Você está na página 1de 22

---- é uma pura chuva de ideias, ainda têm muitos conceitos a serem desenvolvidos, é ainda nem um

rascunho mas acho que ajuda a definir um pouco por onde vai o negócio, hoje sei que a presença da
resposta que Foucault da ao aparente presídio do poder é fundamental para que continue a ser massa
a pesquisa. Também, dos objetivos, só os que tem número estou achando que tem força os outros
eram mais para aquecer. :) -----

PALAVRAS CHAVE:

Memória, imaginarios sociais, identidade, subjetividade, ética, espaços virtuais, biopolítica.

INTRODUÇAÕ

Foucault fala sobre o interesse da classe dominante para manter à classe popular não proletarizada
numa constante luta com si mesma. Baseado nas releituras dos conceitos de Foucault assim como
na sofisticação dos mecanismos para exercer o poder, quero entender como desde os meios de
comunicação e principalmente desde suas plataformas digitais, como se estrutura uma fluxo de
informação para manter uma discussão polarizada no contexto brasileiro.

No contexto colombiano acontece algo interessante, ainda que os meios massivos tem uma forte
tendencia “governista” o surgimento do processo de paz gerou uma anomalia dentro da polarização
das discussões mediáticas. O fato de questionar a efetividade da confrontação ou inclusive redefinir
uma posição frente a um inimigo histórico greou uma zona onde a polarização não se manifesta de
uma forma massiva, ainda que tenha-se agudizado nas suas expressões minoritarias.

Nos espaços virtuais tanto quanto nos espaços públicos (e inclusive com maior ênfase e paixão)
existe uma permanente discussão que evidencia a polarização latente dentro da sociedade e
especialmente das classes majoritárias ou populares. Essa permanente discussão mantém a ação
política reducida ao espaço da confrontação intensa e veemente.

É nessa discusão que decorre a construção do imaginário social que eventualmente será o elemento
fundamental na definicição da identidade histórica da época*. Assim, a chamada memória
histórica* pode ser entendida como um novo olhar sobre a identidade elaborada por discussões
históricas previas ao momento atual.

No caso do Brasil podemos por exemplo ver como, das discussões -ou da ausência de uma
discussão pública- se estruturou o imaginário social da ditadura que marca a polarização política do
Brasil pós-ditadura e particularmente durante os últimos dois anos.
Hipótese: Ainda que parece existir um consenso sobre a memória do regime militar brasileiro, a
polarização atual pode ser entendida como uma continuação dos conflitos sociais e dos imaginários
de pais que se estabeleceram na época.

Durante a maior parte do século XX considerou-se que qualquer posição política tinha que ser
colocada dentro de um plano de confrontação com alguma das ideologias hegemónicas. Já, após a
queda do muro e a imposição do regime neo-liberal sob a bandeira da globalização, a radicalização
dos conteúdos confrontados nos espaços políticos e documentados pela mídia (*) -como foi a
discussão polarizada nos anos 90 e começo dos 2000? previa aparição da web 2.0.-

Com o surgimento das novas possivilidades de participação e fluxo da informação as ambiencias


digitiais tornaram-se o espaço por excelencia da construção de subjetividades. Nesse bios virtual
(Muniz Sodré) existe uma evidente polarização enquanto às discussões políticas mais atuais, assim
como uma agressiva confrontação entre as diversas visões de desenvolvimento. Porém, pareceria
que o sujeto dentro dessas discussões e espaços profundamente definidos dentro das ideologias
hegemonicas -mesmo como detentoras do poder político, quanto como discurso aceito como válido
para oposição à hegemonia ideológica (ecologismo, esquerdas políticas etc.)-.

Segundo a visão de Foucault sobre as possivilidades de construção de subjetividade que responda às


estruturas de poder, antes de aceitar como irremediável ou mesmo justificar o sometimento como
inevitável, existe uma ética de resistencia ao poder e às microfísicas nas quais ele se manifesta. Essa
resistencia existe como interpelação ao sujeito onde é ele quem questiona e cria expressões de
subversão desde seu próprio estilo de vida. A vida como obra de arte …

Espaços de não polarização (o quê que determina essa objetividade? Perigo...) onde em
tempos de divisão e polarização política se constroem alternativas como resposta ética à
imposição das verdades que veiculam os discursos da mass media . Como a partir das
ferramentas e constroindo espaços dentro desse bios-virtual pode-se pensar numa alternativa
ao pensamento dualista do pensamento político atual.

II

Primeiro precisaria definir como na construção de subjetividades atualmente está determinada pelo
monopolio dos discursos e a polarização à que reduzem os consumidores e replicadores dos
mesmos.
-
Uma vez definida essa ambiencia, esse campo de discussões, podemos entrar a plantear desde
Foucault como existe uma possibilidade de sair dessa dualidade, ou desse controle -controle como
manifestação do poder hegemónico-.
Para finalmente procurar meios e ambiencias que na atualidade aproveitando a polivalencia dos
discursos e a hipertrofia da mídia criam espaços de questionamento das subjetividades institucionais
ou definidas de cima para baixo como válidas.

INTRODUÇAÕ

OBJETIVOS:

-Entender como se estabeleceram na época da ditadura o discurso hegemónico desde os meios de


comunicação.
-Definir quais eram as possíveis vertentes ideológicas que alimentaban os possíveis discursos em
confrontação.
-Estabelecer possíveis relações entre as discussões dentro da ambiencia dos meios de comunicação
(imprensa, radio e TV) da época, e as discussões atuais nos meios digitais.
-Rastrear a partir de estudos de caso, o origem de algumas das discussões mais mediáticas e
polémicas na atualidade Brasileira (caso LavaJato e impeachment)
-Analisar os elementos que constroem desde os meios digitais os imaginarios e a polarização das
temáticas da Colombia atual. (o exemplo ideal é o processo de paz, o plebiscito e a implementação
dos acordos)

1-Comparar a ambiência comunicacional colombiana e brasileira no estudo da polarização das


discussões, da construção da memória e das ideologias.
2- Explorar los espaços para a construção de subjetividades que transcendem o plano dialéctico das
discussões polarizadas desde o marco da Vida como obra de arte de Foucault.

Desde o surgimento dos espaços virtuais que

legitimação vs proveniencia do enquadramento do discurso.

Potencia de autocomunicação em choque e confrontação com as dinámicas de captação da atenção e


a hipertrofia do activismo virtual.

Quando pensamos na maioria das discussões políticas que estão se levando a cabo evidencia-se uma
forte polarização. E é a partir do estudo ou apenas de uma breve olhada nos espaços virtuais
construídos pelas redes sociais de ampla difusão (Facebook, Twitter, instagram) que podemos riscar
um diagnóstico. Mas esse vai ser confirmado ao ser evidente uma relação entre os framings
(Entman, 2009), ou marcos de referencia para o direcionamento do discurso. Esse marco longe de
ser uma manifestação de um indivíduo ou um grupo social em concreto, é uma construção que
surge da negociação entre um enunciado impulsado por um autor (no sentido Foucaultiano do
termo) e os diversos públicos que podem reagir divergendo ou aderindo-se ao enunciado.

Assim pode inicialmente parecer que este espaço virtual que potência essa negociação e eleva a voz
do usuario ao plano de igualdade (enquanto à forma, pelo menos), com os usuais emissores dos
enunciados e aqueles que determinam a agenda mediática. Porém, esta negociação está determinada
previamente por uma serie de possíveis discursos desde os quais o público trabalha, repetindo e re-
enunciando-os.
No entanto, não existe nessa imagem um esquema fechado de estabelecimento do framing, discusão
, aceitação e multiplicação.... (?) pelo seu caráter polifónico e abrangente, o espaço de
relacionamento (as redes sociais) demostram em alguns casos uma independencia na elaboração
crítica de discursos que se afastam dos estabelecidos pelas mídias ou o discurso oficial dos altos
cargos do governo.

É por causa desse espaço de independência que tem surgido estudos e hipóteses otimistas em
quanto às possibilidades de apropriação dos discursos e reivindicaçao política...

-------------

Durante os ultimos anos de marcada polarização e aberta discussão política, em Sul América, é
evidente um protagonismo na discussão entre as políticas chamadas de “nova izquerda
suramericana”, que apresentaram uma opção às possibilidades tradicionais de poder durante os
ultimos anos do século passado e os primeiros desse, e a reação de uma vertente mais tradicional e
políticamente conservadora que atualmente parece estar ganhando peso no cenário continental
(deixando de lado qualquer refeencia a uma possível simlitude com processos existentes em outras
partes do globo).

Desse novo episódio, ou, mais que novo, dessa continuação do debate político herdeiro da Guerra
fria e das crises económicas dos anos 70 e 80, podemos ver como a discussão parece estar
abrangendo cade vez mais setores da sociedade, ainda que isso não represente uma discussão
informada, é evidente que existe um conhecimento e um posicionamento constante por parte dos
diferentes miembros da sociedade.

Esta participação parece evidente nos espaços virtuais mais do que no espaço material. O espaço
físico parece bem dividido e setorizado em relação a sua funcionalidade, e parece inclusive cada vez
mais escaso o espaço de encontro e debate político. No entanto, este espaço parece ter se mudado
para uma nova territorialidade, de fato, agora De acordo com Ortiz (2002, p. 273), a noção de
territorialidade já não se encontra associada à materialidade do entorno físico. As técnicas (como o
cinema, a TV, computador, satélites) aproximam as pessoas, podendo-se “falar da existência de
relações sociais planetarizadas, isto é, de um mundo real e imaginário que se estende de forma
diferenciada é claro, por todo o planeta”. ( HELENICE M. B. BERGMANN Secretaria Municipal
de Educação de Vitória, Brasil )
A história política da Colombia tem sido determinada pela polarização, durante a maior parte do
século XX essa polarização se materializava nos partidos Liberal e Conservador. Essas duas
vertentes políticas entraram em crise no final do século passado abrindo o espaço para outros
partidos e enriquecendo a discussão política. (cita pendente). No entanto, a militancia e participação
dos cidadãos parecia determinada principalmente pela formação disciplinar, isto é, a família, o
contexto social e geográfico entre outros. Os jornais, por sua vez, estavam alinhados com algum
desses partidos, limitando a discussão política a esses dois discursos.

Os espaços onde aconteciam as possíveis trocas de ideias e percepções políticas dentro do espaço
social, limitavam-se ao espaço urbano, sendo o espaço rural atrapado dentro por uma polarização
evidenciada numa separação de fato geográfica. Dentro desse espaço urbano era característico dos
cafés, dos bares e mais raramente, a praça pública o encontro de cidadãos com intenção de debater.
(pendiente de desarrollar)

Com o surgimento de novas possibilidades de transmissão de informação e de circulação de


conteúdos, a modificação da “esfera pública” vem gerando um movimento de grande intensidade na
reestruturação das relações dos discursos e do debate político civil. Segundo o pesquisador
Francisco Paulo Jamil esta mudança nas restrições geográficas e de censura abre passo a uma
isegoria, possibilitando a 'assambleia'. Para Jamil ao establecer a posibilidade de troca de
informações entre os usuários sem aparentes restrições de espaço “daria à internet (…) a
propriedade fundamental para o establecimento de um espaço argumentativo digital”.

No entanto, em quanto às discussões ao redor de decisões políticas é evidente que embora exista
uma proliferação nos meios e possibilidades de exposição das informações e ideias pelos usuários, a
quantidade do texto que é exposto diariamente na internet não é certamente correlativo à sua
diversidade. De fato, podemos perceber uma reprodução de determinados discursos e ideias que
estabelecem e limitam o campo de discussão a uns temas e enunciados específicos.

Permitiendo argumentar que el establecimiento de la agenda se mantiene como un privilegio de un restringido número

de discursos

Assim no contexto da presente pesquisa limitar-nos-emos à análise de duas temáticas inseridas no


contexto socio-político colombiano e de ampla ressonância nos meios de comunicação e nas redes
sociais.
Durante a história recente da Colômbia o tema da reconciliação e o fim do conflito armado com os
diferentes fatores armados, especialmente com as FARC-EP (Forças Armadas Revolucionárias da
Colômbia – Exército do Povo ) permitiu uma mudança na agenda e no tipo de discurso que
imperava durante os anos previos ao inicio das negociações. Porém, antes de reduzir a polarização
existente entre os diferentes fatores politicos (durante a primera parte desse século representados
básicamente pelo partido de governo e a oposição), o surgimento desse novo cenário político
manteve a polarização, e, em certa medida, inclusive a aguzou.

Outro tema que vem tomando força nos meios e na discussão pública está relacionado com as
decisões judiciais e políticas ao redor da comunidade LGBTI. Nos ultimos meses, por exemplo, o
debate que originou a aprovacão da possibilidade de adopção por parte de casais do mesmo sexo
gerou uma polarização para muitos inusitada. O debate atingiu o ponto de chamar para
movilizações em contra da sentença da corte constitucional que garante o direito à adopção
independente do sexo dos padres. Esse debate está sendo chamado pelos contraditores como “O
debate da familia” ou “ideología de gênero”.

Durante uma parte importante do século XX e especialmente associado à mais radical crítica
cultural da Escola de Frankfurt a noção de controle e manipulação por parte da mídia parecia
inquestionavel. Parecia como se possibilidade de uma verdadera discussão além das estabelecidas
pelos meios restritos fosse inviavel. Agora, embora o novo contexto apresente uma oportunidade
completamente nova para a circulação de discursos, isso não tem representado uma mudança em
quanto à dominação das agendas por parte dos setores detentores do poder político e económico.

Os discursos na nossa época, com apariencia de liberação mantém uma tensão latente. Embora os
espaços tenham se multiplicado, parece que o jogo das interdições tem se adaptado também as
circunstâncias. Sabe-se bem que não se tem o direito de dizer tudo, que não se pode falar de tudo em
qualquer circunstância, que qualquer um, enfim, não pode falar de qualquer coisa.O Tabu do objeto, ritual
da circunstância, direito privilegiado ou exclusivo do sujeito (Foucault, 1996) estão ainda presentes
como modos de exclusão operantes dentro da sociedade e ainda dentro da chamada esfera pública
virtual.

Os temas pensados para o trabalho respondem a espaços históricamente caracterizados pela


supressão e controle do discruso. Em palavras de Foucault:
“Os espaços onde a grade é mais cerrada, onde os buracos negros se multiplicam, são as regiões da sexualidade e as da
política: como se o discruso, longe de ser esse elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se desarma e a
política se pacifica, fosse um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus mais temíveis
poderes.” (Foucault, A ordem do Discurso, 1996)

E é no exercicío desses poderes que tem se reconfigurado a rede para a circulação dos discursos,
passando de um esquema celular (aqui estoy suponiendo) para um esquema muito mais intricado e
complexo.

Existe uma modificação do espaço de interação, abrindo a possibilidade a pensar em uma esfera
pública virtual. Determinar os espaços de maior circulação da informação e as características de
cada um deles )permanencia dos conteúdos, tamanho. Trabalhar o discurso desde a perspectiva
Foucaultiana

...gostaria de mostrar que o discurso não é uma estreita superfície de contato, ou de confronto,
entre uma realidade e uma língua, o intrincamento entre um léxico e uma experiência; gostaria de
mostrar, por meio de exemplos precisos, que, analisando os próprios discursos, vemos se
desfazerem os laços aparentemente tão fortes entre as palavras e as coisas, e destacar-se um
conjunto de regras, próprias da prática discursiva. (...) não mais tratar os discursos como conjunto
de signos (elementos significantes que remetem a conteúdos ou a representações), mas como
práticas que formam sistematicamente os objetos de que falam. Certamente os discursos são feitos
de signos; mas o que fazem é mais que utilizar esses signos para designar coisas. É esse mais que
os torna irredutíveis à língua e ao ato da fala. É esse mais que é preciso fazer aparecer e que é
preciso descrever. (Foucault, 1986, p.56)

Estabelecimento da metodologia de pesquisa: Analisis de conteúdos web em função de palavras


chave relativas à temática. Estabelecimento de posições discursivas. Definição dos discursos
dominantes nos casos de estudo. Análise da condição de surgimento desses discursos e as condições
de reprodução (origem dos conceitos ou da perspectiva teórica desde a que são formulados, puntos
de encontro entre “comentarios” ao discurso estabelecido e possíveis pontos de encontro entre
discursos em oposição).

--------
justificar presupuestos.
Condiciones de circulacion de los discursos – simulacro, incontrolable...
google moi . Cassina – el efecto sofista

INTRODUÇAÕ

– Determinação da mudança do espaço de interação físico a um novo espaço virtual. O espaço


virtual como virtualização da agora. Problemas dos intercambios discursivos na web. Situação atual
da política Colombiana. Definição dos problemas a estudar e a sua relação (1. sexualidad “ideologia
de gênero” e 2. política “polarização ao redor do processo de paz”). O papel dos meios na
elaboração e desenvolvimento do discurso ao redor dos problemas. A experiência do sujeito no
“ativismo virtual” e as determinações logarítmicas. A polarização como zona indefinida, proposta
para a análise das redes de discursos que se construíram ao redor dos problemas. --

====================================================

INTRODUÇÃO

Se há alguns anos o fato de ausentar-se de casa, de viajar ou ir morar longe, representava não só um
distanciamento físico más também um distanciamento temporal, relativo às condições de
transmissão da informação, hoje em dia, essa deslocação parece facilmente superável pela
velocidade dos fluxos da informação. Hoje eu posso estar morando no Brasil, mas meu
conhecimento sobre a realidade da Colômbia, não é muito diferente à que era nos anos passados
quando ali morava. Só preciso mergulhar no espaço virtual que representa uma parte fundamental
da minha cotidianidade, inserir algumas palavras chave ou abrir as fontes mais frequentemente
consultadas e, em questão de minutos, estou ciente da mais atuais discussões que estão surgindo
nesse contexto “distante”.

Assim, não é necessaria uma presencia física no espaço para estar nele envolvido, de fato, o espaço
estabelecido pela internet e as possibilidades de comunicação e interação que ele traz, permite
remitir à noção grega de agora. Como o pesquisador e teórico da comunicação Muniz Sodré
formula na Antropológica do Espelho “os meios de comunicação contemporâneos estão criando
uma outra esfera existencial”[1] que desde a perspectiva das esferas existenciais postuladas por
Aristoteles, o Sodré nomeia como Bios-Virtual. Assim como na Antiga Grécia era na ágora onde
encontravam-se os cidadãos para intercambiar mercancias e gerar discussões políticas, embora
limitados aos investidos com cidadania; a ágora virtual pode ser capaz de inverter esse processo,
provindo acesso para uma comunidade mais ampla participar.

No entanto ainda existam posições que afirmam, com otimismo, que as novas possibilidades de
interação entre usuários “fariam com que a internet se tornasse apta a ser um ambiente discursivo
por excelência”[2] pode ser ainda prematuro associar a velocidade de interação e a aussência de
controle reconhecível dos conteúdos como evidência de uma libertação do usuário dos influencias
dos discursos dominantes [3]. É claro que existe uma mudança da natureza das interações sociais,
mas pelo caráter volátil dos conteúdos digitais, as características próprias dessa natureza e a sua
influencia no desenvolvimento dos discursos políticos está ainda indefinida.

Hoje na Colômbia, ao igual que em muitos outros países, os debates de maior interesse público e
privado são difundidos e massivamente comentados nos espaços virtuais. Tanto as redes sociais
quanto as edições virtuais de jornais e revistas mantém a atenção do público que exige conteúdos
atualizados ao vivo. No pais, durante os últimos meses, tem-se agudizado as discussões políticas
que, começando (ou se-massificando) no bios-virtual, atingiram espaços e manifestações públicas
urbanas (CF noticia de marchas em Bogotá e Medellin.). Os mais comentados e determinantes do
estudo que estou apresentando são o problema da negociação de Paz entre o Governo com as
FARC-EP e o problema que começou pela possibilidade da adopção por parte de casais
homossexuais e que tem-se popularizado sob o rótulo de “ideologia de gênero”.

A história política da Colombia tem sido determinada pela polarização. Durante a maior parte do
século XX essa polarização se materializava nos partidos Liberal e Conservador. Essas duas
vertentes políticas entraram em crise no final do século passado abrindo o espaço para outros
partidos e enriquecendo a discussão política. No entanto, após a abertura política que gerou essa
crise, possibilitada pela Constituição Política de 1991, as discussões políticas e sociais mais
polarizadas passaram a tomar outros espaços, alimentando-se do conflito interno entre diferentes
grupos armados e o estabelecimento.

O rostro da polarização hoje tem mudado, mas o seu vínculo com o pathos das discussões públicas
colombianas mantém-se inalterado, mudando de tópicos e estratégias, se adaptando aos novos
espaços de discussão. Os espaços virtuais oferecem uma possibilidade diferente do fluxo da
informação, passando a um esquema mais horizontal onde os emissores e receptores as vezes
parecem misturar. No entanto, a multiplicação das possibilidades de comunicação, ainda com
aparência libertadora, mantém uma tensão latente. Parece que o jogo das interdições tem se
adaptado também as circunstâncias. Numa leitura rápida pelos foros dos jornais ao redor das
principais noticias ao redor de um a temática polémica percebe-se uma das hipóteses a desenvolver
nesse trabalho: Existem um número reduzido de formações discursivas (Foucault, 1969) que são
invocados repetidamente pelos usuários, cada um proferindo esse discurso a título pessoal.

Entram aqui dois elementos que estabelecem a ordem da metodologia de análise proposta para a
presente pesquisa. Um primeiro elemento consiste na hipertrofia de espaços virtuais para o debate e
exposição de comentários. A pluralidade de discursos que circulam velozmente na internet não
representa per se uma diversidade de pensamento. Um segundo elemento é o discurso político em
si, que percebemos contém elementos intimamente ligados ao poder, a modo de enunciados que se
repetem sob a ilusão de autoria. Assim, esses discursos, ao menos nas temáticas escolhidas para a
análise (a política e a sexualidade no contexto Colombiano) parecem evidenciar uma redução das
posições dos usuários a um grupo muito limitado de formações discursivas em pugna. O discurso
desses usuários, antes de gerar um novo paradigma democrático para a participação, expõe
influencias mais sutis e imbricadas. Para Foucault:

“Os espaços onde a grade é mais cerrada, onde os buracos negros se multiplicam, são as regiões da sexualidade
e as da política: como se o discruso, longe de ser esse elemento transparente ou neutro no qual a sexualidade se
desarma e a política se pacifica, fosse um dos lugares onde elas exercem, de modo privilegiado, alguns de seus
mais temíveis poderes.” (Foucault, A ordem do Discurso, 1996)

E no entrecruzamento entre a proliferação dos meios de circulação da informação e a discussão


política que esse trabalho se coloca. Ainda quando os problemas do trabalho, a sexualidade e a
política, parecem cada um, suficientes para uma longa pesquisa, é uma hipótese a desenvolver nessa
pesquisa, que as formações discursivas que direcionam esses temas compartilham elementos que
justificam a pertinência da análise combinada. Um elemento que destaca dentro do contexto atual é
a influencia que o debate ao redor dos direitos da comunidade LGBTI teve no resultado final do
plebiscito, chegando-se a afirmar que “as comunidades cristãs, evangélicas e católicas” aportaram
ao redor de 2 milhões de votos para a não aprovação do Acordo de Paz [4], objeção facilmente
questionável ao não se achar propriamente dentro do texto do Acordo.

-PARÁGRAFO DE ESTOCADA FINAL-

[1] Muniz Sodré em entrevista para TV Câmara do Rio. 2013.


[2]Há especialistas que aceitam, sem maiores restrições, a noção de esfera pública virtual, isto é, propõem que a

internet funciona como um espaço efetivo e propício para a argumentação acerca da respublica (LÉVY, 2002;

CASTELLS, 2001; SILVEIRA, 2000). A pluralidade de vozes e a possibilidade de combinação de "esferas públicas"

(institucionais, temáticas, espontâneas, mediáticas) fariam com que a internet se tornasse apta a ser um ambiente
discursivo por excelência.---Artigo sobre esfera publica virtual--

[3]In public, Mills argued, the dominant form of communication was discussion [6]. In the online environment it is technically possible
that as many people express opinions as receive them. They are immediate in nature, both being aired and replied to quickly. As any
member of the public may express and receive communication, they are equally able to act on that communication, and may well
oppose other professionals within their community. Finally, any public that exists online is able to interact without being influenced or
controlled from outside. The consequence is that the power elite have far less control and influence over what occurs within these
publics. Cyberspace and the World Wide Web has renewed the public sphere, and may put to question "Every single stable power

7
relationship ..." [ ].

C. Wright Mills, 1959. The Power Elite. London: Oxford University Press, p. 304. Citado em
http://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/679/589

[4] Entrevista ao presidente da câmara dos Diputados da Colômbia pela BBC.

http://www.bbc.com/mundo/noticias-america-latina-37560320

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Com a revolução da informação que veio com a incorporação da internet na cotidianidade, os


espaços de discussão, partilha de informação e, em geral, experiência da realidade contemporânea
adquiriram uma outra dimensão. Essa transformação permite pensar numa nova esfera de presença
do sujeito no mundo. Além dos gêneros de existência na polis propostos por Aristoteles ( bios
theoretikos, a vida contemplativa, bios politikos, a vida política, e bios apolaustikos, a vida
prazerosa) Muniz Sodré propõe a formulação de um novo bios, como um quarto gênero de
existencia, um bios-virtual (Sodré, 2002).

Esse bios-virtual representa uma mudança na percepção não só das relações em quanto temporais,
mas uma percepção diferenciada do tempo a partir de uma “queima do espaço e da experiência de
um tempo em intensificação” (Da Silva e Tancman, 1999). O sujeito que percorre o ciberespaço,
transita por informação. É a informação a que constrói essa nova espacialidade e temporalidade a
partir do código binario, criando-se então uma nova experiência de realidade, que acontece nesse
bios, uma realidade virtual.

A palavra virtual vem do latim medieval virtualis, derivado a sua vez de virtu, força, potência. O
virtual tende a atualizar-se, sem ter passado no entanto à concretização efetiva ou formal (Levy,
1996) A virtualidade, embora sua não concretização, é uma extensão da realidade, um simulacro,
uma outra possibilidade do exercício do real.

E experiência do sujeito embora aconteça dentro de um espaço simulado, transformou radicalmente


as relações entre os mesmos sujeitos e, também, a relação do sujeito com as instituições. No
ciberespaço, a virtualização é uma realidade não como maneira de ser, mas como dinâmica (Levy,
1996:17). É efectuada pelos dispositivos electrónicos que entraram a ser fundamentais no mundo
contemporâneo. Desde o computador ao telefone, estamos em permanente atualização com o
ciberespaço

Nesse panorama está ainda aberto o debate sobre as possibilidades de transformação política a partir
das facilidades geradas pela rápida troca de informação. No contexto contemporâneo onde a
democracia tem-se extendido para a maioria dos países a preocupação e a insatisfação com respeito
ao seu funcionamento não só se mantém mas aumenta (Subirats, 2002),

“Ante este escenario, no sorprende la esperanza depositada por muchos observadores en las NTIC (Nuevas Tecnologias
de la Información y las Comunicaciones ) para revertir esta tendencia a la apatía y el cinismo político de la ciudadanía.
'A la vista de una democracia que afronta el abrupto descenso en participación electoral y en actividad comunitaria, y
que se encuentra inmersa en una rampante marea de pesimismo y desconfianza hacia las instituciones y actividades
gubernamentales, una mayor participación de masas en el sistema político, incluso a través de los medios electrónicos,
es ampliamente percibida como un beneficio público' (Davis, 2001: 25)”

(citado por Lidia Valera Ordaz, TESIS DOCTORAL)

Desde essa perspectiva, pode-se falar de um a linha de otimismo, em quanto, a um grupo de académicos
que confiam que com as possibilidades de participação transformadas e potencializadas no bios-virtual,
vai-se gerar uma interação ativa e pública, massiva, que respondese às críticas do que Bobbio chamou
de “promesas incumplidas”(Norberto Bobbio, 1984, Il futuro della democrazia , Einaudi, Torino).

O debate continua então com outra postura frente às novas tecnologias que questiona o pressuposto
de que as possibilidades de interconexão a escala planetária levariam necessariamente a um uso
ético em função da maioria. Não é de fato uma negação das possibilidades dos novos meios, mas
uma rejeição do pressuposto idealista frente à tecnologia como elemento autônomo na mudança
democrática.

“La aparición y el desarrollo de las nuevas TIC, como ha ocurrido con otras revoluciones tecnológicas en la historia de
la humanidad, supone una transformación de las relaciones sociales y políticas, pero no determina ningún curso
concreto de acción, simplemente abre posibilidades, a menudo contradictorias. No es posible, por tanto, concluir que las
TIC, por sí mismas, favorecen la democratización de la vida política” (Cairo Carou, 2002: 28).

Essa ideia está apoiada em que para a existir uma verdadeira melhoria o público deve ter uma intenção
de estar melhor informado e de querer participar ativamente na vida pública (Corrado/Firestone,
1996:29). No entanto, esse elemento só já deixa em evidência o caráter cultural do problema: O
surgimento da tecnologia no implica um súbito interesse massivo de participar nas decisões políticas de
maneira informada.

Para Castells, “Não é que a Internet crie um modelo de individualismo na rede, mas que o
desenvolvimento da Internet fornece o apoio material apropriado para a difusão do individualismo na
rede como forma dominante de sociabilidade” (Castells, 2001: 152 tradução nossa). Para Castells, a
Internet mais do que um espaço de encontro coletivo para a discussão dos problemas comuns, é um
espaço para a expressão individual, onde as necessidades existentes antes da revolução tecnológica,
são adaptadas a suas novas estruturas, sem representar uma mudança ética no sujeito inerente à
tecnologia.

Um dos espaços paradigmáticos do ciberespaço, onde as duas vertentes parecem misturar-se são as
redes sociais. Nelas o usuário constrói um espaço modelado pelas suas escolhas. É um espaço
inteligente, estruturado a partir de algoritmos que permitem uma acumulação de informação
definida pelas escolhas particulares para cada usuário, é um ambiente onde o usuário sente mais
afinidade e mais conforto na medida que incrementam suas escolhas, seus 'clicks'.

Essa possibilidade de controle da informação determinada pela escolha, poderia responder à critica
da atrofia do espectador postulada desde a Escola de Frankfurt, onde considera-se que o cinema, ao
dar todo nas imagens “el film no deja a la fantasía ni al pensar de los espectadores dimensión alguna en la
que puedan moverse por su própria cuenta con lo que adiestra a sus víctimas para identificarlo
inmediatamente con la realidad” [ V. Brunori, Sueños y mitos de la literatura de masas, pp. 22 y 28.] desde essa
perspectiva os meios massivos antes da chegada da internet, tinham o poder para manipular as
massas, explicando o otimismo da vertente referida com anterioridade. Facebook, por exemplo,
oferta a liberdade de escolha ao usuário, além de garantir a privacidade, uma liberdade do
espectador para a escolha, no entanto, em correspondência com a outra vertente mais “pessimista”
do papel dos meios, o envolvimento do usuário nessa rede, costuma privilegiar os elementos mais
privados do que os públicos.

“Internet allanaría así el camino a la tendencia natural del hombre a la consonancia, es decir, a la coherencia psíquico-
cognitiva (Festinger, 1957), y lo haría otorgando un enorme poder de filtración de información al usuario, que de este
modo podría evitar muy fácilmente cualquier información capaz de generar “disonancias cognitivas” y crear un
universo “a medida” que no desafíe ninguna de las creencias que fundan su cosmovisión (Sunstein, 2001 y 2007;
Precht, 2010). “[…] there is a natural human tendency to make choices with respect to entertainment and news that do

not disturb our preexisting view of the world” (Sunstein, 2007: 52).” [ Valera ]

É interessante notar que o poder de filtração está submerso na experiência do usuário, constituindo-
a e suportando-a desde a invisibilidade. Não é de fato uma decisão ciente e racional do usuário, a
filtração vai acontecendo naturalmente como um elemento constitutivo da natureza do espaço
virtual. A modo de hipótese poder-se-ia argumentar que é nessa natureza algorítmica onde o poder é
exercido e adaptado aos fluxos de informação contemporâneos, permitindo o estabelecimento das
formações discursivas que suportam os discursos políticos na rede.

Um exemplo que é já reconhecido como um dos algoritmos pioneiros no ordenamento digital é


Google com o seu PageRank algorithm. O qual “ is based on a cultural assumption about relevance and
importance that, to a large extent, relies on the amount of incoming links by other websites and their perceived
authority. As Pasquinelli (2009) notes, PageRank has become the most important source of visibility on the Web today.”

(Bucher, 2012 crasso nosso) [Want to be on the top? Algorithmic power and the threat of invisibility on Facebook, Taina
Bucher, New Media Society 2012 14: 1164 originally published online 8 April 2012 ]. Essa supossição cultural (cultural
assumption) atravessa os fluxos da informação, abrindo passo a diversas interpretações que o
determinam, numa ambigüidade vulnerável aos jogos do poder, permitindo um possível ponto de
partida para uma genealogia dos discursos em rede.

Outro exemplo fundamental desses algoritmos é o EdgeRank [http://edgerank.net/], o algoritmo que


organiza as informações da pagina de inicio de Facebook, o que, segundo a definição do site é “like
a credit rating: it's invisible, it's important, it's unique to each user, and no one other than
Facebook knows exactly how it works.”. Segundo a pesquisadora da universidade de Oslo, Tania
Bucher, o EdgeRank está baseado na “na suposição de que os usuários não estão igualmente
conectados com seus amigos. Alguns amigos por tanto 'contam mais' que outros” (Bucher, 2012).
Uma suposição de uma lógica válida, mas perigosa quando pensamos Facebook também como um
espaço para o debate político, como ágora.

Já que o algoritmo baseia o análise na interação do usuário, podemos deducir que cada vez que o
usuario interage com o Edge, isso aumentaria o nivel de filtração e seleção de conteúdos. Ese
regime de visibilidade que estabelece-se a partir do algoritmo tem para Bucher ressonância com o
Panopticon postulado por Bentham e explorado por Foucault. (Bucher, 2002 p.1171)

Para Foucault, realçar a visibilidade como um sistema, um diagrama, é realçar o “ tipo de


implantação dos corpos no espaço, de distribuição dos indivíduos em relação mútua, de
organização hierárquica, de disposição dos centros e dos canais de poder ” [Foucault, Vigiar e
punir: nascimento da prisão; tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis, Vozes, 1987, 229] e é
essa noção sobre a visibilidade que parece especialmente interessante e relevante para a análise dos
novos meios.

Tanto os grandes meios de comunicação quanto os meios independentes dirigem a maior parte dos
seus esforços aos conteúdos digitais.[BANDARI, Roja; ASUR, Sitaram; HUBERMAN, Bernardo A. The pulse of news
in social media: Forecasting popularity. arXiv preprint arXiv:1202.0332, 2012. ] Os artigos de notícias são muito
dinâmicos devido a sua relação com uma realidade em rápida mutação, fazendo da vida desses
artigos uma janela muito corta no tempo, e relativa ao número de leitores que possa atingir. Sendo
as redes sociais a fonte de notícias para muitos, não é de pouca relevância o papel que cumpre o
algoritmo Edge, sendo a atualização do espaço público dentro dessa rede social.

Para a elaboração conceitual da análise do discurso entendemos o discurso como foi trabalhado por
Foucault. “Ele concebe o discurso como uma dispersão, isto é, como sendo formados por elementos
que não estão ligados por nenhum princípio de unidade.” [introdução análise do discurso] onde é o
trabalho da análise do discurso perceber os elementos que descrevam essa dispersão, encontrando as
regras que permitem a formação de discursos que se relacionam num espaço comum discursivo.
Assim para Foucault, o discurso é um conjunto de enunciados organizados sob uma mesma
formação discursiva. (Foucault, 1969)

A análise dessa formação discursiva consistirá, então, na descrição dos enunciados que a compõem.

“Descrever um enunciado não significa isolar e caracterizar um segmento horizontal, mas definir as
condições nas quais se realizou a função que deu a uma série de signos (não sendo esta forçosamente
gramatical nem logicamente estruturada) uma existência, e uma existência específica. Esta a faz aparecer não
como um simples traço, mas como relação com um domínio de objetos; não como resultado de uma ação ou
de uma operação individual, mas como um jogo de posições possíveis para um sujeito; não como uma
totalidade orgânica, autônoma, fechada em si e suscetível de - sozinha - formar sentido, mas como um
elemento em um campo de coexistência; não como um acontecimento passageiro ou um objeto inerte, mas
como uma materialidade repetível.” (Foucault, Arqueologia do saber, pg 124)

Vemos que para Foucault, o enunciado existe só em relação com o campo que permite a sua
aparição, sendo uma suma de elementos sempre aberta. O enunciado é, ao mesmo tempo, não
visivel e não oculto, onde parece encontrar uma paradójica relação com as auto-definições dos
algoritmos referidos antes. Ele é visível quanto elemento dito, pronunciados ou escrito, e, a análise
do discurso, ao ser uma análise de um elemento dito “é, pois, uma análise histórica, mas que se
mantém fora de qualquer interpretação”, não pergunta o que elas escondem. “mas, ao contrario, de
que modo existem, o que significa para elas o fato de se terem manifestado, de terem deixado
rastros” (Foucault, arqueologia). Essa forma de entender o enunciado ressoa especialmente com os
regimes de visibilidade dentro dos espaços virtuais, e com os desafios que esse regime impõe.
Embora o enunciado não seja oculto, não significa que seja visível, precisa-se de uma certa
“conversão do olhar e da atitude” para “reconhecê-lo e considerá-lo em si mesmo”. Isto é porque
“[o enunciado] tem essa quase-invisibilidade do "há", que se apaga naquilo mesmo do qual se pode dizer:
"há tal ou tal coisa".”(1969 p126) Ou seja, parar perceber o enunciado em si, deve-se desconfiar de sua direta
relação com o signo que o contém, é preciso um olhar rigoroso e sistemático dos possíveis enunciados e as
regras que determinam sua formação antes de validar sua pertinência para a análise.

“Outra razão é a de que a estrutura significante da linguagem remete sempre a outra coisa; os objetos aí se
encontram designados; o sentido é visado; o sujeito é tomado como referência por um certo número de
signos, mesmo se não está presente em si mesmo. A linguagem parece sempre povoada pelo outro, pelo
ausente, pelo distante, pelo longínquo; ela é atormentada pela ausência.” A problemática do autor, estudada
também em detalhe por Foucault nos seus escritos posteriories (Cf. Que es el autor), onde Foucault afirma
que não é o discurso o protudo de uma serie de sujeitos e os debates entre eles, mas são os sujeitos uma
criação própria do discurso, “Trata-se, em suma, de retirar do sujeito (ou do seu substituto) seu papel de
fundamento originário, e de analisá-lo como uma função variável e complexa do discurso.” (o qué e o autor?
Foucault)

Para Foucault no trabalho de uma análise histórica, é o discurso o que adquire um estatuto
privilegiado descartando uma teleologia ou uma subjetividade fundadora. "Descrever uma
formulação enquanto enunciado não consiste em analisar as relações entre o autor e o que ele diz (ou
quis dizer, ou disse sem querer); mas em determinar qual e a posição que pode e deve ocupar todo
indivíduo para ser seu sujeito" (1969, pp. 119-20). Assim o papel do sujeito é uma função
vazia que pode ser preenchida por diferentes indivíduos.

O indivíduo que se articula dentro dessas formações discursivas está numa tensão com o poder:
Elementos tais como a determinação de conteúdos baseada em supossições do tipo dos Algoritmos,
como a escolha progressiva para não entrar em contato mais que com aquelas fontes de informação
afins aos próprios interesses e perspectivas ideológicas aparecem como elementos isolantes dos
sujeitos na suposta interação globalizada. Embora a informçaão circula como nunca antes, os graus
para controlar a filtração dessa informação tem-se sofisticado do mesmo jeito, chegando a constituir
um elemento básico da experiência do sujeito no ciberespaço.

Um dos desafios procurados nesta pesquisa é uma análise das formações discursivas dentro dos
fluxos de informação rapidamente mutáveis da contemporaneidade. O enunciado, relativo à
informação em circulação, multiplica-se com a revolução dos fluxos da informação. “cabe […] à
Análise precisar qual é o ato de linguagem que pode atravessá-la? Neste caso, seria necessário
admitir que há enunciado desde que existam vários signos justapostos -e por que não, talvez?-desde
que exista um e somente um. O limiar do enunciado seria o limiar da existência dos signos.”
(FOCUAULT, 1969) Os elementos vulneráveis à análise dos enunciados são heterogéneos,
polimorfos. Por tanto, não é objetivo desta pesquisa trabalhar a metodologia de análise do discurso,
como levantada por Foucault, para uma análise filosófica do discurso, mas como uma guia
metodológica que permita abranger a multiplicidade de manifestações que desenvolvem a discussão
política no ciberespaço.

DISCURSO POLITICO NOS ESPAÇOS VIRTUAIS DA COLOMBIA


A riqueza e pluralidade dos mecanismos de difusão das mensagens na internet alimenta-se da
facilidade técnica para a reprodução dos conteúdos. A dramática expansão da conectividade entre
sujeitos, é associada à explosão de ferramentas técnicas de captura e reprodução de audio e video
com preços acessíveis, levando ao que alguns tem chamado de novo sistema de comunicação
politica. [TUFEKCI, Zeynep; WILSON, Christopher. Social Media and the Decision to Participate in Political Protest:
Observations From Tahrir Square. Journal of Communication, 2012, vol. 62, p. 363-379.]

No contexto colombiano não é diferente, no cobrimento atual das noticias por parte dos meios
existe um consenso na permanente observação dos meios. “Assim se vive 'aquele tema' nas redes”,
“reações em redes sociais”, “Assim se ve o tema 'X' ou 'Y'” são exemplos de titulares que se
repetem com uma periodicidade surpreendente. Durante os últimos anos, a polarização tradicional
da política Colombiana, não estando desvinculada dos processos comunicacionais revolucionados
pela internet, fez do bios-virtual seu campo de ação predilecto.

As duas temáticas formuladas para o trabalho nesta pesquisa, a saber, a política, no caso do
processo de Paz com as FARC, e a sexualidade, evidenciada no debate sobre os direitos igualitários
para a comunidade LGBT, e popularizada sob a ambigüidade de “ideologia de gênero”, são
evidências das formações discursivas dominantes e históricas da Colômbia e, estabelece-se aqui,
uma relação entre as duas temáticas, no plano discursivo, a modo de hipótese a ser desenvolvida.

“La tendencia colombiana hacia un sistema bipartidista no fue, desde luego, exclusiva dentro de la América Latina del
siglo XIX […] Pero la Colombia moderna es la única nación em la cual la dicotomía conservador-liberal se há

mantenido desde mediados del siglo XIX hasta finales del siglo XX” (BUSHNELL, David; MONTILLA, Claudia. Colombia,

una nación a pesar de sí misma: de los tiempos precolombinos a nuestros días. Planeta, 2002.) Essa tendencia política
marcaria profundamente a concepção dual da política colombiana e da mesma forma, tem-se
estabelecido dentro da parcepção cultural dos cidadãos, superanto inclusive a dominação dos
partidos Liberal e Conservador e transladando-se às novas dinámicas eleitorais multi-partidistas. (Cf.
LEONGÓMEZ, Eduardo Pizarro. La Atomización Partidista en Colombia: el Fenómeno de las Micro-empresas
Electorales.)
Com a expedição da constituição de 1991 e a Ley dos Partidos de 1994
[http://pdba.georgetown.edu/Electoral/Colombia/ley130-94.html] a polarização institucionalizada
entrou em crise. O bipartidismo abriu passo a uma pluralidade de partidos, chegando para alguns a
falar de “partidos de aluguel” [LEONGÓMEZ, Eduardo Pizarro. La atomización partidista en Colombia: el fenómeno
de las micro-empresas electorales. Helen Kellogg Institute for International Studies, 2002. ] ou representações político-
jurídicas com fins eleitorais mas longe de um projeto político unitario. A fragmentação dos partidos
levou também a uma evidencia da ambigüidade do discurso político dos antes partidos dominantes.
Da marcada divisão entre os partidos Liberal e Conservador passou-se agora a uma pouco definida
polarização entre “direita” e “esquerda”
[https://colombiainternacional.uniandes.edu.co/view.php/277/index.php?id=277] também
insuficiente para responder à realidade política do pais. “ estas etiquetas son usadas para identificar
posiciones en los conflictos políticos del momento. Pero al mismo tiempo, son usadas para caracterizar y diferenciar los
distintos actores políticos a partir de la forma como cada persona las interpreta, aun si esas diferencias no corresponden
con sus posiciones reales (Zechmeister 2006). Así, aunque sabemos que las personas usan etiquetas ideológicas para
facilitar su comprensión de la política, no es claro en qué medida reflejan diferencias reales o la forma idiosincrática
como cada persona las utiliza.” [PLATA CAVIEDES, Juan Camilo. Polarization? Ideological Positions During the 2014
Presidential Campaign in Colombia. Colombia Internacional, 2016, no 87, p. 199-215]

Vemos então que o uso das noções “esquerda” e “direita” respondem mais a uma convenção que
facilita a articulação discursiva que a uma descrição rigorosa dos fenómenos políticos. Os meios e
os indivíduos que se manifestam sobre as discussões políticas, apropriam-se desses termos para
facilitar a compreensão mútua. Nos casos de estudo da pesquisa, aparecem muito definidas as
posições em discussão, no caso do Processo de Paz, literalmente diferenciados na campanha como a
favor (SI) ou contra (NO) o plebiscito, e, no caso da “ideologia de gênero”, a diferença, ainda que
não tão literal, está bem sinalada entre aqueles que defendem o direito da adopção por famílias
diferentes às conformadas segundo o núcleo conservador-cristão, e aqueles que consideram essa
decissão como uma ameaça “à família tradicional”. [Cf.
http://www.semana.com/nacion/articulo/alejandro-ordonez-habla-sobre-la-ideologia-de-genero-y-
el-proceso-de-paz/495392]
Podemos encontrar o elo entre os dois casos de estudo na enorme quantidade de análises por parte
de jornalistas e académicos, assim como desde o mesmo análise da estratégia política da campanha
contra o plebiscito [Ver http://www.elespectador.com/noticias/politica/cuestionable-estrategia-de-
campana-del-no-articulo-658862 ] onde um dos elementos decisivos do resultado final do mesmo,
como mencionamos na introdução, foi a vinculação deste com uma suposta “imposição da ideología
de gênero”. [Ver nota de noticia de ordoñez]. Isto gerou um ambiente de confusão e incerteza
política por parte da sociedade mais informada, ao sentirem-se vitimas de um grupo eleitor
amarrado por ideologias religiosas fortemente conservadoras. [Colombia's Proof That Democracy
Doesn't work, Artigo do New York Times, http://nyti.ms/2dFtTlW]
No entanto, não está clara a relação do problema da igualdade de gênero com o processo de Paz,
mas, de qualquer forma, é um elemento que precisa ser levado em conta para a eventual
renegociação. É de fato, uma singularidade ideal para a observação dessa indeterminação
ideológica: O governo Colombiano precisa incluir na sua estratégia os medos de uma comunidade
profundamente religiosa, sem ter clareza de como esses medos existem realmente no problema a
resolver, neste caso, o Acordo de Paz firmado com as FARC.

Mais interessante ainda, nesta mesma linha de movimentos, é o fato de que o tradicionalmente
religioso, Partido Conservador, estava oficialmente na campanha a favor do plebiscito, do lado do
partido liberal, evidenciando a dificuldade para definir a polarização política colombiana em termos
esquemáticos.

Podemos ver aqui um dos pontos mais importantes para a abordagem desta pesquisa: a
impossibilidade de uma separação de fato entre os discursos, ou melhor, entre as formações
discursivas das facções em choque, que ainda alinhadas com os conceitos ou posições sinaladas,
misturam-se e mantém entre si uma relação difusa, afastando-se em alguns pontos em quanto
encontram-se noutros, movimentos que depende da análise elucidar.
1. O Bios Virtual, Otimismo e pesimismo cibernético. a discusão na web (discurso, e outros
espaços além de redes sociais) Problemas técnicos, cookies, determinismo, algoritmos. 2. O
discurso, e o discurso em Foucault. (o discurso polimorfo) 3. Contexto historico-político
Colombiano 4. Para uma análise dos discursos.

L'ordre du discours. Paris: Gallimard, 1971.


_

 DAVIS, R. (2001): “Tecnologías de la comunicación y democracia: el factor Internet”, en Cuadernos


de Información y Comunicación (CIC), nº 6, pp. 9-32.

  SILVA, Michéle Tancman Candido da; SILVA, C. A. F. . A DIMENSÃO SOCIOESPACIAL DO CIBERESPAÇO: UMA NOTA. Revista da pós-Graduação
em Geografia - GEOgraphia, Niterói, n.2, 1999.

 BIBLIOGRAFIA

 BUCHER, Taina. Want to be on the top? Algorithmic power and the threat of invisibility on Facebook. new media & society,
2012, vol. 14, no 7, p. 1164-1180.

 
OBJETIVIOS:

GERAL
Analisar as formaç

ESPECIFICOS
-Analisar desde a perspectiva Foucaultiana de formações discursivas, os conteúdos de redes sociais
e versões virtuais de jornais e revistas, o redor do tema da política e a sexualidade na Colômbia
contemporânea.
-Identificar os mecanismos que possibilitam o surgimento dos enunciados e os tipos de relações
entre eles estabelecidos.

Você também pode gostar