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A Questao Da Justica Uma Abordagem Preli
A Questao Da Justica Uma Abordagem Preli
Márcio Pugliesi 1
Sumário
Abstract
Palavras Chave:
1
- Dout or e Li vre Docent e em Di rei t o pel a Uni versi dade de S ão P aul o; Dout or em
Fi l osofi a pel a Pont i fí ci a Uni versi dade C at ól i ca de S ão P aul o; Dout or em Educaç ão:
Currí cul o pel a Pont i fí ci a Uni versi dade C at ól i ca de S ão P aul o, P rofessor do P rogram a
St ri ct o S ensu de Est udos P ós-Graduados de Di rei t o e da F acul dade de Di rei t o da
P UC - SP .
Efetividade do Direito; Equidade; Responsabilidade;
Justiça; Contingência; Liberdade; Subjetivação;
Felicidade.
Key Words:
... como é que a gente sabe certo como não deve de fazer
alguma coisa, mesmo os outros não estando vendo?2
2
- GUIMAR ÃES R OS A, João. Man u el zão e Mi gu el i m (corp o d e b ai l e). 11ª . ed.
(14ª . im pressão), Ri o de Janei ro: Nova F ront ei ra, 2001, p. 86.
Assim, seriam as verdades eternas contingentes pelo fato de
Deus haver criado o mundo livremente, sem qualquer coação ou
compulsão. Deus necessitaria ter perfeita liberdade para fazer e, portanto,
não haveria qualquer motivo para fazer ou deixar de fazer, nem qualquer
padrão de certo ou errado que pudesse, de qualquer maneira, afetar sua
vontade, vez que seria autocontraditório o ilimitado possuir limites e é,
ainda por isso, que não manifesta qualquer interesse pelo passado ou
pelo futuro: para Deus há possibilidades ilimitadas. Descartes afirma que
é necessário empregar as evidências empíricas para eliminar várias
dessas possibilidades e não apenas a razão.
3
- DESC AR TES , R ene. Pri n cip l es of Ph i l osop h y. P art 3, XLVI. In
ANS C OMB E, E. & GEAC H, P . T.. Descar tes: Ph il osop hi cal Wri ti n gs.
London: Nel son, 1969, p. 225.
4
- Tradução li vre, op. ci t ., p. 226.
5
- P art i cul arm ent e na Pri mei ra .
poderia ser assumida vez que para afirmar a própria inexistência,
precisaria existir.
6
- DES C AR TES , R ene. Di scu rso sob re o Métod o. 12ª . Ed., t rad. Márci o Pugl i esi e
Norbert o de P aul a Li m a, S ão P aul o: Hem us, 1999, part e V.
vez postas as leis naturais, pela benevolência divina, essas permanecem
válidas para todos demais atos de criação. Assim, embora contingentes,
em vista da onipotência, tornam-se necessárias por força da
benevolência. Sendo Deus a causa eficiente e total de toda criação, é
também a causa de todas verdades eternas que estabeleceu, se nada
houvesse criado: não haveria verdades eternas. Logo, estas padecem de
contingência.
7
- A l ógi ca l ei bni zi ana vê a proposi ção com o cat egóri c a, em bora não recubr a apenas
proposi ções anal í ti cas (em senti do kant i ano), em bora a defi ni ção de Kant para juí zo
anal í t i co corresponda ao que Lei bni z defi ne com o verdade.
8
- Tradução li vre de Necessary an d Con ti n gen t Tru t hs , i n LEIB NIZ, Got t fri ed
Wi l hel m F rei herr von. Ph i l osop h i cal Wri ti n gs of L ei b ni z . ed. G. H. R . P arki nson,
t rad. Mary Morri s & G. H. R . P arki nson, London: Dent , 1973, p. 96: “In al l
j udgm ent s i n whi ch the rel at i on of a subj ect t o t he predi cat e is t hought thi s rel at i on
is possi bl e i n t wo di fferent ways. Eit her the predi cat e B bel ongs t o t he subj ect A, as
som et hi ng (covert l y) cont ai ned i n t hi s concept A; or li es outsi de the concept A,
al t hough i t does i ndeed st and in connect i on wi t h i t . In t he one case I ent i t l e the
j udgm ent anal yt i c, i n the ot her synt het i c.”.
A questão se aprofunda em Kant, que motivado pelas
observações de Hume sobre a contingência do conhecimento humano,
acaba por escrever a sua Crítica da Razão Pura com o foco principal de
estabelecer os juízos sintéticos a priori como fundamento do
conhecimento confiável e afastado da contingência, conforme se pode ver
na Introdução dessa Crítica sob o título : O problema geral da Razão
Pura9:
9
- KANT, Imm anuel . Imman u el Kan t’s Cri ti qu e of Pu re Reason , t rad. S mi t h,
N. K., B edford, Bost on/ New York: St . Mart i n’s,1965, p. 4: “Much is al ready
gai ned i f we can bri ng a num ber of i nvesti gat i ons under t he form ul a of a si ngl e
probl em . For we not onl y li ght en our own t ask, by defi ni ng i t accurat el y, but
m ake it easi er for ot hers, who woul d t est our resul t s, t o j udge whet her or not
we have succeeded i n what we have set out t o do. Now the proper probl em of
pure reason i s cont ai ned in t he quest i on: How are a pri ori synt het i c j udgm ent s
possi bl e? “.
2. A constituição das leis científicas
10
- Lem brando serem esses si st em as: convenci onai s. S ão m edi das adapt adas à escal a
hum ana de capt ação e i nt ervenção sobre a nat ureza. Os própri os padrões de m edi da
evol uem conform e a evol ução das ci ênci as e novos são cri ados pel a m ul t i pli cação e
di vi são dos padrões uni t ári os. Por exem pl o, para fal ar do padrão m ai s ut i l i zado: em
1960, a XI Conferên ci a Geral de P esos e Medi das m udou a ant i ga defi ni ção de m et ro:
m et ro é o com pri m ent o igual a 1 650 763,73 com pri m ent os de onda no vácuo da
radi ação correspondent e a t ransi ção ent re os ní vei s 2p 1 0 e 2d 5 do át om o de cri pt ôni o
86. A vel oci dade da luz no vácuo c é um a const ant e fí si ca m edi da há m ui t o t em po de
form a di ret a, m edi ant e vari ados experi m ent os. Medi ndo a frequênci a f e o
com pri m ent o de onda ë de radi ação de al t a frequên ci a e ut i l i zando a rel ação c=ëf é
det erm i nada a vel oci dade da l uz c de form a i ndi ret a. O val or obt i do em 1972,
m edi ndo a frequên ci a e o com pri m ent o de onda de um a radi ação i nfrave rm el ha, foi c
= 299 792 458 m / s com um erro de ± 1,2 m/ s. A XVII Conferên ci a Geral de P esos e
Medi das de 20 de Out ubro de 1983, abol i u a ant eri or defi ni ção de m et ro e adot ou a
segui nt e: O metro é o com pri m ent o da t raj et óri a percorri da no vácuo pel a l uz
durant e um t em po de 1/ 299 792 458 do segundo, a fi m de eli m i nar a refer ênci a a um a
part i cul ar ti po de onda.
Há um pressuposto de que as ciências se unificariam graças a um
princípio de racionalidade compartilhado por todas. O encaminhamento,
presente no início deste trabalho, e apresentado em sua versão popperiana de
que os diferentes ramos do saber humano operam por resolução de problemas
deflui dessa crença muito compartilhada.
11
- POP P ER , Karl . R . Th e rat i on al i t y prin ci pl e . In: MILLER , Davi d (Ed.). Pop p er
sel ecti on s . New Jersey: P ri ncet on Uni versi t y P ress, 1985.
12
- op. ci t . p. 144-146.
13
- HEGENB ER G, Leoni das. Defi n i ções – termos teóri cos e si gn i fi cad o. S ão P aul o:
Cul t ri x/ Edusp, 1974, p. 15.
religião, da ciência e da arte. A ciência, em especial, muito
contribui para que esse ajuste possa realizar-se.
Investigando, ou seja, observando, percebendo, medindo, o
homem chega a certas generalizações que lhe são
indispensáveis para explicar, predizer e retrodizer os
fenômenos que perdem, assim, o caráter ‘caótico’ de que se
revestem, a um primeiro exame, para se verem ‘integrados’
em sistemas criados precisamente com o objetivo de permitir
aquele ajuste intelectual com o meio.
14
- Em F i l osofi a conheci do com o ‘probl em a de Duhem ’.
conjecturas enquanto se mantiverem aplicáveis, vez que a irracionalidade
se faria onipresente.
15
- Em part i cul ar, TOUR AINE, Al ai n. Soci ol ogi e d e l ’acti on . P ari s: du S eui l , 1965.
A partir de a orientação de Touraine e de Marx, mas em sentido algo
diverso, supor-se-á que os atos humanos se dão em sociedade que, a partir
de seus modos de produção, estrutura relações sociais redutoras de
contingência a partir da interveniência de organizações; instituições; uma
constituição e relações de classe.
16
- Lem brando a cara ct erí st i ca de l ocal i dade da si t uação, necessi t a- se ponderar que,
se essa últ i m a for ent endi da, t ão só, com o espaço geográfi co, ai nda assi m , deve- se
l em brar que esse é o resul t ado concret o da apropri ação, m edi ant e um processo
hist óri co de t ransform aç ão da nat ureza em espaço soci al const i t ui ndo- se no t opos de
reprodução das rel ações soci ai s de produção. C om i sso, m esm o na sua acepç ão m ai s
l at a, a si t uação com port a pressupost os i nafast ávei s em sua percepç ão.
17
- B asi cam ent e, a t eori a de S avage part e de um conj unt o de est ados pri m i ti vos que
denot am os el em ent os que ori ent am o t om ador de deci sões dados por: S é o conj unt o
de est ados da nat ureza (est ados do mundo); A é um a ál gebra de subconj unt os de S ;
denot ando um a fam í li a de event os; X é o conj unt o de possí vei s consequênci as
fut uras para o t om ador de deci sões. Um at o, nessa acepção é um a apl i cação f : S →X
que especi fi ca para cada cont i ngênci a s ε S, um a consequên ci a f (s ) em X. Ou sej a,
o t om ador de deci sões deve real i zar um a escol ha i gnorando que event o nat ural
de Savage/Ramsey, a atitude de risco, bem assim, a utilidade esperada de Von
Neumann e Morgenstern baseadas na função de utilidade da pesquisa
operacional, ou a concepção de Simon da racionalidade limitada, todas,
entretanto, exagerando as posturas cotidianas dos sujeitos em suas escolhas.
5. Equidade e responsabilidade
18
- R AWLS , John. A T h eory of Ju sti ce , C am bri dge : B el knap, 1971.
19
- A noção de responsabi l i dade, bem com o aquel a de equi dade, foram ext ensa e
i nt ensam ent e di scut i das na obra de seus sucessores com o, por exem pl o, em :
SC ANLON, T. M. R awl s’ Th eory of Ju sti ce . In: DANIELS , Norm an (Ed.) Read in g
Rawl s . St anford: St anford, 1989, p. 169- 205; AR NES ON , R i chard J. Equ al it y an d
equ al opport un i t y for w el fare , i n Ph i l osop h i cal S tu d i es 56, 1989, p. 77- 93; ______.
Li berali sm , di stri bu ti ve su bj ect i vi sm , an d equ al opportu ni t y for w el fare , i n
Ph i l osop h y and Pub l i c Affai rs 19, 1990, p.159- 194; ______. Lu ck egal i t ari an i sm
an d pri ori t ari an i sm , i n E th i cs , 110: 339-49, 2000; AUDAR D, C at héri ne. La
coh éren ce de l a th éori e de l a j ust i ce. In: AUDAR D, C at héri ne (C oord.). John
Rawl s: p oli ti q u e et métap h ysiq u e . P ari s: PUF , 2004, p. 15-38; S EN, Am art i a K.
Equ al it y of Wh at ? i n MC MUR R IN, S. (ed.), T ann er l ectu res on hu man valu es. vol .
1, Uni versi t y of Ut ah P ress, 1980, p. 195-220; ______. Wel fare, freedom an d soci al
ch oi ce: a R epl y . In Rech er ch es E con omiq u es d e L ou vai n . 56, 451-485, 1990.
sociedade e do direito burguês: como uma sociedade justa pode equalizar as
condições de seus cidadãos? Como estabelecer as melhores condições para
proporcionar bem estar?
20
- SEN, Am art ya K. Commod i ti es an d Cap abi l i ti es. Am st erdam : Nort h-Hol l and,
1985; ______. O n E th i cs and E con omi cs. Oxford: B asil B l ackwel l , 1987; ______.
In eq u ali ty Reexami n ed . C l arendon P ress, 1992; ______. A i d éi a d e Ju sti ça. Trad.
Deni se B ot t m ann e Ri cardo Doni nel l i Mendes, S ão P aul o: Com panhi a das Let ras,
2011;S EN, Am art ya K. & WILLIA NS , B . (eds.) Uti l i tari sm an d B eyon d . C am bri dge,
Massachuset t s: C am bri dge, 1982.
21
- R OEMER , J. E. Th eori es of Di stri b u ti ve Ju sti ce . Harvard, 1996; ______.
Eq u al i ty of Op p ortu ni ty. Harvard, 1998; ______. Equ al it y of Tal en t , i n E con omi cs
an d Phi l osoph y 1, 1985, p. 151- 181; ______. Egal i t ari an i sm , respon si bil i t y an d
in form at i on . i n E con omi cs an d Phi l osoph y 3. 1987, p. 215- 244; ______. A
Pragm at i c Th eory of R espon si bil i t y for th e E gal i t ari an Pl an n er , i n Ph i l osop h y an d
Pu b l i c Affai rs 22, 1993,p. 146- 166; ______. E qu al i t y of opport un i t y: A progress
report , i n Soci al C h oi ce an d Wel fare 19, 2002, p. 455- 471.
22
- Essenci al m ent e, o cort e de j ust i ça ( j ust i ce cut ) corresponde a di scri m i nar as
com ponent es sit uaci onai s pel as quai s o suj ei t o é responsável e pel as quai s não é. Já
o m ét odo de com pensação exi ge a escol ha ent re igual dade de recursos, igual dade das
condi ções de part i da, i gual dade de oport uni dades et c. Esse é o pont o de part i da para
a const rução do concei t o de responsabi l i dade.
Do ponto de vista de Rawls, bem estar e utilitarismo implicam a questão
da responsabilidade. Considera a posição dos sujeitos na sociedade como
alheia a suas responsabilidades, vez que se essas dependerem do esforço de
cada um, os mais talentosos são, em geral, os mais capazes de esforço
extraordinário. As habilidades naturais são distribuídas aleatoriamente aos
seres humanos. Em suas palavras23:
Por outro lado, assim que os bens primários são distribuídos passam, os
sujeitos, a ter total responsabilidade por suas escolhas e pela busca de seus
fins e, principalmente, pela adequação de seus fins a seus meios.
Naturalmente essa posição recebeu críticas e a mais frequente referiu ao fato
de que Rawls desconsiderou talentos e falhas individuais para efeito da
distribuição dos bens primários. Sen desenvolveu sua abordagem da
capacidade24 para remediar essa questão e abarcar a diversidade humana no
modelo. Outras críticas apontam para o fato de que o esforço individual é
anulado como fator de recompensa sistêmica conduzindo a um paradoxo, visto
que o princípio da diferença assume que os cidadãos jamais são responsáveis
por seus atos para efeito da distribuição dos bens primários, por outro lado, são
23
- R AWLS , John. A T h eory of Ju sti ce . C am bri dge: B el knap, 1971, p. 274. Em
t radução li vre: “ nenhum dos precei t os da j ust i ça al mej a vi rt ude grat i fi cant e. O
prêmi o ganho pel os escassos tal ent os nat urai s, por exempl o, servem para cobri r
cust os de t rei nament o e encoraj ar os esf orços de aprendi zagem, bem como para
diri gi r a habil i dade aonde mel hor se promove o int eresse comum. As ações
dist ri buti vas resul t ant es não se correl aci onam com val or moral , vez que a
dist ri bui ção ini ci al de recursos nat urai s e as conti ngênci as para seu cresci ment o e
sust ent o no íni ci o da vi da são arbi t rári as do pont o de vi st a moral . ”
24
- SEN, Am art ya K. Commod i ti es an d Cap abi l i ti es. Am st erdam : Nort h-Hol l and,
1985, em part i cul ar, P art e I.
plenamente responsáveis por suas escolhas (preferências), bem assim, pela
adequação de seus fins dados seus meios25.
(a) their social class of origin: the class into which they are
born and develop before the age of reason;
25
- A respei t o, vej a- se: C OHEN , Geral d Al l an. On th e cu rren cy of egal i t ari an
ju st i ce , Et hi cs 99, n. 4, C hi cago: C hi cago, 1989, p. 906-944, p. 915; ______.
Equ al it y of w hat ? On w el fare, goods an d capabi l i t i es , i n Rech er ch es É con omi q u es
d e L ou vai n 56, 1990, p. 357-382, p. 360 e GUILLAR ME, B ert rand, Rawl s et
l ’égal i té d émocrati q u e . P ari s : P . U. F., 1999, p. 132.
26
- Ent re as mui t as crí t i cas i ndi cam - se: R AMOS , C esar August o. A crí t i ca
com un i t ari st a de Wal zer à t eori a da j ust i ça de Joh n R aw l s. In: F ELIP E, Sôni a.
(Org.). Ju sti ça como Eq üi d ad e . Fl ori anópol i s: Insul ar, 1998, p. 231-243 e
R IC OEUR , P aul . On John Raw l s’ A Th eory of Ju st i ce : is a pu re procedu ral t h eory
of ju sti ce possi bl e? i n In tern ati on al S oci al S ci en ce Jou rn al 42 (1990): p. 553-564,
com o rel evant es para o pont o de vi st a aqui esposado.
27
R AWLS , John. Ju sti ce as fai rn ess. C am bri dge (Massachuset t s)/ London: B el knap,
2001, p. 55. Em t radução li vre: A Just i ça com o equi dade se concent ra sobre as
desi gual dades na vi da dos ci dadãos, suas perspect i vas sobre um a vi da pl ena
(conform e as possi bi l i dades de um í ndex apropri ado de bens pri m ári os), vez que
essas perspect i vas são afet adas por t rês ti pos de cont i ngênci as: (a) sua cl asse soci al
de ori gem : a cl asse em que nasce e se desenvol ve ant es da i dade da razão; (b) seus
dot es de nascenç a (em oposi ção a seus dot es real i zados) e suas oport uni dades para
desenvol ver esses dons segundo a afet ação de sua cl asse de ori gem ; (c) sua boa ou
m á fort una, ou boa ou m á sort e, ao l ongo da vi da ( com o são afet ados por doença ou
aci dent es e, di gam os, por perí odos de desem prego i nvol unt ári o e decl í ni o econôm i co
regi onal ).
(c) their good or ill fortune, or good or bad luck, over the
course of life (how they are affected by illness and accident;
and, say, by periods of involuntary unemployment and
regional economic decline).
28
R AWLS , John Ju st i ce as Fai rn ess: Pol i t i cal n ot Met aph ysi cal , i n Ph il osop h y and
Pu b l i c Affai rs , Vol . 14, No. 3. (S um m er, 1985), p. 223-251. Em t radução li vre: Em
Just i ce as Fai rness , com o se verá na próxi m a seção, sua i déi a m ai s fundam ent al é a
de que a soci edade sej a um si st em a de cooperaç ão soci al just a ent re pessoas l i vres e
i guai s. Est a seção se preocupa com a busca de um a base públ i ca de acordo pol í ti co.
Um a concepç ão de just i ça só será capaz de at i ngi r t al obj et i vo se apresent ar um a
form a razoáv el de est rut urar em um a vi são coerent e as bases m ai s profundas de
acordo i ncorporadas na cul t ura pol í t i ca públ i ca de um regi m e consti t uci onal e
acei t ável para as m ai s bem enrai zad as convi cções. Suponha, agora, que a just i ça
com o equi dade t enha al cançado seu obj et i vo e um a publi cam ent e acei t ável concepç ão
polí t i ca de j ust i ça foi encont rada. Ent ão, essa concepção provê um pont o de vi st a
publi cam ent e reconheci do a part i r do qual , ant es de qual quer out ro, t odos os
ci dadãos podem exam i nar se suas i nst i t ui ções polí t i cas e soci ai s são just as. Isso lhes
é facul t ado pel a assunção de t ai s razões vál i das e sufi ci ent es defl uent es da própri a
concepção. As pri nci pai s i nst i t ui ções da soci edade e o m odo pel o qual se concat en am
em um esquem a de coopera ção soci al podem ser exam i nados segundo essa m esm a
base pel os ci dadãos, de qual quer posi ção soci al ou de i nt eresses m ai s part i cul ares.
Deve- se observar que, sob est a aspecç ão, a just i fi cação não é ti da por argum ent o
vál i do const ruí do a part i r de um a l i st a de prem i ssas, m esm o que essas prem i ssas
sej am verdadei r as. Ant es, a j ust i fi cação se dest i na a quem di ssent e de nós e por i sso
preci sa l ast rear - se em al gum consenso, i st o é, em prem i ssas reconheci das,
publi cam ent e, por nós e pel os out ros com o verdadei ras, a fi m de est abel ecer um
acordo cogent e sobre as quest ões fundam ent ai s da j ust i ça pol í t i ca. Nem é preci so
di zer que esse acordo deve ser est abel eci do, sem coação, e form ado por ci dadãos
segundo procedi m ent os consi st ent es com suas vi sões de pessoas li vres e i guai s.
Dessart e, o obj et i vo de j usti ça com o equi dade segundo um a concep ção pol ít i ca é
prát i co e não m et afí si co ou epi st em ol ógi ca. Ist o é, apresent a- se não com o um a
concepção de j usti ça que é verdadei r a, m as base de um acordo consci ent e e
i nt enci onado acordo pol í ti co ent re os ci dadãos vi st os com o pessoas li vres e i guai s.
Tal acordo quando seguram ent e fundado em at i t udes pol í ti cas e soci ai s públ i cas
garant e os bens de t odas pessoas e associ açõ es em um regi m e dem ocrát i co j ust o.” (p.
229-230)
In justice as fairness, as we shall see in the next section, this
more fundamental idea is that of society as a system of fair
social cooperation between free and equal persons. The
concern of this section is how we might find a public basis of
political agreement. The point is that a conception of justice
will only be able to achieve this aim if it provides a
reasonable way of shaping into one coherent view the
deeper bases of agreement embedded in the public political
culture of a constitutional regime and acceptable to its most
firmly held considered convictions.
29
- FLEUR B AEY, Marc. Equ al it y an d respon si bil i t y. i n E u rop ean E con omi c
Revi ew 39, 1995, p. 683-689: “os econom i st as com preender am , há m uit o, que, a
m enos que se acei t e perder m ui t o da efi ci ênci a, a igual dade não pode ser
est abel eci da porque os agent es t êm al gum a i nfl uênci a sobre seus própri os resul t ados.
Mas, os fi l ósofos pol í ti cos afi rm am que a i gual dade não é desej ável , em pri m ei ro
l ugar, exat am ent e pel a m esm a raz ão, A i gual dade rem overi a m ui t o da expressão de
agênci a de agent es l i vres, e/ ou reduzi ri a, i ndevi dam ent e, a carga das consequênci as
de suas escol has. Em resum o, a i gual dade pl ena negari a a responsabi l i dade.“, p.683.
Roemer combinam determinismo e responsabilidade com o fito de enfatizar
que os indivíduos nem sempre podem ser responsabilizados por suas
preferências ou objetivos.
4. Graus de responsabilidade
30
- MISES, Ludwig von. Ação Humana: um tratado de economia. 2ª. Ed., trad. Donald Stewart Jr.,
Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1995, p. 845.
correntes. Mas, por outra parte, essa decisão oferece a oportunidade de
planejar mais livremente seu futuro. As decisões tomadas levam em conta as
condições existentes e os objetivos perseguidos e engendram consequências
sistêmicas compatíveis.
31
- R OEMER , J. E. A Pragm at i c Th eory of R espon si bi l i t y for t h e Egal it ari an
Pl an n er , i n Ph il osop h y an d Pu b li c Affai rs 22, 1993, p. 146-166.
32
- R OEMER , J.E. E qu al i ty of O pp ortu n i ty. Harva rd, 1998.
circunstâncias e não às escolhas dos indivíduos – afastando a
responsabilidade. Roemer33 busca estabelecer uma política pela qual as
recompensas civilizatórias serão distribuídas igualmente para os que
desempenharem o mesmo grau de esforço. O nível de desempenho individual
depende de seu tipo e seu livre arbítrio que é determinado por seu grau de
esforço. A responsabilidade de um indivíduo, então, corresponde ao seu
esforço despendido, em particular, por superar sua fraqueza de vontade a fim
de obter os fins pretendidos.
33
- Não se deve pensar que R oem er assum a a i dent i dade ent re os seres hum anos,
l onge di sso, a di versi dade é rel evant e em seu m odel o e é apresent ada pel a noção de
ti pos. A paral el a t eori a de S en, por out ro l ado, acol he a di versi dade hum ana m ercê
de um conj unt o de funções de uti l i zação (F i ) do i ndi ví duo i frent e a suas
ci rcunst ânci as. As funções de uti l i zação com põem o conj unt o de qual i dades de i :
saúde, inserção soci al et c.
significa que as tentativas de tratar o problema da Justiça como independente
daquela da Ética introduziram novas e mais difíceis questões, vez que a
distribuição também requer critérios que estabeleçam, no mínimo, a igualdade
entre os administrados. Mesmo porque, as teorias éticas, em sua maioria,
tendem a exigir igualdade, no contexto da modernidade, para garantir
plausibilidade e aceitação social.
34
- SEN, Amartya. A idéia de Justiça, São Paulo: Martins Fontes, 2011, p. 84.
35
- R awl s, John. A th eory of ju sti ce. Massachuset t s: Harva rd, 1971, p. 17.
concepção de justiça é mais razoável do que outra, ou
justificável em relação a outra, se pessoas racionais, na
situação inicial, escolhessem seus princípios em vez dos
princípios da outra concepção para o papel de justiça. As
concepções de justiça devem ser classificadas por sua
aceitabilidade por pessoas situadas desse modo.
36
- FOR S É, Mi chel . A ord em i mp rovável . Trad. Adri ano F onseca, P ort o: R és, s.d.,
p. 19.
37
- C OMTE- SP ONVILLE, André. Uma edu cação fi l osófi ca. Trad. Eduardo B randão,
S ão P aul o: Mart i ns F ont es, 2001, p. 429.
A phronesis por isso é ‘mais preciosa até que a filosofia’, que
ela permite e não a substitui. No entanto a felicidade
continua a ser o objetivo, que a phronesis não consegue
atingir e que justifica filosofar. Quem se contentaria com o
prazer sem felicidade? ‘É necessário, portanto’, anuncia
Epicuro, ‘meditar sobre o que proporciona o prazer, já que,
estando ele presente, temos tudo e, estando ele ausente,
fazemos tudo para tê-lo. (Carta a Meneceu, 122). Algo como
uma ascensão aparece aqui, onde o hedonismo e o
eudemonismo se encontram: o prazer é o bem primeiro, a
felicidade é o bem soberano.’
38
- PUGLIES I, Márci o. T eori a d o Di rei to. 2ª . Ed., S ão P aul o: S arai va, 2009, p. 195.
Se essa é a justiça possível para os tribunais, para a vida resta, nos
lindes da liberdade, por sua vez só possível pela contingência, estabelecer as
escolhas que conduzam aos objetivos pessoais com o mínimo de dano para
aqueles sociais. Compartilha-se a posição, já antiga, de Hayek 39, quanto à
equidade: em primeiro lugar, nenhum homem possui, de modo conclusivo, a
capacidade de determinar as potencialidades de outro ser humano e que,
jamais, se pode delegar essa competência seja a quem for; ademais a
aquisição de novas habilidades pelos membros da sociedade sempre será vista
como um ganho para a mesma. Assim, os incentivos materiais e a pressão
para ocupar postos de destaque na sociedade conduzem a ações que são
recompensadas pela civilização a que pertence o ator, vez que
corresponderiam aos interesses gerais.
39
- HAYEK, F ri edri ch A. Th e con sti tu ti on of l ib erty , Chi cago, The Uni versi t y of
Chi cago P ress, 1960, p. 42 e 60.
linha seguida pelo próprio Rawls, que os diferentes resultados individualmente
alcançados tem como fatores, entre outros, os dons de cada sujeito, isto é,
seus talentos e defeitos de nascimento; a influência de instituições sociais,
recursos materiais, informações alcançáveis e disponíveis, inserção social e
preferências; diferenças devidas à responsabilidade: cuidado, esforço pessoal,
determinação etc.
Fontes e Bibliografia
DESCARTES, Rene. Discurso sobre o Método. 12ª. Ed., trad. Márcio Pugliesi
e Norberto de Paula Lima, São Paulo: Hemus, 1999
FORSÉ, Michel. A ordem improvável. Trad. Adriano Fonseca, Porto: Rés, s.d.
MISES, Ludwig von. Ação Humana: um tratado de economia. 2ª. Ed., trad.
Donald Stewart Jr., Rio de Janeiro: Instituto Liberal, 1995.
PUGLIESI, Márcio. Teoria do Direito. 2ª. Ed., São Paulo: Saraiva, 2009.