Você está na página 1de 19

Registro: 2018.

0000000485

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº


1018431-13.2017.8.26.0053, da Comarca de São Paulo, em que é apelante PAULO CELSO
DAS NEVES, é apelado SECRETÁRIO DA SEGURANÇA PUBLICA DO ESTADO DE
SAO PAULO.

ACORDAM, em 4ª Câmara de Direito Público do Tribunal de


Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Negaram provimento ao recurso. V. U.",
de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores


RICARDO FEITOSA (Presidente sem voto), ANA LIARTE E FERREIRA RODRIGUES.

São Paulo, 11 de dezembro de 2017.

PAULO BARCELLOS GATTI


RELATOR Assinatura Eletrônica
4ª CÂMARA

APELAÇÃO CÍVEL N° 1018431-13.2017.8.26.0053


APELANTE: PAULO CELSO DAS NEVES
APELADA: FAZENDA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO
INTERESSADO: SECRETÁRIO DE SEGURANÇA PÚBLICA DO ESTADO
DE SÃO PAULO
ORIGEM: 3ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE SÃO
PAULO
VOTO N° 13.985

APELAÇÃO MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO


DE LIMINAR SERVIDOR PÚBLICO ESTADUAL
(INVESTIGADOR DE POLÍCIA) INATIVO
PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR
CASSAÇÃO DA APOSENTADORIA Pretensão
mandamental voltada à anulação do procedimento
administrativo disciplinar que culminou com a cassação da
aposentadoria do impetrante descabimento respeito ao
mérito do ato administrativo, o qual, aliás, bem sopesou os
elementos de informação coligidos no procedimento disciplinar,
devidamente amparado na Lei Complementar Estadual nº
207/79 ausência de qualquer ilegalidade passível de correção
pelo Poder Judiciário observância às garantias
constitucionais à ampla defesa e ao contraditório (art. 5º, LV,
da CF/88) sentença de denegação da ordem de segurança
mantida. Recurso do impetrante desprovido.

Vistos.

Trata-se de recurso de apelação


interposto por PAULO CELSO DAS NEVES nos autos do
“mandado de segurança com pedido de liminar” impetrado
contra ato dito coator do SECRETÁRIO DE SEGURANÇA
PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO, cuja ordem de segurança

2
foi denegada pelo Juízo “a quo”, sob o fundamento de que
não teria sido demonstrada qualquer ilegalidade no
procedimento administrativo disciplinar instaurado para
aferição de conduta do ex-servidor, bem como não houve
desproporção ou falta de razoabilidade em relação à
sanção imposta (demissão), consoante r. decisum de e-
fls. 336/339, cujo relatório se adota.

Em suas razões de apelação (e-fls.


349/353), de difícil compreensão, o impetrante aduziu,
preliminarmente, a ocorrência da prescrição. No mérito,
sustentou ilegalidade no ato de demissão, vez que
ocorreu antes do trânsito em julgado da sentença pela
condenatória. Requereu, assim, o provimento do recurso
com a reforma da r. sentença de primeiro grau para
concessão da ordem de segurança pleiteada na inicial.

Recurso regularmente processado, livre de


preparo, diante da concessão do beneplácito da
gratuidade ao demandante (e-fl. 39), desafiando
contrarrazões às e-fls. 356/360.

Este é, em síntese, o relatório.

VOTO

Insurge o impetrante contra a r. sentença


de primeiro grau que denegou a ordem de segurança
pleiteada, sob o fundamento de que não teria sido
demonstrada qualquer ilegalidade no procedimento

3
administrativo disciplinar instaurado para aferição de
conduta do ex-servidor, bem como não houve desproporção
ou falta de razoabilidade em relação à sanção imposta
(demissão).

Porém, pelo que se depreende dos


elementos de informação coligidos aos autos, as razões
do apelo não comportam acolhimento.

In casu, verifica-se que impetrante


ingressou aos quadros do serviço público estadual, para
o exercício de cargo de provimento efetivo de
Investigador de Polícia, sendo que, aos 08.04.2017, o
Vice-Governador do Estado de São Paulo, em exercício no
cargo de Governador do Estado, após regular procedimento
administrativo disciplinar, aplicou a pena de cassação
da aposentadoria do servidor já aposentador, com
fundamento nos arts. 74, II e 75, II, IV e XII, e 77, I,
todos da LCE nº 207/1979, com redação dada pela LCE nº
922/2002.

O fato que ensejou o ato de cassação da


aposentadoria foi a extorsão mediante sequestro
praticada em face de Evandro Luiz Rissi pelo impetrante
e demais policiais civil do 49º DP Delegada de Polícia
Greice Maria Cunha, Investigador de Polícia Marco Antônio
Fitipaldi, o Carceireiro Romildo Boaventura e o ex-
Carceireiro Edson Norberto Neves Pereira -, o que ensejou a
instauração do Inquérito Policial nº 753/2005 e,
posteriormente, o ajuizamento da ação penal nº
0002733-76.2006.8.26.0053.

Ocorre que o ex-servidor sustenta a

4
ocorrência do prazo prescricional quinquenal, bem como a
não observância do trânsito em julgado da sentença penal
condenatória.

Diante destas circunstâncias,


considerando que o ato administrativo que decidiu pela
cassação da sua aposentadoria estaria eivado de
nulidade, o ex-servidor impetrou o presente writ,
pleiteando a anulação do procedimento disciplinar e o
restabelecimento de sua aposentadoria (e-fls. 01/15).

Pois bem.

Ab initio, não prospera a alegação de


consumação da prescrição punitiva disciplinar.

Ao tempo da prática dos fatos imputados


ao ex-servidor, a Lei Orgânica da Polícia do Estado de
São Paulo Lei Complementar Estadual nº 207/1979 -
estabelecia o prazo prescricional das faltas
disciplinares nos seguintes termos:

Artigo 80 - Extingue-se a
punibilidade pela prescrição:

I - da falta sujeita à pena de


advertência, repreensão, multa ou suspensão,
em 2 (dois) anos;

II - da falta sujeita à pena de


demissão, demissão a bem do serviço público e
de cassação da aposentadoria ou
disponibilidade, em 5 (cinco) anos;

III - da falta prevista em lei


como infração penal, no prazo de prescrição
em abstrato da pena criminal, se for superior

5
a 5 (cinco) anos.

§ 1º - A prescrição começa a
correr:

1 - do dia em que a falta for


cometida;

2 - do dia em que tenha cessado


a continuação ou a permanência, nas faltas
continuadas ou permanentes.

§ 2º - Interrompe a prescrição a
portaria que instaura sindicância e a que
instaura processo administrativo.

§ 3º - O lapso prescricional
corresponde:

1 - na hipótese de
desclassificação da infração, ao da pena
efetivamente aplicada;

2 - na hipótese de mitigação ou
atenuação, ao da pena em tese cabível.

§ 4º - A prescrição não corre:

1 - enquanto sobrestado o
processo administrativo para aguardar decisão
judicial, na forma do § 3º do artigo 65;

2 - enquanto insubsistente o
vínculo funcional que venha a ser
restabelecido.

§ 5º - A decisão que reconhecer


a existência de prescrição deverá determinar,
desde logo, as providências necessárias à
apuração da responsabilidade pela sua
ocorrência.

6
Relativamente ao fato que culminou com a
apuração no processo administrativo disciplinar,
consistente na extorsão mediante sequestro praticada,
observo que referido crime possui pena máxima em
abstrato de 15 anos de reclusão, nos termos do art. 159
do Código Penal:

Extorsão mediante seqüestro

Art. 159 - Seqüestrar pessoa com o fim de


obter, para si ou para outrem, qualquer
vantagem, como condição ou preço do resgate:

Pena - reclusão, de oito a quinze anos.

Nas hipóteses em que o máximo da pena


privativa de liberdade é superior a 12 (doze) anos, o
artigo 109, I, do Código Penal, estabelece a prescrição
em 20 anos:

Art. 109. A prescrição, antes de transitar


em julgado a sentença final, salvo o disposto
no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se
pelo máximo da pena privativa de liberdade
cominada ao crime, verificando-se:

I - em vinte anos, se o máximo da pena é


superior a doze;

Tratando-se de imputação de extorsão


mediante sequestro, o termo inicial da prescrição da
pretensão punitiva deve considerar a data do crime.

7
Considerando a data de expedição da
portaria de instauração do processo administrativo
disciplinar PAD nº 041/2010 (10.03.2010 e-fls. 70 e
82), aplicando-se o prazo prescricional de vinte anos,
imperiosa a conclusão de que não se consumou a
prescrição punitiva disciplinar em relação ao delito
praticado em 06.12.2005.

Superada a exclusiva questão prejudicial,


passa-se ao enfrentamento do meritum causae.

Para o deslinde da controvérsia,


indispensável esclarecer que o controle exercido pelo
Poder Judiciário sobre os atos administrativos se dá
exclusivamente sobre o aspecto da legalidade destes
últimos, não podendo o órgão judicante imiscuir-se nas
razões de convicção, conveniência e oportunidade da
Administração Pública.

Como bem elucida o ilustre jurista JOSÉ


DOS SANTOS CARVALHO FILHO:

“O controle judicial sobre os atos da


Administração é exclusivamente de legalidade.
Significa dizer que o Judiciário tem o poder
de confrontar qualquer ato administrativo com
a lei ou com a Constituição e verificar se há
ou não compatibilidade normativa. Se o ato
for contrário à lei ou à Constituição, o
Judiciário declarará a sua invalidação de
modo a não permitir que continue produzindo
efeitos ilícitos”1.

Fulcrado nesta base teórica, o


1 CARVALHO FILHO, José dos Santos, Manual de Direito Administrativo, 26ª
Ed., São Paulo: Atlas, 2013, pp. 1016-1017.

8
procedimento administrativo disciplinar só poderá ser
anulado pelo Poder Judiciário caso se demonstre a
ilegalidade de natureza formal (vício de procedimento)
ou de natureza material (vício de julgamento).

Ainda é pertinente esclarecer, em relação


a esta última hipótese de ilegalidade, que a atuação do
Poder Judiciário não deve servir de ferramenta de
revisão da decisão administrativa (mérito), mas de
controle de arbitrariedades cometidas ela Administração,
a partir do exame de eventual (i) “desproporcionalidade”
da sanção imposta (aplicação de pena inadequada à
infração cometida), (ii) decisão contrária às provas
colhidas no procedimento administrativo; (iii) ausência
de fundamentação ou motivação, etc.

Pontuadas estas premissas, na hipótese


sub examine, o procedimento administrativo disciplinar
instaurado em desfavor do ex-servidor/impetrante, sob o
aspecto formal, registrou, desde a Portaria inaugural nº
041/2010 (e-fls. 70 e 82), a descrição da circunstância
fática, com respectivo embasamento legal (descumprimento
dos deveres constantes nos arts. 74, II e 75, II, VI e XII,
ambos da Lei Complementar Estadual nº 207/79).

Segundo narrado nas informações,


corroborado pela documentação juntada pelo Secretário de
Segurança Pública do Estado de São Paulo (e-fls.
55/330), haja vista que o impetrante não acostou
minimamente a documentação necessária para análise da
suposta irregularidade no procedimento administrativo
disciplinar, não sendo possível, na via adotada, a

9
dilação probatória, temos o quanto segue:

“(...) o impetrante e outros policiais civis,


foram acusados e condenados por condutas
ilegais e criminosas visando recebimento
indevido de valores, tudo apurado em
procedimento administrativo, tendo como
proposta unânime de aplicação de pena aos
acusados, sendo que os autos já foram
analisados pela Consultoria Jurídica deste
Gabinete e proferido o Parecer CJ/SSP nº
951/2013 (doc. 01), que entendeu pelo
reconhecimento das práticas irregulares e
ilegais perpetradas pelos acusados, sugerindo
a aplicação da pena de demissão a bem do
serviço público.

Este Secretário de Estado, em acolhimento ao


entendimento deste Órgão Consultivo, propôs a
aplicação da pena de demissão a bem do
serviço público aos acusados (doc. 02).

Remetidos à ilustre Assessoria Jurídica do


Governo e proferido o Parecer AJG nº 690/2014
(doc. 03, opinando pelo sobrestamento do
feito até a decisão final com trânsito em
julgado da ação penal correlata ou que
sobreviesse decisão tornando insubsistente a
determinação de sobrestamento nos autos do
Processo nº 0000119-11.2014.8.26.0053, sendo
o Parecer aprovado pelo Procurador do Estado
Assessor Chefe (doc. 04), sendo o feito
sobrestado pelo Sr. Governador do Estado
(doc. 05).

Após, foi juntada cópia da sentença proferida


nos autos do Processo nº
0000119-11.2014.8.26.0053 (doc. 06), a qual
julgou improcedente o pedido e revogou os
efeitos da tutela de urgência deferida
referente ao sobrestamento do feito.
Inconformada, a acusada interpôs recurso de
apelação, para o qual foi negado provimento,
conforme consta de cópia do Acórdão (doc.
07).

Em sequência, os acusados apresentaram


alegações finais complementares (doc. 08).

A Delegada de Polícia Presidente da 4ª

10
Unidade Processante Permanente apresentou
Relatório Complementar reiterando os termos
do Relatório (doc. 09) e propondo a aplicação
da penalidade de Demissão a bem do serviço
público aos acusados (doc. 10), sendo seguida
pelo Conselho da Polícia Civil, através do
Parecer nº 32/2016 (doc. 11).

No mesmo sentido manifestou-se o Delegado


Geral de Polícia, por Despacho propondo a
procedência das acusações irrogadas na
inicial, aplicando aos acusados a pena de
demissão a bem do serviço público (doc. 12).

A defesa do acusado Paulo Celso das Neves


requereu vista dos autos, o que foi deferido
(doc. 13).

Os autos foram, então, novamente remetidos à


Consultoria deste Gabinete, pelo Chefe de
Gabinete para exame e parecer (doc. 14), onde
exarou o parecer nº 1154/2016 (doc. 15),
reiterando a proposta de procedência da
acusação com relação aos indiciados, acolhida
nos termos da manifestação do órgão
consultivo, propondo que seja considera
provada a acusação irrogada aos acusados, de
molde que foi aplicada a pena de demissão a
bem do serviço público aos acusados, sendo a
Demissão Agravada e encaminhada ao
excelentíssimo Sr. Governador (doc. 16),
propondo o reconhecimento como provada a
imputação irrogada aos acusados.”

Ora, evidente que, sob uma perspectiva


formal, o procedimento administrativo disciplinar, aqui
impugnado, não apresentou qualquer ilegalidade. Antes,
oportunizou-se ao acusado amplo direito de defesa, bem
como o exercício regular do contraditório e influência
na convicção do julgador, de modo que foi preservada a
garantia constitucional prevista no art. 5º, LV, da
CF/88.

Note-se que a conclusão pela gravidade da

11
conduta do autor não apresentou qualquer
desproporcionalidade, tendo em vista que se respaldou em
Lei:

Lei Complementar Estadual nº


207/79

Art. 69. Na aplicação das penas


disciplinares serão considerados a natureza,
a gravidade, os motivos determinantes e a
repercussão da infração, os danos causados, a
personalidade e os antecedentes do agente, a
intensidade do dolo ou o grau de culpa.

Art. 75 - Será aplicada a pena


de demissão a bem do serviço público, nos
casos de:
(...)
II - praticar ato definido como
crime contra a Administração Pública, a Fé
Pública e a Fazenda Pública ou previsto na
Lei de Segurança Nacional;
(...)
VI - exigir, receber ou
solicitar vantagem indevida, diretamente ou
por intermédio de outrem, ainda que fora de
suas funções, mas em razão destas;
(...)
XII - praticar ato definido em
lei como de improbidade.

Art. 77 - Será aplicada a pena


de cassação de aposentadoria ou
disponibilidade, se ficar provado que o
inativo:
I - praticou, quando em
atividade, falta para a qual é cominada nesta
lei a pena de demissão ou de demissão a bem
do serviço público;

12
Deste modo, resta aferir se houve
ilegalidade de cunho material.

E, também neste ponto, inquestionável a


legalidade do ato da Administração Estadual, a qual,
aliás, agiu com minuciosa precisão na análise dos
elementos de informação coligidos no procedimento
disciplinar.

Note-se, como já mencionado, que com


fundamento em amplo acervo probatório, o relatório do
Secretário da Segurança Pública, que opinou pela
aplicação da pena de DEMISSÃO A BEM DO SERVIÇO PÚBLICO,
cujo parecer foi integralmente acolhido pelo Governador
do Estado em sua decisão final, consignou que (e-fls.
197/202):
“(...) Consta dos autos que os acusados,
todos à época em exercício no 49º Distrito
Policial/DECAP, agindo em unidade de
desígnios e previamente ajustados com a
acusada GREICE MARIA CUNHA, ingressaram
armados, no estabelecimento denominado 'Boys
Club', localizado na Alameda Nothmann, nº
1.220, nesta Capital e recolheram folhas de
cheques, certa quantia em dinheiro e
equipamento de vídeo do circuito interno.
Logo em seguida, alegando terem encontrado
substância entorpecente, conduziram algemados
até a mencionada Delegacia de Polícia os
funcionários RICARDO PEREIRA DA SILVA,
JEFFERSON WESLEY RODRIGUES MACEDO, JOÃO SOUZA
e MOISÉS SIQUEIRA DA SILVA e, mantendo-os
encarcerados, passaram a exigir a quantia de
R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), como
condição para libertá-los e omitirem o
registro da ocorrência. Depois de algumas
negociações, intermediadas pelo advogado LUIZ
MAURÍCIO SILVA BOTELHO, as vítimas foram
libertadas após o pagamento de R$ 20.000,00

13
(vinte mil reais), realizado nas proximidades
do Shopping Center Frei Caneca, nesta
capital. Cabe destacar que não foi
localizado, junto ao 49º Distrito Policial,
nenhuma ordem de serviço determinando
diligência junto ao citado estabelecimento
comercial”.
(...)
O conjunto probatório carreado aos autos é
suficientemente robusto para demonstrar a
culpabilidade dos acusados.
Por fim, necessário mencionar que os
acusados, no exercício de suas funções e
valendo-se de seus cargos, exigiram vantagem
indevida em razão de seus cargos, incorrendo,
assim, =nas irregularidades e ilícitos
descritos na portaria deste processo
administrativo, configurando ainda
procedimento irregular de natureza grave.
Diante do exposto, referendando as
manifestações mencionadas, nos termos e
fundamentos do parecer da Douta Consultoria
Jurídica da Pasta, proponho a Vossa
Excelência seja reconhecida como provada a
imputação irrogada a (...) Paulo Celso das
Neves, RG nº 16.963.809, Investigadores de
Polícia, (...) impondo-lhes a penalidade de
DEMISSÃO A BEM DO SERVIÇO PÚBLICO, nos
termos dos artigos 67, inciso VI, 69 e 70,
inciso I, por infração ao disposto nos
artigos 74, inciso II e 75, incisos II, VI e
XII, todos da Lei Complementar nº 207/79,
alterada pela Lei Complementar nº 922, de 02
de julho de 2002”.

É pacífico, pois, o reconhecimento da


gravidade dos atos ilícitos cometidos pelo impetrante,
que, aliás, restaram devidamente apurados pela
Corregedoria Geral da Polícia Civil no PAD.

Também neste ponto, inquestionável a


legalidade do ato da Administração, a qual, aliás, agiu
com minuciosa precisão na análise dos elementos de

14
informação coligidos no procedimento disciplinar.

Assim, bem caracterizada a infração


administrativa disciplinar, o i. Governador do Estado
aplicou a pena de demissão a bem do serviço público, com
fundamento no quanto disposto na Lei Orgânica da Polícia
do Estado de São Paulo.

Consequentemente, não havendo


desproporcionalidade ou irrazoabilidade no ato
administrativo questionado (previsto em lei art. 77, I,
LCE nº 207/79), é desnecessária a intervenção do Poder
Judiciário, tendo em vista que não pode apreciar os
critérios de conveniência e oportunidade adotados pela
Administração Pública Estadual na penalidade aplicada ao
seu servidor.

O princípio constitucional da
independência e harmonia dos Poderes obsta a ingerência
do Judiciário no mérito do ato administrativo, tendo em
vista que sua competência se limita à verificação dos
requisitos formais de constitucionalidade e legalidade,
que não restaram violados no caso concreto.

A respeito, merece menção a doutrina do


ilustre administrativista Hely Lopes Meirelles2:

“Comprovado durante o estágio probatório que


o servidor público não satisfaz as exigências
legais da Administração ou que seu desempenho
é ineficaz, pode ser exonerado
justificadamente pelos dados colhidos no
serviço, na forma legal, independentemente de
inquérito administrativo, isto é, de
procedimento administrativo disciplinar,

2MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 39ª Ed., São


Paulo: Malheiros, 2013, p.215-218.

15
mesmo porque não se trata de punição.
Por isso, essa exoneração não é penalidade,
não é demissão; é simples dispensa do
servidor, por não convir à Administração sua
permanência, uma vez que seu desempenho
funcional não foi satisfatório nessa fase
experimental, sabidamente instituída pela
Constituição para os que almejam a
estabilidade no serviço Público.
O que os Tribunais têm sustentado - e com
inteira razão - é que a exoneração na fase
probatória não é arbitrária nem imotivada.
Deve basear-se em motivos e fatos reais que
revelem insuficiência de desempenho,
inaptidão ou desídia do servidor em
observação, defeitos, esses, apuráveis e
comprováveis pelos meios administrativos
consentâneos (ficha de ponto, anotações na
folha de serviço, investigações regulares
sobre a conduta e o desempenho no trabalho,
etc.) sem o formalismo de um processo
disciplinar. O necessário é que a
Administração justifique, com base em fatos
reais, a exoneração (...). Entre essas
formalidades estão, sem dúvida, a observância
do contraditório e a oportunidade de defesa.
Se a Administração não pudesse exonerar o
servidor em fase de observação nenhuma
utilidade teria o estágio probatório, criado
precisamente para se verificar, na prática,
se o candidato à estabilidade confirma
aquelas condições teóricas de capacidade que
demonstrou no concurso. Somente quando se
conjugam os requisitos teóricos da eficiência
com as condições concretas de aptidão prática
para o serviço público, nesta incluída o
desempenho no estágio experimental, é que 'se
titulariza o funcionário para o cargo', na
feliz expressão de Marcel Waline'”.

Confira-se nesta linha de entendimento,


os precedentes do Egrégio Superior Tribunal de Justiça e
desta Colenda Corte Estadual, inclusive com precedente
da 4ª Câmara de Direito Público:

ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO

16
NO MANDADO DE SEGURANÇA. POLICIAL MILITAR.
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR. DEMISSÃO
A BEM DO SERVIÇO PÚBLICO. REINTEGRAÇÃO.
PRINCÍPIOS LEGAIS. OBSERVÂNCIA. AUSÊNCIA DE
PROVA DE DIREITO LÍQUIDO E CERTO À
IMPETRAÇÃO. CONJUNTO PROBATÓRIO
DEFICIENTEMENTE INSTRUÍDO. INDEPENDÊNCIA DAS
ESFERAS PENAL E ADMINISTRATIVA.
1. O rito do Mandado de Segurança demanda a
comprovação initio litis do fatos em que se
funda o direito líquido e certo invocado pelo
impetrante.
2. Ausência nos autos comprovação pré-
constituída da violação a direito líquido e
certo a ser amparo por writ.
3. "O direito líquido e certo, para fins de
mandado de segurança, é o que se apresenta
manifesto na sua existência, delimitado na
sua extensão e apto a ser exercitado no
momento da impetração" (MEIRELLES, Hely
Lopes. Mandado de Segurança. 28ª ed. São
Paulo: Malheiros, 2005,
págs. 36/37).
4. É indiscutível a independência entre as
esferas penal e administrativa, quando se
trata da aplicação de penalidade nesta
última.
5. Agravo regimental não provido.
(AgRg no RMS nº 30.427/PE, Rel. Min. MOURA
RIBEIRO, 5ª Turma, j. 24.09.2013).

”APELAÇÃO. SERVIDOR PÚBLICO MUNICIPAL.


ANULAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO. REINTEGRAÇÃO.
Não há vício em decisão que, após processo
administrativo disciplinar, com observância
dos princípios da legalidade, devido processo
legal, contraditório e ampla defesa, aplica
pena de demissão. Irrelevância de suspensão
condicional do processo na esfera penal.
Ausência de vinculação entre as esferas
administrativa e criminal. Impossibilidade de
análise do mérito administrativo pelo Poder
Judiciário. RECURSO NÃO PROVIDO” (Apelação
Cível nº 0008066-87.2012.8.26.0053, Rel. Des.
CLÁUDIO AUGUSTO PEDRASSI, 2ª Câmara de
Direito Público, j. 26.03.2013).

17
”EX-SERVIDOR PUBLICO (EX- POLICIAL MILITAR)
DEMITIDO POR INFRAÇÃO GRAVE- APÓS TER SIDO
INSTAURADO O DEVIDO PROCESSO ADMINISTRATIVO
DISCIPLINAR- FORAM OBSERVADOS OS PRINCÍPIOS
CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E AMPLA
DEFESA REINTEGRAÇÃO NO CARGO- ALEGAÇÃO DE QUE
OCORREU A PRESCRIÇÃO DA AÇÃO PENAL.
INADMISSIBILIDADE. Cabe à administração
pública a aferição da graduação da pena a ser
aplicada, desde que dentro dos parâmetros
previstos, cuidando-se de poder
discricionário disciplinar, estipulando-a de
acordo com a conveniência e oportunidade.
Estando a pena aplicada dentro dos limites
legais, não cabe ao Poder Judiciário
manifestar-se em relação a sua graduação. As
responsabilidades disciplinar
(administrativa), civil e penal são
independentes entre si (artigo 1.525, do
Código Civil). Nem mesmo, na hipótese de
absolvição criminal a sentença não produz
efeito no juízo civil ou na instância
administrativa, exceto se o seu fundamento
for pela inexistência do fato ou porque
constatado que o servidor-réu não foi o autor
do crime. A prescrição da ação penal não
poderá obstar a aplicação da punição
administrativa de demissão. NEGARAM
PROVIMENTO AO RECURSO.” (Apelação Cível nº
9129068-84.1999.8.26.0000, Rel. Des. VIANA
SANTOS, 4ª Câmara de Direito Público, j. em
08.08.2002).

Em suma, ante a inexistência de ofensa


aos princípios da legalidade por parte da Administração
Estadual no procedimento que culminou na cassação de
aposentadoria do impetrante, levando-se em consideração
que ao Poder Judiciário não é dado substituir a
Administração para rever critérios de conveniência e
oportunidade adotados nas penalidades aplicadas aos seus
servidores, merece ser mantida a r. sentença de primeiro
grau que denegou a ordem de segurança pleiteada, tal

18
como lançada.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao


recurso de apelação interposto pelo impetrante, de modo
a MANTER a r. sentença de primeiro grau, por seus
próprios e bem lançados fundamentos jurídicos.

PAULO BARCELLOS GATTI


RELATOR

19

Você também pode gostar