mm a jusante, 2,5mm no pé de jusante e 6,5mm a
montante. Esses recalques se deram durante a própria aplicação das cargas (construção do
aterro), após o que se estabilizara. Infelizmente não se tem dados de recalques devido à
saturação.

b. Canal Principal CP-1, parte do projeto de irrigação do Distrito Agro-Industrial de Jaíba


(PRODAIJ), município de Manga, Norte de Minas Gerais, margem direita do rio São
Francisco. O canal foi dimensionado para uma vazão de 80m3/s, possuindo trechos totalmente
em aterro e outros completamente em corte no terreno natural.

Devido às características de erodibilidade dos solos da região, foi previsto revestimento em


concreto simples, com 100mm de espessura. Já o fenômeno de colapsibilidade foi constatado
nos horizontes superficiais.

Os testes de laboratório, aplicados sobre nove amostras indeformadas, contaram de ensaios


executados em edômetros, seguindo-se dois critérios:

- Ensaios edométricos completos, realizados sobre corpos de prova “gêmeos” de uma


mesma amostra, sendo um na umidade natural da amostra e outro inundado desde o
início. Este procedimento, não apresentou resultados muito úteis devido à
heterogeneidade das características geotécnicas dos corpos de prova “gêmeos”.

-Ensaios edométricos com um único estágio de carregamento em pressões pré-


determinadas e posterior inundação do corpo de prova. Este procedimento, também
utilizado por Holtz e Hilf (1961) e M. Vargas (1973) mostrou ser de mais fácil análise,
obtendo-se dados mais coerentes, apesar da extrema dispersão dos resultados.

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Nestes ensaios, semelhantes aos já anteriormente descritos, constatou-se que para ocorrer
colapso da estrutura do solo são necessárias a saturação e o acréscimo de pressão.

Observou-se, também, uma certa tendência de aumento das deformações com o aumento da
pressão de inundação.

Para definir o comportamento de colapsibilidade em verdadeira grandeza foram executados


dois ensaios “in situ” (de tanqueamento), de maneira análoga ao processo de tratamento de
fundações utilizado com sucesso no San Louis Canal, California (Gibbs e Bara, 1967).

Dos ensaios “in situ” pode-se depreender que:


- O aterro recalcou de forma quase monolítica, não havendo recalques nas regiões
circunvizinhas, ficando evidente a necessidade de cargas (peso de terra) e inundação
para a ocorrência de colapso.
- Os graus de saturação do solo de fundação passaram de valores iniciais da ordem de
60% para valores finais entre 70% e 90%, não tendo sido constatada saturação
completa como nos ensaios de laboratório.
- Não ocorreram deformações verticais no corpo do aterro, restringindo-se os recalques
ao solo de fundação.
- Os maiores recalques ocorreram justamente nos pontos onde a fundação estava
carregada por aterros, onde não foi feita remoção parcial da camada porosa.
- Comparando-se os recalques estimados com os recalques medidos no ensaio de
tanqueamento, verificou-se que estes são 2,2 vezes menores, próximo do valor
indicado por Dudley (1970).

Essas reduções podem ser atribuídas a vários fatores, entre os quais a diferença de condições
de “saturação” do solo no campo e no laboratório, a rigidez do próprio aterro e as
heterogeneidades de ordem geológica. Os resultados dos ensaios “in situ” levaram à solução
de se remover uma camada superficial do solo de fundação de apenas 1,0m.

c. A barragem Três Marias no rio São Francisco, Minas Gerais, teve um trecho de seu aterro,
com altura acima de 23m, apoiado em uma camada de argila vermelha porosa proveniente de

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processo pedogenético sobre um coluvião, (patenteado pela existência de cascalho inferior),


de idade incerta. A porosidade volumétrica média desse material é cerca de 55% quando sua
umidade é de aproximadamente 19% e, portanto, o grau de saturação médio é 45%. Ensaios
de adensamento feitos sobre amostras indeformadas com saturações em corpos de prova
submetidas a pressões crescentes, mostraram que o efeito de colapso era máximo para pressão
aplicada de 50kPa. Com o aumento da pressão esse efeito vai diminuindo até tornar-se
desprezível com 550kPa.

Os recalques médios na barragem por efeito de compressão da camada porosa foram da


ordem de 70% dos recalques calculados e, como se previa, ocorreram imediatamente após a
aplicação das cargas. Infelizmente não se têm dados devido à saturação. Porém, os recalques
devido à saturação, nesse caso, devem ter sido mínimos, sob o eixo da barragem, já que a
carga mínima aplicada pelo peso do aterro é da ordem do valor da carga a partir da qual não
mais ocorre colapso da estrutura do solo por efeito da saturação.

9.3.5 Orientações para projetos

Os tratamentos requeridos para fundações constituídas por solos porosos e colapsíveis são
orientados pelas propriedades de compressibilidade do solo. Estas são bem determinadas por
ensaios de laboratório em amostras indeformadas e irão indicar se os recalques pós-
construção submetidos à saturação serão significativos.

Para barragens pequenas (até 15m de altura), pode ser utilizado, preliminarmente, um critério
empírico, desenvolvido pelo “Bureau of Reclamation”, que correlaciona D a h para níveis de
carga limitado a essa barragem, sendo:

Densidade sec a "in situ"  s "in situ 


D 
Densidade sec a máxima do proctor Normal  s max ( proctor )

h = (umidade ótima do Proctor Normal) – (umidade natural) = ho - hnat

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Foram ensaiadas 112 amostras provenientes de áreas “loessiais” que segundo o Sistema
Unificado de Classificação, eram constituídas por ML – 51%, CL – 23%, ML-CL – 13%, SM
– 8% e MH – 5%.

Se a fundação está sujeita a recalques consideráveis pós-construção, devido ao carregamento


ou à saturação, é necessário um tratamento. Caso a camada de solo “poroso” ou colapsível
superficial seja pouco espessa, pode ser economicamente vantajoso escavar o material e
recolocá-lo como aterro compactado.

Se a camada de solo poroso foi muito espessa para uma remoção econômica, ou constituir um
tapete “impermeável” natural sobre uma camada subjacente muito permeável, pode-se ter as
seguintes situações:
- O solo poroso é muito compressível, mas não colapsível. Neste caso, estudos de
recalque devem ser feitos visando, por exemplo, uma remoção parcial do solo, como
foi feito para a barragem de Promissão.
- O solo poroso é colapsível. Neste caso devem ser tomadas medidas que assegurem a
ocorrência dos recalques da fundação durante a construção. Isto pode ser conseguido
por meio de uma pré-saturação do material de fundação.

Nos Estados Unidos tem sido usados, com sucesso, aspersão de água e tanqueamento
da camada de solo poroso em áreas “loessiais” que constituem fundação de barragens.
Esse método é perfeitamente aplicável nos casos em que a barragem possa ser
assegurada por uma camada permeável inferior.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 140


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CAPÍTULO 10
10. FUNDAÇÕES EM ROCHA

10.1 Introdução

Critérios de projeto e métodos de execução de tratamento de fundações de barragens de terra e


enrocamento, em trechos críticos de cronograma, são abordados neste capítulo, associados as
fases principais de concepção e projeto de grandes aproveitamentos hidráulicos.

Diferentes exemplos enfatizam a importância de participação prévia do especialista de


geotecnia nas duas fases iniciais de projeto: definição do arranjo geral e interação entre a
estrutura e a fundação.

Quanto ao detalhamento do tratamento de fundação, o trabalho é restrito somente ao caso


particular de fundação em rocha. São apresentados, inicialmente, os critérios de projeto
presentemente adotados no Brasil, posteriormente é feita uma análise conceitual destes
critérios, tendo em mente a redução do tempo de tratamento da fundação.

10.2 Fase de concepção e projeto de aproveitamentos hidráulicos

As barragens de terra e/ou enrocamento, quando existentes, constituem sempre uma das
estruturas de um aproveitamento hidráulico. Como nas demais estruturas do aproveitamento, a
concepção e projeto das mesmas, deve visar a unidade e otimização do aproveitamento como
um todo. Esta meta quase sempre não é alcançada, quando se deseja otimizar, isoladamente,
técnica e economicamente, cada estrutura.

Em geral, existem três fases de concepção e projeto:

a. Fase I – Estabelecimento do arranjo geral, incluindo a disposição das estruturas, fases de


construção da obra, seqüência e tipo de desvio do rio, cronograma de construção, apoio
logístico necessário, etc.

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b. Fase II – Interação técnica – econômica entre a estrutura e a fundação; concepção


integrada da estrutura e da fundação.

c. Fase III – Detalhamento da estrutura e do tratamento da fundação propriamente dito.

Do exposto acima, verifica-se que:

- As fases I e II constituem as premissas do projeto para a fase III. Adicionalmente, a fase I é


a premissa da fase II.

- A importância da contribuição de cada especialista, em termos de benefício técnico e


econômico ao empreendimento, decresce, exponencialmente, da fase I para a fase III.

Esta metodologia de concepção e projeto, constitui a evolução a que chegou a técnica


brasileira de projetos de grandes complexos hidráulicos, após cerca de três décadas, no que
concerne a integração das várias especialidades envolvidas.

É importante observar que, há cerca de 30 anos, quando iniciaram os grandes aproveitamentos


hidráulicos no Brasil, a atuação do especialista se resumia à fase III, com tentativas, após o
projeto já definido, de “remendos” nas fases I e II. Sob este enfoque é desenvolvido o tema
em questão.

10.3 Tratamento da fundação na Fase I: Concepção do arranjo geral

Na fase I, conforme comentado acima, após a análise conjunta das variáveis intervenientes, é
estabelecido o arranjo e concepção geral das estruturas. No que concerne ao tema específico
deste capítulo – Tratamento de fundação em trechos críticos de cronograma – o que se
procura é introduzir, como variantes de decisão, para cada possível arranjo, os
correspondentes tratamentos de fundação, respectivos prazos estimados e grau de
confiabilidade destes prazos. Quase sempre, sob o ponto de vista de otimização global,
predominando o tempo de construção da barragem de terra e/ou enrocamento no trecho de

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fechamento final do leito do rio, por sua vez, em grande parte, condicionado pelo tempo de
tratamento da fundação neste trecho.

Este tempo de construção tem interferência direta no dimensionamento das estruturas de


desvio, equipamentos mecânicos de desvio, volume de ensecadeira e muros provisórios, etc.

Nos casos em que a construção deste trecho de barragem é possível em um único período de
estiagem, as obras provisórias supracitadas são sensivelmente diminuídas, uma vez que são
dimensionadas para as correspondentes vazões do período de estiagem. O exemplo 1,
referente à Usina Hidrelétrica de Samuel, apresentado em seguida, ilustra esta situação.

Há casos entretanto, que devido ao vulto das obras envolvidas na fase de fechamento final do
rio, não é possível a complementação desta parte da obra num único período de estiagem.

Também, nestes casos, é importante a escolha de uma alternativa que minimize o tempo de
construção desta fase, a fim de que não ultrapasse mais de dois anos hidrológicos. Caso
contrário, além de onerar ainda mais as estruturas de desvio (o dimensionamento é função do
tempo de utilização das mesmas), pode condicionar o início da operação da obra. O exemplo
2, referente à Usina Hidrelétrica de Tucuruí, apresentado em seguida, ilustra este caso.

10.3.1 Exemplo 1 – Usina Hidroelétrica Samuel

A alternativa de arranjo das estruturas da Usina Hidrelétrica de Samuel, consistiram


basicamente em dois grupos:

a. Alternativas Grupo “A” – Estruturas de concreto localizadas próximas à margem direita, e


estruturas de terra – enrocamento próxima à margem esquerda. A Figura 10.1a apresenta
de forma esquemática a disposição destas estruturas.

b. Alternativa Grupo "B” – Estruturas de concreto localizadas próximas à margem esquerda


do rio, e estruturas de terra – enrocamento próximas à margem direita. A Figura 10.1b
apresenta de forma esquemática a disposição destas estruturas.

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Vertedouro
N Região de Grandes
Blocos

Área de Montagem
Casa de
Força

Rio
Jamari

(a)

Vertedouro
N Região de Grandes
Blocos

Canal de Desvio

Área de Montagem

Casa de Força

Rio
Jamari

(b)
Figura 10.1 Hidrelétrica Samuel – (a) Alternativa “A” de arranjo, Fechamento final margem
esquerda; – (b) Alternativa “B” de arranjo, Fechamento final margem direita

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Foram considerados os seguintes dados geológicos – geotécnicos e hidrológicos para análise e


escolha da alternativa de arranjo.

Geológicos Geotécnicos – A geologia local é constituída por uma intrusão granítica no leito
do rio, pouco fraturada e intemperizada, a não ser próximo da margem esquerda. Este trecho,
que constitui o canal principal do rio, é caracterizado por um conjunto de blocos de dimensões
variadas (2 a 6 metros) originados pelo intenso fraturamento do granito nesta região. Observe-
se que o rio procurou esta zona de fraqueza para estabelecer o seu leito principal.

Hidrológicos – Vazões para dimensionamento das obras de desvio:


- Correspondentes somente ao período da estiagem – 900 m3/s;
- Englobando o período de cheias – 3000 m3/s.

Em todas as alternativas de arranjo analisadas, verificou-se a grande conveniência na


construção do trecho de fechamento do rio, num único período de estiagem, devido a
economia nas seguintes obras:
- Adufas (redução do número de adufas, de 10 para 4);
- Ensecadeiras de montante e jusante, envolvendo a tomada d’água e a casa de força;
- Muro de abraço da ensecadeira de montante, da tomada d’água, tendo este, interferência no
fluxo da tomada d’água no caso da ensecadeira ser dimensionada para o período de cheia.

No caso da alternativa “A”, a incerteza de poder cumprir o cronograma ideal (fechamento


final num único período da estiagem), era grande principalmente quanto às dificuldades de
vedação das ensecadeiras no caso de incorporação ao maciço (premissa básica para redução
do tempo de construção do maciço), e ao tratamento superficial demorado, devido à existência
de grandes blocos de rocha. Tinham-se também, a considerar, as incertezas associadas às
alternativas do prazo de tratamento profundo, devido ao intenso fraturamento da área.

Por outro lado, no caso da alternativa “B”, havia a necessidade de prévia construção de um
canal de desvio na margem direita, que consistiria na região do fechamento final. As
investigações geotécnicas, nesta área, não indicaram qualquer anomalia tectônica. Além disto,

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parte do tratamento da fundação poderia ser feita durante a escavação do canal, sem prejuízo
para o cronograma desta obra. Deste modo, durante o fechamento final do rio, o tratamento da
fundação seria totalmente previsível e bastante reduzido.

No contexto global, devido aos fatos acima analisados, restringiu-se às alternativas de arranjo
precedentes ao grupo “B”.

10.3.2 Exemplo 2 – Usina Hidroelétrica Tucuruí

Na fase inicial de construção da Usina Hidroelétrica de Tucuruí, já com uma razoável


logística de apoio, foram intensificados os levantamentos geológicos e topobatimétricos.
Levantamentos de sísmica de reflexão subaquática no canal central do leito do rio, indicaram
a presença de dois “canalões” profundos, com profundidade superior a 25m. Adicionalmente,
nesta região, já conhecida desde os estudos de viabilidade, localiza-se a principal estrutura
tectônica da área da barragem: uma falha de empurrão, atravessando o eixo com o ângulo
próximo de 60º, separando os metassedimentos da margem esquerda, dos metabasitos, filitos
e cloritaxistos do canal central e da margem direita. No canal da margem direita, estes
levantamentos complementares, confirmaram os dados previamente obtidos com relação a
rocha de fundação, geotecnicamente bem mais favorável do que a rocha do canal central.

No arranjo inicial, o fechamento final seria feito através do canal central. Após estes novos
dados, foi questionado o tempo estimado para construção da barragem no canal central,
principalmente no que concerne ao tratamento da fundação, devido aos seguintes motivos:

- Dificuldade de vedação da pré-ensecadeira do fechamento, e conseqüente incerteza quanto


ao tempo de bombeamento interno, e possíveis controle de infiltrações;
- Dificuldades de execução do tratamento superficial da fundação, devido a grande
heterogeneidade da topografia da rocha, inclusive associadas às dificuldades de acesso e
peculiaridades climáticas da região.
- Imprevisibilidade no tempo necessário para tratamento profundo na região da falha de
empurrão, e outras estruturas geológicas existentes.

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Todos os tratamentos pertencentes aos itens 2 e 3 acima, deveriam ser feitos num período de
6 meses, coincidindo com o período chuvoso, a fim de não elevar subitamente, o já elevado
pico de aterro compactado (núcleo de barragem) neste trecho de obra.

A outra alternativa, consistia em deixar como trecho final de fechamento do rio, o canal da
margem direita, cuja fundação apresentava características geotécnicas bem mais favoráveis do
que a do canal central.

No contexto global entre as alternativas, considerando outras variáveis de decisão envolvidas,


tendo porém, como peso maior, o tempo estimado para o tratamento da fundação e o grau de
confiabilidade desta estimativa, foi decidido pela alternativa que consistia no fechamento final
do canal da margem direita, em lugar do canal central. Após ensecada a área do canal central
e realizados os tratamentos de fundação superficiais e profundos veio a ser confirmado o
acerto da decisão tomada.

10.4 Integração e otimização Maciço - Fundação – Fase II

Conforme mencionado anteriormente, depois de estabelecido o arranjo geral do


aproveitamento e definida a concepção de cada estrutura em termos globais, a fase seguinte
consiste na integração e otimização da estrutura – fundação.

Restritos ao tema específico deste capitulo, são abordados, neste item, alguns pormenores de
projeto da estrutura que levam a requisitos de tratamento de fundação menos rigorosos ou de
mais rápida execução.

É enfatizado, mais uma vez, a tese deste capítulo, de que reduções sensíveis no tratamento de
fundação são obtidas nas fases de concepção e projeto (fases I e II) e não do detalhamento do
mesmo (fase III).

Adicionalmente, neste item e no subseqüente, só são considerados tratamentos de fundação


em rocha, uma vez que constituem os casos mais freqüentes, relativos a fase crítica de
cronograma, sendo em geral, associados aos trechos de fechamento final do leito do rio.

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10.4.1 Posição e extensão do núcleo da barragem de terra – enrocamento.

A fim de que o núcleo cumpra sua função (elemento impermeável da estrutura) as tensões
totais no contato núcleo – fundação devem ser de compressão e superiores às pressões
intersticiais na fundação, imediatamente abaixo deste contato. Esta condição deve ser
satisfeita durante a fase do enchimento e ao longo da operação do reservatório.

A obtenção desta condição é acentuadamente melhorada pela inclinação do núcleo para


montante, bem como procurando, através de especificações de compactação criteriosa,
minimizar as diferenças entre os módulos de compressibilidade do núcleo, transição e
espaldar.

Satisfeitas as condições antes mencionadas, contatos da ordem de 0,25H tem sido utilizados
com sucesso. No Brasil, contatos de 0,4H a 0,5H são comuns, o que corresponde a uma
otimização tanto do maciço quanto dos tratamentos de fundação.

A utilização de tapete impermeável interno (núcleo em “L” inclinado) que consiste, sem
dúvida uma segurança adicional, com relação a percolação pela fundação, pode representar
acréscimos importantes de tempo no tratamento da fundação, caso sejam estendidos os
rigorosos critérios da zona de núcleo, para esta zona de núcleo adicional. Em adição, deve-se
considerar que esta extensão do núcleo pode comprometer o início do lançamento do
enrocamento a jusante do núcleo, que representa, uma frente de trabalho importante,
independente do tratamento da fundação do núcleo, no caso de barragens de enrocamento
com núcleo inclinado para montante. Deve-se enfatizar, entretanto, a não necessidade de
critérios de tratamento de fundação rigorosos na zona adicional do núcleo.

10.4.2 Estabelecimento de zona hipotética de núcleo em barragem dita homogênea

Tem sido ultimamente adotado, em barragens ditas homogêneas, zoneamentos internos


criados por especificações distintas de compactação. Este conceito de zoneamento também
tem sido estendido até a fundação, onde é delimitada uma zona de tratamento mais rigoroso,

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correspondente a um núcleo hipotético ou núcleo efetivo. Este conceito constitui uma


importante evolução, em relação aos projetos passados, onde especificações uniformes de
tratamentos da fundação eram especificadas para toda a extensão da base da barragem.

Zonas mais rigorosas de tratamento, da ordem de 0,5H a 1,0H, tem sido adotadas com sucesso
em barragens homogêneas, reduzindo deste modo, consideravelmente, os trabalhos de
tratamento da fundação.

10.4.3 Pormenores de drenagem interna

Uma das finalidades das cortinas de injeções consiste em reduzir a percolação pela fundação,
portanto, não sobrecarregando o sistema de drenagem e, conseqüentemente, limitando as
sub-pressões na base do talude de jusante.

Tendo em vista a redução do prazo de tratamento da fundação, uma economia de tempo


muitas vezes é conseguida, limitando as injeções a uma homogeneização da fundação, pelo
preenchimento somente das fendas maiores, associado a um sistema de drenagem sem maior
capacidade e de mais rápida execução.

10.5 Tratamento de fundação propriamente dito – Fase III

Neste item são discutidos os critérios concernentes ao tratamento de fundação,


particularmente considerados neste trabalho, adotados em cinco grandes barragens brasileiras
recentemente construídas, algumas características destas barragens são apresentadas na
Tabela 10.2. Posteriormente é feita uma análise conceitual destes critérios, tendo em mente a
redução do tempo de tratamento da fundação.

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Tabela 10.2 Principais características de algumas barragens brasileiras

BARRAGEM TIPO ALTURA (m)


Marimbondo Homogênea 60 – 90
São Simão Zoneada: Núcleo argiloso, 120
zonas de cascalho e
enrocamento
Foz de Areia Enrocamento com face de 160
concreto
Emborcação Terra – enrocamento 160
Tucuruí Terra – enrocamento 80 – 100

10.5.1 Critérios usualmente adotados no tratamento de fundações rochosas para apoio de


barragens de terra e/ou enrocamento

a. Escavação da fundação; área de contato do núcleo ou núcleo hipotético


- Taludes máximos admissíveis – Em todas as especificações analisadas prevê-se a
remoção de saliências pontiagudas e retaludamento de taludes negativos. Taludes
máximos admissíveis variam em geral, de 1,0H:3,0V a 1,5H:1,0V, sendo, em alguns
casos, dependentes da profundidade das depressões. Na barragem São Simão –trecho do
canal profundo– nos 25,0m inferiores, a inclinação adotada foi de 70º (1,0H:2,5V). Na
barragem de Emborcação, o retaludamento adotado foi função do ângulo () entre a
direção do eixo e da barragem e da depressão: para <20º o retaludamento foi de 70º, e
para > 20º retaludamento de 45º.

- Especificações da escavação – Em todas as barragens analisadas foi previsto o controle


do método de escavação, a fim de não provocar danos na rocha de fundação, através de
limitação de carga e utilização de pré-fissuramento no 1,0 a 1,5m.

b. Escavação da fundação, área dos espaldares de enrocamento


Em geral, especifica-se remoção de todo o solo até a rocha alterada, com trator de peso
equivalente ao D-8 ou similar, permitindo a permanência de aluviões quando

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confinados em depressão e com pequena espessura (limite permitido de 1,0m numa das
barragens analisadas).

Somente em uma das barragens, foi especificado talude máximo admissível para a rocha da
fundação neste trecho (1,0H:10,0V, para alturas superiores a 5,0m).

c. Tratamento superficial, área do núcleo


- Estado e qualidade da rocha de fundação – Em todos os casos foi especificado o apoio do
núcleo em rocha sã, com a superfície final sendo limpa através de jatos de ar e água.
Em alguns casos foi prevista remoção manual adicional.

- Zona de juntas e falhas abertas ou preenchidas – Em todos os casos foi especificado a


remoção do material de preenchimento com jatos de ar e água, completado por remoção
manual, sendo previsto, em seguida, preenchimento com calda de cimento, argamassa
ou concreto. Injeções de contato são requeridas nas zonas mais críticas.

Em um caso foi especificado a remoção “do material de preenchimento até encontrar


material são” e em outro, “no caso do material de preenchimento ser compressível, a
remoção deverá ir até espessura de 5mm”.

Na barragem de Emborcação a remoção de material decomposto foi limitada a uma


profundidade mínima igual a duas vezes a largura da zona decomposta, com posterior
preenchimento com argamassa ou concreto.

- Da utilização de concreto dental e recobrimento com argamassa ou concreto – Em todos


os casos foi especificada a utilização de concreto dental para regularização de
depressões ou para eliminar pequenos taludes negativos. Em um caso foi especificado
regularização final em toda a área do núcleo com argamassa.

Na barragem de Tucuruí foi previsto, por razões técnicas, recobrimento de concreto nas
áreas de intenso fraturamento, ou com descontinuidades de grande desenvolvimento
montante – jusante. Nesta obra, foi deixado a critério da fiscalização, a execução de

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recobrimento de concreto nas áreas que pudessem apresentar vantagens logísticas e de


cronograma.

d. Tratamento superficial, área dos espaldares de enrocamento


Filtros invertidos – Somente em uma barragem não foi exigido filtro invertido nas caixas de
falha preenchidas por materiais sujeitos a erosão. Nos casos especificados foram
adotados os critérios usuais de filtro. Na barragem de Foz de Areia o tratamento com
filtro invertido foi limitado à região compreendida entre o plinto e o eixo da barragem.

e. Tratamento profundo
- Injeções rasas – Nas barragens de Emborcação e Tucuruí (enrocamento com núcleo
argiloso) injeções rasas foram previstas sob todo o núcleo (“área Grouting”).
Posteriormente, na barragem de Tucuruí, com o andamento das injeções e
interpretações judiciosas das absorções de cimento e respectivas feições geológicas, o
critério geométrico foi substituído por critério geológico, consistindo na execução de
injeções rasas somente naquelas feições geológicas necessárias.

Na barragem de São Simão, devido às características da rocha de fundação, não foram


executadas injeções rasas sob todo o núcleo da barragem, restringindo o tratamento
profundo, à cortina de injeção. Já na barragem de Foz de Areia (enrocamento com face
de concreto) injeções rasas foram realizadas somente na zona do plinto.

Na barragem de Marimbondo foi executado um “cut-off” na camada superficial de


basalto fraturado, executando-se injeções somente na base do mesmo.

As profundidades de injeções variam de 4,0 a 10,0m, e as pressões de injeções em torno


de 25kPa, por metro de profundidade.

- Injeções profundas – Todas as especificações são concordantes numa programação


dinâmica, com os espaçamentos sendo reduzidos (furos exploratórios, furos primários,
furos secundários, etc.) em função das absorções verificadas ou critérios de perda
d’água. Em geral critérios menos rígidos de tratamento são especificados para as
maiores profundidades.

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Condicionantes geológicos e tipo de barragem determinam as profundidades dos furos


exploratórios, bem como, de toda a cortina de injeção.

10.5.2 Análise conceitual dos critérios usuais de tratamento de fundações rochosas para apoio
de barragens de Terra e/ou Enrocamento

Embora enfatizado ao longo deste capítulo, as grandes reduções no prazo de tratamento de


fundação são obtidas no desenvolvimento das fases I e II, retro-definidas. É importante frisar
que a garantia técnica da obra, bem como considerável parte da otimização no tempo de
tratamento da fundação, depende, fundamentalmente, do detalhamento do mesmo (fase III),
conforme e exemplificado a seguir.

Quanto aos critérios apresentados neste item, deve-se observar que os mesmos devem ser
interpretados como conceitos gerais e não como regras fixas.

Adicionalmente, embora o tema tratamento de fundação nesta fase de detalhamento deva ser
analisado de modo amplo, englobando o projeto propriamente dito, a forma de atuação do
empreitero e da fiscalização, uma abordagem mais detalhada é restrita somente aos aspectos
de projeto.

10.5.2.1 Considerações sob o aspecto técnico

a. Escavações da fundação e ombreira, zona do núcleo – Dois importantes parâmetros devem


ser considerados na definição do retaludamento de depressões: o ângulo entre a direção da
depressão e o eixo da barragem, e a altura da barragem sobre a fundação. Como conceito
geral, condições menos severas de projetos e especificações – taludes mais íngremes-
podem ser aceitas no caso de retaludamento sub-paralelo ao eixo da barragem (Barragem
de Emborcação) e no caso de grande altura de aterro – pressões superiores a de pré-
adensamento do solo – pois, neste caso, não há possibilidade de abertura de fendas de
tração ou por fraturamento hidráulico (barragem de São Simão).

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b. Escavações das fundações e obreiras: barragens de Terra/Enrocamento, Zona de


enrocamento – Como os espaldares de uma barragem zoneada só têm função estabilizante,
somente os aspectos relativos à influência da resistência ao cisalhamento e
deformabilidade da fundação neste trecho devem ser considerados.

Quanto ao aspecto de estabilidade, em primeiro grau de aproximação, e do lado


conservativo, a remoção da fundação deve alcançar material com características de
resistência equivalentes a do enrocamento. De fato, adotando este critério, o talude da
barragem ainda continua sendo comandado pela resistência ao cisalhamento do
enrocamento. Análise de estabilidade judiciosa, só considerando as superfícies de ruptura
cinematicamente possíveis, leva a requisitos ainda menos rígidos para a fundação.
Portanto, não há necessidade, neste trecho, de atingir rocha sã ou mesmo rocha alterada
em alguns casos.

Quanto a deformação, absoluta ou diferencial, somente condições muito extremas, de


bolsões de solos compressíveis localizados, ou de grandes taludes verticais, podem
provocar transferências de recalques importantes à zona do núcleo. Assim sendo, a
limitação de aluviões remanescentes, em bolsões, a profundidade de 1,0m, ou mesmo
10,0m, bem como a especificação de retaludamento de depressões da fundação,
constituem, em geral, critérios extremamente conservativos e desnecessários.

c. Tratamento superficial, área do núcleo


- Qualidade da fundação – A obrigatoriedade constante em todas as especificações, de apoio
do núcleo sobre rocha sã, pode ser, em alguns casos, desnecessária. Adicionalmente, os
tratamentos superficiais em rocha sã, sempre conduzem a trabalhos sensivelmente mais
demorados, quando comparados com os necessários para apoio do núcleo sobre solo.

De fato, desde que o trecho em solo não removível, apresente características de


permeabilidade e erodabilidade satisfatórias, em seu estado natural, ou, quando necessário,
após a execução de injeções (neste caso implicitamente considerando a propriedade
injetabilidade da rocha), não há razões técnicas para impor o apoio do núcleo sobre rocha
sã.

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- Limpeza final – No caso de apoio em rocha, após a limpeza com jatos de ar e água, não há
necessidade de remoção manual adicional de fragmentos de rocha. O somatório de
pequenas exigências desnecessárias, como esta, pode atrasar o tratamento de fundação em
caminho crítico do cronograma.

- Zona de juntas e falhas abertas ou preenchidas – As especificações que prevêem a remoção


do material de preenchimento até encontrar material são, ou que limitam a espessura de
material de preenchimento compressível a casa dos milímetros ou mesmo de alguns
centímetros, são muito conservadoras, e, em muitos casos, impossível de serem cumpridas.
De fato, os recalques que tais lentes provocam são totalmente desprezíveis perante o vulto
da obra.

No caso de falhas subverticais, com material de preenchimento decomposto, a remoção até


cerca de duas vezes a largura da falha, com posterior preenchimento com concreto, na
maioria das vezes, é suficiente perante problemas de redistribuições de tensões no núcleo e
de proteção contra erosão.

- Da utilização de concreto dental e recobrimento de grande área com concreto – Concreto


dental tem sido cada vez mais usado com a finalidade única de acelerar o tratamento
superficial da fundação. Em muitos casos o conceito de concreto dental tem sido estendido
a grandes áreas sob o núcleo formando uma verdadeira “laje contínua de concreto”.
Também tem sido usado em regiões de grande densidade de fraturas, em substituição ao
tratamento superficial constituído por preenchimento individual de fratura por fratura. Este
procedimento é tecnicamente eficaz quando o traço do concreto é ajustado às condições de
penetrabilidade nestas fissuras. No caso de ocorrência de fraturas maiores, o lançamento de
argamassa nas mesmas, deve ser imediatamente antes do lançamento do concreto.

As vantagens da utilização de concreto dental têm sido ignoradas em algumas


especificações. De fato, é comum constar nestas especificações, o prévio preenchimento de
fissura por fissura, independente de sua espessura, antes do lançamento da “laje de
concreto”.

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- Tratamento superficial, filtro invertido na zona de enrocamento – Nos locais de falha com
materiais de preenchimento susceptíveis a erosão, tem sido utilizados filtros invertidos,
satisfazendo os rígidos critérios de filtro camada por camada. Como o carregamento de
partículas é função do balanço entre a força gravitacional restritiva devido ao peso da
barragem e a força de percolação, muitas vezes, uma camada de material bem graduado,
com a finalidade de melhor distribuir os esforços do enrocamento, pode substituir com a
mesma eficiência técnica as múltiplas camadas de filtro.

- Requisitos de compactação da primeira camada do núcleo – Em fundações rochosas é


freqüente a existência de áreas com infiltração, tornando necessários serviços provisórios
para captação destas águas, a fim de permitir o lançamento da primeira camada de núcleo a
seco. Adicionalmente, alguns destes serviços necessitam de um tratamento posterior para
não comprometer a obra em sua fase de operação (injeção em drenos franceses, por
exemplo).

Por outro lado, o lançamento das primeiras camadas com teores de umidade mais elevados,
acarretam somente um acréscimo de recalque nas mesmas, desprezível perante o recalque
de toda a barragem.

Assim sendo, especificações de compactação menos rígidas no que concerne ao teor de


umidade para as primeiras camadas podem reduzir consideravelmente estes serviços
provisórios de tratamento, além de conduzir, no conjunto, a uma melhor solução.

- Tratamento profundo, injeções rasas – Estas injeções visam evitar a migração de material
do núcleo para a fundação, reduzir a potencialidade de curto circuito hidráulico por sobre a
cortina de injeção e reduzir eventuais pressões de percolação elevadas no contato fundação
–maciço, no pé de jusante do núcleo.

Quanto à distribuição destas injeções, adota-se usualmente uma malha regular (“critério
geométrico”) ou condicionadas pelo fraturamento da fundação (“critério geotécnico”). Um
procedimento híbrido, com a seqüência adiante detalhada, é mais eficiente e mais rápido:
Realização de injeções segundo critério geométrico no início dos trabalhos; correlação

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entre as absorções e respectivas feições geológicas; prosseguimento das injeções somente


naquelas feições geológicas que apresentam absorções acima de determinados limites.

Nos locais de estruturas geológicas importantes e contínuas montante-jusante, deve-se


entretanto, utilizar os dois critérios simultaneamente: realização inicial de injeções em
malha regular, complementada por injeções adicionais segundo critérios geológicos –
geotécnicos.

Quando as profundidades das injeções rasas, em geral não necessitam ir além de 6,0 a
9,0m. Em adição reduções importantes de tempo são obtidas quando injeções rasas são
injetadas num único estágio.

- Tratamento profundo, injeções profundas – Este assunto é extremamente vasto apresentando


inúmeras facetas, que merece trabalho à parte. Entretanto, dentro do espírito das presentes
considerações, será escolhido somente um item para uma abordagem mais detalhada:
pressões de injeção.

No Brasil, seguindo o critério Norte-Americano, as pressões de injeção são limitadas ao


peso de material sobrejacente. Entretanto, a prática tem indicado que em alguns casos
pressões bem superiores àquelas do peso de material sobrejacente não provocam
levantamento do terreno. Em outros casos, ocorre com pressões ligeiramente superiores
àquelas.

A explicação usual é que deve ser incluída a direção do sistema de fraturamento e as


tensões internas do maciço com variáveis adicionais na análise deste fenômeno. Victor de
Melo, considera, para total explicação do mesmo, além das variáveis acima, o estágio de
injeção associado às vazões de injeção, do seguinte modo: no estágio inicial de injeção,
enquanto ocorre absorção da calda – “estágio hidrodinâmico de injeção”- as perdas de
carga provocam uma redução exponencial da pressão, ao longo das fissuras, em relação ao
centro de injeção. Assim sendo, a pressão média no raio de influência da injeção, é bem
inferior à pressão no ponto de injeção; no estágio final de injeção, quando inicia a rejeição
de calda –“estágio hidrostático de injeção”- a pressão ao longo da fissura é bastante
uniforme, funcionando como um macaco hidráulico plano tendendo a separar as fraturas.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 157


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Deste modo é explicado porque pressões superiores ao peso do material sobrejacente não
provocam, necessariamente, levantamentos do maciço.

Utilizando o conceito advogado por Victor de Mello, pressões de injeção superiores as


usualmente especificadas podem ser utilizadas na fase inicial de injeção, obtendo um raio
de penetração da calda maior , e, conseqüentemente, reduzindo o número de furos de
injeção.

10.5.2.2 Considerações construtivas

a. Injeções através do maciço – Em determinadas regiões as estações secas e chuvosas são


bem definidas. No caso em que os tratamentos profundos da fundação não estiverem
concluídos por ocasião do início da estação seca, a fim de não atrasar a construção do
maciço terroso ou núcleo, as injeções profundas devem ser postergadas para o período
chuvoso subseqüentemente realizando as mesmas, através de perfurações ao longo do
maciço.

Ainda existem certas restrições com relação à injeção ao longo do maciço, associadas a
problemas de fraturamento hidráulico provocado pelas pressões d’água de perfuração.
Esta preocupação, entretanto, deixa de existir quando é utilizada perfuração a ar em lugar
de avanço de perfuração por água sob pressão, ou perfuração a seco (trado espiral
mecanizado).

b. Da atuação da fiscalização – Tratamento de fundação, de uma maneira geral, constitui num


exemplo típico em que a definição final do tratamento somente é obtida à medida que os
serviços vão sendo executados.

Neste tipo de serviços, os projetos devem ter uma característica mais conceitual do que
determinística, explicando o porque, quando e onde determinado tratamento deve ser
adotado. Por outro lado, a fiscalização deve ter uma autoridade de decisão ampla, a fim de
obter um produto melhor e em prazo menor.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 158


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10.6 Observações Gerais

Analisando os grandes aproveitamentos hidráulicos construídos no Brasil nos últimos 30


anos, verifica-se uma sensível evolução na técnica de projeto, com acentuados benefícios
técnicos econômicos, pela integração das várias especialidades envolvidas, nas fases iniciais
de projeto: fase de definição do arranjo (I) e fase de interação estrutura fundação (II).

Por outro lado, restrito somente ao tema específico deste capítulo, e analisado o estado atual
brasileiro na técnica de detalhamento de projeto, bem como a interação projeto-construção,
verifica-se um retrocesso evolutivo nos últimos anos.

De fato, quanto ao projeto, observa-se que os requisitos técnicos de um determinado


tratamento da fundação são especificados como se este fosse o único tratamento adotado, não
levando em consideração os demais tratamentos projetados. Por exemplo, tratamentos
superficiais diversos e superpostos, tratamentos profundos (injeções profundas e superficiais
em área), muitas vezes são incorporados e especificados num mesmo projeto como se os
demais não existissem. Quanto ao empreiteiro, este tem sido, ultimamente, relegado a um
mero executor de especificações rígidas sem responsabilidades quanto ao método executivo e
ao produto final, e finalmente, quanto à fiscalização, sua autoridade de decisão não tem sido
compatível com as características dinâmicas deste tipo de serviço.

Em síntese, embora enfatizado ao longo do capítulo, de que as grandes reduções no prazo de


tratamento da fundação são obtidas no desenvolvimento das fases I e II, a forma de
detalhamento do tratamento e da interação projeto – construção, tem muitas vezes
comprometido o cronograma de construção, necessitando, portanto, mudanças urgentes de
conceitos e procedimentos.

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CAPÍTULO 11
11. TRATAMENTO DE FUNDAÇÃO DE BARRAGEM DE TERRA
ATRAVÉS DE CORTINA DE INJEÇÃO

11.1 Introdução

Entre os vários tipos de tratamento a que são submetidas às fundações das barragens de terra
deve-se destacar as injeções de calda de cimento, particularmente no caso de fundação em
maciço rochoso fraturado. Esse tipo de tratamento consiste em injetar na fundação uma
mistura (basicamente água + cimento) capaz de solidificar e obstruir os vazios (fendas,
fraturas, etc.) do maciço rochoso, dificultando a percolação d’água, ou seja, reduzindo a
permeabilidade.

11.2 Finalidade das injeções

Em função da barragem de terra a principal finalidade das injeções é obstruir os caminhos


preferenciais de percolação do maciço rochoso, eliminando assim o risco de carregamento de
finos (sejam do aterro ou da fundação), com o que se evita o risco de “piping”.

Para fundações muito permeáveis as injeções podem ser executadas visando não apenas
eliminar o risco de “piping”, mas também com a finalidade de reduzir as vazões.

Os maciços rochosos em geral são meios anisotrópicos, com caminhos preferenciais de


percolação onde há concentração de fluxos. As injeções têm pois a finalidade de obstruir esses
caminhos preferenciais, redistribuindo o fluxo, sendo assim uma maneira de tornar o maciço
mais homogêneo.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 160


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11.3 Quando executar injeções

A decisão quanto à necessidade ou não de injeções em uma fundação depende


fundamentalmente das características do maciço rochoso de fundação, bem como do tipo de
seção da barragem.

Em um maciço rochoso estanque ou com fraturas de pequena abertura as injeções clássicas


geralmente são desnecessárias e mesmo que executadas são totalmente ineficientes. A maior
dificuldade contudo é o conhecimento das reais características do maciço rochoso, para que a
decisão seja tomada. Em geral a decisão quanto à necessidade e quantidade de injeções a
serem executadas, é tomada em função da permeabilidade do maciço rochoso, dado esse
obtido através de ensaios de perda d’água em furos de sondagens.

Basicamente tem-se considerada desnecessária a injeção em maciço rochoso com


permeabilidade inferior a 1x10-6m/s, não apenas por ser uma fundação relativamente pouco
permeável, mas também porque a injeção clássica terá muito pouco ou nenhum efeito como
redutor dessa permeabilidade. A utilização do valor da permeabilidade como indicador da
necessidade ou não de injeções tem entretanto muitas ressalvas uma vez que os ensaios de
perda d’água não esclarecem sobre o estado de fraturamento do maciço rochoso, pois uma
determinada permeabilidade pode ser devida tanto a uma única fratura espessa que deve ser
injetada, como a diversas fraturas pouco espessas onde a injeção é desnecessária ou
ineficiente.

Dado às incertezas quanto às reais características do maciço rochoso, o melhor método para
avaliar a necessidade ou não de cortina de injeções é a execução de furos exploratórios. Em
função das absorções da calda de cimento nos furos exploratórios toma-se a decisão quanto à
necessidade ou não de execução da cortina.

Em geral as injeções exploratórias são executadas a cada 12m ou 24m, podendo esse
espaçamento ser maior ou menor em função do conhecimento que se tem do maciço rochoso
bem como do tipo de seção da barragem. Para uma seção de barragem de enrocamento com
núcleo argiloso as injeções assumem uma importância maior, devido ao menor caminho de

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 161


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percolação e dificuldades de intervenções futuras em caso de necessidade, motivo pelo qual o


espaçamento deve ser menor.

11.4 Quantidade de injeção e profundidade da cortina

Uma cortina de injeção clássica é constituída por furos primários, secundários e terciários,
podendo essa cortina ser constituída por uma ou mais linhas de injeção. Em geral inicia-se a
cortina pelos furos primários, diminuindo-se o espaçamento com furos intermediários
(secundários), seguindo-se com furos terciários e mesmo quaternários, até que as absorções de
calda sejam inferiores aos limites pré-estabelecidos. Em geral, o espaçamento final é função
da absorção de calda nos furos precedentes, sendo a cortina iniciada com espaçamento da
ordem de 12m e chegando ao final com espaçamento de 3m ou 1,5m. A Figura 11.1
apresenta a disposição típica dos furos primários, secundários e terciários em uma cortina de
injeção.

Primários

Secundários Linha Montante

Terciários

Linha Jusante

Linha Central

12,0
6,0
3,0

3,0

1,5

Figura 11.1 Disposição dos furos da cortina de injeção em planta

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Uma cortina pode ser constituída por uma única linha de furos pouco espaçados ou por 2 ou
mais linhas com furos mais espaçados (assunto esse ainda bastante controvertido no meio
técnico). Um critério bastante utilizado, é o de executar uma primeira linha e reforçá-la com
uma 2a. ou mesmo 3a. linha nos trechos onde as absorções de calda foram superiores aos
limites pré-estabelecidos.

Como regra geral procura-se executar furos pouco espaçados nos primeiros metros a partir do
contato aterro x fundação onde os riscos de carregamento são maiores, aumentando-se o
espaçamento para furos mais profundos. Nesse critério são programados furos intermediários
ou adicionais sempre que:

a. O furo precedente tenha absorvido quantidade de sólidos superior a 25 ou 50 kg/m até 5 ou


10m de profundidade;
b. O furo precedente tenha absorvido quantidade superior a 100kg/m abaixo de 10m de
profundidade, e assim por diante.

Quanto à profundidade máxima da cortina tem-se adotado até 2/3 da altura da barragem
(2/3H), pelo menos para alguns furos exploratórios, mas a profundidade de 0,5H pode ser
considerada como suficiente a menos que ocorram grandes cavidades abaixo dessa
profundidade.

11.5 Pressão de injeção

Esse é outro assunto controvertido, existindo duas escolas distintas onde as pressões aplicadas
variam de 25kPa por metro de profundidade (escola americana) a 100kPa por metro de
profundidade (escola européia). No caso da escola americana a pressão aplicada equivale ao
peso do terreno, de maneira que durante o processo de injeção não ocorram deformações do
maciço rochoso, sendo injetadas apenas as fraturas com aberturas superiores a dimensão dos
grãos de cimento. Na escola européia, com aplicações de altas pressões, podem ser injetadas
fraturas menores que a dimensão dos grãos graças à abertura forçada dessas fraturas.

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Se por um lado as altas pressões favorecem a injeção de fraturas menores, podendo ainda
reduzir o número de furos pelo maior raio de alcance da calda, por outro lado podem
corresponder a um maior consumo de cimento que irá atingir distâncias desnecessárias, além
de poder danificar o maciço rochoso.

Para as fundações de barragens de terra, onde somente interessa injetar as fraturas maiores, as
baixas pressões têm sido usadas com sucesso.

Para a aplicação da pressão devem ser levados em conta: o peso próprio da calda, o nível do
lençol freático e perdas de carga na tubulação.

11.6 Escolha da calda

A calda para injeções é constituída basicamente por uma mistura de água e cimento.
Eventualmente outros componentes podem entrar na mistura como areia, pozolana, bentonita,
etc., sejam para melhorar as características da calda ou mesmo como medida de economia.

Antes do início das injeções as caldas devem ser dosadas procurando-se obter uma relação
água:sólidos que tenha boa fluidez ou seja boa capacidade de penetração nas fraturas. Uma
calda bastante fluida (rala) entretanto apresenta alto fator de sedimentação (F.S.) ou seja uma
maior facilidade de separação dos constituintes da mistura, resultando o preenchimento
apenas parcial dos vazios.

A calda ideal seria aquela que apresentasse baixa sedimentação e elevada capacidade de
penetração nas fraturas.

Para a obtenção da calda apropriada existem dois ensaios simples de laboratório, que embora
não representem as condições ideais de campo, podem ser utilizados com sucesso. Esses
ensaios consistem na obtenção do “Tempo de Escoamento” (T.E.) e do “Fator de
Sedimentação” (F.S.).

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 164


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O “tempo de escoamento” é o tempo necessário para a passagem de 1 litro de calda por um


funil padrão. A calda escoada é coletada em uma proveta graduada, após 2 horas de repouso é
obtido o “fator de sedimentação” que é a relação entre a coluna de água limpa e a coluna da
mistura assentada, expressa em porcentagem.

Com o T.E. e o F.S. obtém-se “curvas de injetabilidade” para várias misturas água:sólidos, o
que permite a escolha da calda. Na Figura 11.2 é mostrada a curva de injetabilidade obtida em
Tucuruí para um determinado cimento. Pelo gráfico verifica-se que a calda ideal está no ponto
da inflexão da curva onde são menores o tempo de escoamento e o fator de sedimentação.

Embora seja ainda um ponto de discordância, havendo quem prefira caldas mais ralas, tem-se
chegado a bons resultados com calda de relação água:cimento de 0,7:1 em peso, ou mesmo
calda 1:1 com adição de 1% de bentonita.

t
Tempo de Escoamento

Relação Água-Cimento
Ensaiada

Caldas Ideais


Fator de Sedimentação

Figura 11.2 Curva de injetabilidade

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11.7 Metodologia para as injeções

As caldas são preparadas no campo, em recipientes onde são agitadas a altas velocidades para
a separação dos grãos de cimento, sendo em seguida injetadas com auxílio de bombas de
pressão. Os furos para as injeções em geral são executados com equipamentos a
roto-percussão, eventualmente rotativos, com diâmetro mínimo de 63,5mm (2½”). Antes de
iniciar-se a injeção os furos são limpos com jatos de ar e água, até que a água saia isenta de
impurezas.

O método de injeção mais comum e também mais econômico, é o ascendente, onde a injeção
é efetuada em trechos de 3 a 5m a partir do fundo do furo, com auxílio de obturador para
isolar o trecho a ser injetado. A injeção de um determinado trecho deve ser contínua devendo
somente ser suspensa quando for atingida a pressão especificada e não ocorrendo mais
absorção da calda.

Em maciços rochosos muito fraturados, onde ocorre desmoronamento das paredes do furo
e/ou quando o maciço não permite fixar o obturador, a injeção deve ser efetuada pelo
processo descendente, onde é necessário perfurar novamente o trecho injetado para prosseguir
com a injeção. O trecho previamente injetado estará apto para fixar o obturador após a pega
da calda.

A injeção de um determinado trecho deve ser contínua até a recusa, porém, para grandes
absorções de calda pode-se estabelecer volumes a partir dos quais a injeção é paralisada
temporariamente até o início da pega, visando limitar o consumo de cimento. Outro
procedimento usual é engrossar a calda com areia quando o trecho está absorvendo grandes
volumes de calda.

11.8 Eficiência da cortina

Para avaliar a eficiência de uma cortina em geral são executados ensaios de perda d’água nos
furos a serem injetados. Assim, a eficiência da cortina pode ser avaliada comparando-se as

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permeabilidades dos furos iniciais (exploratórios, primários, etc.) com as permeabilidades dos
furos finais.

Afora a permeabilidade, a eficiência também pode ser avaliada em função das absorções de
calda nos furos iniciais, bem como pela execução de sondagens de controle que poderão
mostrar testemunhos com as fraturas obturadas, pelo cimento da injeção.

Na Figura 11.3 é mostrado um exemplo prático de redução das absorções entre os furos
iniciais e finais.

(ton.)

Primários
Sólidos Injetados (ton)

Secundários
Terciários

(m)
Furos da Linha Montante

Figura 11.3 Cortina de injeção convencional, absorção de sólidos por furo.

11.9 Considerações gerais

O assunto cortina de injeções em função de barragens de terra ainda é bastante polêmico,


havendo muitas críticas a esse tipo de tratamento, mas para determinadas condições as
injeções são extremamente úteis, particularmente no caso de núcleos estreitos apoiados em

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maciços rochosos muito fraturado. Embora haja críticas a esse tipo de tratamento deve-se
lembrar que esse é um dos primeiros procedimentos que se lança mão quando ocorre algum
problema de vazamento durante ou após o enchimento do reservatório.

No que se refere aos procedimentos para execução das injeções, tipos de calda, pressão,
espaçamento, profundidade, etc., os critérios são bastante variáveis tanto no Brasil como no
exterior, embora já se tenha feito várias tentativas de uniformização.

Um aspecto importante a destacar é que quando se lança mão de um rigoroso tratamento


superficial pode-se abrir mão de intensos tratamentos com injeções e vice-versa, logicamente,
decisão esta fundamentada no conhecimento das características da fundação.

Barragens – Apostila G.AP-AA006/02 168


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