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A Implantação do Liberalismo

em Portugal
HISTÓRIA A

Pedro Silva | Nº17 | 12ºC


Índice
 Página 2- Antecedentes e Conjuntura (18207-1820)
 Página 3- As Invasões Francesas e a Dominação Inglesa
 Página 4- As Invasões Francesas e a Dominação Inglesa
 Página 5- Curiosidade: o Sinédrio
 Página 6- O Triunfo da Revolução Vintista
 Página 7- A Desagregação do Império Atlântico (Independência
do Brasil)
 Página 8- A Resistência ao Liberalismo- A conjuntura externa
desfavorável e a oposição absolutista
 Página 9- A Carta Constitucional de 1826 e a Tentativa de
Apaziguamento
 Página 10- A Guerra Civil
 Página 11- A Guerra Civil- Curiosidades
 Página 12- A Convenção de Évora-Monte
 Página 13- O Novo Ordenamento Político e Socioeconómico
 Página 14- O Novo Ordenamento Político e Socioeconómico
 Página 15- O Novo Ordenamento Político e Socioeconómico
 Página 16- Os Projetos Setembristas e Cabralistas- A
Revolução de Setembro de 1836
 Página 17- Os Projetos Setembristas e Cabralistas- Atuação do
Governo Setembrista
 Página 18- Os Projetos Setembristas e Cabralistas- Atuação do
Governo Setembrista
 Página 19- O Cabralismo e o Regresso à Carta Constitucional
 Página 20- O Cabralismo e o Regresso à Carta Constitucional
 Página 21- Bibliografia/Webgrafia

PÁGINA 1
Antecedentes e Conjuntura (18207-1820)

No início do século XIX, as influências liberalistas que surgiram na


França revolucionária espalhavam-se por toda a Europa, no entanto,
Portugal parecia escapar-se à regra, uma vez que, encontrava-se
profundamente arreigado ao Antigo Regime, algo que acabou por
impedir o desenvolvimento da economia nacional (as atividades
primárias eram predominantes e os camponeses sofriam pesadas
obrigações senhoriais, ficando condenados à miséria).

O absolutismo estava então completamente enraizado em Portugal, tanto


mais que se escudava na ação repressiva da Inquisição, da Real Mesa
Censória e da Intendência-Geral da Polícia.

Todavia, nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial,


ligada aos tráficos com o Brasil, ansiava pela mudança. Para além da
burguesia comercial, também os ditos intelectuais constituíam um
território fértil para a propagação dos ideais da revolução francesa-
Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Muitos destes apoiantes do
liberalismo filiavam-se em lojas maçónicas e pugnavam pelo
exercício da liberdade política e económica, pelo fim dos privilégios
sociais, dos constrangimentos religiosos, do fanatismo, em suma, do
absolutismo e da tirania dos governantes.

É também de extrema importância salientar as restantes fontes de


proliferação dos ideais liberalistas, tais como, os estrangeirados, os
exilados franceses que se encontravam em território nacional e, por
fim, os maçónicos.

Esta conjuntura favorável acabou por lançar o país no caminho das


transformações liberais, permitindo materializar as aspirações de
mudança.
As Invasões Francesas e a Dominação Inglesa

Decidido a abater o poderio da Inglaterra, Napoleão Bonaparte


decretou, em finais de 1806, o Bloqueio Continental, proibindo todos os
países da Europa Continental de comerciarem com as Ilhas Britânicas.

Portugal, extremamente dependente do comércio inglês, viu-se na


iminência de ir à falência, pelo que acabou por desrespeitar o Bloqueio
imposto pelo Imperador francês, sujeitando-se a 3 invasões, durante os
anos de 1807 e 1810. Junot, Soult e Massena foram os generais franceses
encarregues por invadir Portugal, acabando por deixar o país na miséria
(a região a norte do Tejo ficou particularmente destruída pelos
combates e, para além disso, a agricultura, o comércio e a indústria
acabaram por ser profundamente afetados).

No entanto, com o apoio dos ingleses, Portugal finalmente derrotou os


franceses nas Linhas de Torres Vedras. Entretanto, D.João VI e a
família real, com medo de serem capturados pelos franceses, tinham
fugido para o Brasil, que de colónia passou a sede de Governo, o que
levou a um grande descontentamento dos portugueses. Em Lisboa,
D.João VI deixou uma regência de nobres portugueses liderados pelo
general inglês Berdsford, a quem foi concedido amplos poderes não
só militares como também civis .

Aquando da derrota dos franceses, o rei D.João VI não regressou,


pelo que a Regência não pode ser dissolvida, mantendo o general
inglês no comando de Portugal.

Entre 1808 e 1820, D.João VI mostra-se facilmente manipulável


pelos ingleses, concedendo cada vez maiores regalias aos
ingleses, destacando-se:

 Abertura dos portos brasileiros ao comércio direto com a


Inglaterra;
 Concessão de vários monopólios de exploração vinícola do
Douro, a comerciantes ingleses.
Para além disso, a situação económica e financeira assumia contornos
de elevada gravidade, sendo que, conforme o relato da Junta
Governativa em 1820, as despesas ultrapassavam as receitas, a
agricultura definhava e o comércio decrescia.

Estas medidas afetaram, principalmente, a burguesia do Porto, privados


das suas principais fontes de riqueza, organizaram-se numa sociedade
secreta- o Sinédrio, e planejavam uma revolução liberal
influenciada pelos valores da revolução francesa, que ocorre em
1820, exigindo o seguinte:

1. O regresso do rei D.João VI;


2. A dissolução da Regência e a expulsão dos ingleses;
3. A elaboração de uma constituição.

Figura 1- A Revolução Liberal de 1820


Curiosidade: o Sinédrio

O Sinédrio, foi fundado, a 22 de janeiro de 1818, por quatro maçons do


Porto - Fernandes Tomás, Ferreira Borges, Silva Carvalho (todos
juristas) e também por Ferreira Viana (comerciante). O Sinédrio,
rapidamente, acolheu outros elementos no seu seio,
principalmente militares, comerciantes, juízes, homens de outras
profissões liberais, oriundos das mais diversas regiões do país.

Animados com o objetivo de instaurar o liberalismo em Portugal,


reviam-se e inspiravam-se na Constituição de Cádis (Espanha), cujo
modelo pretendiam implementar em Portugal como lei fundamental,
substituindo os velhos princípios do absolutismo que regiam a
monarquia no nosso país.

Orientados pelo projeto liberal, vários eram os objetivos a que se


comprometeram os membros do Sinédrio. Acima de tudo, era
importante controlar a opinião pública, observando os sentidos de
expressão e vigiando as novidades que chegavam de Espanha.

Os membros deste grupo do Porto eram obrigados a jurar e manter


segredo face à sociedade sobre tudo o que faziam ou planeavam, ao
mesmo tempo que deviam preservar um sentido de lealdade comum,
renovado periodicamente em jantares do Sinédrio algures na Foz do
Douro, todos os dias 22 de cada mês. O futuro era aí discutido,
planificando-se e preparando-se as ações ou estratégias, embora
houvesse outras reuniões que aconteciam de noite preferencialmente.

Figura 2- 3 dos 4 fundadores do Sinédrio


O Triunfo da Revolução Vintista

O movimento sucedido no Porto, a 24 de agosto de 1820,


foi essencialmente um pronunciamento militar com larga participação
de negociantes, magistrados e até de proprietários fundiários
de ascendência aristocrática. Esta ampla união de interesses
permitiu o sucesso do acontecimento e poderá explicar-se pelo
facto de o ressentimento contra a presença britânica tanto afetar
os militares portugueses como também a burguesia comercial e os
proprietários.

Por todo o país, a revolução liberal encontrou adesão imediata, sendo


que, em Lisboa, a 15 de setembro, um movimento autónomo de oficiais,
apoiados por burgueses e populares, expulsou os regentes e constitui
um governo interino. A 28 de setembro, os governos do Porto e de
Lisboa fundiram-se numa nova Junta Provisional do Supremo
Governo do Reino. Este novo governo exerceu funções
durante 4 meses, conquistando a unanimidade do país e até do
Brasil, sendo que, teve como principal tarefa organizar as eleições para
as Cortes Constituintes que iniciaram os seus trabalhos a 24 de janeiro
de 1821.

Após o regresso do rei, iniciou-se a preparação da Constituição


que ficaria finalizada em 1822 e era extremamente influenciada pelos
valores liberais da revolução francesa e estabelecia uma divisão
tripartida dos poderes.

A Constituição de 1822 é um longo documento de 240 artigos, baseado


na Constituição espanhola de 1812 e nas Constituições francesas de 1791,
1793 e 1795. Esta Constituição reconhece os direitos e os deveres
do indivíduo, garantido a liberdade, a segurança, a propriedade
e a igualdade perante a lei.

Demasiado progressista para o seu tempo, a Constituição de 1822


foi fruto da ala mais radical dos deputados presentes às
Cortes Constituintes, cuja ação é conhecida por vintismo.
A Desagregação do Império Atlântico

De 1808 a 1821, D.João VI e a sua corte residiram no Brasil, que acabou


por ser transformado em sede da monarquia portuguesa e elevada
a reino em 1815.

A antiga colónia acusou um enorme progresso não só a nível


económico, como também a nível político e cultural. A este progresso
podemos também juntar a influência do profundo sentimento de
liberdade coletiva que, desde o início do século, vinha arrastando as
colónias americanas da Espanha para a independência. Desta forma,
podemos ver que estava criada uma conjuntura muito favorável para
que o Brasil se tornasse independente.

Para além disso, a revolução liberal de 24 de agosto de 1820 forçou


o regresso do rei D.João VI que acabou por ser muito pressionado
pela opinião pública brasileira a manter-se na América, fazendo com
que o monarca português sentisse a inevitabilidade de uma
independência próxima.

A independência veio, realmente, a verificar-se no dia 7 de setembro


1822 e teve, como principal motivo, a política antibrasileira das
Cortes Constituintes de Portugal (a maioria dos deputados queria
restituir o Brasil à condição de colónia, deste modo, anularam os
benefícios comerciais atribuídos ao Brasil).

D.Pedro, filho do rei D.João VI, acaba por declarar a independência (7


de setembro de 1922) nas margens do Ipiranga, em São Paulo. No
entanto, só viria a ser reconhecida por Portugal em 1825.

A separação do Brasil, extremamente traumática para Portugal,


representou um golpe para os vintistas, não só porque pôs em causa os
seus interesses comerciais, como também comprometeu a recuperação
financeira de Portugal, fazendo crescer o descontentamento e a
oposição.
A Resistência ao Liberalismo - A conjuntura
externa desfavorável e a oposição absolutista

A Revolução Liberal deparou-se com várias dificuldades: sucedeu


num tempo em que as grandes potências europeias procuravam
eliminar os vestígios da Revolução Francesa (a formação da Santa
Aliança e, mais tarde, a Quádrupla Aliança), sendo que, houve, de
facto, tentativas de bloqueio comercial ao nosso país, recuso de
passaportes para os portugueses e apoio aos opositores absolutistas.

Para além disso, a nobreza e o clero mais conservadores estavam


bastante descontentes com o radicalismo da Constituição e também
pela abolição dos antigos privilégios senhoriais, deste modo,
encetaram a contrarrevolução absolutista, contando com o apoio da
Rainha Carlota Joaquina que acabou por influenciar o seu filho mais
novo, D.Miguel que acabou também por apoiar a contrarrevolução
absolutista..

A contrarrevolução eclodiu em 1823, animada pela intervenção da


Espanha, onde a monarquia absoluta fora restaurada por Fernando VII,
irmão da Rainha Carlota Joaquina.

Para além disso, o príncipe D.Miguel acaba por promover uma série de
tumultos e levantamentos- a Vila-Francada (D.Miguel liderou
um movimento que consistiu na revolta de dois regimentos de Lisboa)
e a Abrilada (em abril de 1824, os apoiantes de D.Miguel acabaram
por prender os membros do Governo e semearam o medo em Lisboa,
com o objetivo de levar o rei a abdicar e a confiar a regência à sua
esposa).

No entanto, para manter a paz no reino, D.João VI envia D.Miguel


para a Aústria.
Figura 3- Vila-Francada Figura 4-Abrilada
A Carta Constitucional e a Tentativa de
Apaziguamento

O falecimento do monarca D.João VI, a 10 de março de 1826, agravou as


tensões que afetavam o plano político dos últimos anos. O grave
problema acerca da sucessão (D.Pedro era o imperador do Brasil e
D.Miguel assumia-se como absolutista e encontrava-se exilado na
Áustria) não fora resolvido pelo falecido rei, que o remeteu para
um Conselho de Regência provisório, presidido pela Infanta D.Isabel
Maria.

A Regência enviou ao Brasil uma deputação para esclarecer o assunto


da sucessão, sendo que, D.Pedro considerou-se o legítimo herdeiro da
Coroa de Portugal e acabou por tomar um conjunto de medidas de
apaziguamento (outorgou um novo diploma constitucional, mais
moderado e conservador- a Carta Constitucional).

Esta Carta Constitucional foi um diploma outorgado pelos governantes,


ao invés das constituições, que são aprovadas pelos representantes do
povo, desta forma, a Carta de 1826 introduziu um grande número
de inovações antidemocráticas, que acabaram por representar
um manifesto retrocesso relativamente à Constituição de 1822.

D.Pedro, no entanto, abdicou os seus direitos à Coroa portuguesa na


filha mais velha, a princesa D.Maria da Glória, de apenas 7 anos de
idade. Esta deveria casar com o seu tio (D.Miguel), que ao regressar a
Portugal, juraria o cumprimento da Carta Constitucional e, de
imediato, assumiria a regência do Reino de Portugal.

Embora esta nova Carta Constitucional eliminasse o vintismo, não


fora suficiente para derrotar a contrarrevolução absolutista,
novamente liderada pelo Infante D.Miguel.
A Guerra Civil

D.Miguel, cumprindo o estipulado por D.Pedro, regressou a Portugal


em 1828. No entanto, a sua adesão ao Liberalismo revela-se falsa, uma
vez que, pouco tempo depois de ter regressado, acaba por proclamar-
se rei absolutista e, de imediato, iniciou uma dura perseguição aos
apoiantes do Liberalismo.

Milhares de liberais acabaram por fugir para França e Inglaterra, onde


organizaram a resistência, sendo que, a partir de 1831, contaram com o
apoio de D.Pedro, que abandonou o trono brasileiro e veio lutar pela
restituição à filha do trono português. Acabou por dirigir-se para a Ilha
Terceira, que se revoltara contra o domínio absolutista de D.Miguel, e
assumiu a chefia da Regência liberal.

D.Pedro, mobilizando influências democráticas nas cortes europeias,


conseguiu dinheiro, navios e técnicos com que levantou um
pequeno exército (aproximadamente 7500 homens). Em 1832, este
pequeno exército desembarcou no Mindelo e, posteriormente,
ocuparam facilmente a cidade do Porto. No entanto, como resposta os
absolutistas cercaram a cidade do Porto, onde se viveu o episódio mais
dramático da guerra civil- o Cerco do Porto (que durou
aproximadamente 13 meses).

Devido ao cerco e à fraca alimentação a doença instala-se nos


portuenses, sendo que, o próprio D.Pedro apanhou tuberculose.

No entanto, aos poucos, cada vez mais soldados foram passando para
o lado liberal, até que se tornou possível fazer um novo desembarque
no Algarve e daí, as tropas liberalistas partiram para a conquista de
Lisboa, acabando por vencer a guerra.

Figura 5- D.Pedro vs
D.Miguel PÁGINA 10
Figura 6- A Guerra Civil (1832-34)

D.Pedro contando somente com as poucas forças de que seu


exército era composto, pouca Artilharia e nenhuma Cavalaria,
tomou a defensiva dentro da cidade fazendo cortar as ruas e
construindo trincheiras; decretou um alistamento voluntário
em toda a Arma e, felizmente em poucos dias, um grande
número de mancebos da cidade entrou nas fileiras do Exército
Liberal. A atividade e habilidade de D.Pedro fez aparecer
artilharia em todos os redutos. (…)

Documento 1- Episódios do Cerco do Porto

Figura 7- Coração de D.Pedro

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Convenção de Évora-Monte

Com a derrota de D.Miguel, no dia 26 de maio de 1834, os comandantes


dos exércitos liberal e miguelista reuniram-se na vila alentejana de
Évora-monte para negociar a paz.

De um lado estavam o Duque da Terceira e o Duque de Saldanha, em


representação de D. Pedro, e do outro, o general Azevedo Lemos, do
lado
de D. Miguel. A Convenção contava com 9 artigos: o 1.º concedia
amnistia a todos os delitos políticos cometidos desde 31 de julho de
1826; o 2.º permitia a livre saída de Portugal a todos os
amnistiados; o 3.º garantia aos militares os postos legalmente
adquiridos; o 4.º dispunha que os funcionários civis e eclesiásticos
tivessem em consideração que merecessem por seus serviços e
qualidades; o 5.º estabelecia a dotação anual de 60.000$ réis ao infante
D. Miguel; o 6.º permitia que o infante embarcasse no porto que
escolhesse com a devida segurança para a sua pessoa e comitiva; o 7.º
presumia a obrigação de D. Miguel sair do reino no prazo de quinze
dias com a declaração de não voltar mais à Península Ibérica; o 8.º
estabelecia que as tropas miguelistas entregariam as armas num
depósito que fosse indicado; o 9.º dispunha que os regimentos e
corpos de serviço de D. Miguel se dissolvessem pacificamente.

A estes artigos foram acrescentados mais quatro, sendo os dois primeiros


para que às autoridades, que ainda reconhecessem a autoridade do
infante, fosse dada imediata ordem para se submeterem ao governo da
rainha D. Maria II; o 3.º marcando o dia 30 para D. Miguel sair de Évora
para o porto de Sines, onde devia embarcar, e o 4.º fixando o dia 31 para a
entrega das armas no seminário de Évora.

As tropas miguelistas entregaram as suas armas poucos dias depois da


Convenção e D. Miguel partiu, novamente, para o exílio. Esperava-se
que o fim da guerra levasse a uma acalmia social, no entanto, a
realidade foi totalmente diferente (houveram vinganças pessoais e
ajustes de contas e um enorme descontentamento por parte de alguns
setores da sociedade, que não concordavam com a amnistia concedida
aos vencidos, sendo que, o próprio D. Pedro foi vaiado no exato dia em
que a paz foi assinada, quando se deslocou ao Teatro).
O Novo Ordenamento político
e socioeconómico (1834-51)

D.Pedro, desde que assumiu a regência liberal nos Açores, não se


poupou de esforços para que o Cartismo triunfasse e à sua sombra
edificasse um novo Portugal.

Enquanto os seus fiéis se batiam contra os absolutistas nas frentes


militares, o primeiro Ministério liberal promulgava as adequadas
reformas económicas e sociais, administrativas, judiciais e fiscais.

José Xavier Mouzinho da Silveira, ministro da Fazenda e da Justiça,


assumiu um papel de extrema importância, uma vez que, este foi o
responsável por grandes reformas legislativas que consolidaram o
Liberalismo. Num dos seus documentos, Mouzinho da Silveira
afirmou que “sem terra livre em vão se invoca a liberdade política”,
deste modo, os dízimos, os forais e os morgadios acabaram por ser
abolidos e os bens da Coroa foram extintos. Estas medidas
pretendiam disponibilizar mais terras e trabalho para as massas rurais.

A libertação das terras fez-se acompanhar da libertação do comércio e


da eliminação de situações de privilégios na organização das
atividades económicos. Extinguiram-se as portagens e demais
encargos sobre a circulação interna de mercadorias e, no que respeita
ao comércio externo, diminuíram-se os direitos de exportação, para
além disso, suprimiram-se também os monopólios de sabão e vinho
do Porto.

Em 1833, o primeiro Código Comercial foi publicado por Ferreira Borges


e foi reflexo dos princípios de livre produção e circulação de produtos,
ou seja, do liberalismo económico.

Outras medidas de Mouzinho da Silveira permitiram lançar as bases


de uma nova organização administrativa muito centralizadora. O país
ficou dividido em Províncias, Comarcas e Concelhos, chefiados por
Prefeitos, Subprefeitos e Provedores, respetivamente. (Todos
funcionários de nomeação régia.)
A instituição do Registo Civil teve como objetivo enquadrar
civilmente os cidadãos na administração pública, subtraindo-os ao
aparelho eclesiástico.

As reformas judiciais prolongaram-se até 1835: introduziu-se o princípio


do júri; dividiu-se o país em círculos judiciais, criou-se o Supremo
Tribunal da Justiça, instalado em Lisboa. A modernidade das medidas
judiciárias acaba por evidentemente resultar. Ao mesmo tempo que se
eliminavam de vez as velhas justiças de foro privado, concebia-se a lei
aplicada de forma igual para todos e reconhecia-se o direito de petição.

Mouzinho da Silveira atribuí uma atenção especial no campo das


finanças: as suas reformas implicaram a eliminação do secular sistema
de tributação local, através do qual grande parte dos impostos revertia
a favor da nobreza e do clero, em seu lugar surgiu um sistema de
tributação nacional devidamente centralizado. Para além disso, criou-
se o Tribunal do Tesouro Público, que substitui o antigo Erário Régio,
para arrecadar impostos e contabilizar os fundos do Estado, competia-
lhe conhecer todas as contas do país e defini-las como correntes ou
não.

Mouzinho da Silveira com a razão das leis acabou por ser o


responsável pela demolição dos particularismos e privilégios do
Antigo Regime, ajudando à construção do Estado e da sociedade
verdadeiramente modernos. Desta forma, podemos concluir que deve-
se a Mouzinho da Silveira o lançamento das bases institucionais, sem
as quais o Liberalismo não frutificaria em Portugal.

Mouzinho foi a personificação de um grande feito social, de uma revolução que saiu da
sua cabeça, e que, mudando a sociedade portuguesa por completo, matou o nosso
passado e criou o nosso futuro. (…) A revolução de Mouzinho não foi apenas
económica; ela foi também política e social. Ele e D.Pedro, durante a primeira metade
do século, foram os dois homens públicos de Portugal que deixaram um contributo que
ninguém poderá apagar

Documento 2- Alexandre Herculano, em Opúsculos, t.II

PÁGINA 14
Figura 8- Mouzinho
da Silveira
A Questão Religiosa constitui, talvez, o mais melindroso assunto com
que se debateu o liberalismo político. Como vimos anteriormente,
o vintismo legislou contra o clero e, em particular, contra as
ordens religiosas. Do ponto de vista político, quer a Constituição de
1822, quer a Carta Constitucional de 1826 negaram ao clero regular os
direitos de representação em Cortes e de votante nas eleições. Com
estas medidas, os primeiros governos liberais promoveram a
hostilidade do clero, o que ficou patente na adesão prestada aos
golpes da Vila-Francada e da Abrilada e, depois, ao restauro do
Absolutismo com D.Miguel.

O facto de muitos mosteiros terem apoiado o absolutismo de D.Miguel


permitiu ao ministério de D.Pedro efetuar uma série de medidas
tendentes à eliminação do clero regular: expulsaram-se os jesuítas,
proibiram-se noviciados e extinguira-se todos os mosteiros, colégios e
hospícios das ordens religiosas, cujo os bens foram confiscados e
incorporados na Fazenda Nacional (devido a um decreto de 1834
da autoria do ministro da justiça, Joaquim António de Aguiar).

Devemos também salientar que a nacionalização de bens atingiu


igualmente as propriedades da Coroa, da Universidade de Coimbra,
da Casa das Rainhas e do Infatado, inclusive as propriedades dos
nobres identificados como apoiantes da causa miguelista.

Entre 1834 e 1835, o Estado Liberal procedeu à venda dos bens nacionais
em haste pública, sendo que, este expediente permitiu a Silva Carvalho
(ministro da Fazenda) pagar as dividas contraídas, evitando recorrer ao
aumento dos impostos. No entanto, apenas uma pequena minoria
de burgueses endinheirados beneficiaram desta venda, o que acabou
por gerar um descontentamento em diversos setores da
sociedade portuguesa.

PÁGINA 15
Os Projetos Setembrista e Cabralista

A Revolução de Setembro de 1836

A vitória do Liberalismo em 1834 acabou por não significar a


estabilidade que o país há tanto procurava.

Após 2 anos, a Revolução de Setembro acabou por agitar de uma forma


muito significativa a cena política. O movimento ocorreu em Lisboa e,
ao contrário do sucedido noutras ocasiões, teve um carácter
eminentemente civil, verificando-se, depois, a adesão militar.

Esta revolução foi protagonizada pela pequena e média burguesia que


acabou por contar com um forte apoio das camadas populares. A
Revolução de Setembro reagiu tanto à atuação do Governo Cartista,
bem como, aos excessos de miséria em que a Guerra Civil mergulhou
o país.

Os protagonistas da Revolução acusavam o Governo Cartista


de corrupção e de apenas defenderem os interesses da alta
burguesia, enriquecida com os bens nacionais vendidos em
haste pública e cumulada aos títulos da nobreza, desta forma, os
organizadores do movimento propunham o regresso da
Constituição de 1822 em detrimento da Carta Constitucional de
1826.

Os acontecimentos precipitaram-se em 9 e 10 de setembro, aquando da


chegada a Lisboa dos deputados eleitos no Norte para as Cortes.
Segundo relatos escritos, ouviram-se “Vivas!” à Constituição de 1822 e
“Morras!” ao Governo. A rainha D.Maria II, sentindo falta de
apoio popular e perante o comprometimento da Guarda Nacional e do
Exército com os revoltosos, acabou por entregar o poder aos radicais.
Figura 9- A Revolução de Setembro
Atuação do Governo Setembrista

O novo Governo, onde sobressaíam as figuras do visconde Sá da


Bandeira, um dos heróis do Cerco do Porto, e do parlamentar Manuel
da Silva Passos), declarou-se mais democrático, empenhando-se
em valorizar a soberania da Nação e, inversamente, reduzir a
intervenção régia. Deste modo, acabaram por ser responsáveis pela
preparação de um novo diploma constitucional, a Constituição de 1838,
que funcionou como um compromisso entre o espírito
monárquico da Carta Constitucional de 1826 e o radicalismo
democrático da Constituição de 1822. De facto, o monarca, embora
pudesse sancionar e vetar em definitivo as leis saídas das Cortes,
perdeu o poder moderador, sendo que, a Câmara dos Pares
(escolhida pela realeza) transformou-se na Câmara dos Senadores
(eleitos pelos cidadãos).

Por sua vez, a orientação económica do Setembrismo procurou


corresponder aos propósitos de desenvolvimento da pequena e média
burguesia, decididas a libertar o país da tutela estrangeira (Inglaterra).
A Pauta Protecionista de 10 de janeiro de 1837, marcou o verdadeiro
arranque da industrialização portuguesa e obrigava ao pagamento de
direitos de todos os produtos que entrassem nas alfândegas da
metrópole e das ilhas adjacentes.

A perda do mercado brasileiro levou os dirigentes a virarem-se para a


exploração colonial de África, continente até então utilizado quase
exclusivamente como reservatório de mão-de-obra escrava. Para atrair
o investimento de capitais para outras áreas mais produtivas, proibiu-
se o tráfico de escravos nas colónias a sul do Equador.

O Setembrismo foi também responsável por promover uma reforma no


ensino primário, secundário e superior, uma vez que, preocupavam-se
muito com a formação de elites qualificadas. Desta forma, criaram-se
Escolas Médico-Cirúrgicas, Escolas Politécnicas no Porto e em Lisboa,
Conservatórios de Artes e Ofícios, reformou-se a Universidade e iniciou-
se o ensino liceal.

No domínio fiscal e agrário, o Setembrismo não se atreveu a abolir


taxas gravosas para os pequenos agricultores, nem penalizou com
impostos os
grandes proprietários. Até no plano industrial, apesar do
protecionismo adotado, os resultados mostraram-se bem aquém do
pretendido.

Para o fracasso económico do Setembrismo, aponta-se a falta de


capitais (desviados para fins financeiros e usurários) e de vias de
comunicação, bem como a permanente instabilidade política.
O Cabralismo e o Regresso à Carta
Constitucional

O Governo Setembrista acabou por enfrentar constantes tentativas da


restauração da Carta Constitucional. Em fevereiro de 1842, num golpe
de Estado pacífico, foi o próprio ministro da Justiça, António Bernardo
da Costa Cabral, quem finalmente, pôs termo à Constituição de 1838.

A nova governação, conhecida por Cabralismo, alicerçou-se nos


princípios da Carta e fez regressar ao poder a grande burguesia. Sob a
bandeira da ordem pública e do desenvolvimento económico,
Costa Cabral apostou no fomento industrial, nas obras públicas, na
reforma administrativa e fiscal, desta forma, difundiu-se a energia a
vapor, surgiu a Companhia das Obras Públicas de Portugal (1844),
tendo como objetivo a construção e reparação de estradas,
levantaram-se algumas pontes, publicou-se o Código
Administrativo (1842) de cariz centralizador, tornou-se mais
eficaz a cobrança de receitas e contribuições, criou-se o Tribunal
de Contas (1849) para fiscalizar todas as receitas e despesas do Estado,
reformou-se a Saúde, proibindo-se os enterramentos nas igrejas (1846).

A inovação e a exigência das medidas de Costa Cabral, aliadas ao


autoritarismo que rodeou a sua implementação, estiveram na origem
de uma série de motins populares, basicamente camponeses.
Alastraram por todo o país e mereceram o aproveitamento político
dos opositores de Costa Cabral que, feito conde de Tomar pela rainha
e ostentando uma súbita riqueza patrimonial, se tornou alvo de ódios
por parte da população.

Na verdade, em 1846-47, vive-se um clima de verdadeira de guerra civil


entre os adeptos do cabralismo e uma ampla frente de setembristas,
cartistas puros e até miguelistas, coligados em Juntas Revolucionários.

As primeiras movimentações sucederam no Minho, em abril e maio de


1846, e são conhecidas pelo nome de revolta da “Maria da Fonte” assim
como aos procedimentos burocráticos que passaram a envolver a
cobrança de impostas (as “papeletas da ladroeira”, como o povo lhes
chamava).

A demissão do Governo e a saída da Costa Cabral e seu irmão para


Espanha não foram suficientes para trazer acalmia social e política.

A guerra civil reacendeu-se com a chamada “Patuleia”, que decorreu de


outubro de 1846 a junho de 1847. Iniciada no Porto, alastrou a Aveiro,
Coimbra, Santarém, e Algarve, tendo como pretexto a substituição
abrupta de ministros anticabralistas recém-chegados. A deposição de
D.Maria II esteve na mira dos revoltosos e os mais exaltados chegaram
a ventilar a hipótese de uma república para solucionar a crise.

A gravidade da situação levou o Governo de Lisboa a solicitar a


intervenção de Espanha e de Inglaterra, ao abrigo da Quádrupla Aliança
de 1834 (Aliança que colocou os dois tronos ibéricos sob proteção da
França e Inglaterra. Fracassadas as tentativas de acordo político, a
intervenção estrangeira ditou os termos da Convenção de Gramido,
garantindo uma amnistia geral e prevendo a nomeação de um governo que
em que não figurassem representantes dos partidos em luta.
Aparentemente, esteve-se perante uma rendição honrosa para as tropas
patuleias. Mas a realidade dos factos demonstrou que a força política do
setembrismo estava definitivamente liquidada. Em 1849, Costa Cabral
regressou à gerência política e, apesar de este seu governo se revestir de
um cariz moderado, não logrou conciliar as forças políticas opostos nem
estabilizar a vida nacional. Tal seria apenas conseguido na década de 50 do
século XIX, no período conhecido como a Regeneração.
Bibliografia e Webgrafia

 www.wikipedia.org

 www.infopedia.pt
 arquivos.rtp.pt
 www.esquerda.net

 www.publico.pt

 www.observador.pt
 do Couto, C. e Rosas, M., n.d. Um Novo Tempo De História.
Porto Editora.
 Albuquerque, R. 1820. Lisboa (PT): Alêtheia.
 Sá, V., 1979. A Crise Do Liberalismo E As Primeiras
Manifestações Das Ideias Socialistas Em Portugal (1820-1852).
Lisboa: Livros Horizonte.

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